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1 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ CONCEITOS E DEFINIÇÕES: • Vasculite → processo inflamatório que acomete a parede do vaso sanguíneo como sítio primário ▪ As vasculites tem como substrato anatomopatológico predominante e em comum entre elas a inflamação da parede dos vasos • As vasculites são entidades heterogêneas → pois nosso organismo é composto por diferentes tipos de vasos, de diferentes tamanhos e que irrigam diferentes órgãos e sistemas. Assim, o acometimento do vaso, a depender do local, irá causar manifestações clínicas diferentes • As vasculites são frequentemente doenças graves e às vezes fatais. Assim, é necessário o diagnóstico e tratamento precoce • Sintomatologia → é de acordo com o órgão afetado • Existem vários tipos de Classificação das Vasculites: ▪ Vasculite de órgão único x Vasculite Sistêmica: ✓ Vasculite de órgão único → acometimento de apenas um órgão ✓ Vasculite sistêmica → acometimento de mais de um órgão ▪ Vasculite Primária x Vasculite Secundária: ✓ Vasculite primária → quando a vasculite é uma doença única ✓ Vasculite secundária → quando uma outra doença está causando a vasculite, como: o Doenças autoimunes sistêmicas (Ex: LES, Artrite Reumatóide, Síndrome de Sjogren, Dermatomiosite...) o Infecções o Uso de drogas o Neoplasias ➢ FISIOPATOGÊNESE → primeiramente ocorre uma inflamação da parede do vaso, destruindo sua parede e tem como produto final a necrose fibrinoide, que é um tipo de necrose associada ao depósito de fibrina que é um achado histopatológico quando se faz a biópsia do local acometido pela doença • Há presença de leucócitos inflamatórios nas paredes dos vasos com danos reativos às estruturas murais. Assim, ocorre perda da integridade do vaso, responsável por levar a sangramentos, e comprometimento do lúmen. Isso tudo pode resultar em isquemia e necrose do tecido QUADRO CLÍNICO GERAL ➢ Tem Evolução Subaguda ➢ Sintomas Constitucionais → todas as vasculites podem apresentar esses sintomas, que estão associados a inflamação sistêmica • Febre • Inapetência • Artralgias • Fadiga • Perda de peso • Mialgias QUADRO CLÍNICO DE ACORDO COM O CALIBRE DOS VASOS ➢ Atenção → as manifestações clínicas dependem do local que o vaso acometido irriga (assim, não são todas as manifestações clínicas que o paciente vai apresentar) ➢ VASCULITE DE GRANDES VASOS: • Vasos acometidos → Aorta e seus ramos primários para membros e para cabeça (vasos extracranianos) • Manifestações clínicas: ▪ Dor tipo Claudicação Intermitente → quando o paciente vai movimentar o membro ele sente dor, pois exige-se uma maior irrigação do membro, porém os vasos estão acometidos ▪ Redução dos Pulsos Periféricos → pois pode-se ter o acometimento dos ramos da aorta para os membros ▪ Assimetria da pressão arterial entre os membros → Ex: quando há acometimento de um membro e de outro não ✓ Deve-se aferir a pressão em membros superiores e inferiores ▪ Hipertensão renovascular → é renovascular porque pode ser por acometimento de vasos que estão associados às artérias renais ▪ Carotidínea → dor na carótida (à palpação ou não) ▪ Dor torácica ▪ Sopros cardíacos e vasculares • Na vasculite de grandes vasos, o acometimento maior e predominante é nos grandes vasos, porém, eventualmente, essa vasculite pode acometer vasos de menor calibre ➢ VASCULITE DE MÉDIO CALIBRE: • Vasos acometidos → ramos principais da aorta, extra e intraviscerais (artéria coronária, renal, hepática, mesentérica e esplênica) e intracranianos • Manifestações clínicas: ▪ Mononeurite múltipla → acometimento de vasa nervorum ▪ Angina mesentérica ▪ Livedo reticular → acometimento de vasos médios relacionado à pele ▪ Úlceras cutâneas ▪ Gangrena das extremidades ➢ VASCULITE DE PEQUENOS VASOS: • Vasos acometidos → ramos arteriais intraviscerais, arteríolas, capilares e vênulas • Manifestações clínicas: ▪ Glomerulonefrite ▪ Hemorragia alveolar ▪ Polineuropatia periférica ▪ Púrpura palpável ▪ Dor abdominal ▪ Hematoquezia → hemorragia digestiva baixa ▪ Vasculite retiniana DIAGNÓSTICO 2 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ➢ Para o diagnóstico pode-se fazer uso de: • Testes Sorológicos → Pesquisa de autoanticorpos (algumas vasculites podem ter anticorpos presentes) ▪ Anticorpo Anti-Citoplasma de Neutrófilos (ANCA): ✓ Grupo de anticorpos que estão associados a algumas vasculites sistêmicas que tem um padrão que brilha no citoplasma (diferentemente do FAN, que avalia a presença de autoanticorpos que tem ação antinucleo, mostrando um padrão de imunofluorescência no núcleo) • Exame Histopatológico de Biópsia realizada nos órgãos envolvidos (padrão-ouro): ▪ A depender do órgão envolvido e da acessibilidade que se tem a esse órgão para se realizar a biópsia ▪ É o exame que realmente confirma se a inflamação é oriunda de uma vasculite ▪ Porém, nem todo órgão pode-se biopsiar (Ex: SNC é um território de difícil acesso para se biopsiar) ▪ Achado: ✓ Há acometimento de todas as camadas vasculares (endotélio, camada média e camada adventícia) ✓ É um acometimento inflamatório. Assim, quando se estuda esse vaso vê-se que tem infiltrados inflamatórios na parede desse vaso ✓ Pode-se encontrar também necrose fibrinoide • Exame de Imagem Vascular: ▪ Usado tanto para diagnóstico quanto para estadiamento e prognóstico da doença ▪ Faz-se um exame de imagem do local acometido para ver a extensão da lesão, qual o diagnóstico e avaliar a necessidade de tratamento ➢ TESTE ANCA: • Esse teste tem papel tanto no diagnóstico quanto na classificação das vasculites • Tipos de Ensaios ANCA: ▪ Imunofluorescência indireta ▪ Imunoabsorção enzimática (ELIZA) • Imunofluorescência Indireta (IFI) → ambos devem ser solicitados: ▪ p-ANCA (padrão perinuclear) → imunofluorescência bem definida ao redor do núcleo ▪ c-ANCA (padrão citoplasmático) → imunofluorescência de forma difusa em todo o citoplasma da célula (o núcleo não cora) • Imunoabsorção enzimática (ELIZA): ▪ Antígenos-alvo detectados: ✓ Proteinase 3 (PR3) → PR3-ANCA ✓ Mieloperoxidase (MPO) → MPO-ANCA • Os ANCA estão associados a: ▪ Granulomatose com Poliangiíte: ✓ 90% são ANCA positivos → 80 – 90% dessa porcentagem tem PR3-ANCA ▪ Poliangiíte Microscópica: ✓ Quase 90% são ANCA positivos e a maioria tem MPO-ANCA ▪ Vasculite Renal Limitada: ✓ A maioria são ANCA positivos e 75 – 80% tem MPO-ANCA ▪ Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte: ✓ Podem presentar tanto PR3-ANCA quanto MPO- ANCA, mas a grande maioria apresenta MPO-ANCA ▪ Vasculite Associada a ANCA Induzida por Medicamentos: ✓ Medicamentos mais associados (principalmente ao MPO-ANCA) → Hidralazina, Propiltiouracil, Metimazol, Carbimazol e Miociclina ✓ Associações causais menos certas → Alopurinol, énicilamina, Procainamida, Tiamazol, Clozapina, Fenitoína, Rifampicina, Cefotaxima, Isoniazida e Indometacina • Considerações sobre o teste do ANCA: ▪ O teste ANCA deve ser solicitado quando há contexto clínico de vasculite! ▪ Teste ANCA negativo: ✓ Não exclui o diagnóstico de Granulomatose com Poliangiíte, Poliangiíte Microscópica ou Vasculite limitada, por exemplo ▪ Teste ANCA positivo: ✓ A positividade isolada do teste não estabelece diagnóstico, pois deve haver contexto clínico de vasculite ✓ Título crescente → não indica definitivamente aumento da atividade de doença ✓ Título decrescente → não indica necessariamente que está havendo uma remissão da doença ➢ EXAMES DE IMAGEM → podem auxiliar no diagnóstico: • Exames de imagem vascular: ▪ Nenhuma anormalidade na imagem vascular é patognomônica de vasculite, mas podem ser usadas para apoiar o diagnóstico quando associada ao quadro clínico sugestivo▪ É improvável que a angiografia seja útil na avaliação de uma vasculites de pequenos vasos, pois os vasos afetados estão abaixo da resolução dos angiogramas usuais ▪ Arteriografia* ▪ Angiotomografia Computadorizada* ▪ Angiorressonância Magnética* ▪ Ultrassonografia com Doppler → é um exame mais barato e não utiliza contraste ✓ Porém, nem todos os vasos se consegue ver com esse exame → o acesso a vasos profundos é ruim ▪ Tomografia Computadorizada com emissão de pósitrons, com flúor-desoxifluoglicose (PET scan) → o marcador com flúor-desoxifluoglicose vai se concentrar nas áreas em que se tem um aumento do metabolismo de depósito. Essas áreas estão associadas a áreas de inflamação. Esse é o mesmo principio para avaliar a presença de tumores também, 3 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto por isso que o PET scan também é usado na investigação de neoplasias ✓ Desvantagem → é um exame caro (por isso é pouco solicitado) *Com contraste • Alterações sugestivas: ▪ Espessamento parietal concêntrico → espessamento da parede do vaso da periferia para o centro ▪ Lesões focais do tipo estenose, oclusão, dilatação da parede e aneurisma (a destruição da parede do vaso, quando a inflamação progride, faz com que a parede sofra fragilidade, favorecendo o aparecimento de aneurismas) CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DO COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA (ACR) - 1990 ➢ Hoje em dia ainda são utilizados os critérios dessa classificação, principalmente para entender o que é mais clássico das manifestações das vasculites ➢ Apesar de já existirem outros tipos de vasculites, em 1990 o ACR só classificou em 7 grupos ➢ As vasculites são divididas em 7 grupos: • Arterite de