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1 Introdução Wallon é, junto com Jean Piaget, um dos autores que teve maior influência na construção do pensamento pedagógico. Ele vê a escola como o ambiente ideal para conhecer a criança e, através dela, o ser humano. Dedicou ao entendimento do psiquismo humano, seus mecanismos e relações mútuas, a partir de uma perspectiva genética. Por isso seu interesse pelo desenvolvimento infantil, já que na infância se localiza a gênese da maior parte dos processos psíquicos. O projeto de Wallon é o estudo da pessoa completa, considerada em suas relações com o meio e em seus diversos domínios (integrada). Método de estudo: origem orgânica e influências socioambientais. Contrário ao procedimento de se privilegiar um único aspecto do desenvolvimento da criança, Wallon o estuda em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nos diferentes momentos do desenvolvimento, os vínculos entre cada um e suas implicações com o todo representado pela personalidade. Desta opção, resultam quatro temas centrais na sua teoria: emoção, movimento, inteligência, personalidade. 2 Aspectos do Desenvolvimento Segundo a teoria deste autor, a afetividade (emoções) depende do movimento (motricidade) para se manifestar. Esta relação, por sua vez, favorece a evolução da inteligência. Primeiramente, a afetividade está ligada às manifestações fisiológicas. É através da "atividade emocional" que a criança consegue realizar a passagem, a transição entre o estado orgânico, mais primitivo, até sua etapa mais cognitiva. Neste processo estão envolvidos fatores orgânicos e a mediação cultural e social. O desenvolvimento do pensamento infantil não ocorre de forma contínua, é marcado por crises e conflitos que são resultado do amadurecimento do SN que traz novas possibilidades orgânicas para o exercício do pensamento e de alterações no meio social que trazem situações e estímulos diferentes. Emoção Entende-se por emoção formas corporais de expressar o estado de espírito da pessoa. Para Wallon, as emoções têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. A afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano. Movimento Segundo a teoria de Wallon, as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação. Inteligência Segundo Wallon, a inteligência se desenvolve através de "saltos". Para que estes "saltos" ocorram é necessário o amadurecimento neurológico e a influência da cultura. Ele descreve dois momentos principais: a inteligência sensório-motora e a inteligência representativa. 3 Se desenvolve após a afetividade e estabelece com ela certa relação de conflito. Talvez seja por isso que nos interessamos em aprender mais aquilo que gostamos do que o que não gostamos. Personalidade A construção do eu na teoria de Wallon depende essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para ser negado. Principalmente a partir do instante em que a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso se dá aos 3 anos de idade – a hora de saber quem "eu" sou. Conclusão Uma das originalidades da teoria de Wallon é sua tentativa de ver a criança de um modo mais integral, considerando que a escola é um lugar onde se educa, mas, principalmente, onde se deve estudar a personalidade da criança. Com foco na criança, Wallon busca compreender o desenvolvimento de forma integrada, levando em conta os domínios cognitivo, afetivo e motor. A perspectiva teórica de Wallon traz ainda uma preocupação bastante atual: como construir uma educação para todos, independentemente de sua condição social, origem ou raça, e, ao mesmo tempo, uma educação para cada um, que contemple a complexidade do indivíduo em todas as suas dimensões. A serviço da educação, a psicogenética walloniana oferece subsídios para aprofundarmos a reflexão sobre a prática pedagógica acerca da importante interação dos domínios afetivo, cognitivo e motor. Interação emocional + social = desenvolvimento cognitivo. Estágios Impulsivo emocional (1º ano de vida). O colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento privilegiado de interação da criança com o meio. Desse modo, a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas que cuidam dela. 4 Sensório motor e projetivo (até o 3º ano). É marcado pela aquisição da marcha e da preensão, possibilitando maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços. Outro aspecto fundamental deste estágio é o desenvolvimento da linguagem (salto qualitativo no desenvolvimento infantil) e da função simbólica. Personalismo (entre 3 e 6 anos). O aspecto central é o processo de formação da personalidade. A construção da consciência de si que se dá por meio das