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CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ ENGENHARIA AMBIENTAL MURILO HENRIQUE TROMBELA VISÃO SISTÊMICA SOBRE AGROFLORESTAS Ribeirão Preto 2018 MURILO HENRIQUE TROMBELA VISÃO SISTÊMICA SOBRE AGROFLORESTAS Monografia de conclusão de Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Barão de Mauá Orientadora: Dra. Analu Egydio dos Santos Ribeirão Preto 2018 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Bibliotecária Responsável: Iandra M. H. Fernandes CRB8 9878 T766v TROMBELA, Murilo Henrique Visão sistêmica sobre agroflorestas/ Murilo Henrique Trombela - Ribeirão Preto, 2018. 58p.il Trabalho de conclusão do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Barão de Mauá Orientador: Dra. Analu Egydio dos Santos 1. Agricultura 2. Agroecologia 3. Sistemas agroflorestais I. SANTOS, Analu Egydio dos II. Título CDU 628:502/504 MURILO HENRIQUE TROMBELA VISÃO SISTÊMICA SOBRE AGROFLORESTAS Monografia de conclusão do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Barão de Mauá Data de aprovação: ____/____/____ BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Dra. Analu Egydio dos Santos Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto ___________________________________ M.e Marcelo Nunes Mestriner Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto ___________________________________ M.ª Cibeli Randi Barbosa Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto Ribeirão Preto 2018 Dedico este trabalho aos meus pais José e Ana e meu irmão Diego. AGRADECIMENTOS Aos meus pais José e Ana, que sempre me apoiaram em todas as minhas decisões, vocês são incríveis, amo vocês! Ao meu irmão Diego, que sempre esteve do meu lado, em qualquer circunstância, “Onde e como ELE estiver!”. Aos meus avós, com todo carinho e amor, que sempre me acolheram: João e Rosa; Anibal e Cida. Agradecer a minha orientadora Dra. Analu, pela disponibilidade, apoio e ensinamentos que foram fundamentais para prosseguir com o estudo. Agradeço а todos os professores pоr proporcionar о conhecimento não apenas racional, mаs а manifestação dо carácter е afetividade dа Educação no processo dе formação profissional, pоr tanto qυе sе dedicaram а mim, nãо somente pоr terem ensinado, mаs por terem feito aprender. А palavra mestre, nunca fará justiça аоs professores dedicados аоs quais sеm nominar terão оs meus eternos agradecimentos. Aos amigos do DAEE, que me auxiliaram no processo de Estágio, que se tornaram não apenas companheiros de trabalho, mas amigos, ajudando e instruindo dia a dia, obrigada pela paciência, ensinamentos, conversas e risadas. A minha Namorada, por todo Amor, carinho, apoio e companheirismo. A GANGUE, que proporcionou as melhores risadas durante esses cinco anos, sendo mais que amigos, tornando-se irmãos. Irei levá-los em meu coração sempre. Jamais esquecerei das brincadeiras, conversas, risadas, cervejas e eventos. A toda a sala pela união durante esses cinco anos. Aos meus eternos amigos: Ygoor Orlov e Caio B. Aos amigos da Repúbica do Pé de Pato: Rato, Yraé e Fedo. Aos meus animais de estimação que fazem parte da minha história, sempre com amor e carinho: Robinho, Tigresa, Zé Pretinho (in memoriam) e Lilica (in memoriam). Ao SANTOS FUTEBOL CLUBE! A todos! ♥ “Se todos dermos as mãos, quem sacará as armas?” (Bob Marley) RESUMO O presente trabalho resgata o significado do termo desenvolvimento sustentável e salienta as diferentes ideologias implícitas em duas correntes de pensamento, antropocentrismo e ecocentrismo. Assim, o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento bibliográfico sobre a importância dos Sistemas Agroflorestais para a construção da sustentabilidade na agricultura, sob o olhar da Engenharia Ambiental. Com base na revisão bibliográfica, observa-se a insustentabilidade da agricultura convencional, destacando-se os princípios dos SAF’s no processo de construção da agricultura sustentável. Nessa perspectiva analisa-se os diferentes tipos de Sistemas Agroflorestais, abordando a sua utilização como estratégia para a promoção do desenvolvimento sustentável. Conclui-se que os Sistemas Agroflorestais possuem características que podem ser potencializadas enquanto alternativas de desenvolvimento, apresentando resultados positivos não apenas em relação a proteção ambiental, mas também no desenvolvimento socioeconômico e integração do homem ao meio ambiente. Palavras-chave: Agricultura. Agroecologia. Sistemas Agroflorestais. ABSTRACT The present work rescues the development of significant development and reflection as different ideologies implicit in dual networks of anthropocentrism and ecocentrism. Thus, the objective of this work is to carry out a bibliographical survey about the importance of Agroforestry Systems for the construction of sustainability in agriculture, under the watch of Environmental Engineering. Based on the literature review, it observes the unsustainability of conventional agriculture, highlighting the SAF principles in the process of sustainable agriculture construction. In this perspective it analyzes the different types of Agroforestry Systems, approaching their use as a strategy for the promotion of sustainable development. It concludes that Agroforestry Systems have characteristics that can be potentiated, while the alternatives of development, aseptic results, do not stand out in relation to environmental protection, but also to socioeconomic development and integration of man to the environment. Keywords: Agriculture. Agroecology. Agroforestry Systems. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 11 2 OBJETIVOS ................................................................................................................................ 13 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 13 2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................................... 13 3 METODOLOGIA ......................................................................................................................... 14 4 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................... 15 4.1 Relação Homem e Natureza .................................................................................................... 15 4.2 Revolução Verde ........................................................................................................................ 16 4.3 Legislação ................................................................................................................................... 19 4.4 Concepção dos SAF’s como Sistemas Vivos .................................................................... 22 4.5 Classificação dos SAF’s .......................................................................................................... 27 4.6 Silviagrícola ................................................................................................................................. 28 4.6.1 Sistema Taungya .................................................................................................................... 28 4.6.2 Sistema Alley Cropping ........................................................................................................ 29 4.6.3 Sistema de Policultivos Multiestratificados .................................................................... 30 4.6.4 Quebra-Ventos ou Cerca-Viva ............................................................................................ 33 4.7 Silvipastoril ................................................................................................................................. 34 4.8 Agrossivilpastoril ...................................................................................................................... 36 4.8.1 Sistema ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta ................................................ 36 4.8.2 Quintais Agroflorestais ......................................................................................................... 37 4.9 Solo no contexto Agroflorestal .............................................................................................. 39 4.9.1 Ciclagem de Carbono no contexto dos SAF’s ............................................................... 44 5 DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO NOS SAF’s.................................................. 46 5.2 Mulheres Rurais ......................................................................................................................... 50 5.3 Jovens Rurais ............................................................................................................................. 50 5.4 Turismo na Agricultura Familiar ............................................................................................ 