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Análise crítica do filme A Onda

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ATENEU
CURSO DE PSICOLOGIA
ADRIA SÂNGELA TORRES DE MATOS
ANÁLISE DO FILME “A ONDA”
FORTALEZA – CE
2020
· INTRODUÇÃO
No seguinte trabalho sobre uma análise crítica do filme “A Onda”, será abordada os aspectos teóricos sobre a Teoria do Contágio e Psicologia das Multidões de Gustavo Le Bon e também sobre a Psicologia das massas e análise do eu de Sigmund Freud. O filme “A Onda” de Denis Gansel lançado no ano de 2008 é um longa-metragem adaptado da literatura de Todd Strasser, na qual possui o mesmo nome do filme, do ano de 1976. 
O enredo foi inspirado na história verídica do professor Ron Jones que realizou um experimento social chamado de A Terceira Onda que se sucedeu na escola Cubberley High School em Palo Alto – Califórnia no ano de 1967. 
O filme retrata um experimento social realizado pelo professor de ensino médio Rainer Wenger com o intuito de mostrar para seus alunos que eles estavam errados em pensar que na Alemanha moderna não poderia surgir um regime totalitário. Alterando radicalmente as normas e os modos de funcionamento do colégio, Rainer Wenger instaura uma espécie de sistema ditatorial no qual detém o poder absoluto. O movimento começa a se espalhar e vai gerando conseqüências cada vez mais violentas.
· DESENVOLVIMENTO 
Rainer Wenger é um professor de ensino médio que é obrigado a conduzir um projeto na sala dos alunos do último ano em uma semana, sobre o tema "autocracia", que consiste em um governo de um indivíduo ou um grupo que obtém total poder perante uma massa, em que esse líder é ovacionado pelos integrantes, mas ele desejava ficar com o tema “anarquia” ao qual se identificava mais. Wenger começa debatendo o conceito com a classe, explicando a origem da palavra e conversando sobre os regimes autoritários. O filme se passa na Alemanha, o que nos traz uma concepção de um país marcado pelo nazismo, com jovens que carregam uma responsabilidade histórica pelo ocorrido na era Hitler.
Rainer pergunta aos seus alunos se poderia surgir outro movimento autocrático atualmente e um dos seus alunos argumenta que seria impossível algo como o nazismo acontecer novamente na Alemanha. Dessa forma começa a jornada do grupo, que acaba elegendo o professor para ser o seu líder absoluto durante aqueles dias. Para fazer com que os alunos reconhecessem que poderia existir um movimento fascista, ele estuda a História e as técnicas de manipulação de massas. O professor propõe aos alunos uma experiência em grupo baseada em princípios autocráticos: ideologia, controle, figura de um líder, disciplina, insatisfação, etc. A sua ação começam com pequenos gestos como exigir ser tratado por "Senhor Wenger" e não como “Rainer” que era a forma como todos o chamavam, que era preciso que todos se levantassem para falar durante a aula e somente com sua permissão. 
Vale ressaltar que os alunos não tinham interesse em participar do projeto ou ao menos saber sobre autocracia, porém na sala tinham muitos inscritos pelo simples fato do Professor Rainer ser didático e amigo dos alunos. O que permitiu com que este fosse posto como líder no “sistema” que irá se formar. 
O professor inicia atividades em sala que visam privilegiar o grupo: exercícios de respiração, movimentos de alongamentos corporais, marchas, etc. “Poder pela disciplina e pela união” e “aos poucos estamos virando uma unidade” são falas que Rainer começa a demonstrar a valorização que se começa a atribuir ao grupo. Nesta cena primordial em que se pode introduzir como iniciação da massa, um exercício de marcha militar aonde os alunos vão ajustando seus passos que começam a ter uma sincronização. Viram uma massa rítmica tornando-se uma unidade. Nesse momento, os alunos têm o seu primeiro momento como uma alma coletiva, exporta por Le Bon, no qual eles experimentam o sentimento da igualdade. A mesma cena nos mostra o primeiro contato com o inimigo externo, quando se é implantada a meta de perturbar a sala de anarquia que se encontra abaixo de sua sala de aula, os indivíduos animam-se. Sintomático é a expulsão da sala de três alunos que se recusam a participar do exercício. Uma demonstração clara e precisa do que Freud nomeia como desaparecimento de aquisições individuais: 
“E é exatamente nesses ruidosos grupos efêmeros, superpostos uns aos outros, por assim dizer, que encontramos o prodígio desaparecimento completo, embora apenas temporário exatamente daquilo que identificamos como aquisições individuais.” 
