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Educação Alimentar e Nutricional Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Fernanda Trigo Costa Prof.ª M.ª Amanda José Pereira do Nascimento Revisão Textual: Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista • Compreender que a EAN está sempre presente no trabalho do nutricionista e que ser educa- dor transcende à formação técnica; • Identificar a influência das práticas passadas na dinâmica atual e como as políticas públicas estão integradas na elaboração de programas de EAN. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • O Nutricionista como Educador; • Histórico da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no Brasil; • Marco de Referência de EAN para Políticas Públicas; • Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA); • Segurança Alimentar e Nutricional. UNIDADE Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista Introdução A atuação do nutricionista como educador é de extrema importância para o desen- volvimento de práticas alimentares saudáveis, consequentemente, a aplicação de políti- cas ligadas à promoção, prevenção, manutenção da saúde e principalmente ao Direito Humano à Alimentação Adequada. Iniciaremos os estudos nesta unidade abordando o conceito de educação e seus pilares, compreendendo as competências essenciais que um educador deve ter e, por fim, enten- der o perfil de educador que o nutricionista deve exercer em todas as áreas da nutrição. É importante destacar que para a formação do Nutricionista como educador é preci- so conhecer a história da Educação Alimentar e Nutricional no Brasil, incluindo o Marco de Referência de EAN para Políticas Públicas. Desejamos a todos e todas bons estudos!!!! O Nutricionista como Educador Educação A Educação é o processo que visa capacitar o indivíduo a agir conscientemente diante de situações novas de vida, com aproveitamento da experiência anterior, tendo em vista a integração, a continuidade e o progresso social, segundo a realidade de cada um, para serem atendidas as necessidades individuais e coletivas. (JOAQUIM, 2009, p.36). Segundo Costa (2015), a definição de educação específica de Paulo Freire é: educa- ção é o processo constante de criação do conhecimento e de busca da transformação- -reinvenção da realidade pela ação-reflexão humana. A educação ao longo da vida baseia se em quatro pilares (Quadro 1): aprender a co- nhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Quadro 1 – Os quatro pilares da educação Aprender a conhecer Combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. Aprender a fazer Adquirir não só uma qualificação profissional, mas, de uma ma- neira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente, na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, gra- ças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. 8 9 Aprender a conviver Desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das in- terdependências – realizar projetos comuns e preparar se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. Aprender a ser Para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de auto- nomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa fina- lidade, a educação deve levar em consideração todas as potencia- lidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar -se. Fonte: Adaptado de DELORS et al., 1996 Educador e Educando Existem dois principais atores para que o processo de educação aconteça: o educador e o educando. Educador é aquele que educa, e educando é aquele que está sendo educado. O educar não é caracterizado apenas na transmissão de informações, mas, princi- palmente, em transformar o conteúdo em mudança de comportamento. Esse processo envolve não só o educador, mas a troca entre ele e o educando (SANTOS; GOMES, 2014). A profissão do educador atua de forma direta na vida dos educandos, ou seja, indi- víduos que se encontram ainda em fase de formação. Assim, a ética destaca -se como matriz singular e pode nortear as exigências específicas para os profissionais dessa área, são elas (COSTA, 2001): • Coerência, enquanto simetria entre o dizer e o fazer, recordado que o fazer é sem- pre mais importante que o dizer; • Compromisso com o interesse superior do destinatário de suas ações, que é o educando. Sem isto, o papel do educador simplesmente se esvazia; • Afeto Pedagógico, como aceitação de nossos educandos como são, mas sem per- der de vista o que podem vir a ser, ou seja, o potencial de cada um; • Responsabilidade, que, para o educador, implica também em fundamentar seus atos nos fins sociais da educação, nas exigências do bem-comum e no respeito à condição peculiar de pessoas em desenvolvimento de seus educandos; • Bom Senso, enquanto capacidade de discernimento prático na interpretação do conjunto de acontecimentos reais que, no cotidiano da ação educativa, transcorrem ante seus olhos; • Atitude Crítica Permanente, a começar pela avaliação de seus próprios atos e do modo como eles se articulam na concatenação dos acontecimentos, principalmente no que diz respeito às repercussões de seu agir sobre o desenvolvimento pessoal e social de seus educandos; • Equilíbrio frente ao desafio de atuar junto dos educandos, dos seus familiares e das autoridades escolares em situações-limite, situações de ruptura com a normalidade. 