Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Coleta de fezes ........................................................... 5 3. Exame protoparasitológico de fezes (EPF) ...... 6 4. Técnicas do exame parasitológico de fezes ..10 5. Orientações específicas sobre o EPF ...............16 6. Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes (PSOF) ..................................................................17 7. Técnicas para realização da PSOF ....................17 8. Orientações específicas sobre a PSOF ...........19 Referências Bibliográficas ........................................21 3EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES 1. INTRODUÇÃO Sendo o Brasil um país onde a pre- valência de parasitoses intestinais ainda é considerada elevada, o exa- me parasitológico de fezes (EPF) de- veria assumir mais importância na prática médica. No entanto, muitas vezes, as parasitoses intestinais não fazem parte da hipótese diagnóstica e o EPF não é incluído entre os exa- mes complementares solicitados. Em várias situações, esse exame, quando bem executado, poderia evitar a rea- lização de procedimentos mais com- plexos, invasivos e onerosos, como a endoscopia digestiva, exames de imagem e biópsias. Frequentemente, observam-se infecções parasitárias com formas graves e complicadas em pacientes que se submeteram a procedimentos diagnósticos de alta tecnologia, sem que fosse realizado o EPF, necessário para o diagnóstico da doença. O EPF, comparado com outros méto- dos, é barato, de fácil execução e não- -invasivo, constituindo-se ferramenta para diagnóstico de certeza, permitin- do o encontro de uma das formas do parasito nas fezes. Em contrapartida, o desempenho do microscopista e a escolha do(s) método(s) de exame de fezes executado(s) têm relação direta com a eficiência do exame. No EPF são pesquisadas as diferen- tes formas parasitárias que são elimi- nadas com as fezes, ou seja, ovos e larvas de helmintos, trofozoítos, cis- tos e oocistos de protozoários. No Brasil, as parasitoses intestinais constituem importante problema de saúde pública, tendo em vista sua elevada prevalência e os sintomas que podem ocasionar. Especial aten- ção deve ser dada às crianças, pelo fato de as parasitoses intestinais po- derem interferir no seu desenvolvi- mento físico e mental. Fatores como saneamento básico, condições so- cioeconômicas, educacionais e cli- máticas, aglomeração populacional e hábitos da população influem na pre- valência das enteroparasitoses. No Brasil, a prevalência dessas para- sitoses continua alta e os dados são fragmentados ou mesmo inexisten- tes para algumas regiões. 4EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES ESPÉCIE HABITAT DO VERME ADULTO MECANISMO DE INFECÇÃO FORMA DIAGNÓSTICA Ascaris lumbricoides Intestino delgado Ingestão do ovo contendo a larva infectante Ovo não embrionado Trichuris trichiura Intestino grosso Ingestão do ovo contendo a larva infectante Ovo não embrionado Enterobius vermicularis Intestino grosso. Fêmeas grávidas migram para a região perianal Ingestão do ovo contendo a larva infectante. Pode ocorrer autoinfecção Ovo (larvado ou não- -embrionado), fêmea do parasito Ancylostoma duodenale e Necator americanus Intestino delgado Penetração ativa pela pele ou ingestão da larva filarioide Ovo não embrionado Em fezes envelhecidas: ovo larvado ou eventual- mente a larva rabditoide Strongyloides stercoralis Intestino delgado Penetração ativa pela pele ou ingestão da larva filarioide. Pode ocorrer autoinfecção Larva rabditoide Taenia saginata Intestino delgado Ingestão de carne de boi crua ou mal cozida, con- tendo cisticercos Ovo Taenia solium Intestino delgado Ingestão de carne de porco crua ou mal cozida, contendo cisticercos. A ingestão dos ovos do pa- rasito leva à cisticercose Teníase: ovo Cisticercose: visibilização da cisticerco, através de métodos de diagnóstico por imagem Hymenolepisis nana Intestino delgado Ingestão do ovo ou de insetos contendo a larva cisticercoide Ovo Hymenolepsis diminuta Intestino delgado Ingestão de insetos con- tendo a larva cisticercoide Ovo Schistosoma mansoni Sistema porta Penetração de cercarias pela pele Ovo Fasciola hepática Vias biliares Ingestão de água ou ver- duras contaminadas com as metacercárias Ovo Tabela 1. Tabela com os principais helmintos parasitas intestinais do homem, no Brasil, com seus respectivos habitat, mecanismo de infecção e forma diagnóstica. 5EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES eliminadas no solo ou no vaso sanitá- rio são inadequadas ao EPF. A quantidade de fezes transferida pode ser equivalente a uma colher de sopa ou 10 mL. O armazenamento das fezes até a chegada ao laborató- rio pode ser variado. Para fezes líqui- das, o prazo é de até 1 hora. Para fe- zes sólidas, de até 24 horas. As fezes não devem ser congeladas. Cabe ao paciente identificar o frasco contendo as fezes com nome completo, data e hora da coleta das fezes. Dependendo do método de EPF a ser executado, pode ser necessária cole- ta de fezes frescas ou em conservan- te, além de mais amostras fecais. 2. COLETA DE FEZES A coleta adequada da amostra fecal tem relação direta com a qualidade do EPF. O paciente tem participação ativa nesta etapa, pois é ele quem vai coletar as fezes, sendo fundamental a sua colaboração. O médico pode auxiliar, reforçando, junto ao seu pa- ciente, a importância de se coletar corretamente as fezes, segundo as instruções do laboratório. A defecação deverá ser feita em um recipiente seco e limpo, transferindo- -se parte das fezes, recolhidas de di- ferentes porções do bolo fecal, para o frasco próprio, que deve ser de boca larga, com boa vedação e capaci- dade aproximada de 50 mL. Fezes ESPÉCIE HABITAT DO VERME ADULTO MECANISMO DE INFECÇÃO FORMA DIAGNÓSTICA Giardia lamblia Intestino delgado Ingestão de cistos com água ou alimentos contaminados; transmissão direta de pesso- a-pessoa, contato sexual Em fezes diarreicas: trofozoíto; Em fezes formadas: cisto Amebas Intestino grosso Entamoeba histolytica também no fígado, pul- mão, cérebro e pele Ingestão de cistos com água ou alimentos contaminados, contato sexual Em fezes diarreicas: trofozoíto Em fezes formadas: cisto Cryptospori- dium parvum Intestino delgado Ingestão de oocistos com água ou alimentos contaminados; transmissão direta de pes- soa-pessoa ou animal-pessoa. Pode ocorrer autoinfeccção interna ou externa. O oocisto que sai nas fezes já é infectante Oocisto esporulado Isospora belli Intestino delgado Ingestão de oocistos com água ou alimentos contaminados. O oocisto eliminado com as fezes só se torna infectante após 2-5 dias Oocisto não esporulado Tabela 2. Tabela com os principais protozoários parasitos intestinais do homem, no Brasil, com seus respectivos habi- tat, mecanismo de infecção e forma diagnóstica. 6EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES 3. EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES (EPF) Em linhas gerais, o EPF serve para identificar ovos e larvas de helmin- tos, e oocistos, cistos e trofozoítos de protozoários. HORA DA REVISÃO! Quanto à morfologia, os protozoários apresentam grandes variações confor- me sua fase evolutiva e meio a que es- tejam adaptados. Dependendo da sua atividade fisiológica, algumas espécies possuem fases bem definidas. Assim, temos: • Trofozoíto – é a forma ativa do pro- tozoário na qual ele se alimenta e se reproduz por diferentes processos; • Cistos e oocistos – são formas de re- sistência. O protozoário secreta uma parede resistente que o protegerá quando estiver em meio impróprio ou em fase de latência (os cistos po- dem ser encontrados em tecidos ou fezes dos hospedeiros; enquanto os oocistos são encontrados nas fezes do hospedeiro e são provenientes de reprodução sexuada). 7EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES ESPÉCIE DOENÇA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MORFOLOGIA EPIDEMIOLOGIA Ascaris lumbricoides Ascaridíase- “lombriga” Dor abdomi-nal, diarreia, emagrecimento Maior nematódeo que para- sita o organismo humano, corpo cilíndrico, com tubo digestivo completo Sem dados de prevalência no Brasil. Acredita-se que seja bem distribuída mundialmente, mais frequente em populações de me- nor faixa etária Trichuris trichiura Tricuríase Diarreia e perda de apetite. Pode ocor- rer prolapso retal Brancos, com dimorfismo sexual aparente e ovo em formato elíptico Geohelmintíase antotrópica, de prevalência semelhante à ascaridíase Enterobius vermicularis Enterobiose/ oxiuríase Prurido anal Brancos, filiformes, com asas cefálicas e dimorfismo sexual. Ovos em formato de “D” Universalmente distribuída. Mais propícia em climas frios. Do- ença de locais aglomerados e confinados Ancylostoma duodena- le e Necator americanus Ancilos- tomíase/ amarelão Irritabilidade, ane- mia, emagrecimen- to, cólica Branco-róseos, afilados, com cápsula bucal com dois pares de dentes triangulares e um par rudimentar, apresentam dimorfismo sexual Muito comum em países em de- senvolvimento, com aproximada- mente 600 milhões de infectados no mundo. Estimam-se 65 mil mortes/ano Taenia saginata e Taenia solium Teníase e cisticercose Cólica abdominal, diarreia, irritabili- dade, anemia Segmentados, hermafroditas, sem tubo digestório Alta prevalência em zona rural de áreas de pobreza. A neurocisticer- cose é a parasitose mais frequente do SNC Schistosoma mansoni Esquistos- somose Dor abdominal, cólica e diarreia Platelminto trematódeo, dioi- co, com dimorfismo sexual Endêmica no norte de Minas Ge- rais e Nordeste, com 2,5-3,0 mi- lhões de infectados e 30 milhões de expostos ao risco no Brasil Strongyloides stercoralis Estrongiloi- díase Eosinofilia, diarreia e cólica abdominal Fêmea partenogenética e ovovivípara. A forma infec- tante é a de larva filarioide Alta endemicidade no Brasil, pre- sente em regiões quentes e úmi- das – climas tropical e subtropical Giardia lamblia Giardíase Diarreia e dor abdominal Protozoário flagelado intraca- vitário de contorno simétrico bilateral 200 milhões de infectados, se- gundo OMS. 30% das parasitoses intestinais em países em desenvol- vimento com saneamento básico precário Entamoeba histolytica Amebíase Diarreia, dor ab- dominal, anemia, sangue oculto nas fezes Protozoário ciliado com pseudópodos Bem distribuída ao redor do globo Tabela 3. Tabela com as principais parasitoses intestinais do homem e suas características. 8EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES Figura 2. Imagem demonstrando diferenças do polo cefá- lico das tênias. Fonte: https://multivix.edu.br/wp-content/ uploads/2019/11/complexo-teniase-cisticercose-aspec- tos-epidemiologicos-e-implicacoes-em-saude-publica.pdf Figura 1. Imagem demonstrando os dois representantes da espécie Ascaris lumbricoides. Fonte: https://nematolandia. wixsite.com/nematolandia/contedo Taniea solium Taniea saginata Ventosas Ventosas Ganchos 9EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES SE LIGA! Quando, na suspeita de Ente- robius vermicularis, o EPF vier negativo, deve-se solicitar o pedido de swab anal, uma vez que este método é mais sensí- vel para detecção de enterobiose. Isospora belli, Cryptosporidium par- vum e Cyclospora cayetanensis são os principais causadores de diarreia crônica em pacientes imunossupri- midos e, por isso, são protozoários oportunistas. Esse quadro de diarreia crônica é responsável por produzir fe- zes líquidas, facilitando, assim, a pes- quisa de tais protozoários. SE LIGA! Para pacientes imunossupri- midos, deve-se sempre adicionar na so- licitação a pesquisa para protozoários oportunistas, já que o EPF não é o exame ideal para a detecção destes agentes. Além disso, os protozoários Entamo- eba coli e Endolimax nana não são causadores de doenças em humanos, apenas em animais. Portanto, não exigem tratamento. Figura 3. Imagem demonstrando a morfologia dos vermes da espécie Trichuris trichiura. Fonte: http://oparasito.blogs- pot.com/2011/04/trichuris-trichiura.html 10EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES MAPA MENTAL: PRINCIPAIS PROTOZOÁRIOS E HELMINTOS QUE PARASITAM OS SERES HUMANOS E AS RESPECTIVAS DOENÇAS QUE CAUSAM