Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 TRANSTORNO BIPOLAR Gizelle Felinto MANIA E HIPOMANIA O que difere mania de hipomania é o tempo de duração MANIA Humor elevado, expansivo (+3) ou irritado (+4) Aumento da atividade ou de energia Duração de 1 semana, com prejuízo no funcionamento, hospitalização ou psicose caracterizada pelo médico Sinais e sintomas: Autoestima inflada ou grandiosidade Redução da necessidade de sono Loquacidade ou pressão por fala Fuga de ideias ou taquipsiquismo Distraibilidade Aumento da atividade ou agitação psicomotora Atividades inconsequentes A impulsividade e a desinibição sexual são explicadas pela diminuição dos processos inibitórios cerebrais Esses pacientes durante o episódio maníaco costumam iniciar vários novos projetos ao mesmo tempo, com pouco ou nenhum conhecimento sobre o assunto, aparentando que nada está fora do seu alcance. Ademais, essas atividades podem se manifestar em horas pouco habituais do dia Humor expansivo, otimismo excessivo, grandiosidade e juízo crítico prejudicado levam ao envolvimento imprudente em atividades como: Surto de compras mesmo sem ter dinheiro para tal Doação de objetos pessoais Direção imprudente Investimentos financeiros insensatos Promiscuidade sexual incomuns ao indivíduo pode incluir infidelidade ou encontros sexuais indiscriminados com estranhos Pelo menos 3 desses sintomas da imagem devem estar presentes associados ao humor elevado/expansivo ou irritável HIPOMANIA Humor elevado, expansivo (+3) ou irritado (+4) Aumento da atividade ou da energia Pode ocorrer por 4 dias, sem prejuízo acentuado Sinais e sintomas: Autoestima inflada ou grandiosidade Redução da necessidade de sono Loquacidade ou pressão por fala Fuga de ideias ou taquipsiquismo Distraibilidade Aumento da atividade ou agitação psicomotora Atividades inconsequentes CIRCUITOS CEREBRAIS E NEUROTRANSMISSORES Cada sintoma corresponde a um circuito cerebral diferente Esses circuitos podem estar hiper ou hipoativos, dependendo da fase em que ele se encontra PRINCIPAIS NEUROTRANSMISSORES MONOAMÍNICOS ENVOLVIDOS NOS TRANSTORNOS DE HUMOR: Noradrenalina (NA) ou Norepinefrina (NE) Dopamina (DA) Serotonina ou 5-hidroxitriptamina (5HT) Neurotransmissores monoamínicos hiperativação As seguintes 11 regiões cerebrais podem estar ligadas aos vários sintomas do episódio maníaco: CPF córtex pré-frontal BP parte basal do prosencéfalo E estriado NAc nucleus accumbens T tálamo Hi hipotálamo A amigdala H hipocampo NT centros neurotransmissores do tronco encefálico ME medula espinhal C Cerebelo Resposta neuronal de pacientes com mania à “tarefa de não fazer” Os sintomas impulsivos da mania, como correr riscos e angústia para falar, estão relacionados com a atividade do córtex orbitofrontal (COF). Dados de neuroimagem mostram que essa região cerebral seja hipoativa na mania em relação aos indivíduos saudáveis durante a “tarefa de não fazer”, que tem por objetivo testar a inibição das respostas 2 TRANSTORNO BIPOLAR Gizelle Felinto DEPRESSÃO DEPRESSÃO Humor deprimido ou perda do interesse ou prazer (+5) Duração de 2 semanas, com sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento Sinais e sintomas presença de 5 ou mais dos seguintes sintomas durante o período de 2 semanas, representando mudanças no funcionamento do indivíduo, sendo que pelo menos 1 dos sintomas seja humor deprimido ou perda de interesse/prazer: Perda ou ganho de peso ou redução ou aumento o apetite Insônia ou hipersonia Agitação ou retardo psicomotor Fadiga ou perda de energia Sentimento de inutilidade ou de culpa excessiva ou inapropriada Ideações, planejamentos ou tentativas suicidas Humor deprimido ou perda de interesse/prazer associado a pelo menos 4 dos sintomas da imagem acima CIRCUITOS CEREBRAIS Ocorrem alterações na atividade neuronal nas áreas relacionadas ao humor e ao suicídio e alterações na eficiência do processamento de informações: CPF córtex pré-frontal BP parte basal do prosencéfalo E estriado NAc nucleus accumbens T tálamo Hi hipotálamo A amigdala H hipocampo NT centros neurotransmissores do tronco encefálico ME medula espinhal C Cerebelo Resposta neuronal de pacientes