9 UNIDADE Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista Teorias da Educação A teoria da educação estuda a educação como instrumento de equalização social e superação da marginalidade. A sociedade é concebida como harmoniosa. A marginali- dade é um fenômeno acidental que afeta individualmente um número maior ou menor de membros da sociedade (CAMILLO; MEDEIROS, 2018). As teorias da educação podem ser divididas em dois grupos: teorias não-críticas (Pedagogia Tradicional; Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista) e teorias críticas (Liber- tadora e Libertária). • Pedagogia tradicional: Nessa tendência pedagógica, as ações de ensino estão centradas na exposição dos conhecimentos pelo professor [...]. É visto como a auto- ridade máxima, um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e, portanto, o único responsável e condutor do processo educativo (PEREIRA, 2003); • Pedagogia nova: uma educação focada no estudante, em que o professor se trans- forma em mediador do conhecimento, facilitador da aprendizagem, fazendo com que o aluno encontre nas propostas didáticas temas que venham ao encontro de suas experiências de vida (MIZUKAMI, 2007); • Pedagogia tecnicista: se utiliza dos princípios de racionalidade, eficiência e pro- dutividade, sendo um ensino comportamentalista e social sofisticado para moldar os comportamentos sociais, tendo em vista que o homem é considerado um pro- duto do meio e, portanto, é passível de ser manipulado e controlado.” (KIRSCH; MIZUKAMI, 2014). A comunicação entre docente e discente era técnica, com o objetivo de garantir a eficácia da transmissão dos conteúdos (LUCKESI, 1994); • Pedagogia libertadora: sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papeis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as diferençasentre as classes sociais não são consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições (LIBÂNEO, 1990); • Pedagogia libertária: Procura a transformação da personalidade num sentido liber- tário e auto gestionário. Vivência grupal na forma de auto-gestão Os conteúdos, apesar de disponibilizados, não são exigidos pelos alunos (livres) e o professor é tido como um conselheiro à disposição do aluno, ou seja, um orientador (QUEIROZ; MOITA, 2007). O Nutricionista sendo um Educador em Saúde É importante destacar que o nutricionista é um profissional da área da saúde, formado com perfil generalista, humanista e crítico e tem como campo de atuação a educação nutricional (CFN, 1996; BRASIL, 2001). Em 2018, O Conselho Federal de Nutricionistas publicou a resolução CFN nº 600, que considerou para definir as áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas 10 11 (será abordado posteriormente nesta unidade) [...] trata da execução da prática de ações de Educação Alimentar e Nutricional e contempla a responsabilidade do nutricionista na aplicação destas ações enquanto recurso terapêutico em indivíduos ou grupos sadios ou com algum agravo ou doença. Resolução CFN nº 600, de 25 de Fevereiro de 2018, disponível em: https://bit.ly/3fgDst0 A educação nutricional se insere na educação em saúde, que tem por finalidade a formação de atitudes e práticas conducentes à saúde: não fumar, praticar esportes, apreciar a vida ao ar livre, andar a pé – são comportamentos incentivados pela educação em saúde. Estes exemplos de comportamentos bastam para mostrar que não são as condições econômicas favoráveis que vão, por si sós, determinar comportamentos saudáveis. A educação nutricional, por sua vez, incentiva o consumo de alimentos naturais, frutas, hortaliças e recomenda evitar as guloseimas, as gorduras saturadas e os alimentos artificiais. (MANÇO; COSTA , 2008 apud MOTTA; BOOG, 1984) Educação em saúde, fem. 1 – Processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática pela população e não à profissionalização ou à car- reira na saúde. 2 – Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas necessidades. Notas: i) A educação em saúde potencializa o exercício do controle social sobre as políticas e os serviços de saúde para que esses respondam às necessidades da população. ii) A educação em saúde deve contribuir para o incentivo à gestão social da saúde (BRASIL, 2009). Não se esqueça de que o Nutricionista, onde quer que atue, deverá sempre colocar em prática o seu perfil de educador. Histórico da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no Brasil A história da Educação Alimentar e Nutricional no Brasil e o seu estreito vínculo com as políticas de alimentação e nutrição em vigência têm sido abordados por diferentes autores (SANTOS, 2005). Abaixo destacamos os principais períodos e acontecimentos que compõem a história da Educação Alimentar e Nutricional no Brasil (BOOG, 1997; SANTOS, 2005; BRASIL, 2012). 