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– Sarcopenia O processo de envelhecimento é acompanhado por várias modificações na composição corporal do indivíduo. Entre essas alterações, a diminuição da massa muscular é a de maior importância clínica e funcional. A palavra provém do grego sarx (carne) + penia (perda). Desde então, o conceito de sarcopenia tem sido modificado à medida que novos conhecimentos sobre o tema são publicados. O conceito atual define sarcopenia como não apenas o processo de perda de massa muscular relacionada com o envelhecimento, mas também inclui a perda da força e da função muscular. A perda de massa muscular que ocorre durante o processo de envelhecimento não deve ser encarada como um problema que se inicia somente quando o indivíduo alcança a faixa etária avançada. Além disso, indivíduos com picos de massa muscular mais baixos na fase jovem têm maior probabilidade de apresentar sarcopenia, fragilidade e incapacidade à medida que a idade avança. O pico de massa muscular em indivíduo saudável ocorre por volta dos 25 anos de idade. Assim como a força, a massa muscular é praticamente mantida entre os 25 e 50 anos, com redução de apenas 5% no número de fibras musculares e cerca de 10% no tamanho das fibras. Contudo, é entre os 50 e os 80 anos de idade que ocorre a maior perda da massa muscular. O número de fibras sofre redução de 35%, enquanto o tamanho das fibras é reduzido em cerca de 30%. É interessante notar que, ao contrário da redução do número de fibras que ocorre na mesma proporção entre as fibras de contração lenta (tipo I) e as fibras de contração rápida (tipo II), a diminuição do tamanho das fibras ocorre predominantemente entre as do tipo II. Diversos estudos têm demonstrado ainda que entre as de contração rápida, a do tipo IIB, é a que apresenta maior porcentagem de redução, tanto no número quanto no tamanho das fibras quando comparado à fibra tipo IIA. – Sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e função muscular com risco de eventos adversos como incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte. A recomendação do EWGSOP é que se utilizem a diminuição da massa muscular e a diminuição da função muscular (força ou desempenho) como critérios para o diagnóstico da sarcopenia. A utilização do critério de avaliação da função muscular permite que o diagnóstico tenha maior valor clínico. Alguns autores têm argumentado que o termo “dinapenia” se encaixaria melhor para descrever a perda de força e função muscular associada ao envelhecimento, contudo o termo sarcopenia já é amplamente reconhecido e substituí-lo poderia causar mais confusão. Entre os principais fatores de risco estão a falta de atividade física, a baixa ingesta calórica e proteica, assim como modificações hormonais e alterações nos níveis de citocinas que ocorrem a partir do envelhecimento. Alterações no remodelamento do tecido muscular, perda de neurônios motores- alfa, além de alterações no recrutamento de células musculares e apoptose são mecanismos que contribuem para a patogênese da sarcopenia. Fatores genéticos podem ter papel importante na explicação das diferenças entre força e desempenho muscular de cada indivíduo. - FALTA DE ATIVIDADE FÍSICA Em qualquer idade, trata-se de fator contribuinte importante na perda de massa e força muscular. Estudos realizados em pacientes que pararam de fazer atividade física por estarem restritos ao leito mostraram que a diminuição da força muscular ocorre antes da diminuição da massa muscular. Idosos que fazem pouca atividade física apresentam fraqueza muscular e, consequentemente, redução maior na capacidade de realizá-la, além de perderem de massa e força nos músculos. Atividades aeróbicas, como caminhar, correr, pedalar ou nadar, aumentam o consumo máximo de oxigênio, melhoram a adaptação neuromuscular e a função muscular e estão associadas à diminuição da morbidade e mortalidade nessa população. Exercícios aeróbicos