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ESÔFAGO, ESTÔMAGO E INTESTINO DELGADO Equipe SJT Editora Clínica Cirúrgica - esôfago, estômago e intestino delgado. São Paulo: SJT Editora, 2016. ISBN 978-85-8444-097-9 Copyright © SJT Editora 2016 SJT Editora Todos os direitos reservados. Diretor editorial e de arte: Júlio César Batista Diretor acadêmico: Raimundo Araújo Gama Editor de arte: Áthila Pelá Projeto gráfico: Rafael Costa Capa: Erick Balbino Pasqua Editoração eletrônica: Equipe SJT Editora Contato com o departamento editorial: editora@sjtresidencia.com.br Contato com o departamento acadêmico: aluno@sjtresidencia.com.br Avenida Paulista, 949 – 9º andar Cerqueira César – São Paulo/SP CEP: 01311-917 Fone: (11) 3382-3000 http://www.sjteducacaomedica.com.br Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É expressamente proibida a reprodução ou transmissão deste conteúdo, total ou parcial, por quaisquer meios empregados (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem autorização, por escrito, da Editora. Este material didático contempla as regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que vigora no Brasil desde 2009. Apresentação à 16ª edição Apresentamos, à comunidade médica, a mais nova edição do conteúdo didático SJT Preparatório para Residência Médica. Entendemos que nossa função não consiste apenas em prepará-lo(a) para as provas de Residência Médica, mas possibilitar conhecimento e cultura para o desenvolvimento de sua carreira profissional. O corpo docente do SJT, composto por professores das melhores instituições de São Paulo, tem como meta de trabalho fornecer o melhor preparo a você, fazendo com que seus planos se tor- nem realidade, por meio de muito esforço, determinação e vontade. O material didático SJT 2016 está atualizado com as últimas questões dos concursos de Residên- cia Médica de todo o país. Estude com atenção e entusiasmo. Respeite sua agenda, pois aprendizado requer dedicação. O maior responsável pelo seu sucesso é você. Participe regularmente das atividades do site – o me- lhor programa on-line de atividades acadêmicas. Estamos juntos neste objetivo: Residência Médica 2017! O contato com o departamento acadêmico deverá ser feito pelo email: aluno@sjtresidencia.com.br. Você será Residente em 2017! un i verso sjt online www.sjteducacaomedica.com.br Login CPF sem pontos e traço. 4 primeiros números do CPF. Relação de cursos SJT. Encontre o seu. Meu perfil Calendário com atividades, agenda de aulas, atualizações, eventos, etc. Novidades Notícias atualizadas sobre os temas dos cursos. 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........................................................................................................................................84 6 Hérnia de hiato ................................................................................................................................................ 90 7 Trauma (perfuração) e fístula do esôfago ..................................................................................95 8 Síndrome de Mallory-Weiss ................................................................................................................101 9 Síndrome de Boerhaave ........................................................................................................................ 103 10 Tumores benignos do esôfago ........................................................................................................ 105 11 Carcinoma epidermoide de esôfago ........................................................................................... 108 12 Adenoarcinoma de junção esôfagogástrica (AJEC)..........................................................122 13 Esofagites Infecciosas e Corpos Estranhos.............................................................................127 14 Anatomia, fisiologia e histologia do estômago .................................................................... 140 15 Helicobacter pylori .......................................................................................................................................145 16 Dispepsia ........................................................................................................................................................... 150 17 Gastrites ............................................................................................................................................................. 156 18 Lesão de mucosa gástrica induzida por estresse ............................................................. 165 19 Úlcera péptica ............................................................................................................................................... 169 20 Síndromes pós-gastrectomias ......................................................................................................... 194 21 Hemorragia digestiva alta ....................................................................................................................209 22 Câncer gástrico .............................................................................................................................................221 23 Outras afecções do estômago ......................................................................................................... 242 24 Cirurgia bariátrica ........................................................................................................................................ 254 25 Tumores estromais do trato gastrointestinal ........................................................................ 266 26 Intestino delgado .........................................................................................................................................271 27 Estudo Radiológico do Intestino Delgado ...............................................................................277 28 Obstrução do intestino delgado .....................................................................................................282 29 Perfurações do Intestino Delgado .................................................................................................29430 Doenças Vasculares do Intestino Delgado .............................................................................299 31 Tumores do Intestino Delgado ..........................................................................................................314 32 Divertículos do Intestino Delgado .................................................................................................. 333 33 Doença de Crohn ........................................................................................................................................339 34 Síndrome do Intestino Curto ..............................................................................................................357 35 Síndrome da Alça Cega ......................................................................................................................... 361 36 Ileostomia .........................................................................................................................................................363 37 Fístulas Digestivas ......................................................................................................................................368 38 Pneumatose Cística Intestinal ...........................................................................................................377 Caderno de imagens A. carótida comum esquerda A. subclávia esquerda Esôfago (parte cervical) Costela Cúpula leural Traqueia Arco da aorta V. ázigo A. pulmonar direita * Esôfago (parte torácica) Esôfago (parte abdominal) Aorta torácica Coluna vertebral Diafragma (seccionado) Hiato esofágico Hiato aórtico Parte lombar do diafragma Aorta abdominal Brônquio lobar superior direito (ramificado) Bifurcação da traquéia Tronco braquiocefálico Figura 1.2 Esôfago, bifurcação da traqueia, aorta e veia ázigos. Endoscopia 15 cm 23 cm 32 cm 40 cm Região cervical 3 a 5 cm Mediastino 16 a 18 cm Região abdominal 3 cm Figura 1.8 Divisões do esôfago. Figura 2.1 Tipo A: atresia de esôfago sem fístula (8%); Tipo B: atresia de esôfago com fistula traqueoe- sofágica proximal (1%0; Tipo C: atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica distal (86%); Tipo D: atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica proximal e distal (1%); Tipo E: fístula traqueoesofágica sem atresia (4%). Tradicionalmente denominada de fístula em H. Artéria carótida comum direita Artéria carótida comum esquerda Artéria subclávia esquerda Artéria lusória Aorta descendente Traqueia Aorta ascendente Esôfago A Figura 2.9 Disfagia lusória. A: configuração anatômi- ca da artéria subclávia direita aberrante (artéria lusória) Figura 3.3 Localização anatômica do triângulo de Killian (área do círculo), delimitada superiormente pelo músculo faríngeo constritor inferior e, inferiormente, pelo músculo cricofasíngeo. Figura 3.18 Dilatação pneumática. A: dilatador Rigi- flex (balão de polietileno); B: balão de Witzel. 