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Tradicionalmente, os estados figuram como os únicos detentores de personalidade internacional, ou seja, podem ser titulares de direitos e obrigações estipuladas pelas fontes do Direito Internacional. Porém, após a segunda metade do último século, passou-se a entender que as organizações internacionais também possuem esse mesmo qualificativo, ficando isso extremamente evidente com a entrada em vigor da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986, que expressamente menciona que essas organizações podem ser signatárias de tratados. Muito embora haja uma importante divergência doutrinária a respeito de um terceiro sujeito do Direito Internacional, o indivíduo, o foco de nossa aula está naqueles primeiros sujeitos, ou seja, os estados e as organizações internacionais sob a ótica do Direito Internacional. O Direito Internacional estava voltado para a relação entre estados e, somente nas últimas décadas, ocorreu um alargamento para reconhecer a personalidade das organizações internacionais. O estado é, antes de mais nada, uma realidade política e social, cabendo ao Direito Internacional estudar quais são seus elementos constitutivos e a forma como se dá o seu reconhecimento. Se verificarmos os diversos autores, não encontraremos unanimidade na identificação dos elementos constitutivos do Estado. Com essa observação, deve ser destacado o ensinamento de Rezek Contudo, na Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados1 firmada por ocasião da Sétima Conferência Internacional Pan-americana, realizada em Montevidéu em 1938, estabeleceu- se que o Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos: I- POPULAÇÃO PERMANENTE É o elemento humano do Estado, população é o conjunto de pessoas residentes em caráter permanente no território do Estado, abrangendo em sua maioria os nacionais e uma minoria de estrangeiros. Embora na linguagem comum muitas vezes a palavra povo acabe sendo empregada como equivalente à população, elas não se confundem. A palavra povo “tem sentido sobretudo social, ou seja, povo em oposição à governo, ou parte da coletividade determinada pelo aspecto social” A personalidade jurídica do Estado, em direito das gentes, diz-se originária, enquanto derivada a das organizações. O Estado, com efeito, não tem apenas precedência histórica: ele é antes de tudo, uma realidade física, um espaço territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos. A organização internacional carece dessa dupla dimensão material. Ela é produto exclusivo de uma elaboração jurídica resultante da vontade conjugada de certo número de Estados. O Estado, sujeito originário de direito internacional público, ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área e uma forma de governo não subordinado a qualquer autoridade exterior. (ACCIOLY, 2014, p. 248). Decorre da análise desse elemento a necessidade de sabermos o que é a nacionalidade. Embora tenha importantes reflexos no Direito Internacional, cabe a cada Estado estipular em seu Direito Interno as regras que adotará para estabelecer o vínculo de nacionalidade. II- TERRITÓRIO É o espaço onde o Estado exerce sua soberania, ou seja, espaço em cujos limites ocorre o exercício do poder estatal. Nele, o Estado soberano exerce uma jurisdição geral e exclusiva. A generalidade da jurisdição significa que o Estado exerce no seu domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. A exclusividade significa que, no exercício de tais competências, o Estado local não enfrenta concorrência de qualquer outra soberania. Só ele pode, assim, tomar medidas restritivas contra pessoas, detentor que é do monopólio do uso legítimo da força pública. III- GOVERNO E A CAPACIDADE DE MANTER RELAÇÕES COM OS DEMAIS ESTADOS Esses requisitos se referem à capacidade do Estado de tomar decisões sobre a sua gestão interna e suas relações internacionais de forma livre de interferências. Para ser reconhecido como tal, o Governo não pode sofrer interferências dos demais estados, seja no âmbito interno (gestão interna do país), seja nas suas relações com outros atores do direito internacional, ou seja, o Governo deve ter soberania. A soberania significa independência sem qualquer tipo de subordinação de suas decisões a qualquer tipo de autoridade ou ordem externa. Sem a sua presença, não podemos identificar um governo e, em