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Apostila de Responsabilidade Ambiental Civil, Penal e Administrativa

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Responsabilidade 
Ambiental Civil, Penal e 
Administrativa 
 
A Responsabilidade Civil Ambiental 
 
Dentre os diversos temas tratados na Constituição, um dos que merecem maior 
destaque é o que trata sobre a responsabilidade advinda dos danos causados ao 
meio ambiente. Dessa forma, deve-se perceber a teoria da responsabilidade em 
conexão com de alguns princípios do Direito Ambiental, como os da prevenção e da 
precaução; do poluidor-pagador e ainda o princípio da responsabilização integral, 
com o escopo de, não apenas punir os causadores do dano, mas principalmente 
servir como mecanismo de preservação do meio ambiente. 
 
Resumo da teoria geral da responsabilidade civil 
 
O conceito de responsabilidade civil está atrelado ao princípio do neminem laedere 
(não lesar ninguém), podendo ser caracterizado como o conjunto de medidas que 
obriguem o causador de um dano a efetuar a reparação do mesmo. Nesse sentido, 
manifesta-se Carlos Alberto Bittar:1 
 
O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica 
alheia acarreta ao agente a necessidade de reparação dos 
danos provocados. É a responsabilidade civil, ou obrigação 
de indenizar, que compele o causador a arcar com as 
consequências advindas da ação violadora, ressarcindo os 
prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de fato 
ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado. 
 
Também é necessário destacar que o dano pode ser uma resultante de ação ou 
omissão; sendo o atual entendimento doutrinário formado no sentido de se 
estabelecer as espécies de responsabilidade considerando-se a culpa e a natureza 
específica da norma violada, ou seja, a responsabilidade civil é classificada quanto à 
culpa, em subjetiva e objetiva, e, quanto à natureza da norma, em contratual e 
extracontratual. 
 
 
1 Bittar, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p. 561. 
A responsabilidade subjetiva se caracteriza pela presença do elemento culpa lato 
sensu (culpa estrito senso – imperícia, imprudência e negligência, mais o dolo); 
enquanto a responsabilidade objetiva prescinde da existência da culpa do agente. 
 
Na responsabilidade contratual, o dever violado é oriundo ou de um contrato ou de 
um negócio jurídico unilateral. Se duas pessoas celebram um contrato, tornam-se 
responsáveis por cumprir as obrigações que convencionaram. 
 
A responsabilidade extracontratual ou aquiliana tem por escopo a reparação dos 
danos decorrentes da violação de deveres gerais de respeito pela pessoa e bens 
alheios, tendo por fonte a lei e o ordenamento jurídico tomado como um todo 
sistêmico. 
 
A Responsabilidade civil ambiental 
 
 Pode-se dizer que a responsabilidade ambiental civil decorre, em um primeiro 
momento, de uma matriz constitucional que, expressamente dispõe no parágrafo 
terceiro do art. 225: 
Art. 225, §3º. As condutas e atividades consideradas lesivas 
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou 
jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos 
causados. 
 
Pode-se perceber que a parte final do dispositivo remete, de fato, à responsabilidade 
civil ambiental ao plano das garantias constitucionais; devendo ser destacado que há 
possibilidade da acumulação dos três tipos de responsabilidade, já que possuem 
natureza distintas. 
 
A responsabilidade civil ambiental caracteriza-se como objetiva e extracontratual, 
como se depreende da redação da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente – lei nº 
6.938, de 31 de agosto de 1981, no § 1° de seu Art. 14: 
 
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste 
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da 
existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos 
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua 
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá 
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e 
criminal, por danos causados ao meio ambiente. 
 
Annelise Monteiro Steigleder2 é uma defensora da aplicação da responsabilidade 
objetiva em matéria de dano ambiental: 
 
O dano ambiental possui como pressuposto a existência de 
uma atividade que implica riscos para a saúde e o meio 
ambiente, impondo-se ao empreendedor a obrigação de 
prevenir riscos (princípio da prevenção) e de internalizá-los 
em seu processo produtivo (princípio poluidor-pagador). 
 
