Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA UNIDADE 2 Diabetes mellitus e obesidade Controle das doenças crônicas não transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Leonardo Aarestrup de Aquino e Sousa Frederico Fernando Esteche 2 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Aula 1: Diagnóstico e rastreamento da diabetes mellitus Quais são as bases fisiopatológicas da diabetes mellitus? Venha desfrutar desta viagem! Primeiramente, não podemos esquecer que a diabetes mellitus (DM) é uma CONDIÇÃO CRÔNICA, caracterizada por HIPERGLICEMIA CRÔNICA, com uma base de defeito hormonal comum nos distintos tipos de DM (veremos mais adiante a classificação), que é a DEFICIÊNCIA INSULÍNICA, absoluta (DM tipo I) ou relativa no contexto de resistência periférica (DM tipo 2) (GOLDMAN; AUSIELLO, 2005). Classificação e etiologia da DM Vamos começar com um teste? Preencha a tabela interativa que está no AVASUS. Tabela interativa Depois desta viagem, podemos pensar a respeito de fatores de risco para o desenvolvimen- to da diabetes mellitus. • Fatores genéticos: a incidência aumentada entre membros de uma família com histórico de DM, informação enfatizada pelo dado de que em gêmeos idênticos exibi-se uma taxa de concordância entre 30-40%, fundamentalmente no DM I. Porém sabe-se que, no DM 2, ape- sar de sua característica poligênica, existe o fator de agregação familiar, o que sugere uma combinação de fatores genéticos e de fatores ambientais predisponentes. • Fatores ambientais: epidemias de caxumba, rubéola congênita e infecções pelo vírus Cox- sackie foram associados a um aumento de frequência de DM tipo I. • Fatores autoimunes: cerca de 80% dos pacientes com DM tipo 1 recente apresentam anti- corpos anticélulas das ilhotas. 3 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Do ponto de vista clínico, a DM é conhecida como a doença das 4 “P” e 1 “A”. POLIúria POLIfagia POLIdipsia Perda de peso Astenia A hiperglicemia leva à glicosúria, isto é, eliminação de glicose na urina, que é a determinante da tríade clássica: emagrecimento, astenia e alteração visual (visão embaraçada). Esses ele- mentos clínicos, associados aos fatores de risco, nos fazem ter em mente o diagnóstico de DM. Rastreamento O U.S Preventive Services Task Force recomenda rastreamento apenas para pacientes assin- tomáticos que tenham pressão arterial sistólica (PAS) maior que 135 mmHg ou pressão arte- rial diastólica (PAD) maior que 80 mmHg, ambas sustentadas. A American Diabetes Association (ADA) sugere como critérios para rastreamento em assintomáticos, pessoas com IMC >25 kg/m2 e: 1- sedentarismo; 2- história familiar (1 grau) para diabetes; 3- hipertensão arterial sistêmica (HAS); 4- dislipidemia (triglicérides > ou = a 250 mg/dl ou hdl< ou igual a 35 mg/dl); 5- história de DM gestacional ou excesso de peso em recém-nascidos (macrossomia fetal); 6- síndrome de ovários policísticos; 7- história prévia de alteração do nível glicêmico; 8- acantose nigricante, isto é, manchas escuras nas regiões de dobras de pele; 9- história de doença cardiovascular. (GOLDMAN; AUSIELLO, 2005). 4 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Como fazer diagnóstico de DM Veja a Tabela 1 a seguir: Glicemia em jejum 2h após sobrecarga Glicemia casual HbA1c NORMAL < 100 mg/dl < 140 mg/dl < 5,7% PRÉ-DIABETES Glicemia de jejum alterada 100-125 mg/dl < 140 mg/dl 5,7-6,4% Baixa tolerância à glicose 100-125 mg/dl 140-199 mg/dl 5,7-6,4% DIABETES >= 126 mg/dl > 200 mg/dl >= 200 mg/dl com sintomas >= 6,5% Tabela 1 - Diagnóstico de DM. Fonte: GOLDMAN; AUSIELLO, 2005 Lembramos que para o diagnóstico em pessoas assintomáticas, é necessária a repetição do exame para confirmação. O diagnóstico de DM é realizado de acordo com os valores dos níveis glicêmicos em sangue (glicemia) em jejum eventual, ou 2 horas após sobrecarga de dextrosol (75 mg), teste conhe- cido como teste oral de tolerância à glicose (TOTG), e ainda se diante dos sintomas clássicos (4 “P” e a 1 “A”.) acompanhados de uma glicemia aleatória/casual de 200 mg/dl. Mais recentemente, a hemoglobina glicada (HbA1c) foi recomendada como alternativa para o diagnóstico. Devido a sua baixa sensibilidade, com relação às glicemias, ela não é substi- tutiva aos exames clássicos. Vamos ver o que dona Ednelza conversou com a sua filha e sua neta sobre os hábitos de vida de pessoas diabéticas? Veja na animação que está no AVASUS. ANIMAÇÃO 2 Na próxima aula, vamos ver um pouco sobre os cuidados com os pacientes diabéticos, como a dona Ednelza da nossa situação problema. 