decorrência, um Estado que possa manter relações em igualdade com os demais. Para manter relações com outros sujeitos de direito internacional, é necessário que um Estado seja reconhecido como tal por esses sujeitos. O reconhecimento de um Estado é uma manifestação de direito internacional diretamente relacionada à sua soberania. É a manifestação unilateral e discricionária de outros Estados ou Organizações Internacionais no sentido de aceitar a criação de um novo sujeito de direito internacional, portanto, com direitos e obrigações. Sendo assim, formado um Estado, surge a necessidade do seu reconhecimento internacional. Trata-se de ato discricionário, unilateral, irrevogável e incondicional, por meio do qual o surgimento de um novo sujeito de direito internacional é atestado pelos demais estados. Esse reconhecimento pode ser expresso ou tácito. Nacionalidade é um vínculo político entre o Estado soberano e o indivíduo, que faz deste um membro da comunidade constitutiva da dimensão pessoal do Estado. Identificamos o Estado quando seu governo [...] não se subordina a qualquer autoridade que lhe seja superior, não reconhece, em última análise, nenhum poder maior que dependa a definição e o exercício de suas competências. O reconhecimento expresso ocorre, por exemplo, em declarações conjuntas de reconhecimento e na confecção de tratados bilaterais. Já no reconhecimento implícito, não há atos formais, mas apenas o tratamento de questões comuns que demonstram esse reconhecimento mútuo. É o que ocorre, por exemplo, quando um Chefe de Estado em visita oficial é recebido por outro e esses passam a discutir questões internacionais comuns ou que se refiram ao relacionamento de seus estados. Para que haja o reconhecimento, é preciso que o governo seja independente e tenha o controle de forma efetiva de seu território, bem como cumpra as obrigações internacionais. Duas observações se fazem necessárias: Não cabe à Organização das Nações Unidas decidir sobre a existência e o reconhecimento de um determinado Estado. Cada Estado, no uso da sua soberania e de acordo com seus interesses e conveniências, deve decidir se realiza esse reconhecimento de outro Estado; Quando o Estado participa da elaboração ou adere a um tratado multilateral, ele não está reconhecendo outros estados que também se comprometeram nesse instrumento. O reconhecimento de governo não se confunde com o reconhecimento do Estado. O reconhecimento de um novo governo dá-se quando a comunidade internacional vislumbra, em um Estado anteriormente já reconhecido, a alteração de sua direção. Em geral, quando não há uma ruptura da linha política interna, esse reconhecimento se dá sem maiores problemas. Tanto é assim que, normalmente, os países que mantêm relações diplomáticas com aquele Estado enviam representantes para a posse do novo mandatário. Contudo, a instalação de um novo governo em um Estado a partir da desconsideraçãodo ordenamento jurídico vigente, tal como em casos de golpes de Estado e revoluções, acarreta a necessidade de que essa nova direção do Estado tenha que passar por um claro reconhecimento que, muitas vezes, chega a ser expresso. O desaparecimento de qualquer dos elementos constitutivos do Estado ocasiona a sua extinção total ou parcial. Será total, quando decorrente da fusão, anexação total ou desaparecimento do território, e parcial, quando estiver caracterizada, de qualquer forma, a restrição de sua soberania. A Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados (1978) dispõe que a “sucessão de estados significa a substituição de um Estado por outro na responsabilidade das relações internacionais de um território”, ou seja, há uma transferência de direitos e obrigações do Estado extinto para outro Estado – Deve ficar claro que o reconhecimento mútuo da personalidade internacional só configura pressuposto necessário da celebração de tratados bilaterais. No plano da multilateralidade, a situação sempre foi diversa. Ninguém discute a certeza deste princípio costumeiro: o fato de certo Estado negociar em conferência, assinar ou ratificar um tratado coletivo, ou de a ele aderir, não implica, por sua parte, o reconhecimento de todos os demais pactuantes. anteriormente existente ou formado nesse ato. As principais modalidades de sucessão de estados são: Emancipação: é a aquisição da independência de uma colônia em relação ao estado