Ascaris lumbricoides Taenia saginata e Taenia solium Schistosoma mansoni Strongyloides stercoralis Entamoeba histolytica Ascaridíase - lombriga Trichuris trichiura Tricuríase Enterobius vermicularis Enterobiose/oxiuríase Ancylostoma duodenale e Necator americanus Ascilostomíase/ Amarelão Teníase e cisticercose Esquistossomose Estrongiloidíase Amebíase Giardia lamblia Giardíase 4. TÉCNICAS DO EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES • Exame direto a fresco – Nes- ta técnica, as fezes são examina- das ao microscópio, entre lâminas. Para a realização deste exame, deve-se colocar duas a três gotas de solução salina a 0,85% em uma lâmina de microscopia. Posterior- mente, deve-se tocar, com a ponta de um palito, em vários pontos das fezes, transferindo uma pequena porção destas para a lâmina. Es- palhar as fezes, fazendo um esfre- gaço e examinar com as objetivas de 10x e/ou 40x. A espessura do 11EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES esfregaço não deve impedir a pas- sagem de luz. Para a identificação de cistos de protozoários e larvas de helmintos, corar a preparação com lugol. O uso de lamínula é fa- cultativo. Este método apresenta baixa sensibilidade, pois não uti- liza um processo para a concen- tração das formas parasitárias, a quantidade de fezes empregada é muito pequena e o excesso de detritos pode mascarar as formas parasitárias. Entretanto, é útil para a pesquisa de trofozoítos de proto- zoários em fezes diarreicas recém- -emitidas (no máximo 30 minutos após). É aconselhável examinar, no mínimo, três lâminas de cada amostra. Permite a identificação da morfologia e movimentação dos protozoários, principalmente de Giardia lamblia e Entamoeba histolytica. • Método de Willis-Faust (centrí- fugo-flutuação em sulfato de zinco) – Neste método, deve-se diluir 10 g de fezes em 20 mL de água filtrada, homogeneizando bem. Posteriormente, deve-se fil- trar através de gaze dobrada em quatro, em um copo plástico, e transferir para um tubo de Was- serman (tubo de hemólise). Centri- fugar por um minuto a 2500 rpm. Desprezar o líquido sobrenadante e ressuspender o sedimento em água. Deve-se repetir as duas úl- timas etapas mais duas ou três vezes, até que o líquido sobrena- dante fique claro. Neste momento, deve-se desprezar a água sobre- nadante e ressuspender o sedi- mento com uma solução de sulfato de zinco a 33%. Centrifugar nova- mente por um minuto a 2500 rpm. Os cistos e alguns oocistos de protozoários e os ovos leves, pre- sentes na amostra fecal, estarão na película superficial. Recolher a película com alça de platina, co- locar em lâmina, acrescentar uma gota de lugol e cobrir com lamínu- la. Examinar com as objetivas de 10x e/ou 40x. O material deve ser examinado imediatamente, pois o contato com a solução de sulfato de zinco pode deformar as formas parasitárias, especialmente os cis- tos de protozoários. Este método permite a visualização tanto de protozoários quanto de helmintos. • Método de Hoffman, Pons e Ja- ner ou Lutz (sedimentação es- pontânea) – Deve-se colocar aproximadamente 2 g de fezes em um frasco Borrel (pode ser substi- tuído por copo plástico descartá- vel), com cerca de 5 mL de água, e triturar bem com bastão de vidro. Acrescentar mais 20 mL de água. Filtrar a suspensão para um cálice cônico com 200 mL de capacida- de, por intermédio de tela metáli- ca ou de náilon com cerca de 80 a 100 malhas por cm2, ou gaze cirúrgica dobrada em quatro. Os 12EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES detritos retidos são lavados com mais 20 mL de água, agitando-se constantemente com o bastão de vidro, devendo o líquido da lava- gem ser recolhido no mesmo cáli- ce. Completar o volume do cálice com água. Deixar esta suspensão em repouso durante 2 a 24 horas.Ao fim deste tempo, observar o aspecto do líquido sobrenadante, tomando uma das duas condutas: se o líquido estiver turvo, descar- ta-lo cuidadosamente sem levan- tar ou perder o sedimento, colocar mais água até o volume anterior e deixar em repouso por mais 60 minutos; se o