Assim, fundada na responsabilidade objetiva, verifica-se que a caracterização da 
obrigação de reparar o dano independe do elemento culpa, bastando a presença do 
dano, do poluidor (causador do dano) e do nexo de causalidade entre a 
ação/omissão do agente e o dano. 
 
Entretanto, a caracterização do nexo de causalidade não é uma atividade muito 
simples; nesse sentido, mais uma vez apresenta-se Annelise Monteiro Steigleder:3 
 
A grande problemática envolvendo o nexo de causalidade na 
área ambiental é que o dano ambiental pode ser resultado 
de várias causas, concorrentes, simultâneas ou sucessivas, 
dificilmente tendo uma única e linear fonte. 
 
Em razão dessa dificuldade, os Tribunais e a doutrina vêm se posicionando pela 
adoção da Teoria do Risco Integral ou pela Teoria do Risco Criado. 
 
2 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade Civil Ambiental: as Dimensões do Dano Ambiental no 
Direito Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011, p. 171. 
3 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Op. cit. p. 172. 
 
 No risco integral, apresentam-se, como defensores, dentre outros. Tal entendimento 
é corroborado por Édis Milaré, Antônio Herman Benjamin, Jorge Alex Nunes Athia, 
Sérgio Cavalieri Filho, Nelson Nery Júnior e Sérgio Ferraz. Nesse entendimento, basta 
que, potencialmente, a atividade do agente possa acarretar prejuízo ecológico para 
que se inverta imediatamente o ônus da prova, para que imediatamente se produza 
a presunção de responsabilidade, reservando, portanto, para o eventual acionado o 
ônus de procurar excluir sua imputação. Nessa mesma direção, apresenta-se a 
doutrina de Nelson Nery Jr:4 
A indenização é devida independentemente de culpa e, mais 
ainda, pela simples razão de existir a atividade da qual 
adveio o prejuízo: o titular da atividade assume todos os 
riscos dela oriundos. Dessa maneira, não se operam, como 
causas excludentes de responsabilidade, o caso fortuito ou 
força maior. Ainda que a indústria tenha tomado todas as 
precauções para evitar acidentes danosos ao meio 
ambiente, se, por exemplo, explode um reator controlador 
da emissão de agentes químicos poluidores (caso fortuito), 
subsiste o dever de indenizar. Do mesmo modo, se por um 
fato da natureza ocorrer o derramamento de substância 
tóxica existente no depósito de uma indústria (força maior), 
pelo simples fato de existir a atividade há o dever de 
indenizar. 
 
Por outro lado, a Teoria do Risco Criado é apoiada, dentre outros, por Toshio Mukai, 
Von Adamek, Andreas Joachim Krell, Helita Barreiro Custódio e Fernando Noronha; e 
se diferencia, basicamente, da teoria do risco integral, por admitir os seguintes 
elementos excludentes da responsabilidade civil – culpa exclusiva da vítima, fato de 
terceiros e caso fortuito ou força maior. Tal teoria é alinhada à Teoria da Causalidade 
Adequada e tem como elemento central o perigo, devendo-se aferir se há liame 
causal entre a ação/omissão do agente e o dano. 
 
 
4 NERY JR. apud STEIGLEDER, op. cit. 
Assim, deve ser mais uma vez destacado que, relativamente ao tema, a doutrina e a 
jurisprudência adotam a tese da responsabilidade objetiva, fundada em duas 
abordagens distintas: as que admitem excludentes de responsabilidade (Teoria do 
Risco Administrativo, do Risco Criado, do Risco-Proveito, do Risco Atividade) e as que 
não admitem excludentes(Teoria do Risco Integral). 
 
Outro aspecto importante relacionado à responsabilidade ambiental civil é aquele 
relacionado ao princípio do Disregard of Legal Entity5 (princípio importado do direito 
norte-americano, que no Brasil é aplicado sob o nome de desconsideração da 
personalidade jurídica). Pode-se conceituar a desconsideração como sendo o 
remédio jurídico a ser aplicado para corrigir atos abusivos, ignorando 
momentaneamente a personalidade da sociedade para alcançar o cumprimento das 
obrigações na pessoa do sócio, alcançando os bens particulares deste. 
 
