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Climatério e Menopausa

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Climatério e Menopausa
A transição menopausal, também denominada 
perimenopausa, ocorre antes da menopausa 
caracterizada por irregularidade dos ciclos 
menstruais com alterações endócrinas 
acompanhada de sintomas como, por exemplo, 
fogachos, ressecamento vaginal e distúrbios de 
sono. 
A menopausa é uma condição de ocorrência 
fisiológica devida ao envelhecimento da mulher. O 
termo é definido como a cessação permanente 
dos períodos menstruais por 12 meses 
consecutivos de amenorreia, marcando, portanto, 
o fim do período reprodutivo (menacme). Antes 
dos 40 anos é considerada anormal por prematura 
insuficiência ovariana. 
A mulher nasce com um número finito de óvulos 
armazenados nos ovários. Com a idade, sofre 
depleção dos folículos ovarianos, com 
consequente falência funcional dos ovários, 
apesar de existir influência do eixo hipotálamo-
hipofisário, culminando com a interrupção 
definitiva dos ciclos menstruais. De forma não 
natural pode ocorrer após cirurgia, quimioterapia 
ou irradiação. 
Os ovários produzem 2 importantes hormônios: o 
estrogênio e a progesterona. Os estrogênios 
constituem um grupo de hormônios essenciais 
para o desenvolvimento do útero, da mama e de 
outras transformações associadas à puberdade, 
determinando as características femininas de 
distribuição de gordura e também aquelas 
responsáveis pelo processo de reprodução. Na 
verdade, os estrogênios têm efeito sobre 
inúmeros tecidos no corpo da mulher, como o 
sistema nervoso central, ossos, trato urinário, 
fígado, coração etc. 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde 
(OMS), ocorre entre 45 e 65 anos, situando-se, em 
média, aos 50 anos. A sua ocorrência antes dos 40 
anos é considerada precoce, sendo tida como 
tardia quando acontece após os 52 anos. A 
multiparidade e o aumento do índice de massa 
corpórea estão associados ao início tardio da 
menopausa, enquanto o tabagismo, o tratamento 
de depressão, a exposição a substâncias químicas 
tóxicas, a dieta vegetariana, as grandes altitudes, 
a magreza e a terapêutica com radiação têm sido 
associados ao seu início precoce. A nuliparidade e 
a condição marital, entre outros fatores, a 
despeito de serem citados, carecem de 
comprovação estatística.
Raramente os ciclos menstruais são interrompidos 
abruptamente. A menopausa propriamente dita é 
precedida por um período de alguns anos 
chamado perimenopausa ou transição 
menopausal, durante o qual há significativa 
flutuação hormonal com irregularidades dos 
ciclos, acompanhada, frequentemente, por 
sintomas próprios da queda de estrogênios. 
A caracterização da transição menopáusica é 
clínica, dependendo de anamnese bem conduzida, 
visto que as dosagens hormonais são muito 
flutuantes, não sendo, portanto, confiáveis. 
Entretanto, cerca de 6 meses antes da menopausa 
os níveis de estrogênios caem significativamente. 
Os ciclos mais irregulares são acompanhados de 
dramáticas flutuações séricas de hormônio 
foliculoestimulante (FSH). 
A falência ovariana, com cessação da produção de 
estrogênios, ainda é acompanhada por pequena 
produção do hormônio masculino, a testosterona, 
transformada em estradiol na gordura corporal. 
Também a glândula adrenal mantém a produção 
de hormônio masculino, da mesma forma 
transformado em estrona e estradiol. Ao lado do 
estroma cortical ovariano, essas são as únicas 
fontes de produção de estrogênios após a 
menopausa, que fica bastante aquém da produção 
que ocorre na fase reprodutiva da mulher. A mais 
potente forma de estrogênio é o estradiol; o 
estriol e a estrona também são importantes, 
porém de menor potência. A atuação dos 
estrogênios no organismo ocorre por meio da sua 
ligação a receptores específicos, abundantes em 
todo o organismo. Em mulheres submetidas à 
ooferectomia, ou com falência da produção 
androgênica pelo ovário, níveis baixos de 
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testosterona podem ocorrer, o que causa redução 
de libido. 
Embora seja um processo fisiológico, a menopausa 
resulta em profundas modificações no organismo 
da mulher, determinando, quase sempre, diversos 
sintomas clínicos, como os vasomotores, além de 
torná-la suscetível ao aparecimento de doenças, 
entre as quais destacam-se a osteoporose, as 
doenças cardiovasculares, a atrofia urogenital, o 
declínio cognitivo, a depressão e a doença de 
Alzheimer. 
Decorrente, portanto, de alterações de ordem 
morfológica, funcional e hormonal, o climatério é 
considerado uma endocrinopatia. Assim sendo, o 
manuseio clínico do climatério se impõe, exigindo 
do médico conhecimento da sua fisiopatologia, 
com percepção da necessidade de 
individualização do tratamento, considerando-se a 
variabilidade de sintomas de mulher para mulher. 
A eficácia do tratamento depende da boa relação 
médico-paciente. A mulher deve ser analisada do 
ponto de vista biopsicossocial, com hierarquização 
do tratamento a ser introduzido. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 
o climatério corresponde ao período de vida da 
mulher compreendido entre o final da fase 
reprodutora até a senilidade. Em geral, varia dos 
40 aos 65 anos. Nesse período ocorre a 
menopausa definida como a interrupção 
permanente da menstruação e reconhecida após 
12 meses consecutivos de amenorréia. 
 
