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TBL 2 - transtorno alimentar

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1 Fernanda E. Bocutti T6 
 
Transtornos alimentares 
Anorexia nervosa 
- Síndrome caracterizada por três critérios essenciais: 
1. Inanição autoinduzida até um grau significativo 
(comportamento) 
2. Busca incessante por magreza ou medo mórbido de 
engordar (psicopatologia) 
3. Presença de sinais e sintomas resultantes da inanição 
(sintomatologia fisiológica) 
Essa síndrome está associada a distúrbios de imagem 
corporal, mas nem sempre é relacionada a isso. 
A distorção de imagem corporal não é patognomônica, 
invariável ou necessária para o diagnóstico 
- Existem dois subtipos de anorexia nervosa: 
1. Restritiva 
2. Compulsão alimentar purgativa 
Aproximadamente metade das pessoas anoréxicas irá 
perder peso reduzindo de forma drástica sua ingestão 
alimentar. A outra metade não só fará dieta como também 
se envolverá com regularidade em compulsão alimentar 
seguida de comportamentos purgativos. Alguns pacientes 
rotineiramente purgam depois de ingerir pequenas 
quantidades de comida. 
Epidemiologia 
- Época mais comum de início é na metade da adolescência, 
mas até 5% dos pacientes anoréxicos têm início do 
transtorno no começo da década dos 20 anos. 
- Idade mais comum de início é entre 14 e 18 anos. 
- Anorexia nervosa ocorra em aproximadamente 0,5 a 1% 
das meninas adolescentes. 
- É 10 a 20x mais frequente em mulheres do que em 
homens. A prevalência de mulheres jovens com alguns 
sintomas de anorexia nervosa que não preenchem os 
critérios diagnósticos é estimada em cerca de 5%. 
- É mais frequente em países desenvolvidos e pode ser mais 
observado entre mulheres jovens em profissões que 
requerem magreza como modelos ou bailarinas. 
Etiologia 
Fatores biológicos, sociais e psicológicos estão implicados nas 
causas de anorexia nervosa. 
Fatores biológicos 
- Opioides endógenos podem contribuir para a negação da 
fome em indivíduos com anorexia nervosa 
- Estudos preliminares mostram ganho de peso substancial 
em alguns pacientes que recebem antagonistas opiáceos. 
- A inanição acarreta muitas alterações bioquímicas, algumas 
das quais também estão presentes na depressão como 
hipercortisolemia e não supressão pela dexametasona. 
- A função da tireoide também é suprimida 
Essas anormalidades são corrigidas pela realimentação 
- A inanição pode produzir amenorreia, que reflete a 
redução nos níveis hormonais. Algumas pacientes com 
anorexia nervosa, podem se tornar amenorreicas antes de 
uma perda de peso significativa. 
- Tomografias computadorizadas revelam espaços 
aumentados com LCS (sulcos e ventrículos aumentados) em 
pacientes anoréxicos durante a inanição, um achado que é 
revertido pelo ganho de peso. Em um estudo com 
tomografia por emissão de pósitrons, o metabolismo do 
núcleo caudado era mais alto no estado anoréxico do que 
depois da realimentação 
- Alguns estudos apresentam evidências de disfunção na 
serotonina, dopamina e norepinefrina, três 
neurotransmissores envolvidos na regulação do 
comportamento de alimentação no núcleo paraventricular do 
hipotálamo. Outros fatores humorais que podem estar 
envolvidos incluem o fator liberador de corticotrofina, o 
neuropeptídeo Y, hormônio liberador de gonadotrofina e o 
hormônio estimulador da tireoide. 
Fatores sociais 
Indivíduos com anorexia nervosa encontram apoio para suas 
práticas na ênfase que a sociedade coloca na magreza e no 
exercício. Em mulheres jovens, a participação em escolas de 
Ballet rigorosas aumenta a possibilidade de desenvolvimento 
de anorexia nervosa em pelo menos 7 vezes. Em meninos do 
ensino médio a luta está associada a uma prevalência de 
17% para síndromes de transtorno alimentar completo ou 
TBL – caso 2 
 