A desconsideração da personalidade jurídica pode ser percebida no direito brasileiro 
por meio de disposição expressa de lei (mesmo que, no caso, por meio da lei de 
crimes ambientais) – art. 4º, lei nº 9605/1998: “Poderá ser desconsiderada a pessoa 
jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos 
causados à qualidade do meio ambiente.” 
 
Dessa forma, têm-se como sujeitos passíveis de responsabilização ambiental cível, 
não apenas as pessoas naturais (pessoas físicas), mas ainda as pessoas jurídicas de 
direito privado e até mesmo entes públicos. 
 
A Responsabilidade Penal Ambiental 
 
Como já apresentado, a responsabilidade penal ambiental decorre diretamente do 
parágrafo terceiro do art. 225 da Constituição de outubro de 1988, e as respectivas 
sanções penais podem ser aplicadas cumulativamente com as sanções 
 
5 O julgamento da disregard doctrine mais antigo que se tem conhecimento ocorreu nos Estados Unidos no ano 
de 1809, no caso Bank of United States versus Deveaux, momento em que o juiz Marshall estendeu as 
obrigações da empresa aos sócios individualizados. KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da 
personalidade jurídica disregard doctrine e os grupos de empresa. Rio de Janeiro: Forense, 1995. 
administrativas e aquelas relativas ao dever de reparar o dano (responsabilidade 
civil). 
 
Assim, o primeiro e importante conceito a ser delimitado é aquele que caracteriza o 
bem jurídico penalmente tutelado – ou seja, essa delimitação é encontrada no 
próprio texto da Carta Magna: o Direito Penal Ambiental tem como bem 
juridicamente tutelado o meio ambiente ecologicamente equilibrado, abrangendo os 
ambientes natural, artificial e cultural. 
 
A Tipificação dos crimes ambientais 
 
Os crimes ambientais são tipificados na lei de crimes ambientais (lei nº 9605/1998), 
no Código Florestal (lei nº 12651/2012), em alguns artigos do Código Penal, na lei nº 
6453/1977 (responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades 
nucleares) e na lei nº 7643/1987 (criminaliza a pesca de cetáceos em águas 
brasileiras). 
 
É importante destacar o fato de que parte das normas penais ambientais 
caracterizam-se como normas penais em branco; assim, é necessária, para sua 
aplicação, a interpretação em conjunto com outras leis, inclusive de direito 
administrativo, e direito material específico de outras ciências para sua configuração 
e complementação. 
 
Outro ponto a ser destacado é aquele relativo ao polo passivo da relação penal 
ambiental, especificamente no que se refere ao tema da desconsideração da 
personalidade jurídica (arts. 3º e 4º, lei nº 9605/1998); ou seja, tanto pessoas físicas 
quanto pessoas jurídicas podem figurar como autoras de crimes ambientais. 
 
Interessante apresentar a manifestação dos Tribunais Superiores sobre a matéria, 
nas palavras do Ministro Gilson Dipp:6 
 
 
6 REsp 564.960/SC. 
... não obstante alguns obstáculos a serem superados, a 
responsabilidade penal da pessoa jurídica é um preceito 
constitucional, posteriormente estabelecido, de forma 
evidente, na Lei ambiental, de modo que não pode ser 
ignorado. Dificuldades teóricas para sua implementação 
existem, mas não podem configurar obstáculos para sua 
aplicabilidade prática na medida em que o Direito é uma 
ciência dinâmica, cujas adaptações serão realizadas com o 
fim de dar sustentação à opção política do legislador. Desta 
forma, a denúncia oferecida à pessoa jurídica de direito 
privado deve ser acolhida, diante de sua legitimidade para 
figurar no polo passivo da relação processual-penal. 
 
Outras inovações aduzidas pela lei de crimes ambientais: 
 Criminalização da pessoa do poluidor indireto,7 
 Fixação da responsabilidade solidária, 
 Criminalização das instituições financeiras, e 
 Valorização da participação do poder público. 
 
Com relação ao rol das penas cominadas na legislação ambiental penal, pode-se 
verificar: 
 
A) Penas aplicáveis às pessoas físicas: 
 
 Penas restritivas de liberdade – detenção, reclusão e prisão simples; 
 Penas restritivas de direito – na forma do art. 7º, lei nº 9605/1998, e 
 Pena de multa. 
 