não contribuem tanto para hipertrofia muscular quanto os exercícios resistidos, mas estimulam a síntese proteica e ativam células satélites. Um aspecto importante dos exercícios aeróbicos é que, ao reduzirem a massa gordurosa, incluindo a gordura intramiocelular (mioesteatose), melhoram a força muscular. Em contrapartida, massa muscular, força e qualidade muscular (força ajustada para massa muscular) melhoram significativamente com treinamento de exercícios resistidos, mesmo quando realizado por idosos frágeis. – - BAIXA INGESTA CALÓRICA A taxa de síntese de proteína muscular sofre redução de aproximadamente 30% no idoso. Fatores nutricionais, doenças e inatividade são os principais fatores responsáveis por essa redução. Baixa ingesta calórica e proteica em pessoas idosas está associada ao desenvolvimento de fragilidade. Diversos mecanismos levam à diminuição da ingesta alimentar pelo idoso (anorexia do envelhecimento), como diminuição do apetite, redução da função de órgãos sensoriais como paladar e olfato, alteração na dentição e saciedade precoce (em decorrência do aumento da liberação de colecistocinina e elevação da leptina). A maioria dos estudos confirma que a ingesta proteica no idosos deve superar a quantidade recomendada para adultos jovens (0,8 g/kg/dia), para que se evite a perda de massa muscular. - MODIFICAÇÕES HORMONAIS Há evidências de que alterações hormonais relacionadas com o envelhecimento estão ligadas à perda de massa e força muscular. Insulina, estrógeno, testosterona, deidroepiandrosterona (DHEA), hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento insulina-símile (IGF-1), vitamina D e paratormônio (PTH) estão envolvidos na etiopatogenia da sarcopenia. • INSULINA: A sarcopenia pode ser acompanhada por aumento progressivo da gordura corporal total e da gordura intramiocelular, as quais estão associadas a risco elevado de resistência à insulina. Embora estimule a síntese de proteína da musculatura esquelética, ainda não está claro se o efeito anabolizante da insulina é alterado com o envelhecimento. O aumento dos níveis de insulina após ingestão de – glicose e aminoácidos resulta em menor taxa de síntese proteica quando comparados aos jovens. Além disso, a hiperinsulinemia pode estar associada à redução da função mitocondrial no idoso. • ESTRÓGENO: Estudos epidemiológicos sugerem que o estrógeno previne a perda de massa muscular, já que, com o seu declínio associado à idade, aumentam os níveis de citocinas pró-inflamatórias (fator de necrose tumoral [TNF-α] e interleucina 6 [IL-6]) envolvidas no processo da sarcopenia. Contudo, nenhum dos ensaios clínicos recentes relatou aumento da massa muscular após terapia de reposição hormonal (Rolland et al., 2008). Efeitos do estrógeno na força e função muscular também são controversos. Além disso, estrógeno associado a exercícios resistidos não produziu efeito de aumento da massa ou força muscular nos trabalhos publicados até o momento. • GH E IGF-1: Tanto o GH quanto o IGF-1 declinam com a idade e estão entre os prováveis contribuintes para o desenvolvimento da sarcopenia. Reposição de GH diminui a gordura corporal, aumenta a massa magra e melhora o perfil lipídico. O IGF-1 ativa a proliferação e a diferenciação de células satélites, além de aumentar a síntese de proteína nas fibras existentes. Estudos apresentam resultados controversos quanto ao efeito de aumento na força muscular. A maioria dos estudos com GH ou IGF-1 utilizou métodos como a densitometria e a bioimpedância para avaliar massa muscular, porém esses métodos não conseguem diferenciar os componentes aquoso (edema) e não aquoso da massa muscular. • TESTOSTERONA Os níveis de testosterona declinam lentamente no homem idoso a uma taxa de 1% ao ano. Estudos epidemiológicos sugerem uma relação entre baixos níveis de testosteronano idoso e perda de massa, de força e de função muscular. A testosterona provoca aumento no número de células satélites