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Brasília-DF. 
Humanização, Saúde Pública 
e interdiSciPlinaridade em Pediatria
Elaboração
Lourdes Aparecida Galego Valero
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção ................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5
introdução.................................................................................................................................... 7
unidAdE i
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO ....................................................................................... 9
CAPítulo 1
INTRODuçãO à INTERDISCIPLINARIDADE .................................................................................. 9
CAPítulo 2
FRAgMENTAçãO DO CONHECIMENTO E SuAS IMPLICAçõES ................................................ 21
unidAdE ii
COMPREENDENDO O PROCESSO DE HuMANIzAçãO ........................................................................ 27
CAPítulo 1
HuMANISMO E PROCESSO DE HuMANIzAçãO HOSPITALAR .................................................... 27
CAPítulo 2
ATENDIMENTO HuMANIzADO .................................................................................................. 35
unidAdE iii
HuMANIzAçãO E TRAbALHO INTERDISCIPLINAR NA ASSISTêNCIA PEDIáTRICA ........................................ 42
CAPítulo 1
CONSTRuçãO DE uM PROCESSO INTERDISCIPLINAR DE HuMANIzAçãO ................................ 42
CAPitulo 2
HuMANIzAçãO NO AMbIENTE DE TRAbALHO .......................................................................... 50
CAPítulo 3
A ASSISTêNCIA PEDIáTRICA SOb OLHAR DA HuMANIzAçãO E INTERDISCIPLINARIDADE ............ 57
rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 85
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
Pensar em Interdisciplinaridade implica em analisar este conceito a partir da epistemologia 
e da educação, ou seja, com ênfase na definição destes conceitos e suas implicações na 
prática profissional, e também na estrutura dos currículos por meio da inserção da 
interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem na área da saúde.
Ao longo do texto, iremos abordar, primeiramente, o panorama sócio-histórico da 
interdisciplinaridade e sua inserção na formação em saúde e na prática profissional 
em diferentes níveis de atenção. Em seguida, iremos analisar as principais barreiras ao 
desenvolvimento de práticas interdisciplinares, bem como os pontos fortes e limitações 
da interdisciplinaridade. 
Mais adiante, vamos abordar o conceito de humanização no ambiente hospitalar e sua 
relação com a interdisciplinaridade. 
As demandas e necessidades sociais e laborais exigem uma reflexão crítica do papel da 
interdisciplinaridade na atenção à saúde, a identificação de caminhos possíveis para 
atuar em equipe e do desenvolvimento de práticas mais humanizadas com o intuito 
de oportunizar a integralidade do cuidado e a qualidade e humanização do serviço 
prestado aos indivíduos, famílias e comunidades.
objetivos
 » Analisar criticamente o conceito de Interdisciplinaridade.
 » Descrever sobre as iniciativas de humanização nos serviços de saúde, 
aprofundando conceitos, metodologias e aplicações práticas.
 » Discutir os temas humanização e sua aproximação com a Interprofissionalidade 
na área da saúde, seja no âmbito da formação ou na atuação profissional.
 » Analisar os processos de humanização no ambiente hospitalar, com 
ênfase na UTI pediátrica.
8
9
unidAdE iintErdiSCiPlinAridAdE E 
o ConHECiMEnto
CAPítulo 1
introdução à interdisciplinaridade
Historicamente, a ciência moderna tem sido marcada pela fragmentação do conhecimento 
decorrente do franco processo de especialização observado ao longo dos anos. Pensando 
no contexto em que isso ocorreu, pode-se afirmar que, esse movimento da ciência foi 
necessário e coerente com as demandas da época. 
Em uma rápida contextualização histórica, podemos citar algumas correntes de 
pensamento e elementos culturais que levaram ao estado da arte atual da ciência. A 
Revolução Industrial, o Iluminismo e a Revolução Científica foram cruciais para o 
desenvolvimento científico, como o observamos hoje. No entanto, alguns conceitos e 
práticas levaram ao distanciamento entre as disciplinas, à constante especialização e, 
consequentemente, à fragmentação do conhecimento.
O Positivismo foi uma corrente de pensamento do século XIX. Esse movimento 
teve influência, principalmente na Europa, na organização racional social e partia 
do pressuposto de que a ciência é o único modo de produção de conhecimento e, 
consequentemente, de sua supremacia em comparação a outros meios de produção 
de conhecimento. Sendo assim, muito do que conhecemos hoje é fruto das ciências 
naturais, ressaltando que tudo que é real, verdadeiro e inquestionável é fundamentado 
a partir da experiência e, assim, reivindicando a importância da ciênciabaseada 
nesses princípios. 
Essa breve contextualização é necessária, já que essa corrente acabou determinando a 
estrutura e o planejamento do ensino, os quais, por sua vez, conduziram o conhecimento 
a se tornar fragmentado e disciplinar. Cabe ressaltar que, o modelo cartesiano 
e positivista teve reflexo direto na elaboração de currículos multidisciplinares, 
restringindo a integração de diferentes campos do conhecimento. Esse processo 
permitiu muitos avanços, no entanto, a ciência está em constante desenvolvimento 
para equacionar desafios em variadas esferas. Além disso, considerando que a ciência 
10
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
pode ser determinada pelo contexto em que está inserida e é sujeita à temporalidade, 
essa estrutura de produção do conhecimento tem mostrado sinais de esgotamento e, 
com isso, algumas questões foram levantadas. Apesar disso, muitos aspectos ainda 
persistem, o que ainda influencia a maneira como estruturamos os processos de 
ensino-aprendizagem e, consequentemente, reproduzimos na prática profissional. 
Dessa forma, o século XIX foi marcado pela influência do modelo cartesiano, o que 
levou ao nosso modelo de ciência fragmentada e com cultura de isolamento disciplinar, 
e, mais adiante, resultou na dicotomização dos saberes. Claro que o problema não reside 
na fragmentação para uma aplicação didática de conteúdo ou na especialização, mas 
no fato que passaram da fragmentação para o isolamento quase total, o impactou na 
integração dos saberes e, por sua vez, interferiu na prática profissional e na integralidade 
do cuidado. 
Figura 1. Correntes de pensamento e eventos que influenciaram a evolução da ciência.
Fonte: autor.
Até o momento estamos discutindo a evolução da ciência, a estrutura de ensino 
baseada no modelo cartesiano e positivista e a fragmentação do conhecimento.
 » Mas qual a finalidade e a aplicação no cotidiano, no ambiente laboral 
e nas práticas em um ambiente hospitalar?
 » Qual a importância de entender esse processo e que benefícios irão 
trazer? 
São questões importantes e vale a reflexão. A importância de conhecer e entender todo 
o processo possibilita um olhar crítico sobre o assunto e o processo socio-histórico que 
resultou nessa estrutura para que a assimilação de novos conceitos seja realizada de 
maneira crítica. Lembrando que, todo esse processo tem reflexo direto na prática clínica, 
visto que a universidade foi embasada por essas correntes de pensamento, utilizando-se 
no processo de ensino-aprendizagem e os profissionais formados levam esses conceitos 
11
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
à prática. Vimos que a ciência tem uma característica temporal. Sendo assim, podemos 
afirmar que nem todos os conceitos ou práticas serão verdades absolutas e o progresso 
implica em novas abordagens para produção de conhecimento, bem como novas formas 
de organizá-lo. 
Passamos para um ponto crucial e o principal objeto de estudo do presente material. 
Chegamos na relação entre o profissional e o paciente ou os profissionais e o paciente 
se considerarmos a Unidade de Terapia Intensiva, local onde é necessária a atuação de 
diversos profissionais em conjunto.
A complexidade das relações no contexto profissional e a busca pela resolução de 
problemas são desafios para a elaboração de estratégias de intervenções que levem em 
consideração valores básicos coerentes com a ética profissional, o respeito à dignidade 
humana e uma abordagem de todos os aspectos do indivíduo. Dessa forma, passar a 
ser sujeito e agente da mudança por meio da reflexão sobre a situação e contexto de 
atuação do profissional de saúde.
Importante lembrar o conceito de ética profissional, que é o conjunto de 
normas éticas que formam a consciência do profissional e representam o 
que é próprio da sua área de atuação e a Lei do Exercício Profissional. O indivíduo 
que tem ética profissional deve cumprir com todas as atividades de sua 
profissão, seguindo os princípios determinados pelo seu órgão regulamentador 
e legislação pertinente.
A noção de disciplina a o desenvolvimento de todo o processo é fundamental para o 
entendimento do termo interdisciplinaridade.
Partindo da noção de organização disciplinar, instituída no século XIX, a formação das 
universidades modernas desenvolveu-se com o impulso dado à pesquisa científica no 
século XX acentuando as características descritas desse tipo de organização. Temos 
um processo histórico de nascimento, institucionalização evolução e consequente 
esgotamento.
A disciplina foi uma maneira de delimitar o conhecimento e assim organizar uma 
seleção de conteúdos aliados a um conjunto de procedimentos metodológicos e 
didáticos. Algumas críticas são frequentes a essa estrutura: a dificuldade de estabelecer 
conexões entre os fatos e as barreiras ou fronteiras entre as disciplinas, que dificultam 
a integração e ação de convergência entre os sujeitos. Além disso, quanto mais se 
desenvolvem, se diversificam e se especializam ficam mais distantes da realidade e a 
abordagem de assuntos mais abrangentes, dinâmicos e complexos torna-se inadequada 
e insuficiente. 