B) Penas aplicáveis às pessoas jurídicas: 
 
No que se refere à cominação das penas aplicáveis às pessoas jurídicas, o art. 21, lei 
nº 9.605/1998 estabelece penas isoladas, alternativas e cumulativas. As penas 
 
7 Sobre o assunto, vale a leitura do artigo do Prof. Paulo de Bessa Antunes, “O Conceito de poluidor Indireto e a 
Distribuição de Combustíveis”, disponível em 
http://www4.jfrj.jus.br/seer/index.php/revista_sjrj/article/viewFile/581/406 
http://www4.jfrj.jus.br/seer/index.php/revista_sjrj/article/viewFile/581/406
isoladas afastam a incidência de outras penas; na alternativa, há mais de uma pena, 
mas apenas uma é aplicada e, é possível, ainda, a aplicação de mais de uma pena ao 
autor. 
 
 Pena de multa (esta não deve ser confundida com a multa administrativa; ou 
seja, por terem natureza diversa, é possível a aplicação da multa, de natureza 
criminal e, ao mesmo tempo, a multa de natureza administrativa), esta é 
revertida ao Fundo Penitenciário. 
 
 Penas restritivas de direito – estas estão elencadas no art. 22 da lei de crimes 
ambientais: suspensão, parcial ou total de suas atividades; interdição temporária 
de estabelecimento, obra ou atividades; e proibição de contratar com o poder 
público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. 
 
 Pena de prestação de serviços à comunidade – que pode, na 
impossibilidade da prestação, ser convertida em contribuição a entidades de 
natureza ambiental, cultural ou entidades públicas. 
 
Deve ser destacado que também é possível, no âmbito penal ambiental, aplicar-se à 
pessoa jurídica: pena de liquidação forçada (art. 24, lei nº 9605/98) – nessa 
hipótese, ocorre a extinção da pessoa jurídica e seu patrimônio é revertido para a 
União Federal; e, ainda, pena de apreensão de produtos. 
 
Os crimes ambientais na lei nº 9.605/1998 
 
De acordo com a lei de crimes ambientais, os crimes ambientais são classificados em 
cinco tipos diferentes: 
 
 Crimes contra a fauna (arts. 29 a 37): se caracterizam pelas agressões 
cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como a caça, 
pesca, transporte e a comercialização sem autorização; os maus-tratos; a 
realização experiências dolorosas ou cruéis com animais quando existe outro 
meio, independente do fim. Também estão incluídas as agressões aos hábitats 
naturais dos animais, como a modificação, danificação ou destruição de seu 
ninho, abrigo ou criadouro natural. A introdução de espécimes animais 
estrangeiras no país sem a devida autorização também é considerado crime 
ambiental, assim como a morte de espécimes devido à poluição. 
 
 Crimes contra a flora (arts. 38 a 53): causar destruição ou dano à vegetação 
de Áreas de Preservação Permanente, em qualquer estágio, ou a Unidades de 
Conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, 
transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, 
corte, aquisição, venda, exposição para fins comerciais de madeira, lenha, carvãoe outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo 
com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente 
pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a 
regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou 
maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade 
privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização. 
 
