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1 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI IC DESCOMPENSADA CONCEITO: Síndrome clínica na qual uma alteração estrutural ou funcional do coração leva à incapacidade de ejetar e/ou acomodar sangue dentro de valores pressóricos normais (fisiológicos), causando limitação funcional e necessitando de intervenção terapêutica rápida. Seus sinais e sintomas estão diretamente relacionados com a função cardíaca alterada, que pode estar relacionada a disfunções sistólicas ou diastólicas, anormalidades no ritmo cardíaco ou alterações nas pré e pós-cargas. POSSUI RISCO IMINENTE DE MORTE e necessita de estabelecimento do tratamento urgente. Resumindo... A IC descompensada é um conjunto de sinais e sintomas de agravamento de uma IC antiga ou nova. Resultante da falência ventricular e de suas repercussões hemodinâmicas, estando associada à ativação neuro-hormonal e ao surgimento dos sintomas de congestão ou de diminuição do débito cardíaco (DC). EPIDEMIOLOGIA Apresenta incidência e prevalência elevadas em todo o mundo. Estima-se que 1 a 2% da população de países desenvolvidos apresente IC, havendo elevação dessa prevalência para 10% na população acima de 70 anos; Cerca de 70% dos pacientes são internados por piora da IC crônica, 15 a 20% por um quadro inicial de IC, enquanto os outros são admitidos por IC avançada ou em uma fase terminal refratária ao tratamento. A miocardiopatia isquêmica é considerada a causa mais frequente de IC, entretanto, no Brasil, as miocardiopatias hipertensivas, chagásica e valvar apresentam papel importante, inclusive em relação às internações por descompensação. ETIOLOGIA: Aumento da demanda metabólica tecidual: infecções, anemia, estresse, gestação, descompensação de doença pulmonar obstrutiva crônica ou diabetes, disfunção tireoidiana, distúrbios hidroeletrolíticos, sepse. Aumento excessivo da pré-carga: abuso de sal e água, drogas retentoras de líquido. Aumento da pós-carga: HAS descompensada (estenose da artéria renal bilateral). Diminuição da capacidade contrátil do coração: (IAM, isquemia, drogas). Diminuição do tempo diastólico para o enchimento ventricular: (taquiarritmias). Diminuição diretamente do DC: (bradiarritmias). Obs: A principal causa de ICD é a diminuição da contratilidade miocárdica, geralmente ocasionadas por cardiomiopatias isquêmicas, hipertensivas ou dilatadas. Sobrecargas hemodinâmicas de pressão ou volume, distúrbios da frequência cardíaca (taquicardia ou bradicardia) e do enchimento ventricular, também levam a um quadro de ICD. Pode haver descompensação também infecção, distúrbios de ritmo, HAS descompensada, não adesão ao tratamento e dieta. OUTROS FATORES DE DESCOMPENSAÇÃO: AINEs: não seletivos e seletivos promovem a retenção hidrossalina e elevação da pressão arterial. Tabagismo: aumenta o risco de doenças coronarianas e infecções pulmonares. 2 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI FISIOPATOLOGIA: Recordando a fisiopatologia da IC... FASE INICIAL: Vai ocorrer a diminuição da função miocárdica e mecanismos adaptativos serão ativados para corrigir a disfunção ventricular, dentre eles: o sistema renina-angiotensina-aldosterona, hiperativação do SNAs e aumento da secreção de ADH (aldosterona). A adaptação entre o tempo transcorrido com o fator agressor até a descompensação cardíaca, ocasiona em uma dilatação cardíaca (remodelação ventricular). Vai ocorrer estimulação simpática e neuro- humoral com efeito vasodilatador (ativação do fator atrial natriurético, que induz a vasodilatação arterial e consequente melhora a função cardíaca). FASE AVANÇADA: Maior estimulação neuro-humoral com predomínio dos neuro-hormônios com efeito vasoconstritor, que induzem o aumento da resistência periférica e a piora da função cardíaca, levando o coração a um círculo vicioso de agravamento progressivo. A ativação do SNAs provoca aumento da resistência vascular periférica (RVP) e do gasto energético das fibras miocárdicas (ao promover um aumento da força de contração do coração e da FC). Isso, juntamente com os outros