interações sociais, reorienta o interesse da criança para as pessoas, definindo o retorno da preponderância do aspecto afetivo; Autonomia x família; Afetividade manifestada de modo simbólico (palavras e ideias). Categorial (6 anos). Marcado por importantes avanços no plano da inteligência, dirigindo o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior, imprimindo às suas relações com o meio preponderância do aspecto cognitivo; Grande interesse em explicar situações novas; se envolve em questões que envolvam a criatividade; pensamento abstrato. Puberdade e adolescência. Há um rompimento da tranquilidade afetiva, impondo a necessidade de uma nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal; Para Wallon, o desenvolvimento não se encerra na adolescência. → Em cada um dos estágios, a criança interage com o seu ambiente de formas específicas enquanto busca construir sua própria identidade. → Além disso, cada estágio apresenta um tipo de preparação para o estágio seguinte, mas ao mesmo tempo, revela descontinuidades, rupturas e relativismos que são próprios do processo de desenvolvimento. → Para Wallon, o desenvolvimento altera fases de introspecção (voltar-se para si mesmo) e outras de extroversão (o indivíduo volta-se para o mundo externo ao contínuo movimento de internalização e externalização, que lhe permite construir sua caminhada em direção a autonomia). 5 → Psicologia Sócio-histórica tem como base a teoria de Vygotsky que afirma que o desenvolvimento humano se dá por meio das relações sociais em que o indivíduo mantém no decorrer de sua vida. Introdução Planos genéticos do desenvolvimento – ideia de que o funcionamento psicológico não está pronto previamente, ou seja, não é inato, mas também não é recebido pelas pessoas como um pacote pronto do meio ambiente (interacionismo). Planos Genéticos Filogênese: história da espécie – define limites e possibilidades de funcionamento psicológico. A linguagem e o sentimento são separados. Ontogênese: desenvolvimento do ser – cada espécie tem um caminho de desenvolvimento. Sociogênese: história da cultura de onde o sujeito está inserido. Microgênese: diz respeito ao fato de que cada fenômeno psicológico tem sua própria história. Mediação Simbólica A interação do homem com o mundo não é direta, e sim mediada por um estímulo que tem a intenção de facilitar essa operação. Mediadores: instrumentos (media a ação sobre os objetos) e signos (regula a ação sobre o psiquismo). O instrumento é um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo. Os signossão instrumentos da atividade psicológica, ou seja, auxilia a mente a tornar-se mais sofisticada, possibilitando um comportamento mais controlado. 6 Vygotsky relaciona os sistemas simbólicos (são sistemas que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas) com o processo de internalização (transformação das marcas externas em processos internos). Pensamento e Linguagem Na ausência de um sistema de signos (linguísticos ou não), somente o tipo de comunicação mais primitivo e limitado torna-se possível. A linguagem nasce como forma de comunicação. O ato de nomear é um ato de classificar. Os signos são construídos dentro de uma cultura que fornece material para ser desenvolvido. Relação pensamento e linguagem: Vygotsky vai postular como sendo desenvolvido ao longo do funcionamento psicológico humano tanto na filogênese quanto da ontogênese. Filogênese: linguagem (intercâmbio social) e pensamento (inteligência prática- percepção imediata) separados; Determinado momento essas duas concepções se juntam para conceber o desenvolvimento da espécie humana. Para Vygotsky o primeiro uso da linguagem se dá pela “fala socializada” (fala externa da criança com os outros e para os outros). O ponto de chegada da língua é o discurso interior (um sistema simbólico é incorporado internamente no aparelho psíquico com o suporte das palavras, porém que não é necessário a externalização). A comunicação que era antes entre as pessoas vai ser internalizada pelo sujeito e se torna um instrumento dele próprio – “fala egocêntrico”. Desenvolvimento e Aprendizagem Desenvolvimento se dá de fora para dentro. Para ele, aprendizagem promove o desenvolvimento. Jogo simbólico: é um lugar de desenvolvimento para a aprendizagem. Acarreta para a criança o funcionamento e as regras do mundo adulto, ela realiza atividades externamente com o significado das coisas e não com os próprios objetos. 