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A IMPORTÂNCIA DO HOSPITAL COLONIA PARA O AVANÇO DA PSIQUIATRIA MODERNA DO BRASIL NO SECULO XX FINAL

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COLÉGIO RAÍZES
ANNA BEATRIZ SOUZA BACARIN
O IMPACTO DO HOSPITAL COLÔNIA PARA A INICIATIVA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL 
SÃO PAULO
2021
ANNA BEATRIZ SOUZA BACARIN
O IMPACTO DO HOSPITAL COLÔNIA PARA A INICIATIVA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL 
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) submetido ao Colégio Raízes de São Paulo como parte dos requisitos para a conclusão do Ensino Médio.
SÃO PAULO
2021
ANNA BEATRIZ SOUZA BACARIN, O IMPACTO DO HOSPITAL COLÔNIA PARA A INICIATIVA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Colégio Raízes, São Paulo, 2021.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Professora Fabiana Vigarani
Presidente da banca – Orientadora
Professor Luiz Felipe dos Reis 
Orientador
Professora Eveny Almeida
 Coorientadora
Dedico este projeto aos meus pais por me darem motivação e todos os materiais necessários para a realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor Felipe por me auxiliar nas pesquisas, me emprestar livros e estar sempre me incentivando. Ao meu pai, que me orientou sobre as estruturas necessárias e comprou o livro Holocausto Brasileiro, que foi o principal motivo de eu realizar o presente trabalho. E aos meus amigos de sala, que me ajudaram tirando dúvidas e fizeram meu ano muito mais completo e divertido, tirando toda a pressão que o TCC traz consigo, especialmente ao meu amigo Richard Hartmann que me ajudou nas correções e formatação.
 
“É preciso criar uma outra psiquiatra, não uma antipsiquiatria. Uma psiquiatria centrada no sujeito e não na doença” (Franco Basaglia). 
RESUMO
Este artigo tem por objetivo contextualizar o início da reforma psiquiátrica brasileira, a partir da revisão dos marcos teórico e prático ocorridos dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena. Foram pesquisadas dissertações, teses, artigos em bases de dados (Scielo), livros sobre a temática e documentos oficiais. Contudo, são levantados alguns contextos históricos da admissão da psiquiatria no Brasil e principalmente em Minas Gerais, onde o Hospital de Barbacena, mais conhecido como Colônia começou a ser reconhecido na mídia. Por conta dos métodos utilizados na época, tendo que dentre seus processos de doutrinamento, era necessário converter os pacientes em índoles instáveis e corpos manipuláveis. O hospital sofreu durante muitos anos uma superlotação que fez com seus pacientes passassem por circunstancias desumanas. Denunciado por mais de vinte anos desde a década de 60, o Hospital Colônia foi responsável pelas primeiras revoltas a favor da reforma psiquiátrica. Com grandes marcos que foram promulgados pela da lei, preconizando o fechamento dos hospitais psiquiátricos de forma gradativa e a substituição desde hospitais por um serviço de atenção à saúde mental dentro de uma rede.
Palavras-chave: Psiquiatria; doutrinamento; superlotação; saúde mental. 
OBJETIVOS
· Compreender o impacto do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, ocorrido em Minas Gerais, sobre as primeiras manifestações em favor da reforma psiquiátrica;
· Caracterizar os antigos métodos utilizados como uma consequência das doutrinações progressistas desde o sistema carcerário;
· Traçar paralelos entre as alegorias presentes nas obras de Michel Foucault sobre o conceito de loucura adquiridos na era clássica;
· Refletir a falta de humanização presente na época diante daqueles que eram considerados inconvenientes pela política da sociedade contemporânea;
· Levantar dados de testemunhas a fim de realçar as atrocidades ali cometidas e as sequelas deixadas no campo obscuro da psiquiatria brasileira.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. A ORIGEM DA PSIQUIATRIA NO BRASIL......................................................10
2.1 PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES...........................................................................10
2.2 CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL COLÔNIA....................................................11
3. MÉTODOS UTILIZADOS..................................................................................13 
3.1 CORPOS DÓCEIS...........................................................................................13
3.2 ELETROCONVULSOTERAPIA......................................................................15
3.3 LOBOTOMIA...................................................................................................16
4. TESTEMUNHAS................................................................................................17
4.1 CORPOS VENDIDOS......................................................................................17
4.2 EXPOSIÇÃO NA MÍDIA..................................................................................18
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................24
1. INTRODUÇÃO 
O presente estudo busca enfatizar um marco na História da Psiquiatria brasileira que desde sua criação possuía uma atmosfera psiquiátrica saturada de conotações ideológicas graças à incapacidade em discriminar aquilo que em teoria era determinado pelos próprios preconceitos.