controlador; Fusão: é a união de dois ou mais Estados para formar um terceiro, com nova personalidade jurídica internacional; Anexação total: ocorre quando um Estado é absorvido (anexado) plenamente por outro, extinguindo-se a personalidade internacional do primeiro; Anexação parcial: ocorre quando um Estado perde parcela de seu território em favor de outro. As primeiras organizações internacionais surgiram com a finalidade de criar condições para a cooperação e solução de problemas bastante específicos, tais como garantir a liberdade de navegação em determinados rios. Na verdade, o escopo da organização é conjugar forças, recursos e interesses em torno de objetivos transnacionais comuns. A primeira grande experiência de organização internacional de âmbito mundial foi a Liga das Nações. As organizações internacionais (ou intergovernamentais) são pessoas jurídicas de direito internacional que se caracterizam por possuir ordens jurídicas próprias que não se confundem com as dos estados que as integram. Como elas resultam da manifestação de vontade de sujeitos de direito internacional público, ou seja, de Estados ou de outras organizações internacionais, não são aceitos, em suas composições, sujeitos de direito interno, tais como indivíduos, empresas e organizações não governamentais. Podemos dizer que uma organização internacional é a associação voluntária de sujeitos de direito internacional (estados e outras organizações internacionais) constituída mediante ato internacional (um tratado), de caráter relativamente permanente, dotada de regulamento e de órgãos de direção próprios, cuja finalidade é a de atingir os objetivos comuns determinados por seus membros constituintes. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986 buscou disciplinar as normas de direito internacional aplicáveis ao poder convencional das organizações internacionais. Essas organizações intergovernamentais, uma vez constituídas, adquirem personalidade internacional independente da de seus membros constituintes, podendo, portanto, adquirir direitos e contrair obrigações em seu nome próprio – inclusive por intermédio da celebração de tratados com outras organizações internacionais e com estados, nos termos do seu ato constitutivo. É comum imaginar que somente no século XX os estados passaram a se preocupar em criar organizações internacionais mais estruturadas para a solução de problemas comuns, que necessitavam de uma coordenação de esforços para que fossem solucionados; contudo, não é essa a realidade. No século XIX, surgiram algumas iniciativas desse tipo, as quais redundaram na criação das mais antigas organizações internacionais, as quais ainda estão em plena atividade: A União Internacional de Telecomunicações (International Telecommunication Union – ITU2) foi fundada em 1865 em Paris, tendo o nome inicial de International Telegraph Union; A União Postal Universal (Universal Postal Union – UPU3) foi fundada em 1874. Também deve ser destacada a Conferência de Paz em Haia de 1899 (Países Baixos), que estabeleceu mecanismos para a criação de tribunais arbitrais para resolver conflitos e disputas que envolvessem estados. Fazia parte desses mecanismos a criação de um escritório permanente localizado em Haia para registro judicial e secretariado dos tribunais quando fossem criados. Esse escritório acabou sendo denominado de Corte Permanente de Arbitragem (The Permanent Court of Arbitration), sendo estabelecido em 1900 e iniciado seus trabalhos em 1902. Essa corte é a predecessora da Corte Internacional de Justiça4 da ONU. Outro ponto histórico marcante é a criação da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), que foi instituída em 28 de junho de 1919, pelo Tratado de Versailles, durante a conferência organizada em razão do final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Antes mesmo do final da guerra, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, já havia apresentado uma proposta de criação dessa organização. Contudo, apesar desse entusiasmo, o Senado de seu país não ratificou o tratado, razão pela qual não houve a adesão daquele país àquela Liga. O grande propósito da Liga das Nações era o de estabelecer mecanismos para a manutenção da paz, evitando a ocorrência de um grande, conflito como a Primeira Guerra Mundial. Em razão do disposto no artigo 14 do Tratado de Versailles5, a Liga das Nações