Células Gigantes • Arterite de Takayasu • Granulomatose de Wegener • Síndrome de Churg Strauss • Poliarterite Nodosa • Púrpura de Henoch-Shonlein • Vasculite por Hipersensibilidade ➢ Usando esses critérios, conseguiu-se identificar as vasculites com: • Sensibilidade de 71 – 95,3% • Especificidade de 78,7 – 99,7% NOMECLATURA DAS VASCULITES SEGUNDO A CONFERÊNCIA DE CHAPEL HILL (1994) ➢ Nessa conferência tentou-se dividir as vasculites para tentar contemplar as vasculites que não entraram na classificação da ACR 1990, dividindo-se as vasculites de acordo com o calibre de vasos ➢ Classificação: • Vasculites de Grandes Vasos: ▪ Arterite de Células Gigantes (ou Arterite Temporal) ▪ Arterite de Takayasu • Vasculites de Médios Vasos: ▪ Poliarterite Nodosa ▪ Doença de Kawasaki → é muito comum em crianças • Vasculites de Pequenos Vasos: ▪ Granulomatose de Wegener ▪ Síndrome de Chrug Strauss ▪ Poliangiíte Microscópica ▪ Púrpura de Henoch-Shonlein → é muito comum em crianças ▪ Vasculite Crioglobulinêmica Essencial ▪ Angiíte Leucocitoclástica Cutânea NOMECLATURA ATUALIZADA DAS VASCULITES SEGUNDO A CONFERÊNCIA DE CHAPEL HILL (2012) ➢ É a classificação mais atual e que contempla o maior número de vasculites ➢ Continua a divisão de acordo com o calibre dos vasos acometidos ➢ A vasculite de pequenos vasos foi dividida em 2 grupos: • Vasculites associadas ao ANCA ▪ A granulomatose de Wegener passou a ser chamada de Granulomatose com Poliangiíte ▪ O Churg-Strauss passou a ser chamada de granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte • Vasculites de pequenos vasos por Imunocomplexos: ▪ A Púrpura de Henoch-Shonlein passou a ser chamada de Vasculite por IgA ➢ A granulomatose de Wegener passou a ser chamada de Granulomatose com Poliangiíte ➢ O Churg-Strauss passou a ser chamada de granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte RECURSOS CLÍNICOS SUGESTIVOS DE VASCULITE SISTÊMICA ➢ Suspeita de Vasculite → em pacientes que apresentam sintomas sistêmicos ou constitucionais em combinação com evidências de disfunção única e/ou multiorgânica e, especialmente, com algumas manifestações principais de vasculite ➢ O diagnóstico de vasculite costuma ser retardado, pois as manifestações clínicas podem ser mimetizadas por uma série de outras doenças ➢ DIAGNÓSTICO → História + Exame Físico + Laboratório ➢ HISTÓRIA: • Sintomas sistêmicos → são frequentemente presentes ▪ Febre, fadiga, perda de peso e artralgias • Também podem ser observados (e falam mais a favor de determinado tipo de vasculite): ▪ História de inflamação ocular (principalmente Esclerite) ▪ Crostas nasais persistentes, epistaxe ou outra doença das vias aéreas superiores → sugestivas de Granulomatose com Poliangiíte ▪ Pé caído ou pulso caído → em decorrência de uma neuropatia motora por um processo isquêmico 4 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ▪ Claudicação dos membros → principalmente em membros superiores ou em pessoas com baixo risco de aterosclerose, é sugestiva de uma grande oclusão arterial por Arterite de Takayasu ou Arterite de Células Gigantes ▪ Hemoptise inexplicada → deve-se sempre levantar suspeita de hemorragia alveolar e vasculite associada ao ANCA ▪ Glomerulonefrite → paciente deve ser avaliado para possível vasculite, principalmente vasculite associada ao ANCA ▪ Hemorragia pulmonar + Hemorragia renal • Na anamnese sempre se deve perguntar também: ▪ Uso de medicamentos recentemente (nos últimos 6 a 12 meses) → pois existem medicamentos específicos que podem causar vasculite induzida por drogas ▪ Uso de drogas (cocaína) ▪ Histórico de Hepatite ▪ Diagnóstico anterior de doença conhecida por estar associada a uma vasculite (Ex: Lúpus Eritematoso Sistêmico) • A faixa etária e o sexo do paciente podem falar a favor de uma vasculite específica, como: ▪ Acometem mais mulheres → Granulomatose com Poliangiíte e Arterite de Takayasu ➢ EXAME FÍSICO: • Ajuda a identificar locais potenciais de vasculite e determinar a extensão das lesões vasculares, a distribuição dos órgãos afetados e a presença de processo patológicos adicionais • Possíveis Achados: ▪ Neuropatia sensitivo e/ou motora (diminuição da sensação ao toque e fraqueza motora das extremidades) → pode indicar a presença de: ✓ Mononeurite múltipla clássica ✓ Polineuropatia periférica simétrica ou assimétrica ▪ Púrpura palpável → é um forte sinail de vasculite leucocitoclástica cutânea (vasculite cutânea de pequenos vasos) ✓ É um achado comum em muitas vasculites de pequenos vasos, assim como Poliarterite nodosa ✓ Atenção → nem toda púrpura palpável é vasculite e nem toda vasculite de pele é representada como púrpura ▪ Pulsos, sopros ou discrepâncias de pressão arterial ausentes, diminuídos ou sensíveis → sinais de vasculite de grandes vasos ✓ No exame físico sempre se deve palpar simetricamente o maior número de pulsos ➢ EXAMES LABORATORIAIS: • Ajudam a identificar o tipo de vasculite, o grau de envolvimento de órgãos ou identificar outra doença • Avaliação Laboratorial Inicial: ▪ Hemograma completo ▪ Creatinina sérica ▪ Função hepática (TGO e TGP) ▪ Velocidade de Hemossedimentação (VHS) ▪ Proteína C Reativa (PCR) ▪ Sorologias para Hepatites Virais ▪ Crioglobulinas séricas ▪ Urianálise com sedimento urinário ▪ Hemoculturas → para ajudar a excluir infecção (Ex: endocardite infecciosa) • Testes mais específicos: ▪ FAN → um FAN positivo pode indicar a presença de uma doença reumatológica sistêmica subjacente, como LES ▪ Complemento → níveis baixos, especialmente de C4, podem estar presentes na Crioglobulinemia mista com LES, mas não na maioria das outras vasculites ▪ ANCA → apesar de não ser totalmente diagnóstico, é muito específica para o diagnóstico de Vasculite associada ao ANCA em pacientes com alguma suspeita pré-teste razoável • Testes adicionais → orientados de acordo com a apresentação clínica ▪ Radiografia de Tórax ou Tomografia Computadorizada de Alta Resolução (TCAR) → indicada para pacientes com sintomas respiratóriose/ou hemoptise ▪ Eletromiografia → quando o paciente tem sintomas de doenças neuromuscular ▪ Punção lombar com análise do LCR → considerar em pacientes com sintomas sugestivos de angiíte primária do sistema nervoso central • Biópsia do tecido envolvido: ▪ É essencial para o diagnóstico de muitas vasculites, mas não é possível em todos os casos ▪ Exemplos: ✓ É possível de ser feito em → artéria temporal (suspeita de Arterite de Células gigantes), da lesão purpúrica, do rim (suspeita de Glomerulonefrite)... ✓ É muito difícil de ser feita em →pacientes com suspeita de Arterite de Takayasu (tecido aórtico e seus ramos primários) • Exames de imagem vascular ARTERITE DE TAKAYASU INTRODUÇÃO ➢ É uma vasculite granulomatosa que afeta grandes vasos ➢ Vasos afetados → principalmente aorta e seus ramos principais • A inflamação e o dano geralmente estão localizados em uma parte dos vasos afetados, mas pode ser visto um envolvimento extenso, como quase uma pan-aortite ➢ Compartilha algumas características clínicas e histológicas com a Arterite de Células Gigantes ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Incidência → é uma doença de pacientes jovens ▪ Geralmente ocorre em pessoas com < 30 anos de idade 5 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ▪ Tem pico de incidência entre os 20 – 30 anos de idade ▪ É rara depois dos 40 anos • Prevalência: ▪ É mais prevalente em mulheres do que em homens (9:1) → cerca de 80 – 90% dos casos ocorrem em mulheres ➢ ETIOLOGIA: • Tem mais relação com a genética • Sua etiologia é desconhecida, mas é mais frequente em algumas populações • Foi identificado que o HLA-B52 está associado a pacientes com Arterite de Takayasu PATOGÊNESE ➢ Os mecanismos mediados por células são considerados de importância primária e podem ser semelhantes aos da Arterite de Células Gigantes ➢ Ocorre inflamação nas artérias principalmente por linfócitos citotóxicos, especialmente linfócitos T gama delta. Essas células podem causar lesão vascular pela liberação de grandes quantidades da proteína citolítica perforina ➢ Histopatologia → encontra-se alteração granulomatosa na camada adventícia do vaso, invadindo a camada média, levando a dano, neovascularização e consequente substituição por processo fibrinoso ➢ A inflamação pode ser localizada em parte da aorta (aorta torácica, aorta abdominal ou ramos) ou pode envolver todo o vaso ➢ O processo inflamatório dentro do vaso pode levar ao estreitamento (estenose arterial) e oclusão do vaso, causando isquemia dos tecidos. Além disso, o enfraquecimento das paredes dos vasos pode levar a uma dilatação vascular, podendo formar aneurismas. Isso tudo leva a uma grande variedade de sintomas ➢ Geralmente, as lesões vasculares iniciais ocorrem na artéria subclávia proximal ou média esquerda. À medida em que a doença progride, outros ramos da aorta podem ser acometidos ➢ Em aproximadamente 50% dos casos há acometimento de aorta abdominal e das artérias pulmonares MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Tem início Subagudo → é por isso que, geralmente, há um atraso no diagnóstico (meses a anos), durante o qual a doença vascular pode começar e progredir para se tornar sintomática. Assim, não é incomum que as consequências da doença arterial sejam os primeiros sinais de Arterite de Takayasu ➢ Conforme ocorre a progressão do estreitamento, oclusão ou dilatação das artérias, há dor resultante nos braços ou