2 Fernanda E. Bocutti T6 
parcial durante a temporada de lutas, com uma minoria 
desenvolvendo um transtorno alimentar e não melhorando 
de maneira espontânea no fim do treinamento. 
Fatores psicológicos e psicodinâmicos 
A anorexia nervosa parece ser uma reação à demanda de 
que os adolescentes se comportem de forma mais 
independente e aumentem seu funcionamento social e 
sexual. Indivíduos com o transtorno substituem as 
preocupações adolescentes normais por outras precauções, 
que são semelhantes a obsessões, com a alimentação e o 
ganho de peso 
Diagnóstico e características clínicas 
- O início da anorexia nervosa costuma ocorrer entre 10 e 
30 anos de idade. Ela está presente quando o indivíduo 
voluntariamente reduz e mantém um grau doentio de perda 
de peso ou não consegue ganhar peso proporcional ao 
crescimento; o indivíduo experimenta um medo intenso de 
engordar, tem uma busca incessante por magreza apesar 
da inanição, de forma frequente, mas não exclusiva, 
funcionamento anormal do hormônio reprodutivo, mas 
também hipotermia, bradicardia, ortostase e reservas de 
gordura corporal severamente reduzidas e os 
comportamentos e a psicopatologia estão presentes por 
pelo menos 3 meses. 
Um medo intenso de ganhar peso e ficar obeso está 
presente em todos os indivíduos com o transtorno e, sem 
dúvida, nenhuma contribui para a falta de interesse em, e 
até mesmo resistência a terapia. Um comportamento mais 
aberrante direcionado para a perda de peso ocorre em 
segredo. Pessoas com anorexia nervosa em geral se 
recusam a fazer refeições com sua família ou em lugares 
públicos. Elas perdem peso reduzindo drasticamente sua 
ingestão alimentar total, com diminuição desproporcional dos 
alimentos com alto teor de carboidratos e gordura. 
Critérios diagnósticos 
A. Restrição da ingesta calórica em relação às 
necessidades, levando a um peso corporal 
significativamente baixo no contexto de idade, gênero, 
trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso 
significativamente baixo é definido como um peso 
inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças 
e adolescentes, menor do que o minimamente esperado. 
B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou 
comportamento persistente que interfere no ganho de 
peso, mesmo estando com peso significativamente 
baixo. 
C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma 
corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou 
da forma corporal na autoavaliação ou ausência 
persistente de reconhecimento da gravidade do baixo 
peso corporal atual. 
Nota para codificação: O código da CID-9-MC para anorexia 
nervosa é 307.1, atribuído independentemente do subtipo. O 
código da CID-10-MC depende do subtipo 
Determinar o subtipo: 
(F50.01) Tipo restritivo: Durante os últimos três meses, o 
indivíduo não se envolveu em episódios recorrentes de 
compulsão alimentar ou comportamento purgativo (i.e., 
vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos 
ou enemas). Esse subtipo descreve apresentações nas quais 
a perda de peso seja conseguida essencialmente por meio 
de dieta, jejum e/ou exercício excessivo. 
(F50.02) Tipo compulsão alimentar purgativa: Nos últimos 
três meses, o indivíduo se envolveu em episódios 
recorrentes de compulsão alimentar purgativa (i.e., vômitos 
autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou 
enemas). 
Especificar se: 
Em remissão parcial: Depois de terem sido preenchidos 
previamente todos os critérios para anorexia nervosa, o 
Critério A (baixo peso corporal) não foi mais satisfeito por 
um período sustentado, porém ou o Critério B (medo intenso 
de ganhar peso ou de engordar ou comportamento que 
interfere no ganho de peso), ou o Critério C (perturbações 
na autopercepção do peso e da forma) ainda está presente. 
Em remissão completa: Depois de terem sido preenchidos 
previamente todos os critérios para anorexia nervosa, 
nenhum dos critérios foi mais satisfeito por um período 
sustentado. 
Especificar a gravidade atual: 
O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice 
de massa corporal (IMC) atual ou, para crianças e 
adolescentes, no percentil do IMC. Os intervalos abaixo são 
derivados das categorias da Organização Mundial da Saúde 
para baixo peso em adultos; para crianças e adolescentes, 
os percentisdo IMC correspondentes devem ser usados. O 
 
