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Psicologia Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Nirley Dragonetti Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Desenvolvimento Humano • Teorias do Desenvolvimento Humano • A Teoria da Aprendizagem • A Aprendizagem Social • A Teoria Cognitiva • Teoria do Desenvolvimento Humano Emergente – Sociocultural • Domínios Predominantes do Desenvolvimento Humano · Por que estudar o desenvolvimento humano?; · Quais são as teorias predominantes do desenvolvimento humano? Quais suas contribuições para as Ciências Sociais?; · Para que conhecer os aspectos de desenvolvimento humano psicossocial e sua importância para as Ciências Sociais. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno(a) como vai? Nesta Unidade, vamos conhecer um pouco sobre o Desenvolvimento Humano, tão importante para que norteemos qualquer ação ou trabalho voltado para pessoas. Então, procure dedicar tempo aos estudos, esteja atento a todos os conceitos para que possamos aproveitá-los integralmente. Procure ler o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Este último é tão importante quanto o conteúdo básico. As dúvidas que por ventura tiver, anote e tire-as com o seu tutor. Além disso, na pasta de atividades, você encontrará as avaliações referentes ao conteúdo apresentado, uma atividade reflexiva e a videoaula. Esses são elementos importantes para seu entendimento e sua compreensão. Bons estudos! ORIENTAÇÕES Desenvolvimento Humano UNIDADE Desenvolvimento Humano Contextualização “O EXTENSO PERÍODO DE DEPENDÊNCIA INFANTIL O bebê humano nasce numa condição de quase completa dependência. Em comparação com as outras espécies, temos instintos extremamente rudimentares e um período de maturação muito prolongado. Erikson nota que esse fato acarreta, para os adultos, a tentação de se aproveitarem do período de dependência e de controlar e manipular as crianças para satisfazerem suas próprias necessidades (deles, adultos). Por exemplo: podemos forçar crianças de 3 a 6 anos a agir de acordo com nossos desejos, manipulando seus sentimentos de culpa, pois é nessa idade que elas estão mais propensas a se sentirem culpadas. Façamos com que se sintam culpadas, e elas nos obedecerão. Do mesmo modo, podemos conseguir submissão de crianças de 1 ano e meio a 3 anos de idade pelo uso específico da vergonha. Por exemplo: podemos conseguir sucesso no “treinamento-de-banheiro” envergonhando-as todas as vezes que cometerem uma falha. Isto as ensinará a controlar os intestinos, mas a um terrível preço. Se nós, adultos, controlamos e manipulamos as crianças por esses meios, nós as estamos prejudicando, impedindo- lhes um crescimento saudável. Erikson diz: ‘Essa infância tão prolongada expõe os adultos à tentação de, impensada e por vezes cruelmente, aproveitarem-se da dependência da criança, fazendo-a pagar os pecados psicológicos cometidos por outros contra nós, ao submetê-las a tensões que não desejaríamos ou não ousaríamos corrigir em nós mesmos ou nos que nos rodeiam. Já aprendemos a não prejudicar o desenvolvimento físico de uma criança com trabalho corporal; temos, agora, de aprender a não perturbar seu desenvolvimento espiritual, tornando-a vítima de nossas ansiedades’”. (SPRINTHALL, R. C.; SRINTHALL, N. A. Educational psychology. Reading, Addison-Wesley, p.201, 1977). O texto apresentado nos remete à reflexão da influência dos adultos no desenvolvimento psicossocial das crianças. Da mesma forma que podemos acrescentar e contribuir para a formação de um ser humano emancipado, íntegro e equilibrado podemos, de forma cruel, transferir toda ansiedade e insatisfação com as nossas próprias vidas; como se as crianças fossem “latas de lixo” psicológicas. Nós adultos temos que ter a consciência de que somos uma ponte para o crescimento e desenvolvimento de outro ser que merece todo respeito e amor. Mais do que compreender que podemos positivamente contribuir para o desenvolvimento físico de uma criança, é zelar pelo seu desenvolvimento espiritual. Como profissionais de Ciências Humanas Sociais possuímos a missão de identificar, também, o quanto as pessoas que rodeiam são responsáveis pelos semelhantes e próximos, sejam eles crianças, adultos ou idosos. Elucidando seus papéis e educando-os para a promoção de um mundo melhor. 6 7 Introdução O esforço pela compreensão do desenvolvimento humano é contínuo. Os estudos do desenvolvimento humano parecem estar sempre incompletos diante da complexidade que é o ser humano. Para que possamos entender o desenvolvimento humano, foi necessário organizarmos os aspectos relevantes do estudo e organizá-los para atingirmos um conhecimento mais profundo do assunto. Isso caracteriza uma Teoria. A Teoria tem o objetivo de interligar fatos e aspectos observados, organizando os detalhes dessa observação e atribuindo sentido à vida humana. As Teorias sempre dão origem a novas investigações, precisam visar à aplicabilidade e um destino utilitário e prático. Novas pesquisas possibilitam visões e orientações para problemas do dia a dia, formulando hipóteses para as situações-problema e interesses do pesquisador. Em se tratando de Teorias do Desenvolvimento Humano, podemos resgatar os primórdios dos importantes estudos voltados para o entendimento humano. Na primeira metade do século XX, tínhamos duas grandes teorias dominantes, a Teoria Psicanalítica e a Teoria da Aprendizagem (Behaviorismo), que contribuíram muito para os estudos do desenvolvimento humano. Em meados do século, uma importante teoria emergia, a Teoria Cognitiva, grande germinadora de pesquisas nesse campo, superando, assim, as duas primeiras no que se referia aos estudos e princípios relacionados ao desenvolvimento humano. A Teoria Psicanalítica A Teoria Psicanalítica originou-se com um famoso médico austríaco, Sigmund Freud (1856-1939), que se preocupou em criar uma Teoria que interpretava o desenvolvimento humano por meio do entendimento dos impulsos e motivos interiores, o que chamamos de intrínsecos, muitos deles irracionais e de origem inconsciente. Essa teoria entende que o ser humano possui fases universais (estágios) de desenvolvimento. Para essa teoria, o desenvolvimento nos seis primeiros anos acontece em três fases, respectivamente, pelo interesse e pelos prazeres sexuais concentrados em uma parte do corpo. Figura 1: Sigmund Freud Fonte: Wikimedia Commons 7 UNIDADE Desenvolvimento Humano Freud nomeou a primeira infância de fase oral, na qual o foco está na boca; a segunda de fase anal, na qual o foco de interesse está no ânus, coincidindo com os anos pré-escolares, e a terceira nomeada de fase fálica, cujo interesse está no órgão genital masculino (pênis). Freud afirmava que “em cada uma dessas fases, a satisfação sensual proveniente da estimulação da boca, ânus ou do pênis está ligada às principais necessidades e desafios do desenvolvimento associados a cada fase” (BERGER, 2001, p. 25). Vamos dar um exemplo prático para entendermos melhor o que Freud está nos falando: Quando um bebê recebe alimento por meio de sucção, também experimenta prazer sensual e se torna emocionalmente ligado à mãe, porque ela lhe propicia satisfação oral. Na fase anal, os prazeres relacionados ao controle e autocontrole são os mais importantes. O fato de a criança poder controlar o esfíncter e o ato de defecar trazem imensa satisfação. Esfíncter: é uma estrutura, geralmente um músculo de fibras circulares concêntricas, dispostas em forma de anel, que controla o grau de amplitude de um determinado orifício. O sistema digestivo humano tem três esfíncteres importantes: o esfíncter cárdico, o esfíncter anal e o esfíncter pilórico, que faz comunicação entre o estômago e o duodeno” Ex pl or Já na fase fálica, as crianças ficam maravilhadas pelas diferenças físicas entre os sexos, o que leva, inclusive, à identificação sexual e à orientação sexual. Nessa fase, a criança desenvolve padrões morais. Obviamenteque esse processo irá ser diferente tanto para os meninos, quanto para as meninas. Terminada a fase fálica, a criança se depara com o período de latência sexual (aproximadamente aos 5 e 6 anos), na qual as forças sexuais estarão adormecidas. Aos 12 anos, aproximadamente, o ser humano entra na fase genital. Essa fase se caracteriza por interesses sexuais mais maduros, que se estenderão até a idade adulta. As emoções possuem papel fundamental nessas fases. “As emoções relativas a cada fase permanecem como forças poderosas, mas disfarçadas na personalidade adulta, parte do legado inconsciente da infância” (BERGER, 2001, p.26). Segundo Freud, cada fase possui seus conflitos, e a forma como a criança resolve e enfrenta esses conflitos determina a personalidade, assim como os padrões de comportamento para a vida toda. Famosos teóricos foram seguidores de Sigmund Freud. Entre eles, Erik Erikson (1902-1994), que desenvolveu e transformou as ideias de Freud. Figura 2: Erik Erikson Fonte: Wikimedia Commons 8 9 Erikson considerou as fases de Freud insuficientes e muito limitadas, desenvolvendo uma Teoria que contemplou oito fases do desenvolvimento humano. Em cada fase, o ser humano se depara com um desafio. “As primeiras fases de Erikson tem estreita relação com as fases de Freud”. (BERGER, 2001, p.27). Ele entendia que os conflitos da vida adulta são reflexos de problemas mal resolvidos na infância. À primeira fase, atribui o nome de Confiança versus Desconfiança; a segunda nomeou de Autonomia versus Vergonha e Dúvida; a terceira, de Iniciativa versus Culpa; a quarta, de Diligência versus Inferioridade; a quinta, de Identidade versus Confusão de Papéis; a sexta, Intimidade versus Isolamento; à sétima, de Generatividade versus Estagnação, e oitava e última, o nome de Integridade versus Desesperança. Quando nos deparamos com adultos que têm difi culdades de estabelecer e manter relacionamentos seguros e de reciprocidade com seus parceiros durante a vida, podemos pensar que provavelmente não resolveu a crise da primeira infância na fase Con� ança versus Descon� ança! Ex pl or Na primeira fase (do nascimento a 1 ano), a criança experiencia confiar em sua mãe e, por consequência, confiar nas outras pessoas, o que refletirá na sua vida adulta. Já na segunda fase (de 1 a 3 anos), Autonomia versus Dúvida, as crianças aprendem a autossuficiência em muitas atividades, duvidando de suas próprias capacidades. Na terceira fase (de 3 a 6 anos), Iniciativa versus Culpa, as crianças desenvolvem sua identidade como menino ou menina. É o momento de se identificar com o progenitor de seu próprio sexo e copiar aspectos do comportamento adulto e também querem executar muitas atividades adultas. Nessa fase, podem ultrapassar limites estabelecidos pelos pais e sentir culpa por isso. Na quarta fase (de 7 a 11 anos), Diligência versus Inferioridade, “A principal realização deste estágio é aprender habilidades, tanto na escola como fora dela” (BARROS, 2008, p. 93). Na quarta fase, a criança rapidamente assimila o que é ser competente e ativa de forma produtiva nesse controle de novas habilidades, da mesma forma como pode se sentir inferior por não conseguir desenvolver qualquer atividade. A criança precisa ser incentivada a participar de grupos sociais, nos quais exercitará o sentimento de domínio e de competência. Na quinta fase (adolescência), Intimidade versus Confusão de Papéis, como o próprio nome já diz, o jovem fica confuso sobre que papéis desempenhará, vez que tenta descobrir “Quem sou eu?”, além de “[...] estabelecer uma identidade sexual, política e de carreira” (BERGER, 2001, p.26). 