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FUNDAMENTOS 
HISTÓRICOS 
TEÓRICOS E 
METODOLÓGICOS DO 
SERVIÇO SOCIAL 
Daniella Tech Doreto
A mundialização do 
capital e a financeirização 
da economia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar a mundialização do capital e o processo de globalização 
da economia e da produção e reprodução social.
  Demonstrar o sistema de financeirização da economia e seu impacto 
nos Estados Nacionais. 
  Analisar o capital fetiche e suas consequências às políticas sociais e 
aos processos de trabalho do assistente social.
Introdução
A mundialização do capital tem sido bastante discutida na atualidade 
e, em linhas gerais, pode-se dizer que encontra suas bases em grandes 
grupos transnacionais, resultado da fusão e aquisição de empresas em um 
contexto de desregulamentação e liberalização econômica. Juntamente à 
mundialização do capital, discute-se a globalização e a abertura do capital 
e do mercado, que favorece o intercâmbio entre vários países do mundo, 
além da finaceirização da economia. Neste contexto de predomínio dos 
interesses do capital sob a área pública, vivencia-se desregulamentação 
de direitos, focalização e seletividade como características das políticas 
públicas. 
Neste capítulo, você vai reconhecer como aconteceu o processo de 
globalização da economia, a mundialização do capital e o processo de 
reprodução social. Além disso, você vai conhecer o sistema de financeiri-
zação da economia e os seus reflexos nos Estados Nacionais, bem como 
consequências do capital para as políticas sociais e para os processos de 
trabalho do assistente social. 
A mundialização do capital e o processo 
de globalização da economia e da produção 
e reprodução social
O capitalismo sofreu importantes transformações ao longo da história, 
infl uenciando a vida em sociedade em todos os seus aspectos. Iamamoto 
(2010, p. 117), utilizando-se dos estudos de Mandel (1985), aponta que o 
capitalismo, como resposta a um período de crise, “[...] avançou em sua 
vocação de internacionalizar a produção e os mercados, aprofundando o 
desenvolvimento desigual e combinado entre as nações e, no seu interior, 
entre classes e grupos sociais no âmago das relações dialéticas entre impe-
rialismo e dependência”.
Assim, considerando esse contexto, é pertinente analisar alguns fenômenos 
inerentes ao processo de acumulação do capital para ampliar nossa compre-
ensão sobre o tema. Iniciaremos distinguindo os conceitos de globalização e 
mundialização do capital. 
Globalização é um termo de origem inglesa que se refere “[...] à capa-
cidade de grandes grupos capitalistas, ativos tanto nos setores primário 
e secundário quanto no terciário, de atuar em várias partes do mundo 
capitalista de forma mais ou menos coordenada, portanto, de modo global” 
(KLAGSBRUNN, 2008, documento on-line). Segundo o autor, o termo traz 
embutido em seu sentido a ideia do capital global e, em um análise bem 
menos criteriosa, a globalização é entendida como uma fase em que “[...] 
comércio, indústria e finanças se desenvolvem em várias regiões do mundo 
de algum modo coligado, coordenado e interdependente” (KLAGSBRUNN, 
2008, documento on-line). Em outras palavras, podemos pensar a globa-
lização a partir do aprofundamento das relações entre os diversos países, 
com diminuição ou eliminação de entraves do ponto de vista imigratório 
ou econômico. 
Ianni (1999, documento on-line) aponta que um aspecto muito importante a 
ser considerado quando falamos em globalização é o momento em que o neo-
liberalismo se torna hegemônico no mundo e com dimensão para transformar 
“[...] amplos setores da sociedade civil em deserdados, não só de condições 
e possibilidades de soberanias e hegemonias, mas também de bases sociais 
indispensáveis à sobrevivência”.
