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SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL (SUA) É a denominação utilizada atualmente para nomear as alterações da menstruação decorrentes de aumento no volume, na duração ou na frequência. Termos como hemorragia uterina disfuncional ou menorragia estão abandonados. Tem grande importância pela sua frequência e por afetar negativamente aspectos físicos, emocionais, sexuais e profissionais, piorando a qualidade de vida das mulheres. Esse sangramento anormal pode ter repercussão em diversos sistemas. O quadro abaixo relaciona o sangramento anormal e as diversas repercussões. Em 2011, um grupo de especialistas da FIGO propôs uma classificação para as desordens que causam o SUA, que facilitou seu entendimento, avaliação e tratamento, além de possibilitar comparações entre dados da literatura científica. Esse esquema é conhecido como PALM-COEIN, onde cada uma das letras denomina uma das etiologias do sangramento (Figura 2). O “sistema” PALM-COEIN é aplicáveis uma vez excluídas causas de sangramento relacionadas à gravidez. Após a exclusão de gestação, a evolução inicial inclui história detalhada do sangramento e de antecedentes, com foco em fatores de risco para câncer de endométrio, coagulopatias, medicações em uso, doenças concomitantes, além de exame físico completo, com foco em sinais da síndrome dos ovários policísticos, resistência insulínica, doenças da tireoide, petéquias, equimoses, lesões da vagina ou colo do útero, além de tamanho do útero. Para investigação complementar, pode-se utilizar hemograma, dosagem de ferritina e ultrassonografia pélvica. CAUSAS ESTRUTURAIS P- PÓLIPOS: Iniciando com as causas estruturais, temos os PÓLIPOS endometriais e endocervicais, sendo mais comum em pacientes na perimenopausa/menopausa, sendo que a idade avançada pode ser considerada um fator de risco, juntamente com a obesidade e pólipos acima de 1,5 cm. O pólipo uterino, também chamado de pólipo endometrial, é um crescimento excessivo de células que acontece na parede do útero, que leva à formação de pequenas bolinhas, semelhantes a cistos, que se desenvolvem para o interior do útero. Nos casos em que o pólipo aparece no colo do útero, pode ser também chamado de pólipo endocervical. A visualização desses pólipos pode ser realizada por meio de ultrassonografia transvaginal, histeroscopia ou histerossonografia. O pólipo uterino não é câncer mas, em alguns casos, pode transformar-se numa lesão maligna, por isso, é importante fazer uma avaliação regular com o ginecologista a cada 6 meses, para verificar se o pólipo aumentou ou diminuiu de tamanho, se surgiram novos pólipos ou se desapareceu. O tratamento dessa condição geralmente é conservador, a menos que a paciente seja sintomática, tenha a presença de múltiplos pólipos ou um pólipo endocervical prolapsado, nesses casos devem ser avaliados juntamente com o médico para realização da exérese do pólipo. A- ADENOMIOSE: Dando continuidade, a ADENOMIOSE, é uma patologia caracterizada por uma invasão benigna de tecido endometrial no miométrio, causando uma rotura da zona juncional (ZJ) que é a região limite entre essas duas camadas do útero, ou seja, é uma doença onde ocorre um espessamento dentro das paredes do próprio útero provocando sintomas como dor, sangramento ou cólicas fortes, especialmente durante a menstruação. Dessa forma, a sintomatologia associada a essa patologia podem ser muito diferenciada, as pacientes podem apresentar, por exemplo, dismenorreia, aumento do volume do sangramento menstrual. Esta doença tem cura através da cirurgia para retirada do útero, porém, este tipo de tratamento só é feito quando os sintomas não conseguem ser controlados com remédios anti- inflamatórios ou hormônios, por exemplo. Os principais sintomas da adenomiose são: Inchaço da barriga; Cólicas muito fortes durante a menstruação; Dor durante a relação íntima; Aumento da quantidade e duração do fluxo menstrual; Prisão