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Meios pacíficos de solução de controvérsias Direito Internacional Introdução • Dois casos pioneiros no que tange à solução de controvérsias internacionais foram: • O caso Mavrommatis (1924), ainda sob a égide da Corte Permanente de Justiça Internacional e; • O caso do Sudoeste africano, no qual a atual Corte Internacional de Justiça (CIJ) lançou o conceito de controvérsia internacional O Caso Mavrommatis (1924) • O cidadão grego M. Mavrommatis havia conseguido concessões, em 1914, de obras em Jerusalém e Jaffa (na Palestina), quando ambas as cidades eram parte do Império Turco-Otomano. • Com o final da guerra o império foi dividido e a Grã-Bretanha passou a controlar Jaffa e o restante da Palestina. • O governo britânico não reconheceu os direitos de Mavrommatis, dando origem à controvérsia. • O governo grego apresentou requerimento à CPJI pugnando pelo reconhecimento dos direitos e pela reparação dos prejuízos mediante indenização. • A Corte assegurou a manutenção das concessões a Mavrommatis no território palestino. O Caso Mavrommatis (1924) • OBS: A CPJI definiu uma controvérsia internacional como sendo todo desacordo existente sobre determinado ponto de fato ou de direito, ou seja, toda contradição ou oposição de interesses ou de teses jurídicas entre Estados ou Organizações Internacionais, independentemente de sua gravidade. O Caso do Sudoeste Africano (1962) • Etiópia e a Libéria, com base no Mandato da Liga das Nações para o Sudoeste da África e no Pacto da Liga das Nações, requer à Liga, dentre vários outros pedidos, que fiscalize o Governo da África do Sul e que determine o mesmo a cessar a prática de apartheid em seu território. O Caso do Sudoeste Africano (1962) • OBS: Segundo a CIJ, controvérsia internacional significa desacordo ou oposição de interesses entre Estados ou organizações internacionais. • OBS: Não existe em direito internacional qualquer obrigação de resolver litígios, visto que as resoluções se dão por meio do consentimento das partes. Soluções pacíficas previstas na Carta da ONU • Art. 33, Cap. VI, “As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha” • OBS: Este rol não é taxativo. Classificação dos meios pacíficos de solução de controvérsias • Estes se subdividem em quatro grupos: –meios diplomáticos; –meios políticos; –Meios semijudiciais; e –meios judiciais. Meios Diplomáticos • a) negociação direta: significa o entendimento direto das partes em litígio. É o mais simples meio diplomático de solução de controvérsias; • b) bons ofícios: uma terceira parte oferece sua colaboração para resolver uma lide internacional e limita-se a aproximar as partes em litígio; • c) mediação: como nos bons ofícios, uma terceira parte oferece sua colaboração para resolver o litígio. Na mediação, todavia, essa terceira parte vai mais além. O mediador, a terceira parte, propõe uma solução pacífica para o caso; Meios Diplomáticos • d) sistema de consultas: os Estados ou organizações internacionais consultam-se mutuamente sobre os pontos de controvérsia dos seus interesses, preparando terreno para uma futura negociação. • e) conciliação: se caracteriza por uma comissão de conciliadores, e não apenas um como na mediação. O grupo de conciliadores, escolhido pelas partes litigantes, propõe uma solução do conflito. O relatório dos conciliadores não tem força vinculante, todavia; Meios Diplomáticos • f) inquérito: é meio preliminar aos outros meios de solução. O inquérito abrange a pesquisa sobre fatos presentes na origem do litígio, buscando constatar sua materialidade, sua natureza, as circunstâncias do caso etc. • A comissão de inquérito é constituída por acordo especial entre as partes, devendo ao final apresentar um relatório sobre a situação de fato constatada. Meios Políticos • Conflitos de gravidade, principalmente os que afetam a paz e a segurança internacionais, costumam ser resolvidos politicamente dentro do seio da ONU, por meio da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança. • No continente americano, o mesmo pode ocorrer