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1 Fernanda E. Bocutti T6 Transtornos alimentares Anorexia nervosa - Síndrome caracterizada por três critérios essenciais: 1. Inanição autoinduzida até um grau significativo (comportamento) 2. Busca incessante por magreza ou medo mórbido de engordar (psicopatologia) 3. Presença de sinais e sintomas resultantes da inanição (sintomatologia fisiológica) Essa síndrome está associada a distúrbios de imagem corporal, mas nem sempre é relacionada a isso. A distorção de imagem corporal não é patognomônica, invariável ou necessária para o diagnóstico - Existem dois subtipos de anorexia nervosa: 1. Restritiva 2. Compulsão alimentar purgativa Aproximadamente metade das pessoas anoréxicas irá perder peso reduzindo de forma drástica sua ingestão alimentar. A outra metade não só fará dieta como também se envolverá com regularidade em compulsão alimentar seguida de comportamentos purgativos. Alguns pacientes rotineiramente purgam depois de ingerir pequenas quantidades de comida. Epidemiologia - Época mais comum de início é na metade da adolescência, mas até 5% dos pacientes anoréxicos têm início do transtorno no começo da década dos 20 anos. - Idade mais comum de início é entre 14 e 18 anos. - Anorexia nervosa ocorra em aproximadamente 0,5 a 1% das meninas adolescentes. - É 10 a 20x mais frequente em mulheres do que em homens. A prevalência de mulheres jovens com alguns sintomas de anorexia nervosa que não preenchem os critérios diagnósticos é estimada em cerca de 5%. - É mais frequente em países desenvolvidos e pode ser mais observado entre mulheres jovens em profissões que requerem magreza como modelos ou bailarinas. Etiologia Fatores biológicos, sociais e psicológicos estão implicados nas causas de anorexia nervosa. Fatores biológicos - Opioides endógenos podem contribuir para a negação da fome em indivíduos com anorexia nervosa - Estudos preliminares mostram ganho de peso substancial em alguns pacientes que recebem antagonistas opiáceos. - A inanição acarreta muitas alterações bioquímicas, algumas das quais também estão presentes na depressão como hipercortisolemia e não supressão pela dexametasona. - A função da tireoide também é suprimida Essas anormalidades são corrigidas pela realimentação - A inanição pode produzir amenorreia, que reflete a redução nos níveis hormonais. Algumas pacientes com anorexia nervosa, podem se tornar amenorreicas antes de uma perda de peso significativa. - Tomografias computadorizadas revelam espaços aumentados com LCS (sulcos e ventrículos aumentados) em pacientes anoréxicos durante a inanição, um achado que é revertido pelo ganho de peso. Em um estudo com tomografia por emissão de pósitrons, o metabolismo do núcleo caudado era mais alto no estado anoréxico do que depois da realimentação - Alguns estudos apresentam evidências de disfunção na serotonina, dopamina e norepinefrina, três neurotransmissores envolvidos na regulação do comportamento de alimentação no núcleo paraventricular do hipotálamo. Outros fatores humorais que podem estar envolvidos incluem o fator liberador de corticotrofina, o neuropeptídeo Y, hormônio liberador de gonadotrofina e o hormônio estimulador da tireoide. Fatores sociais Indivíduos com anorexia nervosa encontram apoio para suas práticas na ênfase que a sociedade coloca na magreza e no exercício. Em mulheres jovens, a participação em escolas de Ballet rigorosas aumenta a possibilidade de desenvolvimento de anorexia nervosa em pelo menos 7 vezes. Em meninos do ensino médio a luta está associada a uma prevalência de 17% para síndromes de transtorno alimentar completo ou TBL – caso 2 2 Fernanda E. Bocutti T6 parcial durante a temporada de lutas, com uma minoria desenvolvendo um transtorno alimentar e não melhorando de maneira espontânea no fim do treinamento. Fatores psicológicos e psicodinâmicos A anorexia nervosa parece ser uma reação à demanda de que os adolescentes se comportem de forma mais independente e aumentem seu funcionamento social e sexual. Indivíduos com o transtorno substituem as preocupações adolescentes normais por outras precauções, que