51 6 CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 53 11 1 INTRODUÇÃO Na era do Brasil Colônia, a sociedade agrícola do país enxergava as florestas como um objeto para uso predatório, sendo desmatadas para ocupação territorial, desde então os ciclos econômicos do pau-brasil, café, cana-de-açúcar e pecuária, foram todos utilizados para desmatamento da cobertura florestal, não se preocupando com as questões ambientais e o esgotamento dos recursos naturais (ENGEL, 1999). Devido a globalização, as mudanças no mundo trouxeram uma nova visão sobre desenvolvimento, que consiste em uma visão sistêmica, indo além do crescimento econômico, prezando pelos aspectos sociais, ambientais, culturais e éticos. Dessa forma o desenvolvimento só será efetivo se buscarmos o desenvolvimento da sociedade como um todo, não somente de questões econômicas, procurando promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas, preocupando-se com as futuras gerações, buscando o desenvolvimento sustentável (ROSSINI; MARTINELLI, 2007). Contudo estamos presenciando em nosso cotidiano, uma urgente necessidade de transformações para superarmos as injustiças ambientais, a desigualdade social, a apropriação da natureza e da própria humanidade como objetos de exploração e consumo. A crise ambiental se deve à enormidade de nossos poderes humanos que se tornaram inadequados devido a ética que herdamos do passado (SORRENTINO; TRAJBER, 2007). A crise agrícola-ecológica é o resultado do fracasso do desenvolvimento social e as estratégias do desenvolvimento não conseguiu atingir os mais pobres, sanar os problemas da fome e muito menos os problemas ambientais, lembrando que os recursos tecnológicos ficaram na mão dos latifundiários, causando um desequilíbrio nas condições econômicas e ecológicas (CHAMBERS; GHILDYAL, 1985). Com o desenvolvimento socioeconômico, a sociedade se viu em uma necessidade de ocupar mais espaços e produzir alimentos cada vez em maior quantidade para atender a demanda da fome, promovendo assim grandes mudanças ao meio ambiente, como a supressão de vegetação. As florestas assumem um papel muito importante, além de promoverem a fixação de Carbono (C) na biomassa, funcionam também como insumo energético, tendo em vista que o plantio de árvores em uma propriedade rural, diminui os gastos com conservação do solo, combate a pragas e doenças. Ressaltando que com o aumento da cobertura vegetal, a retenção hídrica 12 aumenta, preservando o ciclo hidrológico e as bacias hidrográficas (CASTANHO FILHO 2008). Como a degradação ambiental foi feito de um processo histórico, envolvendo questões econômicas, políticas e culturais das populações, a regeneração ambiental também pode ser vista como um marco para o contexto histórico, dependendo somente de ações humanas efetivas em prol das causas ambientais, buscando novos caminhos para o desenvolvimento socioeconômico (AMADOR, 1999). 13 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral O objetivo deste trabalho é realizar um levantamento bibliográfico sobre os Sistemas Agroflorestais sob um aspecto sistêmico abrangendo os níveis físicos e ambientais, econômicos e sociais. 2.2 Objetivos Específicos Analisar o desenvolvimento histórico da sociedade, estudar legislações, mostrar a importância da pequena propriedade e da agricultura familiar na produção de alimentos e a contribuição dos SAF’s para a melhoria dos aspectos ambientais e sua contribuição para o desenvolvimento da sócioeconômico, repensar o modo de agricultura, expandindo os conhecimentos sobre Agrofloresta. 14 3 METODOLOGIA O presente estudo foi baseado em um levantamento teórico e revisão bibliográficas através de artigos científicos, revistas mensais, periódicos, livros e sites de pesquisa, com enfoque em aspectos descritivos e quantitativos. O material utilizado foi organizado de acordo com as ideias do autor, de forma a vir a complementar, concordar, e debater o conhecimento sistêmico sobre Agrofloresta. 15 4 DESENVOLVIMENTO 4.1 Relação Homem e Natureza Desde o surgimento da humanidade, a concepção do homem com o meio ambiente sempre foi exploratória, afim de atender suas necessidades ilimitidas com recursos limitados (JUNGES, 2001). O antropocentrismo, coloca o homem no centro do Universo, considerando como eixo principal do mundo ao seu redor e a sua supremacia (Figura 1), levando em conta somente os seu interesses egocêntricos (WOLFF, 2014). De acordo com os interesses do antropocentrismo, existem dois tipos de éticas: conservação e preservação. A ética de conservação se baseia que os recursos naturais são limitados, e precisamos deles para satisfazer as necessidades materias humanas, e que devemos preservá-los para as futuras gerações, porque elas também possuem esse direito. É considerada uma proposta que busca a sobrevivência da civilização e não da bioesfera. A ética de preservação se dara por meio de crescimento interior de cada indivíduo, onde são introduzidas medidas de intervenção contra o destruição do meio para satisfazer as necessidades humanas. A natureza apresenta valor cientifico, fornecendo conhecimentos para pesquisa e auxiliando na transformação do carácter do ser humano (JUNGES, 2001). Figura 1 – Comparativo entre Antropocentrismo e Ecocentrismo FONTE: OLIVEIRA (2012) O conceito ético ecológico, é a vida em seu sentido amplo nas inter- relações entre todos os seres, e somente será possível quando o Homem assumir total responsabilidade de suas ações, indo contra a o predatorismo utilitário, 16 superando a visão de objeto dos seres a qual é representa pelo lucro, repensando o modelo vigente afim de compreender sua identidade e dividir o espaço harmoniosamente com outros seres (WOLFF, 2014). Para estarmos em sincronia, devemos ter a percepção que nada esta isolado no Universo, tudo esta em relação. Que o Homem tenha a conciência que ele é parte de um todo, e o todo é parte dele (SOUZA, 2009). Devemos ter a concepção do meio ambiente não como uma área isolada e fragmentada. E sim ter a dimensão que ele sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais e que somos parte do ciclo natural e não o seu dominante (KRZYSCZAK, 2016). A atual educação, trata o meio ambiente como algo a ser preservado, com ações pontuais pouco efetivas, onde o homem deve ser fiscalizado e controlado de suas ações, segregando, sendo tratado como predador e usando o meio ambiente como objeto. A proposta da Agroecologia é o desenvolvimento de uma sociedade capaz de se ver integrado ao meio, transformando o conhecimento e saberes dos povos, sendo um ponto de partida para uma nova relação homem-natureza, mostrando que estamos inter-ligados e fazemos parte do sistema, e que nossas ações irão interferir em outros individuos e se propagarão em longo prazo, modificando a estrutura natural e o equilíbrio do ecossistema (SOUZA, 2009). 4.2 Revolução Verde A Revolução Verde é a causa de grandes problemas sociais, que com a distribuição desigual das terras os agricultores ricos ficaram com as terras férteis, gerando problemas na economia, e os mais pobres foram subsidiados com menores recursos. Podemos citar os problemas que a revolução causou ao meio ambiente, diante do uso desenfreado dos recursos naturais, causando erosões no solo, desertificação em áreas florestais, poluição pelo uso de agrotóxicos e perda da biodiversidade (REDCLIFT; GOODMAN 1991). É conceituado como um modelo de agricultura baseado no uso de intensivos agrícolas e fertilizantes sintéticos, estando presentes na vida dos latifundiários. Devemos considerar que a Revolução Verde, não é apenas um avanço técnico para aumento da produção agrícola, mas também existe uma intencionalidade inserida dentro de um processo histórico, que ao final da Segunda Guerra Mundial, as instituições privadas enxergaram na agricultura uma grande oportunidade para movimentarem seu capital, contudo começaram a incentivar e investir em pesquisas 17 no melhoramento de sementes conhecidas como VAP (Variedade de Alta Produtividade). Essas sementes são a base da alimentação da população mundial e destacam-se o trigo, milho e arroz (ANDRADES e GANIMI, 2007). Com o Fim da Guerra, as indústrias químicas que abasteciam à indústria bélica, começaram a produzir e a incentivar o uso de herbicida, fungicida, inseticida e fertilizantes químicos para evitar danos à produção agrícola (ROSA, 1998). O fim do ciclo das inovações tecnológicas, somente se deu com a adoção de maquinário pesado como os tratores e colhedeiras, sendo utilizados em diversas etapas da produção, desde o plantio até a colheita (ANDRADES e GANIMI, 2007). Após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se um novo período de tensões no mundo, devido a Guerra Fria, que foi marcado pela bipolaridade de duas superpotências, de um lado o Estados Unidos no bloco Capitalista e do outro a União