pernas (Claudicação dos membros) e/ou cianose, tontura e outros sintomas de fluxo sanguíneo reduzido, dor arterial e sensibilidade, ou sintomas constitucionais inespecíficos ➢ Os sintomas dependem do vaso acometido ➢ Acometimentos arteriais por ordem de frequência: 1. Aorta 2. Subclávias 3. Carótidas 4. Artérias renais ➢ Manifestação clínica mais importante → identificação de pulsos periféricos diminuídos ou ausentes, podem estar associados a sintomas como claudicação intermitente e diferença de pressão arterial entre os membros ➢ SINTOMAS CONSTITUCIONAIS → estão ausentes em 60 – 80% dos casos e, quando presentes, são mais comuns na fase inicial • Perda de peso • Febre baixa • Fadiga ➢ ARTRALGIA: • Artralgias ou mialgias ocorrem em 50% dos casos • Sinovite clinicamente evidente é menos comum • Sintomas articulares podem ser transitórios ou contínuos ao longo de vários meses ou mais ➢ CAROTIDÍNEA (sensibilidade/dor da artéria carótida) → é vista em cerca de 10 – 30% dos casos ➢ PULSO PERIFÉRICO FRACO OU AUSENTE: • É mais comum no nível das artérias radiais e costumam ser assimétricos • Em casos graves → a oclusão dos vasos nas extremidades pode resultar em ulcerações isquêmicas ou gangrena. Porém, tais complicações são geralmente evitadas pelo desenvolvimento de circulação arterial colateral nas artérias envolvidas pela vasculite, protegendo as extremidades da isquemia crítica ▪ Formação de vasos colaterais → são evidencia da lenta progressão da doença ➢ CLAUDICAÇÃO DO MEMBRO: • É comum o acometimento da artéria subclávia ▪ Lesão estenótica proximal à origem da artéria vertebral pode levar a (Síndrome do roubo da subclávia): ✓ Sintomas neurológicos ✓ Síncope • Pode ocorrer dor leve a intensa nos membros superiores ou inferiores ao realizar atividades leves, muitas vezes limitando a capacidade funcional dos pacientes para atividades da vida diária, deambulação ou trabalho • Essa dor nos membros decorre da diminuição do fluxo sanguíneo devido à estenose dos vasos, e para a realização da movimentação muscular é necessária uma vasodilatação e maior chegada de sangue, o que não ocorre de forma correta na vasculite e que acaba causando dor ➢ SOPRO ARTERIAL: • Em pacientes com estenose, os sopros são geralmente audíveis nas artérias subclávias, braquiais e carótidas e nos vasos abdominais • Sinais clínicos de regurgitação aórtica → ocorre devido a dilatação da aorta ascendente • Estenose moderada a grave pode estar presente mesmo na ausência de sopro ➢ PRESSÃO ARTERIAL DISCREPANTE ENTRE OS BRAÇOS: • É comum haver uma redução da pressão arterial em um ou ambos os braços 6 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto • Um diferencial > 10mmHg entre os braços está tipicamente presente e as pressões podem ter medidas diferentes (incomensuráveis) • Deve-se sempre lembrar de aferir a pressão em membros inferiores também ➢ HIPERTENSÃO ARTERIAL: • Ocorre em mais de 50% dos casos, sendo a complicação mais frequente • Essa hipertensão decorre do estreitamento de uma ou ambas as artérias renais, ou estreitamento e diminuição da elasticidade da aorta e de seus ramos • Hipertensão grave pode ocorrer → porém, o estreitamento ou oclusão das artérias nos braços pode dificultar a avaliação da pressão arterial ▪ Nesses casos, a pressão arterial deve ser aferida nos membros inferiores ou por medidas diretas da aorta proximal por cateterismo • Pela Arterite de Takayasu acometer mais pessoas jovens, isso pode acabar passando despercebido ➢ ANGINA PECTORIS: • Ocorre devido ao estreitamento dos óstios da artéria coronária por aortite ou arterite coronária • Pode ocorre Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) ➢ SINTOMAS GASTROINTESTINAIS → resultam de isquemia da artéria mesentérica • Dor abdominal, principalmente pós prandial • Diarreia • Hemorragia gastrointestinal ➢ LESÕES CUTÂNEAS: • Lesões cutâneas semelhantes a eritema nodoso ou pioderma gangrenoso são encontrados nas pernas em uma minoria dos casos ➢ SINTOMAS RESPIRATÓRIOS: • As artérias pulmonares são acometidas em 50% dos casos • Os sintomas relacionados à arterite pulmonar são menos comuns • Manifestações pulmonares: ▪ Dor torácica ▪ Dispneia → também pode ser decorrente de angina ou Insuficiência Cardíaca resultante da dilatação aórtica, regurgitação aórtica ou hipertensãomaligna ▪ Hemoptise ▪ Hipertensão pulmonar ➢ SINTOMAS NEUROLÓGICOS: • O envolvimento das artérias carótidas e vertebrais causa diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, levando a: ▪ Tonturas ▪ Vertigens ▪ Sincope ▪ Ortostase ▪ Dores de cabeça ▪ Convulsões derrames ▪ Deficiência visual → é uma manifestação tardia de doença grave e se deve à insuficiência arterial EXAME FÍSICO ➢ Aferição da Pressão Arterial → nas 4 extremidades (membros superiores e inferiores) • Para avaliar estenoses arteriais e medir com precisão a verdadeira pressão arterial do paciente ➢ Ausculta: • Deve ser feita nas seguintes artérias → carótida, subclávia, axilar, renal e femoral bilaterais, além da aorta abdominal • Ausculta Cardíaca → pode revelar sinais de doença valvar aórtica, hipertensão pulmonar ou Insuficiência Cardíaca ➢ Palpação: • Deve-se palpar os pulsos → avaliar se estão completos, reduzidos ou ausentes ▪ Artérias → temporais, carótidas, braquiais, femorais e dorsais bilaterais ▪ Sensibilidade/dor arterial também deve ser observada • Deve-se procurar também sinais de isquemia de membro EXAMES COMPLEMENTARES ➢ EXAMES LABORATORIAIS: • Alterações são inespecíficas e geralmente refletem processo inflamatório • Provas de Atividade Inflamatória → podem estar elevadas, mas não refletem de forma confiável a atividade da doença e podem ser normais no contexto de doença ativa ▪ Velocidade de Hemossedimentação (VHS) ▪ Proteína C Reativa (PCR) ▪ Valores normais de VHS e PCR não afastam o diagnóstico de Arterite de Takayasu • Hemograma Completo → pode revelar: ▪ Anemia de doença crônica (normocítica e normocrômica) ▪ Leucocitose ▪ Trombocitose DIAGNÓSTICO ➢ Baseia-se em → Achados Clínicos + Alterações em exame de imagem • Achados clínicos sugestivos → Ex: paciente com sintomas constitucionais, hipertensão, pulsos diminuídos ou ausentes e/ou sopros arteriais • Imagens → estreitamento da aorta e/ou dos seus ramos • Não há testes laboratoriais específicos para o diagnóstico de Arterite de Takayasu ➢ EXAMES DE IMAGEM: • São essenciais para estabelecer o diagnóstico e determinar a extensão do envolvimento vascular • Mais utilizados → avaliam o lúmen arterial ▪ Angiografia por Ressonância Magnética (Angiorressonância Magnética) → é a preferível, pois evita exposição à radiação e os riscos do contraste iodado ▪ Angiografia por Tomografia Computadorizada (Angiotomografia Computadorizada) 7 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ▪ Achados → estreitamento luminal suavemente cônico ou oclusão que às vezes é acompanhado pelo espessamento da parede do vaso • Ultrassonografia Doppler: ▪ Das artérias carótida comum e subclávia proximal ▪ Achado → espessamento da parede do vaso e estreitamento luminal, principalmente quando se tem sopros e/ou pulsos diminuídos ▪ Pode fornecer dados sobre a hemodinâmica ▪ Desvantagem → não atinge vasos em áreas profundas • Arteriografia Convencional: ▪ Fornece contornos claros do lúmen das artérias envolvidas ▪ Desvantagens: ✓ Não avalia o espessamento da parede arterial ✓ É invasivo e associado a alguns riscos • Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET): ▪ Achado → segmentos “quentes” (com valores de captação padronizados aumentados) ▪ No cenário clínico correto esse achado pode ser bastante sugestivo de vasculite de grandes vasos ➢ HISTOPATOLOGIA: • O diagnóstico de Arterite de Takayasu raramente é feito histologicamente, pois a biópsia das grandes artérias é praticamente impraticável • Quando é possível realizar → Ex: ocasionalmente, o tecido vascular pode ficar disponível após um procedimento de revascularização ou reparo de aneurisma • Inflamação ativa → presença de células mononucleares, predominantemente linfócitos, histiócitos, macrófagos e células plasmáticas CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO ACR Arterite de Takayasu = 3 ou mais dos seguintes 6 critérios Critérios Diagnósticos da Arterite de Takayasu Idade de início da doença ≤ 40 anos Claudicação de extremidades Diminuição dos pulsos braquiais Diferença de pelo menos 10mmHg na Pressão Arterial Sistólica dos membros superiores Sopro em uma ou em ambas as Artérias Subclávias ou Aorta Abdominal Alterações angiotomográficas de aorta e seus arcos principais (estreitamento ou oclusão arteriográfica de toda a aorta, seus ramos primários ou grandes artérias nas extremidades proximais superiores ou inferiores, não devido a arteriosclerose, displasia fibromuscular ou outras causas) Sensibilidade = 90,5% e Especificidade = 97,8% DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ Inclui doenças ateroscleróticas, inflamatórias, infecciosas e hereditárias que afetam as grandes artérias ➢ Arterite de Células Gigantes: • Em comum com a Arterite de takayasu → ambas são condições que envolvem a aorta e seus ramos principais e são indistinguíveis histopatologicamente • Diferença → idade do paciente (mais velhos na Arterite por células gigantes) e distribuição das lesões ➢ Outras formas de vasculite / Aortite de grandes vasos ➢ Síndrome de Behçet: • Em comum com a Arterite de takayasu → dilatações