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CCJ0005-WL-LC-A importância partidos políticos

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A importância dos partidos políticos 
Diante da fraqueza da maioria dos nossos partidos políticos e da decepção generalizada dos brasileiros com relação à política difunde-se a ideia que os partidos políticos apenas atrapalham. Os partidos políticos aparecem apenas nos momentos clientelistas, em negociatas, muda-se de partido como se muda de camisa. Então os partidos políticos seriam inúteis.
Evidentemente que o sistema partidário no Brasil, e mesmo no mundo, padece de uma série de problemas, as críticas são pertinentes. 
Mas é possível um sistema político moderno sem partidos políticos? 
O sistema político liberal é fundado no princípio da representação de interesses. Portanto, os partidos políticos são uma forma de agregar interesses dispersos para serem representados por uma organização comum junto ao Estado. Os partidos políticos representam interesses. Ou seja, os partidos políticos, mesmo teoricamente, não visam representar os interesses de todos, mas os objetivos dos grupos que lhe sustentam. 
É isso que os brasileiros tem dificuldade de entender, se querem ter os seus interesses defendidos pelos partidos políticos precisam filiar-se aos partidos políticos não só para participar da definição da agenda do partido, mas também para influir no comportamento dos seus representantes. 
O alheamento da população em relação aos partidos é o que permite que no interior dos partidos predominem os interesses particulares, privado dos deputados, vereadores e senadores e não o interesse de grupos mais amplos da população. 
Dada a impossibilidade da democracia direta, não é possível que diariamente todos os brasileiros votem questões relevantes do Estado, o que sobra é o sistema representativo. 
Então sem os partidos políticos o que ocorreria? Os partidos políticos seriam substituídos, mesmo que informalmente, por outras organizações de interesses. Haveria uma pulverização maior dos grupos de interesse no Brasil, os sindicatos, as organizações profissionais (OAB, CRA, CRE, etc.), igrejas, etc. substituíram os partidos políticos e o caos no Congresso Nacional aumentaria. Porque hoje temos a bancada evangélica, a bancada da saúde, a bancada ruralista, etc., mas estes grupos são informais, porque em tese seus membros estão subordinados aos partidos políticos. Sem os partidos, o princípio paroquialista destes grupos predominará. Ou seja, para o presidente da República governar o Brasil se tornaria muito mais difícil.
Os partidos políticos envergonham a política, os sistemas partidários existentes padecem de grandes problemas, dificultam as mudanças, mas ainda não se inventou um substituto para os partidos políticos.
A idéia de um indivíduo se candidatar de modo independente, sem qualquer ligação partidária só existe enquanto uma abstração idealista. De fato, qualquer indivíduo que se candidate ainda que o faça fora do sistema partidário estará representando algum grupo, algum conjunto de interesses particularistas. E neste caso, a sua independência favorece ainda mais ignorar os interesses coletivos, porque desde que ele satisfaça os interesses do seu grupo de eleitores ele conseguirá se reeleger. No caso de um cargo majoritário o desastre pode ser ainda maior. O Collor para ser presidente inventou o PRN, e ainda assim não conseguiu governar, lhe faltou base de sustentação. Sem qualquer partido político a situação teria sido pior. A existência do PRN pelo menos permitiu um arranjo, uma aliança temporária para governar. Outsiders tendem a desvalorizar as instituições. Qualquer presidente eleito sem um partido político terá a tendência a desvalorizar as instituições, a querer passar por cima das instituições. Teríamos vários Jânio Quadros. A personalização da política é um dos males que assolam as instituições do Estado brasileiro, que as enfraquecem, portanto é algo que deve ser combatido em favor de instituições sólidas, inclusive os partidos políticos.
Mesmo nos EUA, a principal experiência de um candidato independente à presidente, Ross Perot, demonstrou mais a decepção com a política e a adesão a uma visão salvífica da política através de uma personalidade excepcional, especial, com capacidade sobrehumana. Perot refletia a decepção com o status quo das instituições políticas norte-americanas. Mas o que poderia ser colocado no lugar? Apenas outras instituições, que não surgem do nada, não surgem apenas da vontade do governante, mas desenvolvem-se a partir de dentro das instituições vigentes. Uma posição voluntarista que rejeita as isntituições apenas aprofunda a crise, porque inicia a destruição do status quo sem ter algo para colocar no lugar, que só emergirá no longo prazo. Não há alternativas às instituições.

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