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ESPELHO_CORRECAO_S3 - RECURSO ORDINÁRIO TRABALHISTA

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Seção 3 
ESPELHO DE CORREÇÃO 
DIREITO DO 
TRABALHO 
 
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Vamos à resolução comentada do caso proposto. 
O trabalhador Pedro Castilho ajuizou reclamação trabalhista contra a Construtora Viver Bem Ltda. 
Os pleitos foram julgados parcialmente procedentes e ambas as partes foram condenadas ao 
pagamento de honorários advocatícios. 
No caso em tela, a pela peça processual adequada é o Recurso Ordinário, nos termos do art. 895 da 
CLT, uma vez que estamos diante de uma sentença. Dessa forma, ela deve ser endereçada ao juízo 
prolator da decisão, ou seja, a 100ª Vara do Trabalho de São Paulo/SP. 
Você, aluno, deve apresentar uma petição endereçada ao juízo que prolatou a sentença, requerendo 
a juntada das razões recursais. Anexa a ela é elaborado o Recurso Ordinário, dirigido ao Tribunal 
Regional do Trabalho da 2ª Região, órgão que julgará o recurso. 
Como já sugerido, a fim de evitar equívocos por parte do juízo, é importante elaborar um tópico 
relativo à tempestividade recursal, assim como referente à desnecessidade do recolhimento de 
custas processuais, ante a sucumbência parcial. 
O mérito do Recurso Ordinário deve versar sobre a reforma da decisão que julgou improcedente o 
pedido de ressarcimento com os gastos do transporte. O fato de o obreiro ter ido de carona não 
afasta o seu direito ao vale-transporte, caso tivesse o vínculo de emprego reconhecido 
espontaneamente pela reclamada, ou seja, desde o início da prestação de serviços. 
O Recurso Ordinário também deve insurgir em face da condenação ao pagamento de honorários 
advocatícios. Deve-se questionar a constitucionalidade do art. 791-A da CLT. 
Após expor os fundamentos fáticos e jurídicos pelos quais pugna a reforma da decisão de primeiro 
grau, você deve requerer o conhecimento e provimento do Recurso Ordinário. 
 
 
 
 
Seção 3 
DIREITO DO TRABALHO 
Na prática! 
 
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 100ª VARA DO TRABALHO DE SÃO 
PAULO/SP 
 
Processo nº 
 
 
PEDRO CASTILHO, já qualificado na presente Reclamação Trabalhista movida contra a 
CONSTRUTORA VIVER BEM LTDA., não se conformando com a r. sentença, vem, por seu 
advogado infra-assinado, perante o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, interpor, 
com fulcro na alínea a) do art. 895 da CLT, 
 
RECURSO ORDINÁRIO 
 
Satisfeitos os mandamentos legais, requer que o recurso seja recebido e enviado à apreciação do 
Tribunal Regional. 
 
Requer, por fim, a remessa das razões anexas ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2ª 
Região. 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
Local, dia, mês e ano. 
Nome, assinatura e nº da OAB do advogado. 
 
 
 
Processo nº 
Recorrente: Pedro Castilho 
Recorrido: Construtora Viver Bem Ltda. 
 
 
 
 
Questão de ordem! 
 
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RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO 
 
COLENDO TRIBUNAL 
 
 
I – TEMPESTIVIDADE 
 
A r. sentença foi publicada em 25 de maio de 2020, segunda-feira, razão que o prazo para 
interposição do Recurso Ordinário iniciou em 26 de maio de 2020. 
 
Nos termos do art. 775 da CLT, os prazos são contados em dias úteis, excluindo-se o dia de início. 
 
Assim, o prazo para interpor o Recurso Ordinário finda em 4 de junho de 2020. 
 
Não resta dúvida, portanto, acerca da tempestividade do Recurso Ordinário. 
 
 
II – CUSTAS PROCESSUAIS 
 
No caso em tela, o reclamante não tem que fazer qualquer recolhimento de custas processuais, 
mesmo diante do indeferimento da gratuidade judiciária. 
 