12
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
A disciplina é uma categoria organizacional no interior do conhecimento 
científico, pois institui a divisão e a especialização do trabalho e responde 
a diversidade de domínios que recobrem as ciências. A disciplina, por 
um lado, define um domínio de competência sem o qual o conhecimento 
se tornaria fluído e vago. (SCHERER, 2006, p.38).
Mas quais seriam as alternativas a essa organização fragmentada do saber? 
Em meados da década de 1960, o conceito de interdisciplinaridade surgiu na Europa 
a priori a partir da construção epistemológica. Posteriormente, a elaboração de um 
método e a tentativa de elaboração de um processo baseado nesse princípio sem 
esquecer das implicações decorrentes dessa abordagem e pôr fim a construção de 
teoria da interdisciplinaridade. No Brasil a interdisciplinaridade chegou ao final dos 
anos sessenta e no final dos anos setenta a principal preocupação era uma definição 
terminológica. 
As primeiras discussões sobre interdisciplinaridade foram lançadas na década de 
1970 por Georges Gusdorf em parceria com pesquisadores de universidades europeias 
e americanas de diferentes áreas do conhecimento. A proposta inicial desse grupo 
foi apontar as principais tendências de pesquisa com intuito de sistematizar uma 
metodologia, buscar aproximações, similaridades e interlocuções entre as disciplinas. 
No Brasil, a primeira produção significativa sobre interdisciplinaridade foi de Hilton 
Japiassu, o autor apresentou os principais questionamentos a respeito do tema e 
seus conceitos refletindo sobre as estratégias disciplinares. Posteriormente, em 1976, 
escreveu o livro “Interdisciplinaridade e a patologia do saber” apresentando uma síntese 
das principais questões envolvendo a interdisciplinaridade e os pontos fundamentais 
para uma metodologia interdisciplinar. Outro trabalho relevante foi desenvolvido por 
Ivani Fazenda sobre os aspectos relativos à conceituação da metodologia relacionada à 
interdisciplinaridade. 
Até o momento não houve nenhuma menção sobre definição ou conceito de 
interdisciplinaridade. Isso ocorre porque ainda não há um conceito único e estável, 
existe uma grande variação no nome e significado atribuído á prática. Na maioria 
das definições temos a característica relacionada à intensidade de trocas entre os 
especialistas e o grau de interação real entre os sujeitos. 
A falta de um consenso, de uma generalização conceitual de interdisciplinaridade não 
exclui a necessidade da relação de sentidos e significados buscando uma percepção 
comum. Se considerarmos que todo conhecimento mantém um diálogo permanente 
com outros conhecimentos em forma de questionamentos, confirmações, ampliações, 
complementação, fica mais claro entender o conceito de interdisciplinaridade.
13
INTERDISCIPLINARIDADEE O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
No entanto, não podemos confundir essa conciliação, o uso simultâneo e indiscriminado 
de teorias e pontos de vista teóricos e éticos diversos sem considerar as diferenças e 
incompatibilidades. É necessário reconhecer a multidimensionalidade e complexidade 
dos fenômenos que exigem uma perspectiva pluralista e diferentes abordagens. 
É importante esclarecer que, o conceito de pluralismo é colocado nesse contexto no 
sentido de impedir que as múltiplas associações caiam na fragmentação corporativista 
e conservem a multiplicidade, diversidade e pluralismo dos sujeitos. As diferenças 
requerem estratégias e conhecimentos diversos para serem captadas e implementadas, 
assim as diferenças não são resultantes, apenas, dos limites e fronteiras das disciplinas, 
mas também entre teorias, campos epistemológicos e são dependentes da cultura e 
comunicação dos especialistas.
Em síntese as práticas interdisciplinares podem ser definidas como a interação entre as 
diversas fronteiras do conhecimento, um eixo integrador entre os sujeitos que permita 
entender as múltiplas implicações dos fenômenos e dessa maneira observar o mesmo 
objeto de estudo, situação ou o contexto de diferentes perspectivas. O grande desafio da 
interdisciplinaridade é a interação das disciplinas e práticas baseadas em um diálogo 
comum sem cair nas práticas multidisciplinares que apenas produzem conhecimentos 
justapostos em torno de um mesmo problema ou tema. 
Nesse ponto é importante a definição de alguns conceitos para determinar o que queremos 
dizer quando falamos sobre interdisciplinaridade, que representações e configurações 
apresentam em nossa mente e como seria possível sua prática e desenvolvimento. 
Somente a integração de conteúdos e práticas de diversas disciplinas seria suficiente? 
É uma prática coletiva? Seria o conjunto de disciplinas? A atuação conjunto de diferentes 
sujeitos em busca de um objetivo comum?
Para esclarecer e responder algumas questões é importante definir as práticas estabelecidas 
e conceitos relacionados a disciplinaridade, multidisciplinares, pluridisciplinares, 
pluriauxiliares, interdisciplinares e campos transdisciplinares. 
Enquanto a disciplinaridade está relacionada à exploração especializada de determinado 
domínio homogêneo do conhecimento, a multidisciplinaridade pode ser relacionada 
com a gama de disciplinas ligadas pelo diálogo entre os especialistas ou sujeitos, 
mas em relação entre elas. A partir do conceito de multidisciplinaridade podemos 
ver que somente o agrupamento de áreas ou disciplinas não caracteriza uma prática 
interdisciplinar.
O agrupamento de diversos sujeitos não parece levar a uma busca de objetivo comum 
ou a transpor os limites de cada especialidade. Uma das principais exigências da 
14
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
interdisciplinaridade é a que o especialista transcenda, ultrapasse sua própria especialidade, 
tomando consciência de seus limites para contribuir e acolher contribuições de outras 
especialidades. 
Como definição geral, temos os principais conceitos:
Práticas multidisciplinares: pode ser entendida como uma gama de campos propostos 
simultaneamente, um diálogo paralelo entre dois ou mais especialistas, mas sem que 
as relações existentes entre eles apareçam. Geralmente é um sistema de um nível com 
objetivos únicos e nenhuma cooperação. A figura abaixo é utilizada para caracterizar um 
processo multidisciplinar, os retângulos representam uma disciplina ou especialidade, 
fica claro que não há uma interligação entre elas. Outro exemplo comum é a atuação 
de profissionais em um ambulatório ou hospital convencional, onde profissionais de 
diferentes áreas geralmente trabalham de forma isolada sem cooperação ou troca 
de informações entre si. As informações ficam restrita a uma troca relacionada à 
organização administrativa. 
Figura 2. Exemplo de organização multidisciplinar.
MÉDICO ENFERMEIRO FISIOTERAPEUTA
Fonte: autor.
Práticas pluridisciplinares: podem ser definidas como a justaposição de disciplinas, 
especialistas, geralmente situados hierarquicamente no mesmo nível, com relação 
fazendo aparecer às relações existentes entre eles. Sua organização apresenta um só 
nível com objetivos múltiplos, cooperação entre os sujeitos, mas sem coordenação. 
Como exemplo de práticas pluridisciplinares, reuniões clínicas onde casos de pacientes 
são discutidos por diversos profissionais trocando informações sobre o caso. Reuniões 
de grupos técnicos planejando avaliações ou procedimentos científicos são exemplos de 
práticas pluridisciplinares.
Figura 3. Exemplo de organização pluridisciplinar.
ENFERMEIRO
MÉDICO
FISIOTERAPEUTA
Fonte: autor. 
15
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
Práticas interdisciplinares: são caracterizadas pela interação participativa conexas e 
com objetivos comuns. Inclui a participação e pactuação de objetivos comuns a um 
grupo de campos do saber conexos com intensa troca de entre os sujeitos. Dessa maneira 
introduz a noção de finalidade maior que redefine as fronteiras disciplinares, os 
limites internos dos campos originais lavando a mudanças estruturais gerando 
enriquecimento mútuo e a interação dos sujeitos. É um sistema de dois níveis com 
objetivos múltiplos coordenados e com uma tendência a horizontalização das relações 
de poder entre os sujeitos.
É importante destacar que, as práticas interdisciplinares exigem a identificação de 
uma problemática comum, intencionalidade e uma plataforma de trabalho conjunto 
para que os princípios e conceitos fundamentais de cada campo sejam, em um esforço 
comum, decodificados em linguagem mais acessível para os envolvidos identificando as 
diferenças e convergências dos conceitos para uma ação contextualizada. Desta forma 
a possibilidade de uma aprendizagem mútua é possível, que não se concretiza pela 
simples adição ou mistura de sujeitos ou disciplinas, é necessária uma recombinação 
dos elementos internos, organização e objetivo comum para a implementação de um 
modelo interdisciplinar. 
As práticas interdisciplinares autenticas permitem extrapolar as os campos, e quando 
prolongadas podem tornar-se novas práticas e até mesmo disciplinas. Podemos observar 
que a estrutura organizacional e o nível de comprometimento para a implementação de 
práticas interdisciplinares levam a uma série de questionamentos e a necessidade de 
novas bases dos princípios de formação tradicional e práticas profissionais, exigindo a 
reelaboração das relações de poder e identidade entre os sujeitos envolvidos. 