musculares. Quando indicada para indivíduos hipogonádicos ou para idosos com baixos níveis séricos de testosterona, ela aumenta a massa, a força muscular e a síntese proteica. • DEIDROEPIANDROSTERONA Os níveis de DHEA, outro hormônio esteroide anabolizante, diminuem consideravelmente com a idade. Apesar de evidências mostrando que a suplementação de DHEA resulte em aumento nos níveis de testosterona na mulher e em aumento de IGF-1 no homem, poucos estudos relatam efeito positivo na massa e na força muscular. • VITAMINA D E PARATORMÔNIO: Os níveis de 25(OH) vitamina D diminuem com a idade. Estudo epidemiológico recente evidenciou associação entre a sarcopenia e os baixos níveis de vitamina D, a qual exerce provável efeito no anabolismo muscular (Rolland et al., 2008). Baixos níveis séricos podem influenciar o turnover das proteínas musculares a partir da redução da secreção de insulina. Baixos níveis de vitamina D são frequentemente associados à elevação do PTH, porém estudos sugerem que o aumento do PTH é fator independentemente associado à sarcopenia e ao aumento no risco de quedas. O PTH pode modular a função muscular a partir do aumento do cálcio intracelular ou pela indução de uma via pró-inflamatória. - ELEVADOS NÍVEIS DE CITOCINAS O envelhecimento está associado a aumento gradual e crônico da produção de citocinas pró- inflamatórias (IL-6, TNF-α). Há evidências de que o aumento da massa gordurosa e a diminuição nos níveis de hormônios sexuais circulantes decorrentes do envelhecimento colaborem para isso. A elevação de citocinas constitui um estímulo catabólico e pode estar relacionada com o aumento da quebra das proteínas das fibras musculares. Estudos longitudinais mostram associação entre altos níveis de TNF-α, IL-6 e proteína C reativa (PCR) e risco elevado para diminuição da força muscular (Rolland et al., 2008). O aumento das citocinas estimula a ubiquitina protease, elevando a degradação de proteínas e, além disso, diminui a produção do fator de crescimento insulina-símile (IGF-1), o que constitui um desequilíbrio entre a síntese e a degradação de proteínas musculares. O TNF-α estimula a perda de massa muscular por meio da ativação da via apoptótica. – - PERDA DA FUNÇÃO NEUROMUSCULAR A contribuição neurológica para a sarcopenia ocorre com a perda de neurônios motores-alfa. Esse declínio tem início após a sétima década de vida, com uma perda de cerca de 50% dos neurônios motores-alfa, o que afeta principalmente os membros inferiores. Os neurônios motores remanescentes aumentam o seu território de controle por meio da captura de fibras denervadas. No entanto, o aumento do tamanho das unidades motoras e a redução no número de neurônios-alfa e de unidades motoras resulta em declínio na ativação da coordenação muscular e diminuição da força muscular. Durante o envelhecimento, o número de células satélites e sua habilidade para recrutamento são reduzidos, com maior prejuízo para as fibras tipo II. As células satélites são precursoras miogênicas, as quais podem se diferenciar em novas fibras musculares ou novas células satélites caso sejam ativadas durante o processo de regeneração. - DISFUNÇÃO MITOCONDRIAL O papel da disfunção mitocondrial na sarcopenia é controverso. A função mitocondrial pode ser afetada pelo dano cumulativo ao DNA mitocondrial do músculo que é observado com o envelhecimento. Esse fato pode resultar em redução da taxa de síntese de proteína muscular e de trifosfato de adenosina (ATP) e, finalmente, na morte das fibras musculares e perda de massa muscular. Contudo, a falta de atividade física desempenharia papel fundamental no início do processo de disfunção mitocondrial. Alguns estudos evidenciam que o exercício físico pode atenuar esse processo. - APOPTOSE Mutações acumuladas no DNA mitocondrial do tecido muscular são associadas a apoptose acelerada dos miócitos, a qual pode ser a via de ligação entre a disfunção mitocondrial e a perda de massa muscular. Estudos