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1 Marcella Carvalho 2021.2 1. Entender o ciclo circadiano do sono e alterações do sono em idosos, diagnóstico e tratamento. • O sono é um componente distinto e essencial do comportamento humano. Praticamente um terço de nossa vida é gasto dormindo. É um estado reversível de desligamento da percepção do ambiente, com modificação do nível de consciência e de resposta aos estímulos internos e externos. • É um processo ativo envolvendo múltiplos e complexos mecanismos fisiológicos e comportamentais em vários sistemas e regiões do sistema nervoso central e não é um estado único. Ele se divide em sono REM (do inglês, rapid eyes moviment = movimento rápido dos olhos) e sono não-REM. Esses dois estados se alternam durante a noite. • O sono REM é caracterizado por um padrão de baixa amplitude no eletroencefalograma (EEG), por uma atonia muscular e pela presença de movimento rápido dos olhos. O sono não-REM é caracterizado por padrões de ondas bem definidos (fusos e complexos K) e atividade de ondas lentas no EEG. • O sono é distribuído de forma distinta na porção escura do ciclo luz-escuridão. Essa regulação reflete mecanismos cerebrais básicos que possibilitam a organização circadiana tanto fisiológicos quanto comportamentais. • O sono de ondas lentas é mais evidenciado na infância e tem redução gradual com a idade. No caso do sono REM, a primeira infância dispõe de cerca de 50% de seu sono nesta fase, e a partir dessa idade até a velhice, a proporção deste sono permanece similar (20 a 25%). • Quanto às alterações fisiológicas do sono sobre os sistemas, têm-se: - Cardiovascular: decréscimo da PA e FC nos estágios NREM e variabilidade na fase REM; - Endócrino: aumento da secreção do GH na fase de sono lento/fase N3, assim como a secreção de melatonina pela glândula pineal. • O indivíduo normal costuma ter de 3 a 5 ciclos no sono das seguintes fases e ordens: NREM-1, 2 e 3, voltando novamente para o estágio 2 antes de entrar no estágio REM. O estágio N3 costuma ser mais intenso na primeira metade da noite e a REM na segunda. • Durante o envelhecimento, há alterações típicas no padrão de sono. A quantidade de tempo gasto nos estágios mais profundos do sono diminui, há um aumento associado de acordares e da quantidade de tempo total acordado durante a noite. Em parte, essas mudanças parecem representar uma perda da efetividade da regulação circadiana, devido à diminuição da população neuronal. • Modificações estruturais do sono ocorrem com o envelhecimento, como diminuição global de sono noturno, sendo que as pessoas mais idosas levam mais tempo na cama para alcançar a mesma quantidade de sono que eles obtinham quando eram mais jovens, enquanto o tempo total de sono está apenas levemente diminuído, com um aumento de despertares noturnos e de cochilos durante o dia. Observa-se que pessoas idosas são mais facilmente despertáveis do sono por estímulos auditivos, sugerindo aumentada sensibilidade aos estímulos ambientais. • Além disso, há o aumento do tempo de latência de adormecimento, ou seja, a capacidade de iniciar o sono diminui com a idade. O sono tende a ser mais superficial (aumento das fases I e II e encurtamento das fases de ondas lentas) e um pouco mais curto (diminuição de tempo total de sono). • O idoso também apresenta um avanço de fase circadiana, indo para a cama mais cedo e despertando precocemente. O ritmo circadiano sono-vigília sofre alguma degeneração com a idade, o que resulta em ritmos menos precisos. Ocorre também um gradual decréscimo em sua amplitude, que contribui de alguma forma para períodos sono-vigília menos consistentes em 24 horas. A secreção endógena de melatonina à noite também é reduzida com o avançar da idade. • Temos também com o envelhecimento a redução do limiar de despertar (predomínio das fases mais superficiais do sono NREM na segunda metade da noite e consequente diminuição do limiar do despertar devido a ruído, luminosidade e outros estímulos); a fragmentação do sono com várias interrupções (desregulação do relógio biológico circadiano e maior número de transições de um estágio para outro e para a vigília, aumento dos problemas respiratórios durante o sono); e a sonolência diurna • O envelhecer parece acentuar as queixas relacionadas ao sono, que quando desestruturado, pode acarretar doenças e originar problemas sociais ao paciente. O sono exerce papel importante na homeostasia, cujo desequilíbrio favorece o aparecimento de transtornos mentais, diminuição da competência imunológica, prejuízo no desempenho físico e dificuldades adaptativas, causando aumento da vulnerabilidade do organismo idoso e colocando sua vida em risco. • A má qualidade do sono em idosos acarreta sonolência excessiva diurna (SED) e aumento do número de cochilos diurnos, sensação pela manhã de sono não repousante, supressão imunitária, 2 Marcella Carvalho 2021.2 diminuição da capacidade física, quedas frequentes e declínio cognitivo que são marcadores de pobre qualidade de saúde física e mental e estão relacionados com baixa qualidade de vida. • Embora os idosos geralmente relatem suas queixas relacionadas ao sono, muitos não o fazem por não os perceber como disfunções, mas como eventos normais do processo de senescência. Esse fato contribui para o subdiagnóstico e o aumento no consumo de drogas hipnóticas, nem sempre prescritas e consumidas sem observância à sensibilidade farmacodinâmica da idade e às alterações no desempenho diário do idoso. • Um padrão esperado de sono para idosos inclui uma latência de aproximadamente 30 minutos, um período noturno de cinco a 10 horas (média de seis), uma eficiência – tempo total de sono dividido pelo tempo total na cama - em torno de 85% e não ter as atividades diárias prejudicadas por sonolência. • Quando as mudanças no sono se tornam patogênicas, há uma tendência de prejuízo funcional. Pode haver déficit de atenção, lentificação de reflexos, dificuldade de memória de curto prazo, outros problemas funcionais e risco aumentado de quedas, além da sensação permanente de cansaço. • Existem mais de 100 tipos diversos de transtornos do sono. Entretanto, algumas alterações são mais frequentes na população geriátrica, tais como insônia, que acomete cerca de 10 a 40% da população mundial; a síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS), que vem em segundo lugar, correspondendo a 30% das queixas nos consultórios; além da síndrome das pernas inquietas (SPI), movimentos periódicos dos membros (MPM), transtorno comportamental do sono REM (TSCR), transtornos do sono em patologias específicas como na doença de Parkinson, nas demências e em condições médicas gerais: transtorno da ansiedade generalizada, depressão, cardiopatias, DPOC, doenças reumatológicas, HAS, DM, refluxo gastroesofágico, dor crônica, doenças pruriginosas, dentre outras comorbidades. Insônia • Insônia é uma falta anormal de sono, por dificuldade em inicia-lo ou mantê-lo ou por despertar precoce. É o distúrbio do sono mais prevalente ao longo da vida, especialmente entre idosos. Além de afetar a qualidade de vida, está associado ao aumento do risco de acidentes e de quedas, de institucionalização e de óbito. Deve ser considerada inicialmente como um sintoma – insônia secundária -, uma vez que a condição primária em idosos é rara. • A insônia pode ser de origem primária (psicofisiológica) ou secundária. A insônia psicofisiológica no idoso responde por 15% dos casos. O paciente tem dificuldade de relaxar e tem uma atividade mental exacerbada ao se deitar, com muitos pensamentos e situações que trazem angústia. A incapacidade de dormir gera ansiedade que, por sua vez, atrapalha ainda mais o sono. • A insônia pode ser secundária a diversas condições médicas, como: DPOC, asma, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), cardiopatia isquêmica, doenças reumatológicas, doenças neurológicas,doenças urológicas (associadas a poliúria e nictúria), doenças endócrinas, demência, DRGE, doenças dermatológicas, menopausa e dor crônica. Na área de cuidados paliativos, a insônia também é um problema. • Estudos demonstram a correlação entre doenças crônicas e a insônia, no entanto, a idade cronológica esclarece pouco as prevalências encontradas. Quando as manifestações somáticas dessas doenças são controladas, algumas queixas de insônia não apresentam aumento dependente da idade e algumas até diminuem. A percepção da própria condição de saúde como ruim é fortemente presente em idosos com insônia, e a presença de sintomas respiratórios associados é frequente. • Há também outros fatores que podem afetar a capacidade de dormir em adultos idosos, como drogas, ingestão de bebida alcóolica, cafeína (e outras xantinas) e nicotina. • A noctúria é a explicação mais comum dada pelos idosos sobre a dificuldade de se manterem dormindo. Ela está associada ao cansaço durante o dia e ao sono ruim, podendo ocorrer por causas urológicas (hipertrofia prostática no homem e diminuição da resistência uretral na mulher) ou não urológicas (sintomas de apneia do sono e ICC). • A menopausa pode estar associada ao sono ruim por efeitos endócrinos e secundariamente por efeitos psicológicos. Sintomas vasomotores resultam numa menor eficiência do sono e maior número de despertares nas mulheres. A terapia de reposição hormonal, iniciada por outros motivos, está associada a melhor qualidade do sono, embora haja contradições. • O diagnóstico de insônia baseia-se mais na história clínica do paciente do que na análise de exames mais especializados, como os de laboratório e/ou polissonografia. A investigação é realizada por meio de um interrogatório que consiste em três critérios clínicos