de ventre e dor ao evacuar. O diagnóstico Deve ser clínico e através de exames de imagem como o USG transvaginal e ressonância magnética. Os tratamentos mais utilizados são: 1. Tratamento com anti-inflamatórios, como Cetoprofeno ou Ibuprofeno, para o alivio da dor e inflamação; 2. Tratamento com remédios hormonais, como pilula anticoncepcional com progesterona, Danazol, adesivo anticoncepcional, anel vaginal ou DIU, por exemplo; 3. Cirurgia de retirada do excesso de tecido endometrial dentro do útero, em casos onde a adenomiose esta localizada numa determinada região do útero e não se encontra muito penetrada dentro do músculo; 4. Cirurgia para retirada do útero, onde é feita uma histerectomia total, para remoção completa do útero. Nesta cirurgia, geralmente os ovários não precisam de ser removidos. Adenomiose x gravidez A adenomiose pode provocar complicações graves na gravidez, como gravidez ectópica ou aborto, por exemplo, sendo recomendado o acompanhamento regular do obstetra, para que sejam evitadas essas complicações. Além disso, em alguns casos a adenomiose, pode dificultar a fixação do embrião no útero, dificultando assim a gravidez. Os sintomas de adenomiose aparecem geralmente após a gravidez, devido ao estiramento do útero que acontece, e por isso, a maioria das mulheres consegue engravidar e ter filhos antes do aparecimento da doença. L- LEIOMIOMAS: É um tipo de tumor benigno que surge no miométrio. Esse tipo de tumor é originado de células musculares lisas do útero e contém quantidade variável de tecido conjuntivo fibroso. Os miomas são costumeiramente descritos de acordo com sua localização. São tumores benignos da musculatura lisa uterina, estão mais comumente presentes em mulheres no período reprodutivo e tem uma regressão na menopausa. Dois componentes distintos contribuem para o desenvolvimento do leiomioma: transformação de miócitos normais em miócitos anormais e crescimento de miócitos anormais em tumores clinicamente aparentes. Provavelmente, vários fatores desempenham um papel nessa transformação e na aceleração do crescimento dos leiomiomas. Os miomas são costumeiramente descritos de acordo com sua localização: 1. Intramurais: desenvolvem-se dentro da parede uterina e podem ser grandes o suficiente a ponto de distorcer a cavidade uterina e a superfície serosa; 2. Submucosos: derivam de células miometriais localizadas imediatamente abaixo do endométrio e frequentemente crescem para a cavidade uterina; 3. Subserosos: originam-se na superfície serosa do útero e podem ter uma base ampla ou pedunculada e ser intraligamentares; e 4. Cervicais: localizados na cérvice uterina. Fatores de risco são: Menarca precoce IMC alto História familiar positiva sendo que, a pós- menopausa e o uso de anticoncepcionais orais. Sintomas A maioria das mulheres é assintomática. Sangramento uterino anormal Dor pélvica Infertilidade Diagnóstico de leiomioma O diagnóstico de miomas uterinos é usualmente baseado no achado de um útero aumentado, móvel e com contornos irregulares ao exame bimanual ou um achado ultrassonográfico, por vezes casual. Exames de imagem são necessários para confirmação diagnóstica e definir localização do tumor. A ultrassonografia transvaginal é a modalidade de imagem mais amplamente utilizada para avaliação de miomas devido à sua disponibilidade e custo-benefício. A ultrassonografia com infusão de solução salina (sonohisterografia) melhora a caracterização da extensão da protrusão na cavidade endometrial por miomas submucosos e permite a identificação de algumas lesões intracavitárias não vistas na ultrassonografia de rotina. Tratamento de leiomioma Mulherescom miomatose assintomática não necessitam tratamento, apenas acompanhamento e exame ginecológico de rotina, exceto aquelas com miomas muito volumosos ou que provoquem compressão ureteral. O tratamento das pacientes com miomas sintomáticos deve ser individualizado, levando-se em consideração a idade da paciente (proximidade da