A mundialização do capital e a financeirização da economia2
Do ponto de vista histórico, podemos considerar que o desenvolvimento econômico 
foi impulsionado pela revolução agrícola, com a invenção de novos equipamentos 
capazes de aumentar a produção nos países europeus. O aumento da produção gerou 
um excedente econômico que possibilitou o investimento no comércio e na área 
industrial. Seguido a isso, registra-se, no século XVIII, a Revolução Industrial, e de forma 
a acelerar o progresso, novas tecnologias e aumento da produtividade tornam-se o 
foco para aumentar cada vez mais os lucros. Os avanços citados, bem como outros 
ocorridos, ampliaram a competitividade a níveis globais, dando origem à chamada 
globalização (BRESSER-PEREIRA, 2006). 
Quando falamos em mundialização do capital, por outra parte, estamos 
nos referindo a uma das fases vividas ao longo da história que marcou 
o modo de produção capitalista e que surge a partir da década de 1980. 
Anteriormente a essa, outras duas fases são registradas, sendo a primeira 
delas entre os anos de 1880 e 1913, conhecida como capitalismo monopo-
lista, e a segunda ocorrida entre os anos de 1974 e 1979, período conhecido 
como “os trinta anos gloriosos” (CHESNAIS, 1994). A etapa mais recente 
do capitalismo mundial tem características peculiares quando comparada 
às fases anteriores.
O termo mundialização foi proposto e difundido por François Chesnais 
(KLAGSBRUNN, 2008), que, em suas primeiras obras, observava uma dife-
rença conceitual importante entre os dois termos (mundialização e globaliza-
ção), entendendo o primeiro de forma mais abrangente que o segundo. Suas 
concepções eram baseadas nas análises da teoria marxista sobre o capitalismo. 
Ainda com base nas considerações de Chesnais (1994), Klagsbrunn (2008, 
documento on-line) aponta que “[...] a mundialização é do capital, e que este 
é o responsável pela mundialização da economia”.
Ferrer (2001, documento on-line) considera que o processo de mundialização 
do capital pode ser entendido como uma “[...] reestruturação do capitalismo em 
novas bases econômicas, como um meio de recuperar as taxas de acumulação 
das décadas anteriores”. Segundo o autor:
Essa reestruturação não se manteve apenas na base econômica, mas se es-
tendeu às esferas políticas e sociais das sociedades envolvidas pelo processo. 
3A mundialização do capital e a financeirização da economia
Tendo em vista a viabilização das medidas adotadas para a reestruturação 
capitalista, foram necessárias determinadas políticas que possibilitassem o 
pleno desenvolvimento do processo. Integrados nesse contexto, surgem deno-
minações como privatizações, desregulamentação das economias, aberturas 
de mercado, desterritorialização, Estado mínimo e exclusão social, sendo 
viabilizadas por um programa de governo específico, o neoliberalismo. O 
programa neoliberal possibilita a implementação de reformas necessárias 
ao desenvolvimento e reprodução do capitalismo financeiro, podendo ser 
caracterizado como a expressão política da mundialização do capital, es-
pecificamente, como foi salientado, do capital financeiro (FERRER, 2001, 
documento on-line).
Iamamoto (2010, p. 108), por sua vez, faz uma importante análise sobre 
esse processo, destacando que a mundialização da economia está apoiada 
em “[...] grupos industriais transacionais, resultantes de processos de 
fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregulamentação e 
liberalização da economia”. Segundo a autora, tais grupos centralizam e 
concentram o capital industrial e se encontram no centro da acumulação. 
A partir disso, “[...] as empresas industriais associam-se às instituições 
financeiras [...], que passam a comandar o conjunto da acumulação, confi-
gurando um modo específico de dominação social e política do capitalismo, 
com o suporte dos Estados Nacionais” (IAMAMOTO, 2010, p. 108). Ao 
falar em instituições financeiras, a autora refere-se a bancos, companhias 
de seguros, fundos de pensão, sociedades financeiras de investimentos 
coletivos e fundos mútuos.
