Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR Um transtorno depressivo maior ocorre sem uma história de um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco. O episódio depressivo maior deve durar pelo menos duas semanas, e normalmente uma pessoa com esse diagnóstico também experimenta pelo menos quatro sintomas de uma lista que inclui alterações no apetite e peso, alterações no sono e na atividade, falta de energia, sentimentos de culpa, problemas para pensar e tomar decisões e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio. EPIDEMIOLOGIA - Apresenta predomínio mais significativo entre as mulheres. - A idade média do início do 1º episódio para diagnóstico ocorre antes dos 40 anos, mas pode acometer qualquer faixa etária de idade. - A depressão apresenta maior prevalência comparada a distimia. FISIOPATOLOGIA Aminas biogênicas Nível reduzido das aminas biogênicas: norepinefrina, serotonina e dopamina. Norepinefrina: receptores β-adrenérgicos e receptores β2 pré-sinápticos. Esses receptores também estão localizados nos neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. Serotonina: múltiplos subtipos de receptores serotoninérgicos. A depleção da serotonina pode precipitar depressão, e alguns pacientes com impulsos suicidas têm concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal (LCS) e concentrações baixas de zonas de captação de serotonina nas plaquetas. Dopamina: sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na mania. via mesolímbica da dopamina pode ser disfuncional e que seu receptor D1 pode ser hipoativo na depressão. Outros distúrbios de neurotransmissores A acetilcolina (ACh) é encontrada nos neurônios que se distribuem de forma difusa por todo o córtex cerebral. Os neurônios colinérgicos têm relações recíprocas ou interativas com todos os três sistemas de monoamina. O ácido 𝘺-aminobutírico (GABA) tem um efeito inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgico, particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. Reduções dos níveis plasmático, do LCS e cerebral de GABA foram observadas na depressão. Estresse crônico pode reduzir e esgotar os níveis de GABA. Os aminoácidos glutamato e glicina são os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios no SNC. Esses aminoácidos ligam-se a sítios associados com o receptor de N-metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. Significativamente, existe alta concentração de receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato, portanto, pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão recorrente grave. Segundos mensageiros e cascatas intracelulares A ligação de um neurotransmissor e um receptor pós-sináptico desencadeia uma cascata de processos ligados à membrana e intracelulares mediados por sistemas de segundo mensageiro. Os receptores nas membranas celulares interagem com o ambiente intracelular por meio de proteínas ligantes do nucleotídeo guanina (proteínas G). As proteínas G, por sua vez, se conectam a várias enzimas intracelulares (adenilato ciclase, fosfolipase C e fosfodiesterase) que regulam a utilização de energia e a formação de segundos mensageiros, como o nucleotídeo cíclico (adenosina monofosfato cíclico [cAMP] e monofosfato cíclico de guanosina [cGMP]), bem como os fosfatidilinositóis (inositol trifosfato e diacilglicerol) e cálcio-calmodulina. Os segundos mensageiros regulam a função dos canais iônicos da membrana neuronal. Evidências crescentes também indicam que agentes estabilizadores do humor agem sobre as proteínas G ou outros segundos mensageiros. Alterações da regulação hormonal Alterações duradouras nas respostas neuroendócrinas e comportamentais podem resultar de estresse precoce grave. A atividade do gene codificando para o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após estresse crônico, assim como o processo de neurogênese. Estresse prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado funcional dos neurônios e acabar levando à morte celular. Hipercortisolemia na depressão sugere um ou mais dos seguintes distúrbios centrais: tônus inibitório de serotonina diminuído; impulso aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio liberador de corticotrofina (CRH); ou diminuição da inibição do feedback do