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Responsabilidade Ambiental Civil, Penal e Administrativa A Responsabilidade Civil Ambiental Dentre os diversos temas tratados na Constituição, um dos que merecem maior destaque é o que trata sobre a responsabilidade advinda dos danos causados ao meio ambiente. Dessa forma, deve-se perceber a teoria da responsabilidade em conexão com de alguns princípios do Direito Ambiental, como os da prevenção e da precaução; do poluidor-pagador e ainda o princípio da responsabilização integral, com o escopo de, não apenas punir os causadores do dano, mas principalmente servir como mecanismo de preservação do meio ambiente. Resumo da teoria geral da responsabilidade civil O conceito de responsabilidade civil está atrelado ao princípio do neminem laedere (não lesar ninguém), podendo ser caracterizado como o conjunto de medidas que obriguem o causador de um dano a efetuar a reparação do mesmo. Nesse sentido, manifesta-se Carlos Alberto Bittar:1 O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica alheia acarreta ao agente a necessidade de reparação dos danos provocados. É a responsabilidade civil, ou obrigação de indenizar, que compele o causador a arcar com as consequências advindas da ação violadora, ressarcindo os prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de fato ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado. Também é necessário destacar que o dano pode ser uma resultante de ação ou omissão; sendo o atual entendimento doutrinário formado no sentido de se estabelecer as espécies de responsabilidade considerando-se a culpa e a natureza específica da norma violada, ou seja, a responsabilidade civil é classificada quanto à culpa, em subjetiva e objetiva, e, quanto à natureza da norma, em contratual e extracontratual. 1 Bittar, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p. 561. A responsabilidade subjetiva se caracteriza pela presença do elemento culpa lato sensu (culpa estrito senso – imperícia, imprudência e negligência, mais o dolo); enquanto a responsabilidade objetiva prescinde da existência da culpa do agente. Na responsabilidade contratual, o dever violado é oriundo ou de um contrato ou de um negócio jurídico unilateral. Se duas pessoas celebram um contrato, tornam-se responsáveis por cumprir as obrigações que convencionaram. A responsabilidade extracontratual ou aquiliana tem por escopo a reparação dos danos decorrentes da violação de deveres gerais de respeito pela pessoa e bens alheios, tendo por fonte a lei e o ordenamento jurídico tomado como um todo sistêmico. A Responsabilidade civil ambiental Pode-se dizer que a responsabilidade ambiental civil decorre, em um primeiro momento, de uma matriz constitucional que, expressamente dispõe no parágrafo terceiro do art. 225: Art. 225, §3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Pode-se perceber que a parte final do dispositivo remete, de fato, à responsabilidade civil ambiental ao plano das garantias constitucionais; devendo ser destacado que há possibilidade da acumulação dos três tipos de responsabilidade, já que possuem natureza distintas. A responsabilidade civil ambiental caracteriza-se como objetiva e extracontratual, como se depreende da redação da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente – lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, no § 1° de seu Art. 14: Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Annelise Monteiro Steigleder2 é uma defensora da aplicação da responsabilidade objetiva em matéria de dano ambiental: O dano ambiental possui como pressuposto a existência de uma atividade que implica riscos para a saúde e o meio ambiente, impondo-se ao empreendedor a obrigação de prevenir riscos (princípio da prevenção) e de internalizá-los em seu processo produtivo (princípio poluidor-pagador). Assim, fundada na responsabilidade objetiva, verifica-se que a caracterização da obrigação de reparar o dano independe do elemento culpa, bastando a presença do dano, do poluidor (causador do dano) e do nexo de causalidade entre a ação/omissão do agente e o dano. Entretanto, a caracterização do nexo de causalidade não é uma atividade muito simples; nesse sentido, mais uma vez apresenta-se Annelise Monteiro Steigleder:3 A grande problemática envolvendo o nexo de causalidade na área ambiental é que o dano ambiental pode ser resultado de várias causas, concorrentes, simultâneas ou sucessivas, dificilmente tendo uma única e linear fonte. Em razão dessa dificuldade, os Tribunais e a doutrina vêm se posicionando pela adoção da Teoria do Risco Integral ou pela Teoria do Risco Criado. 