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Nayara Brandão – MEDICINA UNIME – 6 º semestre. 1 Transtorno dismórfico corporal Definição: • O transtorno dismórfico corporal é caracterizado pela preocupação com um ou mais defeitos imaginados na aparência física; → Causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo em importantes áreas do funcionamento. → Se uma pequena anomalia física estiver de fato presente, a preocupação da pessoa com ela é excessiva e incômoda. • Antes esse transtorno era chamado de dismorfofobia. • No DSM-5, o transtorno dismórfico corporal está incluso nos transtornos do espectro obsessivo- compulsivo devido às suas semelhanças com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Epidemiologia • O transtorno dismórfico corporal é uma condição pouco estudada, em parte porque os pacientes tendem mais a procurar dermatologistas, internistas ou cirurgiões plásticos do que psiquiatras para tratar essa condição. • O DSM-5 relata uma prevalência de 2,4% nos Estados Unidos. Dados disponíveis indicam que a idade mais comum de início é entre os 15 e 30 anos e que as mulheres costumam ser mais afetadas do que os homens. Os indivíduos afetados também tendem a ser solteiros. • O transtorno dismórfico corporal coexiste comumente com outros transtornos mentais. → Um estudo observou que mais de 90% dos pacientes com transtorno dismórfico corporal haviam tido algum episódio depressivo maior ao longo de sua vida; em torno de 70% haviam tido um transtorno de ansiedade; e cerca de 30% haviam tido um transtorno psicótico. • A prevalência de transtorno dismórfico corporal é elevada em parentes de primeiro grau de indivíduos com TOC. • O transtorno dismórfico corporal foi associado a altas taxas de negligência e abuso infantil. Relação com cirurgia plástica – Artigo da revista brasileira de cirurgia plástica: O que o estudo nos diz? 1. Escassez de pesquisas com esse tema; 2. Mostrou que a prevalência do TDC em pacientes candidatos/ submetidos a procedimentos estéticos, comparando aqueles associados à especialidade da Cirurgia Plástica com aqueles que procuraram a especialidade da Dermatologia, constatando que a prevalência do TDC é maior em pacientes da Dermatologia (8,5%), quando comparados aos da Cirurgia Plástica (3,16%). 3. E mesmo que a margem seja maior para dermatologia, isso não dispensa a importância de os profissionais se atentarem à possibilidade de os pacientes da Cirurgia Plástica serem portadores de TDC. 4. Apesar de os pacientes relatarem satisfação com o resultado das cirurgias, a realização da mesma não foi eficaz na redução dos sintomas de TDC, sendo necessário tratamento psicológico e psiquiátrico. Isto posto, acredita-se que o correto diagnóstico e tratamento do TDC pode melhorar a autoestima e qualidade de vida dos pacientes de forma mais eficaz do que com a realização de procedimentos estéticos pela Cirurgia Plástica. Faz-se necessário um acompanhamento multidisciplinar (psiquiatra e psicólogo) dos pacientes candidatos a procedimentos estéticos da Cirurgia Plástica, de modo a melhor atendê-los e com vistas à obtenção de ótimos resultados, tanto para o paciente quanto para os profissionais envolvidos. Nayara Brandão – MEDICINA UNIME – 6 º semestre. 2 5. Com base na meta-análise realizada, pôde-se concluir que 12,5% dos pacientes que são candidatos/submetidos a procedimentos exclusivamente estéticos pela especialidade da Cirurgia Plástica são portadores de TDC, havendo uma prevalência de indivíduos do gênero feminino e com média de idade de 30 anos. Etiologia • A causa do transtorno dismórfico corporal é desconhecida. • A alta comorbidade com transtornos depressivos, uma história familiar maior do que a esperada de transtornos do humor e TOC e a responsividade relatada da condição a drogas específicas de serotonérgicas indicam que, pelo menos em alguns pacientes, a fisiopatologia do transtorno pode envolver a serotonina e estar relacionada a outros transtornos mentais. • Conceitos estereotipados de beleza enfatizados em certas famílias e na cultura podem afetar significativamente os indivíduos com transtorno dismórfico corporal. • Em modelos psicodinâmicos, esse transtorno é visto como o reflexo do deslocamento de um conflito sexual ou emocional a uma parte do corpo relacionada. Tal associação ocorre por meio dos mecanismos de defesa de repressão, dissociação, distorção, simbolização e projeção. Características clínicas: • As preocupações mais comuns envolvem defeitos faciais, em especial os relacionados a partes específicas → Pensando nas regiões com queixas mais frequente até menos frequente: nariz → cabelo → pele → olhos → cabeça → face → estrutura corporal geral → lábios → queixo → estomago → cintura → dentes → pernas → joelhos → seios → músculos peitorais → rosto → orelhas → bochechas → nádegas → pênis → braços → pulsos → pescoço → testa → músculo faciais → ombros → quadris. → Podem focar em uma ou mais áreas do corpo, mais comumente a pele (p. ex., percepção de acne, cicatrizes, rugas, palidez), os pelos (p. ex., cabelo “escasso” ou pelo corporal ou facial “excessivo”) ou o nariz (p. ex., o tamanho ou formato). No entanto, qualquer área do corpo pode ser foco de