Figura 4. Exemplo de organização interdisciplinar.
ENFERMEIRO
MÉDICO
FISIOTERAPEUTASERVIÇO SOCIAL
NUTRICIONISTA
Fonte: autor.
16
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
Campos transdisciplinares: se caracterizam pela interação das disciplinas com uma 
finalidade comum, apresentam uma coordenação dos campos de saberes individuais e 
interdisciplinares sobre uma base geral compartilhada. Isso é possível com a interação 
de médio e longo prazo que possibilitam uma estabilização e criação de um novo campo 
ou prática com autonomia teórica e prática própria. É um sistema de níveis e objetivos 
múltiplos, apresenta uma finalidade comum dos sistemas e uma forte tendência de 
horizontalização das relações de poder entre os sujeitos. Se compararmos com as práticas 
interdisciplinares campos transdisciplinares podem ser considerados uma radicalização 
de nível capaz de flexibilizar as divisões e barreiras convencionais das especialidades. 
Figura 5. Exemplo de organização transdisciplinar.
médico
enfermeirofisioterapeuta
Fonte: autor.
Em síntese podemos resumir os principais pontos da estrutura organizacional dos 
modelos dessa forma: 
 » Multidisciplinares: diálogo paralelo entre dois ou mais especialistas um 
nível, objetivos únicos, nenhuma cooperação.
 » Pluridisciplinares; especialistas, geralmente situados hierarquicamente 
no mesmo nível. Um nível, objetivos múltiplos, cooperaçãoentre os 
sujeitos, sem coordenação.
 » Interdisciplinares: interação participativa conexas, objetivos comuns, 
introduz a noção de finalidade maior que redefine as fronteiras 
disciplinares. Sistema de dois níveis, objetivos múltiplos, coordenado, 
tendência a horizontalização das relações de poder entre os sujeitos.
 » Transdisciplinares: interação das disciplinas com uma finalidade comum, 
apresentam uma coordenação dos campos de saberes individuais e 
17
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
interdisciplinares sobre uma base geral compartilhada. Sistema de níveis 
e objetivos múltiplos, finalidade comum dos sistemas e uma tendência de 
horizontalização das relações de poder entre os sujeitos.
Após analisar as formas de organização e se apropriar dos conceitos relacionados 
as principais formas de organização podemos fazer algumas considerações e 
questionamentos. O objetivo dessa discussão não será categorizar ou dividir em fases 
e ciclos, a contextualização histórica é importante para entender como todo o processo 
se desenvolveu, do qual infere-se desnecessária por criar a falsa ideia de progresso 
colocando o passado ou os elementos que nos apropriamos como atrasados quando 
comparados a atualidade ou previsões sobre um futuro desenvolvimento. Já foi 
mencionado anteriormente a importância do processo histórico, a institucionalização, 
o desenvolvimento e consequente esgotamento, voltamos a esse conceito para deixar 
claro que a divisão, separação não é implica necessariamente em um isolamento. 
A divisão pode ser e foi um ponto que possibilitou inúmeros avanços, no entanto, a 
ruptura de uma visão holística, a crescente especialização e levaram ao isolamento e a 
uma abordagem em unidades. Isso é contrário ao conceito que buscamos que pode ser 
sintetizado como a totalidade como reconstituição do todo. Uma unidade de diversas 
disciplinas e práticas com conexões, integrados e com objetivos comuns. 
A definição dos conceitos e dos tipos de práticas disciplinares é importante para 
evitar equívocos na compreensão do termo interdisciplinaridade e os preceitos para 
implementação de práticas interdisciplinares. A apropriação desses conceitos permite 
uma reflexão profunda sobre as práticas e estruturas onde se desenvolvem, e dessa 
forma atuar de forma crítica.
Importante lembrar, ainda sobre a palavra disciplina, que em sua história está 
justificada como um importante objeto para cada profissão, mas será que 
o problema é que esse conhecimento, principalmente na área da saúde, está 
representado por uma fragmentação de saberes? Ainda sobre a proposta e 
solução, seria sim o trabalho em equipe multidisciplinar uma solução para a 
solução desse problema?
Falar sobre interdisciplinaridade é um exercício de conhecimento que conduz a diversos 
questionamentos e ações práticas com intencionalidade. Uma das características é a 
intensidade de troca entre os sujeitos e integração real dos sujeitos, mas:
Em que nível isso ocorre? 
Que relações são estabelecidas entre os sujeitos para que seja possível um projeto 
interdisciplinar?
18
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
Se compararmos as outras organizações a interdisciplinaridade se diferencia por 
apresentar um sistema de dois níveis com uma forte tendência a horizontalização entre 
os sujeitos. Em sentido mais amplo isso significa que temos uma mudança nas relações 
de poderes entre os sujeitos, as especialidades tendem a essa organização horizontal em 
contraposição a uma organização e interação vertical de poder entre os sujeitos. Não se 
trata de excluir a importância dos profissionais envolvidos, mas reconhecer que as relações 
horizontais permitem uma troca de informações mais significativas sempre levando em 
consideração um objetivo comum e a organização para chegar ao resultado final. 
Esse tipo de organização é mais complexo do que, alguns conceitos levam a acreditar 
que, a simples presença de diversos sujeitos em um mesmo ambiente. É importante 
destacar esse ponto, pois, o termo interdisciplinaridade é extensamente utilizado e, na 
maioria das vezes, não representa de forma adequada o termo. Se aproxima muito do 
modelo multidisciplinar que é muito diferente em sua organização e, consequentemente, 
com resultados distintos. Temos que levar em consideração as implicações de uma 
abordagem interdisciplinar, pode nos proporcionar a possibilidade de rever o antigo 
e torná-lo atual, um processo constante que não deve ser transitório para possibilitar 
uma prática generalizada.
Até o momento não houve nenhuma definição clara e precisa sobre interdisciplinaridade, 
foram apresentadas as principais características, alguns elementos essenciais para a 
uma possível prática interdisciplinar e o contexto em que se desenvolveu. A disciplina 
é uma característica comum das quatro palavras apresentadas: multi e pluri remetem 
a ideia de juntar uma ao lado da outra, inter e trans são no sentido de articulação e 
estabelecer uma relação recíproca e acrescentando a trans o conceito de ir além 
ultrapassando os próprios limites. Essa síntese dos conceitos mostra que existe uma 
tentativa de romper o caráter estagnado das disciplinas em diferentes níveis, talvez isso 
ocorra pelo esgotamento ou pelo desenvolvimento alcançado até o momento. 
Um novo contexto exige novas abordagens e níveis de organização surgem, em 
um primeiro momento temos uma prática onde não existe muita interação, em um 
segundo momento temos uma comunicação entre os sujeitos ou disciplinas e que 
trocam informações, discutem e estabelecem entre si uma interação. Em um terceiro 
nível ultrapassam as barreiras impostas que as afastam e fundem-se formando uma 
nova perspectiva que transcende as anteriores, essa ideia de desenvolvimento e o 
entendimento dos termos é crucial para entender a diferença entre a simples justaposição 
e a fusão dos conceitos, o intermédio a esse processo seria uma transição ao processo 
de fusão. Se lembrarmos dos conceitos estudados temos a interdisciplinaridade nesse 
ponto, não existe uma fusão das disciplinas ou dos sujeitos, mas não se limita ao simples 
convívio no mesmo espaço. 
19
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
Existem muitas opiniões sobre o que constitui a prática interdisciplinar, um ponto 
em comum nas diversas definições é que o termo interdisciplinaridade é considerado 
quando existe uma interação mútua dos conceitos constituindo novo conhecimento 
ou buscando resolução de um problema concreto de forma objetiva, organizada e com 
intencionalidade. Os limites que antes eram barreiras são explorados com a unificação 
de conceitos e novos métodos resultantes da intensa troca de informações permitindo 
que as potencialidades sejam exploradas e ampliadas.
Esse diálogo entre os sujeitos as novas metodologias geradas permitem a construção de 
um novo conhecimento, dessa forma a prática interdisciplinar pode ser uma resposta a 
toda diversidade, complexidade e dinâmica atual. Em um sentido mais radical pode ser 
entendida como a superação de uma visão fragmentada e dicotômica persistente para 
superar a multiplicidade de saberes fragmentados provisórios e parciais.
Ao tratarmos da Interdisciplinaridade há uma relação de reciprocidade, 
de interação que pode ajudar no diálogo entre diferentes conteúdos, 
desde que haja uma intersubjetividade presente nos sujeitos, pois integrar 
conhecimentos significa apreender, disseminar e os transformar. A 
Interdisciplinaridade surgiu como uma nova pedagogia capaz de identificar 
o vivido e o estudado, capaz de construir conhecimento a partir da relação 
de múltiplas e variadas experiências (FAZENDA, 2006, p. 49).