no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), por meio de seus organismos especializados. Meios Políticos • A ONU, esta poderá emitir recomendações e resoluções a serem cumpridas pelos Estados em conflito. • As recomendações são feitas pela Assembleia Geral. • As resoluções são feitas pelo Conselho de Segurança. • Dependendo da gravidade da situação, pode adotar as seguintes medidas como o repúdio, um cessar fogo e a ONU poderá autorizar, inclusive, uma intervenção armada. • OBS: Intervenções armadas dependem de resolução do Conselho de Segurança. Meios Semijudiciais • A arbitragem não pode dispor de direitos indisponíveis, tais como consumeristas, laborais ou de família, e as partes têm de possuir capacidade jurídica segundo a sua lei nacional, para que não haja vício algum quando da manifestação de vontade inequívoca de se submeter à arbitragem. Meios Semijudiciais • A arbitragem tem três elementos: • o convênio arbitral • o processo • o laudo. Convênio arbitral • O Convênio Arbitral é o contrato para submeter uma questão litigiosa já surgida (“compromisso arbitral”) ou todos os litígios que surjam de uma relação contratual (“cláusula compromissória”). Processo Arbitral • Será semelhante ao judicial, e terá três pilares: • a) pretensões contrapostas: as partes envolvidas possuem interesses distintos não anteriormente solucionáveis; • b) trâmite confrontacional: todo o processo tem por objetivo encontrar o caminho da suposta “justiça”, seja alicerçada na lei, seja com base em interpretações; e • c) terceiro independente que decide: há um juiz que, depois de analisar todos os argumentos e provas, adota um posicionamento devidamente justificado. Processo Arbitral • O Poder Judiciário realiza seis atividades complementares e auxiliares à Arbitragem: • I) rechaça litígios quando já existir o compromisso (conforme Protocolo Genebra). • II) designará os árbitros quando não houver uma determinação prévia pelas partes; • III) adota medidas cautelares. A pedido dos árbitros, os juízes podem tomar medidas para garantir o bom andamento do processo arbitral; Processo Arbitral • IV) coopera na obtenção de provas. Quando a cooperação não é suficiente, pode o árbitro solicitar ajuda do Estado; • V) revisa o laudo, em geral por motivos determinados, sem entrar na fundamentação. Unicamente quando solicitado por uma das partes e com fundamentação em vícios ou erros formais; • VI) executa laudos arbitrais. Esta seria talvez a mais importante, pois é a garantia maior que a decisão do árbitro é amparada pelo Estado Laudo • O laudo arbitral faz coisa julgada e é executável rápida e facilmente, sem possibilidade de recurso quanto às questões de fundo. • O laudo é emitido por árbitros privados independentes. • É alicerçado principalmente no contrato e não propriamente na lei. • Possui uma proteção superior às sentenças judiciais no cenário internacional, pois há limitações às causas de impugnação e é mais fácil de executar (Convênio de Nova York assinado por mais de 120 países). Meios Judiciais • Conferência de São Francisco de 1945 criou a Carta da ONU, que em seu art. 92 menciona: “A Corte Internacional de Justiça será o principal órgão judiciário das Nações Unidas.” • O tribunal compõe-se de 15 juízes, cada um com mandato de nove anos, com possibilidade de reeleição. Pelo art. 13 do Estatuto da CIJ, prevê-se renovação por terços a cada três anos. • A eleição dos juízes da CIJ é feita por processo de codecisão, isto é, separadamente a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança das Nações Unidas escolhem os juízes por maioria absoluta, vedada a eleição de dois juízes da mesma nacionalidade.Meios Judiciais • A jurisdição da Corte depende da vontade das partes. A expressão desse consentimento deve ser clara. Não há dificuldade, em princípio, quando a Corte é solicitada por uma iniciativa comum das partes. • Em contrapartida, a CIJ deve proceder um exame minucioso sobre se o fundamento da interpelação reside em série de atos e de comportamentos. • Pode haver um compromisso jurisdicional entre as partes litigantes, um tratado, expressando