Como reflexo disso, o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, fundado em 1903, conhecido apenas por Colônia, recebia diariamente centenas de pessoas para serem internadas. A maioria delas, no entanto, não tinham o diagnóstico de doença mental, eram homens e mulheres que haviam se tornado incômodos para gente com mais poder: homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, melancólicos ou simplesmente tímidos.
Boa parte desses pacientes foi internada à força e um número estarrecedor de pessoas foi submetido a condições desumanas com o consentimento do Estado, médicos, funcionários e sociedade. Esses homens, mulheres e até crianças chegaram a comer ratos, beber esgoto ou urina e dormir sobre feno. Nas noites geladas da serra da Mantiqueira, eram jogados ao relento, praticamente nus. Morreram de fome, frio, doenças e todo tipo de maus-tratos. Mortes lucrativas, uma vez que entre 1969 e 1980, 1855 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para 17 faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Apesar das denúncias feitas a partir da década de 1960, mais de 60 mil internos morreram e um número incontável de vidas foi marcado de forma irreversível.
Historicamente, as décadas de 1980 e 1990 foram situadas como marcos significativo nas discussões pela reestruturação da assistência psiquiátrica no país. Todavia, os mais de vinte anos de denúncias fez com que o hospital ficasse conhecido de maneira nacional e internacional de forma negativa. Sendo citada até mesmo como a “Sucursal do Inferno”, o Colônia foi um dos principais contribuintes para o reconhecimento de mudanças sobre a psiquiatria no Brasil.
2. A ORIGEM DA PSIQUIATRIA NO BRASIL
2.1 PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES
Juntamente com o surgimento da industrialização, a ciência passa ocupar espaço central para explicações dos fenômenos psíquicos. Porém, conforme os desenvolvimentos da industrialização, do comércio crescente com mudanças nas formas de agir e de se viver no meio capitalista, muitos não se adaptaram a essas mudanças. Consequentemente, um número progressista de moradores de rua, prostituição, marginais ou então pessoas que não se adaptavam a ordenação/disciplina, foram excluídas do convívio. A nova organização do trabalho europeia passa a exigir locais para abrigar as pessoas que não se enquadravam nesse novo sistema, ou seja, locais para abrigar os “diferentes” ou “desordeiros” ou “loucos”.
Então, com o avanço da medicinano século XVII e XVIII, chamado período do Iluminismo nascido na Europa, o saber científico desenvolveu-se com o intuito de libertar o homem da loucura para venderem sua força de trabalho no mercado. Por esse saber estar integrado a nova ordem industrial - que era a sobrevivência por meio da força de trabalho - os médicos começaram a ter espaço dentro dos asilos e assim foram estudando, esses doentes.
 Entretanto, Até a segunda metade do século XIX, os doentes mentais que habitavam majoritariamente pelo Brasil não se beneficiavam de nenhuma assistência médica específica. Quando não eram colocados nas prisões por vagabundagem ou perturbação da ordem pública, os loucos vagavam pelas ruas ou eram encarcerados em anexos das casas de Santas Casas de Misericórdia.
Foi a partir de 1830 que um grupo de médicos, higienistas na sua maioria, começam a pedir, entre outras medidas de higiene pública, que se construa um hospício para os alienados. 
Em 1841, o imperador Pedro II assinou o decreto de fundação do primeiro Hospital Psiquiátrico brasileiro, o Hospício D. Pedro II, que foi a ser inaugurado em 1852. A partir de então, os doentes mentais foram todos reunidos no Hospício D. Pedro II, cuja direção permaneceu, no entanto, confiada aos religiosos da Santa Casa de Misericórdia.
Em 1890, após a instauração da República, o Hospício D. Pedro Il passou a chamar-se Hospital Nacional dos Alienados, e ser separado da Administração da Santa Casa para colocar-se sob a tutela do Estado.