deprimidos à tristeza versus felicidade induzidas Sintomas emocionais, como tristeza ou felicidade, são regulados pelo córtex pré-frontal ventromedial (CPFV M) e pela amígdala, duas regiões cuja atividade está elevada no estado de repouso nos pacientes deprimidos. É interessante constatar que testes provocativos, nos quais essas emoções são induzidas, mostram que a atividade neuronal na amígdala é hiperreativa à tristeza induzida, porém hiporreativa à felicidade induzida Neurotransmissores monoamínicos (NA, DA e 5HT) ocorre uma deficiência desses transmissores, associado à disfunção em vários circuitos cerebrais TRANSTORNO BIPOLAR EPISÓDIOS EPISÓDIO MANÍACO: Mania + 3 ou mais outros sintomas Mania humor normalmente elevado, expansivo ou irritável EPISÓDIO DEPRESSIVO MAIOR: Humor deprimido ou perda de interesse + 4 outros sintomas EPISÓDIO HIPOMANÍACO: Hipomania + 3 ou 4 outros sintomas Hipomania humor elevado, expansivo ou irritável, porém menos grave e com menor duração do que a mania EPISÓDIO MISTO: 3 TRANSTORNO BIPOLAR Gizelle Felinto Preenche os critérios tanto do episódio maníaco quanto do episódio depressivo maior. Geralmente, o paciente apresenta-se com irritabilidade extrema Maníaco + Depressivo maior TIPOS DE TRANSTORNO BIPOLAR TBH tipo I casos nos quais ocorrem manias, hipomanias e depressões Ocorrência de pelo menos 1 episódio maníaco, que pode ter sido precedido ou sucedido de episódios hipomaníacos ou depressivos Esses pacientes costumam apresentar também episódio depressivos maiores, embora isso não seja necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar I TBH tipo II casos nos quais ocorrem hipomanias e depressões Distúrbio de humor recorrente, constituído por 1 ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos 1 episódio hipomaníaco Normalmente, a hipomania não é percebida pela família. Assim, na coleta da história é que se pode notar que o paciente apresentou sintomas como dificuldade de dormir TBH sem outra especificação casos em que se encontram as oscilações do humor, mas essas não satisfazem os critérios para episódios do DSM-5 Nem todas as variações de humor são patológicas Os indivíduos com temperamento depressivo podem estar bem tristes ou apáticos, porém não satisfazem os critérios para distimia e não apresentam necessariamente prejuízos funcionais. Entretanto, indivíduos com temperamento depressivo podem correr maior risco de desenvolver um transtorno de humor mais tarde na vida Temperamento hipertímico humor acima do normal, porém não patológico, envolvendo características estáveis como extroversão, otimismo, exuberância, impulsividade, confiança excessiva, grandiosidade e falta de inibição Temperamento hipotímico maior risco de desenvolver transtorno do humor mais tarde na vida EPIDEMIOLOGIA Trata-se de um transtorno recorrente, que cursa com elevadas taxas de morbidade e mortalidade e traz prejuízos e custos significativos para o portador e para a sociedade TBH tipo I prevalência ao longo da vida de cerca de 1% TBH tipo II aproximadamente 1,1% Cerca de 50 a 60% com início dos sintomas aos 19 anos ou menos Pode, em casos específicos, começar na infância e adolescência, assim como em idades mais avançadas (mais raro) Alta herdabilidade familiares de 1º grau de portadores de TAB têm risco 10x maior Há riscos de se usar antidepressivosna fase maníaca, pois há intensificação desses sintomas maníacos reunir a família para conversas sobre esses riscos Maior risco de suicídio: Pelo menos 15x mais em relação à população em geral O transtorno bipolar pode corresponder a ¼ de todos os suicídios ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS Aumento da liberação de Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BNDF): A ação normal do BNDF é manter a viabilidade dos neurônios cerebrais Há a modificação da atividade monoamnérgica envolvendo a SEROTONINA, NORADRENALINA e DOPAMINA 4 TRANSTORNO BIPOLAR Gizelle Felinto Diminuição do BNDF destruição de tecido neuronal, principalmente por apoptose (principalmente no hipocampo e em outras áreas cerebrais como o córtex pré-frontal) Neuroprogressão há piora dos pacientes que não são tratados adequadamente