11 UNIDADE Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista • 1930: São instituídas as leis trabalhistas, definida a cesta básica de referência e os estudos de Josué de Castro descortinam a situação de desigualdade e fome no país. Estratégias de Educação Alimentar e Nutricional que pretendia ensinar trabalhadores e suas famílias a se alimentarem corretamente, segundo um parâmetro descontextua- lizado e estritamente biológico, que atualmente teria uma conotação preconceituosa; • 1940: Período privilegiado para Educação Nutricional, no qual era vista como um dos pilares dos programas governamentais de proteção ao trabalhador. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o direito humano à alimentação adequa- da está contemplado no artigo 25; • 1950: A soja, à época, era um produto de exportação e as campanhas de Educa- ção Nutricional objetivam à introdução desse alimento na alimentação, privilegiava- -se o interesse econômico, em detrimento ao feijão, preferência nacional; • 1960: As publicações no Brasil sobre o assunto ficaram restritas a materiais de divulgação como folhetos ou livretos destinados ao público. Em 1964, o interesse da indústria de alimentos era nas pesquisas de tecnologia e produção de “novos ali- mentos”, com o objetivo de adquiri-los para distribuir nos programas de suplemen- tação alimentar. Nesse contexto, a Educação Nutricional começava a ser relegada a segundo plano; • 1970: A realização do Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), no ano de 1974, mostrou que o principal obstáculo à alimentação adequada era a renda, o binômio alimentação-educação cedeu espaço para o binômio alimentação-renda, considerando a renda como fundamental empecilho para alimentação adequada. A Educação nutricional foi direcionada para aproveitamento de alimentos; • 1980: Educação nutricional crítica – concepção que identificava uma incapacidade da educação alimentar e nutricional em, de forma isolada, promover alterações em práticas alimentares. Em 1986, aconteceu a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição e a 1ª Conferência Internacional de Promoção da Saúde Carta Otawa: Campos. Nos Congressos Nacionais de Nutrição de 1987 e de 1989 predominou a discussão política parecendo ter se esvaziado a discussão da educação nutricional, que não apareceu nos temários desses congressos; • 1990: Discussões sobre segurança alimentar integraram o cenário internacional e nacional concebendo a alimentação como um direito humano. Somente em 1996, as discussões sobre a educação nutricional retornam, enfatizando a questão do sujeito, a democratização do saber, a cultura, a ética e a cidadania. Instituída em 1999, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, importante expressão política do conceito de segurança alimentar produzido a partir da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, em 1986, e consolidado na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em 1994. A partir do final dos anos 1990, o termo “promo- ção de práticas alimentares saudáveis” começa a marcar presença nos documentos oficiais brasileiros; • 2000: Programa Fome Zero – na proposta original do Instituto Cidadania, publica- da em 2001, o PFZ contemplava a EAN sob duas frentes de atuação: campanhas publicitárias e palestras sobre educação alimentar e educação para o consumo e a criação de uma Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos Industrializados, similar à existente para alimentos para lactentes. Em 2004, o relatório produzido pela 12 13 II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional apontou como central na construção da política de segurança alimentar e nutricional para o país. Em 2006, valorização de alimento através do Guia Alimentar para a População Brasileira; • 2010: Em 2014, nova versão do Guia Alimentar para a População Brasileira, con- siderado como um instrumento de apoio às ações de educação alimentar e nutri- cional. Em 2019, também foi publicado uma nova versão: Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos. Marco de Referência de EAN para Políticas Públicas Fundamentado no Direito Humano à Alimentação Adequada e de Segurança Ali- mentar e Nutricional, o Marco de Referência de EAN para as Políticas Públicas, lançado em 2012, em relação às Políticas Públicas, apresenta um conceito de Educação Alimentar e Nutricional baseado na promoção e proteção da alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2018). Marco de Referência de EAN, disponível em: https://bit.ly/2QLBo2h O Marco tem como objetivo promover um campo comum