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É uma doença de elevada morbidade e mortalidade que necessita de intervenções precoces. Ocorre em 2 a 6% da população mundial. É uma doença de herança genética autossômica recessiva, sendo possível, portanto, possuir apenas o traço para esta doença (indivíduos heterozigotos). Estima-se que esse traço esteja presente em 1 a cada 35 nascidos vivos. Em geral, é normo ou homocrômica e normo ou microcítica, estando acompanhada de trombocitose e leucocitose discreta pela hiperplasia da medula óssea. Pode haver hemólise, sendo identificada pelo aumento de bilirrubina indireta, da desidrogenase lática e reticulócitos ou eritroblastos. A hemoglobina HbSS tem formato de foice ou de meia lua, o que leva a: Aderência das hemácias ao endotélio, reduzindo o tempo de vida Depleção do oxido nítrico vasoconstritor Isquemia, dor e necrose de órgão afetado Lesões microvasculares Ativação da inflamação e da coagulação (vaso- oclusão) Fatores desencadeantes para crise falciforme: desidratação, infecção, hipóxia, alterações de temperatura (exposição ao frio ou febre), estresse e acidose. Os primeiros sintomas aparecem por volta dos 6 meses, quando desaparece a hemoglobina fetal. Sinais de risco na doença falciforme Aumento súbito da palidez Piora da icterícia Distensão abdominal Hepatomegalia Esplenomegalia Hematúria Priapismo Dor sem resposta ao tratamento Tosse ou dificuldade respiratória Febre Alterações neurológicas Impossibilidade de ingerir líquidos Vômitos Diarreia Sinais de desidratação Tratamento Geral Objetivo: aumentar a sobrevida, melhorar a qualidade de vida, prevenir e tratar precocemente as complicações. Deve ser feito em serviços especializados, com uso da Hidroxiureia. Orientar os pais sobre sinais de riscos e de identificação precoce das complicações. Não são indicadas transfusões em caso de anemia crônica, crise dolorosa e infecções leves ou moderadas. Profilaxia: uso de penicilina (eritromicina, se alergia). Penicilina G benzatina 50.000 UI/kg/dose, a cada 21 dias. Penicilina oral: - Até 3 anos de idade ou 15kgs: 125mg 2x/dia. - 3 aos 5 anos ou 15 a 25kgs: 250 mg 2x/dia - Acima de 25 kgs: 500 mg 2x/dia. Eritrocima: 20mg/kg/dia 12/12h máximo 2g Ácido fólico: 5mg/dia. Complicações AGUDAS CRONICAS 1. Crise vaso oclusiva dolorosa 2. Infecções 3. STA 4. Crise plástica hemolítica 5. AVE 6. Sequestro esplênico/hepático 7. Priapismo Necrose asséptica Retinopatias Insuficiência renal Litíase biliar Hepatopatia Cardiopatia Ulceras em membros inferiores 1. Crise vaso-oclusiva dolorosa ♥ São causadas por mecanismos complexos que geram isquemia tecidual. ♥ Tem início abrupto com episódios dolorosos que duram cerca de 4 a 6 dias, mas podem durar semanas e estarem associados a febre baixa. ♥ Pode acometer coluna, abdome e membros, sendo comum a simetria de extremidades. ♥ Síndrome mão-pé: é uma facilite isquêmica caracterizada por edema doloroso bilateral que acomete lactentes. Comumente é a primeira manifestação da doença. ♥ CVOD abdominal: dor abdominal intensa com sinais de irritação peritoneal causada por infarto das veias mesentéricas e vísceras abdominais. Não altera a peristalse, o que a diferencia de abdome agudo. ♥ Osteomielite: febre elevada, leucocitose com desvio para esquerda e acometimento de osso longo. ♥ Artrite séptica: acometimento articular com febre elevada e leucocitose com desvio para esquerda. ♥ Tratamento: eliminar fatores precipitantes + aquecer as articulações + repouso + hidratação + analgesia - Deve ser feita a escala de dor para decidir o local de tratamento e a partir deste o tipo de hidratação e de analgésico a ser utilizado. Júlia Malta Braga FCM-TR MED 01 2. Infecções São a principal causa de mortalidade em crianças menores de 5 anos com anemia falciforme. A vacinação é de extrema importância. Febre é um sinal de alerta em todos os casos. Requer investigação imediata, principalmente, em menores de 3 anos, pois o risco de infecções bacterianas graves é elevado. As manifestações clínicas variam de acordo com o agente infeccioso e induzem lesão tecidual, podendo levar a síndrome torácica aguda, crises de dor e até AVC. Doença pneumocócica: pode ser agressiva e fulminante, podendo levar ao óbito em menos de 12h após a febre. Deve-se manter atenção redobrada. Atenção! Devem ser internados todos os pacientes com menos de 3 anos com febre>38,3°C devem ser internados imediatamente para investigar e localizar a infecção. 