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1 Lara Mendonça Oliveira P4 1 . COMPREENDER A INTOXICAÇÃO POR ESCORPIÕES (EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, CONDUTA); EPIDEMIOLOGIA No Brasil, a espécie de escorpião que causa mais acidentes, Tityus serrulatus, tem se expandido para um número maior de cidades, onde até então não era encontrada. Esta espécie possui facilidade para se reproduzir e colonizar novos ambientes. Os acidentes escorpiônicos ocorrem em todo o Brasil. Desde 2009, o Ministério da Saúde realiza capacitações de identificação, manejo e controle de escorpiões nos estados brasileiros, em cooperação com as secretarias estaduais de saúde. O objetivo é que cada estado multiplique as informações recebidas a todas as suas regionais de saúde e municípios. O Ministério da Saúde registrou, em 2018, 141,4 mil casos de acidentes com escorpiões em todo o país. Em 2017, foram 125 mil registros de acidentes. Esses dados ainda são preliminares e serão revisados, portanto estão sujeitos a alteração. Em 2016, foram 91,7 mil casos. Em relação às mortes, em 2016 foram registrados 115 óbitos em todo o país e, em 2017 Os acidentes causados por animais peçonhentos constituem importante causa de morbimortalidade em todo o mundo, principalmente entre a população do campo, floresta e águas, mas, apesar disso, são negligenciados como problema de saúde pública.1,2 A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009, incluiu este tipo de acidente na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas, estimando que possam ocorrer anualmente no Planeta 1,841 milhão de casos de envenenamento, resultando em 94 mil óbitos.3 No Brasil, os acidentes por animais peçonhentos são a segunda causa de envenenamento humano, ficando atrás apenas da intoxicação por uso de medicamentos. No Brasil, há uma heterogeneidade de habitat que favorece uma diversidade de espécies de animais peçonhentos, entre as quais as serpentes, os escorpiões e as aranhas possuem respectivamente maior relevância quanto aos AT. Os envenenamentos por serpentes representam aproximadamente 29 mil casos por ano, e uma média de 125 óbitos no país. Em relação aos escorpiões, durante o ano de 2013, foram registrados 69.036 casos, que resultaram em 80 óbitos. Destaca-se que 27.125 casos foram registrados por envenenamentos por aranhas, sendo que, destes, 36 evoluíram para óbito Todos os anos, mais de 1 milhão de casos de escorpionismo, ou envenenamento por picadas de escorpião são relatados em todo o mundo. Embora a mortalidade resultante seja menor do que a do envenenamento de cobra, existe uma morbidade substancial e particularmente em crianças um risco de morte. Todos os escorpiões produzem veneno, que pode ser inoculado através do abdome pelo ferrão. O envenenamento por escorpiões é ocasionado pela picada e não por mordedura. https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/envenenamento_por_picadas_de_escorpiao.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/envenenamento_por_picadas_de_escorpiao.htm 2 Lara Mendonça Oliveira P4 Embora milhões de picadas de escorpião ocorram anualmente, a maioria dos casos são simples, com dor localizada e envolvimento sistêmico mínimo. No entanto, envenenamento grave é um importante problema de saúde pública em certas partes do mundo, como na América Central e do Sul, Norte da África e em partes da Ásia. A maioria dos escorpiões que causam problemas médicos graves pertencem à família Buthidae, que inclui escorpiões dos gêneros leiurus no Oriente Médio e Próximo, androctonus e buthus no Norte da África, tityus na América do Sul, centruroides na América Central, mesobuthus na Ásia (especialmente a Índia), e parabuthus na África do Sul. No México, provavelmente centenas de milhares de picadas por escorpiões Centruroides ocorrem anualmente. Número semelhante de casos ocorre em outras áreas onde picadas por escorpiões são endêmicas (por exemplo, em Tunisia e outras partes do norte da África e da Índia). Manifestações clínicas Apesar da variedade de escorpiões encontrados em todo o mundo, o envenenamento sistêmico é caracterizado por síndromes de excitação neurotóxicas relativamente semelhantes, independentemente da espécie, mas algumas diferenças existem e devem ser discutidas. Centruroides e escorpiões parabuthus estão associados principalmente com toxicidade