Alves e Corsi (2002, documento on-line) referem que a mundialização 
do capital firma-se em processos interligados, que sãoacompanhados por 
inovações tecnológicas nas áreas de biotecnologia e informática, o que ficou 
conhecido como III Revolução Industrial. Nesse sentido, os autores consideram 
os seguintes processos:
  formação de oligopólios em vários setores;
  formação de mercados de capitais;
  mercado mundial cada vez mais integrado;
  instituição da divisão internacional do trabalho com base na descon-
centração industrial.
Contribuindo com essas considerações, Ferrer (2001) assinala, ainda, 
que os efeitos da mundialização do capital atingem as políticas públicas, 
destacando um cenário contrário ao acesso a direitos, mediante tendência do 
A mundialização do capital e a financeirização da economia4
desenvolvimento de políticas centralizadas e focalizadas, desfinanciamento 
e regressão de direitos. Alves e Corsi (2002, documento on-line) consideram 
que a mundialização do capital pode ser considerada como uma etapa nova 
referente ao “[...] processo de internacionalização do capital sob a hegemonia 
do capital financeiro e que tende a abarcar as regiões do mundo que apre-
sentam abundância de recursos, desenvolvimento prévio, amplos mercados, 
políticas voltadas ao favorecimento de investidores externos [...]”. As outras 
regiões (aquelas com poucos recursos) permanecem fora desse processo ou 
participam timidamente. Isso quer dizer que “[...] a globalização como mun-
dialização do capital incorpora, em si, as próprias características da lógica 
do capital, isto é, ela é excludente, desigual e seletiva” (ALVES; CORSI, 
2002, documento on-line). 
Diante do exposto, considera-se que a mundialização do capital e o processo 
de globalização da economia, da produção e reprodução social impactaram a 
sociedade como um todo, alternando formas de existir e viver em sociedade 
a nível mundial, especialmente ao consideramos que, como pano de fundo de 
todo esse processo, há o neoliberalismo e seus preceitos. 
O sistema de financeirização da economia 
e seu impacto nos Estados Nacionais
Para refl etirmos sobre o sistema de fi nanceirização da economia e seu o 
impacto nos Estados Nacionais, é preciso, inicialmente, compreender alguns 
conceitos. O primeiro deles refere-se ao capital fi nanceiro, denominação 
com “[...] forte tradição no pensamento marxista a partir do trabalho pio-
neiro do austríaco Rudolf Hilferding, publicado em 1910” (GONÇALVES, 
1999, documento on-line). De forma geral, o capital fi nanceiro pode ser 
entendido como o resultado da soma de todos os valores obtidos por meio 
de transações fi nanceiras, isto é, soma de capital bancário (dinheiro pro-
priamente dito) com o capital produtivo (força de trabalho, investimentos, 
ações e outros). Hilferding (1985, p. 283 apud SABADINI, 2015, documento 
on-line) afi rma que:
[...] o capital financeiro significa a uniformização do capital. Os setores do 
capital industrial, comercial e bancário, antes separados, encontram-se agora 
sob a direção comum das altas finanças, na qual estão reunidos, em estreita 
união pessoal, os senhores da indústria e dos bancos.
5A mundialização do capital e a financeirização da economia
A partir dessa perspectiva, Gonçalves (1999, documento on-line) aponta 
que “[...] a questão central reside no processo de centralização e concen-
tração do capital que gera o capitalismo monopolista”. O autor destaca, 
ainda, o controle do mercado por parte de grandes grupos econômicos, o 
que gera diversas implicações, especialmente no que se refere à expansão 
do capitalismo mundial. Como exemplo de capital financeiro, podemos 
pensar nos fundos de investimentos imobiliários, por exemplo. A bolsa de 
valores, por sua vez, também se configura como parte do capital financeiro. 
Ela é a instituição responsável pela organização do mercado de ações e 
pode ser entendida como uma pequena parte do capital de uma empresa; a 
partir disso, aquele que investe na bolsa de valores passa a ser um pequeno 
sócio da empresa. Assim, quando nos referimos à bolsa de valores, estamos 
falando de investimentos em ações de determinadas empresas que podem 
sofrer oscilações ao longo do tempo. 
