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DEFINIÇÃO A infecção do trato urinário (ITU) é uma doença humana comum e dolorosa que, felizmente, responde rapidamente à antibioticoterapia moderna. Na era pré-antibiótica, a ITU causava morbidade significativa. →se define pela presença de patógenos microbianos no trato urinário, já que se considera que a urina normal é estéril. A classificação da ITU geralmente é baseada em seu sítio: ▪ Bexiga: cistite. ▪ Rim: pielonefrite. ▪ Urina: bacteriúria. A distinção entre ITU sintomática e BAS= Tanto a ITU quanto a BAS indicam a presença de bactérias no trato urinário, habitualmente acompanhadas de leucócitos e citocinas inflamatórias na urina. BAS ocorre na ausência de sintomas locais ou sistêmicos atribuíveis à presença de bactérias no trato urinário. Afeta cerca de 10% das grávidas e é mais comum entre pessoas com diabetes mellitus, idosos e mulheres, idosos institucionalizados (até 55% das mulheres e 31% dos homens s. A atividade sexual influencia a sua presença. Raramente requer tratamento, com exceção de certas populações, como gestantes, transplantados, neutropênicos e em pós- operatório de cirurgias urológicas. ITU geralmente implica doença sintomática, justificando o uso de terapia antimicrobiana. Como a manifestação mais comum de ITU é a cistite aguda, e tendo em vista que esta é muito mais prevalente nas mulheres do que nos homens, a maior parte das pesquisas clínicas de ITU envolveu mulheres. A ITU pode ser assintomática (infecção subclínica) ou sintomática (doença). Raramente causa sepse e morte. → ITU não complicada refere-se a cistite ou pielonefrite aguda em mulheres não grávidas em condições ambulatoriais, sem anormalidades anatômicas, nem instrumentação do trato urinário. → ITU complicada diabetes, gravidez, falência renal, obstrução do trato urinário, presença de sonda vesical de demora ou nefrostomia, procedimento ou instrumentação cirúrgica recente no trato urinário, disfunções anatômicas ou funcionais, imunossupressão, transplante renal, história de ITU na infância ITU recorrente não é necessariamente complicada→ dois episódios de ITU em seis meses ou 3 nos últimos 12 meses episódios individuais podem ser não complicados e tratados desse modo. A infecção do trato urinário associada ao uso de cateter (ITUAC) pode ser sintomática ou assintomática. EPIDEMIO →é considerada a infecção bacteriana mais comum, porém sua real incidência não é totalmente conhecida. EUA= anualmente causa sete milhões de consultas ambulatoriais, um milhão de consultas de emergência, cem mil hospitalizações e 4.000 óbitos. →M>H 6X, exceto em lactentes → período neonatal é ligeiramente maior em meninos devido a maior apresentação de anômalas congênitas nos meninos 50 a 80% das mulheres na população geral apresentam pelo menos uma ITU durante a sua vida – na maioria dos casos, cistite não complicada. a distância entre a uretra e o ânus – são considerados como o principal motivo pelo qual a ITU é predominantemente uma doença de mulheres jovens, e não de homens jovens. mulheres jovens sexualmente ativas, sua incidência é de 0,5 a 0,7 caso/ano. 20 a 30% das mulheres que já tiveram um episódio de ITU terão episódios recorrentes→recorrência precoce (dentro de 2 semanas) é habitualmente considerada como recidiva, e não como reinfecção, e pode indicar a necessidade de avaliar a paciente quanto a um foco sequestrado. →Entre os homens, as ITU são incomuns até os 50 anos de idade, quando ocorre pensar em malformação do trato urinário. A partir de então a hipertrofia de próstata, com consequente obstrução ao fluxo urinário, leva ao aumento da incidência. A falta de circuncisão está associada a um risco aumentado de ITU, visto que Escherichia coli tem mais tendência a colonizar a glande e o prepúcio e a migrar subsequentemente para o trato urinário de homens sem circuncisão. → prevalência de BAS é de 5% entre mulheres de 20 a 40 anos de idade e pode alcançar 40 a 50% entre mulheres e homens idosos. →Recorrência= taxa de recorrência varia de 0,3 a 7,6 infecções por paciente por ano, com média de 2,6 infecções por ano. Não é raro que a infecção inicial seja seguida de múltiplas recidivas, resultando em agrupamento de episódios→ pode estar relacionado temporalmente à presença de um novo fator de risco ou à descamação da camada epitelial externa