hipocampo. Atividade do eixo tireoidiano: TSH elevado. Risco aumentado de recaída apesar da terapia antidepressiva preventiva. Hormônio do crescimento (GH): o hormônio do crescimento (GH) é secretado da hipófise anterior após estimulação por norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida por somatostatina, um neuropeptídeo hipotalâmico, e por CRH. Níveis de somatostatina do LCS diminuídos foram relatados na depressão e níveis aumentados foram observados na mania. Alterações da neurofisiologia do sono A depressão está associada com perda prematura do sono profundo (de onda lenta) e aumento no despertar noturno. Este último é refletido por quatro tipos de distúrbio: (1) aumento dos despertares noturnos, (2) redução no tempo de sono total, (3) aumento do sono de movimentos oculares rápidos (REM) fásico e (4) aumento da temperatura corporal. A combinação de movimento REM aumentado e sono de onda lenta diminuído resulta em uma redução significativa no primeiro período de sono não REM (NREM), um fenômeno chamado de latência REM reduzida. Esta, junto com déficits do sono de onda lenta, normalmente persistem após a recuperação de um episódio depressivo. A secreção de GH embotada após o início do sono está relacionada com diminuição do sono de onda lenta e mostra comportamento independente de estado ou tipo traço semelhante. A combinação de latência REM reduzida, densidade REM aumentada e manutenção do sono diminuída identifica aproximadamente 40% dos pacientes ambulatoriais deprimidos e 80% dos internados deprimidos. Foi verificado que pacientes que manifestam um perfil de sono caracteristicamente anormal são menos responsivos à psicoterapia e apresentam um risco maior de recaída ou recidiva e podem se beneficiar, sobretudo, da farmacoterapia. Fatores genéticos, psicossociais, de personalidade Quanto mais membros da família forem afetados, maior o risco para um filho. O risco é maior se os afetados forem parentes em primeiro grau do que os mais distantes. Uma história familiar de transtorno bipolar confere um risco maior para transtornos do humor em geral e, em particular, um risco muito maior para transtorno bipolar. Aqueles com certos transtornos da personalidade – obsessivo-compulsiva, histriônica e borderline – podem ter um risco maior de depressão do que pessoas com personalidade antissocial ou paranóide. Nenhuma evidência indica que qualquer transtorno da personalidade em particular esteja associado com o desenvolvimento posterior de transtorno bipolar I; porém, pacientes com distimia e transtorno ciclotímico têm o risco de mais tarde desenvolver depressão maior ou transtorno bipolar I. Fatores psicodinâmicos na depressão A teoria envolve quatro pontos fundamentais: (1) distúrbios na relação bebê-mãe durante a fase oral (os primeiros 10 a 18 meses de vida) predispõem a vulnerabilidade subsequente a depressão; (2) a depressão pode estar ligada a perda real ou imaginada do objeto; (3) a introjeção de objetos que partiram é um mecanismo de defesa invocado para lidar com o sofrimento associado com a perda do objeto; e (4) visto que o objeto perdido é percebido com uma mistura de amor e ódio, sentimentos de raiva são dirigidos contra o self. Fatores psicodinâmicos na mania A maioria das teorias acerca da mania considera os episódios maníacos uma defesa contra a depressão subjacente. Abraham, por exemplo, acreditava que esses episódios pudessem refletir uma incapacidade de tolerar uma tragédia do desenvolvimento, como a perda de um dos genitores. O estado maníaco também pode resultar de um superego tirânico, que produz autocrítica intolerável, que é, então, substituída pela autossatisfação eufórica. Ber-tram Lewin considerava o ego do paciente maníacosobrecarregado por impulsos prazerosos, como o sexo, ou por impulsos temidos, como a agressão. Klein também via a mania como uma reação defensiva contra a depressão, pelo uso de mecanismos de defesa, como a onipotência, em que o indivíduo desenvolve delírios de grandeza. Teoria cognitiva De acordo com a teoria cognitiva, a depressão resulta de distorções cognitivas específicas presentes nas pessoas predispostas a desenvolvê-la. Essas distorções, referidas como esquemas depressogênicos, são modelos cognitivos que percebem tanto os dados