recentes sugerem que as fibras tipo II são mais suscetíveis à morte pela via apoptótica. Duas vias apoptóticas têm sido descritas: a caspase-dependente e a caspase- independente. Caspases são grupos de proteases com papel fundamental na apoptose e na morte celular programada. O processo de envelhecimento tem sido associado ao aumento dos níveis de várias caspases. Outros mecanismos – como estresse oxidativo, diminuição de fatores de crescimento e imobilidade – também podem resultar em apoptose pelas duas vias. - INFLUÊNCIA GENÉTICA Fatores genéticos são os principais fatores relacionados com a variabilidade da força muscular de um indivíduo. Estudos epidemiológicos genéticos sugerem que entre 36 e 65% da força muscular individual, 57% do desempenho da atividade dos membros inferiores e 34% da habilidade para realizar atividades básicas de vida diária são explicados pela hereditariedade. Sarcopenia e baixo desempenho físico no idoso também estão associados a baixo peso ao nascimento em homens e mulheres, independentemente do peso e da estatura alcançados na idade adulta. Poucos estudos têm investigado genes relacionados com a força muscular. Na maioria dos casos é difícil identificar uma causa única como responsável pelo processo de sarcopenia. Contudo, classificá-la como primária ou secundária pode ser útil na prática clínica. A sarcopenia pode ser considerada primária quando não se encontra nenhuma causa identificável, além do próprio envelhecimento. É considerada secundária quando uma ou mais causas são evidentes. Em muitos idosos a causa é multifatorial, tornando muito difícil a classificação da sarcopenia em primária ou secundária. O estadiamento dessa enfermidade reflete a gravidade da condição. Essa informação pode ser útil na prática clínica, pois pode auxiliar na identificação precoce e no manejo preventivo e terapêutico da sarcopenia. O EWGSOP sugere três estágios para essa condição: pré-sarcopenia, sarcopenia e sarcopenia grave. A pré-sarcopenia é caracterizada por diminuição da massa muscular, sem impacto na força muscular ou no desempenho físico. Esse estágio pode ser identificado somente por técnicas de medidas precisas da massa muscular em comparação a uma população padrão. O estágio de sarcopenia é caracterizado por diminuição da massa muscular além de diminuição na força muscular ou no desempenho físico. A sarcopenia grave é – identificada quando os três critérios estão presentes. Os parâmetros para identificação da sarcopenia são a quantidade de músculo e suas funções. As variáveis mensuráveis são a massa, a força e o desempenho físico. Serão apresentados a seguir métodos que podem ser utilizados nas medidas dessas variáveis e sua aplicabilidade na prática clínica e em pesquisas. - MASSA MUSCULAR: Diversos métodos podem ser utilizados para avaliar a massa muscular. Custo, disponibilidade e facilidade de uso podem determinar se os métodos são mais adequados para a prática clínica ou para pesquisa. • MÉTODOS DE IMAGEM CORPORAL: Tomografia computadorizada, ressonância magnética nuclear e densitometria de corpo inteiro são os três métodos de imagem utilizados para estimar massa muscular. A tomografia e a ressonância são métodos de muita precisão e são considerados padrão-ouro para estimativa da massa muscular em pesquisa. Custo elevado, baixa disponibilidade e preocupação em relação à radiação limitam a utilização desses métodos de imagem de corpo inteiro na rotina da prática clínica. A densitometria é um método alternativo atrativo para diferenciar gordura, músculo e osso tanto na prática clínica como em pesquisa. Tem custo mais baixo que os anteriores e ainda expõe o paciente a pouca radiação. • BIOIMPEDÂNCIA: A bioimpedânciaestima o volume de gordura e a massa muscular do indivíduo. O método tem custo mais baixo que os métodos de imagem corporal e tem, dentre outras características, o fato de ser um recurso portátil e de fácil manuseio, que pode ser utilizado em