No climatério observa-se diminuição da fertilidade 
e, progressivamente, declínio da produção de 
estradiol pelo ovário, embora mantenha certo 
equilíbrio hormonal pela maior produção de 
androgênios e sua conversão periférica em 
estrogênio. 
 
A menopausa precoce ocorre quando se 
estabelece antes dos 40 anos de idade, e tardia 
após os 55 anos. 
 
 
A etiopatogenia do climatério é complexa e, 
embora envolva todo o eixo hipotálamohipófise- 
ovariano, a estrutura mais relevante nesse 
processo é o ovário. Nele ocorre 
progressivamente a diminuição dos folículos e os 
remanescentes tornam-se refratários às 
gonadotrofinas. 
 
• OVÁRIOS: 
Até a quarta semana de desenvolvimento 
embrionário, a gônada primitiva apresenta de 
1000 a 2000 gonadoblastos, que irão transformar-
se em oogônias. Por volta da nona semana de vida 
intrauterina, as oogônias dão origem aos oócitos 
de primeira ordem; estes entram em meiose e 
interrompem o processo antes de completarem a 
primeira prófase, permanecendo quiescentes até 
a puberdade. 
 
Esses oócitos passam a ser envolvidos por uma 
camada única de células epiteliais achatadas, as 
células granulosas, formando o folículo primordial. 
Nessa época estão presentes cerca de 600.000 
elementos germinativos, os quais, sofrendo rápida 
multiplicação, passam a mais de 5 milhões ao 
redor da vigésima semana. Ao redor do quinto 
mês de desenvolvimento fetal, já está 
caracterizado o ovário à semelhança do órgão ao 
nascimento. 
 
É a partir desse período que se inicia o processo de 
atresia folicular, de modo que ao nascimento não 
existem mais que 2 milhões de folículos e ao início 
da puberdade, de 300 a 500.000. A magnitude 
desse patrimônio sofre variações individuais, a 
depender de fatores genéticos e ambientais. 
 
A atresia dos folículos ovarianos continua até a 
menopausa. Durante o climatério observa-se 
redução acentuada das células germinativas e 
unidades foliculares, condição que evolui para o 
desaparecimento completo dos folículos, 
determinando a esterilidade definitiva. Dessa 
forma, a camada cortical e os vasos ovarianos 
sofrem atrofia progressiva, ao passo que o 
estroma hipertrofia em resposta ao estímulo 
gonadotrófico. 
 
A diminuição dos folículos ovarianos leva ao 
declínio progressivo dos estrógenos e da inibina. 
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Por mecanismo de retroação, observa-se elevação 
progressiva das gonadotrofinas FSH e LH, na 
tentativa de manter a foliculogênese. Estas, 
atuando sobre o estroma do ovário, fazem com 
que haja maior produção de androgênios 
(testosterona e androstenediona). 
 
Esses androgênios, juntamente com os produzidos 
pelas adrenais nos tecidos periféricos, através da 
aromatase são convertidos em estrona, principal 
hormônio da mulher no climatério. É no período 
doclimatério que se verifica redução progressiva 
importante das dimensões dos ovários. 
 