9 UNIDADE Desenvolvimento Humano Na sexta fase (idade adulta), Intimidade versus Isolamento, o adulto estará pronto para relacionamento mais afetivo e duradouro. Nessa fase, tende a encarar o casamento e uniões mais estáveis, mesmo com amigos e grupos sociais. Segundo Barros (2008), para que possa estabelecer uma união estável, o jovem deve conhecer-se profundamente (identidade pessoal); caso contrário, poderá ter experiências de autoabandono, de temor por perder sua identidade pessoal e, consequentemente, uma sensação de distanciamento e isolamento. Na sétima fase (adultos de meia-idade), Generatividade versus Estagnação, os adultos contribuem para a próxima geração por meio de atividades significativas, como o trabalho, por exemplo, a criação e a manutenção de uma família. Podemos dizer que nessa fase o adulto busca estabilidade, por isso a palavra Estagnação. Segundo Barros (2008), na oitava e última fase para Erikson (após 60 anos), o adulto mais velho busca sentido para a vida. O adulto que superou todos os conflitos e crises das fases anteriores adquire senso de solidariedade em relação aos outros, tendo integridade pessoal para enfrentar a crise final relacionada à sua desintegração e morte. Caso o adulto, nessa fase, não tenha estabelecido sentido à sua vida, poderá desenvolver sentimento de desesperança diante dos objetivos que por ventura não tenha alcançado. Como já vimos, cada fase de Erikson é caracterizada por um desafio ou crise do desenvolvimento, e “a solução de cada crise do desenvolvimento depende da interação entre as características do indivíduo e qualquer que seja o suporte oferecido pelo ambiente social” (BERGER, 2001, p.27). A Teoria da Aprendizagem A Teoria da Aprendizagem surge de uma das mais antigas abordagens da Psicologia, o Associacionismo, cujo principal pensador foi Edward L. Thorndike (1874-1949). Thorndike formulou a primeira teoria da aprendizagem da Psicologia. Denominada a Lei do Efeito, a teoria define que todo organismo vivo tenderá a repetir um comportamento se ele for seguido por algo agradável (reforço), e deixará de emiti-lo caso ele seja seguido por algo desagradável (punição). Figura 3: Edward L. Thorndike Fonte: Wikimedia Commons 10 11 Thorndike, citado por Goodwin (2005, p. 244), afirma que [...] a Lei do Efeito é das várias reações apresentadas na mesma situação, as que são acompanhadas ou seguidas de perto pela satisfação do animal serão, sendo os outros fatores iguais, mais estreitamente conectadas à situação, de modo que, quando essa situação voltar a ocorrer; as que são acompanhadas ou seguidas de perto pelo desconforto do animal terão, sendo os outros fatores iguais, suas conexões aquela situação enfraquecidas, de modo que, quando essa situação voltar a se apresentar, elas terão menos probabilidade de voltar a ocorrer. Quanto maior a satisfação ou o desconforto, maior o fortalecimento ou enfraquecimento do vínculo. O trabalho de Thorndike, especialmente a formulação da Lei do Efeito, influenciou Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), principal teórico da Análise do Comportamento e teórico do comportamento operante. O comportamento operante inclui todas as reações – ou respostas – do organismo – ou indivíduo – que têm algum efeito sobre o ambiente. A partir da teorização do conceito de comportamento operante, Skinner desenvolve toda a sua teoria, grande parte dedicada à Educação. Figura 3: Burrhus Frederic Skinner Fonte: Wikimedia Commons Entre os desdobramentos do conceito de comportamento operante está o condicionamento operante que, nas palavras de Bolton e Warwink, “é o processo pelo qual a resposta de um indivíduo é seguida por uma consequência (positiva ou negativa), e essa consequência nos ensina a repetir a resposta ou diminuir sua consequência” (2005, p. 115). Imagine a seguinte situação: uma professora faz, ao longo da aula, diversas perguntas aos alunos que participam, respondendo a cada novo questionamento. Ainda que as respostas não sejam completas, a professora, os auxilia a completarem a resposta e os incentiva, parabenizando prontamente a cada aluno pela participação. Esses alunos, muito provavelmente tenderão a voltar a participar da aula dessa professora outras vezes, pois a participação dos alunos (resposta) frente às questõesda professora (estímulo) são consequenciadas com elogios (reforço positivo). Temos a sequência S (estímulo) ⇒ R (resposta) ⇒ S (estímulo reforçador = elogio), ou seja, S ⇒ R ⇒ S. De acordo com a teoria skinneriana, toda a resposta de um organismo (homem ou animal) que for seguida de um reforço, tenderá a se repetir. Vale, no entanto, destacar que temos duas formas de reforço, o reforço positivo, como o exemplo anteriormente citado, e o reforço negativo. Em qualquer uma das formas de reforço é certo afirmar que todo reforço aumenta a probabilidade de resposta de um indivíduo, quer o reforço seja positivo, quer o reforço seja negativo. 