 Poluição e outros crimes ambientais (arts. 54 a 61): todas as atividades 
humanas produzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será 
considerado crime ambiental passível de penalização a poluição acima dos limites 
estabelecidos por lei. Além desta, também é criminosa a poluição que provoque 
ou possa provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição 
significativa da flora. Assim como aquela que torne locais impróprios para uso ou 
ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do 
abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco 
de dano ambiental grave ou irreversível. São considerados crimes ambientais a 
pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em 
desacordo com a obtida e a não recuperação da área explorada; produção, 
processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, 
fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de 
substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas à saúde humana ou em desacordo com 
http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/dicionario-ambiental/27468-o-que-e-uma-area-de-preservacao-permanente
http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/dicionario-ambiental/27099-o-que-sao-unidades-de-conservacao
http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/dicionario-ambiental/27099-o-que-sao-unidades-de-conservacao
as leis; a operação de empreendimentos de potencial poluidor sem licença 
ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixam nessa categoria de 
crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou espécies que possam 
causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas. 
 Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 
65): ambiente é um conceito amplo, que não se limita aos elementos naturais 
(solo, ar, água, flora, fauna). Na verdade, o meio ambiente é a interação destes 
com elementos artificiais – aqueles formados pelo espaço urbano construído e 
alterado pelo homem – e culturais que, juntos, propiciam um desenvolvimento 
equilibrado da vida. Dessa forma, a violação da ordem urbana e/ou da cultura 
também configura um crime ambiental. Contra a administração ambiental (art. 66 
a 69): são as condutas que dificultam ou impedem que o Poder Público exerça a 
sua função fiscalizadora e protetora do meio ambiente, seja ela praticada por 
particulares ou por funcionários do próprio Poder Público. Comete crime 
ambiental o funcionário público que faz afirmação falsa ou enganosa, omitir a 
verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de 
autorização ou de licenciamento ambiental; ou aquele que concede licença, 
autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as 
atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do 
Poder Público. Também comete crime ambiental a pessoa que deixar de cumprir 
obrigação de relevante interesse ambiental, quando tem o dever legal ou 
contratual de fazê-la, ou que dificulta a ação fiscalizadora sobre o meio ambiente. 
A Responsabilidade Administrativa Ambiental 
 
A responsabilidade administrativa é objetiva, na forma do disposto no artigo 14, § 1º 
da lei nº 6.938/1981, sendo resultante da infração às normas administrativas, 
sujeitando-se o infrator a uma sanção de natureza, também, administrativa. No 
mesmo sentido, o artigo 2º, §10, do decreto nº 3.179/1999, estabelece que na 
responsabilidade administrativa, emprega-se a teoria objetiva, ou seja, esta 
independe da caracterização do elemento culpa do agente para haver 
responsabilização. 
A ação do Estado, em matéria ambiental e, em especial na área administrativa, está 
afeta ao chamado poder de polícia. É curioso notar que, o único conceito legal do 
que seja poder de polícia está expressamente disposto no art. 78 do Código 
Tributário Nacional: 
art. 78, CTN: considera-se poder de polícia a atividade da 
administração pública que, limitando ou disciplinando 
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou 
abstenção de fato, em razão de interesse público 
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, 
à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de 
atividades econômicas dependentes de concessão ou 
autorização do poder público, à tranquilidade pública ou ao 
respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos. 
 
Parágrafo único: considera-se regular o exercício do poder 
de polícia quando desempenhado pelo órgão competente 
nos limites da lei aplicável, com observância do processo 
legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como 
discricionária, sem abuso ou desvio de poder. 
 
Hely Lopes Meirelles8 assim conceitua o poder de polícia: 
 
... mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração 
Pública para conter os abusos do direito individual. Por esse 
mecanismo, o Estado detém a atividade dos particulares que 
se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar 
social, ao desenvolvimento e à segurança nacional. 
 
Assim, o poder de polícia consiste e se caracteriza como a atividade do Estado 
consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse 
público, tendo como fundamento ético-jurídico a incidência do princípio da 
supremacia do interesse público sobre o interesse privado, com as devidas limitações 
legais, éticas e morais pertinentes, para caracterização de seu regular exercício. 
 
 
8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. Rio de Janeiro: Malheiros, 2007, p. 131. 
Interessante colacionar a manifestação da jurisprudência, especificamente no que se 
alude à atuação do Estado, no que se refere à matéria ambiental:9 
 
... Lei ambiental – Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de 
terceira geração (ou de novíssima geração), que assiste a 
todo o gênero humano (RTJ 158-205-206). Incumbe, ao 
Estado e a própria coletividade, a especial obrigação de 
preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, 
esse direito de titularidade coletiva e de caráter 
transindividual (RTJ 164/ 156-161). Segundo a doutrina, a 
incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida 
por interesses empresariais nem ficar dependente de 
motivações de índole meramente econômica, ainda mais 
que se tiver presente que a atividade econômica, 
considerada à disciplina constitucional que a rege está 
subordinada, dentro outros princípios gerais, aquele que 
privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF art. 170, VI), que 
traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio 
ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço 
urbano) e de meio ambiente laboral. 
Assim, para efeito do cumprimento dos mandamentos constitucionais (“art. 225, § 3º 
– As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”), conclui-se que a 
responsabilidade administrativa fundamenta-se na capacidade que têm as pessoas 
jurídicas de direito público de impor condutas aos administrados. Esse poder 
administrativo é inerente à Administração de todos os entes ou pessoas políticas– 
União, Estados, Distrito Federal e Municípios –, nos limites das respectivas 
competências institucionais. 
 