realizou a criação de um Tribunal a ela vinculado que tinha a função de resolver conflitos e de emitir pareceres consultivos em disputas que envolvessem estados que faziam parte da Liga. Esse tribunal, denominado Corte Permanente de Justiça Internacional (The Permanent Court of International Justice), foi instalado em Haia em 1922, dividindo o mesmo edifício da Corte Permanente de Arbitragem – o Palácio da Paz. Também decorrente do Tratado de Versailles se deu a criação da Organização Internacional do Trabalho (International Labour Organization – ILO), que também se vinculava à Liga das Nações. Apesar dos avanços, a Liga das Nações acabou sendo extinta em 1946. Entre outros fatores, isso se deu em razão de sua incapacidade de evitar a ocorrência de grandes conflitos, como a Segunda Guerra Mundial. Em consequência, foi realizada a criação da Organização das Nações Unidas – ONU. CRIAÇÃO A Organização das Nações Unidas foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945, em São Francisco, Estados Unidos, por 51 países, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, sendo que a sua primeira Assembleia Geral foi realizada em 10 de janeiro de 1946 no Westminster Central Hall, localizado em Londres. Em 1952, foi inaugurada a sua atual sede, na cidade de Nova York, devendo ser destacado que entre as pessoas envolvidas na elaboração do projeto de suas instalações estava o brasileiro Oscar Niemayer. Seu principal documento de regência é a Carta das Nações Unidas que, dentre outros vários assuntos, indica seus propósitos. Em razão de suas características, a Organização das Nações Unidas tem como línguas oficiais as seguintes: chinês, francês, russo, inglês e espanhol. MEMBROS Atualmente a ONU é compostapor 193 estados-membros, que participaram de sua criação ou que, posteriormente, solicitaram a sua filiação nos termos do artigo 4 da Carta: 1- A admissão como Membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações. 2- A admissão de qualquer desses Estados como Membros das Nações Unidas será efetuada por decisão da Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. ESTRUTURA Os principais órgãos da estrutura da ONU são: Assembleia Geral: É o mais importante órgão deliberativo da ONU, sendo constituído por todos os membros dessa organização que se reúnem em sessões anuais (iniciadas em setembro de cada ano). Nela, cada membro tem um voto e não existe, tal como ocorre no Conselho de Segurança, o direito a veto. Em cada sessão, é eleito um presidente desse órgão. Além das sessões anuais regulares, podem ocorrer sessões especiais, as quais podem ser convocadas, nos termos do artigo 20 da Carta da ONU, a pedido: Do Secretário Geral; Do Conselho de Segurança; Da maioria dos Membros das Nações Unidas. Há duas formas de os assuntos serem decididos: Nas chamadas questões importantes, a decisão se dá pela maioria de dois terços dos membros presentes e votantes. As questões importantes são as seguintes: recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais; eleição dos Membros não permanentes do Conselho de Segurança; eleição dos membros do Conselho Econômico e Social; eleição dos Membros do Conselho de Tutela; admissão de novos Membros das Nações Unidas; suspensão dos direitos e privilégios de Membros; expulsão dos Membros; questões referentes ao funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias; Nas demais questões apreciadas pela Assembleia Geral, a decisão se dá por maioria de votos dos países presentes e votantes. No que concerne às suas funções, a Assembleia deve discutir e fazer recomendações sobre temas relacionados às competências da ONU; discutir e fazer recomendações relativas sobre desarmamento e regulamentação de armamentos; considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais e fazer recomendações relativas a tais princípios (artigo 11); fazer estudos e recomendações sobre cooperação internacional, nos diferentes domínios econômicos, culturais e sociais, codificação e desenvolvimento do Direito Internacional e fazer recomendações para a solução pacífica de qualquer situação internacional. Conselho de Segurança: O Conselho de Segurança (CS) é órgão permanente da ONU, vale dizer, e permanece em funcionamento ao longo do ano. Não obstante, embora se reuna ordinariamente na sede da ONU, em Nova Iorque, nada impede que o Conselho realize encontros em outras