Mulheres após a menopausa apresentam menor 
volume ovariano que na pré-menopausa, 
sugerindo que a alteração volumétrica seja 
principalmente relacionada com a redução da 
capacidade funcional. 
 
• HIPOTÁLAMO E HIPÓFISE 
O eixo hipotálamo-hipofisário também participa 
desse processo, pois seu envelhecimento acarreta 
alterações no metabolismo dopaminérgico e 
diminuição dos receptores estrogênicos. 
 
Embora seja inquestionável que o declínio no 
número de unidades foliculares funcionais 
ovarianas seja o elemento principal da falência 
reprodutora durante o climatério, atualmente há 
aumento de evidências de que o processo de 
envelhecimento está associado a alterações 
dinâmicas hipotalâmicas e hipofisárias, que são 
independentes da secreção gonadal de 
hormônios. 
 
Desta forma, é sugerido que a exaustão dos 
folículos ovarianos possa ser acelerada por perda 
de sincronia dos sinais neurais. 
 
• ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS 
No período do climatério, alterações endócrinas 
decorrentes sobretudo do declínio da função 
ovariana são de grande importância. Clinicamente 
essas modificações se apresentam como 
insuficiência do corpo lúteo, que nas fases iniciais 
determina irregularidades menstruais, como 
espanio ou polimenorreia, evoluindo mais 
tardiamente para amenorréia por anovulação 
temporária ou definitiva. Essas modificações no 
padrão menstrual, sem dúvida, são muito 
importantes e atingem o ápice com a amenorréia 
definitiva, caracterizando a menopausa. Essas 
mudanças decorrem não somente da falência 
ovariana, mas também de modificações do 
hipotálamo e da hipófise. 
 
Com a evolução do climatério e a instalação da 
menopausa, ocorre redução até o quase total 
desaparecimento da progesterona, do estradiol e 
da inibina, decorrentes da falência folicular, 
redução das células secretoras e diminuição dos 
receptores de gonadotrofinas. 
 
Para compensar essas mudanças, há aumento da 
secreção de androstenediona (principal esteróide 
secretado pelo ovário na pós-menopausa), pelo 
estroma do ovário e pelas suprarrenais, que irá 
sofrer conversão periférica para estrogênios, 
principalmente estrona. 
 
Mudanças funcionais importantes ocorrem 
também na unidade hipotálamo-hipofisária, com 
hiperfunção e hipertrofia evidente, e 
caracterizada pelo aumento dos níveis de 
gonadotrofinas. Observa-se elevação progressiva 
das gonadotrofinas, de início com predomínio de 
FSH, com valores 14 vezes maiores, e valores de LH 
três vezes maiores que no período pré-
menopausa. Contudo esses padrões são variáveis, 
principalmente no início da menopausa. 
 
 
A intensidade dos sintomas experimentados na 
menopausa é variável e decorre dos efeitos da 
queda dos níveis de estrogênios nos diversos 
órgãos. 
 
• CÉREBRO E SISTEMA NERVOSO CENTRAL 
Os estrogênios influenciam diretamente a função 
cerebral, atuando, por meio dos receptores 
estrogênicos localizados nos neurônios, em várias 
áreas do cérebro. 
 
São importantes para o suprimento do fluxo 
sanguíneo cerebral, provavelmente por 
mecanismo semelhante ao que ocorre nas artérias 
coronárias, ligando-se aos receptores endoteliais, 
promovendo liberação de óxido nítrico, com 
consequente vasodilatação. Esse é um importante 
efeito, já que o cérebro não tem outras fontes 
metabólicas alternativas. Por outro lado, tem sido 
demonstrada ação protetora anti-inflamatória na 
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parede vascular contra a atuação de citocinas e 
radicais livres, impedindo a formação de placas. 
 
Embora considerada como uma transição de 
reprodução, os sintomas da perimenopausa são 
em grande parte de natureza neurológica e são 
indicativos de interrupção em vários sistemas 
regulados por estrogênios, incluindo 
termorregulação, sono, ritmo circadiano e afetam 
vários domínios da função cognitiva. 
 
