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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – FREDIE DIDIER ATUALIZAÇÃO: CURSO G7 – INTENSIVO 2020.2 PROFESSOR: FERNANDO GAJARDONI (G7) AULA IV - DATA: 10.09.2020 Competência interna (continuação) Há quatro critérios usados pelo Brasil para definir a competência interna e eles devem ser analisados na seguinte ordem: critério hierárquico, critério material, critério valorativo e critério territorial. ➢ Na aula passada terminamos na metade da análise do critério material, em especial, na análise da justiça do trabalho. 4.1.2. Material (continuação) VI) indenizações decorrentes da relação de trabalho (SV 22 STF): As indenizações decorrentes da relação de trabalho seguem o mesmo padrão da ADI 3395 e da 3694, estudadas na última aula. Isso significa que celetista é julgado na justiça trabalhista e servidores com vínculo de direito administrativo (estatutário, cargo temporário e cargo em comissão) são julgados na justiça comum. ✓ As indenizações trabalhadas neste tópico (art. 114, VI, CF) podem ser por dano material, moral, estético ou existencial e referem-se a ações em face do empregador. ✓ A ação acidentária típica, que é aquela ajuizada pelo segurado contra o órgão previdenciário por conta de acidente previdenciário, não se enquadra neste inciso. Basicamente, são de competência da Justiça trabalhista, sendo o trabalhador celetista, as indenizações por: 1º) assédio moral: é o uso da relação hierárquica para humilhar o empregado. 2º) assédio sexual: é a exigência, sob pena de sanções, de favores sexuais em virtude de uma relação de subordinação. Assim, para ser assédio sexual, deve haver relação de subordinação. 3º) indenização por acidente de trabalho: é a ação do empregado contra o empregador quando há um acidente ocorrido dentro do local de trabalho ou “in itinere”, ou seja, no caminho do trabalho (ida ou volta). Não se deve confundir a ação de indenização por acidente de trabalho (art. 114, VI, CF) com a ação acidentária típica (vista anteriormente). Súmula Vinculante 22: “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004.” IX) residual (decorrentes da relação de trabalho): Trata-se de hipótese de competência residual, conforme previsto no art. 114, IX, CF, a qual abrange qualquer tipo de ação que se dê em virtude da relação trabalhista (CLT). Ex. 1: ação de retomada de coisa dada em comodato no momento do término da relação trabalhista. Neste caso, o fundamento da retomada é o fim da relação de trabalho e, por esse motivo, ela é julgada na justiça do trabalho. Ex. 2: mandado de segurança de funcionários públicos celetistas. Quando se admite mandado de segurança na justiça do trabalho (tema polêmico), às vezes, quem impetra o MS é funcionário público celetista. Neste caso, a competência é da justiça do trabalho, pois o vínculo mantido entre o funcionário e o impetrado (exemplo: prefeito) é de relação trabalhista e não de direito administrativo. ATENÇÃO: súmula 363 do STJ. Profissional liberal, ainda que preste serviços para alguém, não cobra os serviços na Justiça do Trabalho, pois não há relação de trabalho, mas relação civil. Assim, se houver inadimplemento do contratante, o contratado deve ingressar na justiça comum estadual. Súmula 363 do STJ: “Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente. CLASSIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA a) competência absoluta e relativa COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA As regras de competência absoluta são criadas para atender ao interesse público (finalidade pública); portanto, não podem ser alteradas pela vontade das partes. A vontade das partes aqui é irrelevante. O desrespeito a essas regras de competência absoluta gera a incompetência absoluta, que pode ser conhecida ex officio pelo juiz, pela provocação de qualquer das partes (qualquer das partes pode As regras de competência relativa são criadas para atender ao interesse particular (de uma das partes); portanto, podem ser alteradas pela vontade das partes ou até mesmo por determinação legal. Pode alegar tacitamente ou expressamente (foro de eleição ou foro contratual). A incompetência relativa não pode ser conhecida ex officio pelo juiz (súmula 33 do STJ - A alegar incompetência absoluta), pode ser alegada por qualquer forma e ainda é possível alegá-la enquanto durar o processo, ou seja, enquanto o processo estiver pendente (não há preclusão para alegar incompetência absoluta enquanto o processo estiver pendente). E se o processo terminar ainda cabe ação rescisória, por ser matéria grave. A alegação de incompetência absoluta pode ser feita