Parte dessa perda neuronal pode ser reversível com o uso de antidepressivos, que aumenta o BNDF e outros fatores tróficos, restaurando as sinapses perdidas Sistema endócrino alteração do eixo HIPOTÁLAMO- HIPÓFISE-SUPRARRENAL, ocorrendo aumento do cortisol, que provoca sintomas em resposta à modulação ao estresse: Ganho de peso Hipertensão Aumento da chance de ter diabetes Ritmo circadiano constitui tanto um sintoma quanto um efeito do transtorno bipolar Alterações inflamatórias os episódios de humor podem se caracterizar como estados pró-inflamatórios, aumentando os níveis periféricos de citocinas pró-inflamatórias IL-6 e TNF-α (fator de necrose tumoral) Alterações de vias moleculares intracelulares DIAGNÓSTICO E QUADRO CLÍNICO - CONSULTA Quem é seu pai? Onde está sua mãe? se há história familiar e auxílio de um parente para relatar as mudanças de humor Depressão Bipolar: Início mais precoce (< 25 anos) deve-se fazer diagnóstico diferencial com a esquizofrenia, que geralmente é na mesma faixa etária História familiar de THB Refratariedade a antidepressivos, se já fez uso Episódios recorrentes Intensa lentificação psicomotora Depressão com sintomas atípicos: Aumento do apetite e do peso Hipersonia e paralisia em chumbo Hipersensibilidade a rejeição Humor reativo Depressão Unipolar x Depressão Bipolar: Essa distinção é fundamental para a definição do tratamento e diagnóstico Ambas não podem ser distinguidas uma da outra apenas pelos sintomas Não há sintomas específicos que distinguem uma da outra, mas é provável a existência de características clínicas típicas em cada manifestação (perfil dos sintomas, história familiar e curso da doença) Metade dos pacientes com transtorno bipolar apresentam, no início da doença, um episódio de mania e a outra metade apresenta sintomas de depressão, podendo ser diagnosticados, de forma errônea, como depressivos unipolares. Devido a isso, muitos pacientes com transtorno bipolar são tratados apenas com antidepressivos, o que agrava seu quadro Vários pacientes podem apresentar vários episódios depressivos antes da ocorrência do primeiro episódio subsequente de mania ou hipomania Sabendo-se que o transtorno bipolar tem forte relação com a genética, deve-se considerar a história familiar do paciente PREVALÊNCIA DOS TRANSTORNOS DE HUMOR Nos últimos anos, ocorreu uma mudança de paradigma com relação ao reconhecimento e ao diagnóstico de pacientes com transtorno de humor. Ou seja, muito pacientes que eram considerados como tendo um transtorno depressivo maior (paradigma antigo) são atualmente reconhecidos como portadores de transtorno bipolar II ou outro tipo de transtorno bipolar dentro do espectro bipolar (mudança de paradigma) O que fala a favor de um quadro de TAB, comparado à esquizofrenia, é a lucidez entre as crises presente na TAB CURSO E PROGNÓSTICO O curso tende a ser longo e com inúmeras recaídas O prognóstico tende a ser mais benigno do que o da esquizofrenia, pois os pacientes retornam à sua personalidade normal, anterior ao episódio À medida que progridem, os pacientes tendem a ter episódios mais frequentes e de maior duração Pra algumas mulheres, o primeiro episódio pode ocorrer no período puerperal Os episódios maníacos costumam ter início agudo (de horas a dias), com rápida progressão dos sintomas e, se não tratados, duram de 3 a 5 meses O início precoce (infância e adolescência), em comparação ao transtorno bipolar de início na idade adulta, está associado a maior probabilidade de: Cronicidade Ciclagem rápida Estados mistos Sintomas psicóticos Resistência ao tratamento Tentativas de suicídio Assim, o início precoce é considerado um marcador potencial de forma mais grave e familial da doença 5 TRANSTORNO BIPOLAR Gizelle Felinto TRATAMENTO GENERALIDADES Deve-se tratar o transtorno bipolar, pois é progressivo No início, os episódios são separados: Exemplo o paciente pode ter um episódio de mania, 6 meses depois ter outro e 3 meses depois apresentar um episódio depressivo Caso o paciente não seja tratado, ele começa a fazer uma ciclagem rápida, passando a apresentar certa resistência ao tratamento e acaba saindo de um episódio de mania