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IMPOSTO DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR) A competência para a instituição do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR) consta do art. 153, III, da CRFB, além do que, no § 2o do mesmo artigo, a CF estabelece os critérios a serem observados na sua instituição: generalidade, universalidade e progressividade. Os arts. 43 a 45 do CTN estabelecem as normas gerais atinentes ao imposto sobre a renda e proventos, definindo os arquétipos para o fato gerador, base de cálculo e contribuintes. O Imposto sobre a Renda da Pessoa Fı́sica (IRPF) tem suporte, no âmbito da legislação ordinária, nas Leis n. 7.713/88 e n. 9.250/95, entre outras, sendo que a IN RFB n. 1.500/14 “dispõe sobre normas gerais de tributação relativas ao Imposto sobre a Renda das Pessoas Fı́sicas”. O Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurı́dica (IRPJ), por sua vez, tem suporte nas Leis n. 8.981/95 e n. 9.430/96, entre outras. A IN RFB n. 1.700/17 detalha o seu regime. O Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018, regulamenta a fiscalização, arrecadação e administração tanto do IRPF como do IRPJ e é designado RIR/18. O art. 153, III, da CRFB outorga competência à União para a instituição de imposto sobre “renda e proventos de qualquer natureza”. A extensão dos termos “renda” e “proventos de qualquer natureza” dá o contorno do que pode ser tributado e do que não pode ser tributado a tal tı́tulo. Na instituição do imposto, o legislador ordinário não pode extrapolar a amplitude de tais conceitos, sob pena de inconstitucionalidade. A renda é o acréscimo patrimonial produto do capital ou do trabalho. Proventos são os acréscimos patrimoniais decorrentes de uma atividade que já cessou. “Acréscimo patrimonial”, portanto, é o elemento comum e nuclear dos conceitos de renda e de proventos, ressaltado pelo próprio art. 43 do CTN na definição do fato gerador de tal imposto. Está bastante sedimentada, ainda, a jurisprudência no sentido de que as indenizações não ensejam a incidência de imposto de renda. Isso porque não implicam acréscimo patrimonial, apenas reparam uma perda, constituindo mera recomposição do patrimônio, conforme o STF, RE 188.684-6/SP. Embora sujeito à anterioridade de exercício estabelecida pelo art. 150, III, b, da CF, o Imposto de Renda foi excepcionado da necessidade de observância da anterioridade nonagesimal mı́nima de que cuida a alı́nea c do mesmo inciso, conforme se vê do § 1o do art. 150, de modo que a majoração ocorrida ao final de determinado ano poderá produzir efeitos relativamente ao perı́odo a se iniciar em 1o de janeiro seguinte independentemente de haver ou não o interstı́cio de noventa dias entre a publicação da lei e a virada do exercı́cio. A generalidade é critério a ser observado na instituição do Imposto de Renda. Conforme DIFINI: “Generalidade significa que o tributo deve abranger todos os contribuintes que pratiquem o ato ou estejam em igual relação com o fato descrito na hipótese de incidência. Outro critério a ser observado é a universalidade, segundo o qual o imposto de renda deve abranger quaisquer rendas e proventos auferidos pelo contribuinte. Ed este, também, o entendimento de DIFINI: “[...] universalidade significa incidir o tributo sobre todos os fatos descritos na hipótese de incidência (no caso do imposto de renda, incidir indistintamente sobre diversas espécies de rendimentos)”. Em face do critério constitucional da universalidade, ter-se-ia de considerar a totalidade das rendas do contribuinte como uma unidade, sem estabelecer distinções entre tipos de rendas para efeito de tributação diferenciada. A progressividade, por sua vez, é critério que exige variação positiva da alı́quota à medida que há aumento da base de cálculo. De fato, ocorre progressividade quando há diversas alı́quotas graduadas progressivamente em função do aumento da base de cálculo: quanto maior a base, maior a alı́quota. Como imposto de natureza pessoal, o IR deve necessariamente ser graduado segundo a capacidade econômica do contribuinte também por força de determinação expressa constante do art. 145, § 1o, da CRFB. A progressividade, aliás, serve de instrumento para a tributação da renda conforme a capacidade contributiva. O CTN dispõe sobre o aspecto material (fato gerador) do imposto, dizendo que é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza: “Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurı́dica: I – de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II – de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. § 1o A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurı́dica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção. (Parágrafo incluído pela LC 104, de 10.1.2001) § 2o Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo. (Parágrafo incluído pela LC 104, de 10.1.2001)”. Aquisição é o ato de adquirir, ou seja, de obter, conseguir, passar a ter. Disponibilidade é a qualidade ou estado do que é disponı́vel, do que se pode usar livremente, é a “qualidade dos valores e tı́tulos integrantes do ativo de um comerciante, que podem ser prontamente convertidos em numerário” Sujeito ativo do imposto sobre a renda é a própria União, cabendo a administração do imposto à Secretaria da Receita Federal. Quanto aos contribuintes, dispõe o CTN: “Art. 45. Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que se refere o artigo 43, sem prejuı́zo de atribuir a lei essa condição ao possuidor, a qualquer tı́tulo, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis. Parágrafo único. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e recolhimento lhe caibam”. No Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), considera-se ocorrido o fato gerador em 31 de dezembro do ano-calendário, embora haja a determinação de antecipações anuais, sujeitas a posterior ajuste. No IRPJ, tem-se período de apuração trimestral, podendo a pessoa jurı́dica que pagar com base no lucro real fazer opção pelo período anual, com antecipações mensais. No imposto trimestral, considera-se ocorrido fato gerador ao final de cada trimestre. civil; no anual, em 31 de dezembro do ano-calendário. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) O art. 153, IV, da CRFB outorga competência à União para a instituição de imposto sobre “produtos industrializados”, o IPI. Combinando-se tal dispositivo com o § 2o, I, do mesmo artigo, depreende-se que pode ser tributada a “operação” com “produtos industrializados”. A palavra industrializado designa o que se industrializou, ou seja, o que foi objeto de indústria. O parágrafo único do art. 46 dispõe no sentido de que se considera industrializado o produto “que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo”. O art. 3o, parágrafo único, daLei n. 4.502/64, refere que se considera industrialização “qualquer operação de que resulte alteração da natureza, funcionamento, utilização, acabamento ou apresentação do produto. O § 1o do art. 150 da CRFB estabelece exceção à anterioridade de exercı́cio relativamente ao IPI, mas não à anterioridade nonagesimal, restando, pois, submetida a esta a instituição e a majoração do imposto. Já o § 3o do art. 153 estabelece que o IPI será seletivo e não cumulativo, imuniza os produtos destinados ao exterior e determina a redução do seu impacto sobre a aquisição de bens de capital. O critério da seletividade constitui uma imposição constitucional, e não uma faculdade do legislador, nos termos do inciso I do § 3o do art. 153 da CF. As alı́quotas deverão variar em função da essencialidade do produto, sob pena de inconstitucionalidade. Ser seletivo implica ter alı́quotas diferenciadas dependendo do produto (individualmente considerado) ou do tipo de produto (se alimentı́cio, de higiene, têxtil etc.), sendo que o critério para tal seletividade é dado pelo próprio constituinte: o grau de essencialidade do produto. A seletividade não se confunde com a progressividade, em que se tem simples agravamento do ônus tributário conforme aumenta a base de cálculo. Impostos sobre Operações de Crédito, Câmbio, Seguro ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) O art. 153, V, da CRFB outorga competência à União para a instituição de imposto sobre “operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a tı́tulos ou valores mobiliários” . Vê-se, de pronto, que não se trata de uma única base econômica outorgada à tributação, mas de quatro bases econômicas: • operações de crédito; • operações de câmbio; • operações de seguro; • operações relativas a tı́tulos ou valores mobiliários. A CRFB não prevê a base econômica “operações financeiras”. De qualquer modo, é usual, inclusive na legislação tributária, o uso da locução “Imposto sobre Operações Financeiras – IOF” para designar o conjunto de tais impostos previstos no art. 153, V, da CRFB. Imposto sobre Importação (II) O art. 153, I, da CF outorga competência à União para instituir imposto sobre “importação de produtos estrangeiros”. Os arts. 19 a 22 do CTN estabelecem o âmbito possı́vel de seu fato gerador, base de cálculo e contribuintes. A instituição do Imposto sobre Importação consta do Decreto- Lei n. 37/66, editado com força de lei e ainda em vigor. Ed regulamentado pelo Decreto n. 6.759/09. Importação é o ato de trazer para o território nacional ou, como diz AUREd LIO, “fazer vir de outro paı́s [...]” . Mas, em seu sentido jurı́dico, não basta o simples ingresso fı́sico. Ed imprescindı́vel a entrada no território nacional para incorporação do bem à economia interna, seja para fins industriais, comerciais ou mesmo de consumo. Produto é termo amplo que abrange tanto mercadorias (que têm finalidade comercial) como outros bens (destinados ao uso ou consumo pelo importador). Estrangeiro, por sua vez, designa o produto que tem origem em outro paı́s, nele tendo sido produzido pela natureza ou pela ação humana. Não se confunde com o produto nacional que eventualmente retorne ao paı́s, que não pode ser tributado a tı́tulo de II, sob pena de inconstitucionalidade. O fato gerador (aspecto material da norma de incidência) é delimitado pelo art. 19 do CTN: “Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional”. O art. 1o do Decreto-Lei n. 37/66, que institui o Imposto de Importação, por sua vez, dispõe: “Art. 1o O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional. Considera-se ocorrido o fato gerador, como regra, na data do registro da declaração de importação (aspecto temporal), realizado eletronicamente através do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). Imposto sobre Exportação (IE) O art. 153, II, da CRFB outorga competência à União para a instituição de imposto sobre “exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados”. Os arts. 23 a 