Um pouco diferente do que apresentamos, mas não menos importante, é o 
que Marx chama de capital valor-trabalho. Ele difere-se da bolsa de valores e 
outras formas de capital financeiro, pois, nessa categoria, considera-se o custo 
das mercadorias para a sociedade como um todo, incluindo os trabalhadores, 
e não apenas os capitalistas (GONTIJO, 2009). Segundo o autor:
Enquanto para estes os custos são dados pelos dispêndios de capital, tanto 
para os trabalhadores quanto para a sociedade como um todo, os custos estão 
constituídos pela quantidade de trabalho social despendido na produção. A 
lei do valor dá conta desse duplo aspecto da produção no capitalismo, que 
simultaneamente representa alocação do trabalho social – aspecto comum 
em todas as ordens econômicas – e alocação de dinheiro para fins de valo-
rização. Abandonar, pois, a teoria do valor-trabalho em favor de uma teoria 
restrita aos preços de produção significa renunciar à compreensão do nexo 
necessário entre essas duas dimensões da produção na sociedade capitalista 
(GONTIJO, 2009, p. 504).
Assim, podemos observar a complexidade que envolve a questão da acu-
mulação do capital e a busca pelo lucro, pois essa relação perpassa a força de 
trabalho, o trabalho despendido, a busca pelo lucro e o processo de acumulação. 
Isso posto, outro conceito tão importante quanto o de capital financeiro e 
essencial para nossa discussão, é a questão da financerirização, e, para tanto, 
recorremos aos estudos de Braga (1997, p. 196 apud RIBEIRO; DINIZ, 2017, 
documento on-line), que assinala que esse processo:
A mundialização do capital e a financeirização da economia6
[...] deve ser compreendido como o padrão sistêmico de riqueza do capitalismo 
contemporâneo. Quer dizer, como um processo geral de transformação do 
capitalismo que se torna estrutural, cria novas formas institucionais, marca 
as estratégias de todos os agentes privados relevantes, altera a operação das 
finanças e dos gastos públicos e, de alguma maneira, diferencia-se dos modos 
de manifestação do capital enquanto expressão do valor-trabalho.
Os autores apontam ainda que a financeirização refere-se à “[...] cres-
cente e recorrente defasagem, por prazos longos, entre os valores dos 
papéis representativos da riqueza [...] e os valores dos bens, serviços e 
bases técnico-produtivas em que se fundam a reprodução da vida e da 
sociedade” (BRAGA, 1997, p. 196 apud RIBEIRO; DINIZ, 2017, documento 
on-line). O avanço do processo de financeirização faz com que grupos 
econômicos cuja atividade base é a indústria desenvolvam “braços” finan-
ceiros importantes, que, muitas vezes, acabam tornando-se maiores que a 
atividade principal (industrial) desenvolvida pelo grupo (GONÇALVES, 
1999). Esse é o caso de empresas transnacionais (como, por exemplo, a 
General Motors e a Votorantim, no Brasil), que têm sua própria instituição 
financeira (GONÇALVES, 1999). 
Em relação ao surgimento e desenvolvimento da financeirização, Bruno 
e Caffé (2015, p. 36) apontam que é essencial a existência de estruturas “[...] 
institucionais permissivas que o reproduzam no plano macroeconômico, 
incluindo-se aí a formatação e condução da política econômica e o aval 
do Estado, para que a acumulação financeira seja a tônica dominante com 
relação à acumulação de capital nos demais setores de atividade”. Para os 
autores, o predomínio das finanças no Brasil desenvolveu-se por meio de 
instituições que “[...] dominam ou controlam, como parte significativa do 
aparelho do Estado, no que concerne à tomada de decisões governamentais, 
incluindo a formatação da política econômica e as condições institucionais 
que definem e reproduzem o atual modelo econômico” (BRUNO; CAFFÉ, 
2015, p. 36). 
Pode-se dizer que é em função da mundialização do capital que trans-
formações na natureza do Estado capitalista ocorreram, mas não apenas 
no Estado capitalista dependente subalterno,como é o caso do Brasil, mas 
também do Estado capitalista dominante que se tornou alvo da análise da 
teoria política moderna, ou seja, os Estados-nação do mundo capitalista 
(ALVES, 1999).