11 UNIDADE Desenvolvimento Humano Então, qual a diferença entre os dois tipos de reforço? O reforço positivo aumenta a probabilidade de resposta que provocou tal estímulo. Já o reforço negativo, aumenta a probabilidade de resposta que eliminou ou atenuou uma situação desagradável ou aversiva. Vamos a alguns exemplos? Na família de uma determinada criança, as manifestações de afeto são comuns e valorizadas. Cada vez que essa criança diz aos pais que os ama, ela recebe em troca algum tipo de demonstração de afeto por parte deles. Temos aqui um exemplo de reforço positivo. Essa criança tenderá a repetir tal resposta (dizer aos pais que os ama), pois ela é seguida de algo favorável (demonstração de afeto). Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images Já na família de outra criança, os pais costumam discutir na frente do filho. Quando isso acontece, a criança aumenta o volume da TV ou vai para o seu quarto (resposta) de forma a evitar ouvir os pais brigando. Temos aqui um exemplo de reforço negativo, pois também há aumento da probabilidade da resposta, mas não da resposta que resulta em algo positivo, como um elogio ou demonstração de afeto, mas que elimina ou atenua algo desagradável ou aversivo, como ver os pais brigando. Figura 6 Fonte: iStock/Getty Images 12 13 Compreenderam a diferença entre reforço positivo e reforço negativo? O reforço sempre aumentará a probabilidade de uma resposta se repetir. Todavia, será reforço positivo o que resultar em uma consequência favorável e reforço negativo aquilo que livrará o indivíduo de algo desfavorável. Mais um conceito deve ser abordado quando se trata da Análise do Comportamento: o conceito de Punição. Todo comportamento seguido de uma punição tenderá a ser extinto. Se determinada pessoa age de modo incorreto, ela deverá ser punida, e a continuidade da punição tenderá a diminuir a probabilidade de repetição de tal ação (ao contrário do reforço que aumenta a probabilidade, a punição diminui a probabilidade de uma resposta). Todavia, vale ressaltar que diversos autores da Análise do Comportamento, incluindo Skinner, comentam sobre a pouca eficácia da punição e que o ideal sempre será utilizar reforço positivo quando o indivíduo agir corretamente em vez de punição quando ele agir de forma incorreta. A discussão acerca dos motivos que tornam o uso da punição tão frágil é bastante ampla e não caberia nesta Unidade. Mas para ter uma ideia, vamos a um exemplo. Imagine você dirigindo sozinho em um local desconhecido, deserto e com fama de perigoso em plena madrugada. De repente, o semáforo fica vermelho para você, que deve parar e esperar que abra novamente para liberar sua passagem. Naquele exato momento, no que você pensará? a) “Não vem vindo nenhum carro. Não vou ficar parado aqui essa hora da madrugada”. E segue seu caminho. Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images 13 UNIDADE Desenvolvimento Humano b) “Se não parar, posso receber uma multa e pontos na carteira de motorista”. Figura 8 Fonte: iStock/Getty Images Muito provavelmente, a opção (a), que é uma forma de reforço negativo, pois sair daquele local será sair de uma situação aversiva, controlará sua reação naquele momento. E, pouco provavelmente, a multa, que é uma punição a um comportamento incorreto, ultrapassar o farol vermelho, não controlará o comportamento ali. E, talvez, quando e, se a multa de fato chegar, você já não se lembrará exatamente da situação vivida. Por esses motivos, Skinner afirma que na Educação as contingências devem ser programadas de forma a aumentar a frequência de reforçadores e evitar ao máximo o uso de punições. A Aprendizagem Social Os estudiosos do comportamento humano evidenciaram que os seres humanos podem aprender novos comportamentos pela simples observação de como os outros se comportam, mesmo sem vivenciar qualquer condicionamento. Esses teóricos chamaram a extensão da teoria da aprendizagem de aprendizagem social. Sendo uma parte dela a modelagem, na qual as pessoas observam um comportamento e depois moldam seu próprio comportamento segundo ele. A aprendizagem social também é influenciada pelo autoconhecimento. “Os padrões que estabelecemos para nós mesmos e a confiança que temos na nossa capacidade de cumpri-los afetam nossa disposição para aprender com outras pessoas” (BERGER, 2001, p.29). A teoria da aprendizagem abarca visões da Teoria Cognitiva, no esforço de entender o conhecimento e do autoconhecimento social. 