subjetivos, tais como: (1) se o 3 Marcella Carvalho 2021.2 tempo em que o paciente fica tentando dormir é maior ou igual a 30 minutos e/ou se este é o mesmo tempo em que ele passa acordado durante a noite; (2) ou ainda se a frequência com que esta dificuldade para dormir ocorre é, em média, de 3 ou mais vezes/semana; (3) e se o período em que essa dificuldade para dormir perdura é por mais de 6 meses em 1 ano. • Além disso, é importante certificar-se de que o paciente não apresenta tendência a dormir tarde da noite ou somente de madrugada (atraso de fase do sono), sendo esta uma frequente causa de confusão com a insônia → exclui-se outras variáveis confundidores • Ainda em relação ao auxílio no diagnóstico da insônia, a actigrafia pode ser uma boa alternativa. Esse método consiste na utilização de um equipamento eletrônico (actômetro) capaz de medir e armazenar movimentos, enquanto o paciente realiza suas rotinas diárias por um período de pelo menos 3 dias. Os dados são transferidos para um computador que, por intermédio de um programa específico, fornece uma estimativa do tempo de vigília e de sono, da periodicidade deste, bem como dos ritmos circadianos de atividade-sono, muito úteis não só na melhora da abordagem nos transtornos dos ritmos circadianos, como também no diagnóstico e no adequado tratamento da própria insônia. • Os sintomas relacionados com a insônia levam a alterações de comportamento e de humor, ocasionando um ônus financeiro e social, com sérias consequências em seus familiares e cuidadores, bem como nos serviços de saúde. • O tratamento da insônia deve ser sempre iniciado com uma abordagem não farmacológica, dando prioridade para orientações com relação à higiene do sono, antes mesmo da introdução de qualquer tipo de intervenção farmacológica. ✓ Dormir o suficiente ✓ Ter regularidade nos horários ✓ Não forçar o sono ✓ Evitar uso de estimulantes a tarde e à noite ✓ Não dormir com fome ✓ Deixar o ambiente aconchegante ✓ Esquecer problemas e preocupações ✓ Manter rotina de exercícios até 3h antes ✓ Massagem, música suave, banho morno... ✓ Alimentos leves ✓ Conforto do local ✓ Evitar telas ✓ Roupas confortáveis ✓ Luminosidade ✓ Evitar cochilos prolongados • Além das orientações gerais de higiene do sono, outras medidas não farmacológicas podem contribuir para a melhora e/ou resolução da insônia (leve), como a terapia de biofeedback (mediante uso de sensores da pele que medem a tensão e a contração muscular; além de técnicas de respiração para controle da tensão); terapia de controle de estímulos externos; terapia de restrição do sono (horário de dormir e acordar são fixos e cochilos são proibidos; calculando-se o tempo médio máximo que o paciente pode ficar na cama); terapia cognitivo-comportamental por pelo menos 8 semanas; fototerapia com luz brilhante (avanço de fase); cronoterapia; acupuntura; atividade física regular, procurando evitar fazê-la próximo ao horário de dormir. • Quando as medidas não farmacológicas não forem efetivas, pode-se fazer o uso de medicamentos, levando-se em consideração os seguintes aspectos: objetivos do tratamento, expectativas do paciente, perfil de segurança do fármaco, efeitos colaterais, interações medicamentosas, possibilidade de titulação da dose, custo, comorbidades e contraindicações, não esquecendo que, em se tratando de pacientes idosos, a dose inicial deve ser a mais baixa possível, reavaliando a melhora ou não do quadro com certa regularidade. • Benzodiazepínicos e outras drogas hipnóticas são frequentemente prescritos. Os benzodiazepínicos de longa duração (como flurazepam) não deveriam ser usados em idosos por provocar sedação no dia seguinte, com risco 4 Marcella Carvalho 2021.2 aumentado de quedas e fraturas. Os de curta e média ação podem ser prescritos, porém, com muita cautela. Deve-se atentar para o risco de tolerância ao efeito hipnótico da medicação e o risco potencial de insônia rebote, quando da interrupção abrupta. Esses agentes também podem resultar em um risco aumentado de quedas e a meia-vida pode ser mais longa em idosos. • Hipnóticos não-benzodiazepínicos (como zolpidem e zaleplon) parecem ter melhor perfil de ação, com poucos efeitos colaterais, incluindo menor indução de tolerância e de insônia rebote, quando comparados com os benzodiazepínicos. Zolpidem (com meia vida sérica de aproximadamente duas horas e meia) pode ser usado em pacientes com dificuldade para iniciar o sono. Zaleplon (com meia vida sérica de uma hora) pode ser indicado para tratar os acordares durante a noite. • Zolpidem pode causar amnesia quando usado diariamente por um período prolongado. Outros efeitos colaterais de ambas as medicações não impedem o uso em idosos, no entanto, deve-se ter cautela. • Antidepressivos com ação sedativa também são frequentemente usados como indutores de sono. São drogas indicadas para uso noturno em pacientes idosos deprimidos que também se queixam de insônia. Os antidepressivos tricíclicos (como amitriptilina e nortriptilina) também apresentam ação sedativa, no entanto, deve-se resguardar quanto aos efeitos anticolinérgicos, principalmente da amitriptilina. • Outros medicamentos, como anti-histamínicos, neurolépticos ou analgésicos, não estão indicados para uso rotineiro, principalmente os anti- histamínicos e os neurolépticos típicos, que apresentam efeitos anticolinérgicos potentes. Hipersonia • Grupo de condições que tem como principal queixa a sonolência excessiva diurna. Normalmente, a maioria é secundária à insônia noturna, quando o paciente passa a dormir durante o dia tudo o que não dormiu durante a noite. A sonolência excessiva diurna pode sugerir um grave distúrbio do sono como doença de base como a apneia do sono, que junto com o distúrbio de movimento periódico dos membros (DMPM), são as causas mais relevantes. A síndrome das pernas inquietas não se apresenta como causa comum de hipersonia. • Outras causas de hipersonia são: hipotireoidismo, hipoglicemia, hipoxemia e hipercarbia crônica e uso de anti-histamínicos,benzodiazepínicos, antiespasmódicos, antidepressivos e barbitúricos. Parassonias • As parassonias (distúrbio do despertar, despertar parcial e da transição sono-vigília) são transtornos que invadem o processo de sono e não são primariamente transtornos do sono estado sono- vigília por si. São manifestações da ativação do SNC habitualmente transmitidas ao sistema musculoesquelético ou aos canais do SNA. Podem ser primárias ou secundárias, por exemplo, a medicamentos. • Primárias: a) Distúrbios do despertar parcial – sonambulismo e terror noturno; b) Distúrbios da transição sono-vigília; c) Distúrbios de movimentos rítmicos e sonilóquios; d) Distúrbios associados ao sono REM – pesadelos, distúrbio comportamental do sono REM, paralisia do sono; e) Outras parassonias – bruxismo, enurese noturna, distonia paroxística noturna, ronco primário. • Alguns medicamentos ou substâncias que causam ou agravam pararassonias são os neurolépticos (provocam pernas inquietas) ou antidepressivos ISRS (que costumam provocar pesadelos) e a cafeína, os antidepressivos e o álcool (que podem produzir mioclonia – movimentos espasmódicos durante o sono). • As parassonias podem causar traumatismos e promover sofrimento psicológico pela perda repetida de autocontrole durante o sono. • O diagnóstico é feito com base em achados do exame de clínico e da polissonografia, ou seja, monitorização fisiológica do sono. Em idosos, costumam ser mal definidas e tratadas inadequadamente como distúrbios psiquiátricos devido as suas manifestações bizarras e perigosas. Síndrome das Pernas Inquietas • A síndrome de Ekbon ou síndrome das “pernas inquietas” (SPI), como é popularmente conhecida, acomete pessoas em todas as idades, sendo mais frequente na população acima de 65 anos (com pico de incidência entre 85 e 90 anos). As mulheres são mais afetadas e em 85% dos casos ocorre associada a movimentos periódicos dos membros inferiores. • O diagnóstico é clínico e inclui os seguintes aspectos fundamentais: (1) urgência em movimentar os membros, associada a parestesias e disestesias; (2) sintomas que se iniciam ou pioram com o repouso; (3) melhora parcial dos sintomas com o movimento; (4) piora dos sintomas no final da tarde ou à noite; (5) os sintomas não podem ser mais bem explicados por uma outra condição médica. • Geralmente os sintomas se restringem às pernas, mas em casos mais graves os braços também podem ser acometidos. • Dentre os fatores associados que mais influenciam o desenvolvimento desta patologia estão: história familiar positiva, em que cerca de 50% dos pacientes que possuem algum parente próximo com este acometimento desenvolvem este tipo de alteração; deficiência de ferro; neuropatia periférica e insuficiência renal (principalmente quando submetidos à diálise). Podem estar também associados a doença de Parkinson, diabetes melito, artrite reumatoide, gestação (acima de 20 semanas), tabagismo, uso de álcool, 5 Marcella Carvalho 2021.2 consumo de cafeína e alguns tipos de substâncias, principalmente anti-histamínicos e antidepressivos tais como tricíclicos, inibidores de recaptação de serotonina e mirtazapina. • Em relação ao tratamento da SPI, a primeira opção são os agonistas dopaminérgicos não ergolíneos, como o pramipexol na dose de 0,125 a 0,5 mg/dia; além do ropinirol na dose de 0,25 a 6 mg/dia, como segunda opção. • Além destas, existem também outras opções que podem ser utilizadas como a levodopa, na dose de 50 a 200 mg/dia, uma hora antes de deitar para dormir à noite; gabapentina na dose de 300 a 900 mg/dia; além de outros tratamentos adjuvantes que também podem ser usados para melhora do quadro, tais como reposição de sulfato ferroso na