de reflexão e orientação da prática, no conjunto de iniciativas de EAN que tenham origem, principalmente, na ação pública, contemplandoos diversos setores vinculados ao processo de: produção, distribuição, abastecimento e consumo de alimentos (BRASIL, 2012; BRASIL, 2018). Desde o lançamento do Marco, em todo o Brasil, encontram-se iniciativas alinhadas aos seus princípios, para o fomento e fortalecimento da EAN nas redes de assistência social, saúde e educação, bem como em outros diversos cenários de práticas (BRASIL, 2018). O Marco Referencial define nove princípios para nortear as práticas de EAN (BRASIL, 2012): • Sustentabilidade social, ambiental e econômica: A EAN quando promove a ali- mentação saudável refere-se à satisfação das necessidades alimentares dos indivíduos e populações, no curto e no longo prazos, que não implique o sacrifício dos recursos naturais renováveis e não renováveis e que envolva relações econômicas e sociais estabelecidas a partir dos parâmetros da ética, da justiça, da equidade e da soberania; • Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade: As ações de EAN preci- sam abranger temas e estratégias relacionadas a todas estas dimensões de maneira a contribuir para que os indivíduos e grupos façam escolhas conscientes, mas tam- bém que estas escolhas possam, por sua vez, interferir nas etapas anteriores do sistema alimentar; • Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes natu- rezas: Esse princípio trata da diversidade na alimentação e deve contemplar as 13 UNIDADE Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista práticas e os saberes mantidos por povos e comunidades tradicionais, bem como diferentes escolhas alimentares, sejam elas voluntárias ou não, como por exemplo, as pessoas com necessidades alimentares especiais; • A comida e o alimento como referências; Valorização da culinária enquanto prática emancipatória: Quando a EAN aborda as múltiplas dimensões (valores culturais, sociais, afetivos e sensoriais), ela se aproxima da vida real das pessoas e permite o estabelecimento de vínculos, entre o processo pedagógico e as diferen- tes realidades e necessidades locais e familiares. Preparar o próprio alimento gera autonomia e permite praticar as informações técnicas, ampliando o conjunto de possibilidades dos indivíduos; • A Promoção do autocuidado e da autonomia: O autocuidado (empoderamento pessoal) em relação à sua saúde e o processo de mudança de comportamento cen- trado na pessoa, na sua disponibilidade e sua necessidade são um dos principais caminhos para se garantir o envolvimento do indivíduo nas ações de EAN; • A Educação enquanto processo permanente e gerador de autonomia e par- ticipação ativa e informada dos sujeitos: EAN deve ampliar a sua abordagem para além da transmissão de conhecimento e gerar situações de reflexão sobre as situações cotidianas, em busca de soluções e prática de alternativas; • A diversidade nos cenários de prática: O desenvolvimento de ações estratégicas adequadas às especificidades dos cenários de práticas é fundamental para alcançar os objetivos da EAN, além de contribuir para o resultado sinérgico entre as ações; • Intersetorialidade: Cada setor (governamental) poderá ampliar sua capacidade de analisar e de transformar seu modo de operar, a partir do convívio com a perspec- tiva dos outros setores, abrindo caminho para que os esforços de todos sejam mais efetivos e eficazes; • Planejamento, avaliação e monitoramento das ações: O planejamento, compreen- dido como um processo organizado de diagnóstico, identificação de prioridades, elabo- ração de objetivos e estratégias, desenvolvimento de instrumentos de ação, previsão de custos e recursos necessários, detalhamento de plano de trabalho [...] são imprescindí- veis para eficácia e a efetividade das iniciativas e a sustentabilidade das ações de EAN; Você Sabia? Atendendo a estes princípios, todas as estratégias de EAN têm como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira. Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) Antes de iniciarmos a abordagem sobre o Direito Humano à Alimentação Adequada, é necessário destacarmos alguns conceitos que norteiam esse assunto: 14 15 Direitos Humanos São normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres humanos. Os direitos humanos regem o modo como os seres humanos individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como sua relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação a eles (UNICEF, s.d.). Os direitos humanos são imperativos para assegu- rar a todos a existência de uma vida digna (SILVIA, 2017). Soberania Alimentar A soberania alimentar é um conceito de grande importância para a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada e da Segurança Alimentar e Nutricional. Relaciona-se ao direito dos povos de decidir sobre o que produzir e consumir (LEÃO 2013), definindo suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a população, com base na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade [...]