A importância de uma abordagem interdisciplinar fica evidente se levarmos em 
consideração a diversidade e complexidade da realidade na área de saúde, uma vez 
que seu objeto de estudo tem base conceitual situado em campos distintos das ciências 
biológicas, exatas e humanas se considerarmos o âmbito coletivo temosa interação 
entre aspectos biológicos e sociais. Ainda nesse contexto, o processo saúde doença 
envolve relações sociais, expressões emocionais, condições sociais, contexto histórico e 
cultural dos indivíduos ou grupos. 
Analisando esse ambiente dinâmico, os processos e a atuação dos profissionais temos 
um grande desafio de implementar uma abordagem interdisciplinar, no entanto, a 
existência de tantas possibilidades de atuação pode ser um estímulo para exploração 
de estratégias que levem a práticas integradoras levando a um reordenamento interno. 
Assim, podemos compreender melhor a importância da interdisciplinaridade enquanto 
ferramenta na promoção de mudanças em condutas dos profissionais na área da saúde, 
pois trata-se de um processo dinâmico e que envolve todo esforço e cooperação da 
equipe em saúde onde o respeito mútuo, a diversidade e principalmente os diálogos 
entre os profissionais responsáveis pelo cuidado em saúde podem ser classificados 
como o caminho para o início desse processo.
20
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
Com isso, deixamos como proposta de reflexão para a esse tema a importância 
do trabalho em equipe na área da saúde e principalmente dentro de um ambiente 
hospitalar, onde seus trabalhadores e representantes legais podem seguir e construir 
um pensamento interdisciplinar, pois o objetivo é pensar, refletir e principalmente 
trabalhar sobre os diferentes fatores que interferem no contexto social onde a equipe 
de trabalho está inserida. Podemos com isso lembrar que uma ação transdisciplinar 
tem como pressuposto a possibilidade da prática de um profissional se reconstruir e se 
integrar na prática do outro, onde ambos são transformados interferindo assim em uma 
realidade contextualizada. Assim cada profissional deve agir e pensar de forma ética e 
isolada sobre suas atribuições dentro de um contexto em saúde, mas essencialmente 
deve sempre pensar e refletir de forma coletiva, pois é esse pensamento profissional 
coletivo que muitas vezes vai atribuir mais conhecimento e propriedade ao cuidado e 
assistência à saúde de um indivíduo e comunidade. 
Falamos até aqui sobre o tema Interdisciplinaridade, dados históricos, a 
construção desse conceito, sua importância, formas de organização dos serviços 
e principalmente a relação do conceito de Interdisciplinaridade com o Trabalho 
em Saúde, ainda sobre vantagens e os desafios do trabalho interdisciplinar 
em saúde. Falamos sobre a importância e conceito de disciplina dentro desse 
conhecimento, bem como a existência de sua fragmentação. Realizamos ainda 
alguns momentos de reflexão desse tema com a forma de organização de um 
raciocínio e pensamento interdisciplinar.
21
CAPítulo 2
fragmentação do conhecimento e 
suas implicações
A velocidade e o volume de informações produzidas e propagadas propiciadas pelo 
avanço tecnológico, sobretudo das tecnologias da informação e comunicação, e pela 
configuração da ciência, que se constituiu da divisão do seu conjunto de elementos 
partindo do princípio que a análise de cada um dos elementos, finitos, que a 
constitui permite reconstruir o todo. Esse modelo permitiu inegáveis avanços e não 
pode deixar de ser reconhecido, mas essa visão reducionista se revela insuficiente 
se levarmos em consideração a complexidade das relações entre os sujeitos em 
diferentes contextos. 
A organização do conhecimento da forma tradicional apresenta uma tendência ao 
monodisciplinar, a fragmentação levando a uma compreensão de recortes específicos e 
restritos do contexto que está inserido e onde concentra seus conhecimentos adotando 
uma perspectiva metodológica que divide o objeto de estudo para estudar seus elementos 
constituintes e, posteriormente, recompor o todo. A principal limitação desse tipo de 
abordagem é que se estabelece uma ideia de finitude, desconsiderando a multiplicidade 
e complexidade de fatores envolvidos no processo. 
Isso significa que esse modelo analítico está em crise? Não, significa que, com todos os 
avanços, o contexto histórico e social que nos encontramos e os novos desafios, hoje é 
uma abordagem insuficiente se levarmos em consideração todos os fatores citados. É 
necessário reconhecer os resultados e todo progresso que este modelo proporcionou, 
no entanto, a tendência reducionista e mecanicista levou a uma hiperespecialização e 
ao consequente isolamento quase completo das disciplinas. Como resultado temos uma 
realidade parcelada, compartimentos, mecanicista e reducionista, uma prática que 
rompe a complexidade em fragmentos disjuntos, fracionando os problemas e tornando 
unidimensional um contexto multidimensional. 
De uma maneira geral temos uma prática institucionalizada que permitiu grandes 
avanços e conquistas, mas não é suficiente para lidar com a complexidade das relações 
que criou. Um modelo, método ou prática que não responde às necessidades de uma 
comunidade entra em crise e dá lugar ao surgimento de novas práticas. Para refletir 
sobre os conceitos estudados até o momento temos o fragmento de um texto, 
talvez um dos mais críticos, sobre as consequências da constante especialização e 
suas implicações. 
22
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
A leitura do fragmento do texto de Ortega y Gasset para refletir: 
Dantes os homens podiam facilmente dividir-se em ignorantes e 
sábios, em mais ou menos sábios ou mais ou menos ignorantes. 
Mas o especialista não pode ser subsumido por nenhuma destas 
duas categorias. Não é um sábio porque ignora formalmente tudo 
quanto não entra em sua especialidade; mas também não é um 
ignorante porque é um “homem de ciência” e conhece muito bem 
a pequeníssima parcela do universo em que trabalha. Teremos 
que dizer que é um sábio-ignorante - coisa extremamente grave 
– pois significa que é um senhor que se comportará em todas as 
questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a 
petulância de quem na sua especialidade, é um sábio. ” (ORTEGA y 
GASSET, 1929: pp.173-174) 
É um dos textos mais radicais e críticos sobre a ciência moderna, no entanto, notem a 
data que foi escrito – para quem achava que estávamos discutindo um tema recente, 
em construção e com pouco referencial teórico. Isso evidencia que os pensadores desse 
período já se preocupavam com o rumo que a ciência estava tomando: 
Que horizontes alcançariam com esses métodos?
O resultado nós sabemos. A análise do contexto atual e o maior embasamento teórico 
permite entender a fragilidade desses saberes disciplinares distanciados uns dos outros 
e propor alternativas aos saberes e fazeres desse modelo. 
Até o momento temos uma discussão ampla sobre o modelo e as práticas interdisciplinares 
e ao processo de formação, divisão e especialização das disciplinas.
 » Mas qual o impacto na área da saúde? 
 » Qual a influência na prática profissional?
Todos os conceitos e contextualização são importantes para entender e estabelecer um 
marco teórico. A influência na prática profissional e o impacto na área da saúde estão 
intimamente relacionados a esse contexto, nossa formação foi baseada em todos os 
conceitos e princípios estudados até o momento, logo, uma prática e exercício profissional 
baseado na unicausalidade, tecnicista, biologista, individualista e curativista reflete 
todo o processo de formação de profissionais da área de saúde. A atenção é direcionada 
a sujeitos individuais e suas unidades morfológicas, essa abordagem exclui a síntese 
entre o sujeito e o contexto, uma visão mais holística sobre o processo de saúde e doença.
O problema é que nessa síntese temos todos os conceitos, que são reproduzidos, e 
impedem uma prática mais flexível que leve em consideração a diversidade, complexidade 
23
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
e contexto multidimensional do sujeito. Não esqueçam que podemos e devemos levantar 
discussões no sentido de implementar novas abordagens nas práticas profissionais diárias, 
a interdisciplinaridade é um processoem construção, ainda não há uma metodologia 
específica, um conceito único, temos um contexto complexo que exige novas práticas 
visando uma atenção integral ao sujeito o que nos leva a reflexão. 
Devemos ainda lembrar que somos sujeitos ativos nesse processo, estamos inseridos no 
contexto social e histórico atual e é essencial que uma abordagem que supere o esgotado 
modelo vigente. Assim se faz necessário um esforço nesse sentido para obter práticas 
mais participativas e integradoras, principalmente no sentido de levantar problemas, 
analisá-los e propor soluções, onde dentro de um contexto em saúde uma importante 
ferramenta é o levantamento de um diagnóstico situacional em saúde.
Vale destacar que, o conceito e compreensão de diagnóstico situacional na área 
da saúde pode ser considerada como uma importante ferramenta que auxilia na 
identificação dos problemas e das necessidades dentro de um contexto social, 
podemos exemplificar as necessidades de promoção à saúde como educação, 
saneamento, segurança, transporte, habitação e assim conhecer como está a 
organização dos serviços de saúde.
Dentro desse sentido, para entender como esse processo se desenvolveu na área da 
saúde é necessário um breve estudo sobre como o ensino da Medicina no Brasil. 
Como a maioria dos cursos relacionados à área da saúde que foram influenciados e 
seguiram diretrizes do ensino médico, apresentam disciplinas e algumas metodologias 
em comum é essencial entender o processo de institucionalização que levaram a 
formação de profissionais e sua atuação na sociedade. 
