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Introdução COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Ao longo do capítulo 2 você irá se familiarizar com duas dimensões que fazem parte da essência humana e das organizações. As pessoas são motivadas por elementos conscientes e inconscientes. Do mesmo modo, as organizações também possuem uma dimensão consciente e outra inconsciente que guia e conduz sua forma de se comportar frente aos trabalhadores, fornecedores, clientes e sociedade em geral. Partindo-se do propósito que toda a organização é constituída por objetivos, tarefas e por pessoas e suas relações, constata-se que tanto a dimensão consciente e inconsciente, atuam sobremaneira na dinâmica relacional e de atividades nas organizações. É por isso, que em qualquer cargo ou profissão, devemos estar atentos aos conteúdos que são claros, explícitos e racionais, mas principalmente aos que são da ordem inconsciente e, por isso, velados, implícitos, subjacentes. Assim, neste capítulo você poderá se debruçar com profundidade na compreensão dessas dimensões onipresentes nas organizações do trabalho. Encontrará uma seção denominada de Aspectos Conscientes e Inconscientes das pessoas nas organizações, na qual serão apresentados esses conceitos e a forma como as pessoas e as organizações lidam com seus conteúdos conscientes. Uma segunda seção, denominada de O consciente e o inconsciente grupal nas organizações, na que será descrito como as pessoas agem em grupos quando motivadas por aspectos conscientes e inconscientes, bem como suas consequências nos resultados organizacionais. Vamos lá então? Desejo que você tenha um ótimo aprendizado! Capítulo 2 Do mesmo modo que o jeito de ser de cada pessoa interfere nas relações interpessoais que ela constitui em todos os espaços sociais em que se insere, incluindo o trabalho, as corporações também possuem seu jeito próprio de ser que interfere na maneira como os trabalhadores irão se relacionar. Por isso, conhecer o comportamento organizacional nos dá parâmetros importantes para estabelecermos relacionamentos frutíferos. Todo e qualquer movimento humano rumo ao cumprimento de metas, objetivos e resultados, as tarefas, os serviços, tecnologia, hierarquia e controle, produtividade, equipe, enfim o funcionamento de uma organização de modo geral está influenciado permanente por elementos que podemos ver e aquilo que não podemos ver no ambiente em que vivemos. Esses elementos se relacionam de maneira interdependente e determinam a forma de ser, agir e de conduzir de uma organização e são denominados de aspectos aparentes, visíveis, luz em contraposição aos aspectos invisíveis, subjacentes ou sombra. Observe a figura a seguir. Perceba que na parte do Icerberg que se encontra acima da água enxergamos uma porção muito pequena dele; tão pequena em relação ao todo que olhando apenas essa ponta temos até dificuldade de notar sua real dimensão. Por outro lado, grande parte do Iceberg está submerso, invisível e quase imperceptível. Essa metáfora nos auxilia a entender que as organizações do trabalho são como grandes Icebergs: alguns elementos são facilmente percebidos, enquanto outros, temos muitas dificuldades para ver. Contudo, eles exercem uma relação de interdependência e de influência mútua. Por isso, quanto mais conhecermos esses elementos, mais fácil será nossa ação sobre eles rumo ao sucesso organizacional. Fonte: https://www.flickr.com/photos/pere/523019984 Aspectos Conscientes e Inconscientes das pessoas nas organizações. Para entendermos um pouco mais esses elementos do comportamento organizacional, tomaremos emprestado um conhecimento da Psicologia utilizado para compreender os seres humanos e preconizado por Freud: o consciente e o inconsciente. O consciente é aquela dimensão da nossa estrutura psíquica que possui os conteúdos dos quais estamos cientes: lembranças, experiências e ações intencionais. Os elementos conscientes humanos se equivalem aos visíveis, aparentes e luz da organização. Eles estão claros, explícitos e ilustrados nos aspectos do ambiente e da organização. São sempre observados e se revelam física e formalmente compondo o aparente de uma organização, como as políticas e diretrizes organizacionais, estrutura de cargos e o organograma, objetivos, metas e estratégias, os recursos, a tecnologia o mobiliário e os equipamentos, as estruturas organizacionais ou qualquer outro aspecto facilmente observável. A segunda dimensão psíquica do ser humano, a qual Freud deu maior importância, denomina-se Inconsciente, ou seja, os processos mentais que ocorrem no indivíduo sem que ele tenha consciência. É nessa porção da mente que o ser humano guarda tudo aquilo que para ele não tem explicação ou clareza e que se disfarçam em atos falhos cometidos, em