5 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Aula 2: Visão geral dos cuidados de saúde em adultos com diabetes mellitus Uma das principais atribuições da APS em relação a pacientes com diabetes mellitus é a prevenção de complicações que esta doença pode acarretar. A tarefa é enorme, mas as pos- sibilidades de serem trabalhadas também são. Façamos o seguinte exercício: pense quais são nossas metas ao cuidarmos de uma pessoa com DM. Já pensou? Lembra-se do dr. Fábio da situação problema? Ele vai nos explicar algu- mas coisas. Veja nos quadrinhos a seguir. Como vimos na primeira aula, o excesso de peso e a obesidade têm um papel importante na fisiopatogênese da DM, por meio da resistência periférica à insulina. Portanto, controlar o peso é uma medida terapêutica e preventiva. O controle do peso está determinado por dois elementos fundamentais: educação nutricional e a prática de exercícios físicos. Como indicar uma rotina de exercícios físicos? Na consulta em que será orientada a prática de exercícios, é fundamental a realização de um exame físico bem detalhado. A ausculta e a frequência cardíaca e ausculta respiratória são elementos mínimos que deverão ser explorados. Por exemplo: uma frequência cardíaca, em repouso, superior a 100 batimentos por minuto pode ser indicativa de alguma alteração no sistema de condução elétrica do coração, uma perda de autonomia. Outro elemento importante a ser examinado são os pés: PULSO, ECTOSCOPIA E SENSIBILI- DADE, REFLEXÕES e PRESSÃO. PULSO: PEDIOSO, TIBIAL POSTERIOR E O ENCHIMENTO CAPILAR. 6 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Figura 1 - Pulso pedioso e tibial posterior. ECTOSCOPIA: iremos buscar a presença de calosidades, rachaduras, úlceras, edema ou ain- da onicomicoses. SENSIBILIDADE: no exame da sensibilidade superficial, utilizamos o MONOFILAMENTO de 10 g (monofilamento tátil), geralmente de cor laranja. Figura 2 - Kit de monofilamento para teste de sensibilidade. Veremos a técnica desse teste mais adiante! Fique atento para não perder. 7 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Utilizar um tubo de ensaio para determinar se a pessoa em questão sente a temperatura de quente ou frio. No aspecto de sensibilidade profunda, utiliza-se o diapasão de 128 Hz que, após ativado, deverá ser colocado nas eminências ósseas para determinar se a sensibilida- de vibratória está conservada. A utilização de uma agulha pode ser útil para determinar a sensibilidade dolorosa. Os reflexos tendinosos também são explorados: Aquileu e Patelar. Ainda no exame físico, a aferição da pressão arterial (PA) pode nos informar algumas situ- ações que deverão ser monitoradas pelo profissional da educação física. Aferir a PA com a pessoa deitada primeiramente e, depois, em pé, apresentando uma hipotensão postural (queda na PA sistólica > 20 mmHg após assumir a posição ortostática), nos faz pensar em perda da autonomia, e isso deverá ser melhor estudado. A fundoscopia (exame de fundo de olho) também deverá serrealizado, pois a retinopa- tia diabética pode ser um fator complicador para realizar exercícios físicos. Veremos mais detalhadamente esse assunto adiante. Agora que já examinamos, vamos conhecer algumas orientações sobre a melhor forma de se exercitar. O profissional de educação física é quem tem mais propriedades e, por- tanto, é o mais indicado para orientar a forma ideal de se exercitar. Veja o infográfico a seguir. 8 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Outra forma de se determinar a intensidade é com o auxílio da Escala Adaptada de Esforço de Borg, que classifica a percepção subjetiva do esforço realizado. Faça uma pesquisa sobre o tema. Com relação aos exercícios que visam hipertrofia muscular, o recomendado é que sejam realizados 2-3 vezes por semana, sempre supervisionado pelo educador físico. E agora? Já se sente mais capacitado para dar as orientações iniciais sobre a prática de exercícios físicos? Agora, vamos conhecer as orientações gerais do ponto de vista da educação nutricional em pessoas com diabetes. Reforçamos que o profissional da Nutrição é o mais capacitado para nos ajudar a construir esse plano de educação alimentar. Lembrando que esse plano dever ser individualizado e que as pessoas portadoras de DM não precisam de alimentos “especiais”. Linhas gerais de orientação alimentar: 1- Fracionar a dieta diária com pequenos lanches no dia, reduzindo as quantidades de alimentos das refei- ções principais. 