O ensino das ciências médicas no Brasil será abordado a partir do final da década de 1970 
quando houve uma reformulação universitária e o modelo de ensino médico no Brasil 
passou a ser fundamentado nos princípios baseados na reforma flexneriana. A reforma 
Flexner ocorreu em 1910, nos Estados Unidos e desencadeou um processo de profundas 
transformações na educação médica e influenciou a estrutura de ensino baseado no 
estudo Medical Education in the United Statesand Canada– A Reporttothe Carnegie 
Foundation for the Advancementof Teaching, mais conhecido como Relatório Flexner. 
Foi considerado como um grande reformista e transformador da educação médica, no 
entanto, seus críticos consideram como o principal responsável pela consolidação de 
um modelo de formação que nunca conseguiu atender ás necessidades da saúde e dos 
indivíduos onde foi implantada. De fato, os conceitos estabelecidos em seu relatório 
já estavam em curso e podemos fazer um paralelo com as principais correntes de 
pensamento já estudadas. 
24
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
Para entender o motivo de um modelo que privilegia a formação científica de alto 
nível, estimulando a especialização com um enfoque cientificista e com descaso ou sem 
levar em consideração o humanismo é necessário recordar qual o conceito de saúde 
estabelecida na época. Temos um contexto marcado pela predominância de doenças 
infecciosas e altos índices de mortalidade, o conceito vigente de saúde era a ausência 
de doença sem levar nenhum outro aspecto em consideração. Nesse conceito surge o 
paradigma flexneriano que até hoje persiste e é fortemente atuante na prática.
Antes de apresentar os conjuntos de elementos que formam esse modelo é importante 
entender o termo paradigma. Thomas Kuhn enfatiza e reconhece que o conhecimento 
científico não é definitivo, mas apresenta uma estrutura e segue uma sucessão de 
períodos. Podemos destacar pelo menos cinco períodos dessa estrutura: 
1. Fase pré-paradigmática.
2. Fase paradigmática ou ciência normal.
3. Crise do paradigma.
4. Revoluções científicas. 
5. Mudança de paradigma. 
Vimos que existe uma estrutura e uma sucessão de períodos, mas qual a definição de 
um paradigma?
Segundo Khun um paradigma é um conjunto de elementos culturais, conhecimentos, 
códigos técnicos e teóricos compartilhados por membros de uma comunidade científica. 
Esse paradigma responde às necessidades da comunidade científica e sua constituição 
determina a existência de uma determinada ciência. 
Os principais elementos presentes nesse paradigma se complementavam e 
potencializavam levando a uma abordagem nas unidades morfológicas do sujeito, 
individuais e sem relação com o coletivo. Sendo eles:
 » Mecanicismo: indivíduo considerado como uma máquina.
 » Unicausalidade: única causa para foco no processo patológico.
 » Tecnificação: especialização precoce.
 » Biologicismo: só leva em conta o processo de desenvolvimento da doença.
 » Individualismo: sem levar em consideração as particularidades do indivíduo.
 » Curativismo: foco no processo de cura da doença.
25
INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO │ UNIDADE I
Figura 6. Principais elementos do paradigma cartesiano/positivista.
Fonte: autor
Com a concepção prévia de conceito de saúde vigente baseado no curativismo, modelo 
no qual a saúde é vista como ausência de doença, a busca por soluções possíveis e 
aceitáveis, os passos para obtê-los foram estabelecidos baseados nos princípios 
vigentes e temos uma abordagem caracterizada por uma concepção fragmentada e 
reducionista. Ao assumir um paradigma se adquire um critério de escolha para os 
problemas, perguntas e práticas. Seguindo uma analogia ao jogo de quebra-cabeça, 
a pergunta de pesquisa, o problema, ou a prática partem do princípio de que todas 
as peças estão necessárias encontram-se dentro da caixa, não é necessário buscar 
nada além para encontrar uma solução. Com isso, a tendência é aumentar o grau de 
aplicação dos conceitos vigentes. 
Toda essa descrição pode dar uma falsa impressão de um processo de evolução 
cumulativo de conhecimento. Contudo uma vez que o processo começa a entrar em crise, 
o paradigma não responde as questões o modelo entra em crise e existe a necessidade 
de um novo paradigma. A substituição de um paradigma por outro não ocorre de 
forma simples e automática com a aceitação de uma nova abordagem, o processo não é 
cumulativo e linear, o processo de evolução implica a perda ou substituição, completa 
ou parcial, do conhecimento no período de crise. No entanto, quando o modelo entra 
em crise a transição não ocorre de forma automática e natural, há uma competição entre 
o antigo e o atual pela preferência da comunidade científica com diferentes concepções 
do problema para fundamentar sua prática. 
Essa transição não é simples porque implica em uma desconstrução de conceitos, 
princípios e práticas que não respondem mais às necessidades e, simultaneamente, 
uma reconstrução da área de estudo a partir de novos princípios e, consequentemente, 
o abandono de velhas hipóteses alterando significativamente as práticas, métodos e 
aplicação elementares do antigo paradigma.
26
UNIDADE I │ INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO
Assim, o processo de evolução implica necessariamente em perda ou substituição, mas 
algumas condições devem ser preenchidas pelo novo paradigma:
1. resolver problemas que o paradigma anterior não tenha conseguido resolver;
2. preservar uma parte substantiva do que foi construído anteriormente. 
Assim o modelo flexneriano passou a ser associado a um ensino rígido que privilegiou 
e estimulou a especialização profissional com um enfoque cientificista sem considerar 
uma abordagem humanista.
Novos modelos vêm sendo elaborados com a ideia de formular um novo paradigma 
que contrapõem o modelo reducionista, onde o modelo hospitalocêntrico surge com 
a proposta de uma abordagem mais contextualizada aos novos desafios que surgiram. 
Um modelo que busca a integralidade considerando as dimensões sociais, econômicas 
e culturais. Assim a partir dos conceitos adquiridos até o momento podemos fazer uma 
reflexão: Quais seriam as barreiras e fragilidades de uma estrutura interdisciplinar? 
Qual impacto da estrutura de ensino implementada baseada na reforma flexneriana?
Foi possível compreender nesse capítulo o importante processo de construção do 
conhecimentoe ainda propomos algumas reflexões a creca do tema. Abordamos 
a importância do conceito de saúde dentro do contexto da interdisciplinaridade, 
onde foi possível perceber o a valorização dos modelos de atenção à saúde, sua 
organização e desafios.
27
unidAdE ii
CoMPrEEndEndo 
o ProCESSo dE 
HuMAnizAção 
CAPítulo 1
Humanismo e processo de 
humanização hospitalar
Até este capítulo, vimos que o modelo de atenção à saúde foi estruturado com base 
no conceito de saúde, no qual a ausência de doença era considerada como sinônimo 
de saúde. Isso conduziu a prática profissional a ser basear na unicausalidade e se 
desenvolver de maneira tecnicista, individualista e curativista. A atenção foi direcionada 
ao corpo biológico em detrimento da consideração da singularidade do sujeito e sua 
inserção social. Este paradigma resultou em um processo de contínua fragmentação do 
conhecimento e, consequentemente, com a especialização precoce, retroalimentação 
esse processo.
O Homem sempre buscou uma forma de entender e de explicar a origem de suas 
doenças, sabemos que dados históricos mostraram a importância e construção 
de algumas importantes teorias, como a miasmática, substituída posteriormente 
pela teoria de que a doença ocorria em decorrência das alterações do meio 
ambiente e a maneira como o homem vivia. Os estudos de Louis Pasteur 
trouxeram a Teoria da Unicausalidade, com a descoberta dos vírus e bactérias 
portanto, do agente etiológico. Com o passar dos anos a após estudos surge 
assim a teoria da multicausalidade como fator determinante e condicionante de 
doenças e não apenas a presença exclusiva de um agente etiológico, e finalmente, 
uma série de outros estudos e conhecimentos provindos principalmente da 
epidemiologia social.
Vale enfatizar que a epidemiologia está, também, preocupada com a evolução e o desfecho 
da história natural das doenças nos indivíduos e nos grupos populacionais, em que a 
aplicação dos princípios e métodos epidemiológicos no manejo de problemas encontrados 
na prática médica com pacientes, levou ao desenvolvimento da epidemiologia clínica. 
Assim a epidemiologia se desenvolveu a partir do estudo dos surtos de doenças 
28
UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
transmissíveis e da interação entre agentes, vetores e reservatórios. A descrição das 
circunstâncias associadas ao aparecimento de epidemias nas populações humanas, 
como nas guerras, migração, fome e desastres naturais, tem aumentado a capacidade 
de controlar a dispersão das doenças transmissíveis por meio da vigilância, prevenção, 
quarentena e tratamento.
À medida que as questões foram ficando mais complexas e as estratégias de resolução 
ineficazes e pouco resolutivas, surgiu um novo paradigma baseado no conceito ampliado 
de saúde, que assume o sujeito em todas as suas dimensões: modelo biopsicossocial. 
O paradigma integralista busca uma atuação mais contextualizada focado na saúde, 
e não exclusivamente na doença, e considerando as dimensões sociais, econômicas, e 
culturais dos sujeitos envolvidos para formatar uma estrutura mais harmônica. 
