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Reparo Tecidual O reparo de tecidos lesados ocorre por meio de dois tipos de reação: regeneração através da proliferação de células residuais (não lesadas) e da maturação das células-tronco teciduais, e deposição de tecido conjuntivo para formar uma cicatriz. Deposição de tecido conjuntivo (formação de cicatriz): Se os tecidos lesados não conseguirem restituir-se por completo, ou se as estruturas de suporte tecidual estiverem severamente lesadas, o reparo ocorre pela disposição de tecido conjuntivo (fibroso), um processo que resulta na formação de cicatrizes. REGENERAÇÃO DAS CÉLULAS E TECIDOS Envolve a proliferação de células que sobrevivem à lesão e conservam a capacidade de se proliferar, a qual é controlada por fatores de crescimento – mostrando-se extremamente dependente da integridade da matriz extracelular – e pelo desenvolvimento de células maduras a partir das células-tronco. PROLIFERAÇÃO CELULAR: MECANISMOS E SINAIS DE CONTROLE A forma de reparo dos tecidos é determinada, em parte, por sua capacidade de proliferação intrínseca, divididas assim em três grupos: − Tecidos Lábeis ou Instáveis: Elas são perdidas continuamente e substituídas pela maturação de células-tronco e pela proliferação de células maduras. Esses tecidos podem regenerar-se prontamente após a lesão, contanto que a reserva de células-tronco esteja preservada. − Tecidos Estáveis: São quiescentes e têm apenas atividade proliferativa mínima em seu estado normal. Entretanto, essas células são capazes de se dividir em resposta à lesão ou à perda de massa tecidual. − Tecidos Permanentes: Elas não proliferam na vida pós-natal. A maioria dos neurônios e das − células do músculo cardíaco pertence a essa categoria. Assim, a lesão no cérebro ou no coração é irreversível e resulta em cicatriz, pois os neurônios e miócitos cardíacos não se regeneram. MECANISMOS DA REGENERAÇÃO DE TECIDOS REGENERAÇÃO HEPÁTICA A regeneração do fígado acontece por meio de dois mecanismos importantes: − Proliferação dos Hepatócitos Remanescentes: A proliferação dos hepatócitos no fígado que está se regenerando é desencadeada por ações combinadas de citocinas e fatores de crescimento polipeptídicos. 1. As citocinas como a IL-6 são produzidas principalmente pelas células de Kupffer, e agem nos hepatócitos de modo a fazer com que as células parenquimatosas sejam capazes de receber e responder a sinais do fator de crescimento. 2. Os fatores de crescimento como o HGF e o TGF-α, produzidos por muitos tipos de células, agem nos hepatócitos iniciados, de modo a estimular o metabolismo celular e a entrada das células no ciclo celular. 3. Na fase de replicação dos hepatócitos, mais de setenta genes são ativados, incluindo genes que codificam os fatores de transcrição, reguladores do ciclo celular, reguladores de metabolismo energético e muitos outros. 4. Na fase terminal, os hepatócitos retornam à quiescência − Regeneração do fígado a partir de células progenitoras: Em situações nas quais a capacidade proliferativa dos hepatócitos é prejudicada, como na lesão ou na inflamação crônica hepática, as células progenitoras do fígado contribuem para o repovoamento. REPARO POR DEPOSIÇÃO DO TECIDO CONJUNTIVO Se o reparo não puder ser alcançado somente pela regeneração, ocorre através da substituição das células lesadas por tecido conjuntivo, levando à formação de uma cicatriz, ou por meio de uma combinação da regeneração de algumas células residuais e formação de cicatriz. ETAPAS NA FORMAÇÃO DE CICATRIZ Angiogênese: é a formação de novos vasos sanguíneos, que fornece os nutrientes e o oxigênio necessários ao processo de reparo. Formação do Tecido de Granulação: A migração e a proliferação de fibroblastos, bem como a deposição de tecido conjuntivo frouxo, junto com os vasos e leucócitos entremeados, formam o tecido de