7A mundialização do capital e a financeirização da economia
Sobre o impacto da financeirização da economia para os Estados Nacio-
nais e para os próprios trabalhadores, Marques (1999, documento on-line) 
aponta que:
As consequências para os trabalhadores e para os Estados Nacionais condu-
zirem um desenvolvimento relativamente autônomo estão bastante claras: a 
mundialização, isto é, o novo padrão de organização da produção das empresas 
oligopolistas internacionais, apoiadas pela liberalização financeira e pela 
desregulamentação promovida por diferentes governos, resulta na liquidação 
das conquistas e na perda de capacidade de intervenção ativa dos Estados.
O processo da mundialização do capital e financeirização da economia 
acarretaram o enfraquecimento da autonomia dos Estados e a capacidade 
de desenvolverem uma política independente considerando a capacidade dos 
mercados nacionais. Bruno e Caffé (2017, documento on-line) discutem que 
a economia brasileira atual se constitui em uma economia de “[...] finan-
ceirização forçada” e limitada no que se refere a encontrar condições para 
a retomada das taxas de investimento produtivo, especialmente em relação 
aos setores de maior nível tecnológico. Os autores apontam, ainda, que a 
economia pode crescer, mas sob taxas inferiores, pois “[...] a rentabilidade 
real de referência não é mais definida de acordo com as necessidades das 
atividades produtivas e sim sob critérios e exigências de detentores de capi-
tais de curto prazo, em sua maior parte, especulativos e avessos aos riscos 
das imobilizações necessárias ao desenvolvimento brasileiro”. Os autores 
apontam ainda que: 
Essa inflexão das relações Estado-economia no Brasil não é um caso fortuito, 
um acidente da história, ou derivada de equívocos das ações governamentais. 
Ao contrário, suas causas decorrem de mudanças estruturais profundas, 
lideradas por novos grupos de pressão com sua forte ingerência sobre o se-
tor público, incluindo a formulação e gestão da política monetária e fiscal 
(BRUNO; CAFFÉ, 2017, documento on-line).
Bruno e Caffé (2017, documento on-line) também destacam que “[...] o 
caráter excludente das relações Estado-sociedade civil no Brasil é repro-
duzido pela baixa representatividade política das classes populares nas 
estruturas organizacionais do setor público”. Segundo os autores, a carac-
terística citada é reflexo da heterogeneidade social e econômica, reflexo do 
A mundialização do capital e a financeirização da economia8
“[...] seu caráter excludente é seu caráter inacabado, reflexo das estruturas 
de produção e de distribuição que resultam das formas contraditórias do 
processo de desenvolvimento capitalista nesse país” (BRUNO; CAFFÉ, 
2017, documento on-line).
Bruno e Caffé (2017, documento on-line) destacam alguns períodos que transformaram 
as relações entre Estado e economia:
  1º período (1930–1954) — o Estado, sob um regime político autoritário, promove o 
nacional-desenvolvimentismo e tenta lançar as bases para um processo autônomo 
de desenvolvimento econômico; 
  2º período (1955–1963) — fase I do desenvolvimentismo associado ao capital 
estrangeiro; 
  3º período (1964–1989) — fase II do desenvolvimentismo associado ao capital 
estrangeiro, com seu apogeu e crise; 
  4º período (1990–2003) — fase I do modelo neoliberal-dependente com inserção 
internacional subordinada aos mercados globais; 
  5º período (2004–2014) — fase II do modelo neoliberal-dependente com inserção 
internacional subordinada aos mercados globais; 
  6º período (2015–2017) — observa-se a captura total do Estado pelos interesses 
da alta finança com sua ideologia neoliberal e a busca de novos espaços de reva-
lorização mercantil.