dose de 325 mg por via oral (VO), 2 vezes/dia, se ferritina estiver menor que 50 mcg, ou ainda exercícios de relaxamento, atividade física regular além de terapia comportamental, como auxílio adjuvante não farmacológico dessa alteração • A pregabalina é efetiva no tratamento por 1 ano, com nível A de evidência. Ressalta-se ainda que, ao se optar pelo tratamento com levodopa, alguns pacientes podem desenvolver o fenômeno da aumentação, que nada mais é do que um efeito rebote dos sintomas no final da noite ou pela manhã, que podem ser contornados com a orientações de medidas comportamentais, como ajustar o horário da medicação ou, na persistência do fenômeno, tentar substituir a levodopa por um opioide. • Convém lembrar também que, pela ordem de frequência de uso, deve-se dar prioridade para: agonistas dopaminérgicos e, menos frequentemente, anticonvulsivantes e opioides; Movimentos periódicos dos membros • Esse transtorno é caracterizado por episódios repetitivos de movimentos estereotipados, involuntários e recorrentes dos membros inferiores (pododáctilos, joelhos, quadril) que duram, em média, 0,5 a 10 s e ocorrem na primeira metade da noite. Em 80 a 85% dos casos podem estar associados à síndrome das pernas inquietas, podendo ainda acontecer de maneira concomitante em pacientes portadores de outros tipos de transtornos do sono. • O diagnóstico definitivo é realizado pela polissonografia (PSG), com registro da atividade do músculo tibial anterior, sendo que a frequência desses movimentos gira em torno de 15 movimentos por hora, na maioria dos adultos. E em relação ao tratamento, quando necessário, deve-se realizar o mesmo utilizado para síndrome das pernas inquietas. Transtorno comportamental do sono REM • Geralmente, ocorre em homens acima de 60 anos, podendo manifestar-se também em mulheres e indivíduos mais jovens, em uma relação de nove homens para uma mulher. • O transtorno comportamental do sono REM (TCSR) é uma parassonia caracterizada pela perda da atonia muscular normal durante o sono REM, com aumento do tônus mentoniano e da atividade motora muscular dos membros inferiores, havendo atividade motora proeminente durante o sonho. Tais pacientes parecem “agir fora de seus sonhos”. • Quando há pesadelos durante esse processo, estes geralmente são de conteúdo relacionado com pessoas e animais, exteriorizados por comportamentos violentos e algumas vezes com agressividade feitos contra o próprio paciente ou contra o seu parceiro de cama. • No transtorno comportamental do sono REM (TCSR), o paciente também pode se levantar e caminhar em torno de si mesmo ou da cama; lançar as pernas e os braços para fora dela; chutar; socar; iniciar uma atividade complexa como comer, mesmo estando na fase REM do sono. Muitas vezes esse paciente tem uma vívida lembrança das características dos sonhos e de seus comportamentos, podendo apresentar esse tipo de transtorno do sono todas as noites, ou mais de uma vez a cada noite. Na maioria dos casos, muitos episódios podem ocorrer de forma leve, nem chegando a despertar o paciente e/ou seu companheiro de cama. • O transtorno comportamental do sono REM costuma estar associado a outras condições neurodegenerativas, como doença de Parkinson (podendo preceder em anos o diagnóstico), com uma taxa de prevalência de 15 a 47%. Quando se comparam outras condições neurodegenerativas, como as demências dos corpos de Lewy, doença de Alzheimer e atrofia sistêmica múltipla, esse tipo de transtorno pode estar presente em cerca de 72% dos casos, quando comparado a esta última condição. • Em geral, o diagnóstico é feito pela história clínica do paciente, apoiado pela polissonografia (PSG), cujos achados polissonográficos incluem tônus muscular excessivo no queixo e movimentos de perna durante o sono RE. • Em relação ao tratamento, os objetivos da terapia visam diminuir a frequência e a gravidade dos comportamentos anormais e os sonhos desagradáveis. O clonazepam em baixas doses tem sido o medicamento de escolha naqueles pacientes sem comprometimento cognitivo significativo e sem SAOS, sendo geralmente eficaz na dose de 0,25 a 0,5 mg por noite.Em algumas situações há necessidade de se aplicarem doses acima de 1 mg todas as noites, mas esta não é a regra. • A melatonina variando na dose de 3 a 12 mg por noite pode ser eficaz, quer como terapia isolada ou em conjunto com clonazepam, quando a melatonina ou o clonazepam sozinhos não são efetivos. Outros fármacos também relatados com o objetivo de melhorar o TCSR incluem: pramipexol, donepezila, levodopa, carbamazepina e clozapina. Foi identificado também que a quetiapina pode ser um fármaco bastante eficaz para gerenciar essa alteração em alguns tipos de pacientes, como os pacientes portadores de demência (exceto doença dos corpos de Lewi) e que apresentem transtornos de comportamento. 6 Marcella Carvalho 2021.2 Síndrome da apneia obstrutiva do sono • A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) é caracterizada por episódios recorrentes de obstrução parcial (hipopneia) ou total (apneia) da via respiratória superior (VRS) durante o sono. É identificada por redução ou ausência de fluxo aéreo, apesar da manutenção dos esforços respiratórios, geralmente resultando em dessaturação da oxiemoglobina e despertares noturnos frequentes, com consequente sonolência excessiva durante o dia. • Essa síndrome tem sido cada vez mais reconhecida como um fator de risco independente para morbidades cardíacas, metabólicas, neurológicas e peroperatórias. • Clinicamente, é diagnosticada pela presença de episódios de sono não intencionais durante a vigília, sonolência diurna excessiva (SDE), sono não reparador, fadiga ou insônia; acordar com pausas respiratórias, engasgos ou asfixia; e na maioria dos casos, há ainda o relato do cônjuge sobre a existência de roncos altos e/ou pausas respiratórias durante o sono, associado à presença de pelo menos 5 eventos respiratórios obstrutivos (apneias, hipopneias e despertares associados ao esforço respiratório – RERA) por hora de sono. • A existência de 15 ou mais eventos respiratórios obstrutivos por hora, na ausência de sintomas relacionados com o sono, também é suficiente para o diagnóstico da SAOS devido a maior associação da gravidade da obstrução com aumento do risco de doença cardiovascular. E em relação a sua prevalência, é relativamente elevada em homens, obesos e em idosos. • O parâmetro adotado em pesquisas para o diagnóstico da SAOS é a polissonografia (PSG), em que se percebe um decréscimo superior a 50% na amplitude da respiração durante um período superior a 10 s. E sua gravidade é classificada conforme o índice de apneia e hipopneia (IAH) por hora de sono. • Os principais fatores de risco associados à SAOS são idade acima de 50 anos, sexo masculino, IMC aumentado, circunferência do pescoço maior que 40 cm e alterações craniofaciais como a hipoplasia maxilo-crâniomandibular, que também devem ser avaliadas. A inflamação das vias respiratórias resultante do uso crônico de nicotina, ocasionada pelo tabagismo, a ingestão de bebida alcoólica, a doença do refluxo gastresofágico (DRGE) e o hipotireoidismo são considerados fatores de agravamento para esse tipo de distúrbio. • O diagnóstico é feito por meio da história clínica, com relato de sintomas como: despertar com a boca aberta ou dor de garganta, despertar com sensação de sufocamento, episódios de parada respiratória durante o sono alternada com roncos altos, geralmente relatados pelo cônjuge ou companheiro(a) de quarto; mau humor, falta de concentração, cefaleia matinal. Outros sintomas = como redução da libido, impotência sexual, angina, noctúria e hipertensão arterial de difícil controle também podem ser relatados. • O tratamento de primeira linha da SAOS, em qualquer faixa etária, é a administração de pressão positiva nas vias respiratórias. Pode ser realizada através de CPAP, pressão positiva nas vias respiratórias em binível (BPAP), pressão positiva automática nas vias respiratórias (APAP) ou a servoventilação adaptativa (SA). • A melhora dos sintomas é rápida e a diversidade de aparelhos e máscaras disponíveis no mercado facilita a adaptação do paciente. A dificuldade mais comum é a adaptação da máscara em idosos sem dentes e sem próteses dentárias, além daqueles idosos portadores de demência. • Dentre os dispositivos de pressão positiva, o CPAP é o dispositivo de primeira escolha pela experiência acumulada, menor custo e equivalência em comparação aos dispositivos binível e APAP. • O tratamento da SAOS em idosos se baseia nos seguintes pontos (isolados ou combinados): → Aparelhos intraorais (AIO): projetam a mandíbula para frente ou evitam a queda da língua. Em alguns casos são tão eficazes quanto o CPAP. A grande limitação é a necessidade de uma boa dentição (não protética) para ancoragem do aparelho. Os AIO apresentam melhores resultados em pacientes com ronco, SRVRS e SAOS leve e moderada → Orientar o paciente a não dormir em decúbito dorsal, dando preferência ao decúbito lateral. A posição semirreclinada também pode ser benéfica → A perda de peso é sempre indicada nos pacientes obesos. → Os sedativos podem agravar a apneia do sono, pois aumentam a flacidez muscular do pescoço e devem ser evitados → O álcool deve ser evitado, pois piora muito a apneia do sono. Por isso deve ser desestimulado ou pelo menos reduzido → Cirurgia: não há consenso sobre o seu papel na ausência de uma alteração anatômica que possa justificar a apneia. E seu uso em idosos ainda não é indicado → O paciente deve ser advertido sobre os riscos de dirigir ou operar equipamentos perigosos. Obs: a síndrome da apneia obstrutiva do sono de causa central ocorre na ausência de obstrução de fluxo aéreo. É causado pela cessação periódica do estímulo respiratório. Pacientes idosos que apresentaram eventos isquêmicos envolvendo SNC podem experimentar a SAOS central. Uma forma distinta de apneia central é a respiração Cheyne Stokes. • Outros transtornos do sono no idoso: roncos; SDE; distúrbios de sono na demência; alterações do rimo circadiano (p. ex. jet lag). 