A ideia do uniforme é outra situação com grande característica massiva. Os uniformes tem como significado a eliminação das diferenças sociais e financeiras, individualidades. Ao determinarem o uso de blusas brancas como fardamento, os alunos começam a ter um vínculo maior, determinam quem são eles. Como analisado por Le Bon, ao sofrer o contágio mental, o indivíduo sacrifica seu interesse pessoal pelo interesse coletivo. Quatro exemplos claros desta afirmação são: Jeans, um aluno com um elevado poder aquisitivo coloca o interesse coletivo acima, não só quando compra camisas brancas, mas também empresta camisas a um colega que não possui muita intimidade, caso parecido com o de Lisa, que mesmo não tendo uma boa condição financeira consegue o dinheiro para adquirir o uniforme. Os dois exemplos são distintos ao de Karo, que ao receber uma crítica de sua mãe sobre sua roupa, decide mudar o vestuário e ir com uma camisa vermelha, ou seja, optou pela vaidade do que pela meta de seu grupo, aparentemente porque a camisa branca não lhe caiu bem, passa a ser repreendida pelo grupo. Nesse período, Tim queima todas as suas roupas de marca, como Nike; Puma; Adidas, e que não são brancas, passando a usar somente o uniforme do grupo o tempo todo. Essa atitude demonstra um alto grau de envolvimento ao movimento. De acordo com Le Bon, o comportamento de Tim é explicado pela sugestionabilidade, estado de fascinação e hipnotismo causado pelo inconsciente. 
Ainda neste mesmo processo, é decidido um nome para o grupo – A Onda, uma saudação (uma onda com o braço e no final uma parada reta embaixo do peito). Devido à decisão de Karo, escolhendo não ir de branco, acaba sofrendo exclusão de todo grupo, sendo tratada com indiferença até pelo Sr.Wenger. Segundo Le Bon essa situação é justificada pela característica da massa de ser intolerante; autoritária e conservadora.
A multidão é tão autoritária quanto intolerante. O individuo pode aceitar a contradição e a discursão, a multidão nunca as suporta.(...)O autoritarismo e a intolerância geralmente estão presentes em todas as categorias de multidão, mas em graus muito variados. (LE BON, G. Psicologia das multidões, pág.54).
 E no capitulo VII do livro Psicologia das Massas e Análise do Ego, Freud distingue três formas de identificação: uma delas é a percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto da pulsão sexual, que determina a identificação. Laço mútuo existente entre os membros da Onda:
Já começamos a adivinhar que o laço mútuo existente entre os membros de um grupo é da natureza de uma identificação deste tipo, baseada numa importante qualidade emocional comum, e podemos suspeitar que essa qualidade resida na natureza do laço com o líder.
Mesmo no início do filme observa-se um tópico importante; que os jovens não possuem ideologias formadas e muito menos objetivos pelos quais lutarem, como se não valesse a pena se revoltar por mais nada. A diversão adolescente estava muito presente em seus dias, saindo à noite para curtir de modo que as opiniões externas muito influenciam em suas vidas. É comum ao longo do filme aparecer falas que apontam certa inquietação, como a de Marco: “Não vale a pena a gente se revoltar por nada. A gente só quer se divertir”. “Você tem uma família legal, eu não”. Entretanto todo este pensamento é modificado após denominarem-se como A Onda, possuírem um uniforme, estabelecerem metas e presenciarem o contágio, a turma de autocracia tornou-se uma multidão psicológica. 