e aneurismas das artérias de grande porte • Diferença → outras características clínicas: ▪ Ulcerações orais e/ou genitais ▪ Doença ocular ▪ Artrite ➢ Aortite Infecciosa: • Em comum com a Arterite de takayasu → geralmente levam a formação de aneurismas • Diferença: ▪ Hemocultura positiva na aortite infecciosa ▪ Angiotomografia computadorizada → mostra coleção de líquido perivascular ou ar intramural ➢ Causas genéticas dos aneurismas da aorta: • Defeitos genéticos que levam a anormalidades no metabolismo do tecido conjuntivo podem predispor os pacientes ao aneurisma da aorta torácica e dissecção • Doenças: ▪ Síndrome de Marfan ▪ Síndrome vascular de Ehlers-Danlos ▪ Síndrome de Loeys-Dietz ▪ Síndrome de Turner • Diferença → esses pacientes não apresentam sintomas sistêmicos como os pacientes com Arterite de Takayasu ➢ Aterosclerose: • É uma das principais causas de lesões da aorta e de seus ramos principais • Pacientes com vasculite de grandes vasos também podem desenvolver aterosclerose → por isso que é necessário avaliar todos os pacientes com Arterite de Takayasu para fatores de risco e evidências de aterosclerose ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES INTRODUÇÃO ➢ Também é conhecida como Arterite Temporal ➢ É uma vasculite de vasos grandes e médios ➢ Vasos afetados → aorta e/ou seus ramos principais, com predileção pelos ramos da carótida, incluindo a Artéria Temporal Superficial ➢ Compartilha algumas características histopatológicas com a Arterite de Takayasu 8 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ➢ Sintomas sistêmicos são comuns e o envolvimento vascular pode ser generalizado, causando estenose e aneurisma dos vasos afetados ➢ Complicação mais temida → PERDA VISUAL, que é uma consequência potencial do fenótipo craniano ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É a vasculite sistêmica idiopática mais comum • É a vasculite mais comum no idoso • Incidência: ▪ Geralmente em > 50 anos de idade ▪ Quase nunca ocorre antes dos 50 anos ▪ Sua incidência aumenta com a idade ▪ Incidência acentuadamente elevada → 70 – 79 anos ou 80 – 90 anos de idade (a depender do estudo) ▪ Mais de 80% dos pacientes tem mais de 70 anos de idade • Prevalência: ▪ Mais comum em mulheres do que em homens (2 a 3 mulheres para cada 1 homem) ▪ Prevalência de 1 a cada 750 pessoas ➢ Fatores de risco para o desenvolvimento da Arterite de Células Grandes: • Envelhecimento → é o maior fator de risco • Etnia → maior incidência em escandinavos ▪ É menos comum em latinos, asiáticos, árabes e afro- americanos • Genética ➢ Atenção → a principal causa de doença vascular no idoso é a aterosclerose ea principal vasculite no idoso é a arterite de células gigantes (assim, idosos que tem espessamento de artéria temporal superficial pode ser em decorrência de aterosclerose, ele não apresenta sensibilidade ao toque) PATOGÊNESE ➢ Tem relação com os seguintes fatores: • Fatores genéticos e epigenéticos • Expressão de linfócitos da via Th1 e Th17 ▪ Via Th17 → IL-6 é expressa nessa via (hoje, para o tratamento há um imunobiológico que age nessa via, o Tocilizumabe – antagonista do receptor de IL-6) • Funcionam como gatilhos → infecções virais e bacterianas • Ativação de células dendríticas na camada adventícia • Envelhecimento é fator de risco → com o avançar da idade ocorre hipometilação do DNA, modificações das células de resposta imune e do remodelamento vascular, causando uma resposta imune contra autoantígenos arteriais ➢ A arterite de células gigantes é uma doença imunomediada que ocorre em indivíduos suscetíveis, mas a natureza dos agentes desencadeantes é desconhecida ➢ Após eventos iniciais envolvendo respostas imunes inatas e adaptativas, cascatas em múltiplas vias inflamatórias levam à progressão de infiltrados inflamatórios através da parede arterial. Os componentes vasculares participam ativamente desse processo. Essa inflamação resulta em lesão com perda de células do músculo liso vascular e quebra da fibra elástica, enfraquecendo a camada muscular arterial. A resposta vascular à inflamação leva à remodelação vascular, com resultante hiperplasia da camada íntima vascular e oclusão do vaso ASSOCIAÇÃO COM POLIMIALGIA REUMÁTICA ➢ Não é Polimiosite! ➢ POLIMIALGIA REUMÁTICA: • A polimialgia reumática é uma condição inflamatória caracterizada clinicamente por dor e rigidez matinal nos ombros, cintura do quadril, no pescoço e no tronco • EPIDEMIOLOGIA: ▪ É quase exclusivamente uma doença de adultos > 50 anos de idade ▪ Incidência aumenta progressivamente com a idade ▪ Idade média do diagnóstico → 70 anos • MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: ▪ Sintomas da articulação proximal e do pescoço: ✓ São piores com a inatividade, resultando em dor noturna e rigidez matinal proeminente ✓ Rigidez matinal → pode ser severa a prolongada, sendo invariável ▪ Sintomas envolvendo os ombros e braços: ✓ É especialmente comum e pode produzir um achado clínico característico: o Restrição da amplitude de movimento ativo dos ombros, especialmente abdução • EXAME FÍSICO: ▪ Diminuição da amplitude do movimento passivo dos ombros, pescoço e quadris ▪ A força muscular é normal • EXAMES LABORATORIAIS: ▪ Provas Inflamatórias → estão aumentadas e tem intervalo amplo ✓ VHS: o Ocasionalmente é > 100mm/hora o Pode ser < 40mm/horas → em uma minoria dos pacientes, cerca de 5 a 20% dos casos ✓ PCR → clinicamente é mais sensível do que o VHS • DIAGNÓSTICO → pode ser feito em pacientes com as seguintes características, nos quais não há outra doença que melhor explique os achados: ▪ Dores bilatérias e rigidez matinal (durando até 30min, segundo a aula, e ≥ 45min, segundo os artigos) persistindo por pelo menos 2 semanas e envolvendo pelos menos 2 das seguintes áreas: ✓ Pescoço ou torso ✓ Ombros ou regiões proximais dos braços e quadris ✓ Aspectos proximais das coxas ▪ Provas inflamatórias (reagentes de fase aguda) elevadas ▪ Resposta imediata dos sintomas a Glicocorticoides em baixas doses (Ex: Prednisona 15 – 25mg/dia ou equivalente) 9 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ➢ ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES + POLIMIALGIA REUMÁTICA: • A polimialgia reumática está intimamente ligada à arterite de células gigantes, ocorrendo em aproximadamente 40 – 60% dos pacientes com arterite de células gigantes. Por outro lado, a arterite de células gigantes é encontrada em aproximadamente 10% dos pacientes com polimialgia reumática • Em alguns pacientes os sinais e sintomas das duas condições (arterite de células gigantes e polimialgia reumática) ocorrem simultaneamente, em outros eles aparecem separadamente ao longo do tempo • Pacientes com Polimialgia devem ser monitorados rotineiramente quanto a sinais e sintomas sugestivos de Arterite de Células Gigantes → a avaliação diagnóstica para Arterite de Células Gigantes deve ser feita quando se tem sinais clínicos sugestivos QUADRO CLÍNICO ➢ Geralmente, o início dos sintomas é subagudo, mas podem ocorrer apresentações abruptas em alguns dias ➢ Muitas das manifestações clínicas são inespecíficas, mas existem alguns achados característicos que sugerem fortemente o diagnóstico ➢ SINTOMAS CONSTITUCIONAIS/SISTÊMICOS → são frequentes, ocorrendo em 40% dos casos • Febre → ocorrem em 50% dos casos ▪ Geralmente são de baixo grau ▪ Porém, 15% dos pacientes tem febres maiores que 39°C → isso leva frequentemente ao diagnóstico errôneo de infecções • Fadiga • Anorexia e perda de peso → geralmente são leves, mas podem ser significativas em alguns casos • Cerca de 10% dos pacientes com Arterite de Células Gigantes apresenta apenas sintomas constitucionais e/ou achados laboratoriais de inflamação, constituindo as únicas pistas para o diagnóstico → assim, devido a isso, deve-se considerar o diagnóstico de Arterite de Células Gigantes em: ▪ Idoso com febre ou sintomas constitucionais não explicados por uma avaliação inicial para infecção ou malignidade ➢ CEFALÉIA (72%) → é comum, ocorrendo em mais de 2/3 dos pacientes • Pode ter inicio agudo ou subagudo • Pacientes tem a queixa específica de sensibilidade do couro cabeludo ao toque • Pode ser a principal queixa em muitos pacientes • Classicamente se localizam nas têmporas, mas também podem ser frontais, occipitais, unilaterais ou generalizadas • As dores de cabeça podem piorar progressivamente, aumentar ou diminuir ou, às vezes, diminuir antes de o tratamento ser iniciado ➢ CLAUDICAÇÃO DA MANDÍBULA → ocorre em quase 50% dos casos • Trata-se da dor mandibular ou fadiga causada pela mastigação, sendo aliviada pela parada da movimentação • Em alguns casos, os pacientes observam um sintoma semelhante ao trismo, com limitação percebida ou real da excursão da articulação temporomandibular • Os sintomas ocasionalmente afetam a língua • Em uma análise do valor diagnóstico das biópsias da artéria temporal, que correlacionou biópsias positivas com sintomas clínicos, claudicação da mandíbula foi o sintoma mais fortemente associado a uma biópsia positiva • Pode haver claudicação da língua (dor) ➢ ENVOLVIMENTO OCULAR: • Perda Visual Transitória (Amaurose Fugaz): ▪ Deficiência monocular transitória (raramente binocular) ▪ Pode ser uma manifestação precoce ▪ Pacientes afetados geralmente notam um defeito de campo visual de forma parcial e abrupta ou um efeito de cortina temporário no campo de visão de um olho ▪ Pacientes com polimialgia ou