localidades. É formado por quinze membros, sendo: ➢ Cinco Membros Permanentes: ✓ China; ✓ Estados Unidos; ✓ Rússia; ✓ França; ✓ Reino Unido. ➢ Dez Membros Não Permanentes: que são escolhidos pela Assembleia Geral (AG) para um mandato de dois anos. Os Cinco Membros Permanentes ou Cinco Grandes são os cinco Grandes Vitoriosos da Segunda Guerra Mundial que, nessa qualidade de protagonistas, angariaram privilégios e poderes diferenciados dos demais estados. Vale ressaltar que os membros permanentes possuem o poder de veto. Na eleição dos Dez Membros Não Permanentes, devem ser considerados os seguintes elementos descritos no artigo 23.1 da Carta da ONU: A contribuição dos Membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para os outros propósitos da Organização; A distribuição geográfica equitativa. Os membros do Conselho de Segurança (permanentes e não permanentes) se alternam na presidência desse órgão, sendo que a troca ocorre mensalmente, considerando para tanto a ordem alfabética (em inglês) do nome dos estados que fazem parte dele. Ao fazer suas recomendações, o Conselho de Segurança deve levar em consideração que as controvérsias de caráter jurídico devem, em regra geral, serem submetidas pelas partes à Corte Internacional de Justiça. Ao lado disso, o Conselho de Segurança ostenta atribuições outras, como a participação na escolha dos membros da Corte Internacional de Justiça. Pautando-se pelos princípios orientadores da ONU, o Conselho de Segurança deve buscar, precipuamente, uma solução pacífica para conflitos. Em casos extremos, ele pode impor as seguintes sanções: A interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de qualquer outra espécie e o rompimento das relações diplomáticas; Se infrutíferas as sanções do art. 41, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas. A imposição das sanções pelo Conselho de Segurança ou outro órgão da ONU representa uma forma de trazer o Estado em litígio para negociação, buscando prevenir a eclosão de conflitos armados ou a sua interrupção. FORÇA DE PAZ Embora o processo de manutenção da paz não seja especificamente mencionado na Carta das Nações Unidas, essa norma confere ao Conselho de Segurança responsabilidade primária pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Para desempenhar essa sua missão, o Conselho, em muitos casos, cria missões de manutenção da paz. Isso é feito por meio da estipulação de um mandato – uma descrição das tarefas e dos objetivos que devem ser perseguidos pela Missão de Paz. Além disso, os países membros da ONU e que não tenham ligação com o conflito são convidados a participar da formação dessa missão, sendo que eles devem disponibilizar pessoal e equipamentos para a sua realização. A Força de Paz apresenta periodicamente ao Conselho de Segurança relatórios sobre as dificuldades e as tarefas desempenhadas, para que esse acompanhe essas medidas e, se for o caso, realize outras deliberações para que os objetivos que motivaram a sua criação sejam atingidos. Muito embora deva haver a aceitação do Estado onde a Força de Paz atuará, ela não se subordina ou se reporta a autoridades locais, sendo que somente há vinculação de suas ações ao Conselho de Segurança. PROCESSO DECISÓRIO DO CONSELHO DE SEGURANÇA Para que uma matéria seja aprovada pelo Conselho de Segurança, deve haver a concordância de, pelo menos, nove de seus quinze membros. Nesse particular, os votos dos Membros Permanentes e dos Membros Não Permanentes se equivalem. Contudo, para a aprovação, também é necessário que nenhum dos Membros Permanentes se utilize do poder de veto. Se algum ou alguns deles apresentar veto para a questão, não se considera aprovada a deliberação, muito embora tenham sido colhidos nove ou mais votos dos demais membros. Também é possível que um Membro Permanente se abstenha de participar da deliberação, situação em que não haverá qualquer prejuízo para a aprovação da questão em votação, sendo somente necessário que se atinja o quórum mínimo de deliberação – nove votos Conselho Econômico e Social: O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é composto por cinquenta e quatro Membros das Nações Unidas eleitos pela Assembleia Geral, sendo que anualmente há uma renovação de um terço deles (18 Membros) em novas eleições. ✓ Suas atribuiçõesestão descritas nos artigos de 62 a 66 da Carta da ONU, podendo ser destacadas as seguintes: Realizar estudos e relatórios a respeito de assuntos internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, podendo fazer recomendações a respeito deles para a Assembleia Geral, para os Membros das Nações Unidas e para as entidades especializadas interessadas; ✓ Fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos; ✓ Preparar projetos de convenções a serem submetidos à Assembleia Geral sobre assuntos de sua competência; ✓ Poderá convocar, de acordo com as regras estipuladas pelas Nações Unidas, conferências internacionais sobre assuntos de sua competência; ✓ Estabelecer acordos com qualquer organização internacional, a fim de determinar as condições em que ela poderá se vincular à ONU, devendo esses atos serem submetidos à aprovação da Assembleia Geral; ✓ Coordenar as atividades das entidades especializadas; ✓ Pode fornecer informações ao Conselho de Segurança e, a pedido desse, prestar a ele assistência. Por meio do Conselho Econômico e Social há a integração de diversas organizações internacionais à Organização das Nações Unidas, sendo que essas formam as chamadas agências especializadas. Elas também são chamadas de integrantes da família das Nações Unidas. Apesar de laços formais com as Nações Unidas, as organizações especializadas não podem ser consideradas como sendo seus órgãos, tanto especiais quanto subsidiários. Elas conservam uma independência jurídica e de conteúdo. Assim, por exemplo, países que não fazem parte das Nações Unidas podem integrar os organismos especializados. Secretariado: É um órgão permanente composto pelo Secretário Geral e pelo pessoal necessário à gestão administrativa da Organização. Nos termos do artigo 97 da Carta da ONU, o Secretário Geral é o principal funcionário administrativo da Organização, sendo que nessa qualidade atuará em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conselho de Segurança e do Conselho Econômico e Social. O Secretário Geral, no desempenho de suas funções, poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, em sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais. Além disso, fazem parte de suas atribuições: Exercer tarefas conferidas pela Assembleia Geral, Conselho de Segurança, de Tutela, Econômico e Social; Fazer relatórios à Assembleia Geral sobre os trabalhos da Organização; Nomear os demais integrantes do Secretariado, seguindo o regramento estabelecido pela Assembleia Geral; Atuar na fase inicial de ameaças à paz. O Secretário Geral é eleito pela Assembleia Geral após prévia aprovação pelo Conselho de Segurança para um mandato de cinco anos, podendo ser reeleito. O Secretário Geral também é Presidente do Conselho de Coordenação dos Chefes Executivos do Sistema das Nações Unidas (CEB), que reúne os Chefes Executivos de todos os fundos, programas e agências especializadas das Nações Unidas duas vezes por ano a fim de promover a coordenação e a cooperação de todos eles em questões de maior relevância e para a gestão de desafios enfrentados pelo Sistema das Nações Unidas. Também é no secretariado que os tratados internacionais são registrados e depositados após a ratificação pelos estados que participaram de sua formação ou após a adesão de outros que, mesmo não participando de sua formação, concordaram expressamente com suas disposições. Conselho de Tutela: Ao final da Segunda Guerra Mundial ainda existiam no mundo onze territórios aos quais a Carta das Nações Unidas se referia como: territórios cujos povos não tenham atingido a plena capacidade de se governarem a si mesmos (artigo 73). Eles eram constituídos, em geral, de ex-colônias de estados europeus. Para resolver a essa situação, a ONU estabeleceu o sistema de tutela, com o objetivo de dar aos povos desses territórios condições estruturais para que pudessem criar novos estados. Para tanto, foram designados sete estados-membros para que, nos termos do Capítulo XII da Carta da ONU, realizassem juntamente com o Conselho de Tutela essa transição. Todos esses territórios adquiriram a sua independência ou se juntaram a outros estados já constituídos, sendo que o último deles foi República de Palau (na Oceania), em 1994. Atingido o seu objetivo, o Conselho de Tutela suspendeu suas atividades em novembro de 1994, mas poderá se reunir quando necessário: ✓ Por decisão de seu Presidente; ✓ A pedido da maioria de seus membros; ✓ Por decisão