. Segurança Alimentar e Nutricional Segundo a LEI Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacio- nal de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada, Segurança Alimentar e Nutricional é definida “como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras neces- sidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”. Importante! A evolução do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), no Brasil e no mundo, aproxima-se, cada vez mais, da abordagem de DHAA. Para que uma Política de SAN seja coerente com a abordagem de direitos humanos, deve incorporar princípios e ações es- senciais para a garantia da promoção da realização do DHAA, bem como os mecanismos para a exigibilidade deste direito. Nas próximas unidades será estudada, com maior deta- lhamento, a relação entre SAN e DHAA (LEÃO 2013). O Direito Humano à Alimentação Adequada A legalização, no Brasil, do Direito Humano à Alimentação Adequada se deu em 2010, com a aprovação da Emenda Constitucional nº 64, estando assegurado entre os direitos sociais da Constituição Federal. Assim, todos têm direito à alimentação adequada e a estarem livres da fome (LEÃO, 2013). 15 UNIDADE Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista Compreender a alimentação adequada e saudável como um direito humano básico, que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais [...] (BRASIL, 2018). A promoção da saúde demanda, entre outros aspectos, que o Estado implemente polí- ticas, programas e ações que possibilitem a realização progressiva do Direito Humano à Alimentação Adequada, definindo, para isto, metas, recursos e indicadores de monitora- mento destas ações (BRASIL, 2012). Educação Alimentar e Nutricional, no contexto da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, é um campo de conhecimento e de prática contínua e per- manente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa pro- mover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. A prática da EAN deve fazer uso de abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos que favoreçam o diálogo junto a indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados que compõem o comportamento alimentar. (BRASIL, 2012) O acesso a informações confiáveis sobrecaracterísticas e determinantes da alimenta- ção adequada e saudável contribui para que pessoas, famílias e comunidades ampliem a autonomia para fazerem escolhas alimentares e para que exijam o cumprimento do direito humano à alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2014). 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Rede GenteSAN https://bit.ly/2NWuohT CERESAN https://bit.ly/3w1Xq0y Vídeos Teleconferência discute marco conceitual de educação alimentar e nutricional – Parte 1/2 https://youtu.be/xi0KGiiJVL0 Leitura Educação Alimentar e Nutricional: Entre o Tradicional e o Dialógico https://bit.ly/39dXIrB A fome e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) em filmes documentários brasileiros https://bit.ly/3ddyIBI 17 UNIDADE Educação Alimentar e Nutricional na Formação do Nutricionista Referências BOOG, M. C. F. Educação nutricional: passado, presente, futuro. Rev. nutr. PUCCAMP, p. 5-19, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Câmara da Educa- ção Básica. Resolução nº 5, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curricu- lares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição. Diário Oficial da União. Brasília, 09 nov. 2001; Seção1:38. ________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 156 p. ________. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 56 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). ________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de refe- rência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. MDS, 2012. ________. Ministério do Desenvolvimento Social – MDS. Secretaria Nacional de Se- gurança Alimentar e Nutricional – SESAN. Princípios e Práticas para Educação Alimentar e Nutricional. Brasília, 2018. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/we- barquivos/arquivo/seguranca_alimentar/caisan/Publicacao/Educacao_Alimentar_Nu- tricional/21_Principios_Praticas_para_EAN.pdf>. Acesso em: 11/11/2020. CAMILLO, C. M.; MEDEIROS, L. M. Teorias da educação. Santa Maria, RS: UFSM, NTE, 2018. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Definição de atribuições principal e específicas dos nutricionistas, conforme área de atuação. São Paulo,1996. 21p. COSTA, A. C. G. da. O professor como educador: um resgate necessário e urgente. Salvador: Fundação Luís Eduardo Magalhães, 2001. DA COSTA, J. J. S. A educação segundo Paulo Freire: uma primeira análise filosó- fica. 2015. DELORS, J. et al. 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