Portanto, uma reflexão mais complexa e crítica do processo saúde e doença só poderá 
ser alcançada com a formação de um profissional de saúde com:
Visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade, um 
profissional capaz de atuar com criatividade e senso crítico, mediante 
uma prática humanizada, competente e resolutiva que envolve ações 
de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação. Um 
profissional capacitado para organizar, desenvolver e avaliar ações que 
respondam às reais necessidades da comunidade articulando os diversos 
setores envolvidos na promoção da saúde (CADERNOS DE ATENÇÃO 
BÁSICA, 2000, p.9). 
No contexto hospitalar, temos alguns fatores que tornam o cenário mais complexo. 
Um ambiente destinado ao atendimento de pacientes críticos, que necessitam de 
cuidados especializados e de alta complexidade submetidos a mudanças súbitas no 
quadro clínico, a alta complexidade tecnológica e um ambiente tenso caracterizam um 
ambiente com uma dinâmica pouco favorável para reflexões. Temos um ambiente de 
isolamento, profissionais que convivem diariamente com o pronto atendimento, morte 
e a tensão de todos os fatores associados. 
A prática desenvolvida no ambiente de unidade de terapia intensiva expõe os profissionais 
envolvidos a uma série de dilemas éticos e morais relacionados a conduta e a estrutura 
encontrada na maioria dos serviços de saúde. A tomada de decisões conflitantes, 
podemos citar como exemplo a escolha de qual paciente será atendido, a escassez 
de materiais e recursos e a relação entre os profissionais podem levar a e contribuir 
para uma despersonalização do atendimento ao paciente. Não podemos esquecer de 
acrescentar a esse contexto a presença e a relação de familiares ou acompanhantes com 
o paciente, os membros da equipe e ao ambiente.
29
Compreendendo o proCesso de Humanização │ unidade ii
Até o momento parece improvável qualquer reflexão sobre um atendimento humanizado, 
levando em consideração todos os aspectos e dimensões do indivíduo. Isso nos leva a 
algumas questões: 
Como criar um ambiente propício para que os aspectos biopsicossociais sejam 
contemplados como preconiza o paradigma da integralidade?
Outra questão é como superar a/as barreiras do paradigma positivista ou flexneriano 
em um local que exige grande especialização dos profissionais envolvidos devido a 
complexidade das situações enfrentadas?
Existe uma forma de implementar prática humanizadas em um ambiente com as 
características já descritas? 
Que estratégias podem ser adotados para uma prática com múltiplos olhares visando um 
exercício profissional harmonizado com as múltiplas dimensões da existência humana? 
Parece um paradoxo, uma discussão contraditória. Como responder essas questões de 
forma satisfatória e, além de responder ou ficar somente no aspecto teórico, aplicar, 
incorporar nas práticas diárias de uma equipe de saúde? 
A resposta a essas questões será abordada nos parágrafos seguintes. Lembrando que 
se trata de um processo em constante construção e por esse motivo não teremos uma 
única resposta ou uma estrutura comum de definições. Partimos com os conceitos 
adquiridos até o momento e proponho uma reflexão, um posicionamento crítico a todos 
os argumentos fechados em apenas uma definição. 
Se voltarmos aos conceitos estudados anteriormente, podemos responder esses 
questionamentos com certa facilidade, no entanto, é uma questão complexa e sua 
implementação na prática profissional apresenta algumas peculiaridades. Quando um 
paradigma não responde mais às necessidades, a prática começa a apresentar lacunas 
e o modelo entra em crise, surge outro modelo que vai tentar responder e preencher as 
lacunas. Como vimos isso não ocorre de uma maneira simples, no entanto, permite a 
construção de novos conceitos, novas abordagens, novas disciplinas e consequentemente 
práticas que vão seguir o modelo. Se levarmos em consideração que as fronteiras 
do conhecimento e das áreas são imprecisas, que todas as dimensões do indivíduo 
constituem um desafio ao exercício profissional. Emerge o conceito de humanização, 
de um exercício profissional ancorado em princípios e práticas humanísticas e 
humanizadoras e a necessidade de ações pautadas na interdisciplinaridade para 
englobar todas as dimensões necessárias para uma prática integralista. 
30
UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
A aparente ambiguidade e oposição dos termos e das práticas relacionadas com 
a superespecialização e, seu contraponto, práticas integrativas associadas a uma 
estrutura interdisciplinar começa e ser dissipada. Na realidade, temos que levar em 
consideração o fato da necessidade dessa especialização para lidar com esse tipo de 
situação e ao mesmo tempo buscar formas de responder aos anseios e necessidades 
de todos os sujeitos envolvidos. A saúdeapresenta múltiplas facetas e a união desses 
conceitos permite uma harmonização das dimensões do sujeito, lembrando que as 
fronteiras estabelecidas são imprecisas e, ao invés de ser um impedimento pode ser 
uma oportunidade para essa prática integrada.
Uma demanda da saúde emerge nesse contexto:
A humanização e a promoção da qualidade do atendimento à saúde para superar as 
barreiras e desafios do ambiente hospitalar. 
Devemos, nesse sentido fazer uma reflexão sobre a importância desse tema 
Humanização, o que ele nos traz, uma vez que nos parece absolutamente 
natural “ser humano”. Contudo o tema vem sendo cada vez mais discutido, 
principalmente em virtude da necessidade hoje de resgatarmos valores éticos 
perdidos ao longo dos anos. 
Essa demanda surge de uma situação crítica e delicada, a hospitalização, é um evento 
traumático com diversos fatores que expõe a vulnerabilidade, fragilidade do ser humano 
e da condição que se encontra. Vulnerabilidade em todas as dimensões levando em 
consideração o paciente, familiares, os profissionais envolvidos e a estrutura disponível. 
Todo esse cenário ganha contornos especiais e torna a situação mais complexa quando 
se trata de um acontecimento que acomete uma criança, isso implica uma grande 
mudança na rotina de toda a família. A exposição a um ambiente estressante, onde não 
há muitas orientações ou uma rede de apoio, é uma experiência difícil e uma das únicas 
fontes de segurança é a presença dos pais.
No sentido de mudar esse panorama e tentar uma abordagem mais humanizada, o 
Estatuto da criança e do Adolescente, em 1990, apresenta um artigo que preconiza que os 
estabelecimentos de saúde deverão proporcionar condições de permanência adequada 
para um dos pais ou responsável nos casos de internação de crianças ou adolescentes. 
Se levarmos em consideração o tempo que toda essa discussão ocorre e as iniciativas 
de implementar práticas mais humanizadas podemos considerar que levou um tempo 
para um posicionamento oficial e o início de uma organização nos serviços de saúde que 
atendam às necessidades dos indivíduos.
A partir disso, o cuidado em pediatria não significava apenas cuidar da criança com 
ênfase na doença. O processo de cuidar, assistir, acolher deve abarcar outros fatores e 
31
Compreendendo o proCesso de Humanização │ unidade ii
dimensões da criança. Neste processo é considerado o universo e a estrutura familiar, 
considerando as configurações possíveis, do indivíduo, dessa forma a criança mantém 
os sujeitos que representam uma referência fundamental em sua vida. 
Esse momento representa um avanço para implementação de um cuidado mais 
integral, no entanto nos defrontamos com disparidades de conceitos, experiências 
e abordagens acerca do que vem a ser a experiência de hospitalização, o hospital e a 
permanência na unidade de terapia intensiva e o conceito persistente e ainda vigente 
que desconsidera a condição e a complexidade humana do paciente que, muitas vezes, 
é tratado como uma máquina com algum tipo de problema em uma de suas partes e 
deve receber passivamente tudo que lhe é imposto. A urgência de encontrar estratégias 
que proporcionem soluções e uma melhor atenção ao indivíduo é necessário e tem sido 
pauta em diversas iniciativas.
Ao nível local, temos o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar 
(PNHAH), lançado pelo Ministério da Saúde no ano de 2000. A temática ganha 
legitimidade e muda de status quando uma ação desse nível é proposta com objetivo 
fundamental de aprimorar e aprofundar as relações entre os profissionais, pacientes e 
familiares e também entre hospital e comunidade. A abordagem visa promover a assistência 
à saúde, levando em consideração todas as dimensões do indivíduo sob um prisma 
multifatorial e multicausal e reafirmando que cada faceta possui significado e importância. 
Para alcançar os objetivos propostos, o referido programa, prevê várias formas de ação 
com avaliação periódica da satisfação dos usuários e dos profissionais e envolve três 
aspectos fundamentais:
1. capacitação permanente dos profissionais de saúde, proporcionar 
condições para sua participação na identificação de problemas e apontar 
formas de melhorar as condições de trabalho;
2. criar condições para a participação ativa do usuário na avaliação da 
qualidade dos serviços;
3. incluir a participação da comunidade organizada em parceria com agentes 
públicos em ações de apoio e acompanhamento do serviço. 
Essas medidas tem o objetivo de aprimorar as relações entre os profissionais e usuários 
e entre o hospital e comunidade atuando no campo das interações sócio comunitárias 
visando a melhoria do atendimento e qualidade dos serviços prestados. 