7 Zona de Desenvolvimento Proximal O sentimento deve ser olhado de maneira prospectiva (deve ser olhado para frente; aquilo que não aconteceu). Trabalha no nível de desenvolvimento real (nível que a criança já chegou) e no nível de desenvolvimento potencial (algo que a criança ainda não tem, mas está próximo de acontecer). Define as funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processos de maturação. Não é um conceito instrumental. Intervenção Pedagógica A cada momento da história do indivíduo o sujeito é um ser que dialoga, age, coloca significados nas coisas, traz a sua subjetiva na relação da aprendizagem que promoverá desenvolvimento. A influência da intervenção ativa nos rumos do desenvolvimento adequado é essencial para o progresso de cada indivíduo – se desenvolver em uma sociedade que tem escola é diferente que se desenvolver em uma sociedade que não tem escola. Conclusão Portanto, ele propõe uma teoria marxista do funcionamento intelectual humano que inclui tanto a identificação dos mecanismos cerebrais subjacentes à formação e desenvolvimento das funções psicológicas, como a especificação do contexto social em que ocorreu tal desenvolvimento. Objetivos: caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formam ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida do indivíduo. Neuropsicologia Estuou a relação entre as funções psicológicas e o sistema nervoso central. Luria relacionou o desenvolvimento e funcionamento dos processos mentais humanos com o mundo externo, ou seja, a sociedade e a cultura. 8 A linguagem, por exemplo, transforma-se enormemente na medida em que mudanças sociais e culturais se desenrolam. Funções Psicológicas Superiores São aquelas próprias dos seres humanos, que envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional e o pensamento abstrato. São consideras “superiores” por se diferenciarem dos processos psicológicos básicos dos outros animais (ações reflexas e simples). Sistema Aberto O cérebro interage com elementos que estão fora dele (elementos físicos e culturais). Está preparado para desenvolver as funções psicológicas relacionadas a leitura e a escrita, mas essa possibilidade depende das formas, como os seres humanos estão socialmente inseridos. Sistema Funcional Conjunto de estruturas cerebrais e processos fisiológicos flexíveis que permitem a realização de algumas tarefas. O nosso cérebro como sistema aberto está preparado para desenvolver as funções psicológicas relacionadas a leitura e a escrita, porém essa possibilidade depende de como os seres humanos estão socialmente inseridos. Unidades Funcionais e Desenvolvimento A relação entre as unidades funcionais transforma-se ao longo de todo o desenvolvimento do ser humano. Primeira unidade: responsável pela regulação da atividade cerebral e do estado de vigília. Garante a estabilidade para que o sistema fique alerta para necessidades de mudança no comportamento. Segunda unidade: responsável pelo recebimento, análise e armazenamento de informações do mundo externo que são captados pelos sentidos e integrados 9 em sensações complexas para posteriormente serem sintetizadas em percepções. Terceira unidade: responsável pela programação, regulação e controle da atividade em atos exteriores (motores) e em atos interiores (ações mentais). Regula a ação física e mental de cada indivíduo sobre o ambiente. Toda atividade psicológica é um sistema complexo que envolve a operação conjunta das 3 unidades funcionais. Sociedade, Cultura e Cognição Modo gráfico-funcional de pensamento: caracterizado pelo modo de pensar baseado na experiência pessoal em contextos concretos. Modo categorial de pensamento: caracterizada pelo modo de pensar em categorias abstratas, com capacidade de desvincular-se das situações concretas e operar de forma descontextualizada (fora da experiência pessoal). O processo de escolarização é fundamental para que as pessoas aprendam a trabalhar com ideias e conceitos descontextualizados, ou seja, que não estão relacionados a vida cotidiana. 10 Teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada De acordo com Feuerstein, uma interação com qualidade (interação mediada ou mediação), em que há presença de certos componentes como intencionalidade, significado e transcendência, é causa central e fator proximal para o desenvolvimento da estrutura cognitiva dos indivíduos desde o nascimento. Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural Mudanças nas funções cognitivas e suas estruturas, demonstrando flexibilidade e que é capaz de se rearranjar e de se transformar a partir da mediação. Critérios Intencionalidade e reciprocidade. O mediador procurar intencionalmente meios e situações para facilitar a transmissão cultural e torná-la apropriada para cada mediatizado, adequando às suas necessidades intrínsecas; Exemplos: estrutura as situações; prepara o material para suscitar e provocar interesse e a motivação sobre os conteúdos; revela satisfação quando esses conseguem realizar as tarefas; valoriza o explicar de novo quando algo não foi compreendido pelo aluno; dedica mais tempo aos mediatizados mais lentos; provoca um erro proposital para que os alunos aprendam que o importante é aprender a se autocorrigir. Transcendência. O objetivo é transcender as exigências da tarefa imediata, o contexto imediato, o aqui- agora. Orienta-se para princípios de generalização, ampliando a significação e a utilidade da tarefa ou do problema que está em mãos; Exemplos: o mediador relaciona a tarefa com conteúdos prévios ou futuros; relaciona os conteúdos específicos inerentes à tarefa com os objetivos maisglobais; explica as razões das suas ações e decisões; utiliza dados da experiência de vida de cada sujeito ou grupo social (cultural) para que ele consiga entender o sentido de certas tarefas; colocar questões que promovam inferências das regras gerais; fornece “pontes” entre a área dada e outras áreas correlacionadas; encoraja os mediados a fazer sínteses 11 integradoras entre várias áreas de conteúdo que emergem da resolução das tarefas imediatas. Significação. Os exercícios e as situações que são propostos devem ter sentido para o sujeito. O mediador (psicólogo, pai ou professor) está incumbido, e culturalmente comprometido, de transmitir significações. Só proporcionar as tarefas, e mais nada, não é suficiente para produzir modificações cognitivas estruturais, há necessidade de manter os níveis motivacionais elevados dando sentido através das tarefas de aprendizagem; Exemplos: o mediador deve transformar os estímulos (selecioná-los, sequencializá-los, alterar sua frequência e intensidade); modificar o seu próprio comportamento (postura, expressão facial, comunicação não-verbal e inflexão da voz); compartilhar os valores os propósitos do que vocês vão fazer juntos. Sentimento de competência. Reforçar e realçar os esforços de resolução da tarefa. É promover ao aluno acesso ao sucesso e ao “ser capaz de fazer”. É essencial para a autoestima e autoconfiança do aluno. Partir com o aluno de onde ele sabe fazer para depois avançar até onde ele não sabe para aprender, sempre encorajando-o e reforçando-o; Exemplos: selecionar material adequado para cada sujeito ou grupo de sujeitos; repetir e automatizar tarefas simples e compostas antes de apresentar tarefas mais complexas; colocar questões de acordo com o nível de competência dos indivíduos mediatizados; comparar o desempenho do sujeito com ele mesmo, comparando os ganhos dele do antes e do depois e valorizando isso; responder positivamente aos produtos de trabalho do indivíduo mediatizado, mesmo quando o resultado final ‘não é satisfatório – ou pelo menos, evitar palavras e frases despotencializantes. Regulação e controle do comportamento. Visa regular o comportamento, inibindo a impulsividade e ajustando o tempo de resposta do mediado. É guiar a atenção seletiva e mediar as funções de focagem e de concentração na tarefa (motivação ajuda), bem como inibir respostas impulsivas, assistemáticas e desplanificadas, que tendem a ocorrer na primeira interação com tarefas de aprendizagem. Evitar processos como responder sem elaborar a resposta antes; Exemplos: restringir a impulsividade dos indivíduos pedindo que o sujeito responda como chegou àquela resposta, para relerem o parágrafo, para analisarem cuidadosamente os detalhes da tarefa, pensarem antes de responder; estabelecer planos para o trabalho que será realizado pelo aluno; não interromper as respostas do aluno, usar meios audiovisuais de forma ordenada e estruturada. 12 O modelo transacional foi articulado numa tentativa de explicar as variações nos resultados em nível do desenvolvimento obtido por bebês de risco. Foi levado em consideração fatores biológicos e sociais, porém estes não eram suficientes para prever o desenvolvimento dos bebês. Foi apontado que o impacto destes fatores é mútuo e variam em função do tempo. A criança modifica o seu ambiente e é, por sua vez, modificada pelo ambiente que ajudou a criar. Inclui os seguintes componentes: a pessoa, o contexto, a regulação e a representação. A pessoa inclui a progressão de competências e desempenhos sensório motores, cognitivos, afetivos e sociais, enquanto o contexto integra diferentes níveis de sistemas ambientais e as influências bidirecionais entre a pessoa e diversos contextos, os quais incluem desde o microcontexto familiar até o macrocontexto da cultura em que o indivíduo se insere. Caracteriza-se, portanto, pela integração e indissociação entre a pessoa e seus contextos de desenvolvimento, incluindo