Arterite de Células Gigantes são frequentemente sensibilizados para o potencial de perda de visão ▪ Pode ser um indicativo de possível perda visual permanente → é o principal fator de risco para a perda permanente da visão • Perda permanente da visão: ▪ É a complicação mais temida da Arterite de Células Gigantes ▪ É indolor e súbita, podendo ser parcial ou completa e unilateral ou bilateral ▪ Pode ocorrer em cerca de 15 – 20% dos casos ▪ Embora a perda visual permanente possa ser precedida por episódios únicos ou múltiplos de perda visual transitória, também pode ocorrer com rapidez devastadora ▪ Uma vez estabelecida, raramente é reversível • Causas da perda de visão: ▪ Neuropatia óptica isquêmica anterior (NOIA) → pode acometer 5 a 15% dos pacientes ✓ Corresponde a cerca de 85% dos casos de perda de visão em pacientes com arterite de células gigantes ✓ Decorre da oclusão da artéria ciliar posterior, um ramo da artéria oftálmica da artéria carótida internae o principal suprimento arterial para o nervo óptico ✓ A maioria dos casos de Neuropatia óptica isquêmica anterior decorre de processo aterosclerótico, e não da arterite de células gigantes ✓ Se não tratada → pode causar Perda Visual (queixas de visão embaçada, amaurose fugaz, diplopia) ▪ Oclusão da artéria central da retina: 10 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ✓ A aterosclerose, principalmente das artérias carótidas, é responsável pela maior parte dos casos ▪ Neuropatia óptica isquêmica posterior: ✓ Resulta da interrupção do fluxo sanguíneo para a porção retrobulbar do nervo óptico ✓ É incomum na arterite de células gigantes ▪ Isquemia cerebral: ✓ Hemianopsia homônima ✓ Decorre de infarto do lobo occipital resultante de uma lesão na circulação vertebrobasilar ✓ Em casos raros pode ocorrer defeitos de campo homônimos bilaterais → cegueira cortical • Síndromes oftálmicas: ▪ Diplopia: ✓ Ocorre em 5% dos casos ✓ Quando associada a outros sintomas sugestivos de arterite de células gigantes, tem alta especificidade para a doença ✓ Geralmente é transitória ✓ Resulta de isquemia em qualquer parte do sistema oculomotor, incluindo tronco cerebral, nervos oculomotores e os próprios músculos extraoculares ▪ Síndrome de Charles Bonnet → é rara de ocorrer e trata-se de alucinações visuais em indivíduos psicologicamente normais que apresentam perda visual devido a lesões nas vias visuais periféricas e centrais ➢ ENVOLVIMENTO MUSCULOESQUELÉTICO: • Poliartralgias proximais e mialgias características ▪ Às vezes, podem vir acompanhadas de sinovite periférica e, ocasionalmente, inchaço da extremidade distal com edema depressível ➢ ENVOLVIMENTO DE GRANDES VASOS: • Envolvimento da aorta e seus ramos, principalmente nos membros superiores • O envolvimento sintomático evidente é menos comum • O envolvimento subclínico está presente em uma porcentagem significativa dos pacientes • As consequências clínicas incluem: ▪ Sintomas sistêmicos → podem acompanhar o quadro ▪ Aneurismas aórticos → a aorta torácica, principalmente a aorta ascendente, é afetada com mais frequência que a aorta abdominal ✓ Não se correlacionam com a intensidade e a duração da terapia com glicocorticoides ▪ Dissecções da aorta → ocorrem com menos frequência. Afetam principalmente aorta torácica ascendente, podendo acontecer no início ou no final do curso da doença em vasos de menor calibre ▪ Estenose, oclusão e ectasia de grandes artérias → podem causar: ✓ Sopros arteriais ✓ Pressão arterial diminuída ou ausente ✓ Claudicação de membro ✓ Ulcerações e gangrena → raramente ocorrem, devido à formação da circulação colateral ➢ MANIFESTAÇÕES MENOS COMUNS: • Envolvimento do Sistema Nervoso Central e Periférico: ▪ Acidente Vascular Encefálico (AVE) → é incomum, mas quando ocorre é mais característico o acometimento vertebrobasilar e o intracraniano é raro ▪ Neuropatia periférica ▪ Mielopatia ▪ Disfunção cortical elevada ou demência ▪ Paquimeningite • Sintomas neuropsiquiátricos (3%): ▪ Demência ▪ Distúrbio do humor ▪ Sintomas psicóticos • Sintomas do Trato Respiratório Superior → Tosse não produtiva • Outros envolvimentos de cabeça e pescoço → pelo acometimento da artéria carótida externa, incluindo artéria temporal superficial ▪ Claudicação da mandíbula ▪ Dor maxilar e dentária ▪ Edema facial ▪ Dor de garganta ▪ Dor na língua e macroglossia • Manifestações vestibuloauditivas: ▪ Perda auditiva, uni ou bilateral ▪ Vertigem ▪ Zumbido • Características atípicas: ▪ Disartria ▪ Perda auditiva neurossensorial ▪ Massa mamária ▪ Envolvimento do trato genital feminino ▪ Isquemia mesentérica e Pericardite EXAME FÍSICO ➢ Pulsos anormais → pulsos diminuídos ou ausentes e pressão arterial discrepante nos braços ➢ Anormalidades da artéria temporal → artérias sensíveis, espessadas e/ou com pulso diminuído ou ausente ➢ Sopros → nas artérias carótida, supraclavicular, axilar, braquial e femoral, assim como na aorta abdominal ➢ Achados oculares → em pacientes com perda visual monocular transitória o exame pode ser totalmente normal ➢ Achados musculoesqueléticos → achados de Polimialgia Reumática, como diminuição da amplitude dos movimentos EXAMES COMPLEMENTARES ➢ Hemograma Completo → podem mostrar as seguintes alterações: • Anemia de doença crônica • Trombocitose reativa 11 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto • Contagem de leucócitos geralmente é normal ou minimamente elevada, mesmo no cenário de inflamação sistêmica disseminada ➢ VHS e PCR → não são biomarcadores específicos para a doença • O VHS pode chegar a valores de 100mm/hora ➢ Testes Hepáticos (especialmente a Fosfatase Alcalina) → estão elevados em 25 a 35% dos pacientes • Essas elevações geralmente são modestas e voltam ao normal com a terapia com os glicocorticoides ➢ Albumina Sérica → costuma estar moderadamente reduzida no diagnóstico, mas responde ao glicocorticoide ➢ Concentrações séricas de IL-6 (ainda não é totalmente comprovada) → parece estar intimamente relacionada à atividade clínica da doença e podem se correlacionar melhor com a recidiva clínica do que o VHS ➢ Radiografia de Tórax → pode mostrar dilatação aneurismática da aorta ascendente DIAGNÓSTICO ➢ O diagnóstico de Arterite de Células Gigantes deve ser considerado em paciente com > 50 anos que se queixa de sintomas presentes nos critérios diagnósticos CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES Idade > 50 anos (início) Cefaleia localizada (geralmente apenas no território acometido) Sensibilidade na artéria temporal VHS > 50mm/hora Biópsia com Arterite necrosante Arterite de Células Gigantes = pelo menos 3 dos 5 critérios ➢ Sensibilidade = 93,5% e Especificidade = 91,2% ➢ Qualquer um desses achados é de preocupação especial no contexto de um diagnóstico atual ou prévio de Polimialgia Reumática ➢ Biópsia da Artéria Temporal (padrão-ouro): • É indicada em pacientes com quadro clínico sugestivo e com evidência laboratorial de reagentes da fase aguda • Achado → vasculite com infiltrado celular mononuclear, frequentemente com células gigantes multinucleadas • Se biópsia negativa + forte suspeita clínica de Arterite de Células Gigantes: ▪ Para aqueles pacientes que foram submetidos à biópsia unilateral, pode-se realizar a biópsia contralateral ▪ Ultrassom com Power Doppler (feito por um radiologista experiente) → pode funcionar como um procedimento diagnóstico alternativo, pois ele visualiza as artérias temporais ✓ Sinal clássico → sinal do Halo • Não se espera realizar a biópsia para iniciar o tratamento quando há forte suspeita clínica da doença ▪ Pois o atraso do tratamento pode colocar o paciente em risco de complicações, principalmente perda da visão ▪ A resolução do infiltrado inflamatório na artéria temporal pode ocorrer lentamente após o início do tratamento ▪ Assim, um diagnóstico preciso de Arterite de Células Gigantes por biópsia temporal pode ser feito várias semanas ou até meses após o início da terapia com Prednisona ➢ OUTRO CRITÉRIO DIAGNÓSTICO: 1. Paciente ≥ 50 aos com 1 ou mais dos seguintes: ▪ Nova cefaleia ▪ Início abrupto de distúrbios visuais, principalmente perda visual monocular transitória ▪ Claudicação de mandíbula ▪ Febre inexplicável, anemia ou outros sinais e sintomas constitucionais ▪ VHS e/ou PCR elevados 2. Se o paciente apresenta esses achados acima: ▪ Retorno para avaliação da artéria temporal → Biópsia ou ultrassom ▪ Caso sintomas oculares → encaminhar ao oftalmologista 3. Biópsia ou Ultrassom sugerem arterite de células gigantes → Diagnóstico de Arterite de Células Gigantes é estabelecido DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ Com outrasvasculites: • Arterite de Takayasu • Vasculite de vasos de pequeno e médio porte • Angiíte primária do sistema nervoso central ➢ Neuropatia isquêmica anterior não arterítica ➢ Infecções POLIARTERITE NODOSA INTRODUÇÃO ➢ É uma vasculite necrosante sistêmica ➢ Ocorre necrose fibrinoide ➢ A inflamação granulomatosa não ocorre e sua presença sugere outros diagnósticos ➢ Vasos afetados → vasos de médio calibre (especialmente artérias viscerais, cutâneas e de nervos periféricos) • Arteríolas, capilares e vênulas são poupados • Não envolve veias ▪ Ex: Capilarite Pulmonar → sugere vasculite de pequenos vasos e não Poliarterite nodosa ➢ FORMAS CLÍNICAS: • Idiopática → é a mais frequente • Infecções → Vírus da Hepatite B e Hepatite C ▪ Isso é questão de provas de residência → a clássica associação do