neuromuscular, enquanto que o envenenamento grave de androctonus, buthus e mesobuthus escorpiões estão associados com a toxicidade cardiovascular que resulta da hiperestimulação dos centros autonômicos e liberação de catecolaminas. Ao exame físico pode-se observar apenas dor importante no local da picada. Crianças podem apresentar quadros de exacerbação autonômica semelhante aos descritos para picadas de Phoneutria. Esses casos podem ter evolução, decorrente da intoxicação adrenérgica generalizada, com insuficiência cardíaca de alto débito e edema agudo de pulmão. A maioria das picadas de escorpião causa apenas dor localizada, e apenas 10% dos casos de picadas evoluem com sintomas sistêmicos, mesmo quando envolvendo os escorpiões mais perigosos. Edema, eritema, parestesias, fasciculações musculares e dormência podem ocorrer no local da picada. É frequentemente difícil ver o local da picada ou identificar a inflamação no local. A maioria dos casos de envenenamento grave ocorre em crianças. Envenenamento sistêmico é caracterizado por anomalias neuromusculares decorrentes de efeitos sobre os nervos cranianos e somáticos, excitação do sistema nervoso autônomo tanto colinérgica como adrenérgica, edema pulmonar e efeitos cardíacos. As manifestações são causadas por excitação neuronal e liberação de neurotransmissores. Os efeitos parassimpáticos da estimulação neuronal incluem efeitos colinérgicos que podem incluir salivação, sudorese profusa, lacrimejamento, miose, diarreia, vômito, bradicardia, hipotensão, aumento de secreções respiratórias e priapismo. Os efeitos adrenérgicos incluem taquicardia, hipertensão, midríase, hipertermia, hiperglicemia, e agitação. Enquanto a maioria dos efeitos parassimpáticos tende a ocorrer precocemente e com duração limitada, efeitos simpáticos persistem por causa da liberação de catecolaminas e são responsáveis pelos envenenamentos graves. Uma série de anomalias da condução cardíaca ocorrem em cerca de um terço da metade dos pacientes com envenenamento sistêmico. Estes efeitos incluem taquicardia atrial, extrassístoles ventriculares, inversão da onda T, alterações do segmento ST-T, e, menos frequentemente, bloqueios de ramo. O estímulo causado pelo aumento dos efeitos vagais sobre o coração e estimulação simpática são as prováveis causas desses efeitos. A hipertensão arterial é comum e ocorre no início da resposta à estimulação simpática. Hipotensão é menos comum, e ocorre no envenenamento grave, e muitas vezes necessita de intervenção com vasopressores e reanimação com líquidos. 3 Lara Mendonça Oliveira P4 O desenvolvimento de hipotensão tem causas multifatoriais com a estimulação colinérgica causando vasodilatação. Também são mecanismos envolvidos a perda de líquidos e depressão do miocárdio. A disfunção cardíaca resultante de miocardite induzida por catecolaminas e isquemia do miocárdio complica o envenenamento grave por Androctonus, buthus, mesobuthus e tityus. Esta última complicação pode resultar em edema pulmonar cardiogênico e choque. A estimulação do sistema nervoso periférico resulta em atividade neuromuscular descoordenada que se manifesta com acatisia, movimentos oculomotores anormais, distúrbios visuais e fasciculações musculares e espasmos da face e da língua e os braços e incordenação neuromuscular de membros inferiores, principalmente, e ocasionalmente com comprometimento respiratório. Alterações da excitação neuromuscular são mais comumente reportadas com envenenamento por escorpiões centuroides, mas também pode ocorrer após picadas de espécies parabuthus e tityus. Vômitos e dor abdominalsão comuns após picadas de escorpião, e aumento da motilidade gástrica e diarreia são também relatados. Muitos desses efeitos são devidos à estimulação colinérgica. Pancreatite aguda tem sido relatada com picadas de alguns escorpiões, incluindo leiurus quinquestriatus e tityus. Uma síndrome clínica, que é diferente do típico envenenamento sistêmico ocorre com picadas do H. lepturus escorpião do Iran. As picadas não causam dor imediata. A maioria dos casos é caracterizada por eritema e lesões purpúricas e bolhosas que podem resolver-se, mas em cerca de 20% dos casos é relatada necrose localizada que desenvolve em períodos de horas ou dias. Os sintomas sistêmicos incluem náuseas, vômitos, febre, efeitos autonómicos, hemólise com hemoglobinúria e lesão renal aguda, que