Em 1927, o Governo Washington Luís cria o Serviço de Assistência aos Doentes Mentais do Distrito Federal, instituição encarregada de coordenar administrativamente todos os estabelecimentos psiquiátricos públicos do Rio de Janeiro. Em 1930, esta instituição é incorporada ao Ministério da Educação e Saúde, que, obedecendo à tendência centralizadora do governo surgido da Revolução de 1930, assume a responsabilidade de todos os serviços psiquiátricos do país. Os pavilhões superlotados lembravam os de uma penitenciária. Muitos eram submetidos à camisa de força e a técnicas violentas como a lobotomia e o eletrochoque. Mesmo com a percepção sobre muitos outros fatores contribuintes, o despreparo dos primeiros hospitais construídos em território brasileiro sobre o defronto de transtornos psiquiátricos foram essencialmente negativos para a funcionalidade do cérebro. 
Finalmente, em 1934, o Decreto nº 24.559 de 3 de julho, promulga a segunda Lei Federal de Assistência aos Doentes Mentais, que dispõe sobre profilaxia mental, a assistência e a proteção à pessoa dos psicopatas e a fiscalização dos serviços psiquiátricos. Entre a data de promulgação desta lei e os primeiros protestos contra a situação da assistência aos loucos no Rio, escoou-se aproximadamente um século.
2.2 CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL COLÔNIA 
O Hospital acabou tendo sua finalidade deturbada desde os primeiros tempos. Já em 1914, há registros de queixa sobre condições inadequadas de atendimento, apesar das constantes libertações de suplementos de créditos aprovados pela Assembleia Legislativa. Considerado pela história oficial como um presente grego para Barbacena - já que o hospício foi construído na cidade como prêmio de consolação, após perder a disputa com Belo Horizonte para ser a capital de Minas -, Colônia, pelo contrário, atendeu a interesses políticos, impulsionando ainda a economia local. Além de produtor de flores, o município consolidou sua vocação para o comercio. Ganhou fornecedores e moradores que viam no lugar a chance de um emprego bem remunerado, apesar da pouca qualificação dos candidatos. Mesmo com baixíssimo nível de escolaridade, os barbacenenses trocavam postos de trabalho por votos. Muitos coronéis da política mineira “nasceram” junto com o Colônia, transformando o Hospital em grande curral eleitoral.
O Município se ressente até hoje da pecha do seu hospício, mas o comercio da loucura, que mais tarde despertou a gana das clinicas particulares, viabilizou o modelo de cidade que Barbacena se tornou. Dezenove dos vinte e cinco hospitais psiquiátricos existente em Minas até a década de 1980 estavam localizados no famoso corredor da loucura formado por Barbacena, Juiz de Fora Belo Horizonte. Nesse período, as três cidades concentravam 80% dos leitos da saúde mental do estado. Parâmetros da Organização Mundial da Saúde estabeleciam como referência três internações para cada mil beneficiários no país. Mas estudos do setor psiquiátrico mineiro revelaram quase sete internações para cada grupo de mil, em 1979. Em 1981 o número era superior a cinco. A cada duas consultas e meia, uma pessoa era hospitalizada nas Gerais. Estimando-se que, só no Hospital Colônia mais de 60 mil internos tenham morrido, vítimas de negligência, isolamento social e tortura. “Os manicômios não foram construídos com o objetivo de tratar, mas, sim, de excluir aqueles que não se encaixavam no que se pensava ser um cidadão normal”, analisa o psiquiatra Marco Aurélio Soares Jorge, doutor em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 
3. MÉTODOS UTILIZADOS 
3.1 CORPOS DÓCEIS
O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica de poder”, está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”.
(FOUCAULT, Vigiar e Punir: nascimento da prisão, 1975, p.133)
 
Estratégias de enfrentamento são esforços cognitivos e comportamentais constantemente alteráveis para controlar (vencer, tolerar ou reduzir) demandas internas ou externas específicas que são avaliadas como excedendo ou fatigando os recursos da pessoa. No livro Vigiar e Punir, de Michel Foucault, o autor relata sobre o sistema carcerário da era clássica realçando as modalidades que implicam numa coerção ininterrupta, constante, que velam sobre os processos de atividades mais que seus resultados e se exercem de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço e os movimentos dos marginais. Esses métodos que permitiam o controle minucioso das operações do corpo, que realizavam a sujeição constante de suas forças e lhes impusessem uma relação de docilidade ou de utilidade, são descritos como a forma de “disciplinar” aqueles que deveriam ser reabilitados.