idosos ambulatoriais ou acamados. • ANTROPOMETRIA: Cálculos baseados na circunferência do braço e na espessura de dobras cutâneas têm sido utilizados para – estimar a massa muscular em idosos ambulatoriais. - FORÇA MUSCULAR Há poucos métodos validados para se avaliar a força muscular. Embora os membros inferiores sejam mais relevantes que os membros superiores para marcha e atividade física, a força de preensão palmar tem sido amplamente utilizada e apresenta boa correlação com diminuição da força muscular de membros inferiores. Porém, é interessante lembrar que fatores não relacionados com a musculatura, tais como motivação e cognição, podem atrapalhar a avaliação correta da força muscular. • FORÇA DE PREENSÃO PALMAR: A força isométrica de preensão palmar é fortemente relacionada com a potência muscular dos membros inferiores, com a amplitude de extensão dos joelhos e com a área de secção transversal da musculatura da panturrilha. Força de preensão palmar diminuída é melhor marcador clínico de comprometimento da mobilidade do que baixa massa muscular. • FLEXÃO E EXTENSÃO DO JOELHO: A avaliação da força muscular por meio da flexão e extensão do joelho pode ser realizada por diversos equipamentos. Contudo, sua utilização na prática clínica é limitada, uma vez que são necessários equipamentos especiais de custo elevado. • PICO DE FLUXO RESPIRATÓRIO: Em idosos sem doença pulmonar, o pico de fluxo expiratório é determinado pela força dos músculos respiratórios. Apesar de ser um método de baixo custo, faltam estudos que o correlacionem com a sarcopenia. - DESEMPENHO FÍSICO: Diversos testes amplamente conhecidos podem ser utilizados para avaliar o desempenho físico, incluindo o Short Physical Performance Battery (SPPB), a velocidade da marcha, o Timed Up and Go Test (TUGT) e o Stair Climb Power Test (SCPT). • Short Physical Performance Battery (SPPB). O SPPB é um instrumento que avalia o desempenho físico por meio de testes de equilíbrio, velocidade da marcha, além de força e resistência dos membros inferiores. Avalia habilidades, como capacidade de permanecer com os pés juntos, lado a lado, com o calcâneo do pé da frente encostado no hálux do pé de trás, e com o calcâneo do pé da frente encostado em todos os dedos do pé de trás. • Velocidade da marcha. A velocidade da marcha faz parte do SPPB, mas pode ser utilizada como parâmetro isolado para avaliar desempenho físico, tanto em pesquisas quanto na prática clínica. Nesse teste, é medido o tempo, em segundos e milésimos de segundo, que o indivíduo leva para percorrer 3 ou 4 metros. • Timed Up and Go Test (TUGT). O TUGT, muito aplicado na avaliação geriátrica ampla, também pode ser utilizado como instrumento de medida do desempenho físico. O teste avalia o tempo que o indivíduo leva para se levantar de uma cadeira, andar 3 metros, retornar e sentar. • Stair Climb Power Test (SCPT). O SCPT tem sido proposto como medida clínica relevante de avaliação de potência muscular dos membros inferiores. O teste avalia o tempo que o indivíduo gasta para subir 6 lances de escadas de 12 degraus. – Antes de iniciar a avaliação, o indivíduo é orientado a realizá-lo no menor tempo possível. A abordagem terapêutica atual da sarcopenia baseia-se em intervenções não farmacológicas e farmacológicas. Estudos sugerem que a sarcopenia seja uma causa potencialmente reversível de incapacidade e que pode haver benefícios caso as intervenções sejam realizadas, especialmente, nos estágios mais precoces. INTERVENÇÕES NÃO FARMACOLÓGICAS: Exercício físico e ingesta nutricional adequada são, atualmente, as intervenções mais efetivas para o tratamento da sarcopenia. - EXERCÍCIO: Exercício físico em qualquer faixa etária requer potência, força e resistência muscular. Potência é a capacidade de gerar força elevada no menor tempo possível, como a força necessária para um salto. Força, por outro lado, é a capacidade de gerar a maior força possível sem se preocupar com o