Buscando um atendimento humanizado associado ao reconhecimento dos direitos 
do paciente, de sua subjetividade e referências culturais. E implica a valorização do 
32
UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
diálogo entre profissionais para articulação de estratégias que melhorem as condições 
de trabalho. 
Essa iniciativa tenta responder, em partes, as demandas da saúde relacionadas a 
democratização das relações que envolvem o atendimento, melhor diálogo e melhoria 
das relações entre profissionais e pacientes, e reconhecimento dos profissionais de 
saúde e pacientes como sujeitos ativos no processo terapêutico. 
As mudanças não ocorrem de imediato e para a implementação de uma estrutura que 
possibilite a aplicação e implementação de novos conceitos e práticas é necessário exploração 
e investimento. No entanto, as possibilidades para uma prática pautada no reconhecimento 
da singularidade e no diálogo com o paciente constitui um campo novo acompanhado de 
todas as dúvidas e desafios que são características de processos um em construção. 
Na avaliação do público, a forma do atendimento, a capacidade demonstrada 
pelos profissionais de saúde compreender suas demandas e suas expectativas 
são fatores que chegam a ser mais valorizados que a falta de médicos, a falta de 
espaço nos hospitais, a falta de medicamentos… (MS, 2000).
Esse fragmento do documento oficial do programa Nacional de Humanização da 
Assistência Hospitalar traz alguns elementos relacionados aos aspectos de relacionamento 
com os profissionais de saúde. Podemos destacar um ponto central:
“Compreensão das demandas e expectativas…”
Uma das principais queixas identificadas e podemos relacionar com a organização 
hospitalar. Se retomarmos os conceitos da unidade anterior, vimos que a organização e 
constituição hospitalar foi historicamente marcada pela imposição de procedimentos e 
decisões aos pacientes que sequer compreendem, esse distanciamento foi causado pela 
objetividade positivista e sua neutralidade em face ao objeto de estudo. O indivíduo 
não é o doente, mas o foco é a doença, o doente passa a ser visto como o corpo doente 
sem levar em consideração as particularidades e a subjetividade do indivíduo. Assim 
resgatar a humanidade no atendimento seria uma primeira etapa de aproximação para 
atender os anseios dos indivíduos. 
O quanto se conhece dos pacientes? 
Podemos pressupor que os profissionais da saúde saberão ou poderão 
corresponder as suas expectativas?
O que fazer quando o profissional julga saber o que é o melhor para o indivíduo 
e tenta satisfazer essas expectativas?
33
Compreendendo o proCesso de Humanização │ unidade ii
Como e quais mecanismos podem dar voz ao paciente para facilitar a verbalização 
de suas demandas? 
Para responder essas questões podemos buscar o conceito ou o que é considerado como 
tratamento humanizado que responda às demandas. Embora constitua o alicerce de 
toda estrutura do programa e um amplo conjunto de iniciativas, o conceito humanização 
na assistência ainda carece de uma definição clara e precisa.
Uma definição que se aproxima de humanização na assistência definida, levando 
em consideração o que é descrito no documento, como a capacidade de oferecer 
um atendimento de qualidade, articulandoavanços tecnológicos com um bom 
relacionamento entre os sujeitos envolvidos no processo de atenção á saúde. Levando 
em consideração as características individuais e o contexto social que estão inseridos. 
Se analisarmos essa definição podemos notar que se aproxima de uma diretriz de 
trabalho que busca um modelo hospitalar centrado no diálogo e na possibilidade de 
comunicação entre os sujeitos envolvidos. Buscando construir uma rede de significados 
compartilhados diminuindo as barreiras comunicacionais dessa interação. 
Lembrar que a interação entre os sujeitos é influenciada pelo contexto social e cultural, 
organizando um conjunto de referências compartilhadas que podem contribuir para a 
construção de um modelo de saúde que permita ações que respondam às expectativas 
centradas na ética no diálogo e na negociação dos sentidos e rumos.
Essas ações podem levar a constituição de novos parâmetros para ação introduzindo 
mudanças na cultura de assistência a saúde. 
No entanto, devemos refletir sobre a forma que podemos atuar e transformar 
uma cultura, somente com investimento na formação e capacitação dos 
profissionais de saúde é suficiente para atingir os objetivos? 
É muito importante refletir sobre o papel do Ensino Superior, da capacitação dos 
profissionais de saúde, e qual o propósito dos cursos superiores nesse contexto. 
Que tipo de relação se estabelece e quais os impactos na sociedade? 
Para responder essa questão sugiro a leitura do texto: “Rethinking higher 
education and its relationship with social inequalities: past knowledge, present 
state and future potential” disponível em: <https://www.nature.com/articles/
s41599-017-0001-8>. 
No artigo “Rethinking higher education and its relationship with social inequalities: 
past knowledge, present state and future potential” temos algumas questões relevantes 
34
UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
e um ponto importante é a ênfase na necessidade dos institutos de formação superior 
servirem a uma necessidade pública para atender ao desenvolvimento intelectual 
individual e, principalmente, à progressão social. 
Convém destacar que, esses conceitos estão presentes no processo de humanização 
na assistência a saúde. Para que o processo seja possível a participação de sujeitos 
críticos é essencial. Temos uma proposta de ensino que integra a emancipação, com o 
objetivo de repensar estruturas sociais, organizar modelos que reflitam as necessidades 
e ansiedades dos indivíduos. Após a leitura do texto podemos entender a importância 
do processo de formação dos profissionais de saúde e que esse é um dos elementos para 
responder as questões relacionadas com o atendimento humanitário.
35
CAPítulo 2
Atendimento humanizado
Antes de abordarmos o tema Atendimento Humanizado, cabe lembrar alguns dados 
históricos na construção dos Sistemas de Saúde Pública e Saúde Suplementar dentro 
do Estado Brasileiro. Muitas são as dimensões com as quais estamos comprometidos: 
prevenir, cuidar, proteger, tratar, recuperar, promover, enfim, produzir saúde. 
Muitos são os desafios que aceitamos enfrentar quando estamos lidando com a defesa 
da vida, com a garantia do direito à saúde. Desafios que muitas vezes passam não 
somente pela esfera governamental de organização, mas também pelo próprio contexto 
social onde o usuário do sistema de saúde está inserido e ainda a relação e vinculo que 
esse usuário tem com sua unidade e equipe de saúde.
Assim, nesse contexto de desenvolvimento e construção do Sistema Único de 
Saúde e de mudanças na organização da Saúde Suplementar, acompanhamos 
avanços que nos alegram, novas questões que demandam outras respostas, 
mas também problemas que persistem sem solução, impondo a urgência seja 
de aperfeiçoamento do sistema, seja de mudança de rumo. 
No Brasil ainda sabemos que existem:
 » profundas desigualdades socioeconômicas;
 » dificuldades no acesso aos serviços e aos bens de saúde; 
 » desvalorização dos trabalhadores de saúde;
 » expressiva precarização das relações de trabalho;
 » baixo investimento num processo de educação permanente desses 
trabalhadores;
 » pouca participação na gestão dos serviços;
 » fragilidade no vínculo entre trabalhadores da área da saúde e os usuários. 
Com isso alguns aspectos chamam a atenção quanto a avaliação dos serviços de saúde, 
em que ainda existe um despreparo dos profissionais para lidar com a dimensão 
subjetiva que toda prática de saúde supõe, a presença de modelos de gestão centralizados 
e verticais desapropriando o trabalhador de seu próprio processo de trabalho e falta de 
maturidade emocional de gestores. Nesse sentido existe um cenário que indica, então, 
a necessidade de mudanças no modelo de atenção que não se farão sem mudanças no 
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UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
modelo de gestão na qual a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no 
Sistema Único de Saúde veio para propor mudanças.
A Política Nacional de Humanização vem, desde de sua criação, trabalhando com 
algumas diretrizes, para que seja possível sua implementação nos diferentes níveis de 
atenção, sendo:
Ampliar o diálogo entre os profissionais, entre os profissionais e a 
população, entre os profissionais e a administração, promovendo 
a gestão participativa. Implantar, estimular e fortalecer Grupos de 
Trabalho de Humanização com plano de trabalho definido. Estimular 
práticas resolutivas, racionalizar e adequar o uso de medicamentos, 
eliminando ações intervencionistas desnecessárias. Reforçar o conceito 
de clínica ampliada: compromisso com o sujeito e seu coletivo, estímulo 
a diferentes práticas terapêuticas e corresponsabilidade de gestores, 
trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde (BRASIL, 
2004, pg.12).
O objetivo ainda é o de sempre se promover uma nova cultura de atendimento na 
saúde que apoie a melhoria da qualidade e eficácia dos serviços prestados por meio do 
aprimoramento das relações entre:
 » trabalhadores da saúde;
 » usuários e profissionais;
 » hospitais e comunidade.
Nesse sentido a Humanização para o Ministério da Saúde, significa o mesmo que 
humanização da assistência, como o aumento do grau de corresponsabilidade na 
produção de saúde e de sujeitos e mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão 
dos processos de trabalho. Para isso, a Politica segue alguns princípios norteadores 
como: valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas, valorização da 
atenção e gestão em saúde, valorização de compromissos e responsabilização, estímulo 
aos processos comprometidos com a produção de saúde e com produção de sujeitos e 
ainda o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional.