3 Fernanda E. Bocutti T6 
nível de gravidade pode ser aumentado de maneira a refletir 
sintomas clínicos, o grau de incapacidade funcional e a 
necessidade de supervisão. 
Leve: IMC ≥ 17 kg/m2 
Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2 
Grave: IMC 15-15,99 kg/m2 
Extrema: IMC < 15 kg/m2 
Subtipos 
1. Restrição alimentar: presente em 50% dos casos, a 
ingestão alimentar é muito restrita, e o paciente pode 
ser incansável e compulsivamente hiperativo, com 
lesões esportivas por esforços excessivos. 
2. Purgativo: os indivíduos alternam tentativas de dietas 
rigorosas com compulsão intermitente ou episódios de 
purgação. A purgação representa uma compensação 
secundária para as calorias indesejadas, muitas vezes 
realizada por meio de vômito autoinduzido, com 
frequência por uso de laxantes, menos frequentemente 
por diuréticos, e algumas vezes com eméticos. Existem 
casos de purgação repetitiva sem compulsão alimentar 
prévia, após a ingestão de bem poucas calorias. Ambos 
os tipos podem ser socialmente isolados e com sintomas 
de transtorno depressivo e diminuição do interesse 
sexual. Exercício em excesso e traços perfeccionistas 
também são comuns em ambos os tipos. 
3. Compulsão alimentar: ataques episódicos com a ingestão 
de quantidades excessivas de comida, mas sem 
purgação ou comportamento compensatório similar. 
O exame do estado mental costuma mostrar um indivíduo 
alerta, com conhecimentos sobre o tema da nutrição e que 
é preocupado com alimentos e peso. O paciente deve passar 
por um exame físico geral e neurológico completo. Se 
estiver vomitando, uma alcalose hipocalêmica pode estar 
presente. Uma vez que a maioria dos pacientes está 
desidratada, os níveis de eletrólitos séricos devem ser 
determinados no início e periodicamente. Poderá ser 
necessária hospitalização para lidar com as complicações 
clínicas. 
Patologia e exames laboratoriais 
- Hemograma completo com frequência releva leucopenia 
com linfocitose relativa em pacientes emaciadas com 
anorexia nervosa 
- Se estiver presente compulsão alimentar e purgação, a 
determinação dos eletrólitos séricos revela alcalose 
hipocalêmica. 
As concentrações séricas de glicemia de jejum são 
frequentemente baixas durante a fase emaciada, e as 
concentrações séricas de amilase salivar costumam ser 
elevadas se a paciente estiver vomitando. 
O ECG pode apresentar alterações no segmento ST e na 
onda T, que são, em geral, secundárias a distúrbios 
eletrolíticos; pacientes emaciadas tem hipotensão e 
bradicardia. 
Garotas jovens podem ter um nível alto de colesterol sérico. 
Todos esses valores voltam ao normal com reabilitação 
nutricional e cessação dos comportamentos de purga. As 
alterações endócrinas que podem ocorrer, como 
amenorreia, hipotiroidismo leve e hipersecreção do hormônio 
liberador da corticotrofina, são causadas pela condição 
abaixo do peso e voltam ao normal com o ganho de peso 
Diagnóstico diferencial 
- É complicado pela negação dos sintomas por parte das 
pacientes, pelo sigilo em torno de seus rituais alimentares 
bizarros e por sua resistência em procurar tratamento. 
- Os clínicos devem averiguar se a paciente tem alguma 
doença clínica que possa justificar a perda de peso. Perda 
de peso, comportamentos alimentares peculiares e vômitos 
podem ocorrer em diversos transtornos mentais. 
Os transtornos depressivos e a anorexia nervosa têm 
várias características em comum, como sentimentos 
depressivos, crises de choro, distúrbios do sono, ruminações 
obsessivas e pensamentos suicidas ocasionais. 
Esses dois transtornos têm características distintas: um 
paciente com transtorno depressivo afirma ter redução de 
apetite enquanto um com anorexia nervosa afirma ter 
apetite normal e sentir fome; A preocupação com receitas, 
o conteúdo calórico dos alimentos e o preparo de banquetes 
gourmet é típica de pacientes com anorexia nervosa, mas 
está ausente nos que sofrem de um transtorno depressivo. 
Nos transtornos depressivos, os pacientes não têm medo 
intenso da obesidade ou perturbação da imagem corporal. 
Flutuações no peso, vômitos e manejo peculiar do alimento 
podem ocorrer no transtorno de sintomas sintomáticos. Em 
raras ocasiões, uma paciente preenche os critérios 
 