14 15 A Teoria Cognitiva A Teoria Cognitiva enfatiza a estrutura e o desenvolvimento dos processos de pensamento e do conhecimento humano. A grande preocupação é compreender como o ser humano pensava. Seu grande ícone é Jean Piaget (1896-1980). O grande desafio de Piaget foi conhecer e entender como as crianças pensavam e concluiu que como as pessoas pensam revela como elas interpretam suas vivências e experiências num processo de construção de seus valores e suas premissas. Figura 9: Piaget Fonte: Wikimedia Commons Piaget considerava quatro períodos de desenvolvimento cognitivo (aquisição do conhecimento). Esses períodos correspondem às idades do ser humano. Para ele, o ser humano necessita de equilíbrio cognitivo, ou seja, um estado de equilíbrio mental, no qual cada ser humano concilia as novas experiências àquelas que já fazem sentido em sua vida e foram aprendidas. Segundo Piletti, N.; Rossato, S. M. & Rossato, G. (2014, p. 43), Piaget: [...] compreende o desenvolvimento cognitivo como algo que contém uma dinamicidade, posto que a inteligência existe na ação, modificando- se numa sucessão de estágios que compreendem: uma gênese, uma estrutura e a mudança das mesmas. Nessa perspectiva, o ser humano se ajusta às novas experiências em uma adaptação cognitiva que ocorre de duas formas: a primeira reinterpreta as novas experiências num processo de ajustamento às ideias antigas (assimiladas); a segunda modifica as ideias antigas acomodando-as às novas ideias. Para Piaget, o desenvolvimento humano se dá por meio de estágios cognitivos: o primeiro deles (do nascimento aos 2 anos) o Sensoriomotor, segundo Berger (2001, p.29), “A criança aprende que um objeto continua existindo mesmo quando não está à vista (permanência do objeto) e começa a pensar por meio de ações mentais além de ações físicas”. No segundo (dos 2 anos aos 6 anos), Pré-operacional, a criança utiliza a imaginação e a linguagem para se expressar a respeito de si, recebendo e percebendo a influência dos outros. Ela se torna menos egocêntrica e já é capaz de coordenar pontos de vista variados. No terceiro estágio (dos 7 aos 11 anos), Operacional concreto, “A criança conhece e aplica operações, ou princípios lógicos como recurso para interpretar as experiências de maneira objetiva e racional, em vez de intuitiva” (BERGER, 2001, p. 29). 15 UNIDADE Desenvolvimento Humano O último estágio (12 anos à idade adulta), Operacional formal, diz respeito à capacidade do adolescente ou adulto de ter pensamentos abstratos e criar situações hipotéticas para problemas do dia a dia vivenciados por eles. Temas como ética, política e questões sociais fazem parte do repertório desse estágio. Teoria do Desenvolvimento Humano Emergente – Sociocultural O maior representante dessa teoria foi o psicólogo Lev Vygotsky (1896-1934), da antiga UniãoSoviética. Ele foi um discípulo de A. R. Luria, que atraiu muitos pesquisadores para essa nova abordagem da Psicologia do Desenvolvimento Humano. “Vygotsky estava especialmente interessado nas qualificações cognitivas que se desenvolviam entre as pessoas culturalmente diversas da então recém-criada União Soviética” (BERGER, 2001, p.33). Seu interesse se concentrava no estudo das habilidades das pessoas com a utilização de maquinários e ferramentas de uma comunidade agrícola e a utilização adequada das palavras abstratas por pessoas analfabetas. Esse fenômeno foi chamado de aprendizado do pensamento, vez que essas habilidades são desenvolvidas a partir da interação entre pessoas mais novas dessa sociedade e os veteranos. Os veteranos atuam como orientadores/mentores desse processo, que proporciona a educação e o suporte para os mais novos que precisam obter todo o conhecimento e as qualificações valorizados pela sua Cultura. Esse fenômeno é chamado de participação dirigida, na qual o mentor se preocupa em envolver o novato em atividades coletivas/conjuntas. Os mentores proporcionam situações favoráveis à aprendizagem, por meio da instrução cuidadosa de cada passo nessa aprendizagem. Vygotsky dá ênfase às origens sociais do pensamento. Este, para ele, evolui e aprimora-se com o contato social (interações grupais). Segundo Cória- Sabini (2010), os processos de interações sociais contam com sistemas de signos, neles consideramos a linguagem, a escrita, o sistema numérico e os instrumentos para a transformação da natureza. Diante disso, podemos dizer que “A internalização dos sistemas de signos provoca transformações comportamentais e estabelece o elo entre as formas iniciais e avançadas do desenvolvimento cognitivo” (CÓRIA-SABINI, 2010, p.151). Figura 10: Vygotsky Fonte: Wikimedia Commons 16 17 O mais interessante é que todo esse processo de aprendizagem está vinculado à interação social; assim, o novato e o veterano, em conjunto, moldam o conhecimento da cultura local. “Os adultos aprendem com as crianças e vice-versa, e todos aprendem tanto com seus iguais como com indivíduos mais velhos ou mais novos” (BERGER, 2001, p. 33). A grande diferença entre as teorias anteriores apresentadas e a sociocultural é o fato de o adulto aprender em conjunto com a criança, e a grande mola propulsora é a interação social. Figura 11 Fonte: iStock/Getty Images Os estudiosos da abordagem sociocultural, ao estudar o desenvolvimento humano, enfatizam a Cultura, principalmente no processo de reconhecimento das habilidades, desafios e das oportunidades proporcionadas por esse desenvolvimento. Quando falamos em cultura, damos destaque aos valores, crenças e estruturas da sociedade estudada. Para conhecer o processo do desenvolvimento de uma determinada cultura, os pesquisadores primeiro estudam como os valores afetam os indivíduos. Depois estudam como os indivíduos moldam o contexto cultural específico de maneira sistemática, cada componente afetando o todo. (BERGER, 2001, p.34) Como será que uma pessoa com idade avançada se comporta diante das exigências das modernas sociedades multiculturais, na qual os recursos, as habilidades, os costumes e os valores por meio dos quais a cultura atua pressiona para mudanças constantes? Ex pl or Para responder a essa pergunta, é necessário entender os paradigmas