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Resenha Crítica do Livro O Cortiço de Aluísio Azevedo, com discussão teórica

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RESENHA CRÍTICA POR MARCELO LUCAS
O cortiço como uma alegoria da engrenagem social brasileira 
	Considerado pela crítica literária como a obra máxima do naturalismo no Brasil, O cortiço (1890) é um retrato fiel do determinismo, de como a força dos instintos, a influência do meio, da raça e da história podem determinar o comportamento de um indivíduo. Este romance de tese, que representa a realidade sociopolítica carioca no século XIX, possui 23 capítulos narrados de forma onisciente e linear. Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, autor não só da história em questão mas também de outras narrativas como O Mulato (1881) e Casa de Pensão (1884), foi um excelente fixador de movimentos de massas e que gostava também de se expressar por meio de contos, crônicas, peças teatrais, desenhos e caricaturas. O maranhense de “vocação artística acentuada”, em O cortiço, apresenta a sociedade brasileira, que na busca pela definição de valores e tradições, acaba recebendo influências externas perniciosas, fazendo com que esse romance manifeste “[...]não tipos ou personagens mas simplesmente uma massa amorfa, mistura degradante de vícios, crimes, de predomínio ostensivo do sexo, num estado de quase completa amoralidade[...]” (CASTELLO, 1953, p. 449).	
	 Na história, temos de um lado João Romão, um taverneiro e imigrante português que tenta não se deixar vencer pelo meio e mesmo que através de atitudes moralmente questionáveis, almeja além do enriquecimento, um status na sociedade. Por outro lado, nos é apresentado Miranda, um comerciante burguês, dono de um sobrado localizado ao lado do que João Romão viria a construir de forma espontânea: o Cortiço São Romão. Esses dois personagens, em uma disputa por poder e posição social naquela região, iniciam entre eles uma certa rivalidade. Além disso, o romance explora também as ambições, as características físicas e comportamentais de personagens como Bertoleza, Jerônimo, Rita Baiana, Zulmira, Pombinha, dentre outros. 
	Apesar da narrativa apresentar vários personagens considerados psicologicamente superficiais (CASTELLO, 1998, p. 448), o personagem principal da história é o próprio cortiço. Isso, devido as ações do enredo acontecerem nele de forma dinâmica, fazendo com que o espaço se torne um organismo vivo, comparado pelo próprio narrador a estrutura de uma floresta, como se fosse regido por leis biológicas (CANDIDO, 1998, p. 118) que determinam o caráter moral de quem habita o seu interior.
 	Por isso, entendemos que Aluísio tem uma tese que sustenta a sua narrativa, logo, a sua obra está em função de um argumento. Argumento esse, como apresenta Candido (1998, p. 120), pautado no resultado de promiscuidades e da degradação do ser humano por meio da mistura de raças em um mesmo recinto. Vale ainda ressaltar que, em várias passagens do livro há o uso da zoomorfização como resultado desse determinismo, onde o indivíduo está sujeito ao intercurso de forças mecânicas acentuadas pela hereditariedade e pelo ambiente (COUTINHO, 1999, p. 13). Outro ponto relevante em nossas discussões, é que apesar de vivenciarem e compartilharem influências dos mesmos movimentos literários, Machado de Assis e Aluísio Azevedo se diferenciam em alguns aspectos: enquanto Machado substitui o determinismo biológico a medida em que realiza uma análise psicológica mais aprofundada em personagens como Brás Cubas, Azevedo faz um recorte mais pontual da sociedade, principalmente ao se inspirar no romance L'Assommoir, de Emile Zola para escrever O cortiço (CANDIDO, 1998, p. 112). 
	Característico de autores do naturalismo, a narrativa de O cortiço apresenta uma linguagem mais simples, direta e natural, o que facilita a leitura e o acesso a obra. O grande sucesso desse livro resultou em várias adaptações como a versão cinematográfica dirigida por Francisco Camargo Jr., além de sua cobrança nos mais importante vestibulares do país. Ademais, podemos (e devemos) direcionar a nossa leitura do romance pelo prisma alegórico da sociedade brasileira da época, não somente pelo forte crescimento urbano e pelas mudanças históricas do século XIX, como também pela ascensão da burguesia por meio do capitalismo explorador e do proletariado. Essas questões, que merecem o nosso destaque, são vivenciadas atualmente em nossa sociedade pelas lutas de classes e nas relações de explorado e explorador.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 2004.
CANDIDO, Antonio. De cortiço a cortiço. In:__________. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1998. p. 111-129.
CASTELLO, José Aderaldo. Aspectos do Realismo-Naturalismo no Brasil. In: Revista de História. São Paulo. v. 6, n. 14, 1953.
COUTINHO, Afrânio; COUTINHO, Eduardo. A literatura no Brasil. Vol. 4. São Paulo: Global, 1999.