Soviética, comandando o bloco Socialista. É nesse cenário Geopolítico que a Revolução Verde ganha uma argumentação política, social e econômica. Tendo como objetivo exterminar a fome no mundo (ANDRADES e GANIMI, 2007). O problema da fome torna-se cada vez mais sério em várias partes do mundo, sendo notório que houve um aumento da produtividade, porém a Revolução Verde foi um aspecto ideológico em que a agricultura foi concebida como um meio para reproduzir o capital e o problema da fome não foi resolvido. Sabendo-se que não é um problema relacionado a carência de alimentos, visto que o “Planeta” produz mais do que consumimos, nesse sentido podemos considerar que existe a oferta do alimento nas prateleiras, porém as pessoas não possuem recursos para adquiri-lo (ANDRADES e GANIMI, 2007). Zamberlam e Fronchet (2001) define a Revolução Verde da seguinte forma: “Revolução Verde – um jeito capitalista de dominar a agricultura”. No contexto histórico a Revolução Verde é dividida em três partes: A primeira é a implementação dos modelos de produção nos países de Terceiro Mundo. A segunda etapa é a expansão das técnicas utilizadas pelas empresas, sendo conhecidas mundialmente como uma agricultura massificada. A terceira etapa é a que vivenciamos hoje, ela se dá pelas grandes empresas do ramo de biotecnologia e nanotecnologia desenvolvendo experimentos tecnológicos com material biológico de plantas e animais, sendo conhecidos como organismos geneticamente modificados ou transgênicos (FELDENS, 2018). 18 No Brasil, a inserção da Revolução Verde se inicia no período da Ditadura Militar, onde foi discutida duas maneiras de como o país conseguiria aumentar a sua produtividade agrícola. A primeira defendia o aumento da produtividade pela reforma agrária, a segunda sustentava a ideia de adoção de pacotes tecnológicos que não mudariam as questões dos latifundiários (ZAMBERLAM; FRONCHET, 2001). O Governo Militar decidiu escolher a modernização conservadora, onde foi mantido a estrutura dos latifundiários, assumindo as bases da Revolução Verde por meio de adição dos pacotes agrícolas (ROSA, 1998). A escolha desse novo modelo agrário, vai ser executada pelas grandes empresas com o apoio do Estado. A fusão entre União, Indústria e Agricultura é o que determinara transformações na estrutura agrária nacional, uma dessas transformações é a escolha do produto a ser cultivado, tendo como preferência as monoculturas para exportação, como a soja, milho, algodão, arroz e a cana-de-açúcar (ANDRADES e GANIMI, 2007). A modernização da Agricultura, acarretou em vários impactos ambientais, tendo como um dos principais problemas a erosão genética tanto de animais, quanto vegetais, sendo provocadas pelo desmatamento e seleção de espécies. Estudos realizados pelo WorldWatch Institute, USA relatam que a erosão genética é de uma espécie a cada hora (ZANBERLAM; FRONCHETI, 2001). O desmatamento de áreas destinadas as monoculturas, trouxe a proliferação de pragas que se alimentam desses cultivos, isso acontece devido à inexistência dos predadores naturais. Para combater as pragas, os produtores rurais intensificaram o uso de defensivos agrícolas, lembrando que na medida que se utilizam tais insumos, as populações de pragas se tornam mais resistentes, demandando cada vez mais sua aplicação (ANDRADES e GANIMI, 2007). O uso de defensivos agrícolas, leva à contaminação do solo, animais, plantas, e de toda a bacia hidrográfica. O processo de escoamento das águas das chuvas, carrega esse material tóxico, sendo levado aos mananciais hídricos ou infiltrando no solo e consequentemente causando a contaminação das águas subterrâneas (ANDRADES e GANIMI, 2007). A Revolução Verde, causou inúmeros impactos ambientais, porém o Homem causador desses impactos, sofre com as consequências de suas ações, tanto biologicamente, como socialmente. O consumo constante dos alimentos contaminados por agrotóxicos, leva ao desenvolvimento de doenças como o Câncer, 19 infertilidade, danos ao fígado e rins, além da má formação de fetos (ANDRADES e GANIMI, 2007). Apesar do aumento da produtividade, fatores como: êxodo rural, declividade das condições sociais, danos à saúde, diminuição da biodiversidade, envenenamento dos ecossistemas, monopolização das terras, e concentração da renda, são os elevados custos da Revolução Verde, provando assim a ineficácia desse modelo de Agrícola (ANDRADES e GANIMI, 2007). 4.3 Legislação No Brasil, existe a lógica de compensação ambiental, onde pode-se exercer práticas produtivas que causam grandes impactos ambientais, desde que haja áreas de conservação ambiental. Essa lógica serve de princípio para compensar esses impactos, e também acaba auxiliando na elaboração dos instrumentos legais. É comum as áreas serem classificadas como áreas de conservação e áreas de produção (COOPERAFLORESTA, 2014). Os instrumentos legais na área ambiental, não foram construídos para regulamentação e unificação dessas duas áreas (conservação/produção), porém com o aumento da visibilidade e importância da Agrofloresta, existe nos textos legais a possibilidade de associação e unificação entre o manejo agroflorestal e a proteção da natureza (COOPERAFLORESTA, 2014). O Código Florestal 12.651/2012 (BRASIL, 2012), define duas áreas para que ocorra a conservação ambiental, são: as Áreas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanete (APP). Elas são de extrema importância para conservação e proteção ao meio ambiente. A Lei nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012) diz que Reserva Legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural (% de terra varia de bioma) e tem a função de assegurar o uso econômico dos recursos naturais de modo sustentável, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. As propriedades de Reserva Legal que possuem extensão inferior ao estabelecido pela Lei, e precisam regular sua situação, tem como alternativa fazer a recomposição por meio de SAF’s com o plantio de espécies nativas e exóticas. De acordo com a Lei nº 12.651/2012, as Reservas Legais de pequenas propriedades podem ser mantidas com o plantio de árvores frutíferas, ornamentais ou industrias, sendo composto 20 por espécies exóticas em consórcio com espécies nativas. A exploração Agroflorestal, que não descaracterize a cobertura vegetal e ainda mantem a função ecológica, é considera como interesse social, e a lei prevê um tratamento diferenciado aos pequenos agricultores na simplificação de procedimentos legais, apoio técnico, jurídico e financeiro (BRASIL, 2012). De acordo com a Lei Nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012) as matas ciliares conhecidas como Áreas de Preservação Permanente (APP), são áreas protegidas, que podem ser cobertas ou não por vegetação nativa, que tem como objetivo principal preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitando o fluxo da fauna e flora, protegendo o solo e assegurando o bem-estar das populações humanas. As Áreas de Preservação Permanente (APP’s) foram instituídas por lei, como forma de mitigar os impactos ocasionados pela ação natural e antrópica ao meio ambiente, sendo assim, vital para manutenção e preservação da fauna, flora, margens de rios, lagos e nascentes, atuando na diminuição e filtragem do escoamento superficial e do carregamento de sedimento para os cursos d’água (BRASIL, 2012). Segundo a Resolução Conama nº 369 de 28 de Março de 2006, possibilita a intervenção em APP, considerando o manejo de baixo impacto, tendo em vista o interesse social e o cumprimento das funções ecológicas. O Art 11 da Resolução, garante que: Abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso de água, ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar; (CONAMA, 2006). Os sistemas agroflorestais podem ser vistos como uma alternativa para recuperação e manutenção da mata ciliar, cumprindo as funções ecológicas e subsidiando a produção de alimentos para os produtores rurais e não descaracterizando a importância da função ambiental da APP. A permissão de manejo em Áreas de APP, poderá beneficiar famílias carentes, porém, por outro lado, poderá abrir brechas para exploração desordenada. Por isso devemos nos atentar a conscientização dos órgãos ambientais e técnicos responsáveis, para que o objetivo do manejo seja de atingir a sucessão ecológica (FENDEL, 2007). Fora dessas áreas especiais de proteção, é plenamente possível e legal fazer a implantação das práticas produtivas através dos SAF’S, porém no Brasil, existe um problema relacionado a política pública que opta por oferecer mais crédito ao 21 agronegócio que a agricultura familiar, a qual é responsável por grande parte da geração de empregos e produção de alimentos orgânicos, além de consumir menos agrotóxicos e auxiliar na saúde pública, também tem a missão de conservar o meio ambiente (COOPERAFLORESTA, 2014). Além de ser maravilhado por sua magnifica biodiversidade, o Brasil possui um enorme conjunto de leis relacionadas ao meio ambiente e à sua proteção. Porém o problema não está relacionado as leis, mas sim em colocar em prática tudo que ela define. Há uma enorme distância entre leis e a realidade vivida no país. Em relação a agricultura, existe uma série de leis que tratam do tema (Quadro 1), porém o agricultor familiar que é de extrema importância no cenário agrícola-ambiental, muitas vezes é tratado de forma omissa pela Estado (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2008). Quadro 1 – Leis nacionais de meio ambiente e agricultura familiar. FONTE: FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER (2008) Todas essas leis são de imenso amparo ao pequeno agricultor familiar, porém, a realidade ainda é bem distinta, cabendo a sociedade, organizações e sindicatos, tentarem mudar essa situação. Conhecer nossos direitos é um primeiro passo, cobrar o poder público, denunciar ao Ministério Público é o dever de todo cidadão. A FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER (2008) conclui que “o Direito que não é usufruído não é direito, é sonho, e nem só de sonho vive o homem, devemos semear, plantar e colher, enfim, viver”. 