Por subjetividade podemos compreender que é o momento onde do indivíduo 
evidencia sua opinião ou ainda, podemos dizer que é a relação que esse 
indivíduo tem com o mundo externo e seu “interior”, resultando em marcas 
singulares na formação do indivíduo quanto a construção de crenças e valores 
compartilhados.
37
Compreendendo o proCesso de Humanização │ unidade ii
Nesse sentido vale enfatizar que a Humanização é a valorização dos diferentes sujeitos 
implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. 
Os valores que norteiam esta política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a 
corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação 
coletiva no processo de gestão.
O problema é como colocar em pratica o que se espera da Política Nacional de 
Humanização, em que na área da saúde o trabalho é também está caracterizado como 
uma missão, pois não são poucas as exigências: trata-se de trabalho reflexivo que articula 
dimensões técnicas, éticas e políticas, em cenários de múltiplos e diversos atores com 
profissionais de formações diversas e usuários de todas as origens culturas e além disso, 
trabalha-se no campo temático mais denso da experiência humana: a vida, o corpo, 
a morte.Com isso, devemos considerar que a qualidade da atenção e a assistência humanizada 
devem estar presentes desde o momento em que o usuário chega no serviço de Saúde 
ou seja desde o primeiro contato com as portas de entrada dos sistemas de saúde, 
seja ele público ou privado, onde devemos repensar sobre como deve ser o acesso 
aos serviços, pois chamamos esse primeiro contato com os usuários dos serviços 
de acolhimento.
Assim para um atendimento humanizado e acolhedor, devemos agregar profissionais 
com conhecimento de saúde, com capacidade de compreender as dimensões humanas 
do adoecimento da população e exercer de fato a escuta de suas necessidades. Pois acima 
de tudo ser acolhedor é saber ouvir, escutar e dar a melhor resposta.
Nesse contexto, vale ressaltar que o acolhimento pode ser considerado uma importante 
ação, pois traz a possibilidade de mudanças na relação do profissional e usuário com 
sua rede social, utilizando ferramentas de cunho técnico, ético, humanitário e de 
solidariedade. Vale lembrar que dessa forma é possível reconhecer o usuário como 
sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde, uma vez que o acolhimento 
atende a todos que procuram os serviços, ouvindo seus pedidos e assumindo uma 
postura capaz de acolher, escutar e dar a resposta mais adequada ao usuário.
Para um atendimento humanizado e acolhedor é necessário:
Figura 7.
ouvir escutar DAR A MELHOR RESPOSTA
Fonte: autor.
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UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
Ouvir refere-se ao sentido da audição, onde a pessoa ouve apenas, mas pode ou 
não interpretar o processo de comunicação e escutar requer mais que ouvir, ou 
seja, a pessoa deve prestar atenção ao o que se está sendo discutido, entender 
do que se trata, perceber o que foi falado e assim opinar.
É importante criar espaços legítimos de fala e escuta, que devolvam 
à palavra sua potência reveladora e transformadora. Na relação do 
profissional com o paciente, a escuta não é só um ato generoso e de boa 
vontade, mas um imprescindível recurso técnico para o diagnóstico e a 
adesão terapêutica. Na relação entre profissionais, esses espaços são a 
base para o exercício da gestão participativa e da transdisciplinaridade 
(RIOS, 2009, pg12)
Surge nesse sentido a importância do acolhimento como tecnologia de ação, que é 
a concentração de atividades com o objetivo de se ampliar a capacidade de escuta e 
resolutividade, por meio do uso de tecnologias relacionais de informações, o que 
chamamos de conhecimentos específicos, ou ainda de conhecimentos técnico/científicos, 
o que de forma logica leva a uma competência profissional.
Atendimento Humanizado em ambiente 
Hospitalar
A atenção Hospitalar é caracterizada por suas várias dimensões que se inter-relacionam, 
construindo assim a assistência hospitalar, onde as mais relevantes são: dimensão 
assistencial, dimensão gerencial, dimensão administrativo/financeira, dimensão ensino 
e pesquisa e dimensão social. Assim vale destacar que o trabalho em um ambiente 
hospitalar diante dessas variáveis torna-se desafiador e complexo.
Vamos nesse sentido discutir e refletir sobre a importante dimensão assistencial, que 
envolve a forma de organização tecnológica do trabalho hospitalar. Devemos ainda nessa 
dimensão considerar o modelo clínico aplicado, principalmente em virtude da dinâmica 
e constantes mudanças na tecnologia hospitalar. Com isso o grande desafio colocar em 
prática a integralidade do cuidado ao indivíduo, promovendo articulação do trabalho das 
diversas equipes e ao mesmo tempo promovendo a humanização do cuidado, ou seja, 
uma qualificação das relações entre equipes de saúde e usuários do sistema, com base em 
valores como respeito às singularidades e defesa dos direitos dos usuários.
Considerando as variáveis, sustentabilidade financeira, responsabilidade social e a 
responsabilização das três esferas de governo com os sistemas de saúde no Brasil, foram 
necessárias mudanças, transformações e principalmente readequações do papel dos 
hospitais dentro da Rede de Atenção à Saúde. Nesse sentido, vale lembrar que, hoje o 
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Compreendendo o proCesso de Humanização │ unidade ii
Sistema Único de Saúde e a Saúde Suplementar por meio dos Planos de Saúde trabalham 
sob a regulamentação de políticas próprias na gestão desses equipamentos em Saúde.
Acesse o endereço eletrônico a seguir e leia matéria sobre o papel dos hospitais 
na Rede de Atenção a saúde.
Disponível em: <http://www.conass.org.br/biblioteca/pdf/revistaconsensus_11.pdf>
Assim, uma preocupação real para a gestão hospitalar tem sido a forma de relação de seus 
trabalhadores e seus usuários. Com isso o tema Humanização Hospitalar vem ganhando 
força e se transformando em uma ação importante e presente no processo de trabalho 
diário dentro das Instituições Hospitalares. Contudo sabemos que para o aprimoramento 
do processo de trabalho, esse deve estar pautado no respeito e na valorização das 
pessoas, tornando as ações de assistência hospitalar muito mais humanizada. Nesse 
sentido ainda, importante lembrar que programas de humanização fazem parte dos 
contratos de gestão entre as Instituições Públicas e organizações sociais, onde as ações 
de humanização dentro do ambiente hospitalar estão estabelecidas como meta. Dessa 
forma o gestor hospitalar deve conscientizar-se sobre a necessidade de organização dos 
serviços fundamentada em programas e ações de Humanização Hospitalar.
Como humanizar a assistência hospitalar se quando entramos dentro de 
algumas Instituições ainda nos deparemos muitas vezes com regras, orientações 
e principalmente horários pré-estabelecidos para visitas aos pacientes?
Vale destacar que, para o bom funcionamento das Instituições Hospitalares é necessário 
sim estabelecer algumas regras, contudo é sabido que se a gestão busca ações de 
humanização para a organização do serviço, essas regras devem ser constantemente 
avaliadas. O paciente que se encontra em regime de internação e também seus 
familiares esperam sempre ter problema de saúde resolvido. O problema é que sem um 
acolhimento adequado por parte dos profissionais que representam a Instituição, os 
conflitos certamente ocorrerão. Contudo sabemos e como já dito anteriormente, que a 
Instituição Hospitalar é muito complexa em regras e normas, criando assim, uma certa 
dependência dos pacientes com os profissionais onde o paciente percebe, por vezes, 
que perdeu a sua individualidade e privacidade. Assim a solução para esse problema é a 
implantação de ações dentro da Política e programas de humanização, considerada uma 
importante estratégia de gestão hospitalar e comprometida com a defesa da vida, onde 
todos os sujeitos, gestores de saúde, trabalhadores e usuários devem estar envolvidos. 
Importante destacar que ações com base em programas de humanização tem como 
proposta a troca de saberes que inclui os trabalhadores da saúde, seus usuários e 
principalmente os gestores. Com isso, dentro das Instituições Hospitalares se faz 
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UNIDADE II │ ComprEENDENDo o proCEsso DE HUmANIzAção
necessário aprimorar a forma de comunicação dos sujeitos envolvidos, onde para 
que as mudanças ocorram com foco na Humanização, o objetivo é a construção de 
soluções compartilhadas.
Assim a Política Nacional de humanização quando instituída, colaborou muito para a 
área hospitalar, pois veio para estimular a comunicação entre gestores, trabalhadores 
e seus usuários na construção e aprimoramento de novos processos de trabalho, 
tornando assim praticas mais humanizadas e acolhedoras. Portanto, humanizar a 
assistência hospitalar requer estratégias e a utilização de mecanismos que permitam a 
participação de gestores, trabalhadores e usuários. Portanto, os gestores responsáveis 
por Instituições Hospitalares devem estar preparados para entender a importância da 
inclusão de seus trabalhadores na gestão dos serviços sob sua responsabilidade.
Cabe a partir desse momento, enfatizar alguns dos princípios norteadores da

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