menopausa), o desejo de gestação, os sintomas provocados, o tamanho e a localização dos miomas. O objetivo do tratamento clínico é o alívio dos sintomas. Os análogos do GnRH são medicações efetivas no tratamento clínico, levando à redução de 35-60% do volume dos miomas em três meses. Caso não seja realizada a cirurgia, a interrupção do tratamento com análogos leva ao reaparecimento da doença. Estrógenos, progestágenos e antiprogestágenos são eficazes para correção do sangramento uterino disfuncional. No entanto, não são utilizados para diminuir o volume dos miomas. O tratamento definitivo da miomatose sintomática é cirúrgico. A histerectomia está indicado nos casos de pacientes com presença de sintomas associado a sangramento uterino anormal, com falha no tratamento clínico e com prole constituída ou sem desejo de gestação. A indicação de miomectomia dependerá do desejo da paciente de manter a fertilidade e o útero. É importante ressaltar que a recorrência de miomas é estimada entre 15-30%, sendo que 10% das mulheres necessitam de uma nova intervenção. A miomectomia pode ser laparotômica, por via vaginal, laparoscópica ou histeroscópica, dependendo da localização, do tamanho e do número de miomas a serem retirados. Leiomiomas x gravidez Quando sintomáticos, geralmente apresentam sintomas de sangramento uterino anormal e / ou dor / pressão pélvica. Miomas uterinos também podem ter efeitos reprodutivos (por exemplo, infertilidade, resultados adversos na gravidez). , , tendo o diagnóstico apenas com o ultrassom. Pode ser realizado tratamento clínico ou se não houver resposta, pode-se optar por uma abordagem cirúrgica, dependendo sempre do número de miomas, localização e do seu tamanho. M- MALIGNIDADE: A última letra do mnemônico PALM diz respeito à MALIGNIDADE, em que os profissionais da saúde devem estar atentos ao sangramento pós-menopausa para avaliar se trata- se de uma atrofia endometrial ou de um câncer de endométrio, por exemplo. Por isso, torna-se essencial a realização de uma histeroscopia e biópsia para fazer a amostragem do tecido endometrial. Este câncer está normalmente associado à infecção por HPV, do tipo 6, 11, 16 ou 18, que é transmitido por via sexual e que promove alterações no DNA das células, favorecendo o desenvolvimento de câncer. No entanto, isso não significa que todas as mulheres que tiverem contato com esse vírus irão desenvolver câncer. Além disso, é a 4 ª Neoplasia mais frequente entre as mulheres no Brasil, mas com enorme potencial de prevenção e cura. Ela pode ser detectada preventivamente pelo exame Papanicolau e pode ser prevenida com a vacina Tetravalente (6 e 11,16 e 18). Além da infecção por HPV outros fatores podem favorecer o surgimento desse tipo de câncer, como: Início da vida sexual muito precoce; Ter vários parceiros sexuais; Não usar preservativo durante o contato íntimo; Ter alguma IST, como herpes genital, clamídia, ou AIDS; Ter tido vários partos; Má higiene pessoal; Uso prolongado de anticoncepcional oral por mais de 10 anos; Uso prolongado de remédios imunossupressores ou corticoides; Exposição à radiação ionizante; Já ter tido displasia escamosa da vulva ou da vagina; Baixa ingestão de vitamina A, C, betacaroteno e ácido fólico. CAUSAM NÃO ESTRUTURAIS Nesses casos, o aumento do fluxo menstrual pode ser o único sintoma apresentado pelas pacientes, tendo como início mais comum na menarca. Deve ser realizada uma história clínica completa, solicitar exames complementares como hemograma completo, TP, TTPA, TT e fibrinogênio. C- COAGULOPATIA: Seguindo para as causas não estruturais, a primeira condição são as COAGULOPATIAS, podendo ser elencado aqui doenças como a de Von-Willebran, alterações das plaquetas e alterações dos fatores de coagulação. Nesses casos, o aumento do fluxo menstrual pode ser o único sintoma apresentado pelas pacientes, tendo como início mais comum na menarca. Deve ser realizada uma história clínica completa, solicitar exames complementares como