4 Fernanda E. Bocutti T6 
diagnósticos tanto para transtorno de sintomas somáticos 
como para anorexia nervosa; nesse caso, os dois 
diagnósticos devem ser feitos. 
Amenorreia por três meses ou mais é incomum no 
transtorno de sintomas somáticos. Em pacientes com 
esquizofrenia, os delírios sobre comida raramente estão 
relacionados ao conteúdo calórico. É mais provável que 
acredite que o alimento esteja envenenado. Indivíduos com 
esquizofrenia raramente têm preocupação com a 
possibilidade de se tornarem obesos e não apresentam a 
hiperatividade que é vista naqueles com anorexia nervosa. 
Pacientes com esquizofrenia têm hábitos alimentares 
bizarros, mas não a síndrome inteira da anorexia nervosa. 
A anorexia nervosa deve ser diferenciada da bulimia 
nervosa, um transtorno no qual ocorre compulsão alimentar 
episódica, seguida de humor deprimido, pensamentos 
autodepreciativos e vômito autoinduzido, enquanto os 
pacientes mantêm seu peso em uma variação normal. 
Pacientes com bulimia nervosa raramente perdem 15% de 
seu peso, mas as duas condições com frequência coexistem. 
ão encontradas condições raras de etiologia desconhecida 
nas quais a hiperatividade do nervo vago causa alterações 
nos padrões alimentares que estão associadas com perda 
de peso, às vezes em grau elevado. Em tais casos, são 
observados bradicardia, hipotensão e outros sinais e 
sintomas parassimpatomiméticos. Visto que o nervo vago 
está relacionado ao sistema nervoso entérico, comer pode 
estar associado a desconforto gástrico, como náusea ou 
inchaço. Os pacientes geralmente não perdem o apetite. O 
tratamento é sintomático, e drogas anticolinérgicas podem 
reverter a hipotensão e a bradicardia, que podem 
representar risco de morte. 
 
Tratamento 
Em vista das complicadas implicações psicológicas e médicas 
da anorexia nervosa, é recomendado um plano de 
tratamento abrangente, incluindo hospitalização, quando 
necessário, e terapia individual e familiar. São usadas 
abordagens comportamental, interpessoal e cognitiva e pode 
ser indicada medicação. 
Psicoterapia 
- Terapia cognitivo-comportamental 
- Psicoterapia dinâmica 
- Terapia familiar 
- Farmacoterapia 
Bulimia Nervosa 
- É caracterizada por episódios de compulsão alimentar 
combinados com formas inapropriadas de interromper o 
ganho de peso. O desconforto físico interrompe a 
compulsão alimentar que é frequentemente acompanhada 
de sentimento de culpa, depressão ou autoindignação. 
Diferentemente das pacientes com anorexia nervosa, 
aquelas com bulimia nervosa em geral mantém um peso 
corporal normal. 
Epidemiologia 
Bulimia nervosa é mais prevalente do que anorexia nervosa. 
Variam de 1 a 4% em mulheres jovens. Conforme ocorre 
com a anorexia nervosa é comum mais em mulheres que em 
homens, mas seu início costuma ser mais no fim da 
adolescência comparado ao início da anorexia. O início 
também pode ocorrer no momento durante a época da 
universidade. 
Etiologia 
- Fatores biológicos: Como os antidepressivos 
frequentemente beneficiam pacientes com bulimia nervosa, 
e como a serotonina foi associada à saciedade, a serotonina 
e a norepinefrina foram implicadas. Visto que os níveis 
plasmáticos de endorfina são elevados em algumas 
pacientes com bulimia nervosa que vomitam, o sentimento 
de bem-estar após o vômito que algumas delas 
experimentam pode ser mediado pela elevação dos níveis de 
endorfina. É encontrada frequência aumentada de bulimia 
nervosa em parentes em primeiro grau de pessoas com o 
transtorno. 
 