são semelhantes a obsessões, com a alimentação e o ganho de peso Diagnóstico e características clínicas - O início da anorexia nervosa costuma ocorrer entre 10 e 30 anos de idade. Ela está presente quando o indivíduo voluntariamente reduz e mantém um grau doentio de perda de peso ou não consegue ganhar peso proporcional ao crescimento; o indivíduo experimenta um medo intenso de engordar, tem uma busca incessante por magreza apesar da inanição, de forma frequente, mas não exclusiva, funcionamento anormal do hormônio reprodutivo, mas também hipotermia, bradicardia, ortostase e reservas de gordura corporal severamente reduzidas e os comportamentos e a psicopatologia estão presentes por pelo menos 3 meses. Um medo intenso de ganhar peso e ficar obeso está presente em todos os indivíduos com o transtorno e, sem dúvida, nenhuma contribui para a falta de interesse em, e até mesmo resistência a terapia. Um comportamento mais aberrante direcionado para a perda de peso ocorre em segredo. Pessoas com anorexia nervosa em geral se recusam a fazer refeições com sua família ou em lugares públicos. Elas perdem peso reduzindo drasticamente sua ingestão alimentar total, com diminuição desproporcional dos alimentos com alto teor de carboidratos e gordura. Critérios diagnósticos A. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado. B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo. C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual. Nota para codificação: O código da CID-9-MC para anorexia nervosa é 307.1, atribuído independentemente do subtipo. O código da CID-10-MC depende do subtipo Determinar o subtipo: (F50.01) Tipo restritivo: Durante os últimos três meses, o indivíduo não se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve apresentações nas quais a perda de peso seja conseguida essencialmente por meio de dieta, jejum e/ou exercício excessivo. (F50.02) Tipo compulsão alimentar purgativa: Nos últimos três meses, o indivíduo se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Especificar se: Em remissão parcial: Depois de terem sido preenchidos previamente todos os critérios para anorexia nervosa, o Critério A (baixo peso corporal) não foi mais satisfeito por um período sustentado, porém ou o Critério B (medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento que interfere no ganho de peso), ou o Critério C (perturbações na autopercepção do peso e da forma) ainda está presente. Em remissão completa: Depois de terem sido preenchidos previamente todos os critérios para anorexia nervosa, nenhum dos critérios foi mais satisfeito por um período sustentado. Especificar a gravidade atual: O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice de massa corporal (IMC) atual ou, para crianças e adolescentes, no percentil do IMC. Os intervalos abaixo são derivados das categorias da Organização Mundial da Saúde para baixo peso em adultos; para crianças e adolescentes, os percentisdo IMC correspondentes devem ser usados. O 3 Fernanda E. Bocutti T6 nível de gravidade pode ser aumentado de maneira a refletir sintomas clínicos, o grau de incapacidade funcional e a necessidade de supervisão. Leve: IMC ≥ 17 kg/m2 Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2 Grave: IMC 15-15,99 kg/m2 Extrema: IMC < 15 kg/m2 Subtipos 1. Restrição alimentar: presente em 50% dos casos, a ingestão alimentar é muito restrita, e o paciente pode ser incansável e compulsivamente hiperativo, com lesões esportivas por esforços excessivos. 2. Purgativo: os indivíduos alternam tentativas de dietas rigorosas com compulsão intermitente ou episódios de purgação. A purgação representa uma compensação secundária para as calorias indesejadas, muitas vezes realizada por meio de vômito autoinduzido, com frequência por uso de laxantes, menos frequentemente por diuréticos, e algumas vezes com eméticos. Existem casos de purgação repetitiva sem compulsão alimentar prévia, após a ingestão de bem poucas calorias. Ambos os tipos podem ser socialmente isolados e com sintomas de transtorno depressivo e diminuição do interesse sexual. Exercício em excesso e traços perfeccionistas também são comuns em ambos os tipos. 