7 Marcella Carvalho 2021.2 2. Compreender a fisiopatologia do transtorno depressivo maior unipolar e diferenciar do transtorno bipolar, depressão de início tardio (DIT); distimia e dos transtornos de ansiedade mais prevalentes nos idosos. • A depressão refere-se a uma síndrome psiquiátrica caracterizada por humor deprimido, perda do interesse ou prazer, alterações do funcionamento biológico, com repercussões importantes na vida do indivíduo. • A doença depressiva abrange os sentimentos, o pensamento, o funcionamento corporal, o comportamento, a capacidade para lidar com as decisões e pressões do dia a dia. Compromete a performance do indivíduo e afeta sua qualidade de vida. Envolve o ser humano em todas as suas dimensões: psicológica, biológica e social. Tem importantes repercussões familiares e econômicas. • Além disso, associa-se ao aumento da morbimortalidade por doença coronariana, neoplasias, infecções, desnutrição, suicídio, quedas, imobilidade e perda da independência funcional. É ainda uma importante barreira à reabilitação. • Os transtornos depressivos unipolares estão entre as 3 principais causas de anos de vida ajustados para incapacidade (AVAI), independentemente do sexo e para todas as idades. Porém, quando apenas o componente incapacidade da carga é avaliado, a depressão passa a ser a causa mais importante de anos de vida (vividos) com incapacidade (AVI), independentemente da idade e do sexo. Segundo os conceitos da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008) de anos de vida vividos com incapacidade (AVI) e de anos de vida ajustados por incapacidade (AVAI), que quantificam o potencial que uma determinada doença tem de retirar dias de gozo de saúde e de perda de dias de vida por morte prematura, respectivamente, os transtornos depressivos unipolares encontram-se entre as dez principais causas, independente do sexo e da situação econômicado país. • Os transtornos depressivos apresentam significativa prevalência entre indivíduos idosos e comunidade, variando entre 4,8 e 14,6%. Quando os estudos de prevalência se referem a idosos hospitalizados ou institucionalizados, os resultados são ainda maiores, alcançando 22%. • Ao contrário do diagnóstico estabelecido de depressão, os sintomas depressivos aumentam de prevalência a depender do estrato da população idosa, sendo de 17,1% para os maiores de 75 anos, 20 a 25% para os maiores de 85 anos e 30 a 50% para os maiores de 90 anos. • Os distúrbios do humor são classificados em: Unipolares > compreende a depressão maior e a distimia Bipolares > presença de, pelo menos, um episódio hipomaníaco ou maníaco, associado ou não a episódios depressivos Obs: as distimias são uma forma de depressão crônica, não-episódica, de sintomatologia menos intensa do que as chamadas depressões maiores. O padrão básico desses pacientes é um baixo grau de sintomas, os quais aparecem insidiosamente, na maioria dos casos antes dos 25 anos. • As depressões apresentam etiologia multifatorial: fatores genéticos biológicos, epigenéticos e ambientais em proporções variáveis. • Os principais fatores de risco peculiares à depressão do idoso são: - Sexo: o risco é maior em mulheres - Psicossociais: eventos vitais; rsuporte social - Doenças clínicas: cardiovasculares; infecções; endocrinopatias; neoplasias; estados carenciais; doença de Parkinson, AVC, demências; colagenoses, osteoatrose; distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos. - Medicamentos - Idade não constitui fator de risco isoladamente) - Fatores socioeconômicos - Institucionalização • A depressão de início tardio que começa após os 60 a 65 anos de idade se relaciona a fatores estressores que podem desencadear e/ou manter o quadro depressivo. Lesões vasculares cerebrais são particularmente citadas como fatores de risco (e pior prognóstico) nessa população. • Em relação à depressão de início precoce, a depressão geriátrica (de início tardio) apresenta menos correlação familiar, maior prevalência de demência, piora no desempenho dos testes neuropsicológicos e dano auditivo neurossensorial. Estudos de neuroimagem demonstraram alterações de estrutura e função cerebral na depressão de início tardio, com padrões de alterações intermediários entre indivíduos normais e demenciados. 8 Marcella Carvalho 2021.2 • Em relação aos fatores genéticos, a possibilidade de ocorrência de depressão entre familiares de primeiro grau de deprimidos é três vezes maior do que de não deprimidos. Em gêmeos, a correlação chega a 40%. • Em relação à fisiopatologia, existem dados sugestivos de que as alterações do sistema de neurotransmissores podem ocorrer como consequência de mudanças no número, assim como sensibilidade dos neurorreceptores pré e pós-sinápticos no SNC, sem que haja, obrigatoriamente, uma alteração na quantidade do próprio neurotransmissor. • As hipóteses baseadas na deficiência de neurotransmissores têm sido, pois, substituídas por hipóteses mais focadas nos neurorreceptores. As hipóteses atuais orbitam em torno dos neurorreceptores, os quais, em vez de estruturas rígidas, apresentam neuroplasticidade, adaptando- se e respondendo às alterações dos neurotransmissores. • Teoria da supra regulação pós-sináptica (up- regulation): hipótese de dessensibilização dos receptores. Alterações nos NT como consequência de mudanças no número, assim como na sensibilidade dos neurorreceptores pré e pós- sinápticos no SNC, sem que haja obrigatoriamente uma alteração na quantidade de NT. Receptores não seriam estruturas rígidas, mas dotadas de neuroplasticidade, se adaptando e respondendo as alterações nos NT. • Hipótese das monoaminas: deficiência de aminas biogênicas (NE e 5HT e DA) como causa. Resistência para sua aceitação já que todos os medicamentos antidepressivos aumentam de imediato as monoaminas na fenda sináptica, mas seu efeito clínico só é observado semanas depois. Regiões relacionadas com o humor (córtex pré- frontal, hipotálamo, áreas límbicas) apresentam alteração no sistema monoaminérgico principalmente de serotonina, noradrenalina e dopamina. • Hipótese monoaminérgica: redução da neurotransmissão, com consequente up-regulation dos receptores pós-sinápticos. • Modelo neuroanatômico: Estruturas envolvidas, baseada nas suas funções de regulação, expressão e reconhecimento de emoções específicas: córtex pré-frontal, hipocampo, amígdala, giro do cíngulo e gânglios da base. • Obs: Os problemas cognitivos como disfunção executiva e associação com outras desordens clínicas e neuropsiquiátricas são comuns entre idosos com depressão. O curso clínico é tipicamente desfavorável com episódios mais frequentes por tempo de vida, acarretando maior grau de comprometimento funcional. • Os subtipos de depressão mais frequentes em idosos são: - Depressão vascular: caracterizada por redução do interesse, retardo psicomotor, prejuízo na percepção e pouca agitação ou sentimento de culpa, além de uma possível piora na incapacidade. Dentre os sintomas cognitivos mais presentes estão o déficit de fluência verbal e a anomia. Deve ser suspeitada quando o primeiro episódio ocorre em idade mais avançada (mais de 85 anos) e não tem relação com história de depressão na família. - Síndrome depressão: disfunção executiva, causada por uma proeminente disfunção frontoestriatal e caracterizada por retardo psicomotor, redução de interesse, dano nas atividades instrumentais da vida diária (AIVD), insight limitado e sinais vegetativos. Essa síndrome apresenta resposta pobre, lenta e instável aos antidepressivos e requer um cuidadoso plano de acompanhamento. - Depressão psicótica: mais frequentes em idosos que nos adultos jovens, associa-se a alucinações e/ou delírios (culpa, hipocondria, niilismo, persecutório e de ciúmes, apodrecimento ou ausência de órgãos internos), com maior risco de comportamento de autolesão. Alucinações auditivas e, menos frequentemente, visuais podem estar presentes. - Depressão melancólica: caracterizada por incapacidade de reagir a estímulos positivos, piora do humor pela manhã, sentimento de culpa excessivo, despertar precoce, marcante retardo ou agitação psicomotora, perda de apetite ou peso. • Todos os sintomas presentes na depressão em adultos jovens são encontrados em idosos. De modo geral, a depressão em idosos apresenta menos humor depressivo e mais anedonia, mais sintomas somáticos do que “psicológicos”, maior frequência de associação com doença física e/ou cerebral e presença maior de déficit cognitivo e disfunção executiva. • A depressão apresenta sintomas psíquicos e somáticos. Pode-se citar: tristeza patogênica ou anestesia dos sentimentos; anedonia (redução ou perda da capacidade de sentir prazer frente àquelas situações que antes proporcionavam satisfação, bem-estar ou alegria); ansiedade, irritabilidade, mal humor e medo; lentificação do pensamento; atenção pode estar comprometida, tornando difíceis a leitura e a conversação; distorção da realidade, presente em casos mais graves, em que a pessoa pode distorcer negativamente a realidade; choro imotivado ou não ser mais “capaz” de chorar; lentificação ou redução do rendimento; distúrbios do sono; redução de energia; alterações de apetite, podendo estar reduzido, provocando emagrecimento, ou o contrário, pode estar aumentado, provocando aumento de peso; perda do interesse sexual. • Frequentemente, a queixa é de ansiedade. O deprimido focaliza sua atenção em sintomas corporais e apresenta mais queixas físicas. As queixas relativas à memória são mais frequentes. Ocorre também mais anorexia e perda de peso. Fazem parte dos transtornos de ansiedade: agorafobia, pânico, fobias, transtorno de ansiedade generalizada. O TAG caracteriza-se por uma preocupação excessiva, irreal e generalizada acerca de diversoseventos ou atividades, ocorrendo na maioria dos dias por ao menos 6 meses. 