- Fatores sociais: pacientes com bulimia nervosa, assim como 
aquelas com anorexia nervosa, tendem a ser pessoas com 
alto desempenho e a responder às pressões sociais de ser 
esbeltas. Assim comoaquelas com anorexia nervosa, muitas 
com bulimia nervosa são deprimidas e têm maior depressão 
familiar, mas as famílias das que têm bulimia são em geral 
menos próximas e com mais conflitos do que as daquelas 
com anorexia. As que sofrem com bulimia descrevem seus 
pais como negligentes ou rejeitadores. 
 
5 Fernanda E. Bocutti T6 
- Fatores psicológicos: Pacientes com bulimia nervosa 
carecem do controle do superego 
e da força de ego das suas contrapartidas com anorexia 
nervosa. Suas dificuldades no controle dos impulsos são com 
frequência manifestadas por dependência de substância e 
relações sexuais autodestrutivas, além de pela compulsão 
alimentar e purga que caracterizam o transtorno. Muitas 
pacientes com bulimia nervosa têm história de dificuldades 
de separação dos cuidadores, manifestadas pela ausência de 
objetos transicionais durante seus primeiros anos na 
infância. Alguns clínicos observaram que essas pacientes 
usam o próprio corpo como objeto transicional. O esforço 
pela separação de uma figura materna é encenado na 
ambivalência em relação à comida; comer representa um 
desejo de se fundir com o cuidador, e regurgitar expressa 
inconscientemente um desejo de separação. 
Diagnóstico e características clínicas 
A bulimia nervosa está presente quando: 
1. Episódios de compulsão alimentar ocorrem com relativa 
frequência por pelo menos três meses 
2. São praticados comportamentos compensatórios depois 
da compulsão alimentar para impedir o ganho de peso, 
sobretudo vômito autoinduzido, abusos laxativos, 
diuréticos, enemas, abuso de eméticos, e menos 
comumente dieta severa com exercícios extenuante. 
3. O peso não é reduzido de forma drástica como na 
anorexia nervosa 
4. A paciente tem um medo mórbido de obesidade, um 
ímpeto incessante pela magreza, ou ambos, e uma 
autoavaliação desproporcional que depende do peso e da 
forma corporal. 
Os clínicos devem explorar a possibilidade de que a paciente 
tenha passado por um episódio anterior breve ou prolongado 
de anorexia nervosa. 
Os vômitos são comuns e costumam ser induzidos pela 
inserção de um dedo no fundo da garganta, embora algumas 
pacientes consigam vomitar quando querem. O vômito reduz 
a dor abdominal e a sensação de inchaço e permite que 
continuem a comer sem medo de ganhar peso. O conteúdo 
ácido do vômito pode causar danos ao esmalte dos dentes, 
um achado nada incomum em pessoas com o transtorno. 
Depressão, por vezes denominada angústia pós-compulsão, 
frequentemente se segue ao episódio. Durante os episódios 
de compulsão alimentar, as pacientes comem doces, 
alimentos com alto teor calórico e, em geral, macios ou 
texturizados, como bolos e massas. Algumas pre-ferem 
alimentos volumosos sem levar em conta o sabor. O alimento 
é comido rapidamente às escondidas e às vezes nem mesmo 
é mastigado. 
 