internos quanto os externos de formas alteradas por experiências precoces. Aaron Beck postulou a tríade cognitiva da depressão, que consiste em (1) visão sobre si próprio – uma autopercepção negativa, (2) sobre o mundo – uma tendência a experimentar o mundo como hostil e exigente e (3) sobre o futuro – a expectativa de sofrimento e fracasso. A terapia tem por objetivo modificar essas distorções. Impotência aprendida A teoria da impotência aprendida da depressão associa fenômenos depressivos à experiência de acontecimentos incontroláveis. Na visão reformulada da impotência aprendida aplicada à depressão humana, pensa-se que explicações causais internas produzem perda de autoestima após eventos externos adversos. Os behavioristas que apoiam a teoria enfatizam que a melhora da depressão depende de o paciente desenvolver um senso de controle e domínio do ambiente. QUADRO CLÍNICO DISTIMIA O traço essencial da distimia é o estado depressivo leve e prolongado. Pelos critérios diagnósticos do DSM-5, são necessários 2 anos de período contínuo predominantemente depressivo para os adultos e 1 ano para as crianças; para elas, o humor pode ser irritável em vez de depressivo. Outros sintomas que acompanham são: 1. Insônia ou hipersônia; 2. Alta de energia ou fadiga; 3. Baixa da autoestima; 4. Dificuldade de concentrar-se ou tomar decisões; 5. Sentimento de falta de esperança; 6. Descontrole do apetite. Na presença de quadros depressivos prolongados (> 2 anos), sem comprometimento no trabalho e na vida social, deve-se suspeitar de distimia. DIAGNÓSTICO A diferença do episódio para o transtorno é que o primeiro ocorre em um momento isolado, já no transtorno é um processo de sucessão de episódios, logo ocorre um episódio seguido de remissão com recidiva de um novo episódio. TRATAMENTO O tratamento é realizado com antidepressivos e psicoterapia. Deve-se avaliar a necessidade de internação, caso seja identificado o risco de suicídio. A eletroconvulsoterapia (ECT) é uma técnica que utiliza eletrochoques para induzir convulsões em pacientes portadores de algumas patologias psiquiátricas. Indicação: - Esquizofrenia: sintomas de alucinação e delírio respondem bem à ECT; - Transtorno depressivo maior: indicada para os sintomas mais graves da doença, sobretudo quando é necessária uma resposta mais rápida ao tratamento; - Transtorno afetivo bipolar: indicada quando os sintomas são resistentes ao tratamento convencional ou quando o paciente decide por essa opção. PACIENTE SUICIDA TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Um episódio maníaco é um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável que dura pelo menos uma semana, ou menos se o paciente tiver de ser hospitalizado. Um episódio hipomaníaco dura pelo menos quatro dias e é semelhante a um episódio maníaco, exceto por não ser grave o suficiente para causar comprometimento no funcionamento social ou ocupacional e por aspectos psicóticos não estarem presentes. Tanto a mania como a hipomania estão associadas com autoestima inflada, necessidade de sono diminuída, distratibilidade, grande atividade física e mental e envolvimento excessivo em comportamento prazeroso. O transtorno bipolar I é definido como tendo um curso clínico de um ou mais episódios maníacos e, às vezes, episódios depressivos maiores. Um episódio misto é um período de pelo menos uma semana no qual tanto um episódio maníaco quanto um episódio depressivo maior ocorrem quase diariamente. Uma variante de transtorno bipolar caracterizada por episódios de depressão maior e hipomania, em vez de mania, é conhecida como transtorno bipolar II. EPIDEMIOLOGIA O TAB 1 apresenta incidência de igual proporção em ambos os sexos, diferentemente do TAB 2 que apresenta discreto predomínio entre as mulheres, estando muito relacionado por fatores hormonais e a utilização de ACO. Os fatores genéticos são significativos, aumentando o risco conforme maior o número de história positiva na família. Fatores ambientais e sociais como uso e abuso de substâncias podem desencadear um quadro de mania ou depressão dentro do TAB. TAB tipo 1 é pior comparado a depressão. TIPOS FASE MANÍACA Pelo DSM-5, um episódio de mania é caracterizado por período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de 1 semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária). Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos sintomas que serão descritos a seguir (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam mudança notável do comportamento habitual. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco. FASE HIPOMANÍACA Pelo DSM-5, é caracterizada por um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de 4 dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias. Também são necessários três ou mais dos sintomas listados na fase maníaca, porém o episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. QUADRO CLÍNICO Principais características da fase maníaca e hipomaníaca (DSM-5): 1. Diminuição do sono; 2. Hiperatividade; 3. Aceleração do pensamento; 4. Ideias de grandiosidade; 5. Sintomas psicóticos; 6. Pressão de discurso; 7. Aumento da autoestima. CICLOTIMIA Flutuação crônica (2 ou mais anos) do humor, com vários períodos com sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para episódio hipomaníaco e diversos outros períodos com sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para episódio depressivo maior. Os sintomas não são suficientes e duradouros para que se considere transtorno afetivo bipolar, e a pessoa permanece dessa maneira a maior parte do tempo. DIAGNÓSTICO TAB tipo I→ episódios depressivos intercalados com fases de normalidade e pelo menos uma (mas geralmente várias) fase maníaca bem caracterizada. TAB tipo II→ episódios depressivos intercalados com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas (aqui o paciente não deve apresentar fases evidentemente maníacas, mas apenas hipomaníacas). Para o diagnóstico do tipo ciclagem rápida, é necessário que o paciente tenha apresentado, nos últimos 12 meses, pelo menos quatro episódios bem caracterizados e distintos de transtorno do humor, mania (ou hipomania) e/ou depressão. Os episódios podem ocorrer em qualquer combinação ou ordem. - Surgimento mais precoce, curso mais longo, mais uso de álcool e substâncias ilícitas e aumento do risco de suicídio. - Não se sabe a causa das ciclagens rápidas, mas o uso de antidepressivos e o hipotireoidismo favorecem sua ocorrência. - Pior prognóstico. TRATAMENTO O tratamento é realizado com estabilizadores de humor. Na presença de agitação e psicose, deve-se associar um antipsicótico. Podem ser necessárias internação e contenção física para preservar o paciente. - Carbonato de lítio: o principal estabilizador conhecido. - Alguns anticonvulsivantes: ácido valpróico, lamotrigina, carbamazepina e oxicarbazepina. - Alguns antipsicóticos atípicos: quetiapina, olanzapina, risperidona, lurasidona, aripiprazol, asenapina e ziprasidona. Estabilizadorde humor Mecanismos de ação O lítio é um íon cujo mecanismo de ação ainda não está estabelecido com certeza. O lítio inibe diretamente duas vias de transdução de sinais e suprime a sinalização do inositol pela depleção do inositol intracelular e também inibe a glicogênio sintase cinase-3 (GSK-3), uma proteína-cinase multifuncional. Seus efeitos sobre a renovação do fosfoinositol, que levam a uma redução relativa inicial de mioinositol no cérebro humano, fazem parte de uma cascata de iniciação de alterações intracelulares. Os efeitos sobre isoformas específicas da proteína-cinase C podem ser mais relevantes. As alterações na sinalização mediada pela proteína–cinase C alteram a expressão gênica e a produção de proteínas implicadas em eventos neuroplásticos de longo prazo, que podem estar subjacentes à estabilização do humor em longo prazo. Uso clínico dos estabilizadores do humor Além do transtorno bipolar, o lítio pode ser usado no tratamento da depressão recorrente (usado para aumentar a resposta aos antidepressivos convencionais na depressão maior aguda em pacientes que tiveram uma resposta inadequada à monoterapia) e no transtorno esquizoafetivo (por estabilizar melhor pacientes caracterizados por uma mistura de sintomas esquizofrênicos e de humor – depressão ou excitação). Monitorização Função renal (uréia e creatinina) e função tireoidiana (TSH e T4L). Se o paciente for maior de 50 anos, solicitar um ECG. Litemias: aferições dos níveis plasmáticos da substância a fim de avaliar a concentração sérica. A litemia deve ser realizada 