2- Reduzir progressivamente o consumo de alimentos industrializados, substituindo-os por alimentos naturais e preparações caseiras. 3- Dar preferência a alimentos com menor teor de gorduras. Por exemplo, ao comprar pães, escolha o mais simples, como o ciabatta, baguettes... Temos muita coisa para aprender uns com os outros. Que tal se toda a equipe junto com o NASF se sentasse para aprofundar mais esses temas de campos comuns, na especificidade de cada núcleo de conhecimento? #ficaadica! Meu pé, meu querido pé, que me aguenta o dia inteiro! Vimos, anteriormente, que o exame físico dos pés, é primordial no cuidado de pessoas com diabetes. O pé diabético é uma das complicações mais temidas, pois pode determinar inca- pacidade e/ou invalidez. Vamos conhecer um pouco mais sobre como utilizar o estesiômetro (Figura 3)? 9 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Figura 3 - Estesiômetro. A perda da sensibilidade é o principal fator preditivo do desenvolvimento de úlceras nos pés, por isso o exame neurológico regular dos pés de todos os pacientes diabéticos é essencial. Tal exame inclui o teste de sensação vibratória utilizando-se um diapasão de 128 Hz, a sensação dolorosa com um pino, apenas quando a pele estiver intacta, e a sensação profunda com o martelo (pesquisa do reflexo de tendão de Aquiles). Veja com mais detalhes no vídeo a seguir. Vídeo 1 “Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira”. José Saramago A retinopatia é outra das temidas complicações da DM. Ter em mente que o exame do fun- do de olho faz parte do bom seguimento é imprescindível nos cuidados de pessoas com diabetes. É uma complicação que ocorre quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da retina. Caso o paciente não busque tratamento, a visão pode ficar seriamente comprometida: 10 1) A retinopatia diabética pode surgir sem que o paciente note diferença em sua visão. Com o passar do tempo, porém, a visão passa a piorar, podendo até mesmo chegar à cegueira, caso não seja tratada. 2) Ela tem quatro fases: Fase Inicial (Não Proliferativa) – Ocorrem os microaneurismas, que são pequenas áreas de dilatação dos pequenos vasos sanguíneos da retina. Fase Moderada (Não Proliferativa) - Nesta fase, alguns vasos sanguíneos são bloqueados. Fase Severa (Não Proliferativa) - Mais vasos sanguíneos são bloqueados e várias regiões da retina param de receber sangue. Com isso, elas não recebem o oxigê- nio suficientes e enviam sinais ao organismo para formar novos vasos para sua nutrição (neovascularização). Retinopatia Proliferativa – É considerada a fase mais avançada da doença. A retina envia sinais, solicitando melhor circulação de sangue. Isso provoca o crescimento de vasos sanguíneos defeituosos e frágeis. 3) A presença dos vasos sanguíneos com defeito não causa sintomas ou perda de visão. Por terem paredes frágeis, podem se romper e espalhar sangue pela cavidade vítrea. Isso sim resulta em perda de visão. 4) Para evitar os problemas de visão, além de manter um bom controle dos níveis glicêmicos, todo paciente com diabetes tipo 1 ou 2 deve fazer o exame do fundo de olho pelo menos uma vez por ano. 5) Na gravidez, os cuidados com a visão devem ser redobrados. Para proteger a vista, as mulheres grávidas com diabetes precisam fazer pelo menos um exame do fundo de olho a cada trimestre gestacional. 6) A retinopatia não costuma apresentar sintomas. No entanto, quando ocorre hemorragia vítrea, o paciente pode ver alguns pontos de sangue ou manchas flu- tuantes na visão. Ao primeiro sinal de visão borrada, ou qualquer outra alteração, procure um oftalmologista. 7) Durante as primeiras três fases da retinopatia diabética, não há necessidade de nenhum tratamento oftalmológico, exceto quando há edema macular. Mesmo assim, muitas vezes, pode ser feita fotocoagulação parcial na fase 3. 