3. Compulsão alimentar: ataques episódicos com a ingestão de quantidades excessivas de comida, mas sem purgação ou comportamento compensatório similar. O exame do estado mental costuma mostrar um indivíduo alerta, com conhecimentos sobre o tema da nutrição e que é preocupado com alimentos e peso. O paciente deve passar por um exame físico geral e neurológico completo. Se estiver vomitando, uma alcalose hipocalêmica pode estar presente. Uma vez que a maioria dos pacientes está desidratada, os níveis de eletrólitos séricos devem ser determinados no início e periodicamente. Poderá ser necessária hospitalização para lidar com as complicações clínicas. Patologia e exames laboratoriais - Hemograma completo com frequência releva leucopenia com linfocitose relativa em pacientes emaciadas com anorexia nervosa - Se estiver presente compulsão alimentar e purgação, a determinação dos eletrólitos séricos revela alcalose hipocalêmica. As concentrações séricas de glicemia de jejum são frequentemente baixas durante a fase emaciada, e as concentrações séricas de amilase salivar costumam ser elevadas se a paciente estiver vomitando. O ECG pode apresentar alterações no segmento ST e na onda T, que são, em geral, secundárias a distúrbios eletrolíticos; pacientes emaciadas tem hipotensão e bradicardia. Garotas jovens podem ter um nível alto de colesterol sérico. Todos esses valores voltam ao normal com reabilitação nutricional e cessação dos comportamentos de purga. As alterações endócrinas que podem ocorrer, como amenorreia, hipotiroidismo leve e hipersecreção do hormônio liberador da corticotrofina, são causadas pela condição abaixo do peso e voltam ao normal com o ganho de peso Diagnóstico diferencial - É complicado pela negação dos sintomas por parte das pacientes, pelo sigilo em torno de seus rituais alimentares bizarros e por sua resistência em procurar tratamento. - Os clínicos devem averiguar se a paciente tem alguma doença clínica que possa justificar a perda de peso. Perda de peso, comportamentos alimentares peculiares e vômitos podem ocorrer em diversos transtornos mentais. Os transtornos depressivos e a anorexia nervosa têm várias características em comum, como sentimentos depressivos, crises de choro, distúrbios do sono, ruminações obsessivas e pensamentos suicidas ocasionais. Esses dois transtornos têm características distintas: um paciente com transtorno depressivo afirma ter redução de apetite enquanto um com anorexia nervosa afirma ter apetite normal e sentir fome; A preocupação com receitas, o conteúdo calórico dos alimentos e o preparo de banquetes gourmet é típica de pacientes com anorexia nervosa, mas está ausente nos que sofrem de um transtorno depressivo. Nos transtornos depressivos, os pacientes não têm medo intenso da obesidade ou perturbação da imagem corporal. Flutuações no peso, vômitos e manejo peculiar do alimento podem ocorrer no transtorno de sintomas sintomáticos. Em raras ocasiões, uma paciente preenche os critérios 4 Fernanda E. Bocutti T6 diagnósticos tanto para transtorno de sintomas somáticos como para anorexia nervosa; nesse caso, os dois diagnósticos devem ser feitos. Amenorreia por três meses ou mais é incomum no transtorno de sintomas somáticos. Em pacientes com esquizofrenia, os delírios sobre comida raramente estão relacionados ao conteúdo calórico. É mais provável que acredite que o alimento esteja envenenado. Indivíduos com esquizofrenia raramente têm preocupação com a possibilidade de se tornarem obesos e não apresentam a hiperatividade que é vista naqueles com anorexia nervosa. Pacientes com esquizofrenia têm hábitos alimentares bizarros, mas não a síndrome inteira da anorexia nervosa. A anorexia nervosa deve ser diferenciada da bulimia nervosa, um transtorno no qual ocorre compulsão alimentar episódica, seguida de humor deprimido, pensamentos autodepreciativos e vômito autoinduzido, enquanto os pacientes mantêm seu peso em uma variação normal. Pacientes com bulimia nervosa raramente perdem 15% de seu peso, mas as duas condições com frequência coexistem. ão encontradas condições