O art. 789 da CLT é cristalino ao dispor, em seu parágrafo único, que as custas devem ser pagas 
pelo vencido, que, no caso, foi a reclamada. 
 
Frisa-se que, no Direito Processual do Trabalho, inexiste regra para o rateamento de custas 
processuais, razão pela qual devem ser suportadas pela reclamada, mesmo quando o reclamante 
obtiver êxito em parte mínima da demanda. 
 
Neste sentido, é a jurisprudência do Colendo Tribunal Superior do Trabalho: 
 
CUSTAS PROCESSUAIS. PAGAMENTO PROPORCIONAL Não há falar em 
sucumbência parcial para efeitos de custas no processo trabalho. Precedente desta 
Corte. Agravo de instrumento não provido. (AIRR - 141441-45.2006.5.06.0008, 
Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 04/08/2010, 8ª Turma, 
Data de Publicação: DEJT 06/08/2010). 
 
O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região também tem aresto na mesma direção: 
 
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SUCUMBÊNCIA PARCIAL DO RECLAMANTE. CUSTAS RATEADAS. AUSÊNCIA 
DE PREVISÃO LEGAL NO PROCESSO TRABALHISTA. IMPOSSIBILIDADE. Em se 
tratando do Processo do Trabalho, inexiste, no ordenamento pátrio, previsão de 
pagamento de custas de forma rateada, na hipótese de sucumbência parcial. Vencido 
o reclamado, ainda que parcialmente, a este cabe recolher o valor das custas 
processuais. Recurso patronal a que se nega provimento. (TRT 6ª Região, processo 
n. 0000921-36.2018.5.06.0001, publicado no DEJT em 08/10/2019). 
 
Dessa forma, o recurso obreiro merece ser conhecido, sendo desnecessário o recolhimento de 
qualquer valor a título de custas processuais. 
 
 
III – MÉRITO 
 
III. 1 – VALE-TRANSPORTE 
 
A sentença julgou improcedente o pedido de ressarcimento dos valores equivalentes ao vale-
transporte, ao fundamento de que o reclamante não utilizava transporte público para se deslocar até 
o trabalho e para dele retornar. 
 
Com a devida vênia, a decisão merece reparo. 
 
Inicialmente, cumpre invocar o art. 4º do Decreto nº 95.247/87, que regulamenta a Lei nº 7.418/85. 
Ele somente exonera a concessão do vale-transporte para o “empregador que proporcionar, por 
meios próprios ou contratados, em veículos adequados ao transporte coletivo, o deslocamento, 
residência-trabalho e vice-versa, de seus trabalhadores” (BRASIL, 1987, [s.p.]). 
 
Na situação sob exame, não houve a concessão de qualquer transporte por parte da reclamada. 
 
Além disso, não há nos autos qualquer documento que demonstre a eventual renúncia do trabalhador 
ao seu recebimento. 
 
Neste contexto, não pode ser afastada a obrigação legal, sob o fundamento de que o trabalhador se 
deslocava de carona. Ora, o recorrente assim procedia justamente pela falta de cumprimento da 
legislação pátria. 
 
Nesse sentido, já se manifestou o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região: 
 
 
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RECURSO ORDINÁRIO. VALE TRANSPORTE. DISPENSA. PROVA. CARONA. 
IMPOSSIBILIDADE. Por ser o detentor obrigatório da documentação relacionada aos 
contratos de trabalho, é encargo do empregador provar que o empregado residia 
próximo ao local de trabalho ou que dispunha de meios próprios para sua locomoção 
não necessitando do vale-transporte. A prova faz-se preferencialmente por 
documento assinado pelo trabalhador dispensando o benefício. Não isenta o 
empregador de conceder o benefício o fato de seu empregado, motorista de ônibus, 
depender de eventual carona em veículo de outra empresa, pois o trabalhador não 
pode se sujeitar a caridade de colegas desconhecidos de outra empresa de ônibus, 
que não possui qualquer relação com o empregador, para se deslocar de casa para 
o trabalho e vice-versa. (TRT 1ª Região, processo n. 0055700-72.2009.501.0072, 
publicado no DEJT em 15/05/2013). 
 