22 4.4 Concepção dos SAF’s como Sistemas Vivos O termo Agrofloresta pode aparecer como novidade, porém é uma prática muito antiga, que foi utilizada pelos indígenas. King e Chandler (1978) definiu os Sistemas Agroflorestais como: Sistemas sustentáveis de uso da terra que combinam, de maneira simultânea ou em sequência, a produção de cultivos agrícolas com plantações de árvores frutíferas ou florestais e/ou animais, utilizando a mesma unidade de terra e aplicando técnicas de manejo que são compatíveis com as práticas culturais da população local. Os SAF’s constituem-se de uma combinação do uso e ocupação do solo com o manejo adequado de espécies de plantas lenhosas, que são combinadas com espécies herbáceas, sendo associadas com cultivo agrícolas e pode ser integrado junto a criação de animais, dependendo do modelo adotado pelo agricultor. O objetivo dos SAF’S é associar agricultura/agropecuária com árvores, trazendo assim produção e conservação dos recursos naturais (ABDO et al., 2008). Para uma melhor concepção do funcionamento dessa integração, a teoria de Gaia, de Lovelock e Margulis citada por Steenbock e Vezzani (2013) define: A vida só existe pelo resultado das relações entre os seus componentes, cada um executando sua função, o que permite que os demais componentes se mantenham ativos também. E essa característica extrapola para a relação do sistema vivo com o meio. O meio é resultado das relações com os sistemas vivos, e os sistemas vivos são resultados das relações com o meio. A Figura 2, mostra uma rede de moléculas que constitui uma célula. Uma rede de células constitui um organismo. Uma rede de organismos associada a uma rede de fatores físicos e químicos constitui um ecossistema, formando assim a biosfera. Exemplificando, são redes dentro de redes, formando assim a biodiversidade de vida na Terra. 23 Figura 2 - Representação esquemática de redes de moléculas a formação de organismos superiores. FONTE: VEZZANI e STEENBOCK (2013) Fazer Agrofloresta é entender como ocorre a interação entre os processos vitais, os ciclos biogeoquímicos e as relações ecológicas, tendo como objetivo potencializar o aumento da fertilidade, produtividade e biodiversidade. Sua aplicação deve ocorrer com a união do conhecimento científico e dos saberes ecológicos, com o intuito de promover o diálogo com o meio ambiente, entendendo os seus processos e relações. Cada organismo possui importância e participação na execução do nicho ecológico, e ao estar presente cada ser produz substâncias (alimentos ou excrementos) que serão utilizadas por outras espécies, a vida está interligada e é coletiva. A Figura 3 ilustra as trocas de energia e matéria, que são cooperadas entre todos os seres, mostrando a importância da biodiversidade para a manutenção da vida (VEZZANI; STEENBOCK, 2013). 24 Figura 3 - Representação esquemática de uma rede alimentar. FONTE: VEZZANI e STEENBOCK (2013) Na figura 4 os círculos representam os elementos que compõem determinado sistema e as linhas representam as relações interligadas. Através dessa rede de relações, a energia e matéria são recebidas pelo sistema, sendo dissipadas pelas redes de relações, ocorrendo uma auto-organização do sistema. 25 Figura 4 - Representação esquemática da configuração de um sistema agroflorestal. FONTE: VEZZANI e STEENBOCK (2013) Os SAF’s são sistemas vivos e as relações entre os elementos com os fluxos de energia e matéria, incidem na maneira do homem fazer agricultura por meio de manejo agroflorestal, que orienta o sistema para a produção de alimentos e biodiversidade (VEZZANI; STEENBOCK, 2013). Estados Unidos, Europa e alguns países da America Latina, ultimamente têm se ampliado a divulgação do SAF como melhor opção para o aproveitamento dos recursos naturais, apresentando como suas principais características à redução de insumos não renováveis e à conservação do meio ambiente. Porém no Brasil, a pesquisa e o uso do SAF é pouco difundido, embora tenhamos todas as condições e motivos necessários para sua aplicação: a grande extensão territorial, a existência de bacias hidrográficas desordenadas que servem para o abastecimento de mananciais, grandes áreas degradadas, extensas áreas de pastagens e o êxodo rural devido a mecanização da agricultura moderna (DANIEL et al., 2000a). 26 Em locais muito degradados, os SAF’s devem ser implantando com o objetivo de restaurar o ecossistema, lembrando que a possibilidade de benefícios econômicos estimula o agricultor a se interessar pela recuperação da área, tendo uma rápida e eficaz restauração (MARTINS; RANIERI, 2014). Os SAF trazem ofertas em relação a produtividade de alimentos e recursos, podendo ser implantados em áreas agrícolas e florestais. O seu uso na monocultura trará um suplemento como a madeira que poderá ser usado para comércio e uso próprio. O reflorestamento devido à lavoura ou pastagem, acarretara em reposição da área vegetal que foi devastada para exercer a atual atividade, trazendo consigo benefícios de custo e manutenção para manejo da cultura escolhida, assim garantindo melhores condições ambientais para a lavoura e/ou animais (PISSARRA; POLITANO, 2003). Além desses benefícios diretos aos produtores, também devemos considerar os benefícios indiretos, que são a melhoria do bem-estar e saúde pública onde são incluídos a umidade do ar, proteção dos solos e mananciais, estabilização da temperatura e poluição atmosférica (ABDO et al., 2008). 27 4.5 Classificação dos SAF’s Segundo Yared et al., (1998) os SAF’s podem ser classificados estruturalmente tendo as seguintes terminologias: Sistema Silviagrícola – É a combinação de árvores com cultivos agrícolas. Sistema Silvipastoril – É a associação de árvores com animais. Sistema Agrossilvipastoril – É o envolvimento de cultivos agrícolas com árvores e animais. Os SAF’s podem ser utilizados como uma técnica para recuperação de fragmentos florestais, onde o principal objetivo nos primeiros anos a implantação do projeto, é viabiliza-lo economicamente, evitando o uso de defensivos agrícolas, adequando a pequena produção, a conservação da biodiversidade, recuperação de matas ciliares, promovendo assim um grande potencial para o desenvolvimento sustentável (PAULA; PAULA, 2003). Independente do Sistema Agroflorestal escolhido, a integração de seus componentes se dará de forma instantânea ou sequencial, tendo uma infinidade combinações possíveis (Daniel et al., 1999b). 28 4.6 Silviagrícola O Sistema Silviagrícola é o termo usado para combinação de produção de produtos florestais e agrícolas em uma mesma área, utilizando o manejo e manutenção para intensificar o uso da terra de forma sustentável (YARED et al., 1998). 