líquido estiver límpi- do e o sedimento bom, colher uma amostra do sedimento para exa- me. Colocar parte do sedimento em uma lâmina e fazer um esfre- gaço. O uso de lamínulas é faculta- tivo. Examinar com as objetivas de 10x e/ou 40x. Deve-se examinar, no mínimo, duas lâminas de cada amostra. Para a identificação de cistos de protozoários e larvas de helmintos, corar a preparação com lugol. Figura 4. Método de Lutz ou de Hofmann, Pons e Janer: A) Frasco de Borrel com fezes, água e bastão; B) Cálice com a gaze e método de transferir as fezes dissolvidas na água; C) Cálice com o sedimento pronto para exame e o líquido sobrenadante. Fonte: http://ter.sites.uff.br/wp-content/uploads/sites/41/2018/08/T%C3%A9cnica-Lutz.pdf 13EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES • Método de Rugai-Baermann & Moraes (hidrotermotropismo) – Deve-se coletar de 8 a 10 g de fe- zes e colocar em uma gaze dobra- da em quatro ou em uma peneira. Colocar o material assim preparado sobre um funil de vidro, contendo um tubo de borracha conectado à extremidade inferior de sua haste. Obliterar o tubo de borracha com uma pinça de Hoffman e adicionar, ao funil, água aquecida (45°C) em quantidade suficiente para entrar em contato com as fezes. Deixar uma hora em repouso. Ao fim des- te tempo, colher 5 a 7 mL da água, em um tubo de centrífuga, abrin- do-se a pinça. Centrifugar a 1000 rpm durante um minuto. Colher o sedimento, sem desprezar o líqui- do sobrenadante e examinar ao microscópio (10x). Caso se de- tecte a presença de larvas, estas deverão ser coradas com lugol e observadas com a objetiva de 40x para identificação. Permite a iden- tificação do Strongyloides sterco- laris, causador da estrongiloidíase. Figura 5. Método de Rugai-Baermann-Moraes: A) Cálice contendo água morna (45°C); B) Aparelho já montado, com as fezes sobre a gaze, em contato com a água morna. Fonte: Medicina Laboratorial para o Clínico, 1ª ed. • Método de Kato, modificado por Katz e cols. – Neste método, de- ve-se preparar uma solução de verde malaquita, que, por sua vez, tem a finalidade de conservar as fezes e clarificar as formas parasi- tárias. Cortar papel celofane semi- permeável em pedaços de 24 mm 14EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES 1 a 2 horas e examinar ao micros- cópio, contando todos os ovos pre- sentes na preparação. O número de ovos encontrados no esfregaço fecal, multiplicado por 23, corres- ponderá ao número de ovos por fezes. Muito utilizado para detec- ção de esquistossomose, a con- tagem dos ovos permite detectar a evolução clínica e, dessa forma, permite o acompanhamento da doença. Caso uma nova contagem de ovos seja inferior à anterior, isto significa que o tratamento para a esquistossomose tem se mostra- do eficaz. SE LIGA! Na rotina laboratorial usa-se com maior frequência o método qualita- tivo, abolindo-se, para isso, o cartão re- tangular. Segundo a OMS, este método é indicado para ovos de S. mansoni, A. lumbricoides, T. trichiura. Não é possível a execução do método com fezes diar- reicas. Cistos de protozoários, apesar de passarem pela tela, não são visualizados nesta preparação. por 30 mm e deixá-los mergulha- dos na solução de verde malaqui- ta por pelo menos 24 horas. Colo- car, sobre um papel higiênico, uma porção da amostra de fezes a ser examinada. Comprimir as fezes com um pedaço de tela metálica ou similar de náilon. Nesta malha passam ovos de helmintos e de- tritos menores do que estes. Re- tirar as fezes que passaram para a parte superior da tela e transfe- ri-las, com o auxílio de um palito, para o orifício, com 6 mm de diâ- metro, de um cartão retangular de plástico, colocado sobre uma lâmi- na de microscopia. Após encher completamente o orifício, retirar o cartão, cuidadosamente, deixan- do as fezes (aproximadamente 42 mg) sobre a lâmina de vidro. Cobrir as fezes com a lamínula de papel celofane embebida na solução de verde malaquita, inverter a lâmina, sobre uma folha de papel absor- vente e comprimi-la. Aguardar de 15EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES Trofozoítos Exame direto a fresco Kato-Katz Lutz-Hofmann Willis-Faust Rugai-Baermann & Moraes Entamoeba histolytica e Giardia lamblia Strongyloides stercoralis Hidrotermotropismo das larvas Ovos pesados Sedimentação espontânea Schistosoma mansoni Pesquisa de ovos de forma quantitativa Taenia solium e Taenia saginata Ovos leves Centrífugo-flutuação Trichuris trichiura e Enterobius vermicularis MAPA MENTAL: METODOLOGIA UTILIZADA NO EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES E RESPECTIVOS PATÓGENOS AVALIADOS 16EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES 5. ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE O EPF É necessário que sejam ofertadas orientações específicas ao paciente antes do EPF. São elas: • Não utilizar de 2 a 3 semanas an- tes do exame: ◊ Antiácidos e antidiarreicos que contenham bismuto, magné- sio ou cálcio: formam cristais com os trofozoítos, impedindo a visualização dos mesmos, destruindo-os ou mudando sua morfologia; ◊ Laxantes que contenham va- selina ou óleo mineral: para os pacientes que usam laxantes de forma crônica, o ideal é o uso de laxantes à base de só- dio. A vaselina e o óleo mineral contribuem para a formação de glóbulos das formas visí- veis dos protozoários, unin- do cistos, oocistos e trofozo- ítos, dificultando, assim, sua identificação; ◊ Contraste baritado por via oral: pode ser responsável por des- truir as formas trofozoíticas dos protozoários, ocasionando resultados falso-negativos; ◊ Antibióticos: alteram a flora intestinal de forma transitória, podendo destruir alguns para- sitas identificáveis ao EPF. Na ocorrência de qualquer uma des- tas intercorrências, deve-se fazer a recontagem do período prévio de ex- posição a tais fatores. Após 2-3 sema- nas, então, o EPF deve ser realizado. • Coletar 3 amostras de fezes em dias alternados (duração total de 6 dias). Outro ponto que deve ser ressal- tado são os fatores que justificam a coleta de múltiplas amostras de fezes para a pesquisa de helmintos e protozoários. São eles: ◊ Intermitência da eliminação de alguns parasitos, dependendo do ciclo de vida dos patógenos Cada parasita possui um ci- clo de vida diferente, eliminan- do suas formas de resistência em dias pré-determinados, de acordo com seus ciclos de vida; ◊ Distribuição não uniforme de ovos nas fezes Não há como garantir que a amostra de fezes tomada pelo pacien- te conterá os ovos do parasi- ta. Portanto, caso o paciente, a olho nu, veja algo que “salte aos olhos” ao coletar as fezes, informe-o para adicionar tal parte das fezes à amostra; ◊ Estágios dos protozoários, se- gundo o ciclo de vida destes; ◊ Limitação da técnica Como existem diversas técnicas para 17EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES análise das fezes após sua co- leta, uma única técnica, mes- mo sendo específica para a hipótese diagnóstica dos mé- dicos, pode não ser sensível ou específica o suficiente para detecção do patógeno. A sensibilidade adequada para a ava- liação de resultados positivos pode ser adquirida com a coleta de 3 amos- tras em um total de 6 dias. 6. PESQUISA DE SANGUE OCULTO NAS FEZES (PSOF) A pesquisa de sangue oculto nas fe- zes é recomendada como método de rastreamento do carcinoma colorretal nos Estados Unidos desde 1995, em virtude de alguns estudos terem de- monstrado diminuição na mortalida- de por esta neoplasia a partir da rea- lização anual do teste. Apesar dessa redução, ainda está em debate o cus- to-benefício dessa abordagem frente a métodos invasivos, como a colo- noscopia e a retossigmoidoscopia. Está indicada a realização de PSOF em pessoas assintomáticas, de 50 a 75 anos, com risco moderado para cân-cer colorretal. A triagem só é adequa- da se for realizada ANUALMENTE. 