Diante do exposto, requer a reforma da decisão de primeiro grau para que a reclamada seja 
condenada ao pagamento de R$ 9,00 (nove reais) por dia, durante todo o período de prestação de 
serviços. 
 
 
III. 2 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
 
A recorrente foi condenada ao pagamento de honorários advocatícios. 
 
A r. sentença também merece reforma neste particular. 
 
Inicialmente, sendo acolhida a pretensão recursal de improcedência dos pedidos, a reclamada terá 
decaído integralmente de seus pleitos. Neste contexto, não sendo a reclamada sucumbente em 
sequer mínima parte, não há que se falar no pagamento de honorários advocatícios. 
 
Ainda que prevaleça a condenação, o art. 791-A da CLT, em que se ampara a decisão, não pode ser 
aplicado, pois é flagrantementeinconstitucional, sendo objeto de Ação Direta de 
Inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal (ADI nº 5766). 
 
Dessa forma, requer a reforma da decisão de primeiro grau para excluir da condenação o pagamento 
de honorários advocatícios. 
 
 
III. 3 – JUSTIÇA GRATUITA 
 
A decisão de primeiro grau também merece reforma no que diz respeito ao indeferimento da justiça 
gratuita requerida. 
 
 
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Isto porque está desempregado, não auferindo qualquer valor. Neste contexto, dúvida não resta de 
que preenche o requisito do § 3º do art. 790 da CLT. 
 
Ademais, o § 4º do art. 790 da CLT dispõe que o “benefício da justiça gratuita será concedido à parte 
que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo” (BRASIL, 1943, 
[s.p.]). Ora, o reclamante está desempregado, sendo que a declaração de miserabilidade jurídica 
anexada aos autos é mais do que suficiente para que lhe seja deferido o mencionado benefício. 
 
Diante do exposto, nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 790 da CLT, requer seja reformada a r. sentença, 
para que lhe seja deferida a gratuidade judiciária. 
 
 
IV – PEDIDO 
 
Diante do exposto, requer seja conhecido e dado provimento ao Recurso Ordinário, nos termos da 
fundamentação supra. 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
Local, 4 de junho de 2020. 
 
Nome, assinatura e nº da OAB do advogado. 
 
 
 
1. Quais são os ritos no Processo do Trabalho? 
Sumário, Sumaríssimo e Ordinário. 
 
2. Como funciona o depósito recursal? 
É um pressuposto recursal feito pelo condenado pecuniariamente no processo trabalhista. 
 
3. Quem pode recolher o depósito recursal à metade? 
Entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais, 
microempresas e empresas de pequeno porte. 
Resolução comentada 
 
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4. Quando podemos ter, no Processo do Trabalho, um terceiro interessado com interesse em 
recorrer? 
Quando uma testemunha é condenada a pagar multa por prestar falso testemunho, ou 
quando um perito nomeado pelo juízo entende que os honorários fixados estão baixos. 
 
5. Qual é a diferença entre a data de disponibilização e a data de publicação de uma decisão 
judicial? 
Disponibilização é o dia em que o despacho ou a decisão é divulgado no Diário Eletrônico da 
Justiça do Trabalho. A publicação somente ocorre no primeiro dia útil subsequente à citada 
disponibilização. 
 
Referências 
 
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 
Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 27 dez. 2020. 
 
BRASIL. Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985. Institui o vale-transporte e dá outras 
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7418.htm. Acesso em: 27 dez. 2020. 
 
BRASIL. Decreto nº 95.247, de 17 de novembro de 1987. Regulamenta a Lei n° 7.418, de 16 de 
dezembro de 1985, que institui o Vale-Transporte, com a alteração da Lei n° 7.619, de 30 de 
setembro de 1987. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d95247.htm. Acesso em: 27 dez. 2020. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5766. Brasília, DF: 
STF, 2017. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5250582. Acesso 
em: 26 dez. 2020. 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7418.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d95247.htm
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5250582

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