por qualquer meio – não há forma preestabelecida para alegar incompetência absoluta. incompetência relativa não pode ser declarada de ofício). Só o réu pode alegar incompetência relativa. O réu tem que alegar no primeiro momento em que lhe couber falar nos autos, sob pena de preclusão; ou seja, sob pena de o juiz que era incompetente, tornar-se competente. O MP pode alegar incompetência relativa em favor de incapaz. A incompetência (absoluta ou relativa) não gera a extinção do processo. A incompetência gera remessa dos autos a outro juízo competente. Essa remessa dos autos é chamada de translatio iudicii. Há duas exceções a essa regra: a) nos juizados especiais a incompetência gera extinção; b) incompetência internacional. Se a incompetência for absoluta, além de gerar a remessa dos autos para outro juízo competente, haverá a nulidade dos atos decisórios. A incompetência relativa só gera a remessa. Prova produzida não é anulada. Somente se anula atos decisórios quando se tratar de incompetência absoluta. Gravem isso: Os atos decisórios praticados por juiz absolutamente incapaz geram a anulação desses atos e a remessa – provas produzidas não são anuladas, somente atos decisórios são anulados. Liminar não se anula quando está envolvida a incompetência relativa. Obs.: A incompetência no STF gera extinção, mas o regimento foi alterado, e agora a incompetência no STF gera remessa. Uma vez distribuído o processo, perpetua a competência, salvo as exceções já mencionadas. Distribuído o processo, só haverá a perpetuação se você distribuir para um juiz competente, pois se você distribuir para um juiz incompetente, este remeterá o processo para um juiz competente. Esta remessa não é quebra de perpetuação, pois nem chegou a perpetuar a competência. A perpetuação pressupõe a competência do juízo. Competência relativa: Espécies de modificação da competência relativa pelas partes: a) tácita – se o réu não opõe exceção de incompetência, a causa fica ali – o silêncio do réu, ao não se opor à propositura equivocada da ação, modifica a competência (o juiz que era incompetente passa a ser competente); b) expressa – a modificação expressa da competência pelo foro de eleição ou foro contratual. Em um negócio jurídico as partes escolhem o local (foro), de firma expressa, a comarca onde as causas relativas àquele negócio devem ser ajuizadas. O foro de eleição é uma cláusula contratual escrita, na qual os negociantes escolhem em que território/foro as causas relacionadas àquele negócio devem ser ajuizadas. Não pode escolher o fórum, o juízo. Pode escolher o território, localidade onde vai ser ajuizada. OBS.: Nada impede que haja dois foros de eleição, por exemplo: um foro para cada parte quando cada uma delas for autora. AsCausas relacionadas à interpretação e ao adimplemento do negócio serão ajuizadas no foro (é o local e não o fórum, ou seja, o prédio escolhido pelas partes). OBS: Foro de eleição é território – não é possível escolher o juízo. Regra diferenciada para os contratos de adesão: Admite-se foro de eleição em contrato de adesão em relação de consumo? Sim, pode haver cláusula de foro de eleição em contrato de adesão, mas pode configurar cláusula abusiva. Mas o foro de eleição abusiva em contrato de adesão é nula. Portanto, cláusula de foro de eleição em contrato de consumo não pode ser abusivo para o consumidor. As cláusulas abusivas em contrato de consumo podem ser invalidadas ex officio pelo juiz. Pode ser de ofício no início. A jurisprudência do STJ entendeu que o juiz poderia anular cláusula abusiva de eleição de foro em contrato de consumo e poderia remeter os autos ao juízo competente, ou seja, do domicílio do réu que é o consumidor (apesar de ser competência relativa, o que não autorizaria o juiz a reconhecer de ofício e remeter os autos). A eficácia da cláusula do foro de eleição é retirada pelo juiz porque o código permite. Se o juiz não fizer, mandará citar o réu. Se o réu impugnar, o juiz decide. Se o réu não impugnar, precluiu e não discutirá mais isso. b) Competência originária e a derivada Competência originária é a competência para conhecer e julgar a causa originariamente pela primeira vez. No Brasil, a competência originária costuma ser de juiz. Tribunal até tem competência originária (exemplo: mensalão que é de competência do STF). Competência derivada é a competência para julgar a causa em grau de recurso. A competência para julgar a causa em grau de recurso, para nós, é do tribunal. Um juiz pode ter esta competência, embora seja raro. Exemplo: embargos de declaração contra decisão de juiz. Estes embargos é recurso e se for contra decisão de juiz, ele