protetora da bexiga em resposta à fixação das bactérias durante a cistite aguda ou, possivelmente, à alteração da flora normal relacionada aos antibióticos. A probabilidade de recorrência diminui com o passar do tempo desde a última infecção. Um estudo de caso-controle com predominância de mulheres brancas na pré- menopausa com ITU recorrente identificou as relações sexuais frequentes, o uso de espermicida, um novo parceiro sexual, uma primeira ITU antes dos 15 anos de ITU idade e uma história materna de ITU como fatores de risco independentes para ITU recorrente. Os únicos fatores de risco comportamentais incluem relações sexuais frequentes e uso de espermicida. Em mulheres na pós-menopausa→ história de ITU na pré-menopausa e fatores anatômicos que afetam o esvaziamento da bexiga, como cistocele, incontinência urinária e urina residual. →BAS durante a gestação está associada com pielonefrite materna→parto pré-termo. O tratamento antibiótico da BAS em gestantes pode reduzir o risco de pielonefrite, parto pré-termo e bebês com baixo peso ao nascer. Fatores de risco → O uso recente de um diafragma com espermicida, as relações sexuais frequentes e uma história de ITU constituem fatores de risco independentes para a cistite aguda. A cistite está temporalmente relacionada com relações sexuais recentes de maneira dose-resposta, com aumento do risco relativo que varia de 1,4 com um episódio de relação sexual até 4,8 com cinco episódios na semana precedente. Em mulheres saudáveis na pós- menopausa, a atividade sexual, o diabetes melito e a incontinência constituem fatores de risco. → Em mulheres sadias jovens, os fatores associados à pielonefrite incluem relações sexuais frequentes, novo parceiro sexual, ITU nos 12 meses precedentes, história materna de ITU, diabetes e incontinência. Os fatores de risco comuns para a cistite e a pielonefrite não são surpreendentes→ pielonefrite surge em consequência da ascensão de bactérias da bexiga até o trato urinário superior. Todavia, pode ocorrer pielonefrite sem cistite sintomática antecedente. →DM= mulheres com diabetes apresentam uma taxa 2 a 3 vezes maior de BAS e de ITU do que as mulheres sem diabetes. A duração prolongada do diabetes e o uso de insulina, em lugar de agentes orais, também estão associados a um maior risco + função vesical deficiente, a obstrução do fluxo urinário e a micção incompleta, microangiopatia diabética, disfunção leucocitária secundária a hiperglicemia e vaginite de repetição constituem fatores adicionais. Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 usados no tratamento do diabetes resultam em glicosúria e podem estar associados a pequenos aumentos no risco de ITU. →A ITU aumenta a prevalência de incontinência urinária em mulheres mais idosas e aumenta significativamente o risco de morte. →Cateter vesical= Quando sonda vesical de demora é utilizada, a incidência de bacteriúria é de 5% ao dia; o uso de sonda de alívio intermitente é associado com risco menor de infecção. Além disso, os cateteres vesicais são importantes para infecção nosocomial, principalmente em unidades de terapia intensiva, e com microbiologia diferente das infecções adquiridas ambulatorialmente, ocorrendo com frequência infecções por Pseudomonas e Morganella morganii. Nesses pacientes, muitas vezes a única manifestação é o quadro febril sem outras manifestações localizatórias. As infecções por cândida tambémsão associadas com cateter e a retirada do cateter vesical resolve a infecção em 40% dos casos, embora a troca da sonda vesical resolva a infecção em menos de 20% dos pacientes. Muitas vezes é difícil diferenciar quadros de ITU de colonização em pacientes em uso de cateter vesical. Deve-se considerar que piúria tem menor correlação com a presença de ITU nesses pacientes. →Lesao espinhal= hiperdistensão da bexiga, dificuldade de micção e litíase urinária. →Gestantes= 4 a 10% das grávidas têm bacteriúria assintomática e 1 a 4% desenvolvem cistite aguda. Pielonefrite aguda afeta 1 a 2% das grávidas no final do segundo e início do terceiro trimestres. aumento do risco de pielonefrite, parto prematuro e mortalidade fetal. ETIOLOGIA Os uropatógenos que causam ITU variam quanto à síndrome clínica, porém consistem habitualmente em bacilos Gram-negativos entéricos que migraram para o trato urinário. →E.coli= 75-90% dos casos