As ondas de calor constituem o sintoma mais 
comum da menopausa, ocorrendo em 75% das 
mulheres na perimenopausa e pós-menopausa, 
com duração e intensidade variáveis de mulher 
para mulher, com duração média de 3,8 anos. Os 
sintomas podem perdurar entre 1 e 5 min, 
raramente ultrapassando esse tempo. 
 
São decorrentes de instabilidade vasomotora por 
variação no centro termorregulador hipotalâmico, 
sugerindo alterações no metabolismo das 
catecolaminas. A atividade do sistema opioide 
endógeno reduzido também parece exercer 
importante papel no transtorno termorregulador, 
ligado à modulação central dos receptores 
estrogênicos e à secreção de hormônio 
luteinizante (LH). O declínio nos níveis de 
estrogênio e de inibina B, bem como o aumento 
dos níveis de FSH explicam em parte esse distúrbio 
de termorregulacão, o qual está associado a 
alterações dos neurotransmissores cerebrais e da 
reatividade vascular periférica. 
 
Entretanto, embora as ondas de calor aparentem 
ter relação com a supressão estrogênica, esse 
fenômeno não está totalmente explicado, já que 
os níveis de hormônio não diferem entre mulheres 
sintomáticas e assintomáticas. 
 
São descritos como súbita sensação de calor na 
parte superior do corpo, seguida por diaforese e 
arrepio de frio. Também ligadas a essas alterações 
são mencionadas sudorese noturna, palpitações, 
cefaleias e vertigens. 
 
Ainda que haja controvérsia, o sintoma vasomotor 
da menopausa tem sido atribuído à “síndrome de 
retirada do opioide endógeno”, correlação que, 
consequentemente, sugere o tratamento por 
aumento da atividade do sistema opioide 
endógeno a partir de fármacos neuroativos, como 
os antidopaminérgicos, estrogênios, 
progestógenos e clonidina. 
 
Concomitantemente à queda dos estrogênios no 
período perimenopausal, o volume do cérebro se 
atrofia, mesmo em mulheres sem qualquer 
doença evidente. Essa atrofia ocorre no 
hipocampo e nos lobos parietais, regiões que se 
associam à memória e à cognição. As queixas de 
perda de memória e redução na agilidade mental 
são frequentes na perimenopausa 
 
O efeito dos estrogênios sobre humor, 
comportamento, memória e atividade central tem 
sido referido, com base em experiências em 
animais e em humanos. 
 
A serotonina é um neurotransmissor que tem 
papel fundamental na regulação do humor. 
Experiências em ratos têm demonstrado que a 
imipramina, substância antidepressiva, não tem 
efeito terapêutico sobre a concentração sináptica 
de serotonina, a menos que o estrogênio esteja 
presente. O estrogênio tem ação competitiva com 
o triptofano, substância precursora da serotonina, 
por meio de ligação com a albumina plasmática, 
possibilitando maior disponibilidade central de 
triptofano. As pesquisas também têm 
demonstrado que os níveis de serotonina reduzem 
na menopausa. 
 
Sabidamente, os estrogênios encontram-se 
envolvidos na diferenciação dos neurônios, 
durante a vida fetal, e na formação das sinapses 
das células nervosas, bem como têm particular 
ação sobre o hipocampo, o qual desempenha 
importante papel na memória. 
 
O aumento da idade é o fator de risco mais 
importante para o desenvolvimento de demência. 
A queda do suprimento neuronal de fatores de 
crescimento, com o envelhecimento, parece 
mediar a patologia neural; um desses fatores 
parece ser o estrogênio, que intensifica a 
neurotransmissão colinérgica e previne o dano 
oxidativo celular e a atrofia neuronal. Assim 
sendo, a terapia hormonal (TH) deveria 
desempenhar um papel protetor e terapêutico na 
demência. 
 
 
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Contudo a função cognitiva não sofre alteração 
linear na perimenopausa e menopausa. Queda na 
atenção, no processamento da memória, 
aprendizado e memória verbal e na velocidade 
motora podem ser mais evidentes no primeiro ano 
após o período menstrual final. 
 
Recentemente, foi demonstrado que os 
estrogênios são capazes de potencializar a ação da 
levodopa, podendo, talvez, atuar retardando o 
início da doença de Parkinson, outra doença 
neurológica progressiva de maior prevalência nos 
idosos, na qual ocorre redução na produção 
celular de dopamina por degeneração da 
substâncianegra. Algumas pesquisas em animais 
sugerem que os estrogênios podem ter ação 
positiva na transmissão dopaminérgica, além de 
protegerem a produção neuronal de dopamina. 
 