mecanismos adaptativos (SRAA e peptídeos vasomotores) e fatores inflamatórios, aumentam o estresse oxidativo e levam à perda progressiva da eficiência mecânica da bomba. Esse conjunto de fatores leva à exacerbação dos mecanismos de pré e/ou pós carga. Outro fator importante, presente na ICD, é a elevação de citocinas (TNF, IL-6 e endotelinas) – responsáveis pela caqueixa nos pacientes graves com ICD. CLASSIFICAÇÃO: IC AGUDA ‘’NOVA’’ (sem diagnóstico prévio): Síndrome clínica de IC que ocorre em pacientes sem sinais e sintomas prévios de IC, desencadeada por situações clínicas como IAM, crise hipertensiva, rotura de cordoalha mitral. Nesse contexto, existe, habitualmente, congestão pulmonar, sem congestão sistêmica, e a volemia é geralmente normal, não sendo indicado o uso de altas doses de diuréticos, mas sim o tratamento da causa primária da descompensação (vasodilatador na crise hipertensiva, abertura da artéria na síndrome coronariana aguda (SCA) e correção da insuficiência mitral na rotura de cordoalha). IC CRÔNICA DESCOMPENSADA (exarcebação aguda de quadro crônico): Situação clínica em que ocorre exacerbação aguda ou gradual de sinais e sintomas de IC em repouso, em pacientes com diagnóstico prévio de IC, exigindo terapia adicional e imediata. Quando um paciente previamente compensado, isto é, sem dispneia em repouso ou aos mínimos esforços, se apresenta com uma piora aguda do quadro clínico, na maioria das vezes há um fator causando esta descompensação. Tem como causa mais comum a baixa aderência ao tratamento (restrição hidrossalina e uso inadequado das medicações). Entre outras causas, destacam-se: infecção, embolia pulmonar, uso de medicações como anti-inflamatórios, taqui ou bradiarritmias. Está habitualmente relacionada à congestão pulmonar e/ou sistêmica, com hipervolemia evidente. Além de se buscar a causa de descompensação, o manejo volêmico com diuréticos é fundamental. 3 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: PACIENTES CONGESTOS (ÚMIDOS): estase jugular, refluxo hepatojugular, ascite, derrame pleural, ortopneia, estertores, edema de MMII e presença de B3. PACIENTES MAL PERFUNDIDOS (FRIOS): tempo de enchimento lentificado, extremidades frias, oligúria, confusão mental, pulsos finos, hipotensão e menor PA proporcional ao pulso. CHOQUE CARDIOGÊNICO: pressão sistólica < 90 mmHg, fadiga, alteração no estado mental, sinais de hipoperfusão, pode ter taquipneia, taquicardia, e extremidades frias/cianóticas com comprometimento da perfusão. Pode haver pressão de pulso diminuída e também pulsus alternans (pulso forte/normal alternando com pulso fraco durante ritmo sinusal normal) - sinal raro e indicativo de disfunção grave do VE. Alguns pacientes podem apresentar choque oculto e para identifica-los, sugere-se a verificação do nível de lactato em pacientes com fraqueza acentuada e/ou perfusão incerta. CLASSIFICAÇÃO DO PACIENTE: A: Quente e seco – compensado! B: Quente e úmido - + frequente; C: Frio e úmido – pior prognóstico; D: Frio e seco – pouco frequente; DIAGNÓSTICO: ABORDAGEM INICIAL: A suspeita diagnóstica se faz através do reconhecimento da presença de sinais e sintomas de congestão pulmonar ou sistêmica, história pregressa de IC ou de internação por ICC, caracterizando IC crônica agudizada (pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada isquêmica, cardiomiopatia hipertensiva). Cerca de 50 a 60% dos pacientes apresentam IC com fração de ejeção reduzida (ICFER), enquanto outros com fração de ejeção de preservada(ICFEP). Exames laboratoriais: Hemograma, ureia, creatinina, glicemia, eletrólitos e urina I – definição de comorbidades, causa de descompensação, prognóstico e tratamento. Marcadores de necrose miocárdica (troponina) – suspeita de SCA. Gasometria arterial, venosa central, lactato, integridade e função hepática – pacientes mais graves. Perfil tireoidiano e sorologia para Chagas – podem ser considerados. Biomarcadores: Peptídeos natriuréticos, BNP, e NT-proBNP. Exames complementares: ECG (elucida a etiologia e avalia ritmo), raio-X do tórax (Identificação de