8) A retinopatia proliferativa é tratada com panfotocoagulação a laser. Nesse tratamento, os vasos sanguíneos neoformados e as áreas sem oxigenação são fotocoagulados. Normalmente, são necessárias duas ou mais sessões de aplicação a laser. Caso haja hemorragia severa, pode precisar de um procedimento cirúrgico chamado vitrectomia, para remover o sangue do olho. 9) A melhor forma de prevenção da retinopatia diabética é manter os níveis de glicemia sob controle. Além disso, é preciso manter bons níveis de pressão arterial e das taxas de colesterol. Isso ajuda a proteger os olhos e a saúde como um todo. (SBEM, 2018b) 11 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Leia o material que revisa a técnica de fundoscopia. Está imperdível e foi elaborado pelo corpo docente da UFC (Jailton Vieira Silva, Bruno Fortaleza de Aquino Ferreira, Hugo Siquera Robert Pinto). Você encontra o material Princípios da oftalmologia. Fundoscopia direta na nossa biblioteca virtual. Nefropatia diabética A nefropatia diabética é uma alteração nos vasos sanguíneos dos rins, que leva à perda de proteína por meio da urina. Nessa complicação, o órgão pode reduzir sua função lentamen- te, porém, de forma progressiva, até a paralisação total. Contudo, esse quadro é controlável e existem exames para detectar o problema ainda no início: 1. Os rins funcionam como filtros no corpo humano e tem a função de eliminar, pela urina, as substâncias provenientes do metabolismo que não tem mais utilidade e, ao mesmo tempo, precisa manter outros elementos que não devem ser descar- tados, como as proteínas. A nefropatia diabética faz com que o órgão perca a capacidade de filtrar adequadamente essas substâncias. 2. Uma das proteínas que circulam no sangue é a albumina. Ela possui alto valor biológico e fornece todos os aminoácidos essenciais para facilitar a recuperação do organismo. Na fase inicial da nefropatia diabética, aparecem pequenas quantida- des de proteína na urina (microalbuminúria). Caso o diabetes continue descontrolado, pode ocorrer quadro de macro albu- minúria, ou seja, grandes quantidades de albumina na urina. 3. A doença não costuma apresentar sintomas. Muitos pacien- tes, no entanto, notam que a urina passa a ficar espumosa. 4. É comum que na fase inicial ocorra o aumento da pressão arterial (hipertensão). Esta situação merece atenção especial, pois pode levar à insuficiência renal avançada. 5. No diabetes tipo 1, a insuficiênciarenal progressiva ocorre em cerca de 50% dos pacientes. No tipo 2, observa-se um cres- cente número dessa complicação. Isso significa que o controle está muito aquém do desejado. 12 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade 6. Na maior parte das pessoas com o diabetes, o bom controle das taxas de glicemia previne a nefropatia. Mesmo naqueles que já apresentam microalbuminúria na urina, o diabetes bem controlado evita a piora do quadro. 7. Exames frequentes de urina devem ser realizados para detec- tar a microalbuminúria, que é o indicativo precoce de nefropatia diabética. A perda de proteínas na urina é fundamental para diagnosticar a doença renal do diabético. 8. O tratamento adequado do diabetes e o controle da pres- são arterial são considerados fundamentais para evitar esta complicação, podendo, em alguns casos, até mesmo regredir o processo. 9. É recomendável, também, o controle do colesterol, parar de fumar, ter uma dieta mais balanceada e até mesmo o uso de algumas medicações (sempre receitadas por um especialista). (SBEM, 2018a) 13 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Aula 3: Obesidade em adultos: prevalência, rastreamento, avaliação clínica e manejo O excesso de peso (incluindo as condições de sobrepeso e de obesidade) constitui o sexto fator de risco mais importante para a carga global de doenças, incluindo doenças cardiovascu- lares, como hipertensão arterial e acidente vascular cerebral, diabetes, câncer de cólon, reto e de mama, cirrose, gota, osteoartrite e apneia do sono. Inquéritos nutricionais de base domici- liar repetidos em intervalos variáveis de tempo têm mostrado aumentos sistemáticos da pre- valência do excesso de peso e da obesidade em vários países do mundo e também no Brasil. No período de 2006 a 2012, a prevalência da obesidade na população adulta das 27 cidades cobertas pelo sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – VIGITEL aumentou