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5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 Fisiologia UCXV Meningite Líquido cefalorraquidiano Ultrafiltrado do sangue, composto basicamente de cloreto de sódio, glicose, baixo teor de proteínas, glóbulos brancos e hormônios. Formado nos plexos coroides e reabsorvido nos vilos aracnoides. O equilíbrio entre formação e reabsorção é importante para manter a pressão intracraniana Circula entre o encéfalo e a medula espinhal: 100 a 150mL de líquido circulante Funções: fornecer nutrientes, remover metabólitos e proteção, funcionando como um amortecedor. Meningite A meningite é um processo inflamatório da aracnóide, da pia-máter e do líquido cefalorraquidiano (LCR), estendendo-se pelo espaço subaracnóideo do cérebro e da medula espinhal. Envolve predominantemente o espaço subaracnóideo. A meningite é uma doença de evolução rápida, cujo prognósLco depende fundamentalmente do diagnósLco precoce e da insLtuição imediata de tratamento adequado. Dentre as infecções do sistema nervoso central, a meningite apresenta as mais altas taxas de morbidade e mortalidade. Etiologia: Séptica: vírus, bactérias, fungos, parasitas Asséptica: agentes químicos, medicamentos, patologias inflamatórias, câncer Epidemiologia: No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno. A ocorrência e das meningites virais é mais comum na primavera-verão. Meningite Bacteriana: A maior parte das bactérias que causam meningite bacteriana é transmitida pelo ar, de pessoa para pessoa. Isso acontece quando uma pessoa que já está infectada fala, tosse ou espirra e espalha gotículas de saliva e secreções nasais no ambiente, contaminando indivíduos sadios. Por causa disso, a meningite bacteriana é mais comum no inverno devido à tendência de as pessoas se aglomerarem em espaços fechados, o que favorece a transmissão da doença. Meningite Viral: Causada em grande parte pelo enterovírus, a meningite viral é mais comum no verão porque a entrada desse parasita no organismo é, geralmente, por via gastrointestinal. A principal forma de transmissão é fecal-oral, por meio, por exemplo, de alimentos contaminados. No calor, há maior incidência de infecções gastrointestinais de origem alimentar, pois os alimentos se deterioram mais rapidamente. A frequência de viagens também aumenta, e há possibilidade maior de contágio. Meningite por parasitas: uma causa parasitária geralmente é presumida quando há predomínio de eosinófilos no líquor. Os parasitas mais comuns são: Toxoplasma gondii, Trypanosoma cruzi, Plasmodium sp, Angiostrongylus cantonensis e Gnathostoma spinigerum. 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Meningite por fungos: infecções fungicas, como as causadas por criptococos e coccidiodomicose são causas raras de meningite. Meningite Asséptica: Agentes químicos: substancias introduzidas no organismo através das meninges como anestésicos e meios de contraste radiopaco. Medicamentos: principalmente anti-inflamatórios não- esteróidais, antibióticos e imunoglobulinas intravenosas. Carbamazepina (anticonvulsivante), ibuprofeno e naproxeno, Levamisol (anti-helmíntico), antibióticos (sulfazotrim, penicilina, amoxicilina, cefalexina, alopurinol, metronidazol) vacina contra sarampo e caxumba. Patologias inflamatórias: sarcoidose (autoimune), lúpus eritematoso sistêmico, e certas formas de vasculites, esclerose múltipla. Câncer (meningite maligna): tumores que invadem a meninge e se espalham no sistema nervoso central. Agentes etiológicos Meningite Viral: Enterovírus não-pólio: vírus Coxsackie e Echovírus Vírus do grupo Herpes: herpes simples, vírus da varicela zoster, Epstein-Barr (HHV-4), e Citomegalovírus Arbovírus: dengue, zika, Chikungunya, febre amarela, e o vírus da febre do Nilo Ocidental Vírus da Caxumba Vírus do Sarampo HIV Adenovírus Meningite Bacteriana: diversas espécies bacterianas têm capacidade de invadir a barreira hematoencefálica: Streptococcus pneumoniae: Causa mais comum de meningite em adultos com mais de 20 anos, respondendo por quase 50% dos casos notificados. Neisseria meningitidis: causa a meningites, conhecida como “meningocócia”, em todas as idades. Provoca infecções em surtos. Existem 13 sorogrupos distintos do meningococo, mas apenas 5 sorogrupos respondem pela maioria dos casos da doença (A, B, C, Y, W135). Os grupos A, B e C são os mais importantes. O sorogrupo mais frequente no Brasil é o C (aprox. 