4.6.1 Sistema Taungya Desenvolvido na Europa, o tradicional Sistema Taungya (Figura 5), tem como objetivo a produção de madeira, sendo destinado aos agricultores que desejam reduzir custos de implantação e manutenção. É composto por associação de dois componentes: arbóreo-permanente e agrícola-temporário. O componente arbóreo tem finalidade comercial e geralmente seu produto é composto por madeira, carvão e fibras, o componente agrícola tem o objetivo de subsistência sendo composto por culturas de milho, arroz, feijão e mandioca, utilizado até o fechamento do dossel arbóreo nos três primeiros anos de implantação, após esse período, deve-se repetir o ciclo em outra área. O sistema agrícola traz vários benefícios, além da produção de alimentos, o lucro da venda dos produtos agrícolas paga os custos do plantio das espécies florestais e a favorece com a capinação e adubação, melhorando o desempenho e o desenvolvimento florestal (ALVES, 2009). Figura 5 – Representação esquemática do Sistema Taungya FONTE: EDITADO PELO AUTOR 29 4.6.2 Sistema Alley Cropping O Sistema Alley Cropping (Figura 6), surgiu na década de 80, visto como uma alternativa para os pequenos agricultores, que desejam fazer a implantação da Agrofloresta com o objetivo de redução de insumos através da adubação verde e eficiência na reciclagem de nutrientes do sistema (VASCONCELOS et al., 2012). Sendo conhecido como cultivo de corredor ou faixas, são associadoas culturas agrícolas anuais com árvores e arbustos. Geralmente utilizam-se espécies leguminosas fixadoras de Nitrogênio ou espécies com potencial para produzir grande quantidade de biomassa, que após a poda, tem a finalidade de fornecer nutrientes aos cultivos alimentares através das faixas, que são dispostas e incorporadas ao solo, recebendo constantemente material orgânico. Além de aumentar a fertilidade do solo, o cultivo florestal também pode servir para produção de material lenhoso (YARED et al., 1998). Figura 6 – Representação do Sistema Alley Cropping FONTE: ELABORADO PELO AUTOR As árvores em linha, visam a manutenção das condições físicas, químicas e biológicas do solo, impedindo a erosão, aumentando a infiltração e retenção hídrica, e o desenvolvimento de micro e macro organismos que auxiliam na ciclagem de nutrientes. O Alley Cropping, é considerado excelente substituto da monocultura, além da redução de insumos externos, são similares a representação das funções dos ecossistemas naturais (VASCONCELOS et al., 2012). 30 4.6.3 Sistema de Policultivos Multiestratificados O sistema de Policultivos Multiestratificados tem como objetivo o manejo para fins comerciais com ciclos médios a longo prazo. É associado espécies frutíferas com espécies madeireiras, que além do valor econômico, ajudam no sombreamento dos cultivos agrícolas (ALVES, 2009). Na implantação do Sistema (Figura 7), todas as espécies são introduzidas e crescem juntas desde o início, cada uma respeitando o espaçamento determinado (WWF, 2014). Figura 7 – Representação da implantação do Sistema de Policultivos Multiestratificados. FONTE: WWF (2014) Nos primeiros anos de implantação (Figura 8), as culturas anuais são as primeiras a produzir, assegurando a nutrição da família agrícola e a geração de renda com a venda de produtos (WWF, 2014). 31 Figura 8 - Representação dos primeiros anos do Sistema de Policultivos Multiestratificados. FONTE: WWF (2014) A Figura 9, ilustra as espécies de crescimento rápido: pimenta, mamão, banana e abacaxi, gerando a próxima colheita e melhorando o microclima, favorecendo o desenvolvimento das espécies de ciclo longo, que formarão a densidade arbórea do Sistema nos próximos estágios (WWF, 2014). Figura 9 - Representação após os primeiros anos do Sistema de Policultivos Multiestratificados. FONTE: WWF (2014) 32 A partir dos primeiros cinco anos, as espécies frutíferas dominam, intensificando a interação entre os componentes e elevando a geração de renda e produtos do Sistema (WWF, 2014). Na fase adulta do Sistema (Figura 10), as espécies de ciclo longo são dominantes. Os componentes arbóreos apresentam-se no extrato superior, como as seringueiras e mognos. Em seu extrato intermediário as espécies de palmeiras, açaí, pupunha. No extrato inferior, espécies tolerantes a sombra, como o cacau, café, caju, dentre outras (WWF, 2014). Figura 10 - Representação da fase adulta do Sistema de Policultivos Multiestratificados. FONTE: WWF (2014) Com a ampla diversidade na estratificação do Sistema, devido que cada componente possuiu as suas necessidades diferenciais, seja na forma temporal, qualitativa e quantitativa de nutrientes, luz e água dentro do sistema, torna-o mais parecido com o ambiente natural das florestas, ocorrendo a interação simultaneamente dos fatores ambientais com a heterogeneidade dos cultivos, promovendo um melhor equilíbrio ecológico, reduzindo a competição entre todos componentes, comprovando a compatibilidade e sustentabilidade do Sistema Policultivos Multiestratificados (MARTÍNEZ et al, 2006). 33 4.6.4 Quebra-Ventos ou Cerca-Viva O vento é um fator importante e causa diversas modificações na agricultura, além das perdas de água por evaporação e evapotranspiração, a sua intensidade leva a danos físicos nas plantações, facilitando a entrada de fungos e bactérias (PAULA; PAULA, 2003). O Sistema de Quebra-Ventos ou Cerca-Viva (Figura 11), são utilizados para delimitar a propriedade e proteger os cultivos e os animais dos ventos, alterando sua direção e diminuindo a ação. São implantadas em estreitas faixas de arvores, de acordo topografia do terreno e os ventos dominantes da região (PAULA; PAULA, 2003). As plantas devem possuir crescimento rápido, serem altas, flexíveis, ter folhas perenes, densidade e sistema radicular profundo. O quebra vento deve ser permeável, permitindo que boa parte do vento passe, evitando turbulências fortes que causam danos ao cultivo (MEIRA et al., 2006). Além de cumprir a função de proteção e abrigo para animais, os quebra ventos produzem madeira, fibra, e frutos, podendo também ser utilizado para cumprir a função paisagística (MEIRA et al., 2006). Figura 11 – Representação do Sistema Quebra Vento. FONTE: YAMOTO (2018) 34 4.7 Silvipastoril O Sistema Silvipastoril (Figura 12), é utilizado com a associação de dois componentes: florestal e criação de animais, que visa aumentar a produtividade por unidade de área. Podem ser utilizados de duas formas: Permanente e Temporário (SANTOS; GRZEBIELUCKAS, 2014). No manejo permanente, a atividade de prioridade é a produção animal, o objetivo principal é dar conforto térmico e abrigo aos animais de grande porte para que se obtenha um nível melhor de qualidade de vida, reduzindo o stress, consequentemente aumentando a produção de carne e leite e elevando a taxa de reprodução (SANTOS; GRZEBIELUCKAS, 2014). Para o manejo temporário, a produção pecuária é secundaria, tendo como prioridade o plantio comercial com árvores de valor econômico, o gado se alimenta do estrato forrageiro, por tempo determinado ou até o fechamento do dossel arbóreo (SANTOS; GRZEBIELUCKAS, 2014). Sobre os aspectos ambientais, o Sistema Silvipastoril traz vários benefícios: proteção ao solo contra erosão, fixação de nitrogênio, redução de perda de matéria orgânica e nutrientes, além de aumentar a permeabilidade do solo e conservar a bacia hidrográfica (PORFÍRIO-DA-SILVA, 2009). Figura 12 – Representação do Sistema Silvipastoril FONTE: DANIEL (2013) 35 O microclima existente nos Sistemas Silvipastoris, beneficia os animais, mantendo confortáveis na sombra, diferente da exposição à insolação ou baixas temperaturas do inverno. Com o aumento da qualidade de vida do gado, o produtor tem uma melhor imagem do seu produto, sendo uma excelente oportunidade para o marketing ambiental e atendendo as tendências mundiais: produtos ambientalmente adequados, socialmente benéficos e economicamente viáveis (PORFÍRIO-DA-SILVA, 2009). 36 4.8 Agrossivilpastoril O Sistema Agrossivilpastoril é a ciência que estuda a integração entre três componentes: florestal, agrícola e animal. Apresenta técnicas de manejo e interação dos componentes com os recursos naturais, potencializando a produção e assegurando a qualidade do meio ambiente (BALBINO et al., 2011). 4.8.1 Sistema ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta O sistema ILPF (Figura 13), visa a produção sustentável, integrando de forma harmônica: a lavoura, a pecuária e florestas. Podendo ser realizados de três maneiras: cultivos em consórcio, rotação ou sucessão. Consórcio – Sistema de cultivo no qual duas ou mais espécies agrícolas são cultivadas na mesma área, visando a interação entre elas, compartilhando dos mesmos recursos, maximizando o espaço e o cultivo simultâneo. Rotação – Alternância de cultivo de diferentes espécies que no decorrer do tempo, ocupam o mesmo espaço físico. São seguidos por princípios técnicos, visando equilibrar a fertilidade do solo e aumentar a qualidade dos cultivos. Sucessão – Diferentes espécies agrícolas são cultivadas sequencialmente no mesmo ano. Ex: Soja e milho (BALBINO et al., 2011). Figura 13 – Representação ilustrativa do Sistema ILPF FONTE: YATABE (2016) 37 Nos primeiros anos de sua implantação, devido ao lento crescimento das árvores, utiliza-se por cultivos agrícolas associados com árvores. A atividade pecuária se dará após o terceiro ano com o crescimento e estabilização do sistema. Com o manejo adequado, reduz-se a pressão sobre abertura de novas áreas para desmatamento, podendo ser implantando para a recuperação de áreas degradadas. Com a melhoria dos ganhos ambientais, a idade de abate de bovinos é reduzida, diminuindo consequentemente emissão de gases de metano, potencializadores do efeito estuda (BALBINO et al., 2011). Por ser um sistema complexo, a ILPF exige a interação entre várias áreas de conhecimento e investimentos para sua implantação. Porém é uma excelente alternativa para produtores rurais se tornarem empreendedores, visto que os benefícios dessa integração já estão consolidados, sendo uma grande oportunidade para a adoção da sustentabilidade contra os sistemas de monocultura (KICHEL et al., 2012). O Sistema ILPF encontra-se em expansão, atualmente o Brasil conta com cerca de 2 milhões de hectares, a extimativa é que no próximos 20 anos esse número passe para 20 milhões de hectares (BALBINO et al., 2011). 