cardiomegalia, congestão pulmonar e derrames pleurais, além de afastar a possibilidade de doenças como infecções respiratórias ou processos tumorais), ecocardiograma (definir a etiologia da ICAD, o grau de disfunção ventricular e a presença de alterações do fluxo sanguíneo intracavitário e de trombos além das doenças valvares). FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO (ENTRE 60-120 MINUTOS): História + exame clínico + Framingham e raio X de tórax ➔ realizar BNP ➔ se > 100 ou NT-proBNP > 300 ➔ US de tórax e ecocardiograma ➔ IC aguda nova ou crônica agudizada ➔ ICFEp ou ICFERr ➔ analisar fator causal/descompensador ➔ analisar presença de comorbidade descompensada ➔ classificar perfil clínico – hemodinâmico. TRATAMENTO: PRECIPITANTES DE ALTO RISCO: o acrónimo "CHAMP" foi introduzido para facilitar a memorização de precipitantes que necessitam ser 4 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI considerados e tratados ou corrigidos imediatamente: C: coronária (síndrome coronariana aguda). H: hipertensão, sobretudo o EPAC. A: arritmias, tanto taquiarritmias com alta resposta ventricular, como bradicardia grave. M: mecânicas. P: pulmonary embolism (embolia pulmonar), especialmente em pacientes que se apresentam com hipotensão. Seguir ABCDEFGH: A: admissão do paciente com estabilidade hemodinâmica; Ex: perfil do paciente em relação a congestão e má perfusão. B: boa oxigenação e ventilação com cateter, máscara, CPAP; C: circulação/volemia; Ex: em casos de dúvida em relação ao grau de perfusão do paciente, ou em real baixa perfusão, a infusão de 250 mL de soro fisiológico 0,9% se faz necessária. D: uso ou não diuréticos; Ex: Diuréticos de alça (furosemida) são os medicamentos de primeira escolha, em decorrência do seu efeito venodilatador. Diminuem a pré-carga e promove grande eliminação de água. Dose recomendada 1 mg/kg. Os tiazídicos agem na bomba de Na+/Cl- no túbulo contorcido distal, e na ICD, ajudam no controle da HAS e são potencializadores dos diuréticos de alça. Possuem efeitos colaterais dentre eles: hiponatremia (principalmente em idosos), aumento da resistência à glicose e aumento nos níveis séricos de triglicerídeos e ácido úrico. A espironolactona são diuréticos poupadores de potássio e antagoniza o efito mineralocorticoide da aldosterona, Promove redução de 30% de morte por internação nos pacientes com ICD. E: ECG para diagnosticar SCA; F: frequência cardíaca – controlar bradi/taquicardia; G: garantir a não suspensão de drogas (apenas se necessário); Ex: só suspender o uso de betabloqueadores em caso de instabilidade hemodinâmica grave, bloqueios atrioventriculares avançados ou efeito colateral relacionado ao medicamento. H: heparina – profilaxia de TVP/TEP. Ex: evitam a trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP), uma vez que as mesmas contribuem para aumentar a morbidade e a mortalidade dos pacientes com ICD. INTRODUÇÃO A MEDICAÇÃO: CONFIRMOU IC? PROCUROU FATOR CAUSAL + DESENCADEANTE? SE PAS > 110 mmHg: QUENTE-SECO (A): IECA/BRA, BB, suspender diurético. Garantir que há terapia otimizada. QUENTE-ÚMIDO (B): vasodilatador, furosemida, BB e IECA/BRA. SE PAS ENTRE 85-110 mmHg: QUENTE-ÚMIDO (B): vasodilatador, furosemida, BB e IECA/BRA. FRIO-ÚMIDO (C): avaliar volemia, vasodilatador, inotrópicos, furosemida, redução de BB e IECA/BRA suspensos. 5 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI SE PAS < 85 mmHg: FRIO-ÚMIDO (C): avaliar volemia, vasoconstritor, inotrópicos, furosemida, suspensão de BB e de IECA/BRA. FRIO-SECO (L): reposição de volume, suspensão de IECA/BRA e BB. Tratar causas reversíveis e avaliar e tratar isquemia. ATENÇÃO! Se a PA tiver baixa não usa vasodilatador. Vasodilatador: nitroglicerina (vasodilatação arterial), nitroprussiato (vasodilatador arterial e venoso), morfina (diminui a pré-carga e a pós-carga). Inotrópicos: dobutamina (agonistas beta- adrenérgicos), milrinona (inibidores da fosfodiesterase), levosimendana (sensibilizadores da troponina C aos íons Ca2+). COMPLICAÇÕES: EDEMA AGUDO DE PULMÃO Manifestações clínicas: Taquidispneia e ortopneia