3. Síndrome torácica aguda Termo utilizado para definir qualquer quadro de doença aguda caracterizada por febre e/ou sintomas respiratórios (taquipneia, dispneia, tosse, cianose e dor torácica) acompanhado por infiltrado pulmonar à radiografia de tórax. Utiliza-se esse termo devido a impossibilidade de distinguir a etiologia relacionada à síndrome, que pode ser oclusão vascular, infecção, sequestro pulmonar ou embolia de medula óssea. Objetivo do tratamento é manter a saturação > 92%, na gasometria. Principal agente infeccioso: pneumococo. Tratamento de início imediato: internação + oxigenioterapia + antibiótico + analgesia + terapia de suporte. - Se não houver resposta, recomenda-se transfusão sanguínea. Fisioterapia respiratória deve ser iniciada assim que possível. 4. Crise aplastica hemolítica ♥ É rara e autolimitada. ♥ Inicia a 10 dias após processos infecciosos, principalmente relacionados ao parvovirus B19. ♥ Manifestações clinicas: sintomas de anemia aguda sem aumento esplênico e laboratorialmente há reticulocitopenia, enquanto no sequestro esplênico há reticulocitose e aumento do baço. ♥ Tratamento é sintomático, podendo, se necessário, realizar transfusão de concentrado de hemácias. 5. AVE Ocorre em cerca de 10% das pessoas com anemia falciforme até os 20 anos de idade, devido a obstrução de artérias cerebrais. Isquêmico: mais frequente em crianças. Hemorrágico: Mais frequente entre os 20 e 30 anos de idade. Manifestações: variam de acordo com o local do cérebro acometido, mas incluem hemiparesia, hemianestesia, deficiência de campo visual, afasia e paralisia de nervos cranianos. Além de convulsões e coma. Tratamento: regime crônico de transfusões para manter a concentração de HbS <50%. Realizar doppler transcraniano, periodicamente a partir dos dois anos de idade, e se a velocidade do fluxo sanguíneo nas artérias do Poligono de Wilis estiver aumentada, iniciar regime de hipertransfusão profilática. 6. Sequestro esplênico/hepático ♥ A família deve ser treinada a reconhecer. ♥ Ocorre, principalmente, em crianças dos 5 meses aos 2 anos de vida, sendo rara após. ♥ Aumento do tamanho do baço e ocorre queda súbita do nível de hemoglobinas, reticulocitose e plaquetopenia. Há risco de choque hipovolêmico e morte. ♥ Sequestro hepático é mais raro e está associado a hepatomegalia, hiperbilirrubinemia, anemia e reticulocitose. ♥ Tratamento: rápida correção da hipovolemia com transfusão de hemácias para aumentar Hb para 9 a 10 g/dL. ♥ Deve ser considerada a indicação de esplenectomia em crianças maiores de 5 anos, em caso de sequestro severo, devendo ser vacinado contra Streptococcus pneumoniae. Em menores de 5 anos devemos recorrer a transfusões crônicas ou hipertransfusão, mantendo HbS<30%, e a educação da família quanto a palpação do baço para monitoramento. 7. Priapismo É a ereção dolorosa do pênis. Podem ser episódios breves, recorrentes ou longos. Em 46% dos casos diagnosticados ocorreu disfunção sexual. Tratamento: exercícios leves no momento da crise (caminhada ou ciclismo) + banho morno + hidratação intensa + analgesia. - Se não houver melhora em 24h, indica-se exsanguíneo, transfusão parcial ou transfusão simples. Pode sernecessária punção de corpos cavernosos ou esvaziamento cirúrgico. Júlia Malta Braga FCM-TR MED 01
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