 
 
9 ADI-MC 3540 / DF- Tribunal Pleno – Min. Relator Celso de Mello- Publicação 03/02/2006 – diário nº 00014. 
Princípios mais importantes 
 Princípio da prevenção: sobre o meio ambiente, a Constituição Federal se 
fundamenta no princípio da prevenção, que é aquele que determina a adoção 
de políticas públicas de defesa dos recursos ambientais como uma forma de 
cautela em relação à degradação ambiental. Da mesma forma a lei nº 
6.938/1981 também consagra o princípio da prevenção ao dispor nos incisos 
III, IV e V do art. 4º, que a Política Nacional do Meio Ambiente tem como 
objetivo o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de 
normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais, o desenvolvimento 
de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de 
recursos ambientais e a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, 
à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma 
consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade 
ambiental e do equilíbrio ecológico. 
 
 Princípio da precaução: estabelece a vedação de intervenções no meio 
ambiente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações 
adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas 
conclusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos. 
 
 Princípio do poluidor-pagador: estabelece que quem utiliza o recurso 
ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na 
imposição taxas abusivas, de maneira que nem Poder Público nem terceiros 
sofram com tais custos. 
 
 Princípio da responsabilidade: esse princípio está previsto no § 3º do art. 225 
da Constituição Federal, que dispõe que “As condutas e atividades 
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas 
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da 
obrigação de reparar os danos causados”. A primeira parte do inciso VII do 
art. 4º da lei nº 6.938/1981 prevê o princípio da responsabilidade ao 
determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visará a imposição ao 
poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos 
causados ao meio ambiente. O inciso IX do art. 9º dessa lei também prevê o 
princípio da responsabilidade ao classificar como instrumento da Política 
Nacional do Meio Ambiente as penalidades disciplinares ou compensatórias ao 
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da 
degradação ambiental. 
 Princípio do limite: destinado especificamente à administração pública. Assim, 
percebe-se como manifestação mais paupável da aplicação do princípio do 
limite ocorre com o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental 
concretizados na forma de limites de emissões de partículas, de limites 
aceitáveis de presença de determinadas substâncias na água etc. Somente 
são permitidas as práticas e condutas cujos impactos ao meio ambiente 
estejam compreendidos dentro de padrões previamente fixados pela 
legislação ambiental e pela Administração Pública. Esse controle ambiental se 
dá pela averiguação e acompanhamento do potencial de geração de poluentes 
líquidos, de resíduos sólidos, de emissões atmosféricas, de ruídos e do 
potencial de riscos de explosões e de incêndios. 
A Teoria Híbrida 
Em contraposição às posições relativas à adoção da Responsabilidade Objetiva e da 
Responsabilidade Subjetiva, pelas diversas correntes doutrinárias, surge um terceiro 
entendimento, propondo a adoção de um sistema híbrido de responsabilização do 
agente em caso de infração administrativa ambiental. Essa nova corrente, que tem 
como ponto principal a união da responsabilidade civil objetiva e da responsabilidade 
penal subjetiva, se diferencia de ambas ao adotar a teoria da culpa presumida na 
esfera da responsabilidade administrativa ambiental. 
Nessa linha de entendimento, manifesta-se a doutrina de Milaré:10 
 