muitas vezes exigem diálise. A síndrome parece ser semelhante à associada a picadas por aranhas do género Loxosceles. As picadas por centruroides sculpuratus ou exilicauda têm achados que podem ser divididos em quatro estágios: Estágio 1: Dor e parestesias no local da picada, usualmente sem inflamação local, às vezes não se percebe o local exato da picada e nem se nota que um escorpião está envolvido. Ao se estimular o local da picada, uma exacerbação importante da dor pode ocorrer, o que sugere a etiologia da lesão ser secundária à picada por escorpiões. Estágio 2: O paciente também apresenta dor local e parestesias como no estágio 1, porém os sintomas dolorosos se irradiam para extremidades distais de membros e até mesmo para membros colaterais, ou se tornam generalizadas. Em crianças eventualmente temos choro inconsolável e agitação. Estágio 3: Ocorre o envolvimento de pares cranianos ou disfunção neuromuscular somática. Manifestações incluem alterações visuais ou de movimentos oculomotores, hipersalivação, fasciculações de língua entre outros achados, eventualmente podem ocorrer dificuldades respiratórias se alterações bulbares associadas ou excesso de secreções. Estágio 4: Ocorrem ambos envolvimento de pares cranianos e disfunção neuromuscular somática. Pode-se encontrar hiperatividade neuromuscular e em casos mais severos estridor e 4 Lara Mendonça Oliveira P4 sibilância. Insuficiência respiratória, edema pulmonar, rabdomiolise, pancreatite, pleocitose liquórica e eventualmente coagulação intravascular disseminada são descritos nestes casos. As picas do escorpião centruroides sculpturatus tipicamente têm início de sintomas imediatamente e atingem seu pico em 5 horas, em crianças pode ocorrer evolução para estágio IV em 30 minutos. Em geral, os casos de envenenamento por escorpião, embora mais comuns em adultos têm pior evolução em crianças. Exames complementares Não existem exames diagnósticos específicos recomendados para picadas de escorpião; na maioria dos casos, nenhuma investigação é necessária, particularmente em muitas regiões do mundo onde é difícil de realizar testes de diagnóstico. Os exames laboratoriais devem se concentrar em possíveis complicações de picada de escorpião; por exemplo, os níveis de creatinina devem ser medidos para avaliar se injúria renal ocorreu. Os níveis de enzimas pancreáticas devem ser medidos para determinar se a picada induziu pancreatite. Eletrocardiograma deve ser obtido, quando possível, uma vez que alterações eletrocardiográficas são bastante comuns. Outros exames que podem ser pedidos que incluam a ecocardiografia, avaliação de marcadores séricos de lesão cardíaca, e outras investigações cardíacas conforme a gravidade da doença. Em casos de envenenamento severo alguns exames são recomendados e estão especificados na tabela 1. Exames recomendados em picada por escorpião evoluindo com envenenamento grave: -Eletrólitos (Sódio, Potássio e Cálcio); -Ureia e creatinina; -Transaminases (AST e ALT); -CPK; -Lipase e amílase séricas; -Eletrocardiograma; -Urina 1; -Coagulograma; -Hemograma completo. Conduta A recomendação é ir imediatamente ao hospital de referência mais próximo. Se possível, levar o animal ou uma foto para identificação da espécie, permitindo assim uma avaliação mais eficaz sobre a gravidade do acidente. É importante lembrar que não é em todo caso de acidente que o soro será indicado, e apenas o profissional de saúde poderá fazer essa avaliação. O antiveneno é indicado em casos moderados ou graves. Limpar o local da picada com água e sabão pode ser uma medida auxiliar, desde que não atrase a ida ao serviço de saúde. 5 Lara Mendonça Oliveira P4 2 . COMPREENDER A INTOXICAÇÃO POR ARACNÍDEOS (EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, CONDUTA); De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX ), foram registrados no Brasil, no ano de 2006, 10.768 casos de intoxicação humana envolvendo aranhas e escorpiões (BRASIL, 2006a). Somente na região Centro-Oeste foram registrados 290 casos de acidentes com aranhas e 1.227 com escorpiões, perfazendo um total de 1.517 ocorrências (BRASIL, 2006b). As principais aranhas causadoras de acidentes no Brasil são a “armadeira”, a marrom, a tarântula e a caranguejeira. A armadeira quando surpreendida coloca-se em posição de ataque, apoiando-se nas pernas traseiras, ergue as dianteiras e