hemograma completo, TP, TTPA, TT e fibrinogênio. O– DISFUNÇÃO OVULATÓRIA Falta de ovulação, ovulação pouco frequente, falhas associadas a aproximação da menopausa, stress, perda ou ganho de peso, exercício excessivo, medicamentos. Disfunção ovulatória é anormalidade, irregularidade (com ≤ 9 menstruações/ano) ou ausência de ovulação. A menstruação geralmente está ausente ou irregular. O diagnóstico normalmente é possível pela história pessoal, confirmado pela medida dos níveis hormonais ou por ultrassonografia pélvica seriada. O tratamento é indução da ovulação por clomifeno ou outros fármacos. A disfunção ovulatória crônica em mulheres na pré-menopausa é mais comumente causada por: Síndrome do ovário policístico Hiperprolactinemia Disfunção hipotalâmico-hipofisária (mais comumente, amenorreia hipotalâmica funcional) Outras condições que podem causar anovulação (p. ex., diabetes, depressão, certos antidepressivos, exercício excessivo, uso de fármacos que contêm estrogênios ou progestinas) E- ENDOMETRIAIS: Disfunção Endometrial são algumas alterações do funcionamento normal do endométrio, que é a parede interna do útero. Podem ser causadas por disfunção primária endometrial, infecções/inflamações endometriais pela chamydia trachomatis ou pode ser também por anormalidades na resposta inflamatória local. I- IATROGENIA: Chamamos de iatrogenia as situações provocadas por tratamento prescrito pelo médico ou intervenções médicas, tais como terapêutica hormonal, anticoagulantes, medicamentos que interferem com a situação hormonal, DIU, etc. Pode ser uma causa de SUA decorrente, por exemplo, de medicamentos hormonais ou não hormonais e de contracepção intrauterina, por exemplo, uso de anticoncepcionais hormonais, DIU de cobre. Também, o uso de medicamentos como anticoagulantes, anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos, corticosteroides, tabagismo. N- NÃO CLASSIFICADAS São as causas mais raras. Nesse caso, pode ser, por exemplo, endometrite crônica, Istmocele, más formações arteriovenosas e hipertrofia miometrial. Como se trata de um assunto extenso e com diversas particularidades, deve-se ter uma atenção muito grande diante de uma paciente com sangramento uterino anormal. Lembrar sempre antes de tudo de excluir gravidez, realizar um exame físico e ginecológico completo para determinar a localização do sangramento, avaliar sempre a quantidade do sangramento. EXAMES COMPLEMENTARES Hemograma e ferritina: Solicitar a fim de verificar se há alterações decorrentes do sangramento. Avaliar se parâmetros hematimétricos estão em queda e a reserva de ferro também (anemia ferropriva presente). Coagulograma: Solicitar para todas as pacientes com história de sangramento menstrual aumentado desde a menarca ou história familiar de coagulopatia ou hemorragia pós-parto, ou sangramentos frequentes. Encaminhar para hemato se alterações estiverem presentes. Dosagem de TSH e T4 livre: Solicitar mediante suspeita clínica e na presença de outros sinais de disfunção tireoidiana. Ultrassonografia: É o primeiro método de escolha para avaliar anormalidades uterinas, devendo ser realizada preferencialmente por via vaginal (USGTV). Atentar para a espessura endometrial (considerada normal até 5mm, na pós menopausae para as usuárias de TRH até 8mm na pós menopausa; na menacme não há consenso sobre a espessura, mas utiliza-se até 12mm como normal na primeira fase do ciclo menstrual), para o miométrio, forma, contorno, volume do útero e anexos. Histerossonografia (HSS): Colocar solução salina durante a USG-TV para distender a cavidade uterina e ter melhor visão intracavitária. Método pouco utilizado atualmente, mas com boa acurácia para identificar anormalidades estruturais. Histeroscopia (HSC): é o método padrão ouro para investigação endometrial, permitindo visualização direta da cavidade endometrial e biópsia, caso necessária. Pode ser ainda terapêutica (polipectomias, lise de sinéquias etc). Deve ser indicada para a investigação