raras de etiologia desconhecida nas quais a hiperatividade do nervo vago causa alterações nos padrões alimentares que estão associadas com perda de peso, às vezes em grau elevado. Em tais casos, são observados bradicardia, hipotensão e outros sinais e sintomas parassimpatomiméticos. Visto que o nervo vago está relacionado ao sistema nervoso entérico, comer pode estar associado a desconforto gástrico, como náusea ou inchaço. Os pacientes geralmente não perdem o apetite. O tratamento é sintomático, e drogas anticolinérgicas podem reverter a hipotensão e a bradicardia, que podem representar risco de morte. Tratamento Em vista das complicadas implicações psicológicas e médicas da anorexia nervosa, é recomendado um plano de tratamento abrangente, incluindo hospitalização, quando necessário, e terapia individual e familiar. São usadas abordagens comportamental, interpessoal e cognitiva e pode ser indicada medicação. Psicoterapia - Terapia cognitivo-comportamental - Psicoterapia dinâmica - Terapia familiar - Farmacoterapia Bulimia Nervosa - É caracterizada por episódios de compulsão alimentar combinados com formas inapropriadas de interromper o ganho de peso. O desconforto físico interrompe a compulsão alimentar que é frequentemente acompanhada de sentimento de culpa, depressão ou autoindignação. Diferentemente das pacientes com anorexia nervosa, aquelas com bulimia nervosa em geral mantém um peso corporal normal. Epidemiologia Bulimia nervosa é mais prevalente do que anorexia nervosa. Variam de 1 a 4% em mulheres jovens. Conforme ocorre com a anorexia nervosa é comum mais em mulheres que em homens, mas seu início costuma ser mais no fim da adolescência comparado ao início da anorexia. O início também pode ocorrer no momento durante a época da universidade. Etiologia - Fatores biológicos: Como os antidepressivos frequentemente beneficiam pacientes com bulimia nervosa, e como a serotonina foi associada à saciedade, a serotonina e a norepinefrina foram implicadas. Visto que os níveis plasmáticos de endorfina são elevados em algumas pacientes com bulimia nervosa que vomitam, o sentimento de bem-estar após o vômito que algumas delas experimentam pode ser mediado pela elevação dos níveis de endorfina. É encontrada frequência aumentada de bulimia nervosa em parentes em primeiro grau de pessoas com o transtorno. - Fatores sociais: pacientes com bulimia nervosa, assim como aquelas com anorexia nervosa, tendem a ser pessoas com alto desempenho e a responder às pressões sociais de ser esbeltas. Assim comoaquelas com anorexia nervosa, muitas com bulimia nervosa são deprimidas e têm maior depressão familiar, mas as famílias das que têm bulimia são em geral menos próximas e com mais conflitos do que as daquelas com anorexia. As que sofrem com bulimia descrevem seus pais como negligentes ou rejeitadores. 5 Fernanda E. Bocutti T6 - Fatores psicológicos: Pacientes com bulimia nervosa carecem do controle do superego e da força de ego das suas contrapartidas com anorexia nervosa. Suas dificuldades no controle dos impulsos são com frequência manifestadas por dependência de substância e relações sexuais autodestrutivas, além de pela compulsão alimentar e purga que caracterizam o transtorno. Muitas pacientes com bulimia nervosa têm história de dificuldades de separação dos cuidadores, manifestadas pela ausência de objetos transicionais durante seus primeiros anos na infância. Alguns clínicos observaram que essas pacientes usam o próprio corpo como objeto transicional. O esforço pela separação de uma figura materna é encenado na ambivalência em relação à comida; comer representa um desejo de se fundir com o cuidador, e regurgitar expressa inconscientemente um desejo de separação. Diagnóstico e características clínicas A bulimia nervosa está presente quando: 1. Episódios de compulsão alimentar ocorrem com relativa frequência por pelo menos três meses 2. São praticados comportamentos compensatórios depois da compulsão alimentar para impedir o ganho de peso, sobretudo vômito autoinduzido, abusos laxativos, diuréticos, enemas, abuso de eméticos, e menos comumente dieta severa com exercícios extenuante. 