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– 1 Pneumotórax Iatrogênico • Introdução Pneumotórax é definido como a PRESENÇA DE AR na cavidade pleural, que é, fisiologicamente, uma “cavidade virtual”. A maioria dos casos de pneumotórax é por TRAUMA ou por IATROGENIA. o Pneumotórax primário/espontâneo – ocorre sem doença pulmonar subjacente ou outro fator precipitante o Pneumotórax secundário espontâneo – ocorre em pacientes com doença pulmonar subjacente ou secundário ao TRAUMA o Pneumotórax traumático – pode ser dividido em IATROGÊNICO e NÃO IATROGÊNICO. O iatrogênico é MUITO COMUM e pode ser causado por toracocentese, cateterismo venoso central, intervenção cirúrgica, ventilação mecânica ou biopsia pulmonar diagnóstica. A incidência do pneumotórax ESPONTÂNEO é de 14-28 casos em homens/100.000hab.ano e 1,2- 7 casos mulheres/100.000hab.ano, sendo que a maioria desses pacientes possuem entre 20 e 40 anos de idade (jovennnns)! Fatores relacionados ao tipo ESPONTÂNEO/PRIMÁRIO incluem tabagismo, sexo masculino, prolapso de valva mitral, síndrome de Marfan, homocistinúria, endometriose torácica, história familiar e alterações na pressão ambiente. O pneumotórax PRIMÁRIO/ESPONTÂNEO ocorre geralmente quando há ruptura de BOLHA ou BLEB subpleural, causando uma alteração da integridade dessa serosa e, consequentemente, preenchendo o espaço pleural com ar. Alguns estudos evidenciam que o risco de desenvolver um pneumotórax espontâneo é maior quanto MAIOR A CARGA TABÁGICA. O pneumotórax SECUNDÁRIO ESPONTÂNEO ocorre quando há rompimento da PLEURA VISCERAL secundário a doença pulmonar subjacente. As causas são variadas, podendo incluir DPOC (50- 75%), neoplasias pulmonares malignas primárias ou metastáticas (15%), necrose subpleural por infecção por Pneumocystis jirovecii (5%), pneumonias necrotizantes, fibrose cística, pacientes hospitalizados com TB. O pneumotórax CATAMENIAL está associado à menstrução (temporalmente) e pode acontecer em pacientes com ENDOMETRIOSE TORÁCICA! O pneumotórax HIPERTENSIVO desenvolve-se pelo acúmulo de ar no espaço pleural que NÃO CONSEGUE SAIR devido a existência de uma válvula de retenção. A medida que a pressão intratorácica aumenta, os grandes vasos e o coração são COMPRIMIDOS e DESLOCADOS, restringindo o RETORNO VENOSO, ENCHIMENTO DIASTÓLICO e DC! Em todos os casos de pneumotórax SECUNDÁRIO é importante buscar o tratamento da doença subjacente!! Quanto ao pneumotórax IATROGÊNICO (PI), algumas literaturas evidenciam que ele é MAIS COMUM até mesmo que o pneumotórax espontâneo. Os principais procedimentos invasivos envolvidos na etiologia do PI são: biópsia pulmonar transtorácica, biopsia pulmonar transbrônquica, biopsia pleural, toracocentese, acesso venoso central, ventilação mecânica, bloqueio de nervo intercostal, acunputura, traqueostomia e substituição de marcapasso. Assim, percebe-se que os pacientes que já possuíam alguma condição de base que o fizeram realizar algum procedimento – 2 invasivo – o desenvolvimento de um PI nesses pacientes é, notoriamente, um fator que PROLONGA A INTERNAÇÃO e piora o quadro clínico! Em um estudo retrospectivo, dentre 164 pacientes que desenvolveram PI, foi constatado que 57% dos procedimentos invasivos foram realizados em regime de EMERGÊNCIA e 43% de forma ELETIVA. Nesse estudo, a principal causa do PI foi ACESSO VENOSO CENTRAL EM SUBCLAVIA (39%) e a segunda principal foi TORACOCENTESE (20%). Na grande maioria dos casos (58%), os pacientes não possuíam nem mesmo uma PATOLOGIA PULMONAR SUBJACENTE. Esse mesmo estudo fez um comparativo entre o número total de procedimentos invasivos realizados em um determinado período anterior, que somou 5055 procedimentos, e a quantidade durante o período estudado, que resultou 6955! Na grande maioria dos estudos, o acesso venoso central está entre as PRINCIPAIS CAUSAS de PI, sendo este primeiro utilizado como forma de monitorização da pressão central, para nutrição parenteral total, quimioterapia e em casos que necessitam de uso prolongado do acesso venoso. Os fatores de