4.8.2 Quintais Agroflorestais Considerado o mais antigo Sistema Agroflorestal, sendo de maior parte Agrossilvipastoril, os Quintais Florestais (Figura 14), geralmente estão incluídos no composto residencial e dependem exclusivamente de mão de obra familiar. Eles contribuem para a produção de produtos orgânicos para a família e em alguns casos, geram renda extra com a venda de produtos. Apresentam-se uso intensivo de espécies arbóreas, plantas medicinais, arbustos, culturas agrícolas e pequenos animais, que são integrados para consumo próprio e comercialização. Em sua diversidade estrutura vertical, destacam-se as espécies de madeira em seu extrato superior; no extrato médio tenham-se café, mamão, banana, entre outras frutas; e em seu extrato inferior batata, mandioca e plantas medicinais (PEREIRA; FIGUEIREDO NETO, 2015). A mulher apresenta um papel importante nos quintais, elas são responsáveis pela manutenção do sistema, com tarefas cotidianas realizam procedimentos e cuidados necessários para a obtenção do manejo adequado do quintal, garantindo a sustentabilidade do sistema, reduzindo uso de insumos externos, 38 sendo uma alternativa econômica para a família e promovendo segurança alimentar (PEREIRA; FIGUEIREDO NETO, 2015). Figura 14 – Representação ilustrativa Quintais Agroflorestais FONTE: YAMOTO (2018) Diante de todos os sistemas apresentados, é necessário entender as especificidades de cada ambiente e região onde sera implantando o SAF, determinando as espécies a serem cultivadas de acordo com o clima e solo. O Sistema Agroflorestal é coorporativo, e a interação entre os atores produtivos, instituições e pesquisadores são de extrema importância para a transferência do conhecimento e de tecnologias, produzindo inovações afim do agricultor adpta-las as suas necessidades e aptidões, obtendo o máximo rendimento de produção e redução dos impactos ambientais (BALBINO et al., 2011). 39 4.9 Solo no contexto Agroflorestal A crosta do planeta Terra, está em constante mudança, ações como intemperismo agem a todo momento sobre as rochas, que vão se transformando em pedras e posteriormente em solo. Esse processo de transformação das rochas, é muito lento, levando milhares de anos, por isso é importante a conservação e preservação do solo que é a base da agropecuária, e nele atuam milhões de organismos vivos que se alimentam da matéria orgânica (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2008). O correto uso do solo, depende muito da consciência politica, social, e econômica, dificultando a restauração ecológica e conservação do meio ambiente. Para um manejo do solo adequado é importante relacionar o uso da terra com o ecossistema equilibrado, beneficiando a produtividade e biodiversidade (PISSARRA; POLITANO, 2003). O sistema de manejo convencional do solo, é visto somente como suporte físico para as culturas. Esse sistema foi disseminado por todos continentes, baseando-se no emprego de produtos químicos para a nutrição das plantas. Para PRIMAVESI (2008), algumas práticas da agricultura convencional, são prejudiciais ao solo: CALAGEM CORRETIVA – Provoca a rápida decomposição da matéria orgânica presente no solo ARAÇÃO PROFUNDA – Favorece o desenvolvimento de microrganismos que decompõe a matéria orgânica. Após a areação, o gás carbônico presente no solo é devolvido a atmosfera, potencializando o efeito estufa. ADUBAÇÃO NITROGENADA – Favorece a decomposição acelerada da matéria, a relação de Carbono e Nitrogênio nos vegetais presentes no solo é reduzida. Com a redução da matéria orgânica, o solo desagrega, compacta e endurece, assim a capacidade de produtividade fica cada vez mais dependente dos pacotes químicos. Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO (2015), o Brasil ocupa a 4ª posição no ranking de países consumidores de fertilizantes sintéticos, consumindo cerca de 10% da produção mundial. A demanda é tão alta, que a indústria nacional não consegue suprir, sendo necessário a importação desse insumo. 40 O manejo convencional para PRIMAVESI (2008), provoca alguns efeitos negativos sobre a qualidade do solo: AGROTÓXICOS – O uso de adubações químicas, fornecem apenas 5 dos 45 nutrientes necessários que as plantas precisam, ficando assim desnutridas e suscetíveis ao ataque de microrganismo. Esse ataque é uma estratégia da natureza eliminar as plantas que sofrem déficit nutricional, assim os agrotóxicos são utilizados para evitar que as pragas eliminem as plantas que possuem déficit nutricional devido à agricultura moderna. HERBICIDAS – O uso intensivo de herbicidas, se deve para manter o solo “limpo” de plantas nativas, insetos e microrganismos que denunciam as deficiências presentes no solo, como a compactação, ausência de arejamento e a baixa permeabilidade. IRRIGAÇÃO INTENSIVA – Com a compactação do solo, a taxa de infiltração é reduzida, fazendo com que os lençóis freáticos deixem de ser reabastecidos. Com a irrigação intensiva, a degradação do solo acelera, criando assim um círculo vicioso, em que a maior demanda hídrica se deve à irrigação agrícola. AQUECIMENTO DO CLIMA – Com o desmatamento das florestas para a implantação das monoculturas, os ventos passam livres pelas plantações, podendo evaporar 750mm de chuva por ano. Devido ao fenômeno de convecção, o solo compactado aquece e o ar quente sobre ele sobe a atmosfera, potencializando o efeito estufa. Com a agricultura convencional, a irrigação consome cerca de 70% de toda à agua que é utilizada no mundo, sem o seu uso racional e medidas de controle, podem ocasionar grandes problemas, como a diminuição dos níveis dos lençóis freáticos e também comprometer toda a bacia hidrográfica (PELLI, 2014). Além desses aspectos, outro problema é a queimada de florestas e plantações. A utilização do fogo para preparar o solo para plantio é uma prática antiga que diminui o trabalho para os agricultores. Porém, causa muitos danos ambientalmente, como a morte de plantas e animais, além de destruir a matéria orgânica presente no solo e diminuir a sua fertilidade. O solo fica seco e duro, o que diminui a infiltração de água pluvial e abastecimento de lençóis freáticos, provocando erosões ao solo. A queimada também resultada na alteração do clima com a liberação de CO2, e a sua fumaça causa danos à saúde, pessoas expostas são submetidas a 41 doenças respiratórias, principalmente quando a queima libera matérias tóxicos (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2008). Em áreas de vegetação rasteira, devido à falta de vegetação, a evapotranspiração é reduzida cerca de 20%. Já nas áreas florestadas a água subterrânea possui uma distribuição de vazão melhor, devido a porosidade do solo, que facilita a permeabilidade e abastecimento do lençol freático (PISSARRA; POLITANO, 2003). Para NAIR (1993), o uso de árvores nos sistemas agroflorestais, trazem diversos benefícios ao solo, sendo apresentados no Quadro 2. Quadro 2 – Benefícios dos Sistemas Agroflorestais para o solo. Adição ao Solo Manutenção da matéria orgânica Fixação de nitrogênio Reciclagem de nutrientes Deposição atmosférica de nutrientes Redução de Perdas pelo Solo Proteção contra erosão Recuperação de nutrientes Propriedades Físicas do Solo Redução de temperaturas extremas do solo Propriedades Químicas do Solo Redução de acidez Redução de salinidade Redução de perda de matéria orgânica por oxidação. FONTE: NAIR (1993) Um aspecto importante em relação ao SAF, é a ciclagem de nutrientes como o Cálcio (Ca), Potássio (K) e Enxofre (S), tendo o objetivo de retirar esses nutrientes das camadas mais profundas do solo pela absorção das plantas em seu processo metabólico e devolvendo a superfície pelas quedas das folhas, tornando-se disponíveis como adubação natural após a decomposição da matéria orgânica e mineralização de microrganismos presentes no solo (MULLER, 2015). A relação entre solo-plantas-organismos em uma Agrofloresta, é dividida em três estágios, podendo ser observadas na Figura 15. 