3. O peso não é reduzido de forma drástica como na anorexia nervosa 4. A paciente tem um medo mórbido de obesidade, um ímpeto incessante pela magreza, ou ambos, e uma autoavaliação desproporcional que depende do peso e da forma corporal. Os clínicos devem explorar a possibilidade de que a paciente tenha passado por um episódio anterior breve ou prolongado de anorexia nervosa. Os vômitos são comuns e costumam ser induzidos pela inserção de um dedo no fundo da garganta, embora algumas pacientes consigam vomitar quando querem. O vômito reduz a dor abdominal e a sensação de inchaço e permite que continuem a comer sem medo de ganhar peso. O conteúdo ácido do vômito pode causar danos ao esmalte dos dentes, um achado nada incomum em pessoas com o transtorno. Depressão, por vezes denominada angústia pós-compulsão, frequentemente se segue ao episódio. Durante os episódios de compulsão alimentar, as pacientes comem doces, alimentos com alto teor calórico e, em geral, macios ou texturizados, como bolos e massas. Algumas pre-ferem alimentos volumosos sem levar em conta o sabor. O alimento é comido rapidamente às escondidas e às vezes nem mesmo é mastigado. Critérios diagnósticos A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: 1. Ingestão, em um período de tempo determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. 2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto está ingerindo) B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso. C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses. D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais. E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. Especificar se: Em remissão parcial: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, alguns, mas não todos os critérios, foram preenchidos por um período de tempo sustentado. Em remissão completa: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, nenhum dos critérios foi preenchido por um período de tempo sustentado. Especificar a gravidade atual: O nível mínimo de gravide baseia-se na frequência dos comportamentos compensatórios (ver a seguir). O nível de gravidade pode ser elevado de maneira a refletir outros sintomas e o grau de incapacidade funcional. 6 Fernanda E. Bocutti T6 Leve: Média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. Moderada: Média de 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. Grave: Média de 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. Extrema: Média de 14 ou mais comportamentos compensatórios inapropriados por semana. A maioria das pacientes com bulimia nervosa está em sua variação normal de peso, mas algumas podem estar abaixo do peso ou com sobrepeso. Essas pacientes são preocupadas com sua imagem corporal e aparência, com a forma como os outros as veem e com sua atratividade sexual. A maioria é sexualmente ativa, em comparação com as pacientes que apresentam anorexia nervosa, que não são interessadas em sexo. Pica e discussões durante as refeições são por vezes reveladas nas histórias de pacientes com bulimia nervosa. A bulimia nervosa ocorre em pessoas com altas taxas de transtornos do humor e transtornos do controle de impulsos. Também é reportada a ocorrência de bulimia naquelas em risco de transtornos relacionados ao uso de substância e a uma variedade de transtornos da personalidade. Pacientes com essa condição também têm taxas mais elevadas de transtornos de ansiedade, transtorno bipolar I, transtornos dissociativos e história de abuso sexual. Subtipos Evidências indicam que as pessoas bulímicas que purgam diferem daquelas com compulsão alimentar que não purgam, uma vez que estas últimas tendem a ter menor perturbação da imagem corporal e menos ansiedade em relação à alimentação. Aquelas com bulimia nervosa que não purgam tendem a ser obesas. Também existem diferenças fisiológicas entre pessoas com bulimia que purgam e aquelas que não purgam. Devido a todas essas diferenças, o diagnóstico de bulimia nervosa é dividido em subtipos: tipo purgativo, para aquelas que regularmente se engajam em vômito autoinduzido ou no uso de laxantes ou