10 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 100 80 60 40 20 0 80 60 40 20 0 -20 80 60 40 20 0 -20 60 40 20 0 -20 60 40 20 0 -20 60 40 20 0 -20 2 * 3 * 4 * 5 * 6 * 7 * 21cm 26cm 31cm 36cm 41cm 46cm 158 135 128 176 0 12 226 222 240 227 44 12 147 11 158 164 58 32 60 52 57 110 118 126 102 12 Figura 3.24 Esofagomanometria-EQN (ondas de el- evada amplitude em esôfago distal). Esfíncter esofagiano inferior Ligamento frenoesofágico Esôfago intra-abdominal Ângulo de His Diafragma crural Diafragma costal Figura 4.1 Anatomia da junção esofagogástrica, ilus- trando os principais elementos da barreira antirrefluxo. Estiramento e ruptura do ligamento esofagofrênico Enfraquecimento e encurtamento do EEI Perda do suporte diafragmático para o EEI Perda do segmento intra-abdominal do EEI Retenção de fluído gástrico no saco herniário Alargamento do hiato diafragmático Figura 4.2 Demonstração anatômica do impacto da hérnia hiatal na barreira do antirrefluxo. Figura 4.4 Estenose péptica clássica demonstrada por esofagograma com bário (A) e endoscopia (B). A radiografia mostra uma grande hérnia de hiato (HH) co- mum a todas as estenoses por DRGE. Seta escura apon- ta para a estenose fibrosa curta e grossa com pseudodi- vertículo múltiplo (seta branca). Apesar de não ser visto no exame com bário, a imagem endoscópica também demonstra esofagite circunferencial (classificação Los Angeles D). DRGE, doença do refluxo gastroesofágico. Figura 4.6 Sistema portátil de monitorização do pH esofageano. 11 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 1cm Grau A 1cm 1cm 1cm Grau B Grau C Grau D Figura 4.9 Grau A: uma ou mais soluções de con- tinuidade da mucosa, com 5 mm ou menos e que não se estendem lateralmente por duas pregas; Grau B: uma ou mais soluções de continuidade da mucosa, maiores do que 5 mm e que não se estendem lateralmente por duas pregas; Grau C: uma ou mais soluções de continui- dade da mucosa que tem continuidade entre duas pre- gas esofágicas, comprometendo menos de 75% da cir- cunferência do órgão; Grau D: uma ou mais soluções de continuidade da mucosa que tem continuidade entre duas pregas esofágicas, comprometendo 75% ou mais da circunferência do órgão. A B C D Figura 4.10 A: Grau A – erosão fibrinosa inferior a 5 mm. B: grau B – erosão fibrinosa superior a 5 mm. C: grau C – outro exemplo de confluência. Nesse caso, ela ocorreu acima da linha Z, no epitélio escamoso. D: grau D – esof- agite grave com inúmeras erosões confluentes, comprom- etendo mais do que 75% da circunferência do órgão. Figura 4.11 Localização dos portais para uma abord- agem videolaparoscópica ao hiato. Os ápices dos dois triângulos denotam os portais de trabalho da mão di- reita (MDC) e esquerda (MEC) do cirurgião. Os portais das bases dos dois triângulos são para os afastadores de fígado (AF), o videoendoscópio (VE) e a mão direita do assistente (MDA). Figura 4.19 Fundoplicaturas cirúrgicas mais co- muns utilizadas nas cirurgias antirrefluxo. A: a mais popular do mundo é a fundoplicatura de Nissen de 360 graus. B: uma plicatura anterior (p. ex., Thal, Dor) é comumente usada para evitar refluxo gastroesofágico após miotomia de Heller para acalasia. A experiência com este reparo é limitada a pacientes com doença de refluxo gastroesofágico clássica. C: a plicatura poste- rior (Toupet) é popular em pacientes com motilidade esofágica ruim, porque a disfagia pós-operatória é menos frequente do que após outras cirurgias. Esta é uma plicatura de 220-250 graus. A B C 12 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 D Figura 5.1 Esôfago de Barrett. A: línguas rosadas da mucosa de Barrett que se estendem proximalmente a partir da junção gastroesofágica. B: esôfago de Bar- rett com nódulo suspeito (seta) identificado durante pesquisa endoscópica. C: Achado histológico de ad- enocarcinoma intramucosal no nódulo endoscopica- mente ressecado. O tumor estende-se até a submucosa esofágica (seta). D: esôfago de Barrett com adenocarci- noma que apresenta avanço local. Figura 5.2 Sequência mutagênica da DRGE. 13 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Lesão subepitelial esofágica A B Septo Lesão subepitelial esofágica A B Septo Figura 10.2 A: aspecto endoscópico de lesão sub- epitelial esofágica, volumosa; B: nota-se, à EE, lesão hipoecoica, de muscular própria, septada, sem reforço sonoro posterior, compatível com leiomioma. Figura 10.3 Aspecto endoscópico de lesão subepite- lial de esôfago torácico proximal. Figura 11.2 Um diagrama esquemático da profun- didade da invasão de uma lesão superficial esofágica, conforme avaliado em um espécime dissecado. Pro- fundidades m1, m2 e m3 denotam invasão limitada à camada epitelial, lâmina própria e muscularis mucosae, respectivamente. Similarmente, sm1, sm2 e sm3 de- notam invasão submucosa superficial, intermediária e profunda, respectivamente.Figura 11.3 Drenagem linfática e relações anatômicas do esôfago. Cânceres do esôfago cervical drenam para os linfonodos cervicais profundos, paraesofágicos, me- diastinais posteriores e traqueobrônquicos. Os tumores do terço inferior disseminam para os linfonodos parae- sofágicos, celíacos e do hilo esplênico. A disseminação a distância para fígado, pulmões e ossos é comum. Figura 11.8 EDA evidenciando lesão infiltrativa e vegetante obliterando da luz do esôfago. A 14 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 B C Figura 11.9 Câncer precoce de esôfago, tipo his- tológico epidermoide, tipo macroscópico 0-I+III, pro- fundidade de invasão de submucosa; A: endoscopia convencional; B: cromoendoscopia; C: histologia. Figura 11.12 PET (tomografia com emissão de pósi- tron), em um paciente com metástases decorrentes de um adenocarcinona da junção esofagogástrica. Ob- serve as múltiplas áreas de lesões líticas no esqueleto, nos linfonodos e tecidual. Figura 11.13 Comparação entre os sistemas de esta- diamento TNM e WNM. Figura 13.2 A: acalasia com infecção por cândida demonstrada por esofagografia com bário. B: fotogra- fia endoscópica de um esôfago dilatado com detritos e placas de Candida (seta) em um paciente com acalasia. Figura 13.3 Esofagite herpética. Este paciente tem várias úlceras bem delimitadas (seta) no esófago mé- dio. As pregas estão levemente espessadas. As úlceras superficiais bem delimitadas são características da es- ofagite herpética. A: ulceração esofágica secundária à tetraciclina, com a seta apontando para a área de ulcer- ações demonstrada por esofagografia com bário. B: im- agem endoscópica de queimadura do esôfago induzida por tetraciclina. 15 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Figura 13.6 Achados endoscópicos frequentes na es- ofagite eosinofílica. A: sulcos longitudinais (furrows); B: pontilhado brancacento (white specks); C: ondulações transversais delgadas (felinização); D: mucosa granulo- sa e frágil (crêpe paper) com lacerações superficiais pela passagem do endoscópio; E: estenose tubular lisa (es- ôfago de pequeno calibre); F: ondulações transversais grosseiras (corrugations). Figura 13.7 Úlcera esofágica com estenose. 16 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Figura 13.8 Candidíase esofágica. Figura 13.9 A: úlcera esofágica por CMV com sangra- mento; B: úlcera esofágica por CMV. Figura 13.10 Esofagite ulcerada por herpes-vírus. Figura 13.11 Úlcera associada ao HIV. Figura 13.12 Esofagite ulcerada por alendronato. 17 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Fundo Corpo Cárdia Grande curvatura Parte pilórica Antro pilórico Antro pilórico Piloro Pequena curvatura Incisura angular Figura 1.1 Anatomia do estômago normal: normal- mente, parte pilórica e o antro pilórico são denomina- dos simplesmente como antro. Fundo Piloro Antro Corpo Mucosa Figura 1.2 Mucosa do estômago. Tronco celíaco A. gástrica esquerda A. gástrica direita A. hepática própria Aa. gástricas curtas A. gastroepiploica esquerda A. gastroepiploica direita Aa. pancreatoduodenais superiores Aorta abdominal A. hepática comum A. esplênica Figura 1.4 Artérias do estômago. V. cava inferior Veia porta V. gástrica esquerda V. gástrica direita V. gástricas curtas V. gastroepiploica esquerda V. gastroepiploica direita Figura 1.5 Veias do estômago. Ramo hepático do tronco vagal anterior Plexo hepático Ramo vagal anterior Ramos celíacos do n. vago Ramo gástrico anterior principal Gânglios celíacos Plexo das aa. gastroepiploicas Figura 1.6 Inervação do estômago. Figura 1.8 Representação diafragmática da glândula gástrica oxíntica. Pico de acidez gástrica: uma hora após as refeições. 18 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 4 3 2 9 8 10 19 17 14 7 612 11 13 15 16 5 18 1 2A Figura 1.9 Irrigação arterial das vísceras abdominais superiores. Figura 2.1 Helicobacter pylori, bactéria Gram-negati- va, espiralar e flagelada. Corpo IL-8+ Célula inflamatória ECS SMS FNT-α IL-1β IL-8+ IL-8 FNT-αCélula inflamatória IFN-γ D D G P ácido ++ + + + +– – – – –– – – H. pylori Figura 2.2 Resumo dos possíveis mecanismos pelos quais o H. pylori pode dar origem a anormali- dades gástricas. D: célula da somatostatina; ECS: célula símile a entercromafin; G: célula G; IFN: inter- feron; IL: interleucina; P: célula parietal; SMF: soma- tostatina; FNT: fator de necrose tumoral. Alto nível de produção ácida Baixo nível de produção ácida Mucosa gástrica normal Gastrite atrófica predominante no corpo Gastrite predominante no antro Úlcera duodenal Linfoma MALT Úlcera gástrica Metaplasia intestinal Displasia Câncer gástrico Pangastrite não atrófica Infância Idade avançada Infecção crônica pelo H.pylori Infecção assintomática por H.pylori Infecção aguda pelo H.pylori Figura 2.3 História natural da infecção pelo H. pylori. Figura 2.4 Mucosa gástrica colonizada por H. pylori aparecendo como bacilos curvados na superfície da mucosa. 