esquecimentos, afloram nos sonhos Uma explicação, no entanto, inacessível para nós mesmos. Desejos ou memórias reprimidas, as emoções que eliminamos do nosso consciente por serem dolorosas ou de difícil manejo ficam guardadas a sete chaves no inconsciente, praticamente inacessíveis para a razão. As organizações funcionam de forma análoga; tudo aquilo que elas não querem admitir, enxergar ou deixar aparecer, está no nível do seu funcionamento inconsciente ou tomando a metáfora do Iceberg, no nível submerso, difícil de ser acessado. Para entender o inconsciente é necessário nos reportarmos ao início da vida do ser humano. Desde a tenra idade, impulsos vão sendo reprimidos e construindo o conteúdo inconsciente. Seria este então um depósito de desejos e impulsos que foram reprimidos a favor de viver em harmonia com seus semelhantes e construindo assim a história familiar e social do sujeito. À medida que amadurece, o homem vai sublimando ou canalizando esses impulsos para que atuem de forma aceita pelo mundo externo. Como as organizações são criadas ou fundadas e mantidas ou preservadas por seres humanos, é evidente que as estruturas ocultas ou subjacentes das pessoas que constituem estes grupos através dos relacionamentos interpessoais, influenciam diretamente esta organização. Portanto, podem favorecer melhor o entendimento desta organização. A maneira como o ser humano consegue lidar com os impulsos que foram reprimidos é através dos mecanismos de defesa. Estes que redirecionam os impulsos reprimidos para que assumam novas formas e possam se manifestar de maneira menos ameaçadora e com mais controle. Constituem as defesas naturais contra as frustrações que sofrem todos os indivíduos. Os mecanismos de defesa são, então, processos automáticos e inconscientes que a nossa psique se utiliza para lidar com o medo e o sofrimento e para manter o equilíbrio e estabilidade psicológica. Você já parou para pensar que os cuidados que recebemos desde bebês, a socialização educação, e o nosso amadurecimento vão moldando nossos impulsos e os que não são aceitáveis para a convivência familiar e social vão sendo “empurrados” para o inconsciente. E agora você lida com os conteúdos deste depósito recorrendo a vários mecanismos de defesa para manter o controle sobre eles. Estamos falando de você e de todos nós. Este recurso é fundamental para a qualidade das relações interpessoais. São as armas contra conflitos. A seguir relatamos os principais tipos destes mecanismos nas organizações, segundo Anna Freud Repressão: É o mecanismo base de todos os outros. Consiste em empurrar para o inconsciente todo o impulso inaceitável para o Ego. Desejos, impulsos, pensamentos que seriam incompatíveis com as auto-exigências e motivações conscientes ou o perturbaram, são excluídos do campo de percepção da consciência. Projeção: Quando atribuímos os próprios sentimentos, impulsos, desejos em uma outra pessoa. Por exemplo, quando uma pessoa enfatiza certas características negativas em outra pessoapara não ver em si própria. Projeta então sentimentos próprios para fora de si, em vez de assumi-lo e entendê-lo. Idealização: Refere-se a uma valorização dos aspectos positivos de uma determinada situação, para não enxergar os aspectos negativos. Por exemplo, uma pessoa que não conseguiu alcançar um resultado satisfatório em determinada tarefa supervaloriza alguns aspectos positivos alcançados e subestima o resultado total que não foi positivo.- Racionalização: Criação de justificativas bem elaboradas, lógicas e coerentes que não correspondem a idéia ou sentimento real, pois este poderá ser muito doloroso ao Ego. Exemplo da história da raposa e das uvas. Fixação: A pessoa se fixa em um padrão, idéia ou atitude, por temer outras que poderiam provocar alguma insatisfação ou sentimento negativo. Negação: O mecanismo que faz a pessoa negar um fato, uma ideia ou uma situação que poderá trazer à tona um impulso. Podemos citar as distrações, esquecimentos, bloqueios de percepção. Regressão: Caracteriza um retrocesso a formas anteriores de pensamento ou desenvolvimento causado por frustrações ou conflitos. Gestores podem recorrer a este tipo de mecanismo ao se defrontarem com situações de conflito, então surge o desejo de voltar a formas anteriores de administrar para buscar no passado a situação de satisfação. A repetição de experiências anteriores, porém, podem significar um fracasso pior do que aquele experimentado em uma situação difícil de mudança, por exemplo. Formação Reativa: É o mecanismo que visa transformar um sentimento ou uma atitude em formas opostas de manifestação. Podemos citar como exemplo uma secretária que está com muita raiva de seu gerente, e como não é possível demonstrar a raiva, ela se dirige com muita delicadeza e educação oferecendo uma