de cistite não complicada; é o principal causador de pielonefrite →Staphylococcus saprophyticus responde por 5 a 15% (em mulheres mais jovens); e espécies de Klebsiella, Proteus, Enterococcus e Citrobacter, juntamente com outros microrganismos, por 5 a 10%. →ITU complicada= E.coli + Pseudomonas aeruginosa e espécies de Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Acinetobacter e Morganella, enterococos e Staphylococcus aureus) e as leveduras. Os dados disponíveis demonstram aumento mundial na resistência de E. coli aos antibióticos comumente utilizados no tratamento da ITU. Pesquisas na América do Norte e na Europa de mulheres com cistite aguda documentaram taxas de resistência de > 20% ao sulfametoxazol-trimetoprima (SMX-TMP) em muitas regiões e de > 10% ao ciprofloxacino. FISIOPATO O trato urinário pode ser considerado como uma unidade anatômica ligada por uma coluna contínua de urina que se estende desde a uretra até os rins. Na maioria dos casos de ITU, as bactérias estabelecem uma infecção por meio de sua ascensão até a bexiga pela uretra. A ascensão contínua pelo ureter até o rim constitui o trajeto para a maioria das infecções do parênquima renal. Entretanto, a introdução de bactérias na bexiga não leva necessariamente a uma infecção duradoura e sintomática. A interação entre fatores do hospedeiro, do patógeno e ambientais determina se haverá invasão tecidual e infecção sintomática. as bactérias frequentemente entram na bexiga após uma relação sexual; porém a micção normal e os mecanismos de defesa inatos do hospedeiro na bexiga eliminam esses microrganismos. Qualquer corpo estranho existente no trato urinário, como um cateter urinário ou cálculo, proporciona uma superfície inerte para a colonização de bactérias. A micção anormal e/ou um volume de urina residual significativo promovem a infecção., qualquer coisa capaz de aumentar a probabilidade de entrada das bactérias na bexiga e a sua permanência aumenta o risco de ITU. As bactérias tembém podem ter acesso ao trato urinário pela corrente sanguínea. Entretanto, a disseminação hematogênica responde por < 2% das ITUs documentadas e, em geral, resulta de bacteremia causada por microrganismos relativamente virulentos, como Salmonella e S. aureus. podem produzir abscessos focais ou áreas de pielonefrite dentro de um rim e resultam em culturas de urina positivas. A patogênese da candidúria é distinta→ via hematogênica é, neste caso, comum. A presença de Candida na urina de um paciente imunocompetente sem instrumentação implica uma contaminação genital ou disseminação visceral potencial. ANORMALIDADES ANATÔMICAS E FUNCIONAIS Qualquer condição capaz de permitir a estase ou a obstrução urinária predispõe o indivíduo à ITU. Os corpos estranhos, como cálculos ou cateteres urinários, proporcionam uma superfície inerte para a colonização das bactérias e a formação de um biofilme persistente. Por conseguinte, o refluxo vesicoureteral, a obstrução ureteral secundária à hipertrofia prostática, a bexiga neurogênica e a cirurgia de derivação urinária criam um ambiente favorável para a ITU. Em indivíduos com essas condições, as cepas de E. coli que carecem de fatores de virulência urinária típicos frequentemente constituem a causa da infecção. A inibição da peristalse ureteral e a diminuição do tônus ureteral, levando ao refluxo vesicoureteral, são importantes na patogênese da pielonefrite em mulheres grávidas. Os fatores anatômicos – especificamente. Fatores do hospedeiro idade, fatores comportamentais, diabetes mellitus (DM), lesão espinhal, cateterização vesical e gravidez. →A base genética individual do hospedeiro influencia a suscetibilidade à ITU recorrente, pelo menos em mulheres. A predisposição familiar à ITU e à pielonefrite está bem documentada. Há uma tendência maior de que as mulheres com ITU recorrente tenham tido a primeira ITU antes dos 15 anos de idade e uma história materna de ITU. As células da mucosa vaginal e periuretral de mulheres com ITU recorrente ligam-se três vezes mais a bactérias uropatogênicas do que as células da mucosa de mulheres sem infecção recorrente. As células epiteliais de mulheres que não secretam determinados antígenos de grupos sanguíneos podem apresentar tipos específicos de receptores aos quais se liga a E. coli, facilitando, assim, a colonização e a invasão. As mutações