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ESTUDO DO BRINCAR O QUE É BRINCAR? DEFINIÇÕES, PERSPECTIVAS E CARACTERÍSTICAS Izabela Alcici Magalhães Curso de Graduação em Terapia Ocupacional (UFMG) – 3° período ESTUDO DO BRINCAR O QUE É BRINCAR? Até por definições mais leigas o brincar é visto como uma atividade da infância. Exemplo: Dicionário Aurélio – Brincar: v.int. 1. Divertir-se infantilmente; 2. Divertir-se; 3. Dizer ou fazer algo por brincadeira; gracejar; 4. Divertir-se participando em folguedos carnavalescos. O brincar vem sendo caracterizado e estudo antes de Cristo: “A recreação é descanso do espírito.” (Aristóteles, 344 a,C.). *Observação: foi usado o termo recreação, mas é necessário lembrar que tudo que se trata de documentos antigos temos viés de tradução.* “O jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário. É do escritor, o poeta, sua prioridade.” (Montaigne, 1612). Já começa a se falar do brincar como um recurso/meio de desenvolvimento da pessoa. “O Jogo tem valor educativo, na medida em que alia o prazer à condição de uma livre aprovação e de uma submissão autônoma às regras (...) O valor do jogo tem implicações políticas e morais, indo bem além de simples distração (...) O jogo passa a ser associado à formação do ser humano em sua plenitude.” (Rousseau, 1761). O brincar serve para ensinar as crianças diversas coisas, isso ocorre devido a possibilidade tanto da criança realizar uma atividade para ela, quanto para aprender, por exemplo, a respeitar sua vez, a respeitar o espaço do outro. Então, o brincar vai ter implicações políticas e morais e não apenas para distração, de modo que aquele sujeito aprende e desenvolve habilidades sociais que implicarão na sua vida como um todo. “O jogo é desenvolvimento do ser humano. É simultaneamente signo, manifestação e tomada de posse por si da humanidade da criança.” (Kant, 1787). Brincar leva ao autoconhecimento, ao desenvolvimento da identidade, ao fortalecimento dos seus pontos fortes e habilidades que a criança possa ter dificuldade. PARA A TERAPIA OCUPACIONAL: “Atividade espontânea, intrinsecamente motivada, autorregulada e requer envolvimento pessoal da criança. Inclui exploração, mistério, tomada de decisão, realização, aumento da motivação e competência.” (Missiuna e Pollack, 1991). Ou seja, a criança brinca pois ela tem uma motivação interna, é algo inato dela buscar a brincadeira. Por exemplo, quando conhecemos uma criança a primeira vez, o primeiro costume dela é falar “Vamos brincar?”, então observa-se que esse é o jeito dela de interagir com o mundo e para conhecê-lo também. As autoras dizem que é uma atividade autorregulada porque a criança começa e para de brincar quando ela está com vontade (idealmente assim). “É no brincar e talvez apenas no brincar que a criança ou o adulto fluem sua liberdade de criação e podem utilizar sua personalidade integral e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu.” (D. W. Winnicott). O brincar é a única maneira que a pessoa tem para desenvolver suas habilidades, para aprender a usar a sua imaginação/criatividade e a partir desse momento descobrir melhor características sobre si mesmo, sua personalidade e individualidade. “Quando a criança não brinca nós temos um problema, assim como quando ela se recusa a comer ou dormir.” (Hartley e Goldenson, 1963). Qual a importância que essa ocupação ou papel ocupacional de brincante tem na vida da criança? Se a criança não brinca, isso serve de indicativo sobre um possível atraso no desenvolvimento de alguns transtornos do desenvolvimento. No autismo, por exemplo, é muito comum queixas da família dizendo “ele não sabe brincar”, isso acontece porque ao invés da criança pegar um carrinho e fazer o movimento do carrinho, ela coloca um carrinho do lado do outro de maneira enfileirada. Então, nessa situação, será que a criança está realmente brincando? O que essa maneira de brincar está nos indicando? É considerado indicativo de possível atraso não apenas o “não brincar”, mas também o brincar de maneiras que não são esperadas para a idade daquela criança ou para o contexto a qual essa se encontra. BRINCAR “O brincar é uma prática cultural na espécie humana. As crianças apropriam da sociedade desenvolvendo comportamentos necessários ao seu desenvolvimento posterior. Por meio do brincar, a criança vai conhecer, aprender e se constituir como um ser pertencente ao grupo, construir a identidade.” (Lima, 2007). Direito da criança – Declaração Universal dos Direitos da Criança (aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas em 1959 e fortalecida pela Convenção dos Direitos da Criança de 1989), artigo 7°, enfatiza que: “ Toda criança terá direito a brincar e a divertir-se, cabendo à sociedade e às autoridades públicas garantir a ela o exercício pleno desse direito.” A criança deve ter tempo, espaço e liberdade para brincar. Marco Legal da Primeira Infância (PL. 6.998/2013, sancionado em março/2016): prevê a importância do brincar e indica que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão organizar e estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e privado onde haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres e seguros em suas comunidades. PERSPECTIVAS SOBRE O BRINCAR O brincar pode ser analisado sob diferentes enfoques: I. Sociológico: a influência do contexto social em que os diferentes grupos de crianças brincam; II. Educacional: a contribuição do brincar para a educação, desenvolvimento e/ou aprendizagem da criança; III. Psicológico: o brincar como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos; na clínica ele é usado basicamente para a observação das diversas condutas e para a recuperação (ludoterapia). IV. Antropológico: a maneira como o brincar reflete em cada sociedade, os costumes e a história das diferentes culturas. V. Folclórico: o brincar como expressão da cultura infantil através das diversas gerações, bem como as tradições e os costumes nelas refletidos através dos tempos. (Friedmann, 2006). Terapêutico ocupacional: o brincar enquanto área de desempenho ocupacional da criança. Home Realce DEFINIÇÕES DO BRINCAR Brincar como predisposição: inata ao brincar; tendência que distingue de outros comportamentos, algo natural da criança. I.. Motivação intrínseca; II. Ênfase no meio e não no fim; III. Exploração do faz de conta; IV. Liberdade em relação as regras; V. Envolvimento ativo; VI. Comportamento centralizado no organismo (no que a criança sente) e não no objeto. Brincar como comportamento observável: - Observação livre do comportamento e desenvolvimento da criança; - Hierarquização do brincar (o que se espera, qual a sequência do brincar); - Permitiu desenvolver teorias do desenvolvimento da criança e protocolos de avaliação do brincar. Brincar definido pelo contexto: - Enfatiza a influência da cultura; - Estuda o repertório do brincar da criança e sua atividade de adaptação nas atividades do dia a dia. *Brincar como estratégia de intervenção da Terapia Ocupacional* CARACTERÍSTICAS COMUNS DE ATIVIDADES DEFINIDAS COMO BRINCAR: - Flexibilidade; - Espontaneidade; - Motivação intrínseca; - Uso não literal ou simbólico de objetos (faz de conta); - Engajamento voluntário; - Livre escolha; - Afeto positivo (diversão); - Falta de propósito ou objetivo funcional; - Muitas vezes se assemelha a comportamentos reais, mas não tem as consequências (exemplo, brincadeirade polícia e ladrão). (Kuhaneck, Spitzer & Miller, 2010).
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