2 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade Civil Ambiental: as Dimensões do Dano Ambiental no Direito Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011, p. 171. 3 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Op. cit. p. 172. No risco integral, apresentam-se, como defensores, dentre outros. Tal entendimento é corroborado por Édis Milaré, Antônio Herman Benjamin, Jorge Alex Nunes Athia, Sérgio Cavalieri Filho, Nelson Nery Júnior e Sérgio Ferraz. Nesse entendimento, basta que, potencialmente, a atividade do agente possa acarretar prejuízo ecológico para que se inverta imediatamente o ônus da prova, para que imediatamente se produza a presunção de responsabilidade, reservando, portanto, para o eventual acionado o ônus de procurar excluir sua imputação. Nessa mesma direção, apresenta-se a doutrina de Nelson Nery Jr:4 A indenização é devida independentemente de culpa e, mais ainda, pela simples razão de existir a atividade da qual adveio o prejuízo: o titular da atividade assume todos os riscos dela oriundos. Dessa maneira, não se operam, como causas excludentes de responsabilidade, o caso fortuito ou força maior. Ainda que a indústria tenha tomado todas as precauções para evitar acidentes danosos ao meio ambiente, se, por exemplo, explode um reator controlador da emissão de agentes químicos poluidores (caso fortuito), subsiste o dever de indenizar. Do mesmo modo, se por um fato da natureza ocorrer o derramamento de substância tóxica existente no depósito de uma indústria (força maior), pelo simples fato de existir a atividade há o dever de indenizar. Por outro lado, a Teoria do Risco Criado é apoiada, dentre outros, por Toshio Mukai, Von Adamek, Andreas Joachim Krell, Helita Barreiro Custódio e Fernando Noronha; e se diferencia, basicamente, da teoria do risco integral, por admitir os seguintes elementos excludentes da responsabilidade civil – culpa exclusiva da vítima, fato de terceiros e caso fortuito ou força maior. Tal teoria é alinhada à Teoria da Causalidade Adequada e tem como elemento central o perigo, devendo-se aferir se há liame causal entre a ação/omissão do agente e o dano. 4 NERY JR. apud STEIGLEDER, op. cit. Assim, deve ser mais uma vez destacado que, relativamente ao tema, a doutrina e a jurisprudência adotam a tese da responsabilidade objetiva, fundada em duas abordagens distintas: as que admitem excludentes de responsabilidade (Teoria do Risco Administrativo, do Risco Criado, do Risco-Proveito, do Risco Atividade) e as que não admitem excludentes(Teoria do Risco Integral). Outro aspecto importante relacionado à responsabilidade ambiental civil é aquele relacionado ao princípio do Disregard of Legal Entity5 (princípio importado do direito norte-americano, que no Brasil é aplicado sob o nome de desconsideração da personalidade jurídica). Pode-se conceituar a desconsideração como sendo o remédio jurídico a ser aplicado para corrigir atos abusivos, ignorando momentaneamente a personalidade da sociedade para alcançar o cumprimento das obrigações na pessoa do sócio, alcançando os bens particulares deste. A desconsideração da personalidade jurídica pode ser percebida no direito brasileiro por meio de disposição expressa de lei (mesmo que, no caso, por meio da lei de crimes ambientais) – art. 4º, lei nº 9605/1998: “Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.” Dessa forma, têm-se como sujeitos passíveis de responsabilização ambiental cível, não apenas as pessoas naturais (pessoas físicas), mas ainda as pessoas jurídicas de direito privado e até mesmo entes públicos. A Responsabilidade Penal Ambiental Como já apresentado, a responsabilidade penal ambiental decorre diretamente do parágrafo terceiro do art. 225 da Constituição de outubro de 1988, e as respectivas sanções penais podem ser aplicadas cumulativamente com as sanções 5 O julgamento da disregard doctrine mais antigo que se tem conhecimento ocorreu nos Estados Unidos no ano de 1809, no caso Bank of United States versus Deveaux, momento em que o juiz Marshall estendeu as obrigações da empresa aos sócios individualizados. KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica disregard doctrine e os grupos de empresa. Rio de Janeiro: Forense, 1995. administrativas e aquelas relativas ao dever de reparar o dano (responsabilidade civil). Assim, o primeiro e importante conceito a ser delimitado é aquele que caracteriza o bem jurídico penalmente tutelado – ou seja, essa delimitação é encontrada no próprio texto da Carta Magna: o Direito Penal Ambiental tem como bem juridicamente tutelado o