O próprio livro também ressalta que a disciplina às vezes exige a possível necessidade da especificação de um local heterogêneo a todos os outros, contrapondo a futura influência desses processos em outros sistemas que visam domesticar seus residentes. 
Todavia, em seu outro livro “História da Loucura”, Michel Foucault investiga, através de invenções histórico-discursivas, as grandes figuras da loucura que se mantiveram ao longo da era clássica mostrando como se situam no interior da experiência do desatino e como conseguiram, cada uma delas, uma coesão própria e como chegaram a manifestar de modo positivo a negatividade da loucura.
A estranha instabilidade qualitativa da era época qualificava males histéricos e hipocondríacos numa estranha confusão de suas propriedades dinâmicas e do segredo de sua química. Ao seu ver, quanto mais a leitura da mania e da melancolia parecia simples no horizonte das qualidades, tanto mais a decifração desses males parecia hesitante. Entre suas análises, conclui-se que transtornos mania e melancolia, quando não tratados, podem prejudicar o cérebro humano, sendo responsável por inúmeros casos de demência durante o século XVI.
Perturbações do cérebro podem ser, de início, isoladas, mas em um ambiente melancólico sem influências externas, são rapidamente combinadas. Quando a índole de um indivíduo fica pesada e seus movimentos demasiado lentos, ou quando são demasiado fluidos, os porosdo cérebro e os canais por eles percorridos chegam a obstruir-se ou a assumir formas defeituosas. Em compensação, se é o próprio cérebro que tem algum defeito, mais especificamente, sobre suas áreas-chave, incluindo o hipocampo, tal adquire uma diátese defeituosa.
A minúcia dos regulamentos, o olhar esmiuçamento das inspeções, o controle das mínimas parcelas da vida e do corpo darão em breve, no quadro da escola, do quartel, do hospital ou da oficina, um conteúdo laicizado, uma racionalidade econômica ou técnica a esse cálculo místico do ínfimo e do infinito. (FOUCAULT, Vigiar e Punir: nascimento da prisão, 1975, p.136)
A possibilidade de que o sofrimento psicológico possa ser um fator de risco para a Demência tem grandes implicações. Tanto a ansiedade quanto a depressão são condições de saúde mental debilitantes, que reduzem a qualidade de vida de uma pessoa. Sem diagnóstico precoce e terapia adequada, portadores de doenças mentais estão sujeitos a mazelas que vão de incapacidade social à mortalidade precoce.
3.2 ELETROCONVULSOTERAPIA
 
Inventada na década de 1930, a eletroconvulsoterapia (ECT), ajuda a induzir crises convulsivas a partir de descargas elétricas. Mas seu uso, no século passado, foi muito controverso. A falta de anestésicos e relaxantes musculares adequados, além do desconhecimento sobre os parâmetros relacionados à descarga elétrica, fez com que pacientes sofressem com fraturas, deslocamento de membros e efeitos colaterais cognitivos mais importantes.
A tecnologia do eletrochoque se modernizou há um par de décadas, sendo utilizado nos dias atuais com fins terapêuticos para alguns tipos de transtornos, como esquizofrenia, transtorno depressivo maior, transtorno afetivo bipolar, dentre outros. No Brasil, o método só passou a ter mais controle em 2002, quando o Conselho Federal de Medicina estabeleceu regras específicas para a adoção da técnica, como a necessidade de aplicar anestesia geral. Além da anestesia, a utilização de relaxantes musculares ameniza as convulsões, mas nem sempre foi assim. No Colônia, o choque era aplicado a seco e tinha características semelhantes à tortura. Para conseguir crescer profissionalmente dentro do hospital, os interessados precisavam passar por todas as etapas de atendimento na área da saúde, desde a aplicação de injeção até a realização de curativo e do temido eletrochoque.
Francisca Moreira dos Reis, funcionária da cozinha, era uma das candidatas à vaga de atendente de enfermagem em 1979. Ela e outras vinte mulheres foram sorteadas para realizar uma sessão de choque nos pacientes masculinos do pavilhão Afonso Pena, escolhidos aleatoriamente para o exercício. A primeira mulher a tentar teve que cortar um pedaço de cobertor, encher a boca do paciente, que já estava amarrado na cama, molhar a testa dele e começar o procedimento. Ao aproximar os eletrodos das têmporas de sua cobaia, sem nenhum tipo de anestesia, foi instruída a usar até 120 de carga. A vítima não resistiu, falecendo de parada cardíaca. 