vírus da hepatite B com a Poliarterite Nodosa • Associação com Neoplasias → Leucemia de Células Pilosas é a mais comum Cai muito em provas de residência - Qual a maior causa de febre de origem indeterminada em idoso? Deve-se pensar em arterite de células gigantes 12 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto • Outras ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É rara, tendo incidência entre 0 – 1,6 por milhão de habitantes (na Europa) • Prevalência → 31 casos por 1 milhão de habitantes • Homens são mais afetados que as mulheres (1,5:1) • Média de idade → 50 anos (com pico entre 50 – 60 anos de idade) • A incidência aumenta com a idade • Pode acometer crianças ➢ PATOGÊNESE: • Ainda não é bem estabelecida • Acredita-se que talvez haja deposição de imunocomplexos nas paredes dos vasos QUADRO CLÍNICO ➢ É oriundo de isquemia ou infarto dos tecidos (principalmente viscerais, cutâneos e neurológicos) ➢ O enfraquecimento da parede do vaso pode levar a aneurismas → Aneurisma Intravisceral (microaneurismas) é muito clássico de Poliarterite Nodosa ➢ SINTOMAS SISTÊMICOS (80% dos casos): • Febre • Mal-estar • Perda de peso ➢ NEUROPATIA (75%): • Mononeurite Múltipla • Polineuropatia ➢ ARTRALGIAS E/OU MIALGIAS (60%): • Dor articular e/ou difusa nas extremidades ➢ CUTÂNEO (50%) → focais ou difusas, ocorrendo principalmente em membros inferiores • Livedo reticular • Púrpuras palpáveis • Úlceras • Infarto e gangrena dos dedos • Edema de membros • Erupção bolhosa ou vesicular ➢ DOENÇA RENAL (50%): • Creatinina elevada • Hematúria • Glomerulonefrite • Graus variáveis de insuficiência renal e hipertensão • A ruptura de aneurismas arteriais renais pode causar hematomas perirrenais • Vasculite grave → infarto renal ➢ SINTOMAS GASTROINTESTINAIS (40%): • Náusea, vômito, melena, diarreia sanguinolenta ou não sanguinolenta e sangramento gastrointestinal com risco de vida • Dor abdominal (intermitente ou contínua e mais presente pós-prandial) → sintoma inicial da arterite mesentérica • Sangramento retal • Infarto intestinal com perfuração → na doença avançada • Atenção → perfurações durante a colonoscopia são mais frequentes em pacientes com Poliarterite Nodosa ➢ HIPERTENSÃO (35%) • Tem como mecanismo o envolvimento renal, levando à ativação do sistema renina-angiotensina ➢ MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS (25%): • Infiltrados • Nódulos • Cavitações ➢ DOENÇA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO (20%): • Acidente Vascular Encefálico (AVE) • Confusão mental • Mononeurite Múltipla ou Polineuropatia Assimétrica (70%) ➢ ORQUITE (20%) → acometimento de artéria testicular, de médio calibre • Dor e inchaço testicular • A biópsia testicular nesses pacientes pode ser frequentemente diagnóstica ➢ ENVOLVIMENTO CARDÍACO (10%): • Cardiomiopatia • Pericardite • Doença Arterial Coronariana • Infarto Agudo do Miocárdio → é incomum ➢ DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA (10%): • Claudicação • Isquemia • Necrose ➢ Tem tendência a poupar os pulmões! Úlceras em paciente com Poliarterite Nodosa Necrose de Dígitos em paciente com Poliarterite Nodosa Livedo Reticular em paciente com Poliarterite Nodosa Nódulos dolorosos - Acometem a pele e não são frequentes de ocorrer, mas são clássicos da doença 13 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto DIAGNÓSTICO ➢ Suspeita Clínica de Poliarterite Nodosa → presença de sintomas característicos, achados físicos e resultados de testes laboratoriais compatíveis ➢ HISTÓRIA: • Sempre perguntar sobre história de Hepatite Viral B ou C • Algumas drogas (incluindo ilícitas, como anfetaminas) podem causar vasculites • Diagnósticos Alternativos → manifestações clínicas semelhantes as da poliartrite nodosa podem ocorrer em: ▪ Doenças inflamatórias sistêmicas (LES, Artrite Reumatóide, Esclerose Sistêmica) ▪ Doenças infecciosas (Ex: Endocardite bacteriana, Hepatite Viral crônica) ▪ Distúrbios embólicos (Ex: aterosclerose e cateterismo arterial recente) ▪ Distúrbios tromboembólicos ➢ EXAME FÍSICO: • Para determinar a extensão das lesões vasculares, a distribuição dos órgãos afetados e a presença de processos patológicos adicionais • As manifestações cutâneas e a presença de evidências objetivas de fraqueza motora (por exemplo, queda do pé ou punho) ou perda sensorial devem ser investigadas • É necessário um exame vascular completo • Se não houver evidência de sangramento gastrointestinal evidente, um teste positivo para sangue oculto pode ser indicativo de vasculite mesentérica ➢ TESTES LABORATORIAIS: • Não há teste laboratorial diagnóstico para Poliarterite Nodosa • Os exames ajudam a determinar a extensão dos órgãos afetados e seu grau de envolvimento • Exames gerais: ▪ Creatinina sérica ▪ Concentração de Enzimas Musculares (Creatina Quinase - CK) ▪ Função hepática ▪ Sorologias para Hepatite B e C ▪ Urianálise ▪ VHS e PCR → encontram-se elevados ▪ Radiografia de Tórax → para excluir doenças, principalmente outras formas de vasculites com maior propensão a envolver os pulmões ▪ Eletrocardiograma → solicitar mesmo que o paciente não tenha sintomas cardíacos • Para diagnóstico diferencial (segundo diagnósticos alternativos considerados): ▪ ANCA → vasculites associadas ao ANCA ▪ FAN → na suspeita de doença autoimune subjacente (Ex: LES, Esclerose Sistêmica ou Síndrome de Sobreposição) ▪ Componentes do Complemento (C3 e C4) e Crioglobulinas → para Crioglobulinemia mista, pois ela foi associada a alguns casos de Poliarterite nodosa, principalmente no contexto de infecções por hepatite B ou C ▪ Teste para HIV ▪ Eletroforese de imunofixação de soro e urina para teste de gamopatia monoclonal ➢ BIÓPSIA (padrão-ouro): • O diagnóstico deve ser confirmado por Biópsia sempre que possível → nos casos em que a biópsia não é possível, a arteriografia às vezes revela microaneurismas de vasos sanguíneos nas circulações renal, hepática ou mesentérica • A biopsia em território acometido tem alto grau de positividade, e os locais preferenciais são o nervo sural, o músculo, o testículo e os rins • Achado → Vasculite necrosante em artérias de médio e pequeno calibre ➢ ANTERIOGRAFIA → pode ser usada para diagnóstico quando a biópsia não é possível • Detecta a presença de múltiplos microaneurismas e constrições irregulares nos vasos maiores com oclusão de artérias menores • Aneurismas no nível da bifurcação dos vasos intraparenquimatosos / sangramentos desses aneurismas também podem ser confirmados (mais frequente em rins, fígado e intestino) ➢ CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS: • Presença de pelo menos 3 dos seguintes: 1. Perda de peso inexplicável maior que 4 kg 2. Livedo reticular 3. Dor testicular ou sensibilidade 4. Mialgias (excluindo a cintura escapular e quadril), fraqueza dos músculos, sensibilidade dos músculos das pernas ou polineuropatia 5.Mononeuropatia ou polineuropatia 6. Pressão arterial diastólica de início recente superior a 100 mmHg 7. Creatinina ou Ureia elevadas 8. Sorologia para Hepatite B positiva 9. Anormalidades arteriográficas características não resultantes de processos de doença não inflamatória 10. Uma biópsia de artéria pequena ou média contendo células polimorfonucleares (infiltrado inflamatório) ▪ Sensibilidade = 82,2% e Especificidade = 86,6% Púrpura em paciente com Poliarterite Nodosa - É uma manifestação cutânea de vasculite de pequenos vasos, mas pode estar presente na Poliarterite Nodosa 14 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ Doenças infeciosas: • Endocardite infecciosa ou outra doença bacterêmica • Aneurisma micótico com embolização distal • Infecção pelo vírus da hepatite B ou C • Infecção pelo HIV ➢ Distúrbios que podem mimetizar vasculite de artérias de tamanho médio: • Aterosclerose • Doenças embólicas (por exemplo, mixoma atrial esquerdo, cristais de colesterol) • Distúrbios trombóticos (por exemplo, síndrome antifosfolipídica catastrófica) • Displasia fibromuscular • Ergotismo • Fibrose por radiação • Aracnidismo necrótico (picadas de aranha da espécie Loxosceles) • Papulose atrófica maligna (doença ou síndrome de Degos) • Mediólise arterial segmentar (SAM) • Outras causas de hipertensão maligna ➢ Vasculites sistêmicas: • Granulomatose com poliangiíte e poliangeíte microscópica ▪ Glomerulonefrite é mais típica de Poliangiíte microscópica do que de Poliarterite Nodosa • Granulomatose eosinofílica com poliangiite (Churg-Strauss) • Vasculite por IgA (púrpura de Henoch-Schönlein) • Vasculite crioglobulinêmica • Vasculite induzida por drogas • Vasculite secundária a doença do tecido conjuntivo (Ex: lúpuseritematoso sistêmico, artrite reumatóide) VASCULITES ASSOCIADAS AO ANCA INTRODUÇÃO ➢ Trata-se de um grupo de vasculites necrosantes sistêmicas que compartilham o acometimento inflamatório predominantemente dos vasos de pequeno calibre, a associação ao anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (ANCA) e a presença de pouco ou nenhum depósito imune na parede dos vasos ➢ É uma vasculite necrosante que não envolve substancialmente a deposição de imunocomplexos ➢ Vasos afetados → principalmente vasos de pequeno calibre ➢ Está associada a ANCA específico para Mieloperoxidase (MPO- ANCA) ou Proteinase 3 (PR3-ANCA) ➢ Pode ocorrer o acometimento de apenas um único órgão, principalmente o subgrupo conhecido como Vasculite renal limitada ➢ Podem ocorrer casos com ANCA negativo → casos em que