em genes de resposta imune inata do hospedeiro (p. ex., aqueles que codificam receptores semelhantes ao Toll e o receptor de interleucina 8) também foram associadas à ITU recorrente e à pielonefrite. Os padrões genéticos que predispõem à cistite e à pielonefrite parecem ser distintos. Fatores ambientais A ecologia vaginal constitui um importante fator ambiental que afeta o risco de ITU nas mulheres. A colonização do introito vaginal e da área periuretral por microrganismos da flora intestinal (habitualmente E. coli) constitui a etapa inicial crítica na patogênese da ITU. A relação sexual está associada a um risco aumentado de colonização vaginal por E. coli e, portanto, aumenta o risco de ITU. O nonoxinol-9 no espermicida é tóxico para a microflora vaginal normal→ risco aumentado de colonização vaginal por E. coli e bacteriúria. Em mulheres após a menopausa, os lactobacilos vaginais previamente predominantes são substituídos pela colonização por bactérias Gram-negativas. O uso de estrogênios tópicos para prevenir a ITU em mulheres na pós-menopausa é controverso; tendo em vista os efeitos colaterais da reposição hormonal sistêmica, os estrogênios orais não devem ser usados para prevenção de ITU. Fatores do microorganismo As cepas de E. coli que causam infecção sintomática invasiva do trato urinário em hospedeiros normais nos demais aspectos frequentemente possuem e expressam fatores genéticos de virulência, incluindo adesinas de superfície, que medeiam a ligação a receptores específicos sobre a superfície das células uroepiteliais→ as fímbrias P, que consistem em estruturas proteicas semelhantes a pelos, que interagem com um receptor específico nas células epiteliais renais. (A letra P denota a capacidade de ligação dessas fímbrias ao antígeno de grupo sanguíneo P, que contém um resíduo de D-galactose-D-galactose.) As fímbrias P são importantes na patogênese da pielonefrite e na invasão subsequente da corrente sanguínea a partir do rim. Outra adesina é o pilus (fímbria) tipo 1, encontrado em todas as cepas de E. coli, embora não seja expresso em todas elas. Acredita-se que os pili tipo 1 desempenham um papel-chave na iniciação da infecção vesical por E. coli, uma vez que medeiam a ligação à manose na superfície luminal das células uroepiteliais da bexiga. Toxinas, sistemas de aquisição de metais (ferro), formação de biofilme e cápsulas podem também contribuir para a capacidade da E. coli de perseverar na bexiga.QC ITU NÃO COMPLICADA= definida pela presença de polaciúria, disúria, dor suprapúbica e urgência urinária em mulheres sem alteração estrutural de trato urinário. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA O diagnóstico de BAS só pode ser considerado quando o paciente não apresenta sintomas locais ou sistêmicos relacionados com o trato urinário. A apresentação clínica é habitualmente a de bacteriúria detectada de forma incidental quando um paciente realiza uma cultura de urina de rastreamento por algum motivo não relacionado com o trato urogenital. Sinais ou sintomas sistêmicos, como febre, alteração do estado mental e leucocitose, em associação a uma cultura de urina positiva, são inespecíficos e não definem um diagnóstico de ITU sintomática, a não ser que tenham sido consideradas outras etiologias possíveis. CISTITE= disuria, polaciuria e rgência É muito frequente entre mulheres sexualmente ativas. Mulheres levam até 5 dias com sintomas como disúria e polaciúria para procurar ajuda médica. Em mulheres idosas, os sintomas são menos frequentes. Disúria (dor ou dificuldade à micção) pode ser um sintoma de uretrite (causada por Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae ou vírus Herpes simplex) ou vaginite (por Candida spp. Ou Trichomonas vaginalis). Normalmente na ITU é associada com polaciúria, sensação de urgência urinária e dor suprapúbica. Os sintomas da cistite são geralmente agudos e múltiplos, enquanto na uretrite são graduais e leves. Pacientes com corrimento vaginal têm maior chance de ter uretrite ou vaginite. Piúria ocorre na cistite e na uretrite, mas é rara na vaginite. Hematúria ocorre em 25% dos pacientes com cistite e costuma ocorrer no final do jato urinário, e resolve-se com o tratamento da infecção, mas é rara nas duas outras afecções. Fatores que sugerem cistite incluem história de cistite prévia, atividade sexual