19 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Figura 4.1 Gastrectomia subtotal. A: coto gástrico residual com conteúdo biliar, mucosa com edema e enantema. B: anastomose gastrojejunal também apre- sentando edema e enantema. Gastrite antral difusa Gastrite atrófica difusa do corpo gástrico Gastrite atrófica multifocal Figura 4.3 Topografia das diversas formas de gastrite. Figura 6.1 Componentes envolvidos na defesa e no reparo da mucosa gastroduodenal. Margem hiperêmica Convergência de pregas Solução de continuidade super�cial Cicatrização A2 H1 H2A1 S2 S1 Atividade Cicatriz Cicatriz branca Cicatriz vermelha Fundo com �na camada de �brina brancacenta; margem evidente Figura 6.8 Ciclo vital da úlcera péptica. Figura 6.9 Úlcera gástrica A1 de Sakita. Figura 6.10 Úlcera gástrica A1 de Sakita (detalhe). Figura 6.11 Úlcera gástrica A2 de Sakita. 20 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Figura 6.12 Úlcera gástrica H1 de Sakita. Figura 6.13 Úlcera gástrica H2 de Sakita. Figura 6.14 Úlcera gástrica S1 de Sakita. Figura 6.15 Úlcera gástrica S2 de Sakita. Figura 8.1 Úlcera gástrica pré-pilórica com sangra- mento em jato, Forrest IA. Figura 8.2 Úlcera gástrica com sangramento em ba- bação, Forrest IB. Figura 8.3 Úlcera gástrica com vaso visível em sua base, Forrest IIA. Figura 8.4 Úlcera gástrica com coágulo elevado em sua base, Forrest IIB. 21 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Figura 8.5 Úlcera gástrica com coágulo plano em sua base, Forrest IIC. Figura 8.6 Úlcera bulbar com base limpa, Forrest III. Figura 8.7 Lesão de Dieulafoy gástrica com sangra- mento ativo. Sengstaken-Blakemore-Sonde Linton-Nachlas-Sonde < 45 mmHg = 50 - 100 mL 60 - 100 mmHg = 100 - 150 mL 500 mL Osophagus- ballon Magen ballon Magen 250 - 500 g 250-500 g Ballon Magen Osophagus Figura 8.9 Para varizes de esôfago, passa-se o balão de Sengstaken e, com ele no estômago, infla-se o balão gástri- co (cerca de 50 mL), puxando-o até ficar preso no cárdia (para que se evite insuflar o balão no piloro e rompê-lo). Após, infla-se o balão gástrico até 150 mL de ar. O balão es- ofágico deve ser inflado para se manter uma pressão < 45 mmHg, não passando disso; afinal, a isquemia esofágica começa a partir dessa pressão. O balão deve permanecer inflado por 24 h. Após, deixa-se por 8-12 h em observação, para verificar se há sangramento, e aí o balão pode ser retirado. Depois de retirado o balão, deve-se analisar a hi- pertensão portal. Se for esquistossomose, a cirurgia deve ser precocemente indicada. Se for cirrose hepática, o trata- mento é conduzido com escleroterapia. Figura 9.3 Lesão tipo I (elevada). Figura 9.4 Lesão tipo IIa (plana elevada). 22 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016Figura 9.5 Lesão tipo IIb (plana). Figura 9.6 Lesão tipo IIc (plana deprimida). Figura 9.12 EDA. A: câncer gástrico polipoide locali- zado próximo à incisura angular. B: câncer gástrico ex- ofítico comprometendo a maior parte da circunferência da porção antropilórica. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa T1 Figura 9.15 Representação esquemática de neoplasia T1. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa T2 Figura 9.16 Representação esquemática de neoplasia T2. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa T3 Figura 9.17 Representação esquemática de neoplasia T3. EUS 1º 2º 3º 4º 5º Histo mucosa muscular mucosa submucosa muscular própria serosa órgão vizinho T4 Figura 9.18 Representação esquemática de neoplasia T4. 23 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 12a 12p 8p 12b 8a5 13 6 17 13 15 4d 16 16 9 9 9 7 3 19 1 2 20 111 110 11p 16 18 16 14v 14a 4d 4d 4sb 4sb 4sa 11d 10 10 Figura 9.19 Localização das estações linfonodais. 6 5 8 3 4d 4d 4sb 4sb 4sa 9 7 3 1 2 2 Figura 9.20 Estações linfonodais perigástricas. Figura 9.21 Divisão esquemática da topografia do câncer gástrico. Diferentemente das normas da UICC, em que a topografia do tumor primário dentro do es- tômago não é considerada, aqui o estômago é dividido em três partes caracterizadas por letras: U (upper), M (middle), L (lower), E e D se há comprometimento es- ofágico e/ou duodenal respectivamente. Quando o tu- mor invade mais de uma dessas porções, considera-se a região mais fortemente comprometida, seguido das menos invadidas. Exemplo: ML, UML. Figura 10.2 Patogênese do volvo gástrico. 1A e 1B: volvo mesenteroaxial; 2A e 2B: volvo organoaxial; 3A: volvo organoaxial com rotação gastroesofágica até a junção pilórica; 3B: volvo organoaxial, com rotação da região anterior e superior do antro e rotação axial infe- rior do fundo gástrico. Figura 11.1 Cinto de silicone. Figura 11.5 Derivação biliopancreática (técnica de Hess e Marceau, ou duodenal switch). 24 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Figura 11.7 Cirurgia de Fobi-Capella, desenho es- quemático do procedimento. Figura 12.1 EDA evidenciando lesão estramucosa em antro gástrico – GIST a imuno-histoquímica. Figura 12.2 EDA evidenciando lesão duodenal extra- mucosa ulcerada – GIST a imuno-histoquímica. A. pancreatoduodenal inferior A. cólica direita A. oleocólica Aa. jejunais e ileais Alças anastomóticas Artérias retas Primeira anastomose A. mesentérica superior Figura 1.4 Artérias do intestino delgado. V. porta V. cólica direita V. ileocólica Veias jejunais e ileais Alças anastomóticas Veias retas V. mesentérica superior V. esplênica Figura 1.5 Veias do intestino delgado. Gânglios aorticorrenais Gânglio mesentericossuperiores Ramos mesentéricos A. mesentérica superior Gânglios celíacos Figura 1.6 Nervos do intestino delgado. 25 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Ducto torácico Cisterna do quilo Linfonodos cilíacos Linfonodos mesentéricos superiores Linfonodos mesentéricos Figura 1.7 Vasos linfáticos e linfonodos do intestino delgado. Figura 3.21 Hérnia interna transmesentérica. Figura 5.6 Alças intestinais isquêmicas à laparotomia. Figura 5.13 Doença de Rendu-Osler-Weber. A: múlti- plas teleangiectasias nos lábios; B: teleangiectasias na região proximal do estômago; C: antro; D: bulbo duodeno. 26 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Figura 6.1 B: figura de uma peça cirúrgica do ID mostrando um lipoma. Figura 6.4 Neurofibromatose. Moluscos cutâneos e lesões cor de café com leite. Figura 6.13 A: imagem endoscópica de tumor carci- noide duodenal. Figura 6.14 A: imagem endoscópica de diminuta lesão polipoide de 0,8 cm, localizada na parede gástrica. Figura 8.1 Pioderma gangrenoso em paciente com DC. Figura 8.2 DC com grave acometimento perianal, lev- ando à destruição do aparelho esfincteriano. 27 Caderno de imagens SJT Residência Médica – 2016 Figura 8.3 DC com grave doença perianal. Figura 8.4 DC e eritema nodoso. 28 Cirurgia do estômago, esôfago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 CAPÍTULO 1 Anatomia O esôfago é um órgão anatomicamente simples, de forma tubular, composto por músculos dos tipos liso e estriado. Guarnecido superiormente por um esfíncter anatomicamente comprovado, termina em um esfínc- ter de estrutura anatômica aceita por poucos autores. É, essencialmente, uma víscera muscular com proporções variáveis entre a musculatura lisa e a es- quelética. O comprimento do esôfago em cadáve- res adultos varia de 25 a 30 cm. A medida obtida por endoscópio, em adultos, demonstra que a transi- ção esofagogástrica encontra-se a 40 cm dos dentes incisivos, iniciando-se no nível da sexta vértebra cer- vical e terminando no estômago, no nível da 11ª vér- tebra torácica (Figura 1.8). As medidas internas do esôfago são de aproxi- madamente 3 cm no diâmetro laterolateral e de 2 cm no diâmetro denominado anteroposterior. O esôfago cervical tem cerca de 5 cm de compri- mento, o que corresponde aproximadamente a 1/5 do esôfago. Começa abaixo do esfíncter esofágico supe- rior e vai até o nível da 1ª vértebra torácica. Está loca- lizado atrás da traqueia e diante da região pré-vertebral, ocu- pando a linha média; é a posição mais profunda do pescoço. Os nervos laríngeos recorrentes, direito e es- querdo, passam pelo ângulo diedro formado pela tra- queia e pelo esôfago. O nervo laríngeo recorrente esquerdo está em contato direto com o esôfago e o laríngeo recorrente direito tem seu trajeto afastado, por questão de milímetros. As carótidas e as jugulares internas relacionam-se, lateralmente, com o esôfago cervical. Anatomia e fisiologia do esôfago Eu tratei dele. Deus o curou. Ambroise Paré, cirurgião francês (1510-1590) 30 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 O esôfago torácico mede de 16 a 18 cm de comprimento. Pode ser dividido nos segmentos su- pra e infrabrônquico, servindo a carina da traqueia como ponto de referência para essa divisão. Ao entrar no tórax, o trajeto do esôfago deixa de ser retilíneo, desviando-se ligeiramente para a esquer- da, cruzando o brônquio esquerdo, posteriormente. Esse segmento suprabrônquico, no nível da quarta ou quinta vértebra dorsal, forma o plano mais superficial do mediastino posterior e situa-se entre as vértebras e a traqueia. Existe uma fixação do esôfago ao brô- nquio principal esquerdo, pelo músculo bron- coesofágico. O esôfago está separado das vértebras dorsais apenas por tecido celular frouxo. Posterolate- ralmente, o esôfago está recoberto pelas pleuras no segmento que vai da 5ª à 10ª vértebra dorsal. À direi- ta, é cruzado pelo arco da veia ázigos. À esquerda, está relacionado com o nervo laríngeo recorrente esquerdo, a origem das artérias ca- rótida e subclávia esquerdas, o ducto torácico e o arco da aorta que promove o estreitamento broncoaórtico, motivo pelo qual o esôfago mede apenas 15 a 17 mm de diâmetro nesse nível. Na porção infrabrônquica, o esôfago desvia-se ligeiramente para a linha média, a alguns centímetros acima do diafragma; ao passar por detrás