Os integrantes decidem sair pela cidade propagando a ideiado movimento, através de adesivos, pichações e vandalismo. O medo não existe mais. Foi estabelecida uma meta que deve ser cumprida; um dos desafios durante a noite de vandalismo foi a escalada de um prédio. As ameaças encontradas pelo grupo foram da altura do edifício até a chegada da policia ao local. Sobre a ausência de medo Le Bon acredita: 
O individuo na multidão adquire, exclusivamente por causa do número, um sentimento de poder invencível que lhe permite a ceder a instintos que, sozinho, teria forçosamente refreado. (...) Sendo a multidão anônima e conseqüentemente irresponsável desaparece inteiramente o sentimento de responsabilidade que sempre detém os indivíduos. (LE BON, G. Psicologia das multidões, pag.34).
A massa que ainda tem como característica ser fechada reafirma-se ao ser seletivo quanto com quem seus integrantes devem andar. Como em toda massa, é importante a expansão e entrada de novos membros. Mas vale ressaltar que o crescimento acontece de forma ordenada, sempre mantendo o controle de quem entra e de como os membros devem agir. 
Outro momento em que aparece o inimigo externo é quando Karo e Mona, integrantes do jornal, resolvem escrever contra o movimento da Onda; fizeram várias cartilhas criticando a massa onde foram distribuídas nas entradas de todas as salas de aula, porém não chegaram ao restante dos alunos devido o rompimento do processo feito pelos membros da Onda. Mais uma vez, o inimigo externo serviu como fonte de união entre os membros da massa.
Exemplificando mais uma vez o envolvimento de Tim com A Onda, ele está cada vez mais cheio de amor, respeito e admiração pelo grupo, principalmente com Rainer, ao se oferecer para ser segurança do Sr. Wenger. Para Freud, isso é explicado pela identificação libidinal, a sensação que liga seus integrantes entre si e faz com que o indivíduo projete aos outros membros e no líder uma idealização que cada ego individual formou para si mesmo. 
Sobre a irritabilidade da massa, em extremo, exemplificada na cena do jogo de polo aquático, quando Sinan tenta afogar um de seus oponentes na piscina. Levado pelo excesso de sentimentos e pela rapidez desse sentimento se tornar ato, Sinan é conduzido por seu inconsciente. A platéia do jogo, que é em sua maioria, composta por integrantes da Onda, é contagiada pelo mesmo sentimento de Sinan, levando-os a agir também com agressividade, principalmente quando se deparam com o inimigo, Karo e Mona, ao jogarem as cartilhas negativas a respeito da Onda sobre a platéia. 
Baseado nos ideais de Le Bon, a impulsividade, a irresponsabilidade e a irritabilidade existente nesse comportamento está associado à incapacidade de raciocinar, ela é escrava de seus impulsos, também acontece com o professor Wenger que está orgulhoso pelos elogios e admiração dos alunos, e não aceita as críticas recebidas por outras pessoas fora da massa. 
A ausência de julgamento e de espírito crítico é muito presente, pois ele não consegue ver além do que vive na massa. Até mesmo o professor, líder do movimento ao qual não queria falar sobre autocracia, foi devorado pela massa. Esse mesmo sentimento de irracionalidade e agressividade é também constatado pela ação de Marco ao discutir e bater em Karo por ela criticar o grupo, mesmo ele ainda gostando dela, age agressivamente e por impulso com a mesma. Esse acontecimento o faz despertar dos perigos daquela união inconsciente e o traz de volta a individualidade. Para alertar sobre os riscos que A Onda tem causado aos integrantes, Marco procura Sr. Wenger para contar o ocorrido e pedir para que acabasse com o projeto devido as várias ameaças ocasionadas pela massa. 