9 Marcella Carvalho 2021.2 • O diagnóstico da depressão é essencialmente clínico, devendo ser dada ênfase à história clínica atual e pregressa, incluindo a história psiquiátrica do próprio paciente e de seus familiares e ideação suicida; uso de medicamentos; funcionalidade; avaliação psicológica (eventos estressores), cognitiva e social, incluindo inserções laborativas, de lazer, suporte social/familiar, rede de relacionamentos e estrutura econômica. • Uma vez estabelecido o quadro sindrômico, com base nos critérios diagnósticos dos organismos internacionais de referência, deve-se investigar a presença de doenças clínicas que possam estar colaborando para o quadro, com seus exames específicos. O eletrocardiograma deve ser realizado nos pacientes com indicação de uso de antidepressivo tricíclico. Quando houver déficit cognitivo associado ou suspeita de depressão vascular, está indicada a realização de ressonância magnética de encéfalo. • Para o diagnóstico do episódio depressivo maior e da distimia, utilizamos os critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual de Diagnóstico e Estatística de Doença Mental (DSM). Como instrumento auxiliar, pode-se lançar mão da escala de depressão geriátrica (GDS). CID-10: F32 Episódios depressivos • Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão: leve, moderado ou grave, o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da autoestima e da autoconfiança e frequentemente ideias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. • O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por exemplo perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave. F32.0 Episódio depressivo leve • Geralmente estão presentes ao menos dois ou três dos sintomas citados anteriormente. O paciente usualmente sofre com a presença destes sintomas, mas provavelmente será capaz de desempenhar a maior parte das atividades. F32.1 Episódio depressivo moderado • Geralmente estão presentes quatro ou mais dos sintomas citados anteriormente e o paciente aparentemente tem muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina. F32.2 Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos • Episódio depressivo onde vários dos sintomas são marcantes e angustiantes, tipicamente a perda da autoestima e ideias de desvalia ou culpa. As ideias e os atos suicidas são comuns e observa-se em geral uma série de sintomas “somáticos”. F32.3 Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos • Episódio depressivo correspondente a descrição de um episódio depressivo grave (F32.2) mas acompanhado de alucinações, ideias delirantes, de uma lentidão psicomotora ou de estupor de uma gravidade tal que todas as atividades sociais normais se tornam impossíveis; pode existir o risco de morrer por suicídio, de desidratação ou de desnutrição. As alucinações e os delírios podem não corresponder ao caráter dominante do distúrbio afetivo. DSM V: • Episódio depressivo maior: 5 ou + dos sintomas, por pelo menos 2 semanas e que apresentem mudanças no funcionamento diário prévio do indivíduo, sendo pelo menos 1 dos sintomas humor deprimido ou perda de interesse, prazer. 10 Marcella Carvalho 2021.2 • Depressão menor: 2-4 sintomas por 2 ou + semanas incluindo estado deprimido ou anedonia. • Distimia: 3 ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido durante 2 anos no mínimo. • Pelo DSM-V há a presença de critérios maiores e menores: CRITÉRIOS MAIORES: - Humor deprimido quase todos os dias (sente-se triste ou vazio) ou observação feita por terceiros (chora muito). É uma tristeza patológica, desagradável e difícil de expressar. Alguns casos apresentam “anestesia” dos sentimentos, sensação de indiferença. Também é comum ansiedade, irritabilidade e medo. Alguns choram fácil outros não conseguem mais chorar. - Acentuada diminuição do prazer ou interesse eu quase ou todas as atividades, na maior parte do dia e que antes eram prazerosos (anedonia). Torna-se isolado, não realiza AVDs. CRITÉRIOS MENORES: - Perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta (mais de 5% do peso do corpo em um mês) ou aumento ou diminuição do apetite. - Insônia ou hipersonia. - Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias. - Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. - Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada quase todos os dias. Há distorção da realidade. - Pessimismo, baixa autoestima, desesperança. - Capacidade diminuída de pensar ou concentrar- se ou indecisão quase todos os dias. Pessoa distraída, com dificuldade de leitura e comunicação. - Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano especifico de cometer suicídio. - Cefaleia, transtornos digestivos, urinários e manifestações cardíacas, perda de interesse sexual. • Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativos ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida. GDS • A Escala de depressão geriátrica (Geriatric Depression Scale – GDS) é o instrumento mais popular para avaliação de sintomas depressivos em idosos, tendo sido a única desenvolvida para esse grupo etário. Seu entendimento é simples, com respostas dicotômicas do tipo sim/não e de rápida e fácil aplicação. • O GDS pode ser utilizado por qualquer profissional da atenção básica, entrevistadores leigos ou mesmo ser autoaplicável e a vantagem de não incluir sintomas somáticos, reduzindo a interferência de sintomas confundidores em uma população em que a comorbidade é uma realidade. A desvantagem é a limitação do uso na presença de déficit cognitivo, especialmente após estágio moderado. • A versão original do GDS possui 30 itens, porém existem versões mais curtas, sendo a principal composta por 15 itens selecionados. O escore do GDS 30 sugere depressão a partir de 11 pontos e do GDS 15, a partir de 05 pontos. Mesmo sem avaliar objetivamente a gravidade dos sintomas, indica depressão moderada de 11 a 20 e 8 a 9, e grave acima de 21 e 10 pontos para o GDS 30 e GDS 15, respectivamente. 3. Abordar tratamento farmacológico e não farmacológico no transtorno depressivo maior, distimia, transtornos de ansiedade. • O processo de desenvolvimento da depressão no idoso pode durar anos, sendo, portanto, mais crônico do que agudo. Para o entendimento do curso da depressão, é importante que alguns conceitos sejam conhecidos: ✓ Resposta: melhora de 50% dos sintomas inicialmente presentes ✓ Remissão: desaparecimento dos sintomas ✓ Recuperação: manutenção da remissão dos sintomas por pelo menos 6 a 12 meses ✓ Recaída: piora dos sintomas antes da sua remissão completa ou quando já houve remissão, porém ainda não a recuperação da doença. Os pacientes que apresentam mais recaídas são os que demoram a responder, os que têm ansiedade associada, mantêm escore depressivo alto no início da fase de manutenção e os que cursam com algum evento médico ou social desfavorável ✓ Recorrência: refere-se a um novo episódio de depressão, pois acontece após arecuperação da doença • Após instituição de adequada terapêutica, 1/3 melhora e permanece bem, 1/3 apresenta recaída e 1/3 não melhora, cronifica. Eventos vitais negativos que ocorrem no curso do tratamento podem desviar o curso da curva de melhora sintomatológica. • Em linhas gerais, existem dois grupos de tratamento: os biológicos (farmacoterpia, eletroconvulsoterapia – ECT, estimulação magnética transcraniana e fototerapia) e os não biológicos (psicoterapia). • O tratamento da depressão visa à eliminação dos sintomas, à prevenção de recorrências ou recaídas, prevenção da piora de outras patologias presentes e de mortalidade por suicídio ou por outras causas associadas, à melhora cognitiva e 11 Marcella Carvalho 2021.2 funcional e ao apoio para que os pacientes possam lidar com suas dificuldades. • A associação entre as opções farmacológicas e não farmacológicas eleva o potencial de resposta do paciente. Farmacoterapia • Todos os antidepressivos disponíveis apresentam eficácia terapêutica quando comparados a placebo. Portanto, a escolha do fármaco para o tratamento deve estar baseada no perfil dos efeitos colaterais na interação com outras substâncias. Concomitantemente, avalia-se a qualidade dos sintomas e a presença de comorbidades. • O início da terapêutica deve seguir o axioma do começar com doses baixas e aumenta-las aos poucos, porém alcançando a dose terapêutica, uma vez que a utilização de subdoses é o principal fator de inadequação da resposta aos antidepressivos. • Para todos os antidepressivos existe uma fase de latência de 4 a 8 semanas para o início da ação terapêutica, apesar de os efeitos colaterais poderem surgir precocemente, o que muitas vezes provoca abandono do tratamento nos pacientes que não estão esclarecidos sobre essa possibilidade. O tratamento é de longa duração e pode ser necessário por toda a vida. • Para que a escolha do antidepressivo seja adequada, deve-se observar três fatores: sintomas clínicos associados à redução da disponibilidade de cada um dos neurotransmissores, perfil de inibição destes pelos antidepressivos e mecanismo de desenvolvimentos dos efeitos colaterais. • Os antidepressivos são divididos em classes, segundo seus respectivos mecanismos de ação. Antidepressivos Tricíclicos • Os efeitos terapêuticos ocorrem devido ao bloqueio da bomba de recaptação da serotonina, norepinefrina e dopamina (em menor grau). O potencial de bloqueio para cada neurotransmissor varia para cada fármaco da classe dos ADT. • Apesar da eficácia comprovada no tratamento da depressão de início tardio, seus inúmeros efeitos colaterais, interações medicamentosas e sua difícil titulação limitam seu uso da população idosa. • Efeitos secundários dos ADT incluem antagonismo aos receptores colinérgicos muscarínicos (alteração cognitiva, turvamento visual, boca seca, constipação intestinal e retenção urinária), de histamina H1 (sonolência e ganho ponderal) e alfa1 e alfa2 adrenérgicos (tontura e hipotensão), responsáveis pela maioria dos efeitos colaterais associados a estes fármacos. Os ADT bloqueiam os canais de sódio no coração e no cérebro, podendo causar arritmias, parada cardíaca e, em superdosagem, convulsões. • São exemplos de ADT disponíveis no Brasil: amitriptilina, clomipramina, imipramina, maproptilina e nortriptilina). Em idosos, o antidepressivo tricíclico mais indicado é a nortriptilina, por apresentar o melhor perfil de efeitos colaterais. Os demais devem ser evitados. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina • Estão disponíveis no Brasil as seguintes substâncias: citalopran, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina. Atualmente, é a classe de fármacos mais utilizada para o tratamento da depressão em idosos, devido à menor possibilidade de efeitos colaterais. • Esses, quando surgem, estão relacionados com o efeito da serotonina em outros locais que não as vias relacionadas com o processo de desenvolvimeno da depressão, na qual estão agindo terapeuticamente. São menos ameaçadores, mesmo na superdosagem, e na maioria das vezes desaparecem com a continuação do uso. • Dentre os três mecanismos terapêuticos de ação dos ADT, apenas o potente bloqueio da recaptação da serotonina está presente nos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), o que o torna seletivo, pois os demais neurotransmissores são muito pouco ou nada bloqueados. De modo similar, nenhum dos três mecanismos responsáveis pelos principais efeitos colaterais dos ADT está presente. • É importante reconhecer que diferentes vias medeiam ações terapêuticas distintas, assim como os efeitos colaterais dos ISRS envolvem subtipos específicos de receptores de serotonina (5-HT2A, 5-HT2C, 5-HT3 e 5-HT4) e inibições enzimáticas. Alguns deles (fluoxetina, fluvoxamina e paroxetina) utilizam como via metabólica o citocromo P-450, ocorrendo em diferentes graus inibição dos citocromos 1A2, 3A4 e 2D6, o que torna ainda mais necessário o cuidado com as possíveis interações medicamentosas no idoso. • A fluoxetina deve ser evitada em idosos, pois tem meia-vida longa (15 dias) e inibe ação de enzimas hepáticas, resultando em elevação sérica de vários medicamentos, além de estar associada à hiponatremia e à síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético, que podem ocorrer até 120 dias após o início do uso em idosos. Pode elevar significativamente a dose sérica de diversas medicações como antipsicóticos, anticonvulsivante, antiarrítmicos, digoxina etc. • A paroxetina não possui metabólitos ativos e tem meia-vida curta. Apresenta também importante inibição nas enzimas hepáticas. Segundo o critério de Beers (2015), a paroxetina deve ser evitada em idosos com nível de evidência alto, devido a maior potencial de efeitos adversos como efeitos anticolinérgicos, sedativos e hipotensão ortostática. • A sertralina apresenta meia-vida curta, alta seletividade pela serotonina e baixo potencial de inibição de enzimas hepáticas. • O citalopram é o mais seletivo para a recaptação de serotonina. Praticamente não inibe enzimas hepáticas. Por suas características tem sido utilizado em pacientes com depressão associada a doenças físicas e/ou cerebrais, como nos sintomas ansiosos e depressivos nas doenças do tipo 12 Marcella Carvalho 2021.2 Alzheimer. A forma racêmica do citalopram é o escitalopram. • A fluvoxamina demonstrou boa eficácia em estudos comparativos com outros antidepressivos em idosos. Possui efeito inibidor nas enzimas hepáticas, o que eleva o risco de interações medicamentosas. Sua ação em receptores sigma- 1 pode ter um efeito maior em relação a neuroproteção, ainda sem evidência clínica. • Além da fluoxetina, também paroxetina, sertralina, fluvoxamina e citalopram, usados cronicamente, podem desenvolver hiponatremia. Este distúrbio é mais prevalente em idosos, pacientes com baixo peso corporal e em mulheres, ocorrendo principalmente nas primeiras semanas de tratamento e no verão. O uso de diuréticos contribui para o desenvolvimento da hiponatremia. Para sua prevenção, o sódio sérico deve ser dosado antes do início do tratamento e 2 semanas após. Os antidepressivos tricíclicos são uma opção para estes pacientes. • O uso conjunto com anti-inflamatórios não esteroides pode aumentar o risco de hemorragia digestiva. As doses diárias dos ISRS variam de um fármaco para outro; todos, porém, apresentam latência para o início da ação. Por vezes os ISRS podem apresentar uma resposta apática, que significa a melhora do humor, mas com a permanência de sintomas residuais como anedonia, redução da motivação, interesse, energia, concentração, libido e alentecimento cognitivo; sintomas esses relacionados com a norepinefrina que não é bloqueada pelos ISRS. Inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina • Os inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina(ISRN), além de melhorarem o humor, também agem sobre a apatia, fadiga e alentecimento psicomotor, melhorando o funcionamento social. Esta não é uma terapêutica de primeira escolha para a depressão, porém pode ser utilizada quando outros antidepressivos já foram tentados sem sucesso e nos casos mais graves. A substância padrão dessa classe é a reboxetina. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e norepinefrina • A duloxetina, a milnaciprana, a venlafaxina e a desvenlafaxina são os representantes dessa classe, que se caracteriza pela existência, em uma mesma molécula, de seletividade para a serotonina e norepinefrina, com ação pouco expressiva na recaptação da dopamina e sem os bloqueios de receptores responsáveis pelos efeitos colaterais dos ADT. • A duloxetina apresenta um início de ação mais lento no idoso, é bem tolerada por esses e tem ação diferencial no controle dos sintomas somáticos da depressão. Seus principais efeitos colaterais são náuseas, boca seca, fadiga, insônia e obstipação. • A milnaciprana inibe de maneira similar a serotonina e a norepinefrina e não apresenta qualquer efeito sobre a dopamina. Também não interfere nos receptores colinérgicos, adrenérgicos e histaminérgicos. Possui a vantagem de ter baixa ligação proteica e de a eliminação ser hepática e renal, porém, a dose recomendada deve ser dividida em 2 tomadas diárias. • Para a venlafaxina, a inibição da recaptação da serotonina é a mais potente, presente mesmo nas doses baixas, enquanto a da norepinefrina só acontece em doses mais altas e a da dopamina só está presente em doses elevadas. Na sua dose inicial habitual (75 mg/dia) age apenas como bloqueador seletivo de recaptação da serotonina, necessitando de aumento da dose para obtenção do efeito dual (150 mg/dia). Porém, as dosagens maiores aumentam a possibilidade de hipertensão arterial e efeitos anticolinérgicos. • A desvenlafaxina é composta pelo principal metabólito ativo da venlafaxina. A dose inicial (50 mg/dia) já é considerada terapêutica, e seu aumento está associado ao surgimento de efeitos colaterais como hipertensão e hipercolesterolemia. A descontinuação deve ser gradual. Inibidores seletivos da recaptação de norepinefrina e dopamina • A bupropiona é o protótipo dos inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina e dopamina (IRND), no entanto, ela age como profármaco, sendo seu metabólito ativo o verdadeiro responsável pelas ações terapêuticas. É útil nos pacientes que não toleram os efeitos serotoninérgicos ou não respondem ao aumento da dose dos ISRS e nos portadores de doença de Parkinson. Apresenta a vantagem de não interferir no desempenho sexual. No entanto, existe risco de hipertensão arterial diastólica em idosos. Inibidores da monoamina oxidase • Apesar de satisfatória ação terapêutica, os inibidores da monoamina oxidase (IMAO) não são medicamentos de primeira linha para o tratamento da depressão, especialmente no idoso, devido aos seus efeitos colaterais, especialmente a possibilidade de hipertensão arterial grave. • A síndrome serotoninérgica é uma condição causada pelo aumento da estimulação de receptores serotoninérgicos centrais e periféricos. Resulta de interações farmacológicas de medicamentos que aumentam os neurotransmissores serotoninérgicos. • Seus sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, tremores, diarreia, inquietude, hiper-reflexia, mioclonia, rigidez muscular e instabilidade autonômica. • Ocorrem mais frequentemente com a utilização de IMAO, porém podem também ocorrer com o uso de outros antidepressivos. O tratamento algumas vezes requer cuidados intensivos em virtude do seu potencial letal e envolve a descontinuação de todos os medicamentos serotoninérgicos. 