do coração, desvia-se outra vez para a esquerda. Posteriormente, o esôfago está em relação com a coluna dorsal (nível entre a 4ª e a 11ª vértebra to- rácica), a aorta descendente, a veia ázigos e o ducto torácico e com segmentos da reflexão pleural. O ducto torácico entra no mediastino posterior através do hia- to aórtico e situa-se posteriormente no esôfago até o arco da aorta, ao desembocar na subclávia. Os nervos vagos, um de cada lado, paralelos ao esôfago, formam um plexo visível ao seuredor e, na altura do hiato esofágico, saem com dois troncos prin- cipais. Pela rotação gástrica, o tronco esquerdo do vago localiza-se mais anteriormente, e o tronco direito, mais posteriormente, quando passam ao estômago. O esôfago abdominal mede aproxima- damente 0,5 a 2 cm de comprimento e entra obliqua- mente no estômago formando o ângulo de His, o que internamente corresponde à membrana de Gubaroff. O esôfago apresenta quatro locais de estrei- tamento anatômico bem definidos (Figura 1.1), onde as estruturas adjacentes produzem impres- sões: cricofaríngeo, na origem do esôfago, onde há compressão pelo músculo cricofaríngeo; aórtico, no nível do arco da aorta, na altura da quinta vértebra to- rácica; brônquico, no cruzamento do brônquio fonte esquerdo; e diafragmático, no nível do hiato diafrag- mático, na altura da 10ª vértebra torácica, distante 38 cm da arcada dentária. Esses estreitamentos são sedes de afecções esofágicas: obstrução por cor- po estranho, lesões cáusticas e câncer. A parede esofágica apresenta, na sua parte interna, uma camada formada por mucosa e submucosa; a parte externa, que é muscular, é constituída por uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa. O revestimento do esôfago é de epitélio es- camoso estratificado não ceratinizado. Existem algumas glândulas ao longo de todo o esôfago. A ca- mada mucosa apresenta pregas longitudinais paralelas em toda a extensão do esôfago. Há glândulas produto- ras de mucina na submucosa e lâmina própria. A sub- mucosa é a porção mais resistente da parede esofágica, elemento importante nas anastomoses esofágicas. A transição da mucosa esofágica para a mu- cosa gástrica se faz com a mudança do epitélio escamoso do esôfago para epitélio cilíndrico do estômago, mudança identificada pelo clareamen- to brusco na cor da mucosa, o que determina a chamada linha Z. Essas modificações ocorrem no ní- vel dos dois últimos centímetros esofágicos, já em nível intra-abdominal. Não existe uma coincidência entre a transição interna epitelial esofagogástrica e a transição externa do esôfago com o estômago. Ilhas de epitélio gástrico são encontradas isoladas em todos os níveis do esôfago. A mucosa gástrica, frouxa e redundante, no nível do cárdia, forma uma roseta que tende a funcionar como um tampão antirrefluxo. No plano muscular, o esôfago é composto por duas camadas: uma interna, circular, e outra ex- terna, longitudinal. O esôfago cervical tem continuidade com fibras do esfíncter esofágico superior e fibras provenientes da cartilagem cricoide e é constituído, em sua totali- dade, por musculatura estriada. No esôfago torácico existe uma mescla de fibras musculares estriadas e lisas, com prevalência da musculatura lisa à medida que o esôfago vai se tornando mais caudal. O esôfago terminal, normalmente, é constituído de musculatura lisa pura. Entre a camada circular e a longitudinal do esôfago, existem os chamados plexos mioen- téricos, seja na musculatura lisa, seja na estria- da, os quais são responsáveis pela mobilidade coordenada da deglutição. As doenças motoras do esôfago geralmente envol- vem a musculatura estriada no terço superior, ou a mus- culatura lisa no esôfago terminal de maneira isolada, e raramente há um comprometimento difuso do esôfago. A adventícia do esôfago é formada por tecido co- nectivo aureolar frouxo, com fibras elásticas originá- rias das outras estruturas mediastínicas. Não existe a presença de uma serosa, como em outros seg- mentos do tubo digestivo. Esse fato prejudica a segurança das anastomoses esofágicas, ao mes- mo tempo que facilita a propagação das células tumorais para outras estruturas anatômicas. 31 1 Anatomia e fisiologia do esôfago SJT Residência Médica – 2016 Figura 1.1 Os três principais estreitamentos do esôfa- go (vista anterior). 1. Plano superior (boca do esôfago): 14 mm (lábio da boca do esôfago); 2. Constrição média pela aposição do arco da aorta e brônquico esquerdo: 14 mm; 3. Constrição inferior, aproximadamente 3 cm antes do cárdia: 12 mm; a) Largura superior: 19 mm; b) Largura inferior: 20 mm. *Plano mediano. Figura 1.2 Esôfago, bifurcação da traqueia, aorta e veia ázigos. Figura 1.3 Correlação anatomotomográfica. A: cor- te transversal do tórax na altura da bifurcação tra- queal. B: TC mostrando (a) aorta ascendente, (b) aorta descendente, (c) carina (d) esôfago, (e) ar- téria pulmonar. Relações anatômicas As paredes da orofaringe são formadas pelas musculaturas dos músculos constritores superior, médio e inferior, mais o músculo estilofaríngeo. Esses músculos são planos, largos, cujas fibras mesclam-se entre si e formam uma rafe na linha média posterior da faringe. A atuação desse complexo muscular é coor- denada para uma perfeita deglutição. O músculo cricofaríngeo separa a faringe do esô- fago. O esfíncter esofágico superior é formado pelo músculo cricofaríngeo, que se mescla supe- riormente com fibras distais do músculo constri- tor inferior da faringe e, inferiormente, com as fi- bras circulares da musculatura esofágica cervical. O esfíncter esofágico superior mede aproximada- mente 3 a 5 cm de comprimento e, manometricamente, caracteriza-se por uma zona de alta pressão, principal- mente no nível do músculo cricofaríngeo, como pode ser demonstrado por estudos fluoroscópicos. Na face posterior, no nível da junção esofági- ca, não existe a formação da rafe mediana, apre- sentando-se uma zona de fraqueza (triângulo de Killian) por onde surge o divertículo de Zenker. As paredes faríngeas são suportadas por inserções nas cartilagens: epiglote, aritenoide, cuneiforme e cricoide. A passagem do esôfago para o abdome, através do diafragma, é feita pelo hiato esofágico, que, na re- alidade, é um segmento formado pelos pilares diafrag- máticos que apresentam anatomia bastante variada. Os pilares diafragmáticos nascem da segunda, terceira e quarta vértebras lombares e se inserem 32 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 na porção tendinosa do diafragma. Existe uma pre- dominância do pilar direito na formação do hiato eso- fágico. A variação mais encontrada é aquela em que o pilar direito forma dois braços, direito e esquerdo, que circundam o esôfago, e o pilar esquerdo reforça o braço esquerdo do pilar direito. Outra variação, também fre- quente, é aquela em que ambos os pilares diafragmáti- cos se dividem antes de circundarem o esôfago. O principal elemento de fixação do esôfago ao diafragma é a membrana frenoesofágica, que é uma das estruturas responsáveis pelo antirre- fluxo gastroesofágico. A membrana frenoesofágica é formada pela fusão da pleura, fáscia endotorácica, fáscia transversal e peritônio. A fáscia transversal, também chamada de fáscia endoabdominal, insinua- -se através do hiato esofágico para inserir-se 2 a 3 cm na parede do esôfago. Existe discordância entre vários autores quanto à constituição da membrana frenoeso- fágica e à sua utilização nas intervenções cirúrgicas. Fisiologicamente, o esfíncter esofágico in- ferior está localizado nos 3 ou 4 cm distais do esôfago e caracteriza-se por um segmento de musculatura lisa, tonicamente contraído. Como se sabe, as fibras distais do esôfago terminal mesclam- -se com a musculatura gástrica, mas a existência ana- tômica de um esfíncter inferior não é aceita por vários autores. Na transição epitelial esofagogástrica, na cha- mada linha Z, a mucosa gástrica torna-se redundante, e as pregas mucosas formam uma roseta responsável, segundo alguns autores, pela prevenção do refluxo. O segmento intra-abdominal do esôfago mede de 2 a 4 cm e forma o ângulo de His com a grande curvatura do estômago. Essa angulação também é responsável pela prevenção do refluxo inter- namente. O esôfago no lado direito continua em linha reta com a pequena curvatura gástrica. A fixação do esôfago abdominal é feita por estruturas frouxas e de fácil dissecção cirúrgica. Vascularização Arterial A vascularizaçãoarterial da porção cervi- cal do esôfago é feita pelas artérias tireoideas inferiores (Figura 1.4). A irrigação arterial do seg- mento torácico é feita por ramos que nascem direto da aorta e por ramos esofágicos das arté- rias intercostais e bronquiais. O segmento inferior do esôfago é suprido pela artéria frênica inferior e pela artéria eso- fagocardiotuberositária, que é ramo da artéria gástrica esquerda. Funcionalmente, essas artérias tendem a uma vascularização do tipo terminal. Embora o esôfago não apresente uma rica rede arterial, existem numerosas intercomunicações na submucosa e na superfície muscular, o que permite interromper vasos sem causar isquemia. Figura 1.4 Vascularização arterial do esôfago e drenagem linfática. Venosa A drenagem venosa do esôfago é dividida em três segmentos e paralela à rede arterial. O terço superior, através das veias tireoideas inferiores, drena para a veia cava superior. O terço médio também drena para a veia cava superior através dos sistemas ázigos e hemiázigos. No terço inferior do esôfago, no nível da união esofagogástrica, a drenagem venosa faz-se pelo sistema porta através da veia gástrica esquerda. 