preocupação. • Às vezes, a preocupação é vaga e difícil de compreender, como uma preocupação extrema com um “queixo amassado”. → As falhas percebidas não são observáveis ou parecem apenas leves para outros indivíduos. → As preocupações variam desde parecer “sem atrativos” ou “não adequado” até parecer “hediondo” ou “como um monstro”. → Algumas pessoas são preocupadas com a percepção de assimetria de áreas corporais. → As preocupações são intrusivas, indesejadas, tomam tempo (ocorrendo, em média, de 3 a 8 horas por dia) e geralmente são difíceis de resistir ou controlar. → Inclusive, alguns estudos relatam que, os pacientes tendem a ter preocupações com quatro regiões do corpo durante o curso do transtorno. • Os comportamentos repetitivos ou atos mentais excessivos (p. ex., comparações) são executados em resposta à preocupação; → O indivíduo se sente compelido a executar esses comportamentos, os quais não são prazerosos e podem aumentar a ansiedade e a disforia. Eles geralmente tomam tempo e são difíceis de resistir ou controlar. → Os comportamentos comuns são: ✓ Comparar a própria aparência com a de outros indivíduos; ✓ Verificar repetidamente os defeitos percebidos em espelhos ou em outras superfícies refletoras ou examiná-los diretamente; Nayara Brandão – MEDICINA UNIME – 6 º semestre. 3 ✓ Arrumar-se de maneira excessiva (p. ex., penteando, barbeando, depilando ou arrancando os pelos); ✓ Camuflar (p. ex., aplicando maquiagem repetidamente ou cobrindo as áreas em questão com coisas como chapéu, roupas, maquiagem ou cabelo); ✓ Procurar tranquilização acerca do aspecto das falhas percebidas; ✓ Tocar as áreas em questão para verificá-las; ✓ Fazer exercícios ou levantamento de peso em excesso; e ✓ Procurar procedimentos estéticos. ✓ Alguns indivíduos se bronzeiam de forma excessiva (p. ex., para escurecer a pele “pálida” ou diminuir a acne percebida), ✓ Mudam constantemente de roupa (p. ex., para camuflar os defeitos percebidos) ou ✓ Compram de maneira compulsiva (p. ex., produtos de beleza). ✓ Arrancar a pele compulsivamente com a intenção de melhorar os defeitos percebidos é comum e pode causar lesões cutâneas, infecções ou ruptura de vasos sanguíneos. A!! A preocupação deve causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo; geralmente ambos estão presentes. O transtorno dismórfico corporal deve ser diferenciado de um transtorno alimentar. • Disformia muscular: → Uma variante proposta do transtorno dismórfico entre homens é o desejo de “aumentar” e desenvolver grande massa muscular,o que pode interferir na vida cotidiana, na manutenção do emprego ou na saúde. → A parte do corpo específica pode mudar durante o período em que o paciente é afetado pelo transtorno. → Em razão disso, o termo “dismorfia muscular”, é considerado como uma forma de transtorno dismórfico corporal que ocorre quase exclusivamente no sexo masculino; → Consiste na preocupação com a ideia de que o próprio corpo é muito pequeno ou insuficientemente magro ou musculoso. → Os indivíduos com essa forma de transtorno, na verdade, têm uma aparência corporal normal ou são ainda mais musculosos. Eles também podem ser preocupados com outras áreas do corpo, como a pele ou o cabelo. → A maioria (mas não todos) faz dieta, exercícios e/ou levanta pesos excessivamente, às vezes causando danos ao corpo. Alguns usam esteroides anabolizantes perigosos e outras substâncias para tentar deixar seu corpo maior e mais musculoso. • Transtorno dismórfico por procuração: → É uma forma de transtorno dismórfico corporal em que os indivíduos são preocupados com defeitos que eles percebem na aparência de outra pessoa. • Sintomas associados comuns incluem ideias delirantes ou delírios de referência (em geral sobre as pessoas percebendo o tal defeito corporal), olhar-se no espelho constantemente ou evitar superfícies reflexivas e tentativas de esconder a deformidade presumida (com maquiagem ou roupas). • Os efeitos na vida da pessoa podem ser significativos; quase todos os pacientes afetados evitam exposição social e ocupacional. • Até um terço dos pacientes pode se manter em casa por medo de ser ridicularizado pelas supostas deformidades, e aproximadamente um quinto deles tenta o suicídio. • Como discutido, diagnósticos comórbidos de transtornos depressivos e de ansiedade são comuns, os pacientes também podem apresentar traços de TOC, transtorno esquizoide e transtorno da personalidade narcisista. Nayara Brandão – MEDICINA UNIME – 6 º semestre. 