dessas novas sociedades relacionadas ao progresso tecnológico. As gerações mais antigas podem ter aprendido com seus pais que um conhecimento vale para uma vida toda e se deparam com as novas sociedades na qual as constantes mudanças é o grande lema. 17 UNIDADE Desenvolvimento Humano Vamos dar um exemplo: do telefone convencional (de fio) para o telefone celular dos dias atuais. Eles são verdadeiros computadores, e nos dão a condição de conversarmos com pessoas do mundo inteiro em segundos, sem que usemos a voz. Elas podem não entender a necessidade constante de trocas de aparelhos por parte dos jovens para que possam ter equipamentos que comportem um número maior de aplicativos para atender às suas necessidades. Para os mais antigos, pelo fato de os aparelhos estarem em condições de conservação externa, não há necessidade de trocá-los; é difícil compreender que apesar da conservação aparente, eles possuem um limite tecnológico. Obviamente que a Teoria Sociocultural não dá conta de explicar o desenvolvimento humano integralmente, assim como as demais teorias apresentadas aqui. O conhecimento está se construindo e certamente todas elas são alvo de críticas. Mas, o que realmente importa nesse momento para nós é que conheçamos o que cada uma delas tem de positivo a oferecer para o entendimento humano e seu desenvolvimento. Para recapitular, vimos aqui três grandes teorias de desenvolvimento humano. Além dessas, temos a Teoria Bioecológica sob uma perspectiva contextual, na qual o psicólogo Urie Bronfenbrenner (1917-2005) descreve que o ser humano é influenciado por cinco níveis de influência ambiental: microssistema, mesossistema, exossistema, macrossitema e cronossitema. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 67), “para entender a complexidade das influências sobre o desenvolvimento, devemos ver a pessoa dentro do contexto desses múltiplos ambientes”. Por mesossistema entendemos o ambiente do dia a dia mais íntimo do ser humano; por mesossistema compreendemos a interligação entre vários microssistemas, por exemplo, o lar e a escola. ”Envolvendo os microssistemas está o exossistema, que inclui todas as redes externas, tal como as estruturas comunitárias e os sistemas educacionais [...]”, entre outros (BERGER, 2001,p. 5) que influenciam os microssistemas. O macrosssistema pode ser entendido como o grupo de valores culturais e crenças, incluindo padrões econômicos e condições sociais. E, por último, o cronossistema que se refere à dimensão do tempo, a constância da pessoa nos espaços que frequenta e ambientes. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 68), “ ao observar os sistemas que afetam os indivíduos na família e além dela, essa abordagem bioecológica nos ajuda a ver a variedade de influências sobre o desenvolvimento”. 18 19 Outra perspectiva de desenvolvimento é a Evolucionista/Sociobiológica, que se debruça nas bases evolucionistas e biológicas do comportamento humano. Ela sofreu influências da Teoria da Evolução de Darwin, que enfatiza a evolução das espécies no que se refere à adaptação e seletividade natural dos indivíduos. Os psicólogos dessa abordagem, por exemplo, estudam “...tópicos como estratégias de parentalidade, diferenças de gênero no brincar e relações entre colegas, além de identificar comportamentos que sejam adaptativos em diferentes idades” (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p. 69).1 Importante! Segundo Papalia e Feldman (2013, p.69): “Nenhuma teoria do desenvolvimento humano é universalmente aceita, e nenhuma perspectiva teórica explica todas as facetas do desenvolvimento”. Ao estudarmos o desenvolvimento humano, para que possamos aproveitar os conceitos na prática profi ssional do dia a dia, é necessário entendermos que o ser humano é uma totalidade e inserido nos contextos histórico, socioeconômico e cultural. E isso cabe em todas as áreas de conhecimento, principalmente naquelas relacionadas às Ciências Humanas Sociais1. Importante! Domínios Predominantes do Desenvolvimento Humano Para que possamos entender e estudar o desenvolvimento humano, é necessário dividirmos o desenvolvimento em três domínios. O domínio biossocial, o domínio cognitivo e o domínio psicossocial. Os três domínios são fundamentais para todas as idades. O que também é importante saber em relação aos domínios predominantes é que poucos fatores pertencem exclusivamente a um domínio ou a outro. Lembrando que cada um deles se inter-relaciona com os outros dois. No domínio biossocial, incluímos o cérebro, o corpo e as alterações que neles ocorrem e as interferências sociais que as direcionam. “O domínio cognitivo incluios processos de pensamento, as aptidões de percepção e o domínio da linguagem, além das instituições de ensino que os estimulam” (BERGER, 2001, p.3). O domínio psicossocial compreende a personalidade do indivíduo, as emoções e as relações interpessoais mais íntimas, de amizade e com a comunidade em geral. 