42 Figura 15 – Representação da auto-organização da interação entre solo-organismos-plantas em Agroflorestas. FONTE : VZZANI e STEENBOCK (2013) No estágio 1, o solo se organiza estruturalmente com tamanho de 0,25mm conhecido como microagregados, tendo como finalidade reter a água e iniciar as relações de interações ecológicas no solo. O material orgânico proveniente das podas e resíduos vegetais é o agente estruturante desse solo. No estágio 2, após a poda é bem-feita, a quantidade de matéria orgânica aumenta, trazendo benefícios para o solo. Isso se deve a formação de estruturas maiores conhecidas como macroagregados, que com a ação das raízes e fungos presentes no solo, entrelaçam com as estruturas menores. Essa interação reflete acima do solo, aumentando a riqueza, a diversidade e o uso de diferentes andares de vegetação. No estágio 3, a Agrofloresta está em um nível avançado devido ao aumento da diversidade, tendo a estrutura do solo bem complexa. As raízes são fundamentais, atuando na construção de um solo mais estruturado, potencializando benefícios como: 43 Resistência à erosão pela água da chuva ou ação dos ventos. Retenção de nutrientes Descompactação do solo, formando microporos responsáveis pela retenção da água e macroporos que fazem a aeração do solo, Aumento da capacidade de regeneração e recuperação da floresta, caso ao acontecimento de vendavais ou queimadas. Aumento da diversidade de seres vivos presentes no solo Estocagem de carbono, evitando assim a emissão de CO2. Aumento das atividades de microrganismos, favorecendo a ciclagem dos elementos químicos. A grande diversidade de plantas, os vários andares de vegetação, as raízes e a poda frequente, são importantes e promovem condições adequadas no solo agroflorestal. A matéria orgânica que serve como nutriente energético, cumpre papel fundamental na ciclagem de nutrientes, favorecendo a promoção de novos nichos ecológicos. Portanto, fazer Aglofloresta é favorecer o caminho da fertilização. Quanto mais fertilidade, mais teremos água e ar limpo, aumentando a proteção as plantas. O manejo do solo Agroflorestal, permite a produção de alimentos harmonizando com a sucessão natural, confirmando a capacidade do sistema, como um sistema sustentável (VZZANI; STEENBOCK, 2013). 44 4.9.1 Ciclagem de Carbono no contexto dos SAF’s Devido as consequências do aquecimento global, a emissão de gases de efeito estufa tornou-se um dos mais graves problemas ambientais (FILHO, 2003). A queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de áreas florestais para pastagem ou cultivo agrícola, contribuiu gradativamente para as emissões de Carbono (IPCC, 2000). O acúmulo de GEE, trazem prejuízos ao homem e meio ambiente, podemos citar o derretimento das geleiras, incidência de doenças tropicais, desequilíbrio do clima, perda de migração de espécies e biodiversidade, curto período do clico de culturas, e antecipação da colheita agrícola (FILHO, 2003). Em ocorrência do aumento de emissões, levaram os órgãos governamentais a se unirem para elaborar planos de ações, criando alguns tratados ambientais, sendo o de maior importância o Protocolo de Quioto em 1997, que visou a redução das emissões de GEE países industrializados em cerca de 5,2% (SCARPINELLA, 2002). Para que ocorra a manutenção de um ecossistema, depende-se de uma série de fatores e ciclos, como os ciclos biogeoquímicos. O ciclo do carbono, é um dos mais importantes para o sustento da vida em suas várias formas. Nas plantas ele é encontrado como dióxido de carbono (CO2), dentro dos processos de respiração e fotossíntese, sendo fixado na biomassa (SCARPINELLA, 2002). A Tabela 1, apresenta um estudo realizado pela Cooperafloresta (2012) foi possível identificar uma média da quantidade anual de carbono por hectare, retirada da atmosfera pelas Agroflorestas, de acordo com a idade do sistema. Tabela 1 – Quantidade anual de carbono retirada pelas Agroflorestas. Idade das Agroflorestas (Anos) Incremento anual de Carbono (Toneladas/Hectare) 1 a 3 4,5 4 a 9 6,7 10 a 15 6,5 FONTE : COOPERAFLORESTA (2012) 45 O Governo Federal criou um plano para a redução das emissões de carbono, conhecido como PLANO DE AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO – PLANO ABC, tendo como objetivo incentivar o uso de áreas desmatadas para serem transformadas em bases sustentáveis, aumentando assim a produtividade e qualidade ambiental, evitando a pressão sobre as florestas existentes (MAPA, 2012). Dentro desse plano, os SAF’s são enquadrados como um potencial mitigador para a redução de CO2. O Governo prevê uma expansão de área de 2 milhões de Hectares, para 4 milhões até o ano de 2020, sendo reduzidos 22 milhões de toneladas de Gases do Efeito Estufa (MAPA, 2012). Podemos concluir que o uso de Sistemas Agroflorestais, é uma medida de mitigação dos efeitos do aquecimento global, e está prevista no Protocolo de Quioto. Os SAF’S são capazes de reduzir os impactos adversos pelo desmatamento de florestas e queima de combustíveis fósseis, estocando grande quantidade de carbono, devido ao seu componente arbóreo e interação entre o sistema. (DIXON, 1995). 46 5 DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO NOS SAF’s Além dos ganhos ambientais, os SAF’S promovem mudanças sociais e econômicas, auxiliando na evolução do ser humano, afim de promover a sociedade. Alguns desses benefícios, são citados por BALBINO et al., (2011) e ABDO et al., (2008): Aumento da produção de alimentos orgânicos Incentivo a capacitação profissional Aumento da renda dos produtores rurais Redução de custos Melhor imagem da produção Agrícola, Florestal e Pecuária Nacional, integrando ao Meio Ambiente Maior variedade de produtos Segurança Alimentar Sustentabilidade Econômica Fixação do Homem no campo Igualdade de Gêneros Redução de pragas e doenças Educação Ambiental O desenvolvimento econômico nos SAF’s devem basear-se na sustentabilidade econômica, optando pelo manejo de alternância e diversificação de produtos, produzindo para atender a demanda nas varias épocas do ano, realizando estudos e detectando os produtos de maior aceitação no mercado, evitando assim as variáveis e quedas da economia, dando segurança ao produtor rural (CORREIA, 2005). O Gráfico 1 apresenta um comparativo em termos de produtividade e renda das agriculturas convencionais e agroecológicas: 47 Gráfico 1 – Relação entre produtividade e renda entre agricultura convencional e agroecológica FONTE: CANUTO (2011) Com o desenvolvimento dos SAF’s a médio e longo prazo a redução da mão de obra não será mais um fator crítico. No estágio inicial do sistema agroflorestal, o trabalho manual é sem dúvida maior que na agricultura convencional, isso se deve geralmente pela caracterização da degradação dos recursos naturais, dificultando as condições ecológicas inicias. A rentabilidade econômica está relacionada ao baixo custo de produção, onde são empregados poucos insumos externos, esses insumos na agricultura convencional chegam a representar cerca de 60% a 80% do custo total da produção. Podemos citar que os custos ambientais, que não são declarados na agricultura convencional, são passados a sociedade e futuras gerações. Porém se formos comparar os dois sistemas, a diferença em termos ambientais se duplica, e os preços dos produtos não refletem isso (CANUTO 2011). Os processos agroecológicos não devem ser avaliados em um curto período de tempo, como os ciclos anuais das culturas tradicionais. Eles devem ser analisados sobre um horizonte de tempo mais amplo, envolvendo a combinação de vários fatores, que incluem a regeneração ecológica e ampliação da biodiversidade. (CANUTO, 2011). A perspectiva da Agroecologia (Figura 16), segue representada por uma nova ética política, o respeito pelo planeta, a convivência harmônica entre homem e 48 natureza, sendo uma nova forma de fazer economia, prezando pela humanização e valores sociais. Por outro lado, a ideologia do Agronegócio, é do lucro rápido, envolvendo interesses econômicos privados, promovendo a exaustão dos recursos naturais e descaso com a sociedade (CANUTO 2011). Figura 16 – Representação esquemática da Agroecologia. Fonte: FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER (2008). A Agroecologia, vem com o propósito do desenvolvimento sustentável, afim de integrar a sociedade, o meio ambiente, e a economia, tendo como o seu objetivo principal, dar continuidade na produção de alimentos orgânicos, aumentar a fonte de rendas dos agricultores familiares, e harmonizar com o meio ambiente de forma respeitosa e amorosa, preservando para as futuras gerações (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER 2008). 