O estrogênio atua reduzindo a expressão da 
catecol-O-metiltransferase (COMT), enzima 
responsável pela degradação da dopamina, 
podendo ainda reduzir o limiar de resposta da 
levodopa. 
 
As ações estrogênicas na doença de Parkinson, 
ainda que promissoras, demandam outros estudos 
para seu adequado esclarecimento. 
 
• ALTERAÇÕES UROGENITAIS 
O sistema urogenital sofre efeitos deletérios 
devido ao hipoestrogenismo, o que provoca 
sintomas referidos por 1/3 das mulheres. 
As alterações geniturinárias da menopausa 
recebem a denominação, de acordo com The 
North American Menopause Society, de síndrome 
geniturinária da menopausa e compreende sinais 
e sintomas associados à queda de estrogênios e 
outros esteroides sexuais, envolvendo alterações 
nos grandes e pequenos lábios, clitóris, introito e 
vestíbulo vaginal, vagina, uretra e bexiga. Inclui 
sintomas de irritação, secura e queimação genital, 
sintomas sexuais por falta de lubrificação 
(desconforto, dor, prejuízo na função) e sintomas 
urinários de urgência, disúria e infecções 
recorrentes. 
Esses sintomas são decorrentes de marcantes 
fenômenos involutivos do sistema urogenital. A 
vulva perde panículo adiposo, as glândulas de 
Bartholin se atrofiam, há diminuição da secreção 
das glândulas sudoríparas e sebáceas. Os pelos 
pubianos tornam-se escassos e quebradiços. Há, 
normalmente, retração do introito vaginal, 
principalmente nas pacientes de nenhuma ou 
escassa atividade sexual. A vagina apresenta-se 
menos rugosa e elástica, passa a ser repovoada, 
perdendo bacilos de Döderlein, que são 
substituídos por flora inespecífica, incluindo 
organismos patogênicos encontrados em 
infecções do sistema urinário. O pH torna-se mais 
elevado, em geral acima de 6, sendo esse mais um 
fator para originar quadros infecciosos. 
Caracteristicamente, há atrofia do útero, das 
trompas e dos ovários. Todo o sistema de 
sustentação do assoalho pélvico torna-se atrófico 
e menos elástico, com redução da musculatura 
pélvica e do tecido colágeno, o que ocasiona 
prolapso genital. 
O aparecimento de secreção vaginal, por vezes 
com odor desagradável, pode ter origem 
inflamatória, causando irritação, rubor e prurido, 
necessitando de esclarecimento diagnóstico para 
tratamento específico, já que, normalmente, o 
problema não tem resolução espontânea. O 
ressecamento e o adelgaçamento da vulva e da 
parede vaginal tornam esses tecidos mais 
propensos a traumas durante a relação sexual e o 
exame ginecológico. O aumento do pH, 
alcalinizando o meio, que normalmente é ácido, 
associado ao adelgaçamento da parede vaginal, 
origina vaginite atrófica, necessitando de medidas 
terapêuticas próprias para evitar o surgimento de 
feridas, sangramento e dor, principalmente 
durante a relação sexual. A deficiência estrogênica 
leva à redução do fluxo sanguíneo para a vagina e 
a vulva, sendo a maior causa de redução da 
lubrificação vaginal e da atividade sexual. Além 