recente e uso recente de espermicida, urgência miccional e polaciúri, noctúria, hesitação, desconforto suprapúbico e hematúria macroscópica. Dispareunia, corrimento vaginal, odor alterado, disúria sem polaciúria e urgência urinária sugerem vaginite ou doença inflamatória pélvica. O exame físico pouco revela na cistite, mas é necessário um exame ginecológico para avaliar pacientes com corrimento vaginal. O exame de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário) pode ser utilizado para confirmar piúria ou a presença de bactérias. Ausência de leucocitúria torna improvável o diagnóstico de cistite. A urocultura geralmente não é necessária nos casos de cistite, mas deve ser realizada com antibiograma em casos de suspeita de pielonefrite. PIELONEFRITE Febre, sinal de Giordano, dor costovertebral, náuseas e vômitos são sugestivos de pielonefrite. Cerca de 80% dos pacientes apresentam sintomas de cistite, como disúria e polaciúria. A febre está presente em cerca de 90% dos casos e bacteremia pode ocorrer em 10 a 50% dos casos. A pielonefrite pode ser oligossintomática, principalmente em certos grupos, como gestantes. Assim, considera-se difícil o diagnóstico clínico de pielonefrite. Na suspeita, devem ser realizados exame de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário) e urocultura com antibiograma. -Leve= febre baixa, com ou sem dor lombar ou no ângulo costovertebral, - grave= febre alta, tremores, náuseas, vômitos e dor no flanco e/ou lombar. A febre da pielonefrite exibe um padrão em “estaca de cerca” de pico alto, porém sofre resolução dentro de 72 horas de terapia. Verifica-se o desenvolvimento de bacteremia em 20 a 30% dos casos de pielonefrite. Os pacientes com diabetes melito podem apresentar uropatia obstrutiva associada à necrose papilar aguda quando as papilas descamadas causam obstrução do ureter. A necrose papilar também pode ser evidente em alguns casos de pielonefrite complicada por obstrução, anemia falciforme, nefropatia por analgésicos ou combinações dessas condições. Nos raros casos de necrose papilar bilateral, uma rápida elevação dos níveis séricos de creatinina pode constituir a primeira indicação da condição. A pielonefrite enfisematosa é uma forma grave da doença, que está associada à produção de gás nos tecidos renais e perinefréticos e que ocorre quase exclusivamente em pacientes diabéticos. Ocorre quando a obstrução urinária crônica (frequentemente por cálculos coraliformes), juntamente com infecção crônica, leva à destruição supurativa do tecido renal. Ao exame patológico, o tecido renal residual frequentemente tem uma coloração amarela, com infiltração por macrófagos repletos de lipídeos. A pielonefrite também pode ser complicada pela formação de abscesso intraparenquimatoso; deve-se suspeitar dessa situação quando o paciente apresenta febre contínua e/ou bacteremia, apesar da terapia antibacteriana. DIAGNÓSTICO • ITU NÃO COMPLICADA o diagnóstico é baseado na história clínica, e exames complementares geralmente não estão indicados. história fornecida pelo paciente tem alto valor preditivo na cistite não complicada. • BACTERIURIA ASSINTOMÁTICA diagnóstico de BAS envolve critérios tanto microbiológicos quanto clínicos. O critério microbiológico (incluindo a bacteriúria assintomática associada a cateter urinário) é de ≥ 105 UFC/mL de bactérias na urina. O critério clínico é a ausência de sinais e sintomas referentes ao trato urinário. → Em todos os outros pacientes é necessária a confirmação diagnóstica com exames laboratoriais. Infecções de trato urinário em homens são consideradas complicadas, pois frequentemente são associadas a anormalidades estruturais de trato urinário. Nos homens, a documentação de bacteriúria pode diferenciar as síndromes menos comuns de prostatite bacteriana aguda e crônica da entidade muito comum de síndrome de dor pélvica crônica, que não está associada à bacteriúria e, portanto, não costuma responder à terapia antibacteriana -PIURIA= presença de piúria é praticamente universal, seja em pacientes com cistite, seja com pielonefrite. Ausência de piúria sugere fortemente diagnóstico alternativo não infeccioso. O melhor método para determinar piúria é a análise do jato médio da urina por hemocímetro com contagem maior que 10 leucócitos/mL. Pode ainda estar presente em cerca de 30 a 35% dos pacientes