3.3 LOBOTOMIA
No livro Holocausto Brasileiro, escrito pela jornalista Daniela Arbex é descrito nos relatos momentos emblemáticos no hospital, como a cirurgia de lobotomia realizada em um garoto de doze anos que sofria crises de epilepsia. A cirurgia foi feita em 1978, quando uma parte do cérebro do menino foi retirada. Outro caso foi o da paciente Sonia Maria da Costa, sobrevivente internada no Colônia por mais de quarenta anos por conta de um comportamento agressivo que demonstrava desde a infância. Entre suas palavras dizia que por diversas vezes, teve seu sangue retirado sem o seu cometimento por “vampiros humanos” que enchiam recipientes de vidro, a fim de aplicar a luz em organismos mais debilitados que o dela, principalmente nos pacientes que passavam por tal cirurgia.
A intervenção tem a finalidade de seccionar as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo. O procedimento foi utilizado no Colônia com o objetivo de conter a agressividade e fazer os surtos cessarem. Os pacientes não tiveram sintomas graves, mas muitos doentes passavam a vegetar depois da cirurgia, como João Adão, descrito no livro como o ultimo lobotomizado do Colônia, em 1979. Tal técnica ainda é realizada em algumas cidades brasileiras.
4. TESTEMUNHAS
4.1 CORPOS VENDIDOS
 
Os pacientes do Colônia morriam de frio, de fome, de doença e também de choque. Alguns ex-funcionários afirmam em alguns dias, os eletrochoques eram tantos e uma potência tão forte, que a sobrecarga derrubava a rede do município. Ao falecerem, davam lucro. Mais
 1.823 corpos foram vendidos pelo Colônia para dezessete faculdades de medicina do país entre 1969 e 1980. A subnutrição, as péssimas condições de higiene e de atendimento provocavam mortes em massa no hospital, onde registros da própria entidade apontam dezesseis falecimentos por dia, em média, no período de maior lotação. A partir de 1960, a disponibilidade de cadáveres acabou alimentando uma macabra indústria de venda de corpos. 
Só a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) adquiriu 543 corpos em uma década. Já a UFJF foi responsável pela compra de 67 cadáveres entre fevereiro de 1970 e maio de 1972. Ivanzir Vieira, professor universitário que testemunhou a chegada de um dos lotes de cadáveres adquiridos pela Universidade Federal d Juiz de Fora expõe que os documentos do hospital mostram que, na remessa feita em março de 1970, havia pessoas procedentes de Belo Horizonte, Itambi, Sobrália e Itapecerica. Todos eles municípios mineiros. Na entrega de 1971, os mortos eram de pelo menos quinze cidades do estado, como Belo Horizonte, Governador Valadares, Brasília de Mi nas, Leopoldina, Palmital, Raul Soares, entre outros. Sendo que nenhum dos familiares dessas vítimas autorizou a comercialização dos corpos.
Os corpos dos transformados em indigentes foram negociados por cerca de cinquenta cruzeiros cada um. O valor atualizado, corrigido pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas, é equivalente a R$ 200 por peça. Entre 4 e 19 de novembro de 1970, foram enviados para a Faculdade de Medicina de Valença quarenta e cinco cadáveres negociados por 2.250 cruzeiros o lote. Corrigido pelo IGP-DI, o lote saiu a R$ 8.338,59. Em uma década, a venda de cadáveres atingiu quase R$ 600 mil, fora o valor faturado com o comércio de ossos e órgãos.
O fornecimento de peças anatômicas, aliás, dobrava nos meses de inverno, época em que ocorriam mais falecimentos no Colônia, se comparada ao período de verão. Em junho de 1971, a venda de corpos pela instituição atingiu 137 peças contra sessenta e quatro negociadas em janeiro daquele mesmo ano. Paulo Henrique Alves, setenta e um anos, psiquiatra de Belo Horizonte, era estudante da Faculdade de Medicina da UFMG em 1967, quando, aos vinte e três anos, teve contato com uma das remessas do Colônia usadas para dissecação nas aulas de anatomia.
O ex-estudante recorda que algumas das vezes que tinha que dissecar um pulmão, percebia a presença de tuberculose, e os professores diziam que isso era comum nos cadáveres de Barbacena. Também chamava a atenção à magreza dos corpos usados nas aulas de anatomia. No entanto, a própria questão da loucura era uma coisa distante para mim naquele momento. Mais tarde, comecei a tomar conhecimento do que se passava naquele hospital.