60% dos casos). Haemophilus influenzae: A incidência diminui com a introdução da vacina conjugada. Estreptococos beta-hemolí1cos do grupo B: tem sido descrito com frequência cada vez maior em indivíduos acima de 50 anos. Listeria monocytogenes: A infecção é adquirida pela ingestão de alimentos contaminados com a bactéria (repolho cru, leite, queijos cremosos). Agentes e1ológicos menos comuns incluem: o Staphylococcus aureus (causa importante de meningites que sucedem procedimentos neurocirúrgicos) o Escherichia coli o Klebsiella sp. o Mycobacteriumm tuberlucosis (tuberculose) o Treponema pallidum (sífilis) Segundo dados do Ministério da Saúde (2021), no Brasil, as causas mais comuns de meningite bacteriana de acordo com o grupo etário são: o Recém nascidos: Streptococcus pneumoniae, Streptococcus do grupo B (como Streptococcus agalactiae), Listeria monocytogenes, Escherichia coli. o Bebês e crianças: Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitis, Haemophilis influenzae, Streptococcus do grupo B. o Adolescentes e adultos jovens: Streptococcus pneumonia e Neisseria meningitis o Idosos: Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitis, Haemophilis influenzae, Streptococcus do grupo B, e Listeria monocytogenes Todas as faixas etárias podem ser acometidas pela doença, porém o maior risco de adoecimento está entre as crianças menores de 05 (cinco) anos, especialmente as menores de 01 (um) ano de idade. Na doença causada pela bactéria Neisseria meningitidis, além das crianças, os adolescentes e adultos jovens têm o risco de adoecimento aumentado em surtos. Na meningite pneumocócica (causada pelo Streptococcus pneumoniae), idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de doenças imunossupressoras também apresentam maior risco de adoecimento. O sexo masculino também é o mais acometido pela doença Meningite por Neisseria Meningitidis Diplococos Gram-negativos capsulados (importante para a penetração no LCR e indução da reposta inflamatória). 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Colonização assintomática da orofaringe e nasofaringe – 20% da população. Adesão as células da nasofaringe por fimbrias. O ser humano é o único hospedeiro natural (reservatório) sendo a maioria dos sorotipos colonizadores não capsulados e pouco virulentos. A taxa de portadores pode chegar a 60-80% no surtos. De ocorrência mundial e epidemias localizadas, representando 10 a 40% das meningites bacterianas. Transmissão: pessoa-a-pessoa, por gotículas de saliva (perdigotos) e secreções nasofaringes. Meningite por S. pneumoniae Streptococcus pneumoniae: coco gram-positivo que se dispõe dois a dois (diplococos) ou em pequenas cadeias, alfa-hemolítica, encapsulado. O pneumococo está presente na microbiota residente do trato respiratório superior. Estão descritos mais de 90 sorotipos capsulares, diferenciados pela composição química em seus polissacarídeos. No Brasil, os sorotipos prevalentes são: 14, 1, 6B, 5, 6A, 23F, 19F, 9V, 3,4, 10A, 8 e 7F Bastante comum na população idosa e de muita preocupação na infância dada sua alta morbimortalidade e gravessequelas. Preocupação atual: crescente resistência inicialmente à penicilina, mas também a outros antibióLcos, como por exemplo, às cefalosporinas de 3ª geração. Fisiopatologia da meningite bacteriana 1. As bactérias que mais comumente causam meningite, S. pneumoniae e N. meningi2des, colonizam primeiro a nasofaringe por aderência às células epiteliais nasofaríngeas. 2. As bactérias são então transportadas através das células epiteliais, em vacúolos, para o espaço intravascular ou invadem esse espaço, separando as junções apicais do epitélio. 3. Na corrente sanguínea, as bactérias são capazes de evitar a fagocitose por neutrófilos e a atividade bactericida mediada pelo complemento devido à presença de uma capsula polissacarídica 4. As bactérias presentes no sangue atingem o plexo coroide intraventricular onde infectam diretamente as células desse plexo e ganham acesso ao Liquido cefalorraquidiano. 5. As bactérias são capazes de multiplicar-se rapidamente dentro do LCS em virtude da ausência de defensas imunes eficazes: o LCS contém poucos leucócitos, e quantidade relativamente pequenas de complemento e imunoglobulinas. 6. A lise das bactérias com as consequente liberação de componentes da parede celular, no espaço subaracnóideo, é a etapa inicial de indução de resposta inflamatória e formação de um exsudato purulento no espaço subaracnóideo. 7. Os componentes da parede celular bacteriana como LPS e ácido teicoico, além das proteoglicanas (do S. Pneumoniae por exemplo) induzem a inflamação meníngea por estímulo da produção de citocinas inflamatórias e quimicinas pela micróglia, astrócitos, monócitos, células endoteliais e leucócitos do LC Condições predisponentes para a meningite bacteriana: Sinusite, otite media Diabetes Deficiência do complemento Traumatismo craniano Apresentação Clínica da meningite bacteriana Tríade clássica: febre, cefaleia, rigidez de nuca Três síndromes concomitantes caracterizam a apresentação clínica: 1. Síndrome Toxêmica: febre alta, mal-estar geral, prostração e, eventualmente, agitação psicomotora. 2. Síndrome de irritação meníngea: Rigidez de nuca, sinal de Kerning, sinal de Brudzinski, sinal de desconforto lombar. 3. Síndrome de hipertensão intracraniana: cefaleia holocraniana intensa; náuseas; vômitos; fotofobia (aumento da sensibilidade à luz pela irritação meníngea, especialmente na região de diafragma selar); confusão mental; pupilas dilatadas e pouco reativas. Crises convulsivas podem aparecer em 20- 40% dos casos Certas manifestações clínicas específicas podem fornecer indícios para o diagnóstico: o mais importante é o exantema da meningococemia. Os sinais de Kernig e de Brudzinski também são sinais clássicos de irritação meníngea. Ambos podem estar ausentes em pacientes muitos jovens, imunocomprometidos, ou com grave depressão mental. 