mesmo vai julgar o recurso contra a sua própria decisão. Outro exemplo de juiz com competência derivada é a competência do juiz de julgar embargos infringentes em execução fiscal de pequeno valor. Em casos de pequeno valor em execução fiscal (mais ou menos 500 reais) o recurso contra a sentença é julgado pelo mesmo juiz da causa. Exemplo: Lei 6830/80, artigo 34. Art. 34 - Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração. § 1º - Para os efeitos deste artigo considerar-se- á o valor da dívida monetariamente atualizado e acrescido de multa e juros de mora e de mais encargos legais, na data da distribuição. § 2º - Os embargos infringentes, instruídos, ou não, com documentos novos, serão deduzidos, no prazo de 10 (dez) dias perante o mesmo Juízo, em petição fundamentada. § 3º - Ouvido o embargado, no prazo de 10 (dez) dias, serão os autos conclusos ao Juiz, que, dentro de 20 (vinte) dias, os rejeitará ou reformará a sentença. Exemplo: Em juizado especial quem julga o recurso é a turma recursal composta por juízes, porém não cabe neste caso como exemplo de competência derivada, pois não são os juízes que tem a competência recursal e sim a própria turma recursal. Exemplo: Embargos de declaração da própria sentença, pois o próprio juiz monocrático vai julgá-lo. REGRAS GERAIS DA COMPETÊNCIA TERRITORIAL Uma ação é pessoal porque ela diz respeito a um direito pessoal. E a ação é real quando ela diz respeito a um direito real. A diferença entre elas é feito de acordo com o direito que se afirma ter. Ações pessoais são aquelas que veiculam direitos pessoais. Se eu propôr uma ação fundada em direito real mas é um direito real sobre móvel, a competência é do domicílio do réu. Será também do domicílio do réu no que tange ações pessoais. OBS.: A diferença entre ação mobiliária e imobiliária é feita com base no objeto que se pretende. É possível uma ação pessoal imobiliária, como é caso da ação de despejo. É possível também uma ação real mobiliária, COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA COMPETÊNCIA DERIVADA a) Quando o órgão jurisdicional recebe e julga a causa primeiramente. b) Normalmente é uma competência dos juízes monocráticos, juízes de primeiro grau. c) Há casos em que o Tribunal tem competência originária, como por exemplo, a ação Rescisória. a) Competência para julgar recurso. Ele (órgão jurisdicional) recebe a causa em um segundo momento. b) Normalmente esta competência é de um Tribunal, embora seja possível vislumbrar competência recursal de juízos de primeiro grau, como por exemplo, o recurso previsto no artigo 34 da LEF. c) É a competência recursal. como é o caso de hipoteca de avião que apesar de ser móvel, pode ser hipotecado. Uma ação real pode ser tanto mobiliária quanto imobiliária. OBS.: Para que se defina o local, há um amplo regramento estabelecido nos arts. 46 a 53 do CPC (dispositivos que devem ser lidos pelo aluno). a) Direito pessoal e real sobre bens móveis (art. 46, CPC) A regra geral do critério territorial está preceituada no art. 46, CPC. Regra geral: conforme o art. 46, CPC, não havendo regra especial, qualquer ação fundada em direito obrigacional ou real será ajuizada no domicílio do réu. c) Direito real sobre bens imóveis (art. 47, CPC). c.1) absoluta/funcional (art. 47, “caput”): Apesar de ser regra de competência territorial, ela é absoluta, ou seja, a parte não tem a opção de ajuizar a ação em outro lugar e não há prorrogação de competência. ✓ O juiz do foro de situação da coisa é funcionalmente competente para julgar ações de direito real imobiliário que se ajuízem na sua comarca. CPC, art. 47, caput: “Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. c.2) relativa: art. 47, §1º, CPC. Nos casos do §1º, art. 47, a competência é relativa. CPC, art. 47, §1º: “O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.’ c.3) Possessória imobiliária (art. 47, §2º, CPC): A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta para julgar o caso, ou seja, essas ações caem na regra geral do “caput” do art. 47, CPC (foro de situação da coisa). CPC, art. 47,§ 2º: “A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.” C.4) Rescisão de contrato cumulada com reintegração de posse? A jurisprudência majoritária entende que não se aplica o art. 47 do CPC à hipótese de rescisão de contrato cumulada com reintegração de posse, pois tal ação é fundada em direito obrigacional (e não em direito real). Sendo fundada em direito obrigacional, o regramento a ser seguido é o do art. 46, caput do CPC, ou seja, é o foro de domicílio do réu. Observação: se a ação for de reintegração de posse pura, será aplicado o art. 47 do