xícara de café, ao invés de expressar seu impulso agressivo. Sublimação: A sublimação é um mecanismo muito importante, pois canaliza impulsos ameaçadores e não aceitos socialmente em formas aceitáveis. Um bom exemplo deste mecanismo encontra-se nas pessoas que possuem impulsos agressivos e sublimam para atividades esportivas ou para elaboração de uma obra de arte. A importância da compreensão destes mecanismos refere-se ao fato de que nas organizações as pessoas não estão atentas para seus motivos inconscientes. Não percebem que pensam de uma forma e agem de outra, ou ainda não têm atitudes como desejariam ter. A busca do autoconhecimento é essencial para compreender estes mecanismos e então transformá-los em força para uma melhor adaptação e se sentir bem e feliz. Se as organizações conhecerem os motivos conscientes, mas também os inconscientes é possível preconizar espaços organizacionais mais saudáveis, uma vez que os conteúdos que estão velados acarretam sofrimentos e adoecimentos, tanto individuais quanto organizacionais, Mas, afinal quais são os elementos inconscientes de uma organização? Todos os elementos que influenciam as relações e o desenvolvimento organizacional, mas que não são explicitados, conhecidos ou ainda aparecem de forma incoerente, distorcido ou velado podendo incluir: padrão de poder, sentimentos e percepções das pessoas, desejos e expectativas não manifestadas, crenças e valores não compartilhados, padrões de interações informais. O consciente e o inconsciente grupal nas organizações Falamos até aqui sobre os aspectos inconscientes de cada pessoa e suas manifestações nas organizações. No entanto, os aspectos conscientes e inconscientes também se manifestam na ação grupal. Tal contribuição foi sinalizada por Osório que analisou a atividade mental dos indivíduos quando na situação de grupo. Ao longo de seu trabalho com grupos, verificou que na situação grupal os indivíduos apresentam uma atividade mental na modalidade emocional composta por fantasias inconscientes compartilhadas. Ele identificou que qualquer grupo se move sempre em 2 planos: da intencionalidade consciente, conectado com a REALIDADE, que denomina de grupo de trabalho ; fatores inconscientes, conectado com o mundo da FANTASIA, que domina o grupo de supostos básicos. Esse movimento é sinuoso e marcado por avanços e retrocessos. Um grupo de trabalho, apresenta um movimento rumo à consecução da tarefa e, é caracterizado por uma orientação racional para seu objetivo fundamental, com descrição normativa do grupo de trabalho, objetivos metas, tolera ansiedade e frustrações e persiste em torno de sua tarefa fundamental. No entanto, os grupos não operam sempre na modalidade tarefa, mas como supostos básicos, pois surgem obstáculos, conflitos, problemas e aí podem ocorrer regressões a estágios infantis, resistências e o uso de mecanismos de defesa para conseguir lidar com situações conflituosas ou que refletem alguma possibilidade de ameaça. Um grupo que funciona sob a perspectiva de supostos básicos, está orientado por fantasias, desejos próprios da infância como ser atendido em suas necessidades de forma imediata. Tem dificuldades de lidar com frustrações, ansiedades e limites. A presença marcante dessas emoções, perturbam e até podem vir a impedir o cumprimento de objetivos, metas e o trabalho em si. Existem três tipos de supostos básicos: de dependência, de luta e fuga e de acasalamento. Existem 3 tipos de grupos de suposto básico: Dependência: aquele em que o grupo se comporta como se esperasse que um líder fosse se responsabilizar por todas as iniciativas e tomar conta dos membros do grupo como os pais fazem em relação aos filhos pequenos. Neste suposto básico a fantasia inconsciente que predomina é a visão do líder como figura onipotente. Luta e fuga: definido como o suposto no qual o grupo age como se existisse um inimigo que se deveria enfrentar ou que se deveria evitar”. Já aqui a fantasia inconsciente predominante é de que o líder é invencível. Acasalamento: o grupo alimenta a crença de que os problemas ou necessidades do grupo serão solucionados por alguém que ainda não nasceu e que o fará mediante a união geradora de dois elementos do grupo, independentemente do sexo ou função que nele desempenhem e com organizações. REFERÊNCIAS FOGUEL, Sergio, SOUZA, Carlos César. Desenvolvimento Organizacional. São Paulo: Atlas, 1985. FREUD, Anna. O Ego e os Mecanismos de Defesa. Rio de Janeiro: BUP ( Biblioteca Universal Popular), 1968. MORGAN, Gareth. Imagens de Organização. São Paulo: Atlas, 1996. 421 p. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. 3.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1985. OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.
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