Quando os corpos começaram a não ter mais interesse para as faculdades de medicina, que estavam abarrotadas de cadáveres, eles eram decompostos na frente dos pacientes, dentro de tonéis pátio do Colônia. O objetivo era que as ossadas pudessem, então, ser comercializadas.
4.2 EXPOSIÇÃO NA MÍDIA 
Algumas poucas vezes os rumores do Colônia vinham à tona, mas quando passada a comoção publica, voltavam ao declínio. A sensação de impotência diante das atrocidades ocorridas dentro dos muros o hospital é comum a funcionários e ex-funcionários do Colônia. Muitos contam que desejaram denunciar o sistema, mas não havia quem se dispusesse a ouvir. Vinte e oito presidentes do estado de Minas Gerais, interventores federais governadores revezaram-seno poder desde a criação do Colônia, entre 1903 e 1980.
Outros dez diretores comandaram a instituição nesse período, alguns por mais de vinte anos, como o médico Joaquim Dutra, o primeiro dirigente. Em 1961 o presidente Jânio Quadros colocou o aparato governamental a serviço da instituição para reverter o calamitoso nível de assistência dada aos enfermos, mas os abusos permaneceram.
A primeira denúncia pública contra Barbacena foi feita por Francisco Paes Barreto, atual membro da Associação de Psiquiatria brasileira, em 1966, após entrar em contato com o hospital durante 180 dias Colônia em uma missão de fazer ensaios clínicos com os pacientes.
Em 1961, a rotina do hospício foi contada na prestigiada revista semanal O Cruzeiro, que circulou entre 1928 e 1975, pelo fotógrafo Luíz Alfredo e pelo repórter José Franco, com o título: “A sucursal do inferno”. Por um momento o país se comoveu. A classe política fez barulho, os governantes fizeram promessas publicas pelo fim da desumanidade. Entretanto, quando o calor da notícia abrandou, tudo continuou exatamente igual no hospício.
No final da década de 70, Ronaldo Simões, chefe do Serviço Psiquiátrico da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) denunciou, no III congresso Mineiro de Psiquiatria, as atrocidades cometidas no Colônia. Suas declarações foram tão impactantes no meio medico que por causas delas, Simões perdeu seu emprego. A demissão foi o primeiro até de perseguição aos que romperam a cultura do silencio.
Em 1979, após dezoito anos das denúncias da revista, o repórter Hiram Firmino e a fotógrafa Jane Faria publicaram a reportagem “Os porões da loucura”, sendo um porta-voz dos internados de Barbacena. Assim como o documentário “Em nome da Razão”, de Helvécio Ratton, filmado em 1979, através do súbito movimento de transparência encabeçado pela Secretaria de Estado da Saúde tornou-se um símbolo da luta antimanicomial. Tendo destaque a letra de uma música criada e cantada por Sueli Aparecida Rezende, uma das pacientes internadas.
Ô seu Manoel, tenha compaixão
Tira nós tudo dessa prisão
Estamos todos de azulão
Lavando o pátio de pé no chão
Lá vem a boia do pessoal
Arroz cru e feijão sem sal
E mais atrás vem o macarrão
Parece cola de colar bolão
Depois vem a sobremesa
Banana podre em cima da mesa
E logo atrás vêm as funcionárias
Que são as putas mais ordinárias.
Tais palavras foram imortalizadas no documentário, criticando por si as circunstancias geradas dentro do hospital, tendo que a própria autora transparecia total lucidez de suas atitudes. Jose Manuel de Rosa Lucinda, pessoa a quem a letra se refere, foi um dos gerentes administrativos do hospital nos anos 1970. Passadas mais de três décadas da criação da composição, a música ainda é lembrada pelos sobreviventes do campo de concentração em que o Colônia se tornou. 
O filme tomou trajetória impressionante. Depois de passar pelas salas brasileiras, foi premiado em diversos festivais do exterior. Por onde passou, despertou o mesmo sentimento de indignação. O curta acabou sendo o golpe de misericórdia no modelo de psiquiatria exercida até então. Com a porta do hospício escancarada, era ainda mais difícil negar os crimes cometidos. 