Com base no exposto até aqui, os Estados Nacionais, entendidos a partir do 
resultado da forma como a política e a questão econômica, estruturam-se no 
sentido de fortalecer o poder central, sofrem os impactos da financeirização 
da economia, influenciando a forma como se relacionam e o desenvolvimento 
econômico e social. O impacto estende-se para área social como um todo, o 
que pode ser observado ao analisarmos a escassez de investimentos nessa área. 
Essa falta de investimentos deve-se à visão errônea que ainda permanece de 
se oferecer condições mínimas para aqueles que necessitam, sem buscar ações 
transformadoras da realidade em que vivem. Investimentos na área social 
ainda não se constituem em prioridades do governo neoliberal, que prioriza 
a menor participação do Estado, com menores investimentos, pois não é o 
foco da geração de riquezas. 
9A mundialização do capital e a financeirização da economia
O capital fetiche e suas consequências 
às políticas sociais e aos processos de trabalho 
do Assistente Social
A questão do capital fetiche é trabalhada por Iamamoto (2010, p. 93), que nos 
aponta que a relação alienada entre o capital e sua fetichização encontra o 
ponto alto no “[...] capital que rende juros, que representa a mera propriedade do 
capital, como meio de apropriar-se do trabalho alheiro presente e futuro”. Nessa 
relação, a autora aponta que “[...] o capital-dinheiro aparece, na sua superfície, 
numa relação consigo mesmo, como fonte independente de criação de valor, à 
margem do processo de produção, apagando o seu caráter antagônico frente ao 
trabalho” (IAMAMOTO, 2010, p. 93). Iamamoto (2010, p. 93) coloca, ainda, 
com base na teoria marxista, que o capital fetiche é considerado como uma 
“[...] coisa autocriadora de juro, dinheiro que gera dinheiro [...]. Obscurece as 
cicatrizes de sua origem, assumindo a forma mais coisifi cada do capital, que 
Marx denomina de capital fetiche.”
Tendo isso posto, faz-se necessário ref letir sobre o quanto o capital 
fetiche influencia o desenvolvimento das políticas sociais e o trabalho do 
assistente social. Para refletir sobre a forma como as políticas sociais se 
apresentam frente ao contexto do capital, é importante considerar o papel 
a ser cumprido pelo Estado nesse modo de dominação. Segundo Iamamoto 
(2010, p. 121):
[...] o Estado tem o papel-chave de sustentar a estrutura de classes e as relações 
de produção e, nesse sentido, afirma que a ele cabe exercer funções coercitivas 
e integradoras, que se entrelaçam para proporcionar as condições necessárias 
para a efetivação da produção. E complementa que o Estado funciona como 
esteio do capital privado, oferecendo-lhe, por meio de subsídios estatais, pos-
sibilidades de investimentos lucrativos nas indústrias de armamento, proteção 
ao meio ambiente, empréstimo aos países estrangeiros e infra-estrutura. A 
hipertrofia do Estado propicia maior controle sobre os rendimentos sociais, o 
que amplia o interesse dos grupos de capitalistas em interferir nas decisões.
Em relação às políticas sociais que se desenvolvem nesse contexto, Behring 
e Boshcetti (2008) assinalam que a política neoliberal e o sistema capitalista 
prezam pela estabilidade econômica, que somente é possível de ser realizada 
mediante redução nos gastos sociais e pela manutenção de taxas de desem-
prego e reformas fiscais. As políticas sociais também sofrem o impacto das 
privatizações, além da perda da sua proposta universalista para um enfoque 
A mundialização do capital e a financeirização da economia10
seletivo, restritivo e focalizado (BEHRING; BOSCHETTI, 2008). Para as 
autoras, com a busca incessante pelo lucro, na perspectiva única de dinheiro 
para gerar dinheiro, as políticas sociais não se constituem em prioridades 
dos governos; na realidade, estão na outra ponta, uma vez que o que ocorre 
é uma desresponsabilização do Estado com as políticas sociais, muitas vezes 
transferindo suas responsabilidades para o terceiro setor. 