granulação. Remodelamento do Tecido Conjuntivo: A maturação e a reorganização do tecido conjuntivo (remodelamento) produzem a cicatriz fibrosa estável. A quantidade de tecido conjuntivo aumenta no tecido de granulação, resultando, por fim, na formação de uma cicatriz, que pode remodelar-se ao longo do tempo. Os macrófagos desempenham papel crucial no reparo, ao eliminar os agentes agressores e o tecido morto, ao fornecer fatores de crescimento para a proliferação de várias células e ao secretar citocinas que estimulam a proliferação de fibroblastos e a síntese e deposição de tecido conjuntivo. ANGIOGÊNESE É o processo de desenvolvimento de novos vasos sanguíneos a partir dos vasos sanguíneos existentes. Na seguinte etapa: 1. Vasodilatação, em resposta ao óxido nítrico, e aumento de permeabilidade induzida pelo fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). 2. Separação de pericitos da superfície abluminal e quebra da membrana basal, de modo a permitir a formação de um broto vascular. 3. Migração de células endoteliais em direção à área de lesão tecidual. 4. Proliferação de células endoteliais logo atrás das células migratórias orientadoras. 5. Remodelamento em tubos capilares. 6. Recrutamento de células periendoteliais para formar o vaso maduro. 7. Supressão da proliferação, com migração endotelial e deposição da membrana basal. O processo de angiogênese envolve várias vias de sinalização, interações célula-célula, proteínas MEC e enzimas teciduais: − Fatores de Crescimento: Fatores de crescimento endotelial vascular (VEGFs), principalmente VEGF-A, estimulam tanto a migração quanto a proliferação de células endoteliais, iniciando, dessa forma, o processo de brotamento capilar na angiogênese. Promovem vasodilatação ao estimular a produção de NO e contribuem para a formação da luz vascular. Os fatores de crescimento de fibroblastos (FGFs), principalmente o FGF-2, estimulam a proliferação de células endoteliais. − Sinalização Notch: Por meio de uma “conversa cruzada” com o VEGF, a via de sinalização Notch regula o brotamento e a formação de ramos de vasos novos e, dessa maneira, garante que os vasos neoformados tenham o espaçamento adequado para fornecer sangue, de forma efetiva, para o tecido que está sendo reparado. − Proteínas da MEC: participam do processo de brotamento de vasos na angiogênese, principalmente por meio das interações com os receptores de integrina nas células endoteliais, ao proporcionar suporte para o crescimento dos vasos. − Enzimas na MEC: degradam a MEC para permitir o remodelamento e a extensão do tubo vascular. DEPOSIÇÃO DO TECIDO CONJUNTIVO Ocorre em duas etapas: (1) migração e proliferação de fibroblastos para o local da lesão; (2) deposição das proteínas da MEC produzidas por essas células. O fator de crescimento transformante-β (TGF- β) é a citocina mais importante para a síntese e a deposição de proteínas do tecido conjuntivo. A atividade do TGF-β estimula a migração e a proliferação de fibroblastos, o aumento na síntese de colágeno e fibronectina, bem como a redução na degradação da MEC devido à inibição das metaloproteinases. O TGF-β também é uma citocina anti-inflamatória que serve para limitar e encerrar as respostas inflamatórias. Ele faz isso ao inibir a proliferação de linfócitos e a atividade de outros leucócitos. REMODELAMENTO DO TECIDO CONJUNTIVO O resultado do processo de reparo é influenciado pelo equilíbrio entre a síntese e a degradação de proteínas da MEC. As MMPs são produzidas por uma variedade de tipos celulares (fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais), e sua síntese e secreção são reguladas por fatores de crescimento, citocinas e outros agentes. A MMPssão produzidas como precursores inativos (zimogênios) que devem primeiro ser ativados. Além disso, as colagenases ativadas podem ser rapidamente inibidas pelos inibidores de