procura picar. A picada causa dor imediata, inchaço local, formigamento e suor no local da picada. Deve-se combater a dor com analgésicos e observar rigorosamente novos sintomas, como vômitos, aumento da pressão arterial, dificuldade respiratória, tremores, espasmos musculares, caracterizando acidente grave. Assim, há necessidade de internação hospitalar e aplicação de soro específico. A picada da aranha marrom provoca menos acidentes, por ser pouco agressiva. Na hora da picada a dor é fraca e despercebida, após 12 a 24 horas podem surgir dor local com inchaço, náuseas, mal estar geral, manchas, bolhas e até morte das células (necrose) no local picado. Nos casos graves, a urina fica de cor marrom escura. Deve-se procurar atendimento médico para avaliação. A picada da tarântula (aranha que vive em gramados ou jardins) pode provocar pequena dor local e necrose. Utilizam-se analgésicos para alívio da dor e não há tratamento com soro específico, assim como para as picadas de caranguejeiras. São notificados anualmente cerca de 5.000 acidentes. A predominância destas notificações são nas região Sul e Sudeste, dificultando uma análise mais abrangente do acidente em todo o país. Acidentes com aranha causam sintomas que podem ser leves ou severos. Em raros casos, podem levar até mesmo à morte. • Aranha-armadeira: causa dor imediata e intensa, com poucos sinais visíveis no local. Raramente pode ocorrer agitação, náuseas, vômitos e diminuição da pressão sanguínea. • Aranha-marrom: a picada é pouco dolorosa e uma lesão endurecida e escura costuma surgir várias horas após, podendo evoluir para ferida com necrose de difícil cicatrização. Em casos raros, pode ocorrer o escurecimento da urina. • Viúva-negra: dor na região da picada, contrações nos músculos, suor generalizado e alterações na pressão e nos batimentos cardíacos. O que fazer em caso de acidente • Lavar o local da picada. • Usar compressas mornas, pois ajudam no alívio da dor. • Elevar o local da mordida. • Procurar o serviço médico mais próximo. 6 Lara Mendonça Oliveira P4 • Quando possível, levar o animal para identificação. Lesão inicial em coxa, com poucas horas de evolução/Lesão com 7 dias em coxa. Loxosceles QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES LOCAIS MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS ALTERAÇÕES LABORATORIAIS TRATAMENTO ESPECÍFICO TRATAMENTO COMPLEMENTAR E SINTOMÁTICO LEVE - Edema, Eritema, Prurido e Dor discretos - Febre, mal-estar - Nenhuma ________ - Analgésico - Anti-histâmico MODERADA - Ponto de necrose - Equimose | Enduração - Placa marmórea - Necrose -Dor em queimação - Febre, mal-estar -Rash cutâneo - Náusea, vômito, diarréia - Mialgia, astenia, visão turva - Sonolência - Leucocitose - Neutrofilia - Prednisona 40 mg/dia adulto e 1mg/kg/dia criança durante 5 dias - Compressa fria - Anti-sépticos locais GRAVE - Necrose ou placa marmórea extensas - Palidez - Icterícia - Oligúria ou anúria - Leucocitose - T.C. diminuido - Reticulócitos aumentados - Uréia e creatina aumentadas - Forma cutânea, 5 ampolas SALOx/SAAR - I.V. - Forma cutânea visceral 10 ampolas (SALOx/SAAR) - I.V. - Prednisona 40 mg/dia adulto e 1 mg/kg/dia criança durante 5 dias - Compressa fria - Anti-sépticos locais 7 Lara Mendonça Oliveira P4 Phoneutria QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES LOCAIS MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS ALTERAÇÕES LABORATORIAIS TRATAMENTO ESPECÍFICO TRATAMENTO COMPLEMENTAR E SINTOMÁTICO LEVE - Dor local - Eventualmente taquicardia - Nenhuma ________ - Analgesia dependendo da intensidade da dor (V.O./I.M). ou bloqueio anestésico - Compressa morna MODERADA - Dor intensa - Agitação - Sudorese - Vômitos ocasionais - Hipertensão arterial - Sialorréia - Nenhuma - 2, 4 ampolas SAAr - I.V. - Analgesia - Meperidina pode ser necessário - Internamento GRAVE - Dor intensa - Sudorese profunda - Bradicardia - Vômitos frequentes - Choque - Edema pulmonar agudo - Acidose metabólica - Hipoglicemia - E.C.G alterado - 5, 10 ampolas SAAr - I.V. - Analgesia - UTI 3. COMPREENDER A INTOXICAÇÃO POR ABELHAS (EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, CONDUTA; SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Abelhas estão presentes em todos os territórios brasileiros. As regiões de maiores taxas de incidência são a região Sul e Nordeste, enquanto as maiores taxas de letalidade ocorrem nas regiões Centro-Oeste e Norte. De modo geral, os acidentes costumam acontecer com maior predominância entre outubro e março. A maioria dos acidentes acontecem na zona urbana. O perfil dos acidentados costuma ser de homens e da faixa etária entre 20 e 64 anos. Óbitos são mais frequentes em pessoas acima de 40 anos. Fatores de risco para gravidade envolvem a quantidade de ferroadas e a predisposição ao choque anafilático. 