diretamente para um episódio depressivo Ciclador rápido paciente que faz vários episódios de mania e de depressão ao longo do ano OBJETIVOS: Retirar da crise Prevenir novos episódios Estabelecer bom vínculo Psicoeducação explicar ao paciente sobre a doença para que ele entenda a importância do tratamento TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: Antidepressivos Antipsicóticos Estabilizadores de humor Terapia eletroconvulsiva em casos resistentes Estimulação transcraniana magnética TRATAMENTO PSICOLÓGICO: Terapia comportamental cognitiva breve Terapia comportamental cognitiva formal Terapia interpessoal Atenção Terapia de aceitação e compromisso Terapia do esquema TRATAMENTO SOCIAL: Psicoeducação familiar Família/amigos Grupos de suporte formais Grupos comunitários Cuidadores Emprego Habitação ESTILO DE VIDA: Exercícios físicos Dieta balanceada Cessamento do tabagismo Cessamento do consumo de álcool Cessamento do consumo de drogas Administrar o uso incorreto/desbalanceado de substâncias ONDE TRATAR Avaliar se há indicação de internação psiquiátrica: Risco de suicídio ou homicídio Risco de auto ou heteroagressividade Falta de crítica e não adesão ao tratamento Comportamento francamente desorganizado Falta de suporte social EXAMES - TESTES INICIAIS Devem ser solicitados antes do início do tratamento: Hemograma Eletrólitos Uréia e creatinina Função hepática Glicemia de jejum Lipidograma Teste de gravidez (se apropriado) TSH, T4L e anti-TPO (para o uso de Lítio) TRATAMENTO DA MANIA Verificar se os sintomas maniatiformes são secundários ao abuso de drogas, medicamentos, condições médicas gerais ou neurológicas Descontinuar imediatamente os antidepressivos! Desencorajar o uso de estimulantes, como nicotina, cafeína e álcool MEDICAMENTOS: Primeira escolha: LÍTIO (Carbonato de Lítio) estabilizador de humor QUETIAPINA*, Olanzapina e Risperidona antipsicóticos atípicos DIVALPROEX (Divalproato – ÁCIDO VALPROICO) anticonvulsivante Segunda linha: CARBAMAZEPINA Anticonvulsivante HALOPERIDOL Associação LÍTIO + LAMOTRIGINA Não prescrever antidepressivo em monoterapia! CARBONATO DE LÍTIO: Ação estabilizadora de humor Risco de intoxicação e presença de efeitos adversos. Assim, deve-se fazer a monitoração periódica de seus níveis séricos Níveis séricos recomendados 0,8 – 1,2 mEq/L Efeitos colaterais mais comuns: Sede e poliúria Alterações de memória Tremores Ganho de peso Sonolência Náuseas e diarreia Efeitos colaterais tardios sobrea tireoide, necessitando de atenção ÁCIDO VALPRÓICO (VALPROATO): Apresenta larga janela terapêutica e, portanto, risco diminuído de intoxicação Efeitos colaterais: Sedação 6 TRANSTORNO BIPOLAR Gizelle Felinto Náuseas Vômitos Diarreia Elevação benigna das transaminases Tremores Leucopenia assintomática e plaquetopenia Alopecia Aumento do apetite e ganho de peso É necessário o controle dos níveis séricos, do hemograma e das enzimas hepáticas a cada 3 – 6 meses CARBAMAZEPINA: Pode ter ação estabilizadora de humor Por induzir aumento de seu próprio metabolismo, suas doses devem ser reajustadas depois de algum tempo para que sua dosagem sérica seja mantida Efeitos colaterais: Diplopia, visão borrada Fadiga Vertigem Distúrbios gastrointestinais Leucopenia leve e trombocitopenia leve Elevação das enzimas hepáticas ANTIPSICÓTICOS: Tratamento da mania aguda, devido à rapidez da ação e controle da agitação psicomotora Seu uso no tratamento de manutenção tem sido evitado, devido aos efeitos colaterais (Parkinsonismo, acatasia), além do fato de poder desencadear ou agravar quadros depressivos CLONAZEPAM mais utilizado como coadjuvante, nos casos de agitação e insônia OBSERVAÇÕES IMPORTANTES LÍTIO, CARBAMAZEPINA E ÁCIDO VALPRÓICO são categoria D para gestantes O ÁCIDO VALPRÓICO é o estabilizador de humor mais teratogênico Os antipsicóticos são menos ruins para gestantes (categoria C) Rico de agranulocitose com CARBAMAZEPINA Monoterapia com antidepressivos (ADs) não é recomendada: Evitar Antidepressivos Tricíclicos (ADT’s) e Venlafaxina Risco de Síndrome de Steven-Johnson com Lamotrigina Monitorar litemia (0,8 a 1,2 mmol/L) intoxicação por lítio pode ser fatal!
Compartilhar