Após saber sobre a noite de vandalismo feita pelos seus alunos, Wenger junta essas informações com os alertas recebidos por diversas pessoas, logo começa a ter consciência e perceber que existe algo estranho no grupo que ele criou. Para esclarecer, marca uma reunião no auditório com os integrantes da Onda. Como forma de “abrir os olhos” da massa, Rainer fala tudo o que os integrantes da massa queriam ouvir. Marco discorda das opiniões implantadas por Sr. Wenger e manifesta-se perante todos, como reação a contrariedade, a massa imediatamente o ver como ameaça interna, logo ganha título de traidor. 
Ao levar Marco ao palco com a imagem de criminoso e querendo puni-lo, o Sr. Wenger pede a alguns integrantes que escolha o destino do traidor. Nesse momento, por não saber o que fazer, o professor demonstra aos alunos como a sua capacidade crítica e personalidade consciente desapareceram com a alma coletiva do grupo. Comprovando aos alunos a indagação inicial do filme, ou seja, que mesmo já cientes do contexto histórico de seu país com o nazismo e o fascismo. Essas ideias poderiam ser implantadas novamente, assim como ocorreu na Onda. Dito isto, anuncia o fim da Onda causando a quebra da alma coletiva.
Tim, um membro como pudemos perceber diante de toda análise, foi um integrante altamente dependente da massa, sua vida girou em torno da Onda. Por esse motivo, ele entrou em desespero ao se deparar com o fim do grupo. Chegando ao ápice de sua angústia, sacando uma arma e atirando contra um colega, levando todos ao sentimento de pânico e logo após, rapidamente, suicida-se. É possível analisar bem essa característica ao ver que cada um volta à individualidade, preocupando-se apenas com a própria segurança. 
· CONCLUSÃO
O experimento social do projeto escolar comandado por Rainer Weigner prova para todos (até mesmo nós telespectadores) com quão facilidade pode-se manipular um grupo, que podemos estar hipnotizados e ficar do lado oposto da História sem termos conta desta situação. O professor conseguiu comprovar para a classe que, reunindo um determinado conjunto de condições, nenhuma sociedade ou população está imune à ideologia fascista. Rainer queria transmitir o ensinamento de que a ditadura sempre é um risco e, por isso, precisamos ficar atentos. Mesmo assim, Rainer esqueceu que o poder consegue corromper até que era inimaginável. 
E por que os alunos embarcaram na Onda e deixaram-se levar por ela? Não há uma única resposta clara e concreta, a explicação vai estando presente ao longo de todo o filme, através das suas falas. Logo no começo, durante uma festa, dois estudantes conversam sobre a sua geração, afirmando que ela não tem um objetivo que os una, nada parece fazer sentido e vivem de forma hedonista e inconseqüente. Então para sentirem-se incluídos em alguma coisa, eles não se importaram de excluir os que não concordavam. Assim como os fascistas, estavam dispostos a infligir dor nas outras pessoas para se sentirem especiais ou superiores a elas.
· REFERÊNCIAS 
LE BOM, Gustave. Psicologia das Multidões. 3ª edição. Brasil: WMF Martins Fontes – POD, 14 de fev. 2019.
FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. São Paulo: L± Editora de bolso, 13 de jun. 2013.
TELLES, Sérgio. Refletindo sobre grupos e massas a partir do filme “A ONDA” (DIE WELLE, 2008), de Denis Gansel (*). Jornal do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo”, vol. 48/no. 88 – jan. a jun. 2015
MARCELLO, Carolina. Filme A Onda (Die Welle). Cultura Genial, 2017. Disponível em: https://www.culturagenial.com/filme-a-onda/. Acesso em: 13 dez. 2020. 
JESUS PEREIRA, Fernando. “A Onda” – Um Caso de Identificação no Cinema. Centro de Estudos Psicanalíticos, 2009. Disponível em: https://centropsicanalise.com.br/2019/03/05/jesus-pereira-fernando-a-onda-um-caso-de-identificacao-no-cinema/. Acesso em: 13 dez. 2020.

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