8 Lara Mendonça Oliveira P4 Acidente por abelha (Vespas/Formigas) é o quadro de envenenamento decorrente da inoculação de toxinas por meio do ferrão. As manifestações após uma ferroada variam de pessoa para pessoa, pela quantidade de veneno aplicada e se o indivíduo tem reação alérgica ao veneno. Uma pessoa pode ser picada por uma ou centenas de abelhas. No caso de poucas picadas, o quadro clínico pode variar de uma inflamação local até uma forte reação alérgica, o que também é conhecido como choque anafilático. No caso de múltiplas picadas pode ocorrer também uma manifestação tóxica mais grave e, às vezes, até mesmo fatal. A incidência de acidentes por Himenópteros é desconhecida, pertencem à ordem Himenóptera os únicos insetos que possuem ferrões verdadeiros, com três famílias de importância médica: Apidae (abelhas e mamangavas), Vespidae (vespa amarela, vespão e marimbondo) e Formicidae (formigas). Reações alérgicas ocorrem mais em adultos e nos profissionais expostos. Acidentes graves e mortes pela picada de abelhas africanizadas deve-se não pela diferença de composição de veneno, mas pela maior agressividade dessa espécie (ataques maciços). Ações do veneno O veneno é composto por uma mistura complexa de substâncias químicas como peptídeos, enzimas e aminas biogênicas, que apresentam atividades farmacológicas e alérgicas. Os fatores alergênicos são enzimas como fosfolipases, hialuronidases, lipases e fosfotases, proteínas antigênicas que inoculadas durante a ferroada, iniciam respostas imunes responsáveis pela hipersensibilidade de alguns indivíduos e pelo início da reação alérgica. São agentes bloqueadores neuromusculares e possuem poderosa ação hemolítica, além de propriedades antiarrítmicas. Sintomas - acidentes As reações desencadeadas pela picada de abelhas variam de acordo com o local e o número de ferroadas, bem como características e o passado alérgico do indivíduo atingido. As manifestações clínicas podem ser alérgicas (mesmo com uma só picada) e tóxicas (múltiplas picadas). Normalmente, após uma ferroada há dor aguda local, que tende a desaparecer espontaneamente em poucos minutos, deixando vermelhidão, coceira e inchaço por várias horas ou dias. A intensidade desta reação inicial causada por uma ou múltiplas picadas deve alertar para um possível estado de sensibilidade às picadas subsequentes. Em casos de múltiplas picadas, podem ocorrer manifestações sistêmicas, devido à grande quantidade de veneno inoculada. Nesse caso, os sintomas são irritação e ardência da pele, vermelhidão, calor generalizado, pápulas, urticárias, pressão baixa, taquicardia, dor de cabeça, náuseas e/ou vômitos, cólicas abdominais e broncoespasmos. Em casos mais graves pode ocorrer choque, insuficiência respiratória aguda, e insuficiência renal aguda. As manifestações alérgicas locais são caracterizadas por um inchaço que persiste por alguns dias. As reações alérgicas sistêmicas podem variar de urticária generalizada e mal-estar até edema de glote, broncoespasmos, choque anafilático, queda da pressão arterial, colapso, perda da consciência, incontinência urinária e fecal, e cianose. Em caso de acidente provocado por múltiplas picadas de abelhas, é preciso levar o acidentado rapidamente ao hospital, junto com alguns dos insetos que provocaram o acidente. A remoção dos ferrões pode ser feita por raspagem com lâminas, e não com pinças, pois esse procedimento resulta na inoculação do veneno ainda existente no ferrão. 