33 1 Anatomia e fisiologia do esôfago SJT Residência Médica – 2016 Na submucosa esofágica, existe um fino plexo venoso microscópico que drena para outras veias da submucosa, mais calibrosas, que estão situadas de maneira regular ao redor da circunferência esofágica, formando uma rede longitudinal paralela a toda a ex- tensão do esôfago. Essa rede venosa paraesofágica se comunica com os sistemas porta e sistêmico no nível dos três segmentos esofágicos. Quando existe hipertensão portal, esses vasos sub- mucosos aparecem como varizes mais destacadas no esô- fago terminal. Todos os três sistemas venosos possuem anastomoses entre si, permitindo o desvio do sangue no caso de haver obstrução em qualquer um deles. Figura 1.5 Vasculização venosa do esôfago. Linfática Os linfáticos do esôfago torácico superior e mé- dio drenam principalmente para o pescoço e medias- tino superior, e a drenagem linfática do esôfago inferior faz-se principalmente para os gânglios abdominais: linfonodos gástricos e celíacos. Existem outras divisões e nomenclaturas das cadeias linfáticas, todas no sentido de iden- tificar e facilitar a dissecção, principalmente nas cirurgias radicais de câncer de esôfago. Inervação A inervação intrínseca do esôfago é feita pelos plexos mioentéricos de Meissner e Auer- bach (Figura 1.6). Existem conexões entre esses dois plexos que apresentam comunicações com o vago. O suprimento motor do esôfago nasce do núcleo mo- tor dorsal do nervo vago e do núcleo do nervo aces- sório espinhal. As conexões parassimpáticas estabele- cem-se por meio dos vagos. Figura 1.6 Inervação do esôfago. A porção superior do esôfago é inervada pe- los nervos laríngeos recorrentes. Os nervos vagos descem paralelamente ao esôfago, um de cada lado, formando um plexo visível ao seu redor. Na altura do hiato esofágico, o vago esquerdo orienta-se anteriormente, e o vago direito, posteriormen- te, quando alcançam o estômago. O esôfago recebe fibras simpáticas dos gânglios simpáticos cervicais e da cadeia simpática torácica. A inervação simpática é pouca entendida. Fisiologia do esôfago A função básica do esôfago é transportar o ma- terial deglutido da boca ao estômago e, ocasionalmen- te, em direção contrária. Possui um esfíncter em cada extremidade com a finalidade principal de mantê-lo vazio. O fluxo retrógrado do conteúdo gástrico é im- pedido pelo esfíncter esofágico inferior, e a entrada de ar a cada inspiração, pelo esfíncter esofágico superior, que normalmente permanece fechado em virtude da contração tônica do músculo cricofaríngeo. O estado atual do conhecimento da fisiologia do esôfago deve-se principalmente a estudos mano- métricos, monitoração de pH e avaliação do trânsito esofágico. Um grande número de fatores pode alte- rar as pressões registradas, e, assim, cada laboratório deverá estabelecer seus parâmetros de normalidade para a população em estudo. Tamanho e tipo do cate- ter utilizado, temperatura do líquido ingerido e tem- po de repouso entre cada deglutição estão entre os fatores referidos. 34 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Os valores obtidos por manometria não são ab- solutos, e a avaliação final deverá ser feita levando em consideração outros achados do exame. Pressões na boca e na faringe são atmosféricas; no corpo do esôfago, em repouso, são levemente subatmosféricas, reflexo da pres- são normal intratorácica, permanecendo a mais negativa entre –5 e –10 mmHg durante a inspiração profunda, e a mais alta entre 0 e 5 mmHg durante a expiração. Deglutição É uma resposta neuromuscular, envolvendo ações voluntárias e involuntárias. Tem início com o movimento voluntário da língua, que origina uma onda peristáltica involuntária, a qual percorre rapi- damente a faringe, alcançando o esfíncter esofágico superior, produzindo um relaxamento rápido e coor- denado, seguido por uma contração pós-deglutição. A respiração é suspensa nessa fase da deglutição. Uma vez iniciada, a sequência da deglutição é involuntária. Atividade motora Em repouso, o esôfago não apresenta atividade motora; os esfíncteres mantêm uma contração que pode ser medida manometricamente e caracteriza o tônus de repouso. A peristalse do esôfago evidencia-se logo após a contração da faringe ultrapassar o esfíncter esofágico superior. A contração peristáltica, a uma velocidade de 4 a 6 cm/seg, dirige-se da porção cranial, estriada, para a caudal, lisa. Essas ondas peristálticas têm duração entre 2,3 a 3,6 seg e alcançam amplitude máxima de 60 a 140 mmHg no esôfago inferior. Essa onda inicia- da pela deglutição é denominada peristalse primária. Os nervos extrínsecos coordenam a motilida- de esofagiana involuntária com os eventos associa- dos à deglutição voluntária. Durante a deglutição voluntária, os esfíncteres esofágicos superior e in- ferior relaxam, permitindo a entrada e a saída do bolo alimentar, respectivamente. Durante a fase orofaríngea da deglutição, o bolo é voluntariamente impulsionado à faringe; após, o processo torna-se involuntário, e, com o esfíncter eso- fágico inferior fechado, o bolo progride até transpô-lo em fase de relaxamento. Em seguida, esse esfíncter oclui em contração prolongada. No músculo estriado da porção cranial do esôfago, a onda peristáltica primária é mediada centralmente pelo acionamento sequencial de fibras vagais colinérgi- cas. No músculo liso do terço caudal do esôfago, a onda é propagada e mediada localmente por neurônios intra- murais intrínsecos e por propagação miogênica. Peristaltismo secundário é uma contração progressiva do corpo esofágico que não é induzida por deglutição, mas, usualmente, ou por distensão produ- zida por bolo não completamente propelido pela pe- ristalse primária, ou por conteúdo gástrico refluído. Um mecanismo local intramural pode, às vezes, produzir peristaltismo na musculatura lisa do esôfago – é a peristalse terciária, que não deve ser confundida com as contrações terciárias, descoordenadas ou simul- tâneas, no corpo do esôfago, responsáveis pelo clássico aspecto de saca-rolhas no esofagograma com bário. Quando o alimento entra no esôfago, uma onda peristáltica tem início em direção ao estômago, em ve- locidade de 4 a 6 cm/seg. Em posição supina, líquidos e semissólidos usualmente caem no esôfago distal por gravidade, independentemente da onda peristáltica, mais lenta. O esfíncter gastroesofágico relaxa antes da chegada do bolo, após o qual retoma o tônus. Os mecanismos de controle fisiológico são diferen- tes para as musculaturas lisa e estriada. A musculatura estriada, cranial, recebe exclusivamente inervação vagal excitatória, e a contração peristáltica resulta da ativação de unidades motoras em sequência craniocaudal. O controle da musculatura lisa é aparentementemais complexo do que o da estriada. As fibras vagais fazem sinapse em neurônios do plexo mioentérico mais do que na junção neuromuscular, e o estímulo vagal pode tanto estimular quanto inibir a musculatu- ra esofágica, dependendo do estímulo usado. O plexo mioentérico existe nos segmentos estriados e lisos do esôfago, entre as túnicas mus- culares. Esse plexo é ganglionar: poucos gânglios nos segmentos de musculatura estriada e maior número nos de musculatura lisa, principalmente na região de junção dessas túnicas musculares. O plexo submuco- so também está presente, mas é escasso. Do ponto de vista funcional, o esôfago pode ser dividido em três regiões: esfíncter esofágico superior, corpo e esfíncter esofágico inferior. A função dos esfíncteres é coordenada com a função do corpo esofágico e com a atividade da orofaringe e do es- tômago, que são contíguos ao esfíncter esofágico superior e ao esfíncter esofágico inferior, respectivamente. Aproximadamente 50 a 60% do esôfago cau- dal, incluindo o esfíncter esofágico inferior, são inteiramente de musculatura lisa. O esfíncter esofágico superior Denominado também esfíncter faringoesofági- co, o esfíncter esofágico superior é integrante tanto do esôfago quanto da faringe. Sua estrutura é estria- 35 1 Anatomia e fisiologia do esôfago SJT Residência Médica – 2016 da, tendo comprimento de 3 a 5 cm à manometria; é formado primariamente por fibras horizontais do músculo cricofaríngeo e, frequentemente, por uma pequena porção do constritor inferior da faringe. No homem, a região de maior pressão tem apro- ximadamente 1 cm de comprimento e corresponde ao músculo cricofaríngeo. A pressão intraluminal do esfíncter esofágico su- perior parece ter dois componentes: um ativo, relacio- nado com a contração do cricofaríngeo, e um passivo, atribuível à elasticidade tecidual. A pressão desse esfíncter, em repouso, é de aproximadamente 60 mmHg, valor que estima seu componente de elasticidade dos tecidos. Durante a deglutição, a abertura normal do es- fíncter envolve seu relaxamento, a tração laríngea anterior e a pressão intrabolo; mudanças adaptativas volume-dependentes na dimensão do esfíncter aco- modam bolo de grande volumes. O esfíncter esofágico superior normalmente mantém-se fechado, exceto durante a deglutição, a eructação e o vômito. Anormalidades clínicas da abertura do esfíncter esofágico superior podem ser relacionadas a altera- ções de relaxamento desse, tração reduzida por meio da laringe, peristalse faríngea alterada ou reduzida complacência da musculatura do esfíncter. Funcio- nalmente, essas alterações podem conduzir à falta de abertura ou à abertura incompleta do esfíncter e à aspiração do resíduo da faringe, que se traduzem, cli- nicamente, por sintomas de disfagia ou de sufocação. O esfíncter esofágico inferior Em circunstâncias fisiológicas normais, a passa- gem do conteúdo gástrico