Secreção rósea e fluída Estertores crepitantes e subcrepitantes Sibilos e roncos difusos Diaforese Pulsos finos Taquicardia Diagnóstico: Dosagem de peptídeo natriurético cerebral (BNP): nível de BNP < 100 pg/mL indica IC improvável. BNP > 500 pg/mL indica provável IC. Eletrocardiograma: sobrecarga ventricular esquerda, sobrecarga de átrio esquerdo, isquemia ou IAM, arritmias. Raio-X de tórax: silhueta cardíaca aumentada, presença de linhas B de Kerley (linhas paralelas s ao diafragma, visualizadas nas regiões laterais dos hemitórax inferiores, na incidência PA. Representam o ingurgitamento linfático, relacionado ao edema pulmonar). Mostra, ainda, dilatação vascular nos ápices e infiltrado bilateral em “asa de borboleta” ou “de morcego”. Tratamento: Monitorização + oxigênio + acesso venoso + coleta de exames + ECG + RX de tórax no leito > Nitroglicerina + Furosemida + Morfina + Vasodilatadores. A. Suporte de oxigênio, monitorização, acesso venoso periférico e elevação da cabeceira; B. Ventilação não invasiva (VNI) - CPAP/BiPAP. Ajuste inicial da VNI: • CPAP: 5-10 mmHg; • BiPAP: ePAP=5-10 mmHg e iPAP até 15 mmHg. Contra-indicações: Parada respiratória franca ou iminente; Instabilidade hemodinâmica; Rebaixamento do nível de consciência (exceto se secundária à retenção de CO2); Não colaboração com VNI; Obstrução fixa de via aérea/trauma de face recente; Inabilidade de proteção à via aérea; Excesso de secreção em via aérea. Reavaliar sucesso da VNI entre 30-120 min (reavaliação clínica e gasométrica) C. Ventilação invasiva: Indicado na falha ou contra-indicação à VNI; Ajuste inicial do respirador: - Modo: pressão ou volume; - PEEP em geral ≥ 8 mmHg (atenção à auto-PEEP); - VC = 5-6 ml/kg de peso ideal; - FiO2 ajustada para manter SatO2 entre 94-96%. D. Tratamento farmacológico: Furosemida EV: 0,5-1mg/kg; Vasodilatadores EV: -Nitroglicerina: 5 – 200 ug/min - Diluir em SF; - Droga de escolha na suspeita de SCA. -Nitroprussiato: 0,5 – 10,0 ug/kg/min - Diluir em SG5% com frasco e equipo protegido da luz; Melhor opção no EAP hipertensivo. 6 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI -Morfina EV: 1-3 mg - Ação: reduzir a pré-carga e efeito ansiolítico; - Não é necessário usar em todos os casos. E. Tratar a causa de base conforme protocolo específico: - Causas comuns: Síndrome coronariana aguda, emergência hipertensiva, miocardiopatias, valvopatias, doença renal crônica avançada, estenose de artérias renais, arritmias. → EAP HIPERTENSIVO (PA ≥ 90): OVM (oxigênio, veia e monitor) + ECG + nitroglicerina ou captopril ou nitroprussiato de sódio + morfina + furosemida. → EAP NÃO HIPERTENSIVO (PA < 90): OVM + ECG + dobutamina + furosemida. Caso não melhore... IOT + ventilação mecânica + verificar e tratar a causa. CHOQUE CARDIOGÊNICO Diagnóstico: clínico + monitorizaçãohemodinâmica. Pressão arterial sistólica inferior a 90 mmHg por, no mínimo, 30 minutos, não respondendo à administração de fluídos. Aumento da pressão de oclusão da artéria pulmonar, com valor maior que 18 mmHg. Índice cardíaco menor que 2,2L/min/m². Diferença arteriovenosa de oxigênio maior que 5,5 mL/dL. Exames complementares: Ecocardiograma, ECG, raio-X, dosagem de enzimas cardíacas. Exames laboratoriais: lactato, gasometria, ureia, creatinina, TGO, TGP, etc) – definição de disfunções orgânicas. Tratamento: Acesso central Correção da hipotensão (noradrenalina ou dobutamina) Monitorização da pressão, gasometria e lactato Sonda vesical (monitoramento do débito urinário) O2 + ventilação Restabelecimento da volemia com diuréticos ou expansão volêmica (a depender do caso) Tratamento de arritmias Correção de distúrbios acidobásicos e eletrolíticos e anemia Tratamento da dor REFERÊNCIAS: Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Tratado de Cardiologia – SOCESP, 3ª edição. Emergências Clínicas: Abordagem Prática- 13ª ed. USP, 2019. ZANCANER, Leonardo F.; CATTO, Luiz Fernando B. Edema Agudo de Pulmão na Sala de Urgência. Revista Qualidade HC. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. 2018.
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