meio ambiente ecologicamente equilibrado, abrangendo os ambientes natural, artificial e cultural. A Tipificação dos crimes ambientais Os crimes ambientais são tipificados na lei de crimes ambientais (lei nº 9605/1998), no Código Florestal (lei nº 12651/2012), em alguns artigos do Código Penal, na lei nº 6453/1977 (responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares) e na lei nº 7643/1987 (criminaliza a pesca de cetáceos em águas brasileiras). É importante destacar o fato de que parte das normas penais ambientais caracterizam-se como normas penais em branco; assim, é necessária, para sua aplicação, a interpretação em conjunto com outras leis, inclusive de direito administrativo, e direito material específico de outras ciências para sua configuração e complementação. Outro ponto a ser destacado é aquele relativo ao polo passivo da relação penal ambiental, especificamente no que se refere ao tema da desconsideração da personalidade jurídica (arts. 3º e 4º, lei nº 9605/1998); ou seja, tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas podem figurar como autoras de crimes ambientais. Interessante apresentar a manifestação dos Tribunais Superiores sobre a matéria, nas palavras do Ministro Gilson Dipp:6 6 REsp 564.960/SC. ... não obstante alguns obstáculos a serem superados, a responsabilidade penal da pessoa jurídica é um preceito constitucional, posteriormente estabelecido, de forma evidente, na Lei ambiental, de modo que não pode ser ignorado. Dificuldades teóricas para sua implementação existem, mas não podem configurar obstáculos para sua aplicabilidade prática na medida em que o Direito é uma ciência dinâmica, cujas adaptações serão realizadas com o fim de dar sustentação à opção política do legislador. Desta forma, a denúncia oferecida à pessoa jurídica de direito privado deve ser acolhida, diante de sua legitimidade para figurar no polo passivo da relação processual-penal. Outras inovações aduzidas pela lei de crimes ambientais: Criminalização da pessoa do poluidor indireto,7 Fixação da responsabilidade solidária, Criminalização das instituições financeiras, e Valorização da participação do poder público. Com relação ao rol das penas cominadas na legislação ambiental penal, pode-se verificar: A) Penas aplicáveis às pessoas físicas: Penas restritivas de liberdade – detenção, reclusão e prisão simples; Penas restritivas de direito – na forma do art. 7º, lei nº 9605/1998, e Pena de multa. B) Penas aplicáveis às pessoas jurídicas: No que se refere à cominação das penas aplicáveis às pessoas jurídicas, o art. 21, lei nº 9.605/1998 estabelece penas isoladas, alternativas e cumulativas. As penas 7 Sobre o assunto, vale a leitura do artigo do Prof. Paulo de Bessa Antunes, “O Conceito de poluidor Indireto e a Distribuição de Combustíveis”, disponível em http://www4.jfrj.jus.br/seer/index.php/revista_sjrj/article/viewFile/581/406 http://www4.jfrj.jus.br/seer/index.php/revista_sjrj/article/viewFile/581/406 isoladas afastam a incidência de outras penas; na alternativa, há mais de uma pena, mas apenas uma é aplicada e, é possível, ainda, a aplicação de mais de uma pena ao autor. Pena de multa (esta não deve ser confundida com a multa administrativa; ou seja, por terem natureza diversa, é possível a aplicação da multa, de natureza criminal e, ao mesmo tempo, a multa de natureza administrativa), esta é revertida ao Fundo Penitenciário. Penas restritivas de direito – estas estão elencadas no art. 22 da lei de crimes ambientais: suspensão, parcial ou total de suas atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividades; e proibição de contratar com o poder público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. Pena de prestação de serviços à comunidade – que pode, na impossibilidade da prestação, ser convertida em contribuição a entidades de natureza ambiental, cultural ou entidades públicas. Deve ser destacado que também é possível, no âmbito penal ambiental, aplicar-se à pessoa jurídica: pena de liquidação forçada (art. 24, lei nº 9605/98) – nessa hipótese, ocorre a extinção da pessoa jurídica e seu patrimônio é revertido para a União Federal; e, ainda, pena de apreensão de produtos. Os crimes ambientais na lei nº 9.605/1998 De acordo com a lei de crimes ambientais, os crimes ambientais são classificados em cinco tipos diferentes: Crimes contra a fauna (arts. 29 a 37): se caracterizam pelas agressões cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como a caça, pesca, transporte e a comercialização sem autorização; os maus-tratos; a realização experiências dolorosas ou cruéis com animais quando