para o esôfago é impedida por uma barreira antirrefluxo que se localiza na junção esofagogástrica. O esfíncter esofágico inferior, o pilar diafrag- mático e o ligamento frenoesofágico são as estru- turas anatômicas com participação na barreira an- tirrefluxo. O esfíncter esofágico inferior tem sido descrito como uma estrutura fisiológica ou zona de elevada pressão de repouso, de 3 a 5 cm de comprimento, e que atua como barreira con- tra a regurgitação anormal do conteúdo gástri- co para o esôfago. Embora o tônus do esfíncter esofágico inferior seja o principal mecanismo na prevenção do refluxo gastro- esofágico, esse recebe suporte de fatores extrínsecos, como a compressão pela crura diafragmática e sua posi- ção na cavidade abdominal, que parecem ter importân- cia, principalmente durante o esforço (Figura 1.7). A pressão de repouso normal do esfíncter esofágico inferior é de 6 a 26 mmHg, e essa pres- são é menor no período pós-prandial e à noite. Nenhum valor absoluto da zona de alta pressão indica, por si, competência ou incompetência do mecanismo do esfíncter esofágico inferior. Entre os mecanismos facilitadores do refluxo, o relaxamento transitório do esfíncter inferior do esô- fago (EIE) é o mais relevante. Normalmente, o EIE deve permanecer contraído foda dos episódios de de- glutição, evitando o refluxo. Os relaxamentos transi- tórios são mais longos que os relaxamentos ligados à deglutição e ocorrem sem relação com distensão ou peristalse esofágicas. Sabe-se que os relaxamentos transitórios do EIE podem ser encontrados tanto em indivíduos saudáveis como em portadores da DRGE, mas nestes últimos há maior ocorrência de refluxo durante estes episódios. A fisiopatologia dos relaxamentos transitórios in- dica que, aparentemente, é resultante da distensão do fundo gástrico por alimentos ou gás, sendo mais comum no período pós-prandial e em decúbito lateral direito. O controle deste fenômeno deve-se a núcleos nervosos centrais, especialmente o núcleo do trato solitário, o qual integraria todas as informações sen- soriais provenientes do estômago e da faringe, desen- cadeando o relaxamento do EIE. Outra via de estímulo para o relaxamento do EIE seria a presença de gordura no bulbo duodenal, que liberaria colecistocinina, indu- zindo o relaxamento do EIE. O tônus desse esfíncter é também influenciado por um grande número de fatores, entre os quais estão os alimentos, fumo, drogas e hormônios. Gastrina, polipeptídio pancreático, motilina e bombesina aumentam o tônus; secretina, colecistoquinina, polipeptídio intestinal vasoativo, glucagon e pro- gesterona reduzem o tônus. Alimentos ricos em proteínas o elevam; gor- duras, chocolate e etanol o reduzem (tabela 1.1). Entre outras substâncias e medicamentos, a histamina, os antiácidos, a metocloparamida, a domperidona, ci- saprida e a prostaglandina F2α produzem aumento na pressão esfinctérica, ao passo que a teofilina, as prosta- glandinas E2 e I2, a serotonina, a meperidina, a morfi- na, a dopamina, os bloqueadores de canais de cálcio, o diazepam e os barbituratos produzem sua redução. Medicamentos e substâncias que alteram o tônus do EEI Aumentam o tônus do EEI Diminuem o tônus do EEI Hormônios Drogas Gastrina Secretina Teofìlìna Motilina CCK Cafeína Substância P Glucagon Tabaco Neurotransmissores VIP Anticolinérgico Agonistas alfa-adrenérgicos Somatostatina AINH 36 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Medicamentos e substâncias que alteram o tô- nus do EEI (cont.) Estrógeno Blq-Ca++ Neurotransmis- sores Serotonina PG F2-alfa Óxido nítrico Meperidina Agonistas beta-adrenérgicos Morfina Proteínas dos alimentos Alimentos Dopamina Cisaprida Gordura Diasepam Metoclopramida Chocolate Barbituricos Donperidona Café Prostaglandinas Álcool E2I2 Cítricos Betabloqueadores Menta Hortelã Tabela 1.1 PG F2-alfa: prostaglandina F2-alfa; CCK: colecistoquinina; VIP: polipeptídio intestinal vasoativo; AINHs: anti-inflamatórios não hormonais; Blq-Ca++: bloqueadores dos canais de cálcio. Valores manométricos normais Parâmetro Valor Esfíncter esofágico superior Comprimento total 4,0 - 5,0 cm Pressão de repouso 60,0 mmHg Tempo de relaxamento 0,58 s Pressão residual 0,7-3,7 mmHg Esfíncter esofágico inferior Comprimento total 3-5 cm Comprimento abdominal 2-4 cm Pressão de repouso 6-26 mmHg Tempo de relaxamento 8,4 s Pressão residual 3 mmHg Contrações do corpo esofágico Amplitude 40-80 mmHg Duração 2,3-3,6 s Tabela 1.2 O relaxamento desse esfíncter é uma respos- ta normal à deglutição, sendo coordenado com a peristalse primária. Sua duração é curta, de me- nos de 5 segundos, e, nesse caso, se ocorrer reflu- xo, esse fica confinado ao esôfago caudal e é logo eliminado para o estômago. Figura 1.7 Esquema da arquitetura muscular na jun- ção esofagogástrica, mostrando os componentes de abertura e fechamento do esfíncter esofagogástrico. L: feixes esofágicos longitudinais que se separam em feix- es gástricos longitudinais direitos (A) e esquerdos (B); c: feixes esofágicos circulares;c’: alça gástrica circular; o: feixes esofágicos oblíquos; o’: alça gástrica oblíqua. Os feixes circulares foram desenhados muito separados para visualizar os feixes oblíquos. Figura 1.8 Divisões do esôfago. CAPÍTULO 2 Anomalias congênitas do esôfago Introdução As anomalias congênitas do esôfago compreen- dem a atresia de esôfago, a estenose congênita do esô- fago, a duplicação do esôfago e o cisto neuroentérico. Com exceção da atresia de esôfago, as demais malfor- mações, além de serem raras, podem manifestar-se clinicamente no período neonatal ou fora desse, inclu- sive na vida adulta. Este tema será objeto de estudo no módulo da Cirurgia Pediátrica. Atresia de esôfago A atresia do esôfago caracteriza-se pela interrup- ção da continuidade da luz do esôfago em sua porção torácica, decorrente de uma separação incompleta dos tubos embrionários esofágico e traqueal. É a mais co- mum anomalia congênita do esôfago. O segmento de esôfago ausente constitui um hiato esofágico em maior ou menor extensão. Na maioria das vezes, a atresia de esôfago está associada a uma fístula traqueoesofágica distal. Etiologia A atresia de esôfago é uma das mais fre- quentes malformações congênitas complexas, incidindo de 1:3.000 a 1:4.500 nascimentos. A etiologia da atresia de esôfago permanece desco- nhecida, não havendo nenhuma evidência de heredita- riedade, toxicidade ou de anormalidade cromossômica relacionada, embora recém-nascidos com anormalida- des cromossômicas possam ter atresia de esôfago. O índice de prematuridade é maior do que na população geral, aproximadamente 35% dos recém-nascidos com atresia de esôfago são prematuros. Sua incidência tem sido relatada em gemelares; entretanto, ambos os gemelares (mono ou dizigóticos) raramente são concordantes para atresia de esôfago. Anomalias associadas Os recém-nascidos portadores de atresia de esô- fago e fístula traqueoesofágica distal podem apresen- tar uma ou mais anomalias congênitas associadas em 50%–70% dos casos. A perturbação precoce existente na organogênese, resultante na atresia de esôfago, provavelmente afeta também outros órgãos e/ou apa- relhos na mesma época da embriogênese. As anomalias congênitas associadas mais frequentes são as malformações: (1) cardiovascu- lares, (2) gastrointestinais, (3) do esqueleto e (4) do aparelho geniturinário. As anomalias congênitas asso- ciadas frequentemente alteram, de maneira significa- tiva, o tratamento e a sobrevida desses recém-nasci- dos. À medida que aumenta o número de anomalias congênitas associadas, diminui o peso dos recém-nas- cidos e a sua taxa de sobrevida Atresia de esôfago com fístula TE distal (tipo C): 86% dos casos. 38 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 Na ausência de anomalia congênita associada, a sobrevida dos casos de atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica distal pode atingir 100%. Entretan- to, a existência em 11% dos casos de trissomias (13 e 18) e/ou de defeitos cardíacos complexos é incompatí- vel com a vida. Alguns acrônimos têm sido descritos na literatu- ra quando existe a associação de algumas anomalias congênitas com a atresia de esôfago. Os pacientes que possuem esses fenótipos e são incluídos nessas associações não apresentam história familiar de mal- formações, não existe o envolvimento de substância teratogênica e não se observa nenhuma anormalidade cromossômica. Os principais acrônimos são: (1) VATER: vertebral defects, anal atresia, tracheoesopha- geal fistula, esophageal atresia e radial e renal defects; (2) VACTERL: vertebral, anorectal, cardiac, tracheoe- sophageal, renal e radial limb ou ainda (3) CHARGE: coloboma, heart defects, choanal atresia, developmental retardation, genital hypoplasia e ear deformities. Frequência (%) das principais anomalias congênitas associadas à atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica distal Anomalias cardiovasculares (29%) Persistência do canal arterial Defeito do septo ventricular Defeito do septo atrial Anomalias cardíacas complexas Dextrocardia Atresia e estenose pulmonar Canal atrioventricular Coarctação da aorta Dextroposição do arco aórtico Tetralogia de Fallot Anomalias gastrointestinais (17%) Anomalia anorretal Atresia de duodeno Ducto biliar comum Anomalia de rotação Divertículo de Meckel Anomalias do esqueleto (12%) Digitais Vertebrais Ausência do rádio Anomalia da mão Anomalias hemifaciais Anomalias geniturinárias (8%) Hipospadia Testículo ectópico Duplicações Displasia renal Hidronefrose Anomalias do úraco Frequência (%) das principais anomalias congênitas associadas à atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica distal (cont.) Outras anomalias (16%) Trissomia do 13 e 18 Agenesia/hipoplasia de pulmão Distresse respiratório Atresia de coana Síndrome de Down Onfalocele Microcefalia Fenda palatina Tabela 2.1 Classificação anatômica Várias classificações anatômicas foram propos- tas para a atresia de esôfago. A classificação anatô- mica proposta por Robert Gross em 1953 é am- plamente empregada (Figura 2.1). Em 1962, D. Waterston, R. E. Bonham-Carter e Eoin Aberdeen desenvolveram uma classificação da atresia de esôfago relacionada com fatores de risco, levando-se em consideração: (1) o peso do recém-nas- cido; (2) as condições pulmonares (pneumonia); e (3) as anomalias congênitas associadas. Essa classificação tem sido uma contribuição importante no manuseio desses recém-nascidos, permitindo a identificação de critérios prognósticos e que orientem o tratamento cirúrgico. Figura 2.1 Tipo A: atresia de esôfago sem fístula (8%); Tipo B: atresia de esôfago com fistula traqueoesofágica proximal (1%0; Tipo C: atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica distal (86%); Tipo D: atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica proximal e distal (1%); Tipo E: fístula traqueoesofágica sem atresia (4%). Tradicionalmente denominada de fístula em H. Grupos de risco e sobrevida dos recém-nascidos se- gundo a classificação de Waterston, Bonham-Carter e Aberdeen Grupo Sobrevida Classificação A 100 Peso > 2.500 g e sem complica- ções pulmonares e sem anoma- lias congênitas associadas B 85 Peso entre 1.800 e 2.500 g e sem anormalidades ou peso maior com pneumonia moderada e anomalia congênita associada moderada 39 2 Anomalias congênitas do esôfago SJT Residência Médica – 2016 Grupos de risco e sobrevida dos recém-nascidos se- gundo a classificação de Waterston, Bonham-Carter e Aberdeen (cont.) C 65 Peso < 1.800 g ou peso maior, mas com pneumonia grave e anomalia congênita associada grave Tabela 2.2 Em 1994, Spitz et al. mostraram que os dois fa- tores de maior impacto na sobrevida dos recém- -nascidos com atresia de esôfago são: o baixo peso ao nascimento (< 1.500 g) e as malformações cardíacas maiores associadas. Malformação cardí- aca maior define-se como as cardiopatias con- gênitas cianóticas que necessitam de cirurgia paliativa ou corretiva e as cardiopatias congê- nitas acianóticas que necessitam de tratamen- to clínico ou cirúrgico para a insuficiência car- díaca congestiva. A taxa de sobrevida do recém-nascido com anomalia cardíaca menor associada não difere da do recém-nascido sem anomalia cardíaca associada. A ecocardiografia deve ser rotineiramente realizada em todos os casos de atresia de esôfago, porém não neces- sariamente antes da correção cirúrgica. Sobrevida relacionada com (I) o peso ao nasci- mento e (II) as malformações cardíacas maiores associadas, segundo a classificação de Spitz Grupo Total (n) Óbito (n) Sobrevi- da (%) I. Peso ao nascimento > 1.500 g sem malfor- mação cardíaca maior associada 293 10 97 II. Peso ao nascimento < 1.500 g ou malfor- mação cardíaca maior associada 70 29 59 III. Peso ao nascimen- to < 1.500 g e malfor- mação cardíaca maior associada 9 7 22 Tabela 2.3 Diagnóstico e achados clínicos A detecção antenatal de atresia de esôfa- go por ecografia fetal baseia-se no achado de uma pequena bolha gástrica– ou sua ausência – associada com poli-hidrâmnio. Poli-hidrâmnio pode ocorrer em 85% dos casos de atresia sem fís- tula e em 30%–35% dos casos de atresia com fístula traqueoesofágica. A ecografia fetal pode ainda con- tribuir para o diagnóstico quando consegue visua- lizar o coto esofágico proximal dilatado, mesmo na ausência de poli-hidrâmnio. A maioria dos recém-nascidos com atresia de esôfago apresenta-se sintomática nas primeiras horas de vida. A presença de salivação aerada exces- siva constitui-se um verdadeiro alarme cirúrgico do recém-nascido, e o neonatologista deve, obrigatoria- mente, suspeitar de atresia de esôfago. Devido à im- possibilidade de deglutir a saliva, existe um acúmulo na faringe posterior. A salivação torna-se abundante, com bolhas de ar, requerendo sua aspiração frequente. O comprometimento pulmonar pode ser significativo devido (1) à aspiração da saliva acumulada na faringe posterior; e, (2) se existe fístula traqueoesofágica distal, há regurgitação do conteúdo gástrico para a traqueia e pulmões, causando pneumonia química com importan- te lesão parenquimatosa pulmonar, mais grave do que aquela causada somente pela aspiração da saliva. Se o diagnóstico não é realizado, a tentativa de alimentação do recém-nascido é seguida de tosse e re- gurgitação do alimento. Dispneia e cianose podem es- tar presentes, com ou sem a tentativa de alimentação. Se existe fístula traqueoesofágica distal, o abdome po- derá estar distendido, devido à passagem de ar para o estômago através da fístula. Ao contrário, na ausência de fístula, o abdome está escavado. O diagnóstico é realizado pela impossibilidade de passar uma sonda oro ou nasogástrica em dire- ção ao estômago. Deve-se empregar uma sonda 8 ou 10, evitando-se, dessa maneira, que uma sonda mais fina possa enrolar-se sobre si mesma dentro da oro- faringe ou do coto esofágico proximal, dando a falsa impressão de que alcançou a câmara gástrica. A aspi- ração de saliva acumulada no coto esofágico proximal pode também ser confundida com secreção gástrica. O obstáculo à passagem da sonda em direção ao es- tômago, quando se faz o atendimento de rotina ao recém-nascido ainda na sala de parto, permite reali- zar o diagnóstico precoce da atresia de esôfago. Caso o recém-nascido apresente uma fístula traqueoesofágica em H (sem atresia de esôfago), o diagnóstico torna-se mais difícil. Não existe dificuldade de deglutição, não havendo salivação excessiva. Entretanto, surgem crises de engasgo du- rante a alimentação, ocasião em que o conteúdo ali- mentar no esôfago passa através da fístula em H em direção à traqueia e aos pulmões. Uma radiografia simples toracoabdominal (fren- te e perfil) é realizada enquanto se injetam alguns mi- lilitros de ar pela sonda. O ar serve de contraste no interior da sonda e permite distender o coto esofágico proximal, confirmando o nível da atresia do esôfago. A radiografia em perfil mostra mais facilmente o nível da atresia de esôfago. A visualização de ar no abdo- me – estômago e/ou alças intestinais – permite afirmar a presença de fístula traqueoesofágica 40 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 distal. Ao contrário, a ausência de ar no abdome é típica de atresia de esôfago sem fístula traqueo- esofágica distal. A radiografia simples toracoabdominal permite também avaliar (1) a situação dos pulmões e a presença de broncopneumonia; (2) a configuração e o tamanho do coração; (3) a presença de anomalias vertebrais associa- das; (4) a presença de anomalias gastrointestinais asso- ciadas; e (5) a distância entre os cotos proximal e distal. Caso seja necessária, a injeção pela sonda de 0,5 mL a 1 mL de bário diluído – seguida de sua remoção – pode ser realizada para confirmar o diagnóstico e mostrar o nível da atresia do esôfago. Porém, esse pro- cedimento deve ser realizado com cuidado e somente sob acompanhamento radioscópico, para evitar toda e qualquer aspiração do bário pela traqueia que possa inundar os pulmões. O bário no fundo do coto esofági- co proximal poderá diagnosticar uma eventual fístula traqueoesofágica proximal. Uma vez diagnosticada a atresia de esôfago, deve-se fazer uma avaliação, procurando identi- ficar as anomalias congênitas que, em 50%–70% dos casos, se associam à atresia de esôfago, incluindo-se os acrônimos VATER, VACTERL e CHARGE. Os exames complementares mais utiliza- dos, além da radiografia simples toracoabdominal, são a ecografia abdominal e a ecocardiografia. Figura 2.2 Diagnóstico da atresia de esôfago com instilação de bário diluído. Figura 2.3 Atresia com trânsito reconstituído. Tratamento Após a realização do diagnóstico, o paciente deve imediatamente ser transferido para uma UTI neona- tal. A correção da atresia deixou de ser uma urgência ou um procedimento heroico. A criança deve ser operada no seu melhor momento e com fatores de risco mínimos. Os fatores prognósticos de expec- tativa de sobrevida (chamados de critérios de Wa- terston) são apresentados a seguir: Grupo I – Peso acima de 2.500 g, ausência de complicações pulmonares, ausência de malformações associadas; sobrevida de 100%. Grupo II – Peso entre 1.900 e 2.500 g, complica- ção pulmonar discreta, malformações associadas mo- deradas; sobrevida de 50% a 65%. Grupo III – Peso abaixo de 1.800 g, complicação pulmonar grave; malformação congênita grave; sobre- vida de 10% a 20%. Os fatores prognósticos mencionados podem ser melhorados por meio da prevenção, do tratamen- to das complicações pulmonares, da melhora do peso pelo tratamento intensivo, suporte nutricional pré- -operatórios sempre em regime de UTI, onde o recém- -nascido deve ser mantido aquecido e hidratado em incubadora com sonda nasoesofágica em aspiração constante tipo venturi (evitando a aspiração de sali- va), e em posição elevada, semissentada (diminuindo o refluxo gástrico via fístula). O tratamento cirúrgico, quando houver fístula distal, consiste em toracotomia posterolateral direita, abordagem extrapleural, dissecção do coto esofágico superior, liberação do esôfago distal da traqueia com fechamento do orifício fistuloso e anastomose termi- noterminal com fio absorvível 4-0 ou 5-0, fechamento da cavidade e drenagem torácica. Naqueles casos em que o arco aórtico está à di- reita, efetua-se incisão à esquerda. O paciente deve fi- car em UTI neonatal, com intubação orotraqueal e em ventilação assistida de 24 h a 48 h. O suporte nutricio- nal faz-se por nutrição parenteral total (NPT). No séti- mo/oitavo dia de pós-operatório, utiliza-se um pouco de contraste oral na própria UTI e, caso não haja fístu- la, inicia-se a alimentação via oral. Quando não houver fístula distal, os segmen- tos esofagianos geralmente estão afastados (long gap) (Figura 2.4). Realiza-se uma gastrostomia à Stamm, aguardando-se cerca de 8 a 12 semanas até que ocorra o alongamento espontâneo do coto superior (Figura 2.5), possibilitando a anastomose que é realizada da mesma forma. Nos casos em que o crescimento esofágico não acontece, utilizam-se métodos de substituição como esofagocoloplastias ou esofagogastroplastias. 