Em julho de 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia, pioneiro da luta antimanicomial, havia garantido a visibilidade mundial ao tema da loucura e a forma como ela vinha sendo tratada em Minas Gerais. Contudo, em uma série de visitas aos hospícios brasileiros, Basaglia foi levado a Barbacena pelo psiquiatra mineiro Antônia Soares Simone, com intuito de lhe apresentar algumas instituições psiquiátricas públicas. Ao final da viagem o prestigio de Basaglia atraiu toda a mídia para o endereço da conferencia na Avenida João Pinheiro.
 Dentre suas declarações, havia a comparação do centro hospitalar com um próprio campo de concentração nazista. Suas palavras repercutiram dentro e fora do país, tendo sido publicada até no New York Times. 
Sendo um dos maiores inspiradores do movimento antimanicomial, sua passagem pelo Brasil garantiu visibilidade mundial ao tema da loucura e a forma como ela vinha sendo tratada em Minas Gerais, provocando intensos debates a respeito das condições de funcionamento dos manicômios. Isso contribuiu ao crescimento da Associação Mineira de Saúde Mental, fundada por Ronaldo Simões Coelho e aberta para quem se interessasse pelo tema de seus militantes ”basaglianos”. 
Apesar de Minas ter produzido a maior tragédia da loucura do país, por meio do Hospital colônia, o Estado acolheu as primeiras manifestações em favor da reforma psiquiátrica. A superação do modelo manicomial encontra ressonância nas políticas de saúde do Brasil que tiveram um marco teórico e político na 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), na 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental (1987), na 2ª Conferência Nacional de Saúde Mental (1992), culminando na 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental (2001). Observa-se, na reforma psiquiátrica brasileira, nas últimas décadas, intercalação de períodos de intensificação das discussões e de surgimento de novos serviços e programas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Para se falar de psiquiatria e saúde mental é necessário que se compreenda primeiramente ou que se saiba diferenciar normalidade de anormalidade.
Quando o surgimento da industrialização a ciência passa ocupar espaço central para explicações dos fenômenos, a psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício. Sendo ali uma instituição disciplinar para reeducação do paciente: louco, o alienado; por meio da atuação de um profissional: o médico – alienista, a figura de autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico. Os trabalhadores de enfermagem eram coadjuvantes nesse processo. A maioria adquiria uma experiência medíocre na pratica, por possuir um despreparo na área. Para conseguir crescer profissionalmente dentro do hospital, os interessados precisavam passar por todas as etapas de atendimento na área da saúde, desde a aplicação de injeção até a realização de curativo e do eletrochoque, os executores da ordem disciplinar emanada dos médicos.
Conforme a criação do Hospital Colônia, o maior hospício do Brasil, na cidade de Barbacena. Inúmeros pacientes foram internados sendo que cerca de 70% não tinham sequer diagnostico de doença mental. A maioria enfiada nos vagões de um trem, internados a força, foi submetida ao frio, á fome, torturas e experiências cometidas pelos próprios funcionários. Pessoas que foram expostas a superlotação, tendo suas camas substituídas por feno, por conta dos lucros dados as práticas, políticas ou pela venda de cadáveres em faculdades de todo o Estado.
Tendo suas mentes desgastadas pouco a pouco pela angustia, melancolia e ansiedade, pode-se dizer que muito perderam sua sanidade dentro daquele lugar. Se tornando exatamente como eram rotulados: Loucos.
Diante de tantas atrocidades, a paisagem dada pelo ambiente era descrita por muitos como o cumulo do inaceitável, tendo seu reconhecimento exposto na mídia com denúncias feitas a partir da década de 1960. 
Podemos retirar algumas questões importantes a se pensar. Primeiro, que pensar fora de um paradigma psiquiátrico da loucura não é só possível, como a reforma psiquiátrica vem nos dizer, mas também é um ângulo diferente para se olhar a questão, e que traz em seu bojo novas possibilidades para o pensar, permitindo uma análise que ultrapasse o domínio do patológico em prol de uma conceituação mais passível de interação com outros domínios da experiência humana. Assim se torna teoricamente viável pensar que não só os chamados “loucos” foram injustiçados por estar trancafiados em manicômios, como também que eles foram trancados por causa de uma série de modificações da sociedade projetadas sobre eles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livro HOLOCAUSTO BRASILEIRO(2013), Daniela Arbex.
Livro Vigiar e Punir (1975), Michel Foucault.
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