os processos intrapsicológicos e as ações em contextos, tanto interpessoais quanto físicos. Essas interrelações entre pessoa e contexto, envolvendo ações e reações, devem ser entendidas dentro de uma perspectiva temporal e dinâmica. Portanto, nesse processo transacional, o sistema de relações pode evoluir e modificar-se ao longo do tempo, a fim de a criança progressivamente atingir a autorregulação comportamental. O modelo transacional equilibra os efeitos bidirecionais entre pessoa e contexto e atribui um destaque para as interações experimentadas no contexto social familiar. Há fortes evidências anteriores de que a interação com adultos mais desenvolvidos e capazes do que a criança consiste em elemento fundamental para o desenvolvimento da mediação social adequada, que, por sua vez, promove o desenvolvimento da criança As famílias funcionam como mediadoras entre o indivíduo e a sociedade, uma vez que o grupo familiar se insere num sistema ecológico social mais abrangente e é influenciado pelas mudanças existentes na comunidade e na sociedade. 13 Esta relação de sistemas permite uma maior compreensão e interdependência de diversos fatores como a coordenação e interdisciplinaridade dos serviços, o que beneficia entre outros, o desenvolvimento infantil. 14 Avançou na compreensão dos contextos caóticos permeados por eventos estressores e adversidades que afetam o desenvolvimento da criança. De acordo com a abordagem do caos e sua influência no desenvolvimento, os contextos caóticos são caracterizados por ambientes físicos e humanos de grande instabilidade diária, sem ordem e falta de regularidade temporal e estrutural. Nesses ambientes, predominam, no microssistema, a variabilidade de cuidadores, a alta densidade de pessoas no contexto, o barulho, a multiplicidade de arranjos sem consistência no tempo, a alta complexidade visual, a excessiva estimulação. Essas condições podem afetar diretamente os processos de desenvolvimento regulatórios do indivíduo que está exposto a este tipo de ambiente. O caos é, geralmente, considerado como um fator para se descrever ambientes dos quais se percebem altos níveis de barulho, de pessoas (população), instabilidade e falta de estrutura física. A ausência de caos não é, necessariamente, algo saudável, pois, sob certas circunstâncias, pelo caos pode-se melhorar a capacidade adaptativa da pessoa e, por vezes, até ser benéfico para o desenvolvimento de jovens crianças. Também não devemos considerar o caos como algo, necessariamente, ligado às baixas condições socioeconômicas em que a pessoa vive no seu ambiente, pois o impacto do caos no desenvolvimento reflete algo para além do impacto do baixo nível socioeconômico. 15 De acordo com ele existem três tipos de estresse: o positivo, o tolerável e o tóxico. O estresse positivo corresponde a um estado psicológico de duração breve e de intensidade leve à moderada. É superado, desde que a criança tenha um suporte, por parte dos cuidadores, que exerça um efeito protetor para auxiliar seu sistema de resposta ao estresse a retornar ao seu nível basal. Trata-se de oportunidades para aprender respostas adaptativas em condições e experiências negativas ou adversas, constituindo-se em desafios para o desenvolvimento. O estresse tolerável envolve exposição a experiências atípicas as quais apresentam maior nível de adversidade ou ameaça ao indivíduo, como, por exemplo, a morte de um membro da família, uma doença grave, desastres naturais ou até mesmo atos de terrorismo. Contudo, se a criança tiver um ambiente protetor, poderá enfrentar os eventos adversos, com redução do estresse fisiológico do organismo e promoção de respostas deenfrentamento adaptativo com senso de autorregulação. O estresse tóxico é o mais prejudicial ao desenvolvimento, com consequências negativas em diversas esferas da vida do indivíduo a curto, médio e longo prazo. É a ativação constante de resposta ao estresse que sobrecarrega os sistemas em desenvolvimento. Ou seja, o estresse tóxico é caracterizado por uma reatividade forte do organismo, frequente e de prolongada ativação do corpo ao sistema de reposta ao estímulo estressor. Shonkoff afirma que as experiências de estresse tóxico no início do desenvolvimento da criança constituem-se fator de alto risco para a saúde na fase adulta. Experiências e influências ambientais iniciais – impacto nas predisposições genéticas que afetam a arquitetura cerebral e a saúde a longo prazo. Epigenética – evidências para este paradigma ao estudar os mecanismos moleculares biológicos que afetam a expressão dos genes sem alterar a sequência do DNA.
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