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A síndrome de Cushing é o conjunto de sinais e sintomas causados pela exposição prolongada e excessiva a quantidades elevadas de glicocorticoides, sejam estes de origem exógena (farmacológica) ou endógena. Quando é provocada por um adenoma hipofisário secretor de ACTH, a síndrome passa a ser chamada de doença de Cushing. 1.Etiologia A causa mais prevalente dessa síndrome é a corticoterapia exógena, ou seja, o uso de glicocorticoides em apresentações farmacológicas por tempo prolongado e em doses suprafisiológicas. O acetato de megestrol é um progestágeno com efeito glicocorticoide moderado e foi associado a alguns casos de síndrome de Cushing. ganho de peso excessivo; letargia; fraqueza muscular (musculatura proximal do MMII*); irrregularidade menstrual; perda da libido; queixas depressivas; psicoce; dor osteoarticular; osteopenia; hipercalciúria pode levar à nefrolitíase; pletora facial; estrias cutâneas violáceas; hipogonadismo. 2.Diagnóstico O quadro clínico é semelhante na síndrome de Cushing de origem exógena (iatrogênica) e nas causas endógenas. Os principais sintomas são: A distribuição de gordura típica é a central, concentrando-se em face ("em lua cheia"), tronco e pescoço ("giba de búfalo") e poupando extremidades. SÍNDROME DE CUSHING Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO A prevalência da doença de Cushing é de 2 a 8 vezes maior em mulheres que em homens. Paradoxalmente, pacientes com secreção ectópica de ACTH secundária a neoplasias malignas podem apresentar perda de peso e poucos estigmas de Cushing, devido à rapidez de instalação e à gravidade do hipercortisolismo. Hipertensão arterial está presente em 75 a 90%, de predomínio diastólico, enquanto diabetes mellitus ou intolerância à glicose podem ser vistos em 40 a 80% (visto que o cortisol é um hormônio contrarregulador insulínico). Os casos mais graves de síndrome de Cushing costumam ser provocados pela secreção ectópica de ACTH. 3.Exames laboratoriais No caso do hipercortisolismo exógeno, os pacientes vão apresentar valores reduzidos de cortisol plasmático devido à supressão das adrenais pelo uso de corticoide exógeno. Quando o quadro clínico é sugestivo e o paciente não está em uso de corticoterapia, a investigação laboratorial deve acontecer em 2 etapas distintas: Supressão com altas doses de dexametasona; DDAVP; Estímulo com CRH; Cateterismo bilateral dos seios petrosos inferiores para determinação de ACTH antes e após estímulo com CRH. Valores de 3 a 4 vezes maiores do que o limite superior do normal (em geral, acima de 300μg/24h) são altamente sugestivos de hipercortisolismo. Uma das manifestações mais precoces de alterações do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal é a perda do ritmo circadiano de secreção do cortisol. Indivíduos normais apresentam diminuição da secreção de cortisol, atingindo o nadir (inferior a 1,8μg/dL) por volta da meia-noite. Após confirmado o hipercortisolismo, o próximo passo é a dosagem de ACTH, que deve ser realizada em, pelo menos, 2 ou 3 amostras colhidas entre 8 e 9h da manhã, com intervalos de, no mínimo, 15 minutos. Valores muito baixos ou indetectáveis de ACTH (<10pg/mL) indicam uma etiologia ACTH-independente; nesse caso, deve ser feita TC ou RNM de abdome para localizar um provável tumor de suprarrenal. O grande problema está nos pacientes com ACTH >10 a 20pg/mL, ou seja, apresentam uma etiologia ACTH- dependente. A maioria dos indivíduos nessa situação apresenta um adenoma hipofisário secretor de ACTH (doença de Cushing). Valores extremamente elevados de ACTH (>300pg/mL) são bastante sugestivos de secreção ectópica. Testes utilizados para diferenciar a doença de Cushing da secreção ectópica de ACTH: 4.Exames de imagem A doença de Cushing deve ser avaliada com TC ou, preferencialmente, RNM de hipófise. Os adenomas responsáveis pela doença de Cushing costumam ser pequenos (diâmetro médio de 5 ou 6mm). SÍNDROME DE CUSHING Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO A dosagem do cortisol urinário livre nas 24 horas fornece medida integrada da secreção de cortisol durante o dia e não sofre influência de situações que alterem a CBG (Corticosteroid-Binding Globulin), como o uso de estrogênios e a tireotoxicose. A principal limitação da aplicação desse exame é na insuficiência renal crônica (clearance de creatinina inferior a 30mL/min). Para aumentar sua sensibilidade, recomenda-se que seja repetido 3 vezes; níveis normais nas 3 ocasiões excluem o hipercortisolismo, exceto raros casos de hipercotisolismo cíclico. Na síndrome do ACTH ectópico, deve-se realizar o tratamento específico para a doença de base (remoção do tumor). Quando o tumor primário não é localizado, pode-se usar o cetoconazol, para inibir a síntese do cortisol pelas adrenais, em doses iniciais de 200 a 400mg/dia, podendo-se aumentar as doses até 600 a 1.200mg/dia. Deve-se monitorizar as transaminases durante o uso do cetoconazol, devido à possibilidade de hepatotoxicidade. Na síndrome de Cushing ACTH-independente, a terapêutica consiste na adrenalectomia unilateral (ou, eventualmente, bilateral). SÍNDROME DE CUSHING Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Na síndrome do ACTH ectópico, o paciente deve ser submetido à TC (ou RNM) de pescoço, tórax e abdome para pesquisa do tumor primário, que pode ser um carcinoide brônquico ou pancreático, um câncer pulmonar de pequenas células, ou outros menos frequentes. 5.Tratamento A cirurgia hipofisária por via transfenoidal para exérese do adenoma, com radioterapia complementar em casos selecionados, é a 1ª opção de tratamento. A radioterapia é tratamento de 2ª linha, com taxa de sucesso inferior à cirurgia, e o controle do hipercortisolismo é lento e gradual, podendo levar a vários anos para ser obtido. Casos recorrentes ou refratários à terapia inicial (hipercortisolismo persistente) podem ser tratados por meio de adrenalectomia bilateral, ou, preferencialmente, com o uso de medicamentos bloqueadores da síntese de esteroides adrenais (cetoconazol, mitotano, metirapona) ou de antagonistas do receptor de glicocorticoides (mifepristona).
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