13 Marcella Carvalho 2021.2 Tratamento não-farmacológico Biológicos • Fitoterapia: O extrato de Hypericumperforatum popularmente conhecido como erva-de-são-joão, tem efeito superior ao placebo, mas está indicado apenas para os casos de depressão leve a moderada. Apesar de ser uma medicação relativamente segura, a possibilidade de interação medicamentosa não deve ser esquecida. • Eletroconvulsoterapia (ECT): eficaz e segura, mas reservada para casos mais graves, sendo considerada padrãoouro. Pode ser a primeira escolha se contraindicação ao uso de antidepressivos. Principal vantagem é a rapidez da resposta. Efeitos colaterais: a curto prazo, sonolência, agitação e confusão mental, que podem desaparecer em 30m, a médio prazo amnésia anterógrada. Para o procedimento deve ser compensada a HAS e afastada hipertensão intracraniana. Historia recente de AVE (6m) ou IAM (3m) são contraindicações relativas. • Estimulação magnética transcraniana: A estimulação elétrica transcraniana (EMT) uma técnica não invasiva que modula a excitabilidade cerebral, levando a inibição ou excitação de diferentes áreas corticais, melhorando assim os sintomas depressivos. Os idosos com depressão vascular têm pior resposta, assim como indivíduos com redução do volume do lobo frontal. Os efeitos colaterais mais comuns são dor e desconforto durante a estimulação, além de cefaleia. • Fototerapia: O método baseia-se na exposição à luz brilhante por curtos períodos durante o dia com o objetivo de restabelecer os níveis normais de serotonina e melatonina. É especialmente indicada para a depressão sazonal, apesar de já ter demonstrado efeito em depressões não sazonais e outras doenças. Os pacientes que melhor respondem são os que apresentam excesso de sono e apetite, que têm ingesta compulsiva de carboidratos e aumento ponderal. Os principais efeitos colaterais são leves e desaparecem com o tempo, com a redução da duração da exposição e da intensidade: cefaleia, sensação de vista cansada, alteração da acuidade visual, náuseas, insônia, tontura, fadiga, hipomania, sensação de ficar ligado, irritação na pele, precordialgia e palpitações. Não biológicos • Psicoterapia: várias são as abordagens psicoterapêuticas de intervenção na depressão; todas funcionam como auxílio terapêutico, ajudando o indivíduo a desenvolver recursos internos para lidar com suas disfunções. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem como foco de ação as distorções de pensamento do paciente e os comportamentos disfuncionais. O principal objetivo é detectar e ajudar a modificar as reações condicionadas (pensamentos automáticos), melhorando assim as atitudes que restringem as atividades sociais e profissionais. É uma terapia de curta duração e baseada no aqui e agora. A terapia interpessoal, por outro lado, enfoca a maneira como uma perda afeta o paciente. A base da psicoterapia dinâmica é ajudar o paciente a compreender as estruturas e padrões inconscientes que podem estar criando sintomas e dificuldades de relacionamento. • ↪Fisiopatologia • Na pessoa ansiosa, a resposta ao medo é exacerbada. Devido a isso, a amígdala, responsável pelo sistema límbico e emoções, que possui conexões com o hipocampo relacionado a memória, as quais fazem com que memórias passadas possam desencadear com mais facilidade as crises de ansiedade. Ademais, a amígdala possui conexões com o tronco cerebral, sendo que durante as crises ocorre uma hiperestimulação dos neurônios noradrenérgicos no tronco. Isso gera a taquicardia, suor e tremor. Devido a ligação do tronco cerebral e amígdala, agem medicamentos como agonistas alfa-2 (cloridina, B-bloqueador-propanolol). Assim, a amígdala, que deveria ser inibida pelos neurônios neurotominérgicos, não é, devido a sua hiperestimulação. Por isso, o tratamento com ISRS traz melhora, já que o aumento da serotonina aumenta a ação de neurônios serotominérgicos, que conseguem inibir a amigdala. • Fazem parte dos transtornos de ansiedade: agorafobia, pânico, fobias, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), entre outros. • ↪Transtorno de ansiedade generalizada: • O DSMV define os critériosdiagnósticos para o TAG, não o diferenciando entre adultos jovens e idosos. O TAG é caracterizado por uma preocupação excessiva, irreal e generalizada acerca de diversos eventos ou atividades, ocorrendo na maioria dos dias por ao menos 6 meses. A ansiedade no idoso pode estar presente como transtorno primário, porém é mais frequentemente associada a outras doenças (neurológicas, cardiovasculares, respiratórias, endócrinas, gastrintestinais, imunológicas) e ao uso ou abstinência de medicamentos. Porém, a depressão e a demência são as comorbidades mais frequentes em idosos. Sua prevalência é de 4% nos idosos da comunidade se associada a outro transtorno psiquiátrico e de 1% como patologia isolada. • A associação de depressão e ansiedade produz demora na resposta terapêutica e piora o prognóstico, com maior probabilidade de ideação suicida em pacientes geriátricos. Os pacientes com síndrome demencial podem apresentar elevado grau de ansiedade, principalmente os portadores de demência vascular. Em geral, a ansiedade se manifesta sob a forma de agitação física ou descontrole verbal, além de prejuízo nas funções executivas. • ↪ Tratamento • As classes de medicamentos mais comumente usadas no tratamento do TAG são: 14 Marcella Carvalho 2021.2 antidepressivos, benzodiazepínicos e buspirona. Os antidepressivos representam a primeira escolha para o tratamento da maioria dos transtornos e sintomas de ansiedade no idoso, principalmente os ISRS e IRSN, em virtude da eficácia, perfil terapêutico e alta frequência de associação da ansiedade com depressão, quando o mesmo medicamento trata ambas as condições. Estão indicados tanto no tratamento do transtorno da ansiedade isolado ou associado à depressão maior. Quando associada à depressão, o antidepressivo deve também ter ação ansiolítica • Entre os antidepressivos, destacam-se o citalopram, o escitalopram e a paroxetina; a trazodona; a duloxetina e a venlafaxina, devendo- se, entretanto, observar seus efeitos colaterais e interações medicamentosas. Outros antidepressivos que podem ser utilizados são a mirtazapina, a bupropiona e a nefazodona. No início do tratamento, os ISRS podem exacerbar os sintomas de ansiedade. Em que pese a grande utilização dos benzodiazepínicos em pessoas idosas com ansiedade, eles devem ser reservados para casos especiais, como a possibilidade de associação com antidepressivos para melhoria dos sintomas ansiosos no período de latência dos antidepressivos. Uma vez introduzidos, devem ser retirados a curto prazo, pois embora efetivos, não são seguros, podendo induzir quedas, fraturas e prejuízo cognitivo. A escolha deve ser baseada no perfil farmacológico do medicamento (meia vida curta, ausência de metabólito ativo e de metabolismo oxidativo no fígado) • A buspirona é um agonista parcial dos receptores 5HT de serotonina. É um ansiolítico não benzodiazepínico que, ao contrário deste, não causa agitação, distúrbio psicomotor, alteração cognitiva ou depressão respiratória, conquanto seja eficaz. No entanto, seu desempenho é mais limitado que o dos antidepressivos no tratamento da ansiedade no idoso. São indicados preferencialmente nos casos de depressão ansiosa em portadores de doença respiratória obstrutiva crônica, apneia do sono ou doença neurológica. Seus efeitos colaterais mais comuns são tontura, cefaleia e náuseas. Recomenda-se que a troca de um benzodiazepínico pela buspirona seja processual, devido ao fato de seu efeito se iniciar após 2 a 4 semanas de tratamento, perfil esse que favorece a descontinuidade do tratamento • No tratamento inicial da ansiedade associada à demência, o foco são os fatores desencadeantes, como alterações ambientais, dor ou transtorno do sono. O tratamento farmacológico, quando necessário, é realizado com os antipsicóticos atípicos, que são eficazes tanto para a ansiedade como para os transtornos comportamentais. Outras opções são os antidepressivos serotoninérgicos, os estabilizantes do humor e finalmente os anticolinesterásicos (donepezila, galantamina e rivastigmina) e o nmetilaspartato (memantina) usados no tratamento específico da demência. Quando associado à depressão, a duração do tratamento da ansiedade é a mesma desta. Pacientes que apresentam TAG de início em idade mais jovem e que envelhecem com o transtorno devem ser medicados de modo contínuo. Quando o início for na senescência, o TAG tem mais chance de remissão e o tratamento deve ser continuado por ao menos 1 ano após a remissão dos sintomas. • Problemas psicossociais podem retardar a remissão dos sintomas, como problemas entre cônjuges ou parentes e insatisfação com a vida. A psicoterapia é indicada, não havendo, no entanto, superioridade entre as técnicas utilizadas. • ↪Transtorno do pânico • O transtorno do pânico é descrito como um período curto de intenso medo ou desconforto, durante o qual aparecem abruptamente sintomas cognitivos e somáticos de ansiedade, alcançando um pico em 10 min. Acomete 4% da população em geral; a incidência maior é nas mulheres. É raro ocorrer na idade avançada, com prevalência menor que 0,5% em pessoas com idade superior a 65 anos. Os pacientes idosos com pânico são, em geral, doentes crônicos, pois o início dos sintomas ocorreu em fases anteriores da vida. Em qualquer caso, no idoso, a presença de comorbidade deve ser investigada, como depressão, transtorno de ansiedade, demência, doença física ou efeito de medicamentos. Nesses indivíduos, os sintomas são os mesmos dos mais jovens, porém, em menor quantidade e gravidade. • ↪Tratamento • Como é um transtorno tipicamente crônico, seu tratamento requer uma abordagem a longo prazo, com o objetivo de inibir os ataques, aliviar a ansiedade antecipada e a agitação. Os antidepressivos correspondem à terapêutica de eleição. Entre esses, os ISRS são os mais indicados, sendo o citalopram e a sertralina os de primeira escolha. A terapia cognitivo comportamental parece ser eficaz. apresenta os antidepressivos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, para