10 MILARÉ, E.; COSTA, P. A. JR.; COSTA, F. J. Direito Penal Ambiental. 2. ed. revista, 
atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 178. 
Configurado um comportamento em tese subsumível a uma 
proibição de norma ambiental, há de se presumir, juris 
tantum, a responsabilidade do suposto infrator, o qual 
poderá, pela inversão do ônus da prova, demonstrar sua 
não culpa. Não se desincumbindo desse ônus, a presunção 
se transformará em certeza, ensejando a aplicação da 
sanção abstratamente considerada. 
Assim, pela Responsabilidade Híbrida ou Teoria da Culpa Presumida, deve o agente 
infrator, no decorrer do processo administrativo instaurado a partir da lavratura do 
Auto de Infração, demonstrar a falta do elemento subjetivo que enseje a 
manutenção da penalidade aplicada. Não o fazendo, a presunção relativa se 
transforma em certeza e a penalidade aplicada se torna definitiva. 
Percebe-se, assim, que a teoria da culpa presumida não leva em consideração que, 
ainda que lícita a conduta do agente, a mesma pode ensejar dano ambiental, ainda 
que potencial, deixando a responsabilização do mesmo e a necessidade de reparar o 
dano para a esfera civil. 
Infrações e sanções administrativas ambientais 
Entende-se por infração administrativa ambiental ação ou omissão que viole as 
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, 
sendo punida com as sanções da lei nº 9605/1998, sem prejuízo da aplicação de 
outras penalidades previstas na legislação. Assim, o agente público, ao lavrar o auto 
de infração e de apreensão, indicará a multa prevista para a conduta, bem como se 
for o caso, as demais sanções estabelecidas em lei, analisando-se a gravidade dos 
fatos, os antecedentes e a situação econômica do infrator. 
Deve ser destacado que qualquer pessoa, ao tomar conhecimento de alguma 
infração ambiental, poderá apresentar representação às autoridades integrantes do 
Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama); já a autoridade ambiental, ao 
contrário, deverá promover imediatamente a apuração da infração ambiental sob 
pena de corresponsabilidade. 
A lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, disciplinou as infrações administrativas no 
Capítulo VI, em seus arts.70 a 76, tendo sido regulamentada pelo decreto nº 
3.179/1999. Trata-se de lei federal que poderá ser suplementada pelos Estados 
(art.24, § 2º, da constituição federal de 1998) e pelos Municípios (art. 30, II, da 
constituição federal de 1998). No entanto, não poderá a norma suplementada alterar 
a lei federal, exceto para pormenoriza-la ou restringi-la. 
As sanções administrativas podem ser: 
a) Advertência; 
b) Multa simples; 
c) Multa diária; 
d) Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, 
petrechos, e equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; 
e) Destruição ou inutilização do produto; 
f) Suspensão de venda e fabricação do produto; 
g) Embargo de obra ou atividade; 
h) Demolição de obra; 
i) Suspensão parcial ou total das atividades; 
j) Restritiva de direitos; 
k) Reparação dos danos causados. 
O processo administrativo 
Consiste em uma sucessão ordenada de operações que propiciam a formação de um 
ato final objetivado pela Administração. É o iter legal a ser percorrido pelos agentes 
públicos para a obtenção dos efeitos regulares de um ato administrativo principal. 
Vale ressaltar que o procedimento administrativo se desenvolve em diversas fases: 
a) a instauração do procedimento pelo auto de infração; 
b) a defesa técnica; 
c) a colheita de provas, se for o caso; 
d) a decisão administrativa; e 
e) eventualmente, o recurso. 
Esgotada a fase administrativa, o infrator poderá ainda utilizar-seda fase judicial, se 
ocorrer lesão ou ameaça de direito, consoante permissivo constitucional previsto no 
art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. Além disso, para a aplicação da sanção 
administrativa, a Administração Pública competente deverá estar revestida do poder 
de polícia ambiental. 
Realizada a autuação do infrator, o procedimento deverá se instaurado na órbita da 
Administração Pública competente, analisando os princípios constitucionais do 
processo judicial ou mais precisamente o direito à ampla defesa e ao contraditório. 
É importante observar que o procedimento administrativo para apuração de infração 
ambiental deverá analisar prazos máximos: 
 a) vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de 
infração, contados da data da ciência da autuação; 
b) trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da 
data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação; 
c) vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior dos 
órgãos integrantes do Sisnama, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da 
Marinha, de acordo com o tipo de autuação; e 
d) cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da 
notificação. Assim, com o fim desse prazo, deverá a Administração Pública promover 
a cobrança judicial do débito.

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