risco para o desenvolvimento de um PI em acesso venoso central incluem a ANATOMIA DO PACIENTES, a doença subjacente (inclusive COAGULOPATIA), o TIPO DE CATETER utilizado, a EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL e o NÚMERO DE TENTATIVAS (>3 é problema). Quando esse aceso é AUXILIADO POR USG, a porcentagem de complicações é significativamente menor. A segunda causa mais frequente é a TORACOCENTESE, que apresenta uma incidência de complicações na literatura entre 3 e 19%. Os fatores de risco envolvidos são TOSSE do paciente durante o procedimento, a própria DOENÇA PULMONAR SUBJACENTE e o número de TENTATIVAS realizadas. Se guiado por USG, os riscos de complicação são menores, principalmente quando a coleção líquida está em pequenas quantidades. Na UTI, a incidência de PI tem diminuído consideravelmente ao longo dos anos, alcançando valores de 3% atualmente (20% em 1990). Esse fato tem grande relação, também, com o BAROTRAUMA causado por VENTILAÇÃO MECÂNICA nessas unidades. Um estudo comparativo entre a relação da ACUNPUNTURA e desenvolvimento de PI mostrou que, principalmente quando realizada na região SUPERIOR DO TRAPÉZIO e nos músculos TORÁCICOS ERETORES DA ESPINHA e nos ROMBOIDES, pode haver PI secundário – um fator de risco importante é o ÂNGULO DE INSERÇÃO DA AGULHA! A incidência dessa condição varia em torno de 1/10.000, sendo classificada como uma causa MUITO RARA pela WHO. Na literatura, existem, inclusive, relatos de ÓBITO após PI por acupuntura. Os sintomas dessa condição comumente NÃO OCORREM até depois da sessão de acupuntura. • Anatomo-Fisiologia Em condições normais, as pleuras visceral e parietal estão em ÍNTIMA APOSIÇÃO, havendo uma PRESSÃO NEGATIVA de 5 mmHg (oscilação entre 6-8mmHg) nessa cavidade virtual. A tendência fisiológica da parede torácica é EXPANDIR, enquanto o pulmão, por ter tecido elástico, tende a RETRAIR. As pressões INTRA-BRÔNQUICA e INTRA-ALVEOLAR são negativas durante a inspiração e positivas durante a expiração – as paredes alveolares e a pleura visceral formam uma BARREIRA que separa os espaços INTRA-PLEURAL e INTRA-ALVEOLAR, mantendo o gradiente de pressão. Caso essa barreira perca a integridade, o ar entra no espaço pleural até que as PRESSÕES SE IGUALEM ou até que a COMUNICAÇÃO SE FECHE. Por exemplo, no pneumotórax espontâneo, a ruptura da barreira se dá quando uma BOLHA SUBPLEURAL se rompe no interior do espaço pleural. As doenças pulmonares e inflamatórias crônicas também enfraquecem essa barreira. Além disso, condições que AUMENTAM PRESSÃO – 3 INTRA-BRÔNQUICA gerada, por exemplo, por broncoespasmo ou tosse também podem romper a barreira. Condições que rompam essa pressão negativa existente são responsáveis por permitir o COLABAMENTO pulmonar e consequente alteração na relação VENTILAÇÃO-PERFUSÃO e diminuição da CAPACIDADE VITAL PULMONAR – dispneia e hipoxemia. Essa capacidade vital encontra-se diminuída, assim como a CAPACIDADE RESIDUAL FUNCIONAL E CAPACIDADE TOTAL. • Achados Clínicos O diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes com história de DOR TORÁCICA AGUDA, DISPNEIA e exame físico com ASSIMETRIA DE MURMÚRIO VESICULAR. Os principais sintomas são o aparecimento súbito da DISPNEIA + DOR TORÁCICA do tipo pleurítica, sendo que essa costuma diminuir ao longo das primeiras 24h, o que NÃO significa que o pneumotórax foi resolvido, significa apenas que o componente pleurítico diminuiu! A dispneia súbita com causa ÚNICA do pneumotórax não costuma ser GRAVE, sendo essa característica reservada para aqueles pacientes OU com DOENÇA PULMONAR SUBJACENTE, como DPOC, ou que desenvolveram PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO! No exame físico, o achado mais comum é a TAQUICARDIA SINUSAL, sendo que o ENFISEMA SUBCUTÂNEO também pode estar presente, principalmente nos pacientes com pneumomediastino. Achados do EF: ➔ Hipertimpanismo à percussão ➔ Ausência do frêmito toracovocal ➔ Dispneia ➔ Assimetriade murmúrios vesiculares ➔ Taquicardia sinusal ➔ Dor torácica pleurítica → dor torácica ➔ Se