de 11,6% para 17,4%, representando um incre- mento médio de 0,89% ao ano. Aumentos significativos foram observados para homens e mulheres, em todas as faixas etárias (com exceção dos idosos, cujo aumento não foi regular ao longo do período) e em todos os níveis de escolaridade. Em indivíduos, o aumento na prevalência da obesidade foi ligeiramente maior para mulheres (MALTA et al., 2014, p. 267). Sabidamente, a obesidade pode ser de causas primárias (determinada pelo excesso de calo- rias consumidas) e secundárias a outras causas. Nesta aula, vamos nos deter na obesidade por excesso de calorias. Segundo o Ministério da Saúde: “Recomenda-se o rastreamento de todos os pacientes adul- tos e crianças maiores de seis anos para obesidade e a oferta de intervenções de aconselha- mento e de mudança de comportamento para sustentar a perda de peso. Grau de recomen- dação B.” 2010 Ministério da Saúde. Não há uma recomendação clara sobre a periodicidade do rastreamento para obesidade. (2010 Ministério da Saúde) Apesar de suas limitações, o IMC (Índice de Massa Corpórea) ainda é a principal forma de se rastrear obesidade. Esse índice é calculado por meio da seguinte fórmula: 14 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Índice de massa corporal IMC = Peso (kg) Altura (m)2 O valor do IMC é dividido nas seguintes categorias: • IMC 25-29.9 é classificado como sobrepeso. • IMC > 30 é classificado como obesidade; esse item é subclas- sificado em: • grau I (IMC 30-34,9); • grau II (IMC: 35-39,9); • grau III > 40. A CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL reflete melhor o conteúdo de gordura visceral e também se associa muito à gordura corporal total. A OMS estabelece como ponto de corte para risco cardiovascular aumentado, medida de circunferência abdominal igual ou superior a 94 cm em homens e 80 cm em mulheres. Veja a Tabela 2 a seguir. TABELA DE CINTURA IDEAL RISCO MULHERES HOMENS PROGRAMAS RECOMENDADOS Normal Até 80 cm Até 90 cm Controle de peso Risco médio > 80 cm > 90 cm Redução de peso Risco alto ≥ 84 cm ≥ 94 cm Redução de peso Risco altíssimo ≥ 88 cm ≥ 102 cm Redução de peso Tabela 2 – Circunferência abdominal. Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-cdfD4EevSg0/VY1wU7vPNHI/AAAAAAAAAYc/g7iDEEAfrTw/s1600/tabela%2B- circunferencia.jpg>. Acesso em: 21 maio 2018. 15 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade A circunferência abdominal é medida no meio da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior. Veja a Tabela 3 a seguir. IMC Risco associado à circunferência abdominal Normal (< 90 cm homens) (< 80 cm – mulheres) Aumentada (94-102 cm – homens) (80-88 cm – mulheres) Muito aumentada (> 102 cm – homens) (> 88 cm – mulheres) Sobrepeso Sem risco adicional Risco aumentado Risco muito aumentado Obesidade I Risco aumentado Alto risco Muito alto risco Tabela 3 – Relação entre circunferência abdominal e risco cardiovascular. Fonte: Gusso e Cerrati (2012). Com o que já estudamos e revisamos, quais exames complementares você consideraria monitorar de forma inicial? Em geral, a medida do perfil lipídico, glicemia e função hepática (pensando em doença gordurosa do fígado) são suficientes. Porém, vale ressaltar que a sus- peita de outra doença de base impõe a investigação apropriada. Estratégias terapêuticas em pessoas com obesidade As mudanças necessárias para a perda de peso estão diretamente relacionadas com o grau de motivação, portanto avaliar o desejo da pessoa e ofertar a ela as informações neces- sárias, respeitando sua autonomia, são elementos primordiais no manejo terapêutico de pessoas com obesidade. 16 O modelo transteórico constitui-se um instrumento promissor de auxílio à compre- ensão da mudança comportamental relacionada à saúde. ESTÁGIOS Pré-contemplação: - Não percebeu o problema ou que precisa de mudança. - São necessários informações e feedback. - O aconselhamento nutricional é contraproducente. - É comum que não percebam ou recusem o risco, ou ainda que decidam por alguma razão não adotar o padrão. Contemplação: - Depois da consciência do problema → período de ambivalência. - Objetivo: trabalhar sobre vantagens e desvantagens. Preparação: JANELA DE OPORTUNIDADE - Precisa de ajuda → buscar uma estratégia ou meta de mudança → aceitável, atingível e apropriada Ação: - Paciente