tempo, como levantar um objeto pesado. Resistência é a energia gerada para manter o exercício físico. Apesar das dificuldades e limites para manter a musculatura do idoso, diversos esquemas de exercícios têm se mostrado eficazes para prevenir ou reverter aspectos da sarcopenia. O treinamento progressivo de exercícios resistidos em idosos melhora significativamente a força muscular, velocidade da marcha e habilidade para subir escadas. Para idosos obesos, a melhor estratégia para reduzir a limitação funcional e a resistência insulínica foi a combinação de exercícios resistidos e exercícios aeróbicos. Recomenda-se que os idosos iniciem o treinamento com exercícios resistidos de baixa velocidade (para força), 2 vezes/semana, em dias não consecutivos, por 4 semanas. Devem iniciar com 30 a 50% da carga de uma repetição máxima (RM), e progredir para 80% com dez a quinze repetições. Recomenda-se iniciar com uma série e então progredir até três séries, com um a três minutos de repouso entre elas. Deve-se iniciar os exercícios pelos grandes grupos musculares e depois trabalhar com os grupos menores. Em seguida, deve-se progredir para exercícios resistidos de alta velocidade (para potência), 2 vezes/semana, em dias não consecutivos. Pode-se ainda inserir treinamento aeróbico nos dias em que não sejam realizados exercícios para força e potência muscular. É importante que os programas de treinamento para idosos iniciem-se com exercícios leves e que a progressão para os exercícios mais intensos seja feita lentamente, respeitando-se o limite de cada indivíduo – - NUTRIÇÃO: Estudos recentes mostram que a falta de proteína em quantidade adequada na dieta e a falta de resposta anabólica a sua ingesta são mecanismos envolvidos na sarcopenia. A razão para a suplementação de proteína na dieta tem base na hipótese de que isso estimularia a síntese de proteína muscular. Estudos têm demonstrado que suplementação de quantidade moderada de aminoácidos essenciais estimula a síntese proteica em pessoas idosas. Alguns estudos não evidenciaram melhora do anabolismo proteico em idosos suplementados com aminoácidos não essenciais. Alimentos ricos em proteína, como a do soro do leite (rica em leucina) ou suplementos nutricionais por via oral podem ser um meio prático e de baixo custo para adicionar fornecimento de proteína. Atualmente, há grande discussão sobre qual seria a quantidade ideal de ingesta proteica para minimizar ou reverter o processo de sarcopenia. A maioria dos autores é unânime em dizer que a ingesta deve ser maior do que o 0,8 g/kg de peso por dia recomendado para os adultos. Atualmente, recomenda-se ingerir entre 1,2 e 1,5 g/kg de peso por dia para prevenir e tratar a sarcopenia. É importante considerar não somente a quantidade de proteína ingerida, mas também o horário de consumo ao longo do dia. A distribuição igualitária da quantidade de proteína entre as três principais refeições (café da manhã, almoço e jantar) pode produzir síntese máxima de proteína e com isso, maior resposta anabólica. Diversos estudos mostram que fornecimento de suplemento nutricional enriquecido com aminoácidos essenciais pode melhorar massa, força e função muscular mesmo sem realização de exercícios. Contudo, os resultados são melhores quando os exercícios são combinados à suplementação nutricional comparado a ambos isoladamente. INTERVENÇÕES FARMACOLÓGICAS: - TESTOSTERONA Cerca de 20% dos homens acima dos 60 anos de idade e 50% dos homens acima dos 80 anos de idade são considerados hipogonádicosutilizando- se como critério níveis de testosterona total dois desvios padrão abaixo da média para adultos jovens saudáveis. Diversos estudos com reposição de testosterona em idosos saudáveis mostram que há pequeno aumento da massa muscular, porém, muitos deles não evidenciam melhora na força muscular. A testosterona aumenta a massa e a força muscular por meio de estímulo na produção de células satélites, assim como na síntese de