Tendo como característica a lucratividade e o gerar desenfreado de dinheiro, 
a sociedade sofre os reflexosdessa situação, que se manifestam sobre os 
trabalhadores em forma de desemprego, trabalho informal, condições precá-
rias, extensivas horas de trabalho. Enfim, tudo isso amplia as manifestações 
da questão social, o aumento da demanda por serviços e políticas públicas 
em decorrência, principalmente, do desemprego e da situação de pobreza 
(BEHRING; BOSCHETTI, 2008).
As políticas sociais implementadas ao longo dos anos sofreram, portanto, 
influências do contexto existente e foram sendo reformuladas com o passar do 
tempo. Com a Constituição Federal de 1988 e o processo de redemocratização 
do país, houve a expectativa de mudanças no que se refere ao acesso aos direitos 
(BRASIL, 1988). Antes da promulgação da Constituição, as políticas sociais 
eram nitidamente fragmentadas, focalizadas e pouco resolutivas. Entretanto, 
embora trouxesse a regulamentação de direitos sociais universais, a década 
que se segue à Constituição Federal de 1988 foi marcada por contrarreformas 
que atingiriam diretamente a efetivação dos direitos conquistados. 
As autoras apontam, ainda, que os reflexos do capital sobre as políticas 
públicas não implicou sua extinção ou ausência, pois, na verdade, o que ocorreu 
foi que as políticas sociais tiveram que ser adequadas ao contexto vigente, em 
que predominam seletividade, privatização, focalização e enxugamento dos 
gastos. Entretanto, com o argumento de crise do Estado, a perspectiva é que 
haja a restrição de direitos e a transformação das políticas sociais em ações 
compensatórias, pontuais, sendo influenciadas pelos efeitos mais deletérios 
do sistema (BEHRING; BOSCHETTI, 2008).
No que se refere ao trabalho profissional, por sua vez, vale destacar que os 
interesses do capital e os do trabalho não convivem de forma harmônica, o que 
faz com que seja necessário um projeto profissional construído coletivamente e 
teoricamente embasado. Isso porque a prática profissional do assistente social 
não acontece de forma isolada do contexto social, político, econômico vigente 
e tampouco do contexto histórico que o determinou. 
Nessa perspectiva, a forma como a vida social se reproduz e se consolida 
na sociedade atual exige determinadas mediações por parte dos profissionais 
11A mundialização do capital e a financeirização da economia
que não podem ser consideradas como estáticas ou passíveis de serem aplica-
das a outros contextos sem que exista uma compreensão clara a seu respeito. 
Guerra (2007, p. 22), ao discutir o processo de trabalho do assistente social 
no contexto citado, refere que:
[...] a forma como as instituições organizam o processo de trabalho do 
assistente social está dentro de uma lógica capitalista de organização e 
controle do processo de trabalho nos tempos modernos, porque asseguram 
a real subordinação do trabalho e a sua desqualificação, além de engen-
drarem modos de obter um comportamento desejado no trabalho. Dessa 
forma, verifica-se que a conjuntura atual coloca desafios mais complexos 
ao mundo do trabalho.
Segundo ela, o espaço sócio-ocupacional de toda profissão é construído a 
partir das necessidades sociais, transformadas em demandas, e que “[...] his-
toricamente a profissão adquire este espaço quando o Estado passa a intervir 
sistematicamente na questão social (de conteúdo fundamentalmente econômico 
e político), através de uma modalidade de atendimento, qual sejam as políticas 
sociais” (GUERRA, 2000, documento on-line).
Podemos considerar que o capital fetiche traz consequências importantes 
para as políticas sociais e para os processos de trabalho do assistente social. 
A mundialização do capital e a financeirização da economia conduzem um 
Estado comprometido com a classe dominante, enquanto a classe dominada 
sofre com os efeitos destrutivos desse sistema e a redução cada vez maior do 
acesso aos direitos sociais. 
ALVES, G. Trabalho e mundialização do capital, Londrina: Editora Práxis, 1999.
ALVES, G.; CORSI, F. L. Dossiê “globalização”. Revista de Sociologia Política, Curitiba, PR, v. 
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