existe outro meio, independente do fim. Também estão incluídas as agressões aos hábitats naturais dos animais, como a modificação, danificação ou destruição de seu ninho, abrigo ou criadouro natural. A introdução de espécimes animais estrangeiras no país sem a devida autorização também é considerado crime ambiental, assim como a morte de espécimes devido à poluição. Crimes contra a flora (arts. 38 a 53): causar destruição ou dano à vegetação de Áreas de Preservação Permanente, em qualquer estágio, ou a Unidades de Conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins comerciais de madeira, lenha, carvãoe outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização. Poluição e outros crimes ambientais (arts. 54 a 61): todas as atividades humanas produzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será considerado crime ambiental passível de penalização a poluição acima dos limites estabelecidos por lei. Além desta, também é criminosa a poluição que provoque ou possa provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Assim como aquela que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. São considerados crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não recuperação da área explorada; produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas à saúde humana ou em desacordo com http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/dicionario-ambiental/27468-o-que-e-uma-area-de-preservacao-permanente http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/dicionario-ambiental/27099-o-que-sao-unidades-de-conservacao http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/dicionario-ambiental/27099-o-que-sao-unidades-de-conservacao as leis; a operação de empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixam nessa categoria de crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas. Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65): ambiente é um conceito amplo, que não se limita aos elementos naturais (solo, ar, água, flora, fauna). Na verdade, o meio ambiente é a interação destes com elementos artificiais – aqueles formados pelo espaço urbano construído e alterado pelo homem – e culturais que, juntos, propiciam um desenvolvimento equilibrado da vida. Dessa forma, a violação da ordem urbana e/ou da cultura também configura um crime ambiental. Contra a administração ambiental (art. 66 a 69): são as condutas que dificultam ou impedem que o Poder Público exerça a sua função fiscalizadora e protetora do meio ambiente, seja ela praticada por particulares ou por funcionários do próprio Poder Público. Comete crime ambiental o funcionário público que faz afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental; ou aquele que concede licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público. Também comete crime ambiental a pessoa que deixar de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental, quando tem o dever legal ou contratual de fazê-la, ou que dificulta a ação fiscalizadora sobre o meio ambiente. A Responsabilidade Administrativa Ambiental A responsabilidade administrativa é objetiva, na forma do disposto no artigo 14, § 1º da lei nº 6.938/1981, sendo resultante da infração às normas administrativas, sujeitando-se o infrator a uma sanção de natureza, também, administrativa. No mesmo sentido, o artigo 2º, §10, do decreto nº 3.179/1999, estabelece que na responsabilidade administrativa, emprega-se a teoria objetiva, ou seja, esta independe da caracterização do elemento culpa do agente para haver responsabilização. A ação do Estado, em matéria ambiental e, em especial na área administrativa, está afeta ao chamado poder de polícia. É curioso notar que, o único conceito legal do que seja poder de polícia está expressamente disposto no art. 78 do Código Tributário Nacional: art. 78, CTN: considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos. Parágrafo único: considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. Hely Lopes Meirelles8 assim conceitua o poder de polícia: ... mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter os abusos do direito individual. Por esse mecanismo, o Estado detém a atividade dos particulares que se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao desenvolvimento e à segurança nacional. Assim, o poder de polícia consiste e se caracteriza como a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público, tendo como fundamento ético-jurídico a incidência do princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, com as devidas limitações legais, éticas e morais pertinentes, para caracterização de seu regular exercício. 