da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança. Parte de suas competências, contudo, foi destinada ao Quarto Comitê da Assembleia Geral, que foi encarregado de tratar da política de descolonização das Nações Unidas. Corte Internacional de Justiça: Como parte dos esforços pela paz que resultaram na criação da Organização das Nações Unidas, também houve a criação da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Trata-se de um órgão permanente da ONU, dotado de dupla função jurisdicional: Consultiva; Contenciosa – em matéria não penal. Esse órgão jurisdicional, cuja sede está instalada no Palácio da Paz, em Haia, foi criado na mesma Convenção de São Francisco que finalizou as tratativas para a criação da Organização das Nações Unidas, razão pela qual seu Estatuto (seu principal instrumento normativo) encontra-se anexado à Carta das Nações Unidas. O Estatuto da CIJ só admite a jurisdição de estados, dessa forma, indivíduos e organizações internacionais não têm legitimidade para apresentar seus litígios junto a esse órgão. Todos os membros da ONU podem apresentar questões a serem submetidas à CIJ, contudo, excepcionalmente, esse órgão também estará aberto a questões que envolvam estados que não fazem parte das Nações Unidas. Uma característica dos litígios apresentados na CIJ é que os estados- parte não precisam firmar qualquer compromisso prévio de reconhecimento da jurisdição desse órgão. Também deve ser destacado que a apresentação do litígio por um Estado não precisa contar com a prévia concordância do outro Estado litigante. Os juízes têm mandatos de nove anos, sendo franqueada a recondução. O processo de escolha dos juízes da CIJ envolve três etapas: ✓ Escolha realizada pela Corte Permanente de Arbitragem; ✓ Eleição pelo Conselho de Segurança da ONU; ✓ Eleição pela Assembleia Geral da ONU. Há toda uma preocupação para que não haja qualquer alegação que a nacionalidade dos juízes possa influenciar na decisão da CIJ; dessa forma, seu estatuto estabelece uma forma de equilibrar essa situação. Como dispõe o dispositivo acima, podem ser convocados juízes ad hoc (não permanentes) para atuarem em um determinado litígio. Por exemplo, em 2013, a CIJ iniciou o processamento de um litígio que envolvia a Bolívia e o Chile. Alegava a Bolívia que o Chile deveria restituir-lhe um território que anteriormente lhe pertencia e que lhe garantiria acesso ao Oceano Pacífico. Nesse processo, aturam dois juízes ad hoc, um indicado por cada Estado-Parte, nos termos do artigo 31.3 do Estatuto. Dentro da competência da CIJ firmada no artigo 36 de seu Estatuto, devem ser destacadas as seguintes matérias: Qualquer ponto de direito internacional; A existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria violação de um compromisso internacional; A natureza ou extensão da reparação devida pela ruptura de um compromisso internacional. O Mercosul foi concebido com o objetivo de consolidar a integração política, econômicae social entre os países que o integram com vistas a criar um mercado comum. Seus membros originários são: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Seu principal marco regulatório é o Tratado de Assunção, concluído na cidade de Assunção, no Paraguai, em 26 de março de 1991. A bandeira do Mercosul é formada pelo Cruzeiro do Sul e o horizonte do qual emerge. O Cruzeiro do Sul foi escolhido porque representa o principal elemento de orientação do Hemisfério Sul e, para o Mercosul, simboliza o rumo otimista de integração regional que se pretende dar aos países membros. Os idiomas oficiais são o português e o espanhol. O Mercosul tem personalidade jurídica internacional e funciona como uma união aduaneira. Ainda como propósitos do Mercosul, podemos apontar: a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros estados; a coordenação de políticas setoriais e macroeconômicas e a harmonização legislativa. Outra função atribuída ao Mercosul cinge-se à mediação de conflitos entre seus membros, razão pela qual essa organização internacional possui instrumentos para dirimir controvérsias afetas às suas competências. Em 2012, a Venezuela passou a integrar o Mercosul como membro efetivo. Desde de 2012, a Bolívia está em processo de adesão. Os demais estados da América do Sul (Chile, Peru, Colômbia, Equador, Guiana e Suriname) são Estados Associados ao Mercosul.
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