hipertensivo: hipertimpanismo, desvio da traqueia, hipotensão No pneumotórax TRAUMÁTICO, o achado de ausência de murmúrios vesiculares tem VALOR PREDITIVO POSITIVO de 86% e DIAGNÓSTICO DE 97%. • Exames Complementares O RX de tórax PA com o paciente de pé é o EXAME INICIAL recomendado e irá demonstrar a PERDA DAS MARCAÇÕES PULMONARES na periferia associada a uma LINHA PLEURAL paralela À linha torácica. Outro achado importante é a NÃO VISUALIZAÇÃO de vasos pulmonares além da linha da pleura visceral. Em casos GRAVES, pode ser visualizado o DESVIO DE TRAQUEIA contralateral à lesão, deslocamento INFERIOR DO FÍGADO. – 4 A incidência em PERFIL pode identificar o pneumotórax em até 14% dos casos em que não se foi visualizado em PA – é uma incidência com pouca sensibilidade ISOLADA! O USG point of care tem ganhado cada vez mais espaço na emergência, com uma SENSIBILIDADE > 95% e ESPECIFICIDADE próxima a 99%. Em um revisão realizada por Raja et al. em 2013, foi evidenciado que o USG tem SENSIBILIDADE SUPERIOR ao RX tórax para o DIAGNÓSTICO de pneumotórax. Em um pulmão fisiológico, costuma haver reverberação de ondas DISTAL À PLEURA, o que dá uma aparência de cauda de cometa, além de ser perceptível o deslizamento das duas pleuras (lung sliding). Quando há AR no espaço pleural, derrame, aderência pleural, entre outros, os dois sinais são PERDIDOS: cauda de cometa e lung sliding! A TC de tórax é o exame PADRÃO OURO no diagnóstico de pneumotórax, porém raramente é utilizada na prática pois consegue-se fechar diagnóstico com exames de menor complexidade. Essa TC é útil em pacientes com DOENÇA PULMONAR SUBJACENTE, como fibrose cística. O American College Of Chest Physicians recomenda avaliar um pneumotórax desde ÁPICE PULMONAR até a CÚPULA em uma imagem POSTEROANTERIOR. Uma medida menor que 2cm entre a borda do pulmão e a parede torácica define um pneumotórax como PEQUENO, enquanto aquelas >/= 2cm são GRANDES. DDx – diferenciar com outras causas de dor torácica com padrão pleurítico associada a dispneia , como TEP e pneumonia. As pericardites podem causar dor similar! • Tratamento Os pacientes precisam receber ANALGESIA ou com opioides ou com AINEs, e o tto deve ser estabelecido de acordo com o tamanho e gravidade do pneumotórax. ➔ Pneumotórax Simples Pequeno – 5 É aquele pneumotórax que não apresenta desvio de mediastino e não gera instabilidade hemodinâmica! Nesses casos, a distância entre a borda pleural visceral e a parietal é MENOR QUE 2cm. Se for o primeiro episódio de pneumotórax do paciente e ele estiver ESTÁVEL, pode-se observar por 4-6h a evolução associado a oxigênio de alto fluxo – após esse período, realizar nova RX de tórax e, caso não haja AUMENTO, pode haver alta com o respeito das seguintes condições: 1) FR < 24 icpm 2) Ausência de dispneia em repouso 3) Capacidade de falar frases completas 4) 60 < FC < 120 5) PA normal 6) SpO2 > 90% 7) Ausência de hemotórax O oxigênio em alto fluxo AUMENTA A REABSORÇÃO DE AR PLEURAL de 3-4x, pois permite um fluxo de ar por um GRADIENTE DE PRESSÃO DE GÁS NITROGÊNIO entre o alvéolo e o ar aprisionado! Sem O2, um pneumotórax de 25% da cavidade pleural demora 3 semanas para resolução. Pcts com DPOC precisam de monitorização da CAPNIA e GASOMETRIA de rotina. Se, por qualquer que seja o motivo, seja necessária a VENTILAÇÃO MECÂNICA, o paciente deverá ter o pneumotórax DRENADO!! ➔ Pneumotórax Moderado Não Hipertensivo Pneumotórax > 2cm, mas SEM SINAIS DE GRAVIDADE (instabilidade hemodinâmica, desvio de traqueia...) dever ser DRENADOS!!! Técnicas de drenagem: 1) Punção e aspiração do pneumotórax: introdução de jelco sob técnica asséptica adequada, e através de uma seringa de 60 mL o ar é aspirado. Dois locais são recomendados para inserção da agulha: no 2º ou 3º EI logo acima do arco costal, ou seja, na borda superior da costela inferior (para evitar a artéria intercostal) na linha hemiclavicular, ou no 4º ou 5º EI na linha axilar anterior. O procedimento deve ser realizado com paramentação completa. Utiliza-se uma agulha tipo jelco de calibre 14 para adultos e de calibre 18 para crianças, com pelo menos 5 cm de comprimento para penetrar a cavidade pleural. Ao atingir a cavidade pleural, vai ocorrer fuga de ar e nesse momento deve-se INTRODUZIR APENAS A PARTE FLEXÍVEL do jelco e retira-se a agulha para evitar perfuração pulmonar. Deve-se verificar a quantidade de ar aspirado; se 2 a 3 L, sugere fístula pleural e indica drenagem tubular ou por cateter pigtail. A eficácia é similar ao dreno tubular, mas com menor tempo de hospitalização. 