CPC. OBS.: As ações que estiverem fora deste quadro são de competência relativa. OBS.: No código comentado de Nelson Nery na parte de possessória, ele traz uma tabela somente de ações reais. Ação publiciana é exemplo de ação real. Esta ação é uma ação reivindicatória sem título de propriedade, ou seja, não se baseia em um título de propriedade. Exemplo: É cabível quando a pessoa “X” usucapiu um imóvel, mas ainda não teve sentença de usucapião e entra com esta ação, pois é dono, mas ainda não tem título. Outro exemplo: Quando sujeito já herdou o bem, mas não foi houve registro do formal de partilha. Ele não tem o título formal que afirma isso. b) Execução fiscal(art. 46, §5º, CPC) (sem escolha): Inadvertidamente, o legislador colocou regra de competência de processo de execução na parte geral do CPC. Essa regra vale, especialmente, para execução de créditos regidos pela Lei 6.830/1980. É necessário ter atenção porque a regra desse dispositivo é de foro sucessivo (e não concorrente), ou seja, não dá ao autor a opção de escolher entre os possíveis foros. O autor tem que usar, sucessivamente, os três foros citados no art. 46, §5º, CPC. d) Ações de direito sucessório (art. 48, CPC): A regra geral deste artigo é que o foro do último domicílio do morto é o competente para julgar as ações relativas à sucessão. e) Contra ausente (art. 49, CPC): A regra nos casos de ausente é muito parecida com as relativas à sucessão, sendo competente o foro do último domicílio do ausente. f) Contra incapaz (absoluto ou relativo) (art. 50, CPC) (Súmula 383, STJ): O CPC não faz, nesse dispositivo, diferenciação entre a incapacidade relativa e a absoluta. CPC, art. 50: “A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente.” g) União - autora e ré (art. 109, §§ 1º e 2º da CF e art. 51, CPC) g.1) Ações em que a União é autora: de acordo com o art. 109, § 1º e art. 51, CPC, nas ações em que a União é autora, ela vai ingressar com a ação na vara federal do domicílio do réu. g.2) União como ré: Neste caso, a competência é concorrente, ou seja, o autor pode ingressar com a ação em face da União no foro de domicílio do autor, no foro do local do fato, no foro do imóvel ou no DF. CF, art. 109 ,§ 2º: “As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. CPC, art. 51: “É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.” Obs.: a jurisprudência sustenta que a ação também poderia ser intentada na capital do estado. Atenção: De acordo com o entendimento dominante, as regras dos artigos art. 109, §§ 1º e 2º da CF e art. 51, CPC, também se aplicam no caso de autarquias federais e fundações públicas de direito público federal. No caso de empresa pública federal, não se aplicam as regras do art. 51 do CPC. h) Estado e DF – autor e réu (art. 52, CPC): O regramento do artigo 52, CPC, é muito similar ao do art. 51, CPC. Assim, quando o Estado ou o DF forem autores, eles ingressarão com a ação no foro de domicílio do réu. Já se o Estado ou o DF forem réus, também há foros concorrentes, sendo possível ingressar com a ação no foro de domicílio do autor, no foro do local do fato, no foro de situação da coisa ou na capital do ente federado. Obs.: a regra do art. 52, CPC, também se aplica no caso de autarquias estaduais e fundações públicas de direito público estadual e distrital. i) Municípios – autor e réu (sem regra específica) O CPC não traz regra específica para ações envolvendo os municípios. Assim, aplica-se a regra geral, independentemente de ser o município autor ou réu. j) Regras especiais *** Hipossuficiência? (art. 53 CPC) (divórcio/separação e afins - Lei 13.894/2019) (cartórios) (delito) O art. 53, CPC, traz regras especiais que afastam o regramento dos artigos 46 e seguintes do CPC. ✓ O professor destaca que, apesar da ordem do CPC sobre competência territorial ser do 46 até o 53, o Código de Processo Civil deveria ser lido ao contrário, ou seja, do art. 53 para o art. 46. A regra do art. 53, CPC, era para ser fundada na hipossuficiência presumida. Ocorre que esse objetivo inicial não foi seguido e somente favoreceu as serventias extrajudiciais. Observações: 1ª) O art. 53, III, “f”, CPC estabelece que as ações serão ajuizadas no local da sede do cartório nos casos de ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício. 2ª) O art. 53,V, CPC estabelece que é competente o lugar do ato ou fato para a ação de reparação de dano sofrida em relação de delito (crime ou contravenção) ou acidente de trânsito. 