metaloproteinases de tecidos específicos (TIMPs), produzidos pela maioria das células mesenquimais. Dessa forma, durante a formação de cicatriz, as MMPs são ativadas para remodelar a MEC depositada, e sua atividade é inibida pelas TIMPs. As ADAMs ficam ancoradas na membrana plasmática. Elas clivam e liberam domínios extracelulares de citocinas associadas às células e aos fatores de crescimento, tais como o TNF, TGF-β e os membros da família EGF. FATORES QUE INFLUENCIAM O REPARO TECIDUAL Infecção é uma das causas mais importantes de demora no processo de reparo, prolongando a inflamação e, potencialmente, aumentando a lesão tecidual local. Diabetes é uma doença metabólica que compromete o reparo tecidual por muitas razões, e é uma das causas sistêmicas mais importantes de reparo anormal das feridas. Estado Nutricional tem efeitos profundos no reparo; a deficiência de proteínas, por exemplo, e, particularmente, a carência de vitamina C inibem a síntese de colágeno e retardam o reparo. Glicocorticoides (esteroides) têm efeitos anti- inflamatórios bem documentados, e sua administração pode resultar na fraqueza da cicatriz devido à inibição da produção de TGF-β e à diminuição de fibrose. Fatores mecânicos: como aumento de pressão local ou torsão, que podem provocar separação ou deiscência das feridas. Perfusão Deficiente: decorrente de arteriosclerose e diabetes, ou ainda de drenagem venosa obstruída (p. ex., veias varicosas), também prejudica o reparo. Corpos Estranhos: como fragmentos de aço, vidro ou até mesmo osso, impedem o reparo. O tipo e a extensão da lesão tecidual afetam o reparo subsequente. Local da lesão e a caraterística do tecido no qual a lesão ocorre também são importantes. EXEMPLOS CLÍNICOS CURA DE FERIDAS CUTÂNEAS É um processo que envolve tanto a regeneração epitelial quanto a formação de cicatriz de tecido conjuntivo. Curada por Primeira Intenção: É quando a lesão envolve apenas a camada epitelial, o principal mecanismo de reparo é a regeneração epitelial. − O reparo consiste em três processos conectados: inflamação, proliferação de células epiteliais e outras células, e maturação da cicatriz do tecido conjuntivo. Cura por Segunda Intenção: A reação inflamatória é mais intensa, há desenvolvimento abundante de tecido de granulação, acúmulo de MEC e formação de uma grande cicatriz, além de uma contração da ferida pela ação de miofibroblastos. Nele o processo de reparo envolve uma combinação de regeneração e cicatrização. FIBROSE EM ÓRGÃOS PARENQUIMATOSOS Fibrose: É a deposição excessiva de colágeno e outros componentes da MEC em um tecido. É um processo patológico induzido por estímulos lesivos persistentes, como infecções crônicas e reações imunológicas, tipicamente associado à perda tecidual. Pode ser responsável pela disfunção significativa dos órgãos e até mesmo pela insuficiência. A principal citocina envolvida na fibrose é o TGF-β. ANORMALIDADES NO REPARO DE TECIDOS A formação inadequada do tecido de granulação ou a formação de uma cicatriz podem levar a dois tipos de complicações: − Deiscência da ferida: É a ruptura de uma ferida. − Ulceração: Ocorre em consequência de uma vascularização inadequada durante a cura. A formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode dar origem a cicatrizes hipertróficas e queloides. O acúmulo excessivo de colágeno pode produzir uma cicatriz saliente conhecida como cicatriz hipertrófica; se a cicatriz cresce além das margens da ferida original, sem regredir, é chamada de queloide. Granulação exuberante: Consistente na formação de quantidades excessivas de tecido de granulação, fazendo protrusão acima do nível da pele no entorno e bloqueando a reepitelização. Contração: Um exagero desse processo origina a contratura e resulta em deformidades da ferida e dos tecidos circundantes.
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