2) Dreno pela técnica de Seldinger: passagem de dreno do tipo pigtail, semelhante a um acesso central, no 5º EI na linha axilar média após anestesia local e preparação estéril. Deve-se inserir a agulha no espaço pleural, aspirar fluido ou ar para verificar a localização no espaço pleural, e avançar o fio-guia. Utiliza-se um dilatador sobre o fio-guia até que o espaço pleural seja alcançado, com colocação do CATETER PIGTAIL. Em seguida, pode-se acoplar uma válvula de Heimlich (unidirecional). A técnica de Seldinger tem a vantagem de utilizar uma incisão menor, com menor dissecção de tecido e menor cicatriz quando comparada ao dreno tubular, porém deve ser desencorajado passar dreno pigtail em pacientes com EMPIEMA OU HEMOTÓRAX ASSOCIADO DEVIDO AO RISCO DE OBSTRUÇÃO DO CATETER. 3) Tru-Close: dispositivo preparado para ser introduzido no espaço pleural; pode ser fixado na pele e permite maior mobilidade e conforto ao paciente. 4) Drenagem tubular: passagem de dreno por toracostomia realizada no 5º EI na linha axilar média, que deve ser acoplado a um selo d’água. A seleção do cateter ou do tamanho do tubo torácico baseia-se na taxa de fluxo de ar que o dispositivo pode acomodar. Selecione – 6 tubo de grande diâmetro para paciente em que se espera grande saída de ar. Pneumotórax hipertensivo pode se desenvolver se houver grande saída de ar e tubos ou cateteres de pequeno calibre não permitirem sua passagem. Cada tubo torácico tem um orifício proximal, chamado de OLHO SENTINELA, que é visível radiograficamente e ajuda a garantir que todos os orifícios de drenagem estão dentro da cavidade pleural. Em pacientes em ventilação mecânica devem ser utilizados tubos torácicos maiores. No geral, um dreno número 18 ou menor será suficiente para resolver um pneumotórax moderado, porém para pneumotórax grande ou em pacientes submetidos a ventilação mecânica, talvez seja prudente utilizar drenos maiores. ➔ Pneumotórax Grande, hipertensivo ou com repercussão hemodinâmica São pacientes que precisam de DRENAGEM IMEDIATA. Inicialmente é realizada a TORACOCENTESE DE ALÍVIO no 5º EI na linha axilar média – o tto definitivo consiste na colocação de um dreno no mesmo local! A TORACOSTOMIA é utilizada para tratar um pneumotórax de grande porte, pneumotórax recorrente ou bilateral, hemotórax coexistente ou se há sinais vitais anormais ou dispneia. A toracostomia padrão com drenagem em selo d’água é a abordagem mais comumente utilizada, com taxa de complicação baixa e taxa de sucesso de 95%. A maioria das diretrizes sugere um pequeno tubo torácico 10 a 14, reservando tubos maiores de 14 a 22 quando se espera grande saída de ar, uso de ventilação mecânica ou doença pulmonar subjacente. É preciso atentar para a VELOCIDADE DE DRENAGEM DO PNEUMOTÓRAX, pois um esvaziamento muito rápido pode causar expansão rápida do pulmão, com possível evolução para edema agudo pulmonar não cardiogênico por ruptura de membrana alvéolo • Necessidade de Internação Pacientes com pneumotórax MODERADO A GRANDE precisam de internação. Internação em UTI é necessária se o pneumotórax for hipertensivo ou houver necessidade de suporte ventilatório. Pacientes com pneumotórax secundário necessariamente precisam de seguimentoambulatorial, e idealmente todos os pacientes devem realizar radiografia de controle em alguns dias após alta hospitalar. O pneumotórax espontâneo é uma contraindicação ao mergulho submarino, a menos que seja tratado com pleurectomia cirúrgica e exista função pulmonar normal.
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