com bacteriúria assintomática; - detecção de nitritos na urina representa evidência de crescimento bacteriano, apresentando boa sensibilidade e especificidade diagnóstica para pacientes com grandes contagens de bactérias em urocultura, mas com acurácia inadequada. -O exame definitivo para o diagnóstico de ITU é a urocultura, que deve ser colhida antes da introdução de antibióticos. Considera-se que o melhor espécime para urocultura seja a urina de jato médio após higiene íntima. Faz-se cultura quantitativa e considera-se positiva uma contagem maior ou igual a 105 unidades formadoras de colônias por mL (ufc/mL) e sugestiva uma contagem maior ou igual a 104 ufc/mL. Em mulheres com sintomas fortemente sugestivos, pode-se considerar contagens menores, a partir de 102 ufc/mL. Em homens com suspeita de prostatite aguda, a cultura de secreção prostática é necessária. -Hemoculturas são indicadas em pacientes com pielonefrite em que se decide realizar internação, assim como função renal, hemograma completo e eletrólitos. Deve ser suspeitada a presença de complicações, como o abscesso perinefrético, em todos os pacientes em que a febre não ceder após 72 horas de antibioticoterapia. As indicações de exames de imagem nesses pacientes incluem: ▪ Choque séptico. ▪ Febre por > 72 horas. ▪ Suspeita de obstrução urinária. ▪ Paciente com pielonefrite e pH urinário > 7. ▪ Piora recente da função renal, com taxa de filtração glomerular < 40 mL/minuto. Os seguintes achados de exames de imagem são sugestivos de abscesso renal e perinefrético:▪ Ultrassonografia: demonstra cavidade no parênquima renal com paredes espessadas e conteúdo líquido. ▪ Tomografia: os achados são dependentes da evolução. Em estágios iniciais, aparecem lesões do tipo massa e hipodensas, que evoluem depois com liquefação. Tipicamente encontra- se rim hiperdenso com contraste circundando uma cavidade de abscesso. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL vaginites e uretrites, cistite intersticial (lembrar em idoso A pielonefrite aguda deve ser diferenciada da pielonefrite crônica, que é uma causa comum de doença tubulointersticial por infecções recorrentes, como as que ocorrem em pacientes com obstrução renal por cálculos ou refluxo vesicoureteral. Em mulheres idosas, a atrofia vaginal pela deficiência estrogênica pode causar disúria sem infecção associada. Em homens, o prostatismo pode aumentar a probabilidade de desenvolver ITU, mas pode causar sintomas urinários sem infecção presente. TTO BAS Em geral não deve ser tratada, exceto em situações específicas. Cistite na mulher Deve-se iniciar tratamento empírico oral com: ▪ Nitrofurantoína 100 mg 12/12 horas (usar por 5 dias); ou ▪ Sulfametoxazol trimetropim (SMX-TMP) 160- 800/160 mg 12/12 horas (por 3 dias); ou ▪ Fosfomicina 3 g em dose única (eficácia menor, evitar se possibilidade de pielonefrite). A escolha inicial do antibiótico é dependente da resistência esperada ao SMX-TMP na região. Se menor do que 20%, essa medicação pode ser utilizada como agente de escolha. A eficácia dos regimes com 3 dias de antibioticoterapia é superior a 90%. Se houver resolução dos sintomas, não é necessário o acompanhamento clínico ou laboratorial. Caso não haja melhora dos sintomas, devem ser realizados exame de urina (urina I ou sedimento urinário) e urocultura com antibiograma, orientando o tratamento com base nos seus resultados. É importante lembrar ainda dos diagnósticos diferenciais de cistite (vaginite e uretrite). Fluorquinolonas não são recomendadas como tratamento de primeira linha das ITUs simples, a fim de preservar a sua eficácia para ITUs complicadas, e betalactâmicos não são recomendados para o tratamento de rotina das ITUs, pois apresentam eficácia limitada Cistite em gestantes Devem ser colhidos exames de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário e urocultura) e iniciado o tratamento empírico com cefadroxil, cefalexina ou amoxicilina, por 7 dias e pode ser alterado, se necessário, com base no resultado da cultura e do antibiograma. Não usar quinolonas (contraindicadas na gestação). Cistite em condições especiais Pacientes com diabetes, imunossupressão, internação hospitalar recente ou história de cálculos renais devem realizar exames de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário e urocultura) antes de iniciar o tratamento