envolve-se em ações → mudanças. - Objetivo: produzir uma mudança na área problemática. - Indivíduos implementam o seu plano de mudança do comportamento e começam de uma maneira consistente. Manutenção: - Desafio: manter a mudança realizada e evitar recidivas. - Estágio final → a prática comportamental → solidificada e incorporada na rotina → caracterizada por esforços → prevenir relapsos. Recaída: - Se ocorrer → individualizado → iniciar o processo de mudança novamente. - Ocorrências esperadas → procurar mudar qualquer padrão de longa duração. - Objetivo: retomar os esforços para a ação. (ASSIS; NAHAS, 1999; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2007). 17 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade Muito se tem debatido sobre o grau da intervenção desejável para o tratamento da obesida- de. O fato é que os consensos indicam tratar mais intensamente aquelas pessoas com ris- cos aumentados. A combinação de medidas não farmacológicas e as farmacológicas serão sempre opções a se considerar. Por tratar-se de uma doença crônica e multifatorial, a atuação inter- profissional e transdisciplinar é a chave do sucesso nesse tipo de tratamento. Já abordamos na aula sobre DM a importância do apoio do profissional da nutrição na abordagem a essas pessoas. Reforçamos que a orientação nutricional deverá ser individualizada, porém questões gerais podem ser abordadas nas consultas:- redução da ingestão de alimentos ricos em carboidratos; - redução da ingestão de alimentos ricos em gorduras polissaturadas; - redução da ingestão de açúcares; - aumento da ingestão de fibras; - aumento da ingestão de líquidos. Outro elemento importante é a abordagem ao comportamento. Vimos antes que determinar o grau de motivação (modelo transteórico) é um importante auxílio. O apoio do profissional da psicologia com as distintas formas de psicoterapia – a comporta- mental cognitiva, a psicanálise, a reconstrução cognitiva – é fundamental para que a pessoa que busca o serviço de saúde possa ter um maior autoconhecimento sobre a sua relação com a comida e, consequentemente, o automonitoramento de seus comportamentos em relação ao peso. O profissional da educação física tem o papel de orientar e monitorar os tipos de exercícios que ajudarão na perda do peso e que não trarão nenhuma outra complicação para essas pessoas. Do ponto de vista medicamentoso, é importante salientar que estes são coadju- vantes e que não substituem as medidas já mencionadas. O uso de medicamentos está melhor descrito em pessoas com IMC superior a 30 kg/m2 ou com IMC entre 25 e 30 kg/m2 com comorbidades. A perda de peso associada à medicação é modesta, em torno de 5 kg (GUSSO; CERRATI, 2012). A seguir, mencionaremos os fármacos mais comumente utilizados e algumas de suas características. 18 Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde Diabetes mellitus e obesidade 1- SIBUTRAMINA: Inibidor da receptação da serotonina, que age aumentando a saciedade pós ingestão e a taxa metabólica. Em doses superiores a 15 mg/dia, o início do tratamento está condicionado ao controle dos níveis pressóricos. Em função dos efeitos cardiovascula- res, não deve ser usado em cardiopatas. Há relatos de melhoras discretas de HDL e Trigli- cerídeos. Os efeitos adversos mais comuns são boca seca, vertigem, alteração do paladar, dismenorreia e insônia. 2- BUPROPRIONA: Antidepressivo, também utilizado no tratamento para cessação do taba- gismo. Os poucos estudos que existem em relação à perda de peso mostram efetividade dessa medicação quando comparada a placebos. 3- ORLISTATE: Inibidor da lipase, ajuda na redução do peso diminuindo a digestão e a absor- ção de gorduras. Perda de aproximadamente 3 kg em seis meses. Os efeitos adversos mais comuns são diarreias, náuseas e vômitos. 4- TOPIRAMATO: Anticonvulsivante. Os melhores resultados para redução de peso estão associados a doses mais altas da medicação. Reduz em torno de 8% do peso. As reações adversas mais frequentes são parestesias, alteração do paladar e disfunção cognitiva. Portanto, podemos avaliar que, ao traçar metas, mais importante que concentrar-se apenas na perda de quilogramas, é mais saudável estabelecer planos para uma mudança no estilo de vida (o que pode promover como consequência a redução efetiva do peso).
Compartilhar