4 Diagnóstico – Critérios do DSM5: • Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno dismórfico corporal estipulam preocupação com um defeito percebido na aparência ou ênfase excessiva em um pequeno defeito. • Ele também estabelece que, em algum momento do curso do transtorno, o indivíduo realizará comportamentos compulsivos (ex: olhar-se no espelho, arrumar-se em excesso) ou atos mentais (ex: comparar sua aparência à dos outros). • A preocupação causa sofrimento emocional significativo aos pacientes ou grande prejuízo em seu funcionamento em áreas importantes. Critérios do DSM5: A. Preocupação com um ou mais defeitos ou falhas percebidas na aparência física que não são observáveis ou que parecem leves para os outros. B. Em algum momento durante o curso do transtorno, o indivíduo executou comportamentos repetitivos (p. ex., verificar-se no espelho, arrumar-se excessivamente, beliscar a pele, buscar tranquilização) ou atos mentais (p. ex., comparando sua aparência com a de outros) em resposta às preocupações com a aparência. C. A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. D. A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações com a gordura ou o peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno alimentar. • Especificar se: → Com dismorfia muscular: O indivíduo está preocupado com a ideia de que sua estrutura corporal é muito pequena ou insuficientemente musculosa. → O especificador é usado mesmo que o indivíduo esteja preocupado com outras áreas do corpo, o que com frequência é o caso. • Especificar se: → Indicar o grau de insight em relação às crenças do transtorno dismórfico corporal (p. ex., “Eu pareço feio” ou “Eu pareço deformado”). Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno dismórfico corporal são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras. Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno dismórfico corporal são provavelmente verdadeiras. Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno dismórfico corporal são verdadeiras. Observação: O insight relativo às crenças do transtorno dismórfico corporal pode variar de bom até ausente/delirante (ex: crenças delirantes que consistem na completa convicção de que a visão que o indivíduo tem da sua aparência é precisa e não distorcida). Em média, o insight é pobre; um terço ou mais dos indivíduos atualmente tem crenças delirantes de transtorno dismórfico corporal. Aqueles com transtorno dismórfico corporal delirante tendem a ter maior morbidade em algumas áreas, mas isso parece ser justificado por sua tendência a ter sintomas mais graves. Nayara Brandão – MEDICINA UNIME – 6 º semestre. 5 Diagnóstico diferencial: • O diagnóstico de transtorno dismórfico corporal não deve ser feito se a preocupação corporal excessiva for mais bem explicada por outro transtorno psiquiátrico. • Preocupação corporal excessiva costuma ser restrita a preocupações com estar gordo, na anorexia nervosa; • Preocupação com o corpo pode ser desconforto ou com a sensação de que há algo errado com características sexuais primárias ou secundárias, no transtorno da identidade de gênero; • Indivíduos com transtorno da personalidade evitativa ou com fobia social podem se preocupar com constrangimentos devido a defeitos imaginários ou reais na aparência, mas essa preocupação não costuma ser proeminente, persistente, estressante ou comprometedora. • Apesar de indivíduos com transtorno dismórfico corporal terem preocupações obsessivas sobre sua aparência e comportamentos compulsivos associados (p. ex., olhar-se no espelho), um diagnóstico separado ou adicional de TOC só é feito quando as obsessões ou as compulsões não se restringem a preocupações com a aparência e são egodistônicas (significado da palavra: condição em que a atividade mental não está em conformidade com o ego ou com a imagem que alguém tem de si próprio) • Um diagnóstico adicional de transtorno delirante, tipo somático, pode ser feito em pessoas com transtorno dismórfico corporal apenas se suas preocupações com o defeito imaginado na aparência tiverem intensidade delirante. Curso e prognóstico: • O transtorno dismórfico corporal normalmente começa durante a adolescência, apesar de poder começar mais tarde, após uma insatisfação prolongada com o corpo. • A idade de início não é bem compreendida, porque há variação entre o início dos sintomas e a busca do tratamento. • O início pode ser gradual ou súbito. • O transtorno em geral tem um curso longo e ondulante, com poucos intervalos sem sintomas. • A parte do corpo em que a preocupação se foca pode permanecer a mesma ou mudar ao longo do tempo. Tratamento: • O tratamento de pacientes com transtorno dismórfico corporal com procedimentos cirúrgicos, dermatológicos, dentais e outros procedimentos médicos para tratar os supostos defeitos quase invariavelmente não dá resultado. Apesar de relatos de que drogas tricíclicas, inibidores de monoaminoxidase (IMAOs) e pimozida são úteis em alguns casos individuais, outros dados indicam que drogas específicas serotonérgicas – por exemplo, clomipramina e fluoxetina, reduzem (Prozac) – os sintomas em pelo menos 50% dos casos. • Qualquer paciente com um transtorno mental coexistente, tal como o depressivo ou o de ansiedade, deve ser tratado com a farmacoterapia e a psicoterapia adequadas. • Não se sabe por quanto tempo o tratamento deve ser continuado após os sintomas do transtorno dismórfico corporal terem entrado em remissão. → O aumento de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) com clomipramina, buspirona,lítio, metilfenidato ou antipsicóticos pode melhorar a frequência de resposta. Referências: RIBEIRO, R. F. E. et. al. Prevalência de transtorno dismórfico corporal em pacientes candidatos e/ou submetidos a procedimentos estéticos na especialidade de cirurgia plástica: uma revisão sistemática com meta-análise. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, vol. 32, n. 3, p. 428-434, 2017.