49 5.1 Reforma Agrária e os Assentamentos O Termo Reforma Agrária, vem sendo discutido no Brasil desde a década de 50, tem como idealização de resolver a questão da agricultura nacional, tratando tanto da produção, quando da distribuição de terras e justiça social (FELDENS, 2018) De acordo com o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504/64 (BRASIL, 1964), art.1º, “Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade”. No Brasil, o MTST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra é um movimento de ativismo político e social brasileiro, tendo como foco as questões do trabalhador do campo, com o objetivo de conquistar a reforma agrária. Esse movimento, busca a luta digna do campo, conseguindo grandes conquistas e reinvindicações, porém, nem sempre são vistos dessa forma, quando cometem atitudes repugnantes ao ocuparem e destruírem áreas agrícolas de pesquisas, tanto particulares, como governamentais. O resultado dessas ações, são a perda de anos de pesquisa na ciência agronômica, o banco genético, e causando desmatamento. Essa visão distorcida de reforma agrária, prejudica a geração de soluções, onde deveriam se atentar em parâmetros científicos, antropológicos e econômicos. Outro ponto negativo, é que muitas vezes esses movimentos sociais, são usadas como fins eleitoreiros, afim de promover partidos políticos e os assentamentos acabam sendo “depósitos” da população urbana que está desprotegida, deixando de lado o propósito de se ter uma organização técnica, e um planejamento social do empreendimento (FELDENS, 2018). A reforma agrária deveria ser tratada como um assunto de Estado e não segregado a pequenos grupos, que muitas vezes são trabalhadores rurais que estão resistindo ao monopólio dos latifundiários e lutando pelo direito de acesso as terras (CARVALHO, 2010). Para FELDENS (2018) a “Reforma Agrária é uma correção das distorções do rumo antropológico e econômico da relação homem x natureza na sua plenitude na busca de alimento. ” 50 5.2 Mulheres Rurais As mulheres desempenham um papel fundamental no campo, além de desenvolverem função na produção agrícola, ajudam os homens em diversas tarefas: cuidam das crianças, dos mais velhos, doentes, cozinham, limpam, fazem artesanatos e serviços em geral. Segundo estudos realizados pela FAO (1995), as mulheres têm uma grande importância no cenário agrícola mundial, elas são responsáveis por mais de 50% dos alimentos produzidos. Quando sua participação é limitada, o meio ambiente fica muito mais exposto aos impactos negativos causados por novas tecnologias e ações antrópicas, isso se deve porque a tomada de decisões de trabalho na agricultura é fortemente influenciada pelas qualidades de gênero (LESSA, 2000). O companheiro, muitas vezes é a única fonte de conhecimento para o trabalho da mulher no campo. Com todas as tarefas agrícolas e as responsabilidades domésticas, as mulheres encontram dificuldades e não são beneficiadas na distribuição de terras, iniciação em áreas de pesquisas e treinamentos. Com um maior investimento na educação da mulher, certamente aumentaria sua contribuição intelectual, participação e tomada de decisões, ajudando na melhoria da produção e desenvolvimento sustentável (LESSA, 2000). Infelizmente o trabalho da mulher é visto como limitado, e não tem o mesmo reconhecimento. A agroecologia está disposta a quebrar esse paradigma, e se propõe a pensar e executar a integração entre o modo de fazer agricultura, a natureza e as formas das pessoas organizarem suas relações pessoais e organizacionais. Só a igualdade entre os gêneros, o compartilhamento das tarefas, e o respeito poderão superar os conflitos existentes na sociedade (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2008). 5.3 Jovens Rurais Ultimamente existe um conflito entre as gerações, os jovens rurais não estão conseguindo ver perspectiva e oportunidades para seguirem no campo atuando nas mesmas profissões que seus pais. Isso se deve à modernização da agricultura, e ao modelo educacional que não relaciona o conteúdo programático com a realidade rural, sendo desestimulado cada vez mais a atividade agrícola e como consequência o êxodo rural em buscas de novas oportunidades. A agroecologia vem como perspectiva para abrir novas portas para a maneira de como produzir, se atualizando a novas tecnologias, inclusão digital e a reformulação dos currículos escolares, para 51 abranger uma educação do campo, melhorando a qualidade de vida e respeitando a cultura local. (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2008). 5.4 Turismo na Agricultura Familiar No Brasil, o turismo em massa se concentra em torno da faixa litorânea, tendo como o foco as praias e o Sol. O Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), e o Programa de Regionalização do Turismo (PRT), visam mudar essa visão, dando enfoque em promover o turismo em diversos climas, incentivando a exploração turística regional, conhecimento de diversas paisagens e culturas diferentes. (RAMEH; SANTOS, 2011) O Ministério do Turismo (2010), define o turismo rural como “um conjunto de atividades turísticas comprometidas com a produção agropecuária, agregando valor ao produto do meio rural, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural das comunidades do campo”. Com base nessa definição, o turismo rural abre uma oportunidade para as famílias do campo conquistarem uma nova forma de renda. Além de aumentar a fonte de lazer para as famílias urbanas, elas poderão vivenciar a vida no campo, tendo a troca informações e conhecimentos, estimulando o consumo de produtos e serviços, beneficiando a comunidade local e seu entorno (RAMEH; SANTOS, 2011). Sendo praticado em pequena escala, o impacto do turismo rural é bem menor, provocando menos danos ao meio ambiente, podendo ser utilizado como Educação Ambiental, para estabelecer diálogo e preservação dos recursos naturais. A ideia do turismo rural não é que sejam construídos empreendimentos financiados por investidores, e sim que o turismo seja gerado e gerenciado pela família rural. Atividades como: turismo pedagógico e cultural, caminhadas ecológicas, acampamentos no campo, visitas guiadas, demonstrações dos processos produtivos, degustações temáticas, vendas de artesanato e produtos orgânicos, são algumas das possibilidades que o agricultor pode oferecer a comunidade urbana de acordo com as características da sua propriedade (RAMEH; SANTOS, 2011). 52 6 CONCLUSÃO Na concepção de Engenheiro Ambiental, a Agrofloresta apresenta diversos benefícios ambientais e socioeconômicos, podendo auxiliar na recuperação de áreas degradadas e na recomposição de áreas de Reserva Legal e APP, é considerada uma grande alternativa para a substituição do modelo agropecuário convencional, tendo como perspectiva a integração do homem com a natureza. O modelo Agrossilvipastoril apresenta grande potencial para um desenvolvimento sustentável da Agropecuária, a introdução do componente florestal, apresenta melhorias na produção, reduzindo os impactos ambientais e diminuindo a supressão em novas áreas florestais. Com o incentivo a pesquisas, a Agroecologia pode se tornar um novo modo de fazer Agricultura, atendendo os três pilares do desenvolvimento sustentável: ambientalmente adequado, economicamente viável e socialmente aceitável. O Brasil com seu vasto território, apresenta grande potencial para atender a demanda crescente de produção de alimentos, devido ao seu clima e a disponibilidade de terra fértil, porém, algumas dificuldades são encontradas para a implantação dos SAF’s, a falta de bases de pesquisas, capacitação, professores, estudos científicos, laboratórios para desenvolvimento de técnicas, desinteresse dos pequenos produtores rurais, problemas com a infraestrutura do país, incentivos governamentais e as legislações, que apesar de existirem, muitas vezes não são aplicadas, dificultam o incentivo à produção sustentável por meio de políticas públicas. Talvez em vida ainda não veremos a mudança, mas o importante é que os primeiros passos foram dados, e nós, seres humanos, detentores do conhecimento, temos como obrigação e missão, passar o que aprendemos adiante, ter o amor e o respeito pelo próximo e futuras gerações. Gostaria de finalizar com a frase, do magnífico Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original”. 53 REFERÊNCIAS ABDO, Maria Teresa Vilela Nogueira; VALERI, Sérgio Valiengo; MARTINS, Antônio Lúcio Mello. Sistemas agroflorestais e agricultura familiar: uma parceria interessante. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária, São Paulo, p.50-59, dez. 2008. ALVES, Luciana Medeiros. Programa de Pós-graduação em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação de Recursos Naturais: Sistemas Agroflorestais (SAF’s) na restauração de ambientes degradados. 2009. AMADOR, Denise Bittencourt. Restauração de Ecossistemas com Sistemas Agroflorestais. 1999. 12 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências Florestais, Ong Mutirão Agroflorestal, Ituverava, 1999. Disponível em: <http://saf.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/14.pdf>. Acesso em: 04 de Maio de 2018. ANDRADES, Thiago Oliveira; GANAMI, Rosângela Nasser; Revolução Verde e a apropriação capitalista. 2007. 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