empírico. A duração do tratamento em geral é de 3 dias e, ao seu final, deve ser realizada uma urocultura de controle. Se não houver a resolução dos sintomas ou se houver história de alterações renais ou urológicas prévias, como rins policísticos ou alterações anatômicas, deverá ser realizada uma investigação mais ampla. Na presença de sinais sistêmicos como febre, dor abdominal, náuseas ou vômitos, deve ser suspeitada pielonefrite e adaptar o tratamento para essa situação. Em pacientes idosos, tende-se a ser conservador e evitar tratar casos sem sintomas. Em mulheres idosas, sem comorbidades e com ausência de achados de pielonefrite, a medicação de escolha é ciprofloxacina por 3 dias (250 mg VO 12/12 h). Em homens ou mulheres com comorbidades, pela dificuldade de diagnóstico de pielonefrite nessa população, costumam ser realizados tratamentos mais longos: 7 a 10 dias para mulheres, e 14 a 28 dias (quando se considera prostatite) para homens. Pielonefrite aguda não complicada Deve ser realizado exame de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário e urocultura com antibiograma). O tratamento inicial deve ser empírico oral ou parenteral, com indicação de internação hospitalar de acordo com o estado geral do paciente. As opções são: ▪ Ciprofloxacina: 400 mg IV ou 500 mg VO de 12/12 horas. ▪ Ceftriaxone: 1 a 2 g IM/IV, uma vez ao dia. ▪ Aminoglicosídeo via intramuscular ou endovenosa em dose única diária: amicacina 15 mg/kg ou gentamicina 5 mg/kg. A duração total do tratamento será de 7 a 14 dias, podendo haver a passagem da via parenteral para a oral conforme haja melhora do quadro geral e alta hospitalar. Em pacientes com náuseas e vômitos, recomenda-se realizar hidratação endovenosa 30 mL/kg com soluções isotônicas e antieméticos. Se não houver melhora importante do quadro clínico em 24 a 48 horas de tratamento ou houver persistência de febre por mais de 5 dias após o início da antibioticoterapia, deve-se considerar avaliação com imagem para verificar se há complicações ou abscessos. Pielonefrite com abcesso ou nefrolitiase Pacientes com abscessos devem ter terapia antimicrobiana por 14 a 28 dias e deve-se considerar a drenagem do abscesso. A nefrectomia parcial ou total é usualmente indicada na pielonefrite enfisematosa. Pacientes com urolitíase obstrutiva e sinais de sepse têm indicação de desobstrução cirúrgica das vias urinárias de emergência. nesses pacientes pode ser difícil o diagnóstico de ITU com a urocultura de jato médio sendo pouco sensível devido à obstrução ao fluxo urinário no rim afetado. A indicação de hospitalização é em geral dependente do julgamento clínico, mas a maioria dos pacientes pode ser tratada ambulatorialmente, com ou sem dose inicial de antibioticoterapia endovenosa intra-- hospitalar. Infecções em paciente com sonda A melhor estratégia para a prevenção da ITUAC consiste em evitar a inserção desnecessária de cateter e removê-lo quando este não for mais necessário. os cateteres fornecem um conduto para a entrada de bactérias na bexiga, a ocorrência de bacteriúria é inevitável com o uso prolongado de um cateter. Os sinais e sintomas típicos de ITU, incluindo dor, urgência, disúria, febre, leucocitose periférica e piúria, têm menos valor preditivo para o diagnóstico de infecção em pacientes cateterizados. A etiologia é diversa. Os cateteres devem ser trocados e a persistência de bacteriúria 48 horas após retirada de cateter vesical é indicação de tratamento. pacientes criticamente doentes com diagnóstico presuntivo de ITU devem receber tratamento antibiótico imediato, com duração de 10 a 14 dias e a escolha do antibiótico depende dos resultados de culturas. Em pacientes em que Gram não apresente cocos Gram-positivos (etiologia provável de infecção por enterococos ou estafilococos coagulase-negativos), o agente de escolha é a cefalosporina de terceira geração, como ceftriaxone 2 g/dia, ou fluorquinolonas, como ciprofloxacina 400 mg EV a cada 12 horas. Se infecção por Pseudomonas for suspeitada, indica-se ceftazidima 2 g a cada 8 horas, e pode-se considerar o uso de aminoglicosídeos. Em infecções por enterococos, ampicilina, vancomicina e eventualmente aminoglicosídeos são agentes de escolha; já em pacientes com estafilococos coagulase negativos, o uso é preferencialmente de vancomicina 1 g 12/12 h. Infecções por cândida