3ª) O art. 53, I do CPC sofreu alteração legislativa em 2019. Assim, para ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável, é competente o foro: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; d) de domicílio da vítima de violência doméstica e familiar. Atenção: a hipótese da letra “d” não é sucessiva, mas preferencial. k) Leis extravagantes: (art. 2º da Lei nº 7.347/85; art. 93 do CDC; art. 58, II da Lei 8.245/91; art. 4º da Lei 9.099/95 etc.). Nas ações de procedimento especial de legislação extravagante, em regra, as normas preveem regras de competência que devem ser estudadas pelos alunos. 5.1. Critério territorial absoluto (art. 47 e § 2º, CPC) (art. 2º da Lei nº 7.347/1985) ABSOLUTA RELATIVA CRITÉRIOS Funcional/hierárquico e material (regra geral). Valorativo e territorial (regra geral). PREVISÃO LEGAL Art. 64, §§, CPC Art. 65, CPC (art. 64, §§ 2º a 4º também valem para a competência relativa). INTERESSE PROTEGIDO PÚBLICO PRIVADO CONHECIMENTO PELO JUIZ De ofício, em qualquer momento e grau de jurisdição, observado, todavia, o que aponta o art. 10 do CPC. Observação: o STJ entende (erroneamente) que não é necessário observar o art. 10 do CPC em casos de incompetência absoluta. Só mediante alegação da parte ou MP (súmula 33, STJ) (art. 65, § único, CPC) DERROGABILIDADE NÃO (art. 62 do CPC) (inaplicabilidade do art. 190 CPC). SIM: foro de eleição (art. 63, CPC) e conexão/continência (arts. 55 e 56 CPC). MOMENTO e MODO PARA ALEGAÇÃO Preliminar de contestação (art. 64, CPC) ou a qualquer momento (art. 64, § 1º, CPC). Preliminar de contestação, sob pena de prorrogação. VIOLAÇÃO Eventual nulidade dos atos praticados (art. 64, § 3º, CPC). Cabe ação rescisória (art. 966, II, CPC). Não gera nulidade: prorrogação de competência (art. 65 CPC). Não cabe rescisória. O que interessa para uma regra ser de competência absoluta é a proteção do interesse público. Por esse motivo é que, ainda que a regra seja valorativa e territorial, se ela proteger o interesse público, ela seguirá as regras de competência absoluta. Exemplos: CPC, art. 47, §2º: “A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.” Lei 7.347/1985 (Lei de Ação Civil Pública) “Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.” 5.2. Critério valorativo/absoluto (art. 3º, §3º, Lei 10.259/2001) (art. 2º, §4º, Lei 12.153/2009) Se o interesse protegido pela norma for público, ainda que, eventualmente, o critério seja valorativo, o regramento será da competência absoluta. Este critério pode aparecer com o nome de “critério funcional absoluto” (Chiovenda). Exemplos: Lei 10.259/2001, art. 3º, §3º: “No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.” Lei 12.153/2009, art. 2º, §4º: “No foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua competência é absoluta.” 5.3. Foro de eleição (sempre renunciável em prol da regra do art. 46, CPC): O foro de eleição é possível apenas na competência relativa. O foro de eleição é um negócio jurídico pré-processualtípico, pois ocorre antes do processo e tem previsão legal expressa. Além disso, é negócio jurídico bilateral, porque depende do pacto das partes. O entendimento dominante é de que a regra do foro de eleição sempre será renunciável em prol da regra do art. 46, CPC (domicílio do réu), pois esta é mais favorável ao demandado. ✓ O foro de eleição somente será obrigatório se o réu comprovar que sofrerá prejuízo ao ser processado no seu foro de domicílio. a) Requisitos (art. 62 e 63, “caput” e §1º): • A competência deve ser relativa. • Sempre a regra do foro de eleição deve ocorrer por escrito. • O foro de eleição deve fazer referência a negócio jurídico específico (não pode ser genérico). b) Sucessão (art. 63, §2º) O foro de sucessão obriga herdeiros e sucessores. Isso significa que, se, eventualmente, a parte que combinou o foro de eleição morrer, os seus herdeiros e sucessores devem cumprir o foro de eleição. ✓ Atenção porque o dispositivo não cita cônjuge e companheiro. O cônjuge, se não for sucessor, não é obrigado pelo foro de eleição se ele não participou de sua subscrição. CPC, art. 63, §2º: “O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.” c) Abusividade do foro de eleição (art. 63, §§3º e 4º, CPC): Se o foro de eleição for considerado abusivo, pode ser reconhecida a sua nulidade. Nesse caso, haverá o encaminhamento dos autos ao juiz competente, conforme as regras do CPC. Atenção ao momento do reconhecimento do vício: Antes da citação, o juiz pode, de ofício, pronunciar o vício (ineficácia do foro de eleição). Depois da citação do réu, somente poderá pronunciar o vício mediante a provocação da parte (réu). CPC, art. 63, §3º e 4º: “§ 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. § 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.”
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