12h, após a última dose e o resultado deve estar entre 1 e 1,5 mEq/L para o tratamento agudo e 0,6 a 1,2 mEq/L para tratamento crônico. A faixa terapêutica do lítio é extremamente encurtada, ou seja, o limiar entre tratamento e toxicidade é baixo. Inicialmente, a litemia deve ser realizada a cada 2 semanas até atingir concentração sérica terapêutica. Depois, entre 2 a 3 meses nos primeiros 6 meses. Quando o paciente estiver estável com a dose ajustada, solicitar a dosagem duas vezes por ano, assim como a função renal. Sempre que houver mudança da dose, solicitar litemia. Efeitos colaterais Efeitos colaterais neurológicos e psiquiátricos: principalmente o tremor essencial. Diminuição da função da tireoide: o efeito é reversível ou não progressivo, e alguns pacientes desenvolvem aumento franco da tireóide (bócio) ou um número ainda menor exibe sintomas de hipotireoidismo. Diabetes insípido nefrogênico e outros efeitos colaterais renais: pacientes queixam-se de polidipsia e poliúria. Edema: pode estar relacionado com algum efeito do fármaco sobre a retenção de sódio e consequente acúmulo de líquido. Efeitos cardíacos: Na presença da síndrome de bradicardia-taquicardia (doença sinusal) o uso deve ser interrompido. Erupções acneiformes: quadro transitório e mais pronunciado no início do tratamento. Leucocitose: secundário ao estímulo na leucopoiese Ganho de peso: importante avaliar o IMC do paciente periodicamente. Interações medicamentosas Pacientes em uso concomitante com diuréticos (principalmente os tiazídicos), apresentam depuração renal reduzida em cerca de 25% por diuréticos e pode ser necessário reduzir as doses pelo risco de toxicidade, uma vez que se aumenta a concentração plasmática. Uma redução semelhante da depuração do lítio foi observada com vários fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINE’s) mais recentes que bloqueiam a síntese de prostaglandinas. Essa interação não foi relatada com o ácido acetilsalicílico nem com o paracetamol. Todos os neurolépticos testados até o momento, com a possível exceção da clozapina e dos antipsicóticos atípicos mais recentes, são capazes de produzir síndromes extrapiramidais mais graves quando associados com o lítio. Ácido valpróico Atua primariamente como um fármaco anticonvulsivante. Todavia, sabe-se que exerce efeitos antimaníacos também. De modo geral, o ácido valpróico apresenta uma eficácia equivalente àquela do lítio durante as primeiras semanas do tratamento, embora não se tenha certeza de que sua eficácia seja equivalente à do lítio como tratamento de manutenção. Observa-se que o valproato tem sido efetivo em alguns pacientes que não responderam a terapia com o lítio. Além disso, seu perfil de efeitos colaterais é tal que é possível aumentar rapidamente a dose sem causar sintomatologia que impeça o uso. Carbamazepina Trata-se de um anticonvulsivante, que surge como a alternativa razoável para o lítio quando ele não tem eficácia ideal. Entretanto, devido às interações da carbamazepina é mais difícil usar esse fármaco quando comparado com outras opções terapêuticas disponíveis para o transtorno bipolar. Apesar disso, sabe-se que pode ser usada para o tratamento da mania aguda, bem como para terapia profilática. EXAME DO ESTADO MENTAL Apresentação geral: Impressão geral da aparência física, atitude e conduta do paciente. - Aparência: quanto à idade, à saúde, modo de vestir, cuidados pessoais, expressão facial; - Psicomotricidade: velocidade e mobilidade geral na marcha, sentado e nos gestos, agitação (hiperatividade) ou retardo (hipoatividade), a presença de tremores, de acatisia, estereotipias, maneirismos (movimentos involuntários estereotipados), tiques (movimentos involuntários e espasmódicos); - Situação de entrevista: descreve como ocorre a entrevista de acordo com o local, presença de outros participantes e intercorrências. Se houve cooperação, oposição, indiferença, etc. Linguagem e pensamento: - Características da fala: espontânea, ocorre em resposta à estimulação, mutismo, volume, defeitos de verbalização (afasia, disartria, gagueira); - Progressão da fala: linguagem quantitativamente diminuída, fluxo lento (longas pausas) ou acelerado, prolixidade - Forma do pensamento: circunstancialidade (muitos detalhes