de SUA quando USG TV sugerir alterações endometriais ou quando for inconclusiva. Ressonância Magnética (RM): Pode ser solicitada quando a USG TV é inconclusiva, mas não deve ser usada como método diagnóstico inicial. Biópsias de endométrio: É o método de análise padrão ouro para análise do endométrio, devendo ser solicitada para excluir neoplasias ou hiperplasias atípicas. É indicado se: sangramento intermenstrual persistente; SUA em mulheres >45 anos ou mediante falhas do tratamento clínico. O método ideal é via histeroscopia, mas pode ser feito por aspiração com cânula de Pipelle ou Cureta Novak (inferiores à histeroscopia por não realizar a biópsia de forma pontual, assim lesões focais podem passar despercebidas e permanecerem sem diagnóstico). MANEJO CLÍNICO - FASE AGUDA O manejo da fase aguda dependerá basicamente da faixa etária, do estado geral da paciente e do volume de sangramento. A terapia hormonal é considerada a primeira linha de tratamento para pacientes com SUA aguda. As opções de tratamento incluem contraceptivos orais combinados (ACOs) e progestagênios orais. Se houver hipovolemia, indica-se o uso de altas doses de estrogênio na paciente jovem e/ou curetagem, se a paciente possuir fatores de risco para câncer de endométrio. Não dispomos de estrogênios endovenosos no Brasil. Estrogênios orais em altas doses podem ser oferecidos a pacientes hemodinamicamente estáveis que podem tolerar a terapia oral sem distúrbios gástricos. Uma opção é o uso de EC 2,5 mg até quatro vezes ao dia durante 21 a 25 dias, seguido de acetato de medoxiprogesterona (10 mg/dia) por dez dias. Contraceptivos orais combinados (COC) com 30mcg de etinilestradiol, duas a quatro vezes ao dia, geralmente cessam o sangramento em 48 horas. Pode-se utilizar um esquema com redução gradativa das doses, com uso de cinco pílulas no primeiro dia, quatro no segundo, três no terceiro, duas do quarto e uma pílula por dia a partir do quinto dia e por pelo menos mais uma semana estes esquemas tendem a ser menos efetivos do que os de uso de estrogênio isoladamente porque os progestagênios inibem a síntese de receptores de progesterona. Progestagênios orais como o acetato de medroxiprogesterona 10 mg a 20 mg, duas vezes ao dia, ou noretindrona 5 mg, uma a duas vezes ao dia, é uma opção a ser considerada. Agentes antifibrinolíticos: Agem alargando o tempo de dissolução da rede de fibrina, com resposta mais rápida, preservando o coágulo. Recomenda-se o uso de 500 mg a cada oito horas, nos dias de maior sangramento, não excedendo cinco dias. Na maioria dos estudos, a dose de ácido tranexâmico variou de 1,5 a 4,5 gramas/dia por cinco dias. Suas ações ocorrem no intervalo de duas a três horas após a administração, e podem ser mais efetivos que os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) no tratamento da menorragia aguda. Curetagem uterina pode ser realizada tanto terapêutica como diagnóstica em pacientes com sangramentos agudos intensos. Uma limitação do procedimento é não tratar a causa da menorragia, que irá recorrer se não for iniciada outra terapia preventiva no pós-operatório. Tamponamento da cavidade uterina pode ser feito colocando-se, em seu interior, um cateter de Folley e enchendo seu balão com 10 ml a 30 ml de líquido. Após três horas, metade deste líquido é retirado e, se não houver mais sangramento por uma hora, pode-se retirar a sonda. Se o sangramento persistir, pode-se manter o balão por um período adicional de até 12 horas. MANEJO CLÍNICO – MANUTENÇÃO Após o controle adequado da fase aguda do sangramento vaginal, torna-se imperioso a introdução de medidas que possam garantir melhor regularidade do ciclo menstrual ou até a ausência completa do sangramento. A histerectomia não deve ser considerada como primeira linha de tratamento. Várias opções de tratamento estão disponíveis para o tratamento a longo prazo de SUA crônica. As terapias médicas eficazes incluem o sistema intrauterino de levonorgestrel, ACOs (ciclos mensais ou prolongados), terapia de progestina (oral ou intramuscular), ácido tranexâmico e anti- inflamatórios não esteroides. Se a mulher está usando estrogénios, deve- se adicionar progestina ou fazer a transição para ACOs. O estrogênio sem contraposição não deve ser usado como tratamento de longo prazo. Sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU- LNG) é um importante procedimento terapêutico, altamente recomendado, que consiste na inserção de um dispositivo intrauterino (DIU) medicado com levonorgestrel, com liberação de 20 mcg/dia por um período de 5 anos. Este método promove oligomenorréia na maioria das pacientes nos primeiros seis meses, acompanhado de amenorréia entre 71 a 96% das usuárias. Esta modalidade terapêutica pode representar uma redução de 60% nas indicações cirúrgicas nos casos de SUA. Contraceptivos orais combinados utilizados em regimes cíclicos mensais, contínuos ou com intervalos trimestrais, resultam em controle adequado dos sangramentos uterinos. Entre as inúmeras formulações contraceptivas estroprogestativas atualmente disponíveis, a combinação de valerato de estradiol e dienogeste em regime dinâmico, demonstrou evidente eficácia na redução do volume de sangramento quando comparado ao placebo em estudo multicêntrico, controlado e randomizado. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) também produzem diminuição do fluxo menstrual, sendo que estas reduções variam de 16,2% (ibuprofeno), 26,4% (naproxeno), 26,9% (diclofenaco) a 29% (ácido mefenâmico). Os AINE são menos efetivos que o ácido tranexâmico, e devem ser administrados com cautela em pacientes com história de distúrbios de coagulação. Progestagênio oral pode ser usado em mulheres com menorragia associada a ciclos menstruais irregulares por insuficiência lútea, no regime de 12 a 14 dias por mês. Esse uso não deve ser recomendado nos casos de aumento de fluxo menstrual associado a ciclos regulares, pois não há diferença deste regime terapêutico quando comparado com AINE, ácido tranexâmico e o sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG). Danazol: em função do alto custo e dos efeitos colaterais androgênicos não é recomendado rotineiramente no tratamento das menorragias. Análogo do Hormônio Liberador de Gonadotrofina (GnRH) reduz o sangramento menstrual, porém apresenta importantes efeitos colaterais como sintomas vasomotores perimenopáusicos, náuseas, cefaleias e redução da densidade mineral óssea. Recomendações finais • Na avaliação etiológica do SUA, sempre, seguir o acrômio PALM-COEIN. • Para diagnóstico do SUA, deve-se inicialmente excluir gravidez nas mulheres em idade fértil e realizar uma avaliação ultrassonográfica pélvica para verificar se o SUA é de etiologia estrutural ou não. • O tratamento do SUA depende de sua etiologia. Em geral, enquanto o SUA de etiologia estrutural é tratado cirurgicamente, o SUA não estrutural é tratado clinicamente.• O tratamento cirúrgico do SUA não estrutural está indicado na falha do tratamento clínico. • O SUA agudo com repercussão hemodinâmica requer estabilização da mulher antes da investigação etiológica. • No SUA agudo, em geral, a primeira linha de tratamento é medicamentosa, ficando o tratamento cirúrgico para a falha ou contraindicação a tratamento clínico ou nos casos de instabilidade hemodinâmica importante. A curetagem uterina, além de auxiliar na parada do sangramento agudo, fornece material para estudo histológico do endométrio. É relevante em mulheres na 5º década, obesas, hipertensas ou que já tenham feito uso repetitivo de esteroides sexuais. REFERENCIAS Sangramento uterino anormal. -- São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2017. Passos EP, Ramos JGL, Martins-Costa SH, Magalhães JA, Menke CH, & Freitas F. Rotinas em ginecologia. 7.ed. Brasil: Artmed; 2017. Lasmar, R. B. et al. Tratado de Ginecologia. 1ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2017.
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