Critérios diagnósticos 
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um 
episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos 
seguintes aspectos: 
1. Ingestão, em um período de tempo determinado (p. ex., 
dentro de cada período de duas horas), de uma 
quantidade de alimento definitivamente maior do que a 
maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob 
circunstâncias semelhantes. 
2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante 
o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de 
comer ou controlar o que e o quanto está ingerindo) 
B. Comportamentos compensatórios inapropriados 
recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como 
vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, 
diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício 
em excesso. 
C. A compulsão alimentar e os comportamentos 
compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no 
mínimo uma vez por semana durante três meses. 
D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma 
e pelo peso corporais. 
E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante 
episódios de anorexia nervosa. 
Especificar se: 
Em remissão parcial: Depois de todos os critérios para 
bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, alguns, 
mas não todos os critérios, foram preenchidos por um 
período de tempo sustentado. 
Em remissão completa: Depois de todos os critérios para 
bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, 
nenhum dos critérios foi preenchido por um período de 
tempo sustentado. 
Especificar a gravidade atual: 
O nível mínimo de gravide baseia-se na frequência dos 
comportamentos compensatórios (ver a seguir). O nível de 
gravidade pode ser elevado de maneira a refletir outros 
sintomas e o grau de incapacidade funcional. 
 
6 Fernanda E. Bocutti T6 
Leve: Média de 1 a 3 episódios de comportamentos 
compensatórios inapropriados por semana. 
Moderada: Média de 4 a 7 episódios de comportamentos 
compensatórios inapropriados por semana. 
Grave: Média de 8 a 13 episódios de comportamentos 
compensatórios inapropriados por semana. Extrema: Média 
de 14 ou mais comportamentos compensatórios 
inapropriados por semana. 
A maioria das pacientes com bulimia nervosa está em sua 
variação normal de peso, mas algumas podem estar abaixo 
do peso ou com sobrepeso. Essas pacientes são 
preocupadas com sua imagem corporal e aparência, com a 
forma como os outros as veem e com sua atratividade 
sexual. A maioria é sexualmente ativa, em comparação com 
as pacientes que apresentam anorexia nervosa, que não são 
interessadas em sexo. Pica e discussões durante as 
refeições são por vezes reveladas nas histórias de 
pacientes com bulimia nervosa. A bulimia nervosa ocorre em 
pessoas com altas taxas de transtornos do humor e 
transtornos do controle de impulsos. Também é reportada a 
ocorrência de bulimia naquelas em risco de transtornos 
relacionados ao uso de substância e a uma variedade de 
transtornos da personalidade. Pacientes com essa condição 
também têm taxas mais elevadas de transtornos de 
ansiedade, transtorno bipolar I, transtornos dissociativos e 
história de abuso sexual. 
 
Subtipos 
Evidências indicam que as pessoas bulímicas que purgam 
diferem daquelas com compulsão alimentar que não purgam, 
uma vez que estas últimas tendem a ter menor 
perturbação da imagem corporal e menos ansiedade em 
relação à alimentação. Aquelas com bulimia nervosa que não 
purgam tendem a ser obesas. Também existem diferenças 
fisiológicas entre pessoas com bulimia que purgam e aquelas 
que não purgam. Devido a todas essas diferenças, o 
diagnóstico de bulimia nervosa é dividido em subtipos: tipo 
purgativo, para aquelas que regularmente se engajam em 
vômito autoinduzido ou no uso de laxantes ou diuréticos, e 
tipo não purgativo, para aquelas que usam dieta restritiva, 
jejum ou exercícios vigorosos, mas não se engajam com 
regularidade em purga. As pacientes que purgam podem ter 
um curso diferente daquelas que têm compulsão alimentar e 
depois fazem dieta ou exercícios. Pacientes com o tipo 
purgativo podem estar em risco para certas complicações 
médicas, como hipocalemia por vômito ou abuso de laxativos 
e alcalose hipoclorêmica. Aquelas que vomitam 
repetidamente estão em risco de rupturas gástricas ou 
esofágicas, embora essas complicações sejam raras. 
Patologia e exames laboratoriais 
A bulimia nervosa pode resultar em anormalidades 
eletrolíticas e graus variados de inanição, ainda que isso 
possa não ser tão óbvio quando em pacientes de baixo peso 
com anorexia. Portanto, mesmo pacientes de peso normal 
com bulimia nervosa devem se submeter a estudos 
laboratoriais de eletrólitos e metabolismo. Em geral, a função 
da tireoide permanece intacta na bulimia nervosa, mas as 
pacientes podem apresentar não supressão em um teste 
de supressão da dexametasona. Desidratação e distúrbios 
eletrolíticos têm grandes chances de ocorrer em pacientes 
com bulimia nervosa que purgam regularmente. Essas 
pacientes costumam exibir hipomagnesemia e 
hiperamilasemia. Embora não seja uma característica 
diagnóstica central, muitas pacientes com esse transtorno 
têm distúrbios menstruais. Hipotensão e bradicardiaocorrem 
em alguns casos. 
 