proteína muscular. A reposição de testosterona pode ser realizada pelas vias transdérmica ou injetável. O gel de propionato de testosterona a 1% é utilizado na dose de 5 g por dia, enquanto o undecanoato de testosterona 1.000 mg administrado – trimestralmente é injetável, com maior comodidade posológica e com menos efeitos adversos quando comparado às aplicações de cipionato e enantato de testosterona a cada 2 ou 3 semanas. - DEIDROEPIANDROSTERONA Os níveis de DHEA sofrem declínio com o envelhecimento. Baixos níveis de DHEA foram associados à diminuição da massa e da força muscular, no entanto, até o presente momento, os estudos com reposição de DHEA, na dose de 50 a 100 mg/dia, tanto em homens quanto em mulheres idosas falharam em mostrar aumento da massa e da força muscular. - NANDROLONA O decanoato de nandrolona é um esteroide anabolizante injetável, de baixo custo, disponível nas doses de 25 mg ou 50 mg por ampola. Estudo realizado com administração de 50 mg por via intramuscular, a cada 3 semanas, em mulheres idosas com osteoporose por período de 2 anos evidenciou, além de diminuição das fraturas, aumento da massa muscular. - ESTRÓGENO E TIBOLONA Revisão recente dos efeitos do uso de terapia de reposição estrogênica e da tibolona na composição corporal e na força muscular de mulheres pós-menopausa evidenciou aumento da força muscular, mas somente a tibolona (esteroide sintético com atividade estrogênica, androgênica e progestogênica) aumentou massa magra e diminuiu massa gordurosa. Entretanto, nenhum estudo confirmou esses benefícios na população idosa, não sendo recomendado atualmente no tratamento da sarcopenia. - HORMÔNIO DO CRESCIMENTO A reposição de GH aumenta massa e força muscular em indivíduos jovens com hipopituitarismo. Nos idosos, que frequentemente têm menores níveis séricos de GH, a maioria dos estudos mostra que suplementação do hormônio pode aumentar a massa muscular sem, no entanto, aumentar a força muscular. Porém, a suplementação de GH nessa população provocou maior frequência de efeitos adversos como edema, síndrome do túnel do carpo, artralgia e alterações glicêmicas. Atualmente, não há evidências suficientes para recomendar a terapia de suplementação de GH no tratamento da sarcopenia. - VITAMINA D Suplementação de 800 UI de vitamina D por dia reduz o risco de fratura de quadril e qualquer outra fratura não vertebral, além de diminuir o risco de quedas no idoso. O mecanismo responsável pode ser o aumento da força muscular. Reposição de vitamina D em idosos com baixos níveis séricos melhorou força muscular e desempenho físico em publicação que revisou diversos trabalhos que correlacionavam deficiência de vitamina D com manifestações da musculatura esquelética. O papel da vitamina D na prevenção da sarcopenia permanece incerto e a dose a ser reposta em pacientes com deficiência é muito variável. Entretanto, na prática as doses de reposição costumam ser muito maiores do que as 800 UI diárias utilizadas para reduzir risco de fratura e quedas no idoso. - CREATINA A suplementação com creatina pode aumentar a síntese de massa muscular em razão da elevação da creatina e fosfocreatina intramuscular, porém, poucos estudos com a população idosa mostram resultados conflitantes. Até o momento, não deve ser recomendada na prevenção ou no tratamento da sarcopenia. - ESTIMULADORES DO EIXO GH/IGF-1 Estratégias alternativas para estimular o eixo GH/IGF-1, como a administração de hormônio liberador de GH (GHRH) e do complexo IGF-1 associado à proteína ligadora (IGFBP-3) parecem promissoras. A proteína da família dos supressores de sinalização da citocina SOC-2 tem sido descrita como a principal moduladora da ação do GH. Essa proteína tem propriedade de inibir a produção de citocinas; portanto, estudar o sistema de proteínas SOC pode oferecer uma nova perspectiva na terapêutica da sarcopenia. REFERÊNCIA: TRATADO DE GERIATRIA
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