8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. Rio de Janeiro: Malheiros, 2007, p. 131. Interessante colacionar a manifestação da jurisprudência, especificamente no que se alude à atuação do Estado, no que se refere à matéria ambiental:9 ... Lei ambiental – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima geração), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158-205-206). Incumbe, ao Estado e a própria coletividade, a especial obrigação de preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/ 156-161). Segundo a doutrina, a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais que se tiver presente que a atividade econômica, considerada à disciplina constitucional que a rege está subordinada, dentro outros princípios gerais, aquele que privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Assim, para efeito do cumprimento dos mandamentos constitucionais (“art. 225, § 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”), conclui-se que a responsabilidade administrativa fundamenta-se na capacidade que têm as pessoas jurídicas de direito público de impor condutas aos administrados. Esse poder administrativo é inerente à Administração de todos os entes ou pessoas políticas– União, Estados, Distrito Federal e Municípios –, nos limites das respectivas competências institucionais. 9 ADI-MC 3540 / DF- Tribunal Pleno – Min. Relator Celso de Mello- Publicação 03/02/2006 – diário nº 00014. Princípios mais importantes Princípio da prevenção: sobre o meio ambiente, a Constituição Federal se fundamenta no princípio da prevenção, que é aquele que determina a adoção de políticas públicas de defesa dos recursos ambientais como uma forma de cautela em relação à degradação ambiental. Da mesma forma a lei nº 6.938/1981 também consagra o princípio da prevenção ao dispor nos incisos III, IV e V do art. 4º, que a Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais, o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais e a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. Princípio da precaução: estabelece a vedação de intervenções no meio ambiente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas conclusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos. Princípio do poluidor-pagador: estabelece que quem utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na imposição taxas abusivas, de maneira que nem Poder Público nem terceiros sofram com tais custos. Princípio da responsabilidade: esse princípio está previsto no § 3º do art. 225 da Constituição Federal, que dispõe que “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. A primeira parte do inciso VII do art. 4º da lei nº 6.938/1981 prevê o princípio da responsabilidade ao determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visará a imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados ao meio ambiente. O inciso IX do art. 9º dessa lei também prevê o princípio da responsabilidade ao classificar como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. Princípio do limite: destinado especificamente à administração pública. Assim, percebe-se como manifestação mais paupável da aplicação do princípio do limite ocorre com o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental concretizados na forma de limites de emissões de partículas, de limites aceitáveis de presença de determinadas substâncias na água etc. Somente são permitidas as práticas e condutas cujos impactos ao meio ambiente estejam compreendidos dentro de padrões previamente fixados pela legislação ambiental e pela Administração Pública. Esse controle ambiental se dá pela averiguação e acompanhamento do potencial de geração de poluentes líquidos, de resíduos sólidos, de emissões atmosféricas, de ruídos e do potencial de riscos de explosões e de incêndios. A Teoria Híbrida Em contraposição às posições relativas à adoção da Responsabilidade Objetiva e da Responsabilidade Subjetiva, pelas diversas correntes doutrinárias, surge um terceiro entendimento, propondo a adoção de um sistema híbrido de responsabilização do agente em caso de infração administrativa ambiental. Essa nova corrente, que tem como ponto principal a união da responsabilidade civil objetiva e da responsabilidade penal subjetiva, se diferencia de ambas ao adotar a teoria da culpa presumida na esfera da responsabilidade administrativa ambiental. Nessa linha de entendimento, manifesta-se a doutrina de Milaré:10 10 MILARÉ, E.; COSTA, P. A. JR.; COSTA, F. J. Direito Penal Ambiental. 2. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 178. Configurado um comportamento em tese subsumível a uma proibição de norma ambiental, há de se presumir, juris tantum, a responsabilidade do suposto infrator, o qual poderá, pela inversão do ônus da prova, demonstrar sua não culpa. Não se desincumbindo desse ônus, a presunção se transformará em certeza, ensejando a aplicação da sanção abstratamente considerada. Assim, pela Responsabilidade Híbrida ou Teoria da Culpa Presumida, deve o agente infrator, no decorrer do processo administrativo instaurado a partir da lavratura do Auto de Infração, demonstrar a falta do elemento subjetivo que enseje a manutenção da penalidade aplicada. Não o fazendo, a presunção relativa se transforma em certeza e a penalidade aplicada se torna definitiva. Percebe-se, assim, que a teoria da culpa presumida não leva em consideração que, ainda que lícita a conduta do agente, a mesma pode ensejar dano ambiental, ainda que potencial, deixando a responsabilização do mesmo e a necessidade de reparar o dano para a esfera civil. Infrações e sanções administrativas ambientais Entende-se por infração administrativa ambiental ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, sendo punida com as sanções da lei nº 9605/1998, sem prejuízo da aplicação de outras penalidades previstas na legislação. Assim, o agente público, ao lavrar o auto de infração e de apreensão, indicará a multa prevista para a conduta, bem como se for o caso, as demais sanções estabelecidas em lei, analisando-se a gravidade dos fatos, os antecedentes e a situação econômica do infrator. Deve ser destacado que qualquer pessoa, ao tomar conhecimento de alguma infração ambiental, poderá apresentar representação às autoridades integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama); já a autoridade ambiental, ao contrário, deverá promover imediatamente a apuração da infração ambiental sob pena de corresponsabilidade. A lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, disciplinou as infrações administrativas no Capítulo VI, em seus arts.70 a 76, tendo sido regulamentada pelo decreto nº 3.179/1999. Trata-se de lei federal que poderá ser suplementada pelos Estados (art.24, § 2º, da constituição federal de 1998) e pelos Municípios (art. 30, II, da constituição federal de 1998). No entanto, não poderá a norma suplementada alterar a lei federal, exceto para pormenoriza-la ou restringi-la. As sanções administrativas podem ser: a) Advertência; b) Multa simples; c) Multa diária; d) Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, e equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; e) Destruição ou inutilização do produto; f) Suspensão de venda e fabricação do produto; g) Embargo de obra ou atividade; h) Demolição de obra; i) Suspensão parcial ou total das atividades; j) Restritiva de direitos; k) Reparação dos danos causados. O processo administrativo Consiste em uma sucessão ordenada de operações que propiciam a formação de um ato final objetivado pela Administração. É o iter legal a ser percorrido pelos agentes públicos para a obtenção dos efeitos regulares de um ato administrativo principal. Vale ressaltar que o procedimento administrativo se desenvolve em diversas fases: a) a instauração do procedimento pelo auto de infração; b) a defesa técnica; c) a colheita de provas, se for o caso; d) a decisão administrativa; e e) eventualmente, o recurso. Esgotada a fase administrativa, o infrator poderá ainda utilizar-seda fase judicial, se ocorrer lesão ou ameaça de direito, consoante permissivo constitucional previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. Além disso, para a aplicação da sanção administrativa, a Administração Pública competente deverá estar revestida do poder de polícia ambiental. Realizada a autuação do infrator, o procedimento deverá se instaurado na órbita da Administração Pública competente, analisando os princípios constitucionais do processo judicial ou mais precisamente o direito à ampla defesa e ao contraditório. É importante observar que o procedimento administrativo para apuração de infração ambiental deverá analisar prazos máximos: a) vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da data da ciência da autuação; b) trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação; c) vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior dos órgãos integrantes do Sisnama, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação; e d) cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da notificação. Assim, com o fim desse prazo, deverá a Administração Pública promover a cobrança judicial do débito.
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