O aparecimento de Candida na urina representa uma complicação cada vez mais comum da cateterização de demora, em particular para pacientes de unidade de terapia intensiva, para aqueles em uso de agentes antimicrobianos de amplo espectro e para indivíduos com diabetes melito subjacente. O objetivo do tratamento é erradicar sinais e sintomas associados com infecção urinária parenquimatosa. A remoção do cateter uretral leva à resolução da candidúria em mais de um terço dos casos assintomáticos Os fatores de risco mais comuns para candidúria são o aumento da idade, sexo feminino, uso de antibiótico, aparelhos urináriosde drenagem, procedimentos cirúrgicos anteriores e diabetes mellitus. Pacientes sem sintomas clínicos, sem piúria e urocultura com mais de 10.000 UFC/mL não devem ser tratados, exceto se neutropênicos, transplantados, em pré- operatório de cirurgia urológica e pacientes de muito baixo peso. se o paciente está com sonda vesical, esta deve ser trocada e a urocultura deve ser repetida em 48 horas; se novamente apresentar urocultura com mais de 10.000 UFC/mL, deve ser indicado o tratamento. Os pacientes com candidúria sempre devem ser investigados em relação à possibilidade de obstrução urinária com ultrassonografia ou outro exame de imagem. Entre pacientes que apresentem piúria, mas sem sintomas clínicos, deve-se tratar os de risco. Pacientes com candidúria sintomática devem ter sonda vesical trocada e ter o tratamento iniciado. As seguintes opções são possíveis: ▪ Fluconazol 200 a 400 mg ao dia por 7 a 14 dias. ▪ Anfotericina B 0,3 mg/kg/dia em dose única (alguns autores recomendam curso de até 7 dias). ▪ A flucitosina é uma alternativa, embora de menor eficácia. ITU RECORRENTE A conduta na ITU recorrente deve começar com pesquisa e correção de fatores de risco, já mencionados anteriormente, quando possível. As três estratégias antibióticas utilizadas são: profilaxia pós-coito, profilaxia contínua e autotratamento intermitente pela paciente. Descreve-se que a eficácia durante o uso da profilaxia é de aproximadamente 95%. a escolha do antibiótico deve seguir padrões de resistência da comunidade, eventos adversos e custos locais. A profilaxia contínua e a profilaxia pós-coito utilizam habitualmente baixas doses de SMX-TMP, uma fluoroquinolona ou a nitrofurantoína. Todos esses esquemas são altamente efetivos durante o período de administração ativa do antibiótico. Um esquema profilático é prescrito durante 6 meses e, em seguida, interrompido, quando a taxa de ITU recorrente frequentemente retorna a seu nível basal. Se houver recidiva de infecções inoportunas, o programa profilático pode ser reinstituído por um período mais prolongado. →Profilaxia contínua: pode ser administrada diariamente ao deitar ou com fosfomicina a cada 10 dias por 6-12 meses. →Profilaxia pós-coito: A relação causal entre infecções e relações sexuais pode ser suspeitada quando o intervalo é entre 24 e 48 horas. →Autotratamento: Essa estratégia deve ser restrita às mulheres que têm infecções recorrentes bem- documentadas e que estão motivadas e bem orientadas pelo médico. A paciente identifica o episódio de infecção com base nos sintomas e inicia o tratamento empírico. Essas mulheres devem ser instruídas a entrar em contato com seu médico se os sintomas não forem completamente resolvidos dentro de 48 horas. →Terapia estrogênica em mulheres na pós-menopausa: A queda estrogênica na pós-menopausa favorece o desenvolvimento de bacteriúria. O uso de estrógenos estimula a proliferação de lactobacilos no epitélio vaginal, reduz o pH e evita a colonização vaginal por uropatógenos→ reduz a recorrência de ITUs em 36% a 75% e tem mínima absorção sistêmica. SEGUIMENTO Pacientes com ITU não complicada, incluindo pielonefrite, não necessitam de internação hospitalar. MAS é sugerido que, os pacientes com pielonefrite recebam a primeira dose de antibiótico por via endovenosa no departamento de emergência. →Indicações para internação= Pacientes com quadro séptico, incapazes de tomada de medicação por questões clínicas ou sociais e pacientes com pielonefrite obstrutiva devem ser internados. Pacientes com ITU de repetição devem ser seguidos ambulatorialmente e modalidades de terapia preventiva, como antibioticoterapia profilática, podem consideradas.
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