9 Lara Mendonça Oliveira P4 4. COMPREENDER A INTOXICAÇÃO POR ÁGUAS VIVAS (EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, CONDUTA; As cubomedusas, que são classificadas na classe Cubozoa, estão associadas a acidentes fatais em vários países e duas espécies são comuns no Brasil: a Tamoya haplonema e a Chiropsalmus quadrumanus. Em uma série de 236 acidentes provocados por animais marinhos observados pelo autor no Pronto-Socorro de Ubatuba (SP), cerca de 25% foram causados por cnidários. O quadro clínico dos acidentes por cnidários depende da ação dermonecrótica e neurotóxica do veneno, manifestando-se por placas lineares ou arredondadas eritematosas e dor intensa local instantânea, podendo haver náuseas, vômitos, dispneia, arritmias cardíacas, edema agudo pulmonar e óbito. As medidas de primeiros socorros para acidentes por águas-vivas devem utilizar compressas de água do mar gelada (ou aplicação de cold packs, que são bolsas de gel utilizadas para conservar vacinas e soros) para controle da dor e banhos de vinagre (desnatura o veneno) no local atingido. O uso de água doce dispara nematocistos íntegros por osmose e aumenta o envenenamento. Dor local persistente e incontrolável, dispneia, tosse, coriza, taquicardia ou arritmias e outros sintomas podem ser indicativos de quadros mais graves e necessitam atendimento hospitalar. Estima-se que haja cerca de 150 milhões de acidentes por cnidários por ano no mundo, com algumas áreas do Oceano Pacífico e do Sul do Brasil relatando até mais de mil envenenamento diários em uma única praia (CEGOLON et al., 2013, HADDAD JR., 2010). Segundo (LOTEN 2006) 25% dos envenenamentos em banhistas foram causados por cnidários. AÇÃO DO VENENO O veneno dos Cnidários é uma mistura de vários polipeptídeos que tem ações tóxicas e enzimáticas na pele humana podendo provocar inflamação extensa e até necrose. Outra ação importante é a neurotoxicidade que provoca efeitos sistêmicos, desorganiza a atividade condutora cardíaca levando a arritmias sérias, alterao tônus vascular e pode levar à insuficiência respiratória por congestão pulmonar. Atividade hemolítica foi descrita para o veneno de Physalia. Lembrando que os acidentes por cnidários não são queimaduras e sim envenenamento, pois a sensação de queimadura e provocada pela ação da peçonha da cnidas ou nematocistos (HADDAD JR., 2008). SINAIS E SINTOMAS DE ENVENEMANETO POR CNIDÁRIOS Os sinais e sintomas de envenenamento por cnidários estão relacionados à ação tóxica imediata do veneno e a reação alérgica individual. Eles variam de placas lineares avermelhadas e dolorosas até bolhas ou mesmo úlceras, mas estas formas mais graves são rara no litoral brasileiro (HADDAD. J.R. 2016). A dor pode persistir por horas e outros sintomas podem ocorre como a desorganização geral da atividade nervosa como insuficiência cardíaca (rara), choque, insuficiência respiratória, hemólise e insuficiência renal responsáveis por óbitos em casos mais graves (HADDAD ET AL., 2013 HADDAD J.R. 2017). QUADRO CLÍNICO Manifestações locais Os efeitos locais (eritema, edema e dor), apresentam menos de 20 cm de marcas de pele, são de aparência geralmente oval ou redonda e caracterizam impressões de pequenos tentáculos. A dor podem durar de 30 minutos a 24 horas. Além das manifestações citadas acima Neves et al (2007) relataram através de um questionário realizado em hospitais de Pernambuco, com vítimas de acidente com animais marinhos que a ardência foi o sintoma mais referido (24%), seguido pela dor (14%), alergia (9%) e queimaduras (7%). Manifestações Sistêmicas Nos casos mais graves há relatos de cefaleia, mal-estar, náuseas, vômitos, espasmos musculares, febre, arritmias cardíacas. A gravidade depende da extensão da área comprometida. A ingestão de celenterados 10 Lara Mendonça Oliveira P4 pode levar a quadros gastrintestinais alérgicos e quadros urticariformes. Podem aparecer urticárias e erupções recorrentes, estas a partir de um único acidente, além de reações distantes do local do acidente. O óbito pode ocorrer por efeito do envenenamento (insuficiência respiratória e choque) ou por anafilaxia. TRATAMENTO a) 1ª Etapa - repouso do segmento afetado. b) 2ª Etapa - retirada de tentáculos aderidos: a descarga de nematocistos é contínua e a manipulação errônea aumenta o grau de envenenamento. Não usar água doce para lavar o local (descarrega nematocistos por osmose) ou esfregar panos secos (rompe os nematocistos). Os tentáculos devem ser retirados suavemente levantando-os com a mão enluvada, pinça ou bordo de faca. O local deve ser lavado com água do mar. c) 3ª Etapa- inativação do veneno: o uso de ácido acético a 5% (vinagre comum), aplicado no local, por no mínimo 30 minutos inativa o veneno local. d) 4ª Etapa - retirada de nematocistos remanescentes: deve-se aplicar uma pasta de bicarbonato de sódio, talco e água do mar no local, esperar secar e retirar com o bordo de uma faca. e) 5ª Etapa - bolsa de gelo ou compressas de água do mar fria por 5 a 10 minutos e corticóides tópicos duas vezes ao dia aliviam os sintomas locais. A dor deve ser tratada com analgésicos. (FUNASA 2001). 