disso, pode determinar neuropatia do nervo 
pudendo, resultando em menor sensibilidade do 
clitóris e da área vulvar, processo que parece ser 
reversível com o uso de estrogênio. 
A produção de androgênio se reduz e pode 
resultar em perda de libido, porém os estudos dos 
efeitos da reposição androgênica sobre a função 
sexual na mulher são conflitantes. 
O sistema urinário manifesta importantes 
repercussões relacionadas com a deficiência 
hormonal da menopausa. A parede da uretra 
torna-se delgada, e a musculatura pélvica ao redor 
pode enfraquecer. Há redução do tecido 
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conjuntivo que envolve a uretra e a bexiga, região 
rica em receptores estrogênicos, portanto 
hormônio-dependente. Consequentemente, há 
perda de elasticidade e atrofia da mucosa uretral 
e do colo vesical, com menor irrigação sanguínea 
e menor resposta muscular. A redução da rede 
vascular compromete a manutenção adequada da 
pressão intrauretral e da transmissão da pressão 
intra-abdominal à uretra proximal, prejudicando a 
cooptação da mucosa uretral. Essas alterações 
propiciam o aumento da frequência e urgência 
urinária, associadas ou não à disúria. Além disso, 
outra ocorrência comum é a incontinência 
urinária, particularmente ao esforço, quase tão 
frequente quanto os quadros de instabilidade do 
músculo detrusor. 
A infecção urinária é mais frequente no período 
pós-menopausa, sendo a infecção vaginal, o 
resíduo pós-miccional e a deficiência imunológica 
creditados ao hipoestrogenismo os fatores que 
mais contribuem para que ocorra. Além disso, a 
atrofia da mucosa e a deficiência estrogênica 
podem aumentar o pH da vagina e alterar a sua 
flora, mudanças que predispõem à infecção do 
trato urinário. Os quadros infecciosos recorrentes 
levam a fibrose e estreitamento da uretra. 
Apesar de todas essas manifestações, a 
menopausa não necessariamente afeta a 
sexualidade. A compreensão dessas mudanças e o 
apoio psicológico, quando necessário, ao lado de 
medidas terapêuticas próprias, desmistificam a 
concepção de que o sexo acaba nesse período. A 
sexualidade faz parte da vida saudável. 
• ALTERAÇÕES DO TECIDO CONJUNTIVO 
Atrofia e conteúdo colágeno da pele e dos ossos 
reduz-se pela deficiência estrogênica, 
contribuindo para o envelhecimento e a formação 
de rugas na pele devido ao aumento de 
extensibilidade e perda de elasticidade. Com o 
envelhecimento a pele se torna mais frágil, 
suscetível ao trauma, com maior facilidade de 
contusão e lacerações. As mudanças no colágeno 
são atenuadas pela reposição estrogênica, 
levando ao aumento de espessura da pele e da 
derme. 
O aumento da produção de colágeno com a 
reposição hormonal pode ser um dos mecanismos 
de prevenção de fraturas osteoporóticas. A maior 
quantidade de colágeno na matriz óssea resulta 
em aumento na flexibilidade e força, 
independentemente da densidade mineral óssea. 
 