tratamento de diversos tipos de transtornos ansiosos • ↪Outros transtornos afetivos: • O transtorno bipolar no idoso apresenta menor incidência em relação à depressão e aos adultos jovens. Os episódios de mania não são comuns nos idosos e, em geral, ocorrem apenas após alguns episódios depressivos. Os casos de episódio maníaco graves devem ser hospitalizados, até que a medicação possa controlar os transtornos de comportamento. A maioria dos idosos com transtorno bipolar apresentou os primeiros episódios da doença em idades mais precoces; menos de 10% iniciaram os sintomas após os 65 anos. • Alguns fatores podem auxiliar no diagnóstico: longa história de doença, maior número de episódios depressivos graves, presença de sintomas psicóticos e déficit cognitivo. Em instituições psicogeriátricas, a depressão bipolar é um importante fator determinante de novas internações. Assim como em jovens, o lítio é a terapêutica de escolha. No entanto, em idosos, há alteração na sua distribuição, eliminação e 15 Marcella Carvalho 2021.2 interação com outros fármacos. Os efeitos tóxicos do lítio ocorrem em 11 a 23% dos casos. Os antidepressivos isoladamente não devem ser usados. A característica predominante da toxicidade do lítio na pessoa idosa é uma síndrome cerebral aguda, com irritabilidade e redução do nível de consciência, podendo evoluir para o coma. A dose máxima nessa população raramente deve exceder 600 mg/dia, e o nível sérico terapêutico deve ser de 0,4 a 0,7 mEq/ℓ, com medidas em intervalos de 3 a 18 semanas. Adicionalmente, devem ser dosados anualmente a creatinina e os hormônios tireoidianos. A dose de 150 mg, 2 vezes/dia, é segura para a maioria dos idosos. Estão também indicados para o tratamento da depressão bipolar anticonvulsivantes e antipsicóticos como a lamotriginae a quetiapina, respectivamente e eletroconvulsoterapia. Os sintomas agudos da mania geralmente são controlados com substâncias antipsicóticas em um período de 24 a 72h. • Também conhecido como Transtorno Depressivo Persistente, é caracterizado pela presença de humor deprimido que dura a maior parte do dia e está presente quase continuamente. Existem sentimentos associados de inadequação, culpa, irritabilidade e raiva, afastamento da sociedade, perda de interesse, inatividade e falta de produtividade. Se refere a um transtorno depressivo subafetivo ou subclínico, associado a uma cronicidade e pelo menos dois anos, início insidioso (muitas vezes com início na infância ou na adolescência) com curso persistente ou intermitente. O DSM-V classifica Distimia como presença de humor deprimido a maior parte do tempo por pelo menos 2 anos (ou um ano, para crianças e adolescentes). • Os sintomas são semelhantes aos da depressão, porém em menor quantidade e gravidade, além de apresentarem curso mais crônico (mínimo de 2 anos). Em geral, os idosos distímicos foram adultos distímicos que envelheceram com a doença, especialmente as mulheres. Quando a instalação inicial da distimia está associada a um episódio de depressão maior, o diagnóstico correto é depressão em remissão parcial, em vez de distimia. Os pacientes distímicos apresentam redução no desempenho das atividades, afastamento social, incapacidade de responder positivamente a elogios ou recompensas, baixa autoestima, autodepreciação, atitude pessimista em relação ao futuro e lamentações a respeito do passado. Os dados relacionados com o tratamento farmacológico da distimia são conflitantes. A psicoterapia pode ser utilizada; no entanto, a resposta geralmente só ocorre após um longo período de tratamento. Usados ISRS e IMAO 4. Identificar idosos com risco de suicídio • Acompanhar pacientes com risco de suicídio é uma das situações mais desafiadoras e ansiogênicas para os profissionais de saúde. Os médicos geriatras e os profissionais da Gerontologia são vulneráveis a essas situação, uma vez que a taxa de suicídio é maior entre idosos do que entre indivíduos mais jovens, especialmente para homens. • A principal causa de suicídio entre idosos é a presença de depressão, em geral associada às perdas que foram acumuladas ao longo da vida. O exercício religioso da fé e a satisfação com a vida são fatores protetores. • Em relação ao planejamento suicida, os idosos não comunicam a intenção e, eventualmente, quando comunicam, são menos ouvidos. A primeira tentativa é em geral bem-sucedida, pois, além de planejarem mais, utilizam métodos mais letais para cometê-los, especialmente os homens. Portanto, entre idosos, história de tentativas prévias é incomum. • Comportamentos como recusa a alimentar-se, não adesão ao tratamento e autonegligência são considerados comportamentos autodestrutivos indiretos e são comuns em institucionalizados ou naqueles que consideram o suicídio um pecado. Muitas vezes, no entanto, essa atitude pode significar uma tentativa do paciente de barganhar o controle da situação na qual ele se sente desamparado ou desesperançoso, uma vez que sentimentos ambivalentes de terminar com a vida podem coexistir com o desejo de controlar ou testar a família e os profissionais. • Apesar do suicídio não ter uma causa definida, o conhecimento dos fatores de risco pode ajudar na conduta clínica e abordagem do comportamento suicida. Os principais fatores de risco são: ✓ Sexo: na maioria dos países o suicídio é mais comum em homens do que em mulheres. ✓ Idade: o suicídio é mais frequente em idosos e adultos jovens. ✓ Estado civil: o casamento é considerado um fator de proteção no sexo masculino para o suicídio, portanto, pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas são mais propensas a cometer suicídio. ✓ Ocupação: segundo a OMS, o índice de suicídio é maior em pessoas bem empregas do que em pessoas desempregadas. ✓ Imigração e migração: migrações aumentam o risco de suicídio. ✓ Transtornos mentais: aproximadamente 90% dos suicídios ocorrem com algum transtorno mental associado. ✓ Transtorno de humor: os transtornos de humor, como depressão e transtorno afetivo bipolar, estão fortemente associados com o suicídio, principalmente quando não reconhecidos ou não tratados. ✓ Alcoolismo e uso de drogas: o consumo de bebidas alcoólicas é frequentemente associado ao suicídio, principalmente nas pessoas jovens, assim como o uso de drogas. ✓ Esquizofrenia: a esquizofrenia, assim como outros transtornos psicóticos crônicos, aumenta de 8 a 14% o risco do paciente cometer suicídio. 16 Marcella Carvalho 2021.2 ✓ Transtornos de personalidade: aumentam 12% o risco de suicídio em homens e 20% em mulheres. ✓ Transtornos de ansiedade: o transtorno do pânico é o transtorno de ansiedade mais relacionado ao suicídio, seguido pelo transtorno obsessivo-compulsivo. ✓ Transtornos alimentares: pacientes com transtornos alimentares apresentam um risco 58% maior de cometer suicídio. ✓ Doenças clínicas: algumas doenças clínicas aumentam o risco de suicídio, como AIDS, epilepsia, doença de Huntington, doenças neurológicas, lúpus e neoplasias; • ●Tentativas prévias: a tentativa prévia de suicídio é o principal fator de risco. • Em contrapartida, alguns fatores são considerados de proteção para o suicídio. São eles: ter uma religião, ter filhos em casa, ter habilidades cognitivas e sociais e ser casado. • Intervenção médica: A avaliação minuciosa e cuidadosa do paciente pode evitar omissões durante o atendimento e diminuir os riscos de suicídio. O médico e os familiares devem ter conhecimento sobre os fatores de risco e de algumas circunstâncias que sugerem uma intenção suicida, como: comunicação prévia de intenção suicida, carta de despedida com planejamento detalhado, precauções para o ato não ser descoberto, ausência de pessoas por perto que pudessem socorrer, não procurar ajuda após a tentativa de suicídio e arrependimento por ter sobrevivido. • Não existem protocolos de conduta ideais para avaliação do risco de suicídio, portanto, na suspeita de que o paciente apresente risco de suicídio, deve-se realizar investigações a fim de excluir ou confirmar a suspeita. A família e o paciente devem ser orientados a retirar da casa medicamentos, armas brancas e armas de fogo, manter abstinência de álcool e drogas, evitar locais elevados e sem proteção e evitar que o paciente fique sozinho ou trancado. • O paciente deprimido deve ser questionado diretamente sobre eventuais pensamentos suicidas, assim como os planos elaborados para cometê-lo e a disponibilidade dos meios necessários. A família também deve ser questionada caso o paciente negue os pensamentos suicidas, apesar da suspeita clínica. Nesse caso, algumas pistas devem ser buscadas, como comportamentos que sugiram a intenção. Os casos suspeitos devem ser hospitalizados ou acompanhados ambulatorialmente, com retornos a curto prazo e contato telefônico caso o paciente não compareça para consulta. A melhor estratégia para redução de risco é o tratamento da depressão. • No entanto, esses pacientes devem ter um acompanhamento mais próximo, pois, contraditoriamente, a instituição da terapêutica, apesar de adequada, pode, no início, também ser facilitadora do suicídio, especialmente quando há melhora dos sintomas somáticos antes da remissão da ideação suicida. • FREITAS, Elizabete Viana; PY, Ligia. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 4ª Edição • NUNES, Edgar. Princípios básicos da geriatria e gerontologia. • QUINHONES, Marcos Schmidt; GOMES, Marleide da Mota. Sono no envelhecimento normal: aspectos clínicos e fisiopatológicos. Rev Bras Neurol, 2011 • MINAYO, Maria Cecília de Souza; CAVALCANTE, Fátima Gonçalves. Suicídio entre pessoas idosas: revisão da literatura. Rev Saúde Pública, 2010
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