7. TÉCNICAS PARA REALIZAÇÃO DA PSOF • O-toluidina ou guaiacol – Cora as fezes na presença de sangue. Quando utilizamos o peróxido de hidrogênio mediante presença de sangue nas fezes, a hemoglobina catalisa esta reação (o grupo heme da hemoglobina apresenta ativi- dade “peroxidase-like”), formando água e oxigênio. Além disso, esse oxigênio liberado também é capaz de oxidar outras substâncias, como FLUXOGRAMA 1: TRIAGEM NÃO-INVA- SIVA PARA CÂNCER COLORRETAL PELA PSOF Risco moderado de câncer colorretal Pesquisa de sangue oculto POSITIVA Triagem invasiva Colonoscopia e/ou retossigmoidoscopia 18EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES os cromógenos utilizados, sofren- do mudança de cor (geralmente para azul-esverdeado). Entretanto, outras substâncias também cata- lisam essa reação, liberando O2. Assim, a cor das fezes também pode ser mudada pela ação de ou- tras substâncias que sejam dife- rentes dos cromógenos utilizados. Esta técnica apresenta alta sensi- bilidade e baixa especificidade, po- rém pode também acusar falsos- -positivos. Como vantagem de tal método, as fezes podem ser arma- zenadas por até 24 h. FLUXOGRAMA: ESQUEMA SOBRE A ATUAÇÃO DA TÉCNICA DE O-TOLUIDINA/GUAIACOL PARA PSOF Hb O2 Peróxido de hidrogênio (H2O2) Água + O2 Cromógenos* Mudança de cor das fezes pelo cromógeno * → o-toluidina OU guaiacol • Teste imunohistoquímico – Ba- seia-se na ligação de um anticorpo à hemoglobina humana, apresen- tando melhores índices de sen- sibilidade e especificidade que o guaiacol, além de apresentar mais adesão do paciente, pelo fato de não precisar de dieta prévia à cole- ta. São recomendadas pelo menos três amostras consecutivas devido ao fato do câncer apresentar san- gramento intermitente. Porém, as fezes não podem ser armazena- das por tempo prolongado, como ocorre na utilização de o-toluidina/ guaiacol, com riscos evidentes de ocorrer falsos-positivos, carac- terizando, assim, limitação deste método. 19EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES 8. ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE A PSOF Assim como para realização do exame parasitológico de fezes, para a PSOF são necessárias algumas orientações, como: • Não fazer uso de AINEs, aspirina e sulfato ferroso Tais medicações predispõem a maior risco de san- gramento gastrointestinal. Além disso, o sulfato ferroso pode catali- sar a reação oxidativa do oxigênio, conforme supracitado; • Evitar alimentos com coloração mais avermelhada e com hemo- globina animal, como: beterraba, rabanete, tomate e carne. Essa die- ta “restrita” deve ser colocada em prática se a técnica utilizada para a PSOF for pelo método o-toluidina/ guaiacol; • Cuidado ao escovar os dentes: evi- tar sangramento gengival Moti- vo para reprogramação do exame, haja vista que a presença deste sangramento pode ser detectada nas fezes a serem examinadas. 20EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES MAPA MENTAL 3: EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES E PESQUISA DE SANGUE OCULTO NAS FEZES Não usar AINEs, aspirina e sulfato ferroso Protoparasitológico de fezes Evitar alimentos com cor avermelhada Orientações específicas Utilidade PSOF Wiilis-Faust (centrífugo-flutuação) Lutz-Hoffman (sedimentação espontânea) Ovos leves Rugai-Baermann & Moraes Exame direto a fresco Ovos pesados Kato-Katz (quantitativo) Hidrotermotropismo das larvas Trofozoítos Técnicas 3 amostras em dias alternados Não utilizar 2-3 semanas antes Antiácidos/antidiarreicos Laxantes Antiácidos Contraste baritado Helmintos Protozoários Identificação de ovos e larvas Identificação de trofozoítos, cistos e oocistos Triagem não-invasiva para câncer colorretal Realizar anualmente Técnicas principais Em quem fazer Orientações ↑ sensibilidade, ↓ especificidade Técnica do O-toluidina/guaiacol Hb peroxidase-like Oxigênio oxida cromógeno → mudança de cor Técnica imunohistoquímica Colonoscopia ou retossigmoidoscopia Se positivo Risco moderado para CA colorretal Pessoas assintomáticas 50-75 anos 21EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Medicina laboratorial para o clínico – 1 ed. – Luciana de Gouvêa Viana; Parasitologia Humana, 11ª ed., Editora Atheneu, David Pereira Neves; Como interpretar exames laboratoriais? Laboratório Hermes Pardini, 2020. 22EXAME PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES
Compartilhar