o paciente preenche a definição dessas vasculites, mas apresenta resultados negativos no teste sorológico ANCA. Podem ocorrer nos seguintes casos: • Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte (principalmente) • Granulomatose com Poliangiíte ➢ Atenção → a Poliangiíte Microscópica e a Granulomatose com Poliangiíte apresentam manifestações marcadamente sobrepostas e pode ser extremamente difícil diferenciar entre essas duas doenças em um paciente • Há um reconhecimento frequente entre os estudos que o tipo ANCA (anti-MPO ou anti-PR3) tem mais significativo prognóstico e clínico do que o tipo de doença (Poliangiíte Microscópica ou Granulomatose com Poliangiíte) EPIDEMIOLOGIA ➢ Incidência → 1,2 – 2 casos por 100.000 pessoas por ano ➢ Prevalência → 4,6 – 18,4 casos por 100.000 pessoas ➢ É mais comum em homens do que em mulheres (1,5:1) ➢ Pico de incidência → entre 65 – 74 anos de idade ➢ Podem ocorrer em pacientes jovens ➢ Granulomatose com Poliangiíte → é a mais frequente ➢ Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte → é a mais rara FISIOPATOGÊNESE ➢ A etiologia não é totalmente estabelecida ➢ Ocorre interação entre fatores genéticos, ambientais, infecciosos e medicamentosos ➢ Infecções podem ser gatilhos → agentes infecciosos podem ser a fonte inicial de antígeno e de sinais pró-inflamatórios ➢ Medicações associadas: • Propiltiuracil • Hidralazina • D-penicilamina • Exposição à sílica ➢ FISIOPATOGÊNESE: • Inicialmente, um indivíduo predisposto com sistema imune com alterações é exposto ao ambiente. Essas interações levam à formação de ANCA. Existem anticorpos que são criados contra antígenos que vão para a Mieloperoxidase (MPO) e para a Proteinase 3 (PR3). Isso leva a repercussões inflamatórias e granulomatosas • Esses anticorpos servem tanto pra o diagnóstico quanto para avaliar a atividade de doença • O ANCA tem relação com a atividade de doença, apresentando títulos elevados quando a doença está ativa QUADRO CLÍNICO ➢ ACOMETIMENTO RENAL: • Síndrome Nefrítica → é a mais frequente ▪ É caracterizada por: ✓ Hematúria dismórfica glomerular ✓ Cilindros celulares hemáticos ou leucocitários ✓ Proteinúria subnefrótica ✓ Hipertensão arterial ✓ Oligúria • Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva • Nefrite tubulointersticial • Doença renal lentamente progressiva 15 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ➢ ACOMETIMENTO PULMONAR: • Capilarite Pulmonar → por acometimento de pequenos vasos pulmonares ▪ É menos frequente na Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte ▪ Leva a um quadro de hemorragia alveolar → assim, os pacientes tem um quadro que vai desde hemoptise até insuficiência respiratória aguda ➢ MANIFESTAÇÕES GRANULOMATOSAS → São manifestações da inflamação do vaso, o granuloma, e podem ser das vias aéreas superiores e inferiores GRANULOMATOSE COM POLIANGIÍTE (GPA) ➢ Vasos acometidos → envolve predominantemente vasos de pequeno e médio porte (capilares, vênulas, arteríolas, artérias e veias) ➢ Normalmente, produz inflamação granulomatosa das vias respiratórias superiores e inferiores, bem como glomerulonefrite necrosante pauci-imune ➢ ANCA → está presente em mais de 80% dos casos ➢ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Manifestações Granulomatosas predominantemente em vias aéreas superiores: ▪ Rinossinusite de repetição ▪ Ulceras orais e nasais ▪ Epistaxe, descarga nasal piossanguinolenta ou crostosa ▪ Perfuração do septo nasal → o acometimento inflamatório de cavidade nasal e seios paranasais pode levar à destruição das vias aéreas superiores em nível nasal ▪ Nariz em sela → devido a destruição ocasionada pelo processo granulomatoso crônico • Manifestações Granulomatosas predominantemente em vias aéreas inferiores: ▪ Estenose Subglótica ▪ Estenose Endotraqueal ▪ Traqueobroncomalácia ▪ Nódulos pulmonares (cavitários ou não) • Outros sintomas oriundos de infecção granulomatosa: ▪ Aparelho auditivo: ✓ Otite média aguda ou crônica ✓ Mastoidite ▪ Órbita: ✓ Orbitopatia inflamatória ✓ Alguns pacientes podem ter uma inflamação granulomatosa das estruturas ao redor do globo ocular que podem causar proptose ocular → Pseudotumor de órbita POLIANGIÍTE MICROSCÓPICA (PAM) ➢ Vasos afetados → principalmente capilares, vênulas e/ou arteríolas • Pode ocorrer o envolvimento de artérias de médio e pequeno porte ➢ A inflamação granulomatosa geralmente está ausente ➢ ANCA → está presente em mais de 90% dos casos ➢ Comumente se manifesta como Glomerulonefrite necrosante e/ou Capilarite Pulmonar ➢ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Não apresenta manifestações granulomatosas • Glomerulonefrite (100%) • Capilarite Pulmonar (55%) GRANULOMATOSE EOSINOFÍLICA COM POLIANGIÍTE (GEPA) ➢ É uma vasculite necrosante rica em eosinofilia ➢ Vasos afetados → vasos de pequeno a médio porte ➢ Os pacientes costumam tem Rinossinusite Crônica, Asma e Eosinofilia proeminente no sangue periférico ➢ ANCA → está presente em 40% dos casos, principalmente o ANCA anti-MPO Nódulos pulmonares Nódulo cavitado Pseudotumor de órbita - Não é uma manifestação exclusiva de Granulomatose com Poliangiíte16 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto • A presença do ANCA é mais frequente em pacientes com Glomerulonefrite ➢ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Manifestações Típicas (sintomas oriundos de eosinofilia): ▪ Asma → início na idade adulta ▪ Rinite alérgica ▪ Sinusite ▪ Pólipos nasais ▪ Eosinofilia é definida como → > 1500 células/µL ou > 10% da leucometria global • Mononeurite Múltipla e Neuropatia Periférica → são as manifestações neurológicas mais frequentes • Acometimento Miocárdico → Miocardite Eosinofílica • Mialgia • Alterações cutâneas PARA DIFERENCIAR AS VASCULITES ASSOCIADAS AO ANCA Manifestações clínicas GPA PAM GEPA Inflamação granulomatosa +++ - ++ Asma e eosinofilia - - +++ Envolvimento otorrinolaringológico +++ + ++ Nódulos e infiltrados pulmonares +++ - ++ Hemorragia alveolar ++ +++ + Glomerulonefrite +++ +++ ++ Neuropatia periférica ++ + +++ ➢ O que mais auxilia a diferenciar uma da outra são os anticorpos QUADRO CLÍNICO – outras manifestações que podem ocorrer ➢ Lesões associadas a vasculite de pequeno e médio calibre: • Lesões cutâneas: ▪ Púrpuras palpáveis ▪ Ulceras ▪ Isquemia digital • Esclerite e epsclerite (acometimento ocular) • Mononeurite múltipla ou polineuropatia periférica • Vasculite de artéria coronária, mesentérica ou de vasos do SNC ➢ Sintomas Constitucionais: • Febre • Perda ponderal ➢ Outros: • Artralgia ou artrite • Mialgia • Serosite DIAGNÓSTICO ➢ ALTERAÇÕES LABORATORIAIS: • Hemograma: ▪ Anemia ▪ Trombocitose • VHS e PCR → aumento • Urianálise → hematúria com dismorfismo eritrocitário ➢ AUTOANTICORPOS: • Auxilia no diagnóstico • Autoanticorpo negativo não afasta o diagnóstico • Na imunofluorescência não tem depósitos de imunocomplexos → é isso que a diferencia das vasculites associadas a imunocomplexos • ANCA positivo: ▪ Granulomatose com Poliangiíte (70 – 90%) → c- ANCA ▪ Poliangiíte Microscópica (70%) → p-ANCA ▪ Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte (40 – 50%) → p-ANCA • ELISA → além do ANCA, pode-se solicitar o anti-PR3 e/ou anti-MPO: ▪ p-ANCA → é um anticorpo associado ao anti-MPO ▪ c-ANCA → é um anticorpo associado ao anti-PR3 • Anticorpo antimembrana basal glomerular → quando se pede o ANCA, também se solicita o anticorpo presente na Doença de Goodpasture (Doença por anticorpo antimembrana basal glomerular), que também causa manifestações nefríticas. Assim, pede-se esse anticorpo para afastar essa doença, e não para diagnosticar vasculite associada ao ANCA ➢ BIÓPSIA (padrão-ouro): • Porém, não é fácil de ser realizada • Achado → vasculite neutrofílica de vasos de pequeno a médio calibre, com necrose fibrinoide • Granulomatose com Poliangiíte e Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte: ▪ Presença de inflamação granulomatosa e necrose, principalmente das vias aéreas • Biópsia do rim → o padrão clássico mostra uma glomerulonefrite necrosante segmentar e focal pauci- imune, associada ou não à presença de crescentes VASCULITE CRIOGLOBULINÊMICA INTRODUÇÃO ➢ Vasos afetados → vasos de pequeno calibre ➢ Caracteriza-se pela presença de Crioglobulinas, que são proteínas séricas que precipitam no frio e se dissolvem com o reaquecimento. Assim, esse imunocomplexos de crioglobulina se depositam nas paredes dos capilares, vênulas ou arteríolas, resultando na inflamação de pequenos vasos IMPORTANTE Quando se tem uma Síndrome Pulmão-Rim, uma das hipóteses diagnósticas a ser considerada são as Vasculites associadas ao ANCA Outras doenças também podem causar Síndrome Pulmão-Rim: - Lúpus Eritematoso Sistêmico - Leptospirose 17 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ➢ Na maioria das vezes se deve à infecção pelo vírus da Hepatite C → muito comum de cair em provas de residência ➢ Pele, glomérulos e nervos periféricos estão frequentemente envolvidos ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Prevalência: ▪ 1 caso a cada 100.000 habitantes ▪ Mais comum em mulheres do que em homens (3:1) ➢ Crioglobulinas: • São imunoglobulinas que se precipitam em temperaturas abaixo de 37°C e voltam a se solubilizar quando reaquecidas • A vasculite Crioglobulinêmica está presente em 2 – 50% dos pacientes com Crioglobulinas → assim, um dos exames para avaliar a presença de Vasculite Crioglobulinêmica