28 do CTN estabelecem as normas gerais atinentes ao Imposto sobre a Exportação, definindo o arquétipo para o fato gerador, base de cálculo e contribuintes. O diploma básico do Imposto sobre a Exportação é o Decreto-Lei n. 1.578/77, que instituiu o imposto, dispondo sobre todos os elementos da sua hipótese de incidência. Exportação é o envio de produto para fora do território nacional. O termo produtos abrange tanto a mercadoria (com destinação comercial) como outros bens (para consumo, incorporação ao ativo fixo etc.), além do que abrange tanto os produtos da ação humana (produtos manufaturados, industrializados etc.) como os da própria natureza (produtos primários). Nacionais são os produtos produzidos no território nacional, enquanto nacionalizados são os produtos que tenham sido produzidos fora, mas importados para o território nacional para uso industrial, comercial ou consumo. O Imposto sobre a Exportação pode recair tanto sobre a saı́da de produtos nacionais como de produtos nacionalizados, mas não sobre a saı́da de produto estrangeiro que tenha entrado no paı́s apenas para participação em uma feira ou para simples trânsito pelo território nacional, pois, nestes casos, nem chegou a ser “nacionalizado”. O art. 23 do CTN estabelece o possı́vel fato gerador do Imposto sobre a Exportação: “Art. 23. O imposto, de competência da União, sobre a exportação, para o estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato gerador a saída destes do território nacional”. O Decreto-Lei n. 1.578/77, que institui o Imposto sobre a Exportação, repete o CTN, dispondo em seu art. 1o, com as alterações das Leis n. 9.019/95 e 9.716/98: “Art. 1o O Imposto sobre a Exportação, para o estrangeiro, de produto nacional ou nacionalizado tem como fato gerador a saı́da deste do território nacional”. Imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR) O art. 153, III, da CRFB outorga competência à União para a instituição de imposto sobre “propriedade territorial rural” A propriedade é o mais amplo dos direitos reais, envolvendo a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Ed como aparece retratada no art. 1.228 do Código Civil (Lei n. 10.406/02)757 e que já constava do art. 524 do Código Civil de 1916. Ed esta revelação de riqueza que foi apontada pela Constituição como capaz de ensejar a sujeição do seu titular a um imposto de competência da União com fundamento no seu art. 153, VI. Assim, não obstante toda a prática em sentido contrário e mesmo a letra do art. 29 do CTN, o legislador só poderia indicar como contribuinte o proprietário, e não o titular de outros direitos reais menos densos e que não revelam riqueza na condição de proprietário, ainda que seus titulares exerçam prerrogativas tı́picas do proprietário. Nesses casos, sempre serão prerrogativas parciais ou temporárias como no direito de superfı́cie, nas servidões, no usufruto, no uso e no direito do promitente comprador, previstos no art. 1.225, II a VII, do Código Civil (Lei n. 10.406/02). O adjetivo territorial indica que a competência é para a tributação dagrandeza dimensionada pela propriedade da terra nua, diferentemente do que se tem no art. 156, I, em que a CRFB, ao definir a base econômica de competência dos Municı́pios, refere-se à propriedade “predial e territorial” urbana. A Lei n. 9.393/96, aliás, estabelece a incidência do ITR sobre a propriedade de imóvel por natureza, apontando, como base de cálculo, o valor da terra nua tributável (VTNt). A palavra rural, por sua vez, é adjetivo que designa o que é próprio do campo, em oposição ao que é próprio da “cidade”. Imóvel rural é o que se de imposto sobre “propriedade territorial rural”. Se, de um lado, é certo dizer que o imóvel rural normalmente é destinado às atividades agropastoris, de outro é preciso deixar claro que o critério para a distinção de imóveis rurais de imóveis urbanos é o da localização, e não o da destinação, sendo relevante para tanto a análise do plano diretor de cada Municı́pio. Deve-se, ainda, contrastar o plano diretor com o art. 32, § 1o, do CTN que, ao estabelecer os requisitos mı́nimos de infraestrutura urbana para a consideração do que seja zona urbana (e, a contrario sensu, o que seja zona rural), previne conflitos de competência e dá elementos objetivos para que se resolvam os conflitos que porventura surgirem. Mas o STJ tem aplicado o art. 15 do Decreto-Lei n. 57/66 que, estabelecendo exceção ao art. 29 do CTN, submete ao ITR também o imóvel situado na cidade, mas que esteja sendo destinado a atividade rural, conforme se vê, adiante, quando cuidamos do fato gerador desse imposto. O texto constitucional, no § 4o do art. 153, com a redação da EC 42/03, também estabelece critérios a serem observados por ocasião da instituição do ITR. Refere, em primeiro lugar, que “será progressivo e terá suas alı́quotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas” (inciso I do § 4o do art. 153). Isso enseja tanto o estabelecimento de alı́quota maior à medida que aumenta a base de cálculo (progressividade), como a utilização extrafiscal do ITR, de modo que seja mais onerado o proprietário que não dê destinação econômica ao seu imóvel rural, produza apenas em parte do mesmo ou com baixo rendimento. O STF entende válida a progressividade estabelecida pela Lei 9.393/96, “que leva em conta, de maneira conjugada, o grau de utilização (GU) e a área do imóvel”.