irrelevantes e tediosos), tangencialidade (objetivo da fala não é atingido, introduz pensamentos não relacionados ao assunto, pobreza de conteúdo do pensamento), perseveração (repete mesma resposta), fuga de ideias (pensamento acelerado com associações inapropriadas entre os pensamentos), pensamento incoerente (perda de lógica, afrouxamento de associação de partes das frases, sequência incompreensível – salada de palavras), bloqueio de pensamento (interrupção súbita da fala), neologismos (cria novas palavras), ecolalia (repete palavras). - Capacidade de abstração: incapacidade de abstração é o pensamento concreto (paciente entende tudo “ao pé da letra”, como provérbios). - Conteúdo do pensamento: Tema/característica predominante: ansiosos, depressivos, fóbicos, obsessivos; Logicidade do pensamento: ideias supervalorizadas, delírios. Senso-percepção: despersonalização: como se partes do corpo não lhe pertencessem; desrealização: ambiente parece estranho ou irreal; ilusão: interpretação alterada de um estímulo real; alucinação: percepção sensorial de um estímulo que não existe (auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas). Afetividade e humor: - Tonalidade emocional: presença e intensidade de: ansiedade, pânico, tristeza, depressão, apatia, hostilidade, raiva, euforia; - Modulação: controle do afeto: hipomodulação (rigidez afetiva), hipermodulação (labilidade afetiva); - Associação do conteúdo do pensamento/afeto; - Equivalentes orgânicos (alterações de peso, apetite, sono, libido). Atenção e concentração: dizer os dias da semana e os meses do ano em uma dada ordem, fazer cálculos simples. Manutenção prejudicada: dificuldade de manter a atenção, exigindo intervenções do entrevistador. Focalização prejudicada: dificuldade de focalizar a atenção, não respondendo às intervenções do entrevistador. Desatenção seletiva: frente a temas que causam ansiedade. Memória: recorda de situações da vida pregressa, onde estudou, primeiro emprego, pessoas significativas, pode-se fazer testes específicos. Confabulação: preenche lacunas com falsas memórias. Orientação: Autopsíquica: próprio nome, idade. Alopsíquica: orientação no tempo e espaço. Consciência: Nível de consciência: Alerta à Sonolênciaà Obnubilação à Estupor à Coma - Delirium: diminuição no nível de vigília, acompanhado de alterações cognitivas (desorientação, déficits de memória) ou perceptuais (ilusões e alucinações). Capacidade intelectual: Nível de desempenho intelectual com base na escolaridade e nível sócio-cultural, observar vocabulário, propriedade e nível de complexidade, e a capacidade de articular conceitos, de abstrair e generalizar. Juízo crítico da realidade: verificar se as ações do paciente são determinadas por uma avaliação coerente da realidade; alterações quando decisões do paciente são determinadas por delírios ou alucinações. Alterações na sensopercepção. Incluem alucinações, ilusões, despersonalização e desrealização. Alucinações são percepções na ausência de estímulos que as justifiquem. Alucinações auditivas são aquelas encontradas com mais frequência no contexto psiquiátrico. Outras alucinações podem incluir visuais, táteis, olfativas e gustativas (paladar). Na cultura da América do Norte, as alucinações não auditivas são, muitas vezes, indícios de que existe um problema neurológico, clínico ou associado à abstinência de substâncias mais do que um problema psiquiátrico primário. Em outras culturas, alucinações visuais foram relatadas como a forma mais comum de alucinações na esquizofrenia. O entrevistador deve fazer uma distinção entre uma alucinação verdadeira e uma percepção errônea de estímulos (ilusão). Ouvir o vento sussurrar por entre as árvores do lado de fora e pensar que um nome está sendo chamado é uma ilusão. As alucinações hipnagógicas (na interface da vigília e do sono) podem ser fenômenos normais. Às vezes, os pacientes sem psicose podem ouvir seu nome sendo chamado ou ver clarões ou sombras pelos cantos dos olhos. Ao descrever as alucinações, o entrevistador deve incluir o que o paciente está vivenciando, quando ela ocorre, com que frequência e se é ou não desconfortável (ego-distônica). No caso de alucinações auditivas, pode ser útil saber se o paciente ouve vozes, comandos ou conversas e se