1 O conceito contextual está ligado “ à visão do desenvolvimento humano que vê o indivíduo como inseparável do contexto social” (PAPALIA e FELDMAN, 2013, p. 67) 19 UNIDADE Desenvolvimento Humano No domínio biossocial do desenvolvimento, incluímos também os fatores genéticos e de saúde que impactam o crescimento da pessoa. As habilidades motoras e a busca de um corpo ideal também se inserem nesse domínio. No domínio cognitivo podemos incluir os processos mentais para a obtenção de conhecimento e a consciência do ambiente em que estamos inseridos no momento. Aqui também consideramos a percepção, a imaginação, o discernimento, a memória e, como falamos anteriormente, a linguagem. Podemos englobar aqui o processo de tomada de decisões e a educação formal das escolas e a informal propiciada pela família e pelas pessoas que rodeiam o indivíduo. O resultado da curiosidade e da criatividade que as pessoas apresentam também fazem parte desse domínio. No domínio psicossocial, podemos considerar o campo das emoções, do temperamento de uma pessoa e das habilidades sociais. Todas as influências que o indivíduo tem da família, dos amigos, da comunidade, da cultura e da sociedade em que está inserido. “As diferenças culturais relativas ao valor das crianças, ou relativas a ideias sobre os papéis ‘apropriados’ a cada sexo, ou ainda quanto ao que é considerada a estrutura familiar ideal” (BERGER, 2001, p.4) fazem parte desse domínio. Quando estudamos desenvolvimento humano, temos de lembrar que o desenvolvimento deve ser visto sempre sob um olhar holístico. Ou seja, cada indivíduo cresce de forma integral e o fato de dividirmos em domínio é meramente uma forma organizada e didática de facilitar aos cientistas seus estudos acadêmicos sobre o tema em questão. Desenvolvimento Humano Psicossocial dos dois Primeiros Anos até a Idade Adulta Avançada É de suma importância estudarmos o desenvolvimento humano psicossocial para que possamos entender melhor como as coisas acontecem ao longo da vida do ser humano. Trabalhamos direta ou indiretamente com pessoas, esse é o nosso “negócio”. Compreender o ser humano nos habilita para sermos mais empáticos e assertivos quando temos de tomar decisões para favorecer o crescimento das pessoas. Desde os primeiros anos até a vida adulta avançada, o ser humano sofre inúmeras modificações. Veja os bebê, por exemplo, eles já apresentam personalidades diferentes. São diferentes, vez que possuem históricos de vida distintos, que provocam emoções diferentes e únicas, assim como temperamentos, pensamentos e comportamentos também diferentes. Uma pessoa se torna única pelo conjunto de todos esses aspectos. Empatia: é a capacidade do ser humano de ser colocar no lugar do outro. Ex pl or 20 21 Ou seja, o modo peculiar de cada pessoa de sentir, pensar e agir é influenciado tanto pelas características inatas quanto ambientais. Isso denota como as crianças irão responder às outras pessoas e como se adaptam aos seus mundos. Na tentativa de compreender o desenvolvimento psicossocial, é necessário conhecermos os aspectos mais importantes desse desenvolvimento do nascimento aos dois anos de vida. Segundo Papalia & Feldman (2013), é importante sabermos que durante a gestação o feto identifica a voz da mãe e tem sua preferência. Do zero aos três meses, os bebês são abertos à estimulação. Eles iniciam a demonstração de interesse e curiosidade em relação ao mundo externo, além de sorrirem para as pessoas prontamente. Dos três meses aos seis meses, eles sorriem e riem com bastante frequência, além de se apresentarem zangados quando se decepcionam com algo, em um movimento de antecipação de fatos. Os bebês se despertam socialmente e estabelecem trocas recíprocas com os cuidadores. Aos nove meses são capazes de “jogos sociais” e buscam respostas das pessoas quando tentam “conversar”. Agradam e tocam outras crianças para obter respostas delas. Demonstram e expressam emoções como medo, raiva e alegria, por exemplo. Dos nove meses a um ano, os bebês preocupam-se com o principal cuidador, apresentando medo de estranhos e podem agir de forma submissa em situações novas e inesperadas. Com um ano conseguem comunicar suas emoções claramente, apresentando oscilações de humor. Após um ano até um ano e meio exploram bastante o ambiente por meio de pessoas que apresentam segurança e que estão mais ligadas. Tendem a apresentar ansiedade para se autoafirmarem, a partir do momento em que dominam o ambiente. Dos dezoito meses até os 3 anos, inicia-se a fase de identificação com os adultos pela brincadeira e são capazes de perceber o quanto estão se separando do cuidador. Na fantasia e também na brincadeira, eles estabelecem a consciência de suas limitações. Nessa fase, os vínculos afetivos com os pais e com outras pessoas são estabelecidos. Essa fase caracteriza-se pela busca da independência e da autonomia, e se percebe um relativo aumento pelo interesse por outras crianças 21 UNIDADE Desenvolvimento Humano Figura 12 Fonte: iStock/Getty Images Dos três aos seis anos, a criança já tem o autoconceito e a compreensão das suas emoções, tornando-se mais complexa. Além de aumentar a independência, o autocontrole e desenvolver a identidade de gênero. O significado do brincar se aprimora e “torna-se mais imaginativo, mais elaborado e, geralmente, mais social” (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p. 41) As crianças nessa faixa etária consideram que a família ainda é o foco da vida social, e atribuem importância considerável às outras crianças. O autoconceito torna-se ainda mais complexo influenciando na autoestima. Nessa fase, tendem a controlar mais as situações. Na adolescência (11 a aproximadamente 20 anos), a busca central é pela identidade e identidade sexual. Os amigos podem influenciar positiva ou negativamente. Geralmente, o relacionamento com os pais tende a ser bom. Se formos recorrer a Erik Erikson (apud PAPALIA & FELDMAN, 2013, p. 422) “A principal tarefa da adolescência é confrontar a crise de identidade versus confusão de papel, de modo a se tornar um adulto singular com uma percepção coerente do self e um papel valorizado pela sociedade”. Para Erikson, a identidade se concretiza quando os adolescentes conseguem resolver três aspectos: quando escolhem uma ocupação, quando adotam valores referentes a como viver e o desenvolvimento de uma satisfatória identidade sexual. Durante a terceira infância, as crianças adquirem as habilidades necessárias para obter sucesso em suas respectivas culturas. Quando adolescentes, elas precisam encontrar maneiras para usar essas habilidades. Quando jovens têm problemas para fixar-se em uma identidade ocupacional – ou quando suas oportunidades são artificialmente limitadas, eles correm risco de apresentar comportamento com consequências negativas sérias, tal como atividades criminosas (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p.422). No início da vida adulta (20 a 40 anos), existe uma estabilidade dos traços e estilos de personalidade. Nessa fase, o ser humano toma decisões em relação a relacionamentos mais íntimos e estilos de vida, que tendem a ser mais duradouros, ou seja, casa-se e tem filhos, por exemplo. 22 23 Na fase posterior (40 a 65 anos), pode acontecer de o adulto necessitar cuidar de seus pais idosos e de seus filhos, o que pode trazer muitas situações de stress para ele. Outra possibilidade é a saída dos filhos para uma vida mais externa, muitos deles ingressando para o mercado de trabalho, ocorrendo possivelmente uma transição para a meia idade e o senso de identidade continua em desenvolvimento. Aqui é constante a avaliação e a reavaliação que um adulto faz emrelação à própria vida; nessa revisão ou avaliação de prioridades e valores. Algumas pessoas podem experienciar crises nessa fase, outras se veem no auge de suas capacidades e habilidades. Outras, ainda, podem se encontrar em uma posição intermediária, na qual crises e tumultos tenham sido enfrentados em outra fase, por exemplo (PAPALIA & FELDMAN, 2013). Nessa fase, as pessoas iniciam o processo de envelhecimento que está ligado a mudanças físicas, mentais e emocionais; nesse momento, também se deparam com outras vivências associadas aos desafios do esquema de identidade. Esquema de Identidade são percepções que as pessoas tem de si mesmas que provêm de relacionamentos mais íntimos, de situações de trabalho, de atividades ligadas a comunidades e de outras experiências (PAPALIA & FELDMAN, 2013). Na fase seguinte, caracterizada como vida adulta tardia (65 anos em diante) a procura é de significado para a vida, essa de fundamental importância nessa etapa. A pessoa com idade mais avançada cria estratégias flexíveis para encarar perdas pessoais e/ou a morte iminente. Com a aposentadoria, o idoso pode pensar melhor sobre aproveitar o tempo e canalizar suas energias. Tempo inclusive destinado à família e aos amigos íntimos, já que estes podem ser um ponto de apoio em diversas situações. Ainda segundo Kinsella e Phillips (2005, apud Papalia e Feldman 2013), é comum que pais com idade avançada continuem ajudando financeiramente seus filhos e, em países em desenvolvimento, eles participam da dinâmica familiar com tarefas domésticas, cuidando dos filhos e netos, podendo, inclusive, assumir a total educação desses netos, caracterizando uma “paternidade ativa” inesperada, na qual poderão estar despreparados para esse papel. Como você se imagina chegando à velhice? Ex pl or Erik Erikson (apud PAPALIA & FELDMAN, 2013) ressalta que é necessário que as pessoas estejam envolvidas de forma vital na sociedade para um envelhecer saudável. Ainda segundo ele, a fase final da vida nos remete à sabedoria. Podemos acrescentar que a interação social garante esse bem-estar e saúde, vez que promove a satisfação com a vida. É de extrema importância que os profissionais de Ciências Humanas Sociais compreendam as fases de desenvolvimento humano e suas principais características, para uma atuação mais assertiva e produtiva; contribuindo, assim, com a sociedade e, consequentemente, com um mundo melhor. 23 UNIDADE Desenvolvimento Humano Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites A Epistemologia Genética de Piaget e o construtivismo Para aprofundar os conhecimentos sobre as fases de desenvolvimento humano segundo Jean Piaget leia o artigo científico. https://goo.gl/5nuLUB Livros Psicologia e Desenvolvimento Humano ESCORSIN, A. P. Psicologia e Desenvolvimento Humano. Curitiba: Intersaberes, 2016. p.153-72. E-book. Filmes Shaolin - Trailer Legendado Como exemplo de processo de interação social na abordagem sócio-histórica, assista ao trailer Shaolin. https://youtu.be/KhS2C5jQrfw 24 25 Referências BARROS, C. S. G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. 12.ed. São Paulo: Ática, 2008. BERGER, K. S. O Desenvolvimento da Pessoa – da infância à terceira idade. Tradução de Dalton de Alencar. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. CÓRIA-SABINI, M.A. Psicologia do Desenvolvimento.2.ed.8.imp. São Paulo: Ática, 2010. ESCORSIN, A. P. Psicologia e Desenvolvimento Humano. Curitiba: Intersaberes, 2016. PAPALIA, D.; FELDMAN. R. D. Desenvolvimento Humano. Tradução de Cristina Monteiro e Mauro de Campos Silva.12.ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 2014. 25
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