41 2 Anomalias congênitas do esôfago SJT Residência Médica – 2016 Figura 2.4 Atresia do esôfago: segmentos esofagi- anos afastados. Figura 2.5 Atresia do esôfago: segmentos esofagi- anos aproximados. Complicações A complicação mais grave é a deiscência de anastomose, que ocorre em cerca de 20% dos casos. Apenas um terço desses demandam uma nova operação. A complicação mais frequente é a estenose. É consequência do tecido cicatricial após pequenas deis- cências ou então da dissecção extensa do coto inferior, cuja vascularização é mais precária. O tratamento é a dilatação periódica. Uma das causas de manutenção da estenose é o refluxo gastroesofágico, mais frequente nesses pacientes do que na população em geral. Outras complicações são a traqueomalácia, de- vido à compressão intrauterina da traqueia pelo cotosuperior, e a recidiva da fístula traqueoesofágica, hoje rara em função do maior cuidado ao se fechar o orifício traqueal. RN com polidrâmnios, salivação abundante e espumosa SNG (8-10 Fr) Atresia de esôfago com ar no abdome Cirurgia imediata Gastrostomia Cirurgia 8-12 semanas após UTI neonatal Atresia de esôfago sem ar no abdome Raio X de tórax, raio X contrastado, raio X abdome Figura 2.6 Conduta na atresia de esôfago. RN: recém- nascido; SNG: sonda nasogástrica. Estenose congênita do esôfago Introdução Estenose congênita do esôfago é definida como uma estenose intrínseca do esôfago devido a uma malformação da parede esofágica. Pode estar associa- da com outras anomalias congênitas, incluindo a atre- sia de esôfago com ou sem fístula traqueoesofágica, anomalias cardíacas, atresias intestinais, hipospadia e anomalias anorretais. Classificação A estenose congênita do esôfago pode ser classificada em três tipos: (1) diafragma membra- noso; (2) hipertrofia muscular idiopática; e (3) rema- nescentes intramurais de tecido traqueobrônquico. (1) O diafragma membranoso ocorre mais no terço médio e inferior do esôfago. É um diafragma membranoso similar a qualquer outra malformação membranosa do trato digestivo. Usualmente, cau- sa obstrução parcial do esôfago, pois a membrana frequentemente é incompleta, apresentando uma abertura. O tratamento para esse tipo de membrana compreende a sua ressecção por esofagostomia, gas- trostomia ou endoscopia. 42 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 (2) Hipertrofia muscular idiopática: existe uma hipertrofia das camadas submucosa e muscular do esôfago, devido a uma proliferação das fibras muscula- res lisas e do tecido conjuntivo. O tratamento consiste na dilatação do esôfago. (3) Remanescentes intramurais de tecido tra- queobrônquico podem permanecer sequestrados na parede do esôfago quando ocorre a separação embriológica do trato respiratório do intestino primitivo. O tecido traqueobrônquico sequestra- do na parede do esôfago é deslocado distalmente pelo próprio crescimento do esôfago. A estenose do esôfago distal pode ser visível na esofagosco- pia, e o exame mostra que a mucosa é normal, dife- renciando-a da estenose péptica devido à esofagite causada por refluxo gastroesofágico. Quadro clínico Os sintomas, usualmente, iniciam-se na infân- cia. Os pacientes passam a apresentar disfagia pro- gressiva, regurgitação, episódios de infecção respi- ratória e vômitos alguns meses após a introdução da dieta sólida. Os exames realizados são esofago- grama, esofagoscopia com biópsia e monitorização do pH esofágico. Tratamento O tratamento é a ressecção cirúrgica com anastomose terminoterminal e/ou substitui- ção esofágica. A realização de um procedimento antirrefluxo pode ser associada à ressecção da es- tenose, pois os pacientes submetidos à ressecção cirúrgica de estenose do esôfago próxima à junção esofagogástrica podem apresentar refluxo gastroe- sofágico no pós-operatório. Figura 2.7 Estenose congênita do esôfago. A: esof- agograma baritado mostrando estenose do esôfago dis- tal (seta) com dilatação do esôfago proximal; B: esôfago baritado com estenose do médio esôfago (setas largas); C: ecoendoscopia mostrando imagem circunferencial hi- poecoica na localização que corresponde à estenose lumi- nal do esôfago. Duplicação do esôfago As duplicações do esôfago cervical são extrema- mente raras. Apresentam-se como uma massa cervi- cal, cística, geralmente em crianças menores de 1 ano de idade. As duplicações do esôfago torácico represen- tam 24% das duplicações do trato gastrointestinal e podem ter anomalias vertebrais associadas. Aproximadamente um terço das duplicações torácicas possui uma segunda/terceira duplicação do trato gastrointestinal abaixo do diafragma. O recém- -nascido apresenta-se com insuficiência respiratória aguda por causa dos fenômenos compressivos pelo cisto. As crianças maiores podem apresentar tosse, dor torácica e broncopneumonia. 43 2 Anomalias congênitas do esôfago SJT Residência Médica – 2016 A disfagia ocorre devido à compressão do esôfago normal pela duplicação. Se existe mucosa gástrica ec- tópica, ela pode ser sítio de ulceração e sangramento, ocorrendo hemoptise e/ou melena. Entretanto, em al- guns casos, o paciente pode ser assintomático, e o cisto, um achado ocasional em exame radiológico de tórax. O diagnóstico é realizado por radiografia de tó- rax (PA e perfil) – que mostra a presença de uma massa torácica, localizada no mediastino posterior – comple- mentado por ecografia, estudo contrastado do esôfago e tomografia computadorizada. O tratamento é a ressecção cirúrgica completa do cisto. Quando essa não é possível, deve-se ressecar a mucosa que reveste o interior do cisto, visando-se as- sim (1) evitar a produção de muco pelo cisto e (2) remo- ver a mucosa gástrica ectópica. Figura 2.8 Duplicação cística do esôfago. A: esofago- grama baritado mostrando compressão extrínseca da parede do esôfago (setas); B: ecoendoscopia mostran- do imagem de distorção da parede do esôfago que corresponde a uma imagem hipoecoica do cisto (C). (A) aorta, (a) veia ázigos, (S) coluna. Cisto neuroentérico O cisto neuroentérico é uma variante particular de duplicação do trato digestivo associada a uma malforma- ção da coluna vertebral, possuindo conexões com o trato gastrointestinal e com o sistema nervoso central. Malformação rara do mediastino posterior, sua origem pode estar em uma falha de separação da no- tocorda do tubo digestivo primitivo anterior durante a vida embrionária. O cisto neuroentérico possui uma camada de musculatura lisa e mucosa do trato gastrointestinal. Se existe mucosa gástrica ectópica, ela pode ser sítio de ulceração, sangramento e, até mesmo, perfuração devido à secreção cloridropéptica. As anomalias vertebrais incluem spina bifida an- terior, hemivértebras e fusão incompleta dos arcos vertebrais. A sintomatologia – relacionada com pro- cesso inflamatório e compressão causada pelo cisto – inclui dor, anemia, sintomas respiratórios e sinto- mas neurológicos. O diagnóstico é sugerido pela tríade (1) sin- tomas respiratórios – dispneia, (2) massa cística no mediastino posterior e (3) anomalias vertebrais. O diagnóstico é realizado por radiografia de tórax, eco- grafia, tomografia de tórax e ressonância magnética. A cintilografia com tecnécio-99m pode diagnosticar a presença de mucosa gástrica no interior do cisto. O tratamento é a ressecção completa do cisto. Anomalias vasculares Anomalia vascular intratorácica é observada em 2% a 3% da população geral. Raramente produzem sintomas e, quando estes ocorrem, decorrem da obs- trução esofágica ou traqueobrônquica. Disfagia lusória Esta alteração é provocada pela compressão do esôfago por artéria anômala, mais frequente- mente por uma artéria subclávia direita aber- rante. Outros vasos podem causar disfagia por com- pressão sobre o esôfago: artéria vertebral anômala, arco aórtico duplo, arco aórtico direito coexistindo com um ligamento arterioso esquerdo e artéria pul- monar esquerda aberrante. O sintoma é a disfagia. As compressões por ano- malias vasculares, entretanto, são na maioria das ve- zes assintomáticas. O diagnóstico é realizado por exame radiológico baritado do esôfago, por ecoendoscopia, por resso- nância nuclear magnética, por tomografia computa- dorizada e por arteriografia. 44 Cirurgia do esôfago, estômago e intestino delgado SJT Residência Médica – 2016 O tratamento, comumente, restringe-se às modi- ficações da dieta, recomendando-se alimentos pastosos, oferecidos em pequenos volumes. Ocasionalmente, se houver sintomas disfágicos graves, indica-se a cirurgia. Tecido heterotópico O tecido heterotópico mais frequentemente encontrado no esôfago é o gástrico e esse é um acha- do relativamente comum. Na maioria das vezes, lo- caliza-se no terço proximal do esôfago, logo abaixo do esfíncter esofagiano
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