diuréticos, e tipo não purgativo, para aquelas que usam dieta restritiva, jejum ou exercícios vigorosos, mas não se engajam com regularidade em purga. As pacientes que purgam podem ter um curso diferente daquelas que têm compulsão alimentar e depois fazem dieta ou exercícios. Pacientes com o tipo purgativo podem estar em risco para certas complicações médicas, como hipocalemia por vômito ou abuso de laxativos e alcalose hipoclorêmica. Aquelas que vomitam repetidamente estão em risco de rupturas gástricas ou esofágicas, embora essas complicações sejam raras. Patologia e exames laboratoriais A bulimia nervosa pode resultar em anormalidades eletrolíticas e graus variados de inanição, ainda que isso possa não ser tão óbvio quando em pacientes de baixo peso com anorexia. Portanto, mesmo pacientes de peso normal com bulimia nervosa devem se submeter a estudos laboratoriais de eletrólitos e metabolismo. Em geral, a função da tireoide permanece intacta na bulimia nervosa, mas as pacientes podem apresentar não supressão em um teste de supressão da dexametasona. Desidratação e distúrbios eletrolíticos têm grandes chances de ocorrer em pacientes com bulimia nervosa que purgam regularmente. Essas pacientes costumam exibir hipomagnesemia e hiperamilasemia. Embora não seja uma característica diagnóstica central, muitas pacientes com esse transtorno têm distúrbios menstruais. Hipotensão e bradicardiaocorrem em alguns casos. Diagnóstico diferencial O diagnóstico de bulimia nervosa não pode ser feito se os comportamentos de compulsão alimentar e purgação ocorrerem exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. Em tais casos, o diagnóstico será anorexia nervosa, tipo compulsão alimentar purgativa. Os clínicos devem se certificar de que as pacientes não têm doença neurológica, como convulsões equivalentes a epilepsia, tumores do sistema nervoso central, síndrome de Klüver-Bucy ou síndrome de Kleine-Levin. As características patológicas manifestadas pela síndrome de Klüver-Bucy são agnosia visual, lamber e morder, exame de objetos por meio da boca, incapacidade de ignorar qualquer estímulo, comportamento sexual alterado (hipersexualidade) e hábitos alimentares alterados, em especial hiperfagia. A síndrome é extremamente rara e é improvável que cause um problema no diagnóstico diferencial. A síndrome de Klein-Levin consiste em hipersônia periódica durando de 2 a 3 semanas e hiperfagia. Como na bulimia nervosa, o início costuma ocorrer durante a adolescência, mas a síndrome é mais comum em homens do que em mulheres. Pacientes com bulimia nervosa que têm transtorno afetivo sazonal concomitante e padrões de 7 Fernanda E. Bocutti T6 depressão atípica (com ingestão excessiva e sono excessivo em meses com pouca luz) podem manifestar piora sazonal com características de bulimia nervosa e depressivas. Nesses casos, os ataques costumam ser muito mais graves durante os meses do inverno. Terapia com luz brilhante (10.000 lux por 30 minutos no início da manhã, a 45 a 55 cm dos olhos) pode ser um componente útil do tratamento abrangente de um transtorno alimentar com transtorno afetivo sazonal. Algumas pacientes com bulimia nervosa – talvez 15% – apresentam múltiplos comportamentos compulsivos comórbidos, incluindo abuso de substância, e falta de capacidade de se controlar em áreas diversas, como na administração do próprio dinheiro (resultando em compras impulsivas e compulsivas) e em relações sexuais (muitas vezes resultando em vínculos passionais breves e promiscuidade). Elas exibem automutilação, emoções caóticas e padrões de sono caóticos. Com frequência, satisfazem os critérios para transtorno da personalidade borderline e outros transtornos mistos da personalidade e, não raramente, transtorno bipolar II. Tratamento - Na maioria das vezes não requer hospitalização Psicoterapia - Terapia cognitivo-comportamental - Psicoterapia dinâmica Farmacoterapia - Medicamentos antidepressivos, entre eles os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como a fluoxetina, revelaram--se úteis no tratamento da bulimia.
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