 
Para o diagnóstico da síndrome do climatério, 
considera-se a idade estabelecida entre 35 e 65 
anos. A caracterização da transição menopausal é 
basicamente clínica e deve fundamentar-se em 
história bem conduzida, considerando-se que os 
marcadores hormonais têm níveis flutuantes 
nesse período e não são, portanto, confiáveis. 
Suspeita-se de perimenopausa quando, na faixa 
etária entre 45 e 50 anos, começam a ocorrer 
irregularidades no ciclo menstrual, como 
polimenorreia, hipermenorreia ou 
espaniomenorreia, associadas ou não aos 
sintomas típicos do climatério já descritos. A 
investigação dos antecedentes pessoais e 
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familiares ajuda a classificar o risco de 
desenvolvimento de DCV osteoarticular e 
neoplásica, principalmente. 
Um exame clínico geral e ginecológico criterioso é 
fundamental, pois traz elementos para a avaliação 
das condições gerais da paciente e das 
repercussões orgânicas da mudança do seu perfil 
hormonal. 
 
A sintomatologia e/ou os fatores de risco para o 
desenvolvimento de doenças ligadas ao 
hipoestrogenismo impõem a consideração da 
terapia de reposição hormonal. 
 
A investigação complementar é indispensável, 
tanto para o diagnóstico como para o 
acompanhamento das pacientes em tratamento 
hormonal. A bateria básica de exames inclui os 
descritos a seguir. 
- Análises laboratoriais. Hemograma completo, 
glicemia em jejum, ureia, creatinina, colesterol 
total e frações e urina tipo I. Esses exames têm por 
objetivo investigar alterações prévias, como 
dislipidemias, diabetes melito, infecções etc., 
ensejando, após a introdução da terapia de 
reposição hormonal, o acompanhamento clínico. 
As dosagens hormonais são realizadas em 
situações especiais, como, por exemplo, as de 
mulheres histerectomizadas e em suspeita de 
distúrbios hormonais, como hipotireoidismo ou 
falência ovariana. 
- Densitometria óssea. Esse é o exame mais 
empregado para avaliação de massa óssea e o 
mais importante parâmetro de comparação do 
tratamento. 
- Colposcopiae colpocitologia oncótica. Nenhum 
tratamento hormonal deve ser iniciado sem a 
realização prévia de colpocitologia oncótica. Se 
houver suspeita de neoplasia, é mandatória a 
investigação complementar antes da TH. 
- Mamografia de alta resolução ou digital. Exame 
obrigatório antes do início da reposição hormonal, 
tendo por objetivo afastar a possibilidade de 
neoplasia; deve ser anualmente repetida. A TH por 
períodos prolongados, na maioria dos trabalhos 
cuja investigação excede 10 anos, tem mostrado 
pequeno aumento na incidência de câncer de 
mama. A ultrassonografia de mama é realizada, 
quando necessário, para complementação da 
mamografia. 
- Ultrassonografia transvaginal. É outro 
procedimento indispensável que possibilita a 
avaliação do endométrio uterino. O achado de 
hiperplasia endometrial indica a realização de 
histologia endometrial por meio de biopsia por 
histeroscopia, aspiração ou curetagem. 
 
 
O climatério deve ser encarado como um 
momento decisivo para se garantir um 
envelhecimento ativo e saudável. A atitude 
médica deve obedecer à priorização de medidas, 
individualizando a conduta de acordo com os 
sintomas e a história clínica de cada paciente. 
 
A orientação alimentar visa, além de controle de 
peso, à restrição de gorduras saturadas e ao 
aumento da ingesta de alimentos à base de cálcio, 
funcionando como medida coadjuvante na 
prevenção da osteoporose e da DCV. A dieta rica 
em frutas, vegetais, grãos e derivados de leite 
desnatado, e com baixo teor de açúcar e gorduras 
saturadas, dando preferência à carne branca em 
lugar da vermelha, é a ideal. A redução do peso 
contribui para diminuir o tecido denso da mama, 
fator de risco para o desenvolvimento de câncer, 
com efeitos observados apenas após cerca de 2 
anos. 
 
O uso de alimentos ricos em cálcio deve ser 
estimulado com ingesta de leite desnatado e 
derivados, maior consumo de vegetais, 
principalmente os verde-escuros, e legumes. A 
ingesta diária ideal dessa substância, após os 50 
anos, é de 1.200 mg a 1.500 mg, difícil de ser 
alcançada somente pela dieta, o que torna 
necessário complementação por meio de 
preparações farmacêuticas. A vitamina D é 
nutriente essencial para que o organismo absorva 
e utilize o cálcio, devendo ser mantida em níveis 
adequados; é importante para a sua síntese a 
exposição da pele aos raios ultravioleta do sol. A 
vitamina D, por ser lipossolúvel, pode acumular-
se, exigindo cuidado com administrações 
prolongadas e de grande quantidade, que podem 
levar a hipercalcemia e hipercalciúria. 
 
O climatério nem sempre é sintomático; os 
sintomas, quando presentes, constituem a 
síndrome climatérica. As repercussões negativas 
da deficiência estrogênica podem ser tratadas e 
prevenidas com a TH (terapia hormonal) a longo 
prazo, embora ainda não haja consenso sobre sua 
–
 
duração. A decisão do uso ou não da TH deve ser 
individualizada, respeitando-se as 
contraindicações habituais e sempre se fazendo 
uma análise minuciosa dos riscos e benefícios. 
Hoje é bem aceito que a TH deva ser indicada para 
eliminar ou aliviar os sintomas decorrentes do 
hipoestrogenismo, com os sintomas vasomotores, 
atrofia urogenital, distúrbios urinários, alterações 
da pele e das mucosas e os sintomas 
osteoarticulares, entre outros. Vale lembrar do 
seu importante efeito na prevenção e tratamento 
da osteoporose. Em resumo, a TH não deve ser 
usada de maneira indiscriminada nem aleatória, 
devendo sempre ser ajustada às necessidades de 
cada mulher. 
 
 
REFERÊNCIA: TRATADO DE GERIATRIA E 
MANUAL DE PRIENTAÇÃO DO CLIMATÉRIO - 
FEBRASGO

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