é a dosagem de Crioglobulinas • As crioglobulinas são classificadas em três tipos: ▪ Tipo I → monoclonais, associadas a doenças linfoproliferativas ▪ Tipo II e III→ apresentam componentes policlonais (mista) • Formas de como uma crioglobulina pode causar dano vascular: ▪ Vasculite por deposição de imunocomplexos → essa deposição é mediada pelas crioglobulinas ▪ Precipitação da crioglobulina na microcirculação → causando oclusão vascular QUADRO CLÍNICO ➢ VASCULITE CUTÂNEA → manifestação mais frequente ➢ ARTICULAR → é o segundo envolvimento mais frequente • Artralgia de grandes articulações (membros inferiores, principalmente tornozelo) • Quadro semelhante à Artrite Reumatóide pode acontecer ➢ ENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO (50% dos casos): • Sistema nervoso periférico: ▪ Polineuropatia ▪ Mononeurite múltipla → mão caída ou pé caído ✓ Lembrete → hanseníase pode causar mononeurite • Acometimento do SNC é raro ➢ MANIFESTAÇÕES RENAIS: • Glomerulonefrite membranoproliferativa ➢ MANIFESTAÇÕES PULMONARES (5%) → são raras ➢ MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS → são raras DIAGNÓSTICO ➢ O diagnóstico é feito com a associação de achados clínicos, laboratoriais e histopatológicos • Mais clássico → vasculite cutânea, artralgia, acometimento neurológico em 50% dos pacientes ➢ EXAMES COMPLEMENTARES: • Identificação e quantificação das Crioglobulinas ▪ Devido a precipitação em ambientes com menos de 37°C, quando se colhe o exame das Crioglobulinas o tubo de ensaio deve estar aquecido, caso contrário elas se precipitam antes da realização do exame e podem dar resultados falso-negativos • Sorologia para Hepatite C • Dosagem de enzimas hepáticas → quando alteradas podem sugerir infecção por hepatite C • Pesquisa de Fator Reumatóide • Dosagem de complemento sérico → consumo de C4 • Investigação de envolvimento orgânico: ▪ Sumário de Urina (EAS) → suspeita de acometimento renal ▪ Imagem de tórax → quando se suspeita de acometimento pulmonar ▪ Eletroneuromiografia → para identificar Mononeurite SÍNDROME DE BEHÇET INTRODUÇÃO ➢ Vasos afetados → é uma vasculite de vasos variáveis, assim ela pode afetar artérias ou veias de qualquer tamanho Púrpuras Úlceras Necrose de Dígitos 18 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto ➢ É uma doença multissistêmica causada pela combinação de ulcerações aftosas orais e genitais, associada a fenômenos vasculíticos, com acometimento de vasos de calibres variáveis (pequenos, médios e grandes) em territórios arteriais e venosos ➢ É caracterizada por úlceras aftosas orais e/ou genitais recorrentes ➢ Ao contrário das demais vasculites, ela pode afetar também as veias ➢ Também pode haver envolvimento cutâneo, ocular, articular, gastrointestinal e/ou do sistema nervoso central ➢ Trombose e aneurismas arteriais também podem ocorrer ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Inicio dos sintomas → final da puberdade até os 40 anos de idade • Tem distribuição igual entre os gêneros • A doença é mais grave nos homens • Prevalência: ▪ 1 caso a cada 500.000 habitantes por ano (EUA) ▪ 80 – 370 casos por 100.000 habitantes por ano (geral) ➢ PATOGÊNESE: • Há uma suscetibilidade genética → poligênica ▪ HLA-B51 está associado a essa suscetibilidade ▪ Variações genéticas não-HLA: ✓ Defeitos na detecção e processamento de padrões moleculares associados a patógenos ou danos, influenciando na regulação das respostas imunes inata e adaptativa QUADRO CLÍNICO➢ MANIFESTAÇÕES CUTANEOMUCOSAS: • Úlceras aftosas: ▪ Caráter bipolar (oral e genital) ▪ São recidivantes → os surtos apresentam duração de 2 – 6 semanas ▪ Podem atingir toda a orofaringe ▪ São lesões que apresentam forma elíptica, maiores que 0,5cm, com bordos eritematosos bem delimitados, escavadas e com fundo amarelo fibrino-seroso • Pseudofoliculite → lesões que lembram acne • Eritema Nodoso ➢ MANIFESTAÇÕES OFTALMOLÓGICAS: • Uveíte → é a mais frequente, ocorrendo em 50 – 70% dos casos ▪ Pode haver acometimento anterior e posterior → assim, os pacientes podem ter um quadro de Pan- uveíte ▪ Lembrete → Behçet e espondiloartrites podem causar uveíte ➢ ARTRITE (40 – 80%): • Lembra muito o acometimento das espondiloartrites → com padrão Oligoarticular, com acometimento de membros inferiores assimétrico ➢ MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS: • Podem ser parenquimatosas ou não parenquimatosas • Meningoencefalite asséptica • Vasculite de substância branca • Acidente vascular encefálico (AVE) • Trombose venosa central: ▪ Os eventos trombóticos são bastante importantes no Behçet, pois alguns pacientes precisarão de terapia anticoagulante associada a terapia imunossupressora • Aneurismas ➢ DE ACORDO COM O VASO AFETADO: • Veias: ▪ Tromboses são os principais acometimentos • Artérias: ▪ Envolvimento de artéria pulmonar ▪ Pseudoaneurisma DIAGNÓSTICO ➢ Presença de úlceras orais recorrentes associadas a 2 dos seguintes: • Ulceras genitais recorrentes Úlceras Aftosas orais Úlceras Aftosas genitais Pseudofoliculite 19 VASCULITES SISTÊMICAS PRIMÁRIAS Gizelle Felinto • Lesões oculares • Lesões de pele • Teste de Patergia → quando se suspeita de doença de Behçet pede-se esse teste, pois ele é positivo na presença da doença ▪ Como é feito → faz-se furos na pele com uma agulha e se o paciente tem doença de Behçet há a formação de micropápulas ➢ Alguns critérios não adicionam o teste de patergia, pois ele é muito dependente da experiência do examinador TRATAMENTO DAS VASCULITES CARACTERÍSTICAS ➢ Considerações sobre o Tratamento: • O tratamento é baseado no diagnóstico específico de vasculite e na gravidade ou extensão da doença ▪ O tamanho do vaso acometido não determina quais medicamentos ou regime de tratamento são geralmente mais eficazes, ou que tipo de monitoramento é necessário • O tratamento tem como etapas: 1. Indução da remissão da doença 2. Manutenção da remissão da doença • Manejo inicial: ▪ Médias a altas doses de Glicocorticoides ▪ Agente imunossupressor adicional → associa-se aos glicocorticoides em algumas formas de vasculite • Durante e após o tratamento os pacientes necessitam de: ▪ Monitoramento para a atividade da doença e toxicidade do medicamento durante a fase de tratamento ativo ▪ Monitoramento para doença recorrente após alcançar o controle da atividade da doença e até mesmo a remissão sem medicamento ▪ Monitoramento prolongado de sinais, sintomas e achados laboratoriais que caracterizam a doença ativa em pacientes com determinado diagnóstico é necessário para o reconhecimento imediato de recidiva e para avaliar se uma mudança nos achados resulta da doença, dos medicamentos ou das cicatrizes • Testes laboratoriais que ajudam a monitorar a atividade da doença na vasculite: ▪ Testes para identificar alterações na função do órgão acometido (Ex: função renal, função hepática...) ▪ Exames de imagem → podem ser úteis para monitorar o envolvimento de grandes vasos em pacientes selecionados ▪ ANCA não é útil para monitorar a atividade de doença ▪ Biópsias repetidas geralmente são evitadas (a menos que os sintomas do paciente mudem drasticamente para pior ou haja suspeita de uma nova doença) ➢ De uma forma geral, o tratamento é de acordo com as manifestações e associado a Imunossupressores, pois são patologias inflamatórias ➢ Deve-se tratar as infecções por hepatite B e C quando presentes ➢ Não se dá imunossupressor ao paciente sem antes tratar a infecção viral (hepatite B e C) IMUNOSSUPRESSORES CORTICOSTEROIDES METOTREXATO AZATIOPRINA MICOFENOLATO DE MOFETILA LEFLUNOMIDA TOCILIZUMABE → para tratamento da Arterite de Células Gigantes, pois é um bloqueador de IL-6 (aprovado em bula!) ANTI-TNFs RITUXIMABE → como depleta linfócitos B CD20+, que é a célula formadora de autoanticorpo, ele tem boa resposta nas Vasculites associadas ao ANCA CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS VASCULITES ➢ ATENÇÃO → DEVE-SE TRATAR DOENÇAS ASSOCIADAS! Como: • Hepatite B • Hepatite C • Neoplasias... ➢ Atentar para o diagnóstico diferencial de vasculites → existem doenças que simulam vasculites, como a Leptospirose, que causa a síndrome pulmão-rim ➢ Exames auxiliares no diagnóstico: • PCR • VHS • Contagem de plaquetas • FAN → ajuda a diferenciar se a vasculite é associada ao ANCA ou é autoimune (Ex: Lúpus Eritematoso Sistêmico) • Sumário de urina • Sorologias para hepatite B e C • Sorologia para Sífilis → pois sífilis pode causar manifestações vasculíticas, como aortite sifilítica e nariz em sela ➢ Atentar para outras condições que levam a manifestações vasculíticas ➢ Avaliação de extensão da doença → avaliar se há acometimento de órgãos e manifestações de outra doença causada pela vasculite, como Hipertensão ➢ Atividade de doença x Dano permanente: • Dano permanente não necessariamente significa doença em atividade → Ex: paciente que mesmo com o tratamento apresenta pulsos periféricos ausentes, mesmo não havendo mais doença ativa ➢ Sempre deve-se considerar e avaliar: • Toxicidade da terapia • Desenvolvimento de comorbidades • Atividade da doença ➢ ATENÇÃO → existem doenças que podem causar púrpura e que não são vasculites, como a Dengue e as trombocitopenias (assim, deve-se avaliar as plaquetas do paciente, pois plaquetas baixas podem causar púrpura) ➢ Deve-se sempre afastar outras possíveis causas antes de se estabelecer o diagnóstico de vasculite
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