reconhece a voz. Soft signs são aqueles sinais que nos deixam com a “pulga atrás da orelha”. São sugestivos de transtornos, mas não específicos (múltiplas causas são possíveis). Em geral, não fazem parte dos critérios diagnósticos de transtornos mentais ou de personalidade. Em geral, tornam-se evidentes precocemente, no início da entrevista e quando presentes, sugerem pesquisa de certas áreas de problemas. Hard signs nos dão a “certeza do problema”. Indicativos de transtornos com alguma especificidade, geralmente fazem parte dos critérios diagnósticos de transtornos mentais ou de personalidade. Evidenciam-se durante o corpo da entrevista, por ocasião da coleta da história psiquiátrica. FISIOLÓGICO X PATOLÓGICO Quando uma pessoa apresenta sintomas persistentes de luto por um período de 6 a 12 meses ou mais é dito que possui um Transtorno do Luto Complexo Persistente: Fases fisiológicas do luto: 1. Negação: o indivíduo se nega a aceitar a realidade do problema e tenta encontrar algum jeito de não entrar em contato com a realidade dele: “não pode ser verdade”, “não quero acreditar”, “não quero falar disso”, “parece que estou tendo um pesadelo”... etc. 2. Raiva: nessa fase o indivíduo se revolta com o mundo e com o destino, se sente injustiçado e não se conforma por estar passando por isso. 3. Barganha: essa é a fase em que o indivíduo começa a “negociar” com a realidade, começando por si mesmo, dizendo que será uma pessoa melhor, que vai realizar os desejos que o morto deixou inconclusos, fazendo promessas a Deus, etc. 4. Depressão: nessa fase a pessoa se retira para seu mundo interno, se isolando melancolicamente e se sentindo impotente diante da situação. Essa é a fase do “caiu a ficha”. 5. Aceitação: é o estágio em que o indivíduo não tem desespero e consegue enxergar a realidade como ela realmente é, ficando pronto para enfrentar a perda ou a morte. - No luto patológico não há a fase de aceitação. EXAMES DE IMAGEM EM PSIQUIATRIA: TRANSTORNOS DO HUMOR A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) têm permitido métodos sensíveis e não invasivos para avaliar o cérebro vivo, incluindo os tratos cortical e subcortical, bem como lesões da substância branca. A anormalidade mais consistente observada nos transtornos depressivos é a maior frequência de hiperintensidades anormais nas regiões subcorticais, tais como as regiões periventriculares, os gânglios da base e o tálamo. Mais comuns no transtorno bipolar I e entre idosos, essas hiperintensidades parecem refletir os efeitos neurodegenerativos prejudiciais de episódios afetivos recorrentes. Aumento ventricular, atrofia cortical e alargamento sulcal também foram relatados em alguns estudos. Alguns pacientes deprimidos também podem ter volumes reduzidos do hipocampo ou do núcleo caudado, ou de ambos, sugerindo defeitos mais focais em sistemas neurocomportamentais relevantes. Áreas de atrofia difusas e focais foram associadas com maior gravidade da doença, bipolaridade e aumento dos níveis de cortisol. O achado de tomografia por emissão de pósitrons (PET) mais amplamente reproduzido na depressão é uma diminuição no metabolismo cerebral anterior, que é em geral mais pronunciado no lado esquerdo. De um ponto de vista diferente, a depressão pode estar relacionada com um aumento relativo na atividade do hemisfério não dominante. Além disso, uma inversão da hipofrontalidade ocorre após mudanças de depressão para hipomania, de modo que maiores reduções do hemisfério esquerdo são vistas na depressão, comparadas com maiores reduções do hemisfério direito na mania. Outros estudos observaram reduções mais específicas do fluxo sanguíneo ou do metabolismo cerebrais, ou de ambos, nos tratos dopaminergicamente inervados dos sistemas mesocortical e mesolímbico na depressão. Novamente, as evidências sugerem que os antidepressivos normalizam essas mudanças pelo menos em parte. Além de uma redução global do metabolismo cerebral anterior, foi observado aumento do metabolismo da glicose em diversas regiões límbicas, em particular entre pacientes com depressão recorrente relativamente grave e história familiar de transtorno do humor. Durante episódios de depressão, o aumento do metabolismo da glicose está correlacionado com ruminações inoportunas.
Compartilhar