Diagnóstico diferencial 
O diagnóstico de bulimia nervosa não pode ser feito se os 
comportamentos de compulsão alimentar e purgação 
ocorrerem exclusivamente durante episódios de anorexia 
nervosa. Em tais casos, o diagnóstico será anorexia nervosa, 
tipo compulsão alimentar purgativa. Os clínicos devem se 
certificar de que as pacientes não têm doença neurológica, 
como convulsões equivalentes a epilepsia, tumores do 
sistema nervoso central, síndrome de Klüver-Bucy ou 
síndrome de Kleine-Levin. As características patológicas 
manifestadas 
pela síndrome de Klüver-Bucy são agnosia visual, lamber e 
morder, exame de objetos por meio da boca, incapacidade 
de ignorar qualquer estímulo, comportamento sexual 
alterado (hipersexualidade) e hábitos alimentares alterados, 
em especial hiperfagia. A síndrome é extremamente rara e 
é improvável que cause um problema no diagnóstico 
diferencial. A síndrome de Klein-Levin consiste em hipersônia 
periódica durando de 2 a 3 semanas e hiperfagia. Como na 
bulimia nervosa, o início costuma ocorrer durante a 
adolescência, mas a síndrome é mais comum em homens do 
que em mulheres. Pacientes com bulimia nervosa que têm 
transtorno afetivo sazonal concomitante e padrões de 
 
7 Fernanda E. Bocutti T6 
depressão atípica (com ingestão excessiva e sono excessivo 
em meses com pouca luz) podem manifestar piora sazonal 
com características de bulimia nervosa e depressivas. 
Nesses casos, os ataques costumam ser muito mais graves 
durante os meses do inverno. Terapia com luz brilhante 
(10.000 lux por 30 minutos no início da manhã, a 45 a 55 
cm dos olhos) pode ser um componente útil do tratamento 
abrangente de um transtorno alimentar com transtorno 
afetivo sazonal. Algumas pacientes com bulimia nervosa – 
talvez 15% – apresentam múltiplos comportamentos 
compulsivos comórbidos, incluindo abuso de substância, e 
falta de capacidade de se controlar em áreas diversas, 
como na administração do próprio dinheiro (resultando em 
compras impulsivas e compulsivas) e em relações sexuais 
(muitas vezes resultando em vínculos passionais breves e 
promiscuidade). Elas exibem automutilação, emoções caóticas 
e padrões de sono caóticos. Com frequência, satisfazem os 
critérios para transtorno da personalidade borderline e 
outros transtornos mistos da personalidade e, não 
raramente, transtorno bipolar II. 
 
Tratamento 
- Na maioria das vezes não requer hospitalização 
Psicoterapia 
- Terapia cognitivo-comportamental 
- Psicoterapia dinâmica 
Farmacoterapia 
- Medicamentos antidepressivos, entre eles os inibidores 
seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como a 
fluoxetina, revelaram--se úteis no tratamento da bulimia.

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