o acordo das partes para interpelarem a CIJ, a definição do objeto do litígio e as questões colocadas aos juízes. Meios não pacíficos de solução de controvérsias Direito Internacional Introdução • Nem sempre os meios pacíficos de solução de controvérsias são suficientes para resolver as lides internacionais. • É possível que Estados busquem meios coercitivos para a resolução de controvérsias. Espécies de meios coercitivos • Os meios coercitivos mais conhecidos na esfera internacional são: • a) retorsão; • b) represália; • c) embargo; • d) boicotagem; • e) bloqueio; • f) rompimento de relações diplomáticas; • g) sanções coletivas universais; • h) sanções coletivas no sistema interamericano. a) Retorsão • Este é um meio coercitivo moderado. • É o processo em que um Estado “paga na mesma moeda” os atos inamistosos perpetrados por outro Estado. • Ex: a imposição de impostos ou taxas para produtos de determinados Estados acima do estabelecido para outros. b) Represália • Seria um contra-ataque de um Estado em relação a outro, em virtude de eventual injustiça que este tenha cometido contra aquele ou contra os seus nacionais. • As represálias poderão ser positivas ou negativas. • Represália Positiva: Ocorre quando, por meio da força militar, um Estado insurge-se contra as pessoas ou os bens de outro Estado que o tenha prejudicado. • Represália Negativa: Ocorre quando um Estado, como retaliação a outro Estado que o tenha prejudicado, se nega a cumprir o acordado em um tratado. • OBS: As Represálias diferenciam-se da retorsão por serem medidas mais duras e arbitrárias; c) Embargo • É uma forma especial de represália. • Trata-se de prática frontalmente contrária aos princípios e regras do moderno Direito Internacional. • Ocorre quando um Estado sequestra navios e cargas de nacionais de outro país, ancorados em seus portos ou em trânsito nas suas águas territoriais, a fim de fazer predominar a sua vontade em relação ao Estado embargado. d) Boicotagem • Esta também representa modalidade de represália. • Trata-se de interrupção de relações comerciais com um Estado considerado ofensor dos interesses ou dos particulares de outro Estado. e) Bloqueio • Este também conhecido como Bloqueio Comercial. • Consiste na prática de um Estado impedir que embarcações de terceiros Estados aportem nos portos ou passem pela costa de um país, como meio de obrigar este último a proceder de determinada maneira. f) Rompimento de relações diplomáticas • Se dará quando os Estados conflitantes decidem suspender as suas relações políticas oficiais; g) Sanções coletivas universais • Estas surgem nos arts. 41 e 42 da Carta da ONU. • Art. 41 O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer espécie e o rompimento das relações diplomáticas. g) Sanções coletivas universais • Art. 42 No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas. h) Sanções coletivas no sistema interamericano • O Tratado de Assistência Recíproca (TIAR) estabelece que cabe ao órgão de consulta, em caso de agressão, estabelecer as medidas a serem tomadas em “auxílio do agredido”, que poderão compreender: • Retirada dos chefes de missão; • Interrupção total ou parcial das relações econômicas ou das comunicações ferroviárias, marítimas, aéreas, postais, telegráficas, telefônicas; • Ruptura de relações diplomáticas e consulares; e • Emprego de força armada. Casos de Guerra Direito Internacional Introdução • A guerra pode ser definida como conflito armado entre Estados com a finalidade de satisfazer interesses nacionais. • Inicia-se com declaração formal de guerra e termina por um acordo de paz ou outro ato que ponha fim às hostilidades. Introdução • A guerra é proibida pelo direito internacional público, inclusive com base na Carta da ONU. • Essa proibição ganhou respaldo jurídico com o Tratado de Renúncia à Guerra (Pacto Briand Kellog). Elementos necessários • São necessários para a existência da guerra: • a) o elemento objetivo: é a luta armada entre os Estados; e • b) o elemento subjetivo: é a intenção de fazer a guerra
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