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Profissionais de saúde diante da morte Morte e desenvolvimento humano, cap.13 O que faria um estudante escolher a medicina como área de realização profissional? - Os médicos têm um buscando, na sua futura profissão, uma forma de controle e domínio sobre a morte - Se o paciente morre, o narcisismo do médico fica ferido e isto faz com que, em algumas situações, o cuidado com o paciente grave fique relegado a outras pessoas - O profissional de saúde pode reexperimentar medos infantis de separação, abandono e o medo da sua própria mortalidade - Defesas contra processos contratransferenciais podem ser despertadas, tais como: negação, falso otimismo, superproteção e intelectualização, que vão interferir profundamente na relação profissional/paciente. - Conforme a especialidade escolhida pelo médico os sentimentos e as expectativas são diferentes - O médico oscila entre a sensação de tudo poder e a frustração de nada poder fazer diante dos imprevisíveis processos biológicos. - O primeiro encontro do estudante de medicina com a morte é na aula de anatomia, o que pode ser muito sofrido - Para o estudante de medicina, desvendar os segredos do corpo, seu funcionamento e recuperação são os grandes desafios, sendo o maior deles adiar e controlar a morte. - No treinamento do pessoal da área médica ocorre uma dessensibilização dos elementos que possam evocar a morte - É enfatizada a objetividade científica, o controle sobre a doença, e o paciente vira um número - No curso de enfermagem também são mais enfatizados os aspectos técnicos e práticos da função de enfermagem E como fica o psicólogo diante da questão da morte? - Pouco se tem escrito sobre este profissional diante da questão da morte - Psicologia estuda a relação do homem com o mundo, então a morte deveria ser área de preocupação primordial da psicologia - O psicólogo pode se defrontar com a questão da morte em qualquer situação de trabalho, até naquelas onde nem se imaginaria - A intencionalidade da ação autodestrutiva, a princípio latente, pode em algumas situações transformar-se num processo mais explícito, como evidenciado pelo grande número de tentativas de suicídio e por ações letais - Outra questão frequentemente perturbadora é a perda de pessoas significativas, a separação, o abandono e o luto - Um novo campo de trabalho está se abrindo para o psicólogo dentro dos hospitais não só na área da psiquiatria, mas também em outras, fazendo parte das equipes multidisciplinares de saúde - O trabalho do psicólogo no contexto hospitalar ainda é polêmico, muitos tentam adaptar modelos de atuação em consultório particular nos hospitais, o que causa problemas - O trabalho do psicólogo é minimizar o sofrimento ligado à hospitalização e, por isso, ainda nos surpreende o fato de muitos hospitais se recusarem a ter psicólogos em seu quadro de profissionais - Não acreditamos que se devesse coagir os hospitais a contratarem psicólogos, mas concordamos inteiramente que esta deveria ser uma obrigação moral das instituições de saúde - Trabalhar com o sofrimento ou a perda de significado da existência pelo paciente, pode despertar no profissional as mesmas vivências, ferindo o seu narcisismo, e a sua onipotência, colocando-o diante do incompleto e do não-terminado - Neste momento de reflexão e eventual ampliação do currículo, a inserção do tema da morte, em suas várias abordagens e instâncias, poderia ser pensada, incluindo módulos interdisciplinares e uma diversidade de abordagens para perceber e compreender fenômenos psicológicos, principalmente diante de um tema tão complexo e abrangente como é a questão da morte - A escolha da psicologia na busca de autoconhecimento pode envolver, mesmo que de forma subliminar, uma busca de compreensão e reflexões sobre a questão da finitude, portanto, da morte Cursos sobre a Morte e o Morrer - Os cursos de educação para a morte, com os mais variados tipos de materiais e programas, são oferecidos nos EUA, envolvendo todos os níveis de escolaridade, inclusive para crianças (1970) - A expectativa destes cursos era diminuir o medo da morte e levar a uma facilitação e preparação para o processo de morrer - Havia o temor de que um curso deste tipo poderia induzir as pessoas ao suicídio ou a uma predisposição para morrer - Entre os principais motivos de escolha dos cursos sobre a morte os seguintes: curiosidade, busca da compreensão da morte do ponto de vista pessoal, ajuda para lidar com pessoas diante da morte e preparação para enfrentá-la - No Brasil ainda não temos uma sistematização tão clara - A partir da constatação da existência de poucas experiências deste tipo, em nosso país, e dada a importância da questão da morte para a formação do psicólogo, surgiu a ideia de oferecer um curso sobre o assunto na graduação em psicologia - A disciplina foi oferecida pela primeira vez em 1986 - Objetivos do curso estão os seguintes: · Apresentar teorias psicológicas, que trazem a questão da morte como objeto de estudo. · Possibilitar a sensibilização e a escuta dos processos internos perante a morte · Refletir sobre a ação do psicólogo em situações envolvendo a questão da morte - Motivos de escolha do curso encontrei: · Busca da compreensão da morte: aparece a necessidade de pensar e refletir sobre ela e preponderância da razão sobre a emoção · Busca de familiarização com um assunto considerado tabu: aponta-se a necessidade de preencher uma lacuna que o interdito da morte em nossa sociedade provoca, ou seja, debater, discutir esse tema · Busca de autoconhecimento: este aspecto foi ligado com o fato de se considerar a morte como um "tabu interno" · Busca de instrumentalização de uma práxis: nestes relatos há um pedido explícito de como lidar com pessoas durante a morte, principalmente com o "paciente terminal". - É importante para o psicólogo conhecer fatos sobre a morte, pois esta faz parte da vida - O psicólogo como ser humano e profissional deve buscar o autoconhecimento, que fundamenta a sua práxis, aliada ao conhecimento de teorias psicológicas - Avaliação geral - aspectos positivos: · Contato com questões pessoais, mobilizando o lado emocional em relação a tópicos referentes à questão da morte. · Abriu espaço para um tema pouco debatido. · Proporcionou condições para questionamentos e reflexões · Ganhou importância para a formação do psicólogo. · A abrangência dos temas possibilitou a abertura de novos caminhos. · As estratégias de aula favoreceram a construção do curso em conjunto. - Aspectos negativos: · O curso teve uma abordagem superficial, sem aprofundamento e conclusões, os assuntos não foram amarrados · Foi gasto um tempo excessivo com relatos pessoais. · O curso deveria propiciar uma abordagem mais prática, dar mais conhecimentos sobre o trabalho do psicólogo nesta área, oferecendo estágios
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