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Sinal de Kernig: tentativa de estender passivamente o joelho suscita dor. Sinal de Brudzinski: flexão passiva do pescoço resulta em flexão espontânea dos quadris e joelhos. Exantema da Meningococemia: A endotoxina meningocócica induz a formação de edema e a trombose capilar, com extravasamento de sangue para o espaço intersticial. O efeito fisiopatológico básico na pela é a coagulação intravascular disseminada, caracterizada por danos específicos nos vasos de pequeno e médio porte da pele, tecido subcutâneo, músculo e ossos. Desta maneira, a meningococemia pode levar à meningococemia fulminante com o disseminação do exantema (rash) petequial, com rápido envolvimento da necrose em toda a espessura da pele e dano muscular profundo. A coagulação intravascular disseminada (CID) envolve geração anormal e excessiva de trombina e fibrina no sangue circulante. Durante o processo, ocorre aumento da agregação plaquetária e consumo de fatores de coagulação O exantema da meningococemia começa com uma erupção maculopapular eritematosa difusa semelhante a um exantema viral. Essas lesões rapidamente tornam-se petéquias As petéquias são encontradas no tronco, nos MMII, mucosas e conjuntivas, bem como às vezes nas palmas das mãos e plantas dos pés Complicações da meningite meningocócica Cerca de 10% dos pacientes com meninge meningocócica vão a óbito. A complicação mais comum da doença consiste em cicatrizes após necrose das lesões cutâneas purpúricas → necessidade de enxerto cutâneo. Amputações (2% dos pacientes que sobrevivem à doença) devido a uma perda de viabilidade dos tecidos após isquemia periférica ou síndrome de compartimentos (pressão aumentada do tecido dentro de um compartimento fascial apertado, o que resulta em isquemia do tecido). Perda auditiva (4%) Complicações neurológicas (7%) Apresentação clínica da meningite viral Os sintomas iniciais da meningite viral são semelhantes aos da meningite bacteriana. No entanto, a meningite bacteriana é geralmente mais grave. Febre Rigidez no pescoço, Cefaleia Náusea, Vômito, Falta de apetite Irritabilidade, Sonolência ou dificuldade para acordar do sono Letargia (falta de energia) Fotofobia Em recém-nascidos e bebês, alguns dos sintomas descritos acima podem estar ausentes ou difíceis de serem percebidos. O bebê pode ficar irritado, vomitar, alimentar-se mal ou parecer letárgico (falta de energia) ou irresponsivo a estímulos. Apresentação clínica da meningite por fungos ou protozoários Os sinais e sintomas de meningite fúngica ou causada por outras infecções são parecidos com os causados por outros tipos de agentes etiológicos: Febre 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Cefaleia, rigidez no pescoço, Náusea, vômitos Fotofobia (sensibilidade à luz) Status mental alterado (confusão). Diagnóstico Hemograma Proteína C reativa Análise do líquido cefalorraquidiano (através de punção lombar): coloração de Gram, proteínas, glicose, leucócitos. Punção lombar: é realizada com pacientes em decúbito lateral, entre os espaços de L3-L4, L4- L5, L5-S1, suboccipital ou ventricular (em crianças). Devido à gravidade dessas infecções, o laboratório deve estar preparado para realizar o diagnóstico de modo rápido. O líquido cefalorraquidiano apresenta baixa concentração de imunoglobulina e complemento → é um sítio favorável à multiplicação bacteriana. Tratamento Meningites bacterianas: antibioticoterapia em ambiente hospitalar e corticoides. Meningites virais: não há tratamento específico; Aciclovir (em alguns casos), tratamento de suporte (hidratação, repouso, e analgésicos) Meningites fúngicas: o tratamento é mais longo, com altas e prolongadas dosagens de medicação antifúngica, escolhida de acordo com o fungo identificado no organismo do paciente. Meningites por parasitas: tratamento contra o parasita específico e tratamento de suporte (hidratação, repouso, e analgésicos) Vacinas Vacina meningocócica conjugada sorogrupo C: protege contra a Doença Meningocócica causada pelo sorogrupo C; 5° fase Medicina Maria Eduarda Zen Biz – ARM 2025.1 Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite. Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo b, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B. BCG: protege contra as formas graves da tuberculose. Meningite meningocócica: Vacina bivalente (A+C), Vacina tetravalente (A+C+Y+W135) Vacina monovalente A (no caso de menores de 2 anos) Para a meningite meningocócica B nenhuma vacina desenvolvida mostrou-se eficaz. Vacina meningocócica conjugada sorogrupo C com proteção prolongada (possivelmente por toda a vida) e boa respostaem menores de um ano.
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