5. CONHECER AS MEDIDAS PREVENTIVAS DE ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS; O risco de acidentes com animais peçonhentos pode ser reduzido tomando algumas medidas gerais e bastante simples para prevenção: • usar calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem; • examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las; • afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários; • não acumular entulhos e materiais de construção; • limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede; • vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés; • utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; • manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros; • evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada; • limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas. Proteção individual para prevenir acidentes com animais peçonhentos • No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que serpentes estão em maior atividade. • Não mexer em colmeias e vespeiros. Caso estejam em áreas de risco de acidente, contatar a autoridade local competente para a remoção. • Inspecionar calçados, roupas, toalhas de banho e de rosto, roupas de cama, panos de chão e tapetes antes de usá-los. 11 Lara Mendonça Oliveira P4 • Afastar camas e berços das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários. Proteção da população para prevenir acidentes com animais peçonhentos • Não depositar ou acumular lixo, entulho e materiais de construção junto às habitações. • Evitar que plantas trepadeiras se encostem às casas e que folhagens entrem pelo telhado ou pelo forro. • Não montar acampamento próximo a áreas onde normalmente há roedores (plantações, pastos ou matos) e, por conseguinte, maior número de serpentes. • Evitar piquenique às margens de rios, lagos ou lagoas, e não se encostar a barrancos durante pescarias ou outras atividades. • Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede e terrenos baldios (sempre com uso de EPI). • Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés. • Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos. • Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros. • Controlar roedores existentes na área e combater insetos, principalmente baratas (são alimentos para escorpiões e aranhas). • Caso encontre um animal peçonhento, afaste-se com cuidado e evite assustá-lo ou tocá-lo, mesmo que pareça morto, e procure a autoridade de saúde local para orientações. Orientação ao trabalhador na prevenção de acidentes com animais peçonhentos • Usar luvas de raspa de couro e calçados fechados, entre outros equipamentos de proteção individual (EPI), durante o manuseio de materiais de construção (tijolos, pedras, madeiras e sacos de cimento); transporte de lenhas; movimentação de móveis; atividades rurais; limpeza de jardins, quintais e terrenos baldios, entre outras atividades. • Olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer. • Não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras. Caso seja necessário mexer nesses lugares, usar um pedaço de madeira, enxada ou foice. • Os trabalhadores do campo devem sempre utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs), como botas ou perneiras, evitar colocar as mãos em tocas, montes de lenha, folhas e cupinzeiros. 5. ENTENDER A NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DOS ANIMAIS PEÇONHENTOS E A SUA IMPORTÂNCIA. Essa importância se dá pelo alto número de notificações registras no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), sendo acidentes por animais peçonhentos um dos agravos mais notificados. A partir das análises dos dados do SINAN, a vigilância epidemiológica é capaz de identificar o quantitativo de soros antivenenos a serem distribuídos às Unidades Federadas, além de determinar pontos estratégicos de vigilância, estruturar as unidades de atendimento aos acidentados, elaborar estratégias de controle desses animais, entre outros. 12 Lara Mendonça Oliveira P4 13 Lara Mendonça Oliveira P4
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