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UNIDADE II - PERSONAIDADE DE DIREITO INTERNACIONAL

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Tradicionalmente, os estados figuram 
como os únicos detentores de 
personalidade internacional, ou seja, 
podem ser titulares de direitos e 
obrigações estipuladas pelas fontes do 
Direito Internacional. Porém, após a 
segunda metade do último século, 
passou-se a entender que as 
organizações internacionais também 
possuem esse mesmo qualificativo, 
ficando isso extremamente evidente 
com a entrada em vigor da Convenção 
de Viena sobre o Direito dos Tratados 
de 1986, que expressamente menciona 
que essas organizações podem ser 
signatárias de tratados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Muito embora haja uma importante 
divergência doutrinária a respeito de 
um terceiro sujeito do Direito 
Internacional, o indivíduo, o foco de 
nossa aula está naqueles primeiros 
sujeitos, ou seja, os estados e as 
organizações internacionais sob a ótica 
do Direito Internacional. 
O Direito Internacional estava voltado 
para a relação entre estados e, somente 
nas últimas décadas, ocorreu um 
alargamento para reconhecer a 
personalidade das organizações 
internacionais. O estado é, antes de 
mais nada, uma realidade política e 
social, cabendo ao Direito Internacional 
estudar quais são seus elementos 
constitutivos e a forma como se dá o 
seu reconhecimento. 
 
Se verificarmos os diversos autores, não 
encontraremos unanimidade na 
identificação dos elementos 
constitutivos do Estado. Com essa 
observação, deve ser destacado o 
ensinamento de Rezek 
 
 
 
 
 
 
 
Contudo, na Convenção sobre Direitos e 
Deveres dos Estados1 firmada por 
ocasião da Sétima Conferência 
Internacional Pan-americana, realizada 
em Montevidéu em 1938, estabeleceu-
se que o Estado como pessoa de Direito 
Internacional deve reunir os seguintes 
requisitos: 
I- POPULAÇÃO PERMANENTE 
É o elemento humano do Estado, 
população é o conjunto de pessoas 
residentes em caráter permanente no 
território do Estado, abrangendo em 
sua maioria os nacionais e uma minoria 
de estrangeiros. 
Embora na linguagem comum muitas 
vezes a palavra povo acabe sendo 
empregada como equivalente à 
população, elas não se confundem. A 
palavra povo “tem sentido sobretudo 
social, ou seja, povo em oposição à 
governo, ou parte da coletividade 
determinada pelo aspecto social” 
A personalidade jurídica do Estado, em 
direito das gentes, diz-se originária, 
enquanto derivada a das organizações. O 
Estado, com efeito, não tem apenas 
precedência histórica: ele é antes de tudo, 
uma realidade física, um espaço territorial 
sobre o qual vive uma comunidade de 
seres humanos. A organização 
internacional carece dessa dupla dimensão 
material. Ela é produto exclusivo de uma 
elaboração jurídica resultante da vontade 
conjugada de certo número de Estados. 
O Estado, sujeito originário de direito 
internacional público, ostenta três elementos 
conjugados: uma base territorial, uma 
comunidade humana estabelecida sobre essa 
área e uma forma de governo não 
subordinado a qualquer autoridade exterior. 
(ACCIOLY, 2014, p. 248). Decorre da 
análise desse elemento a necessidade 
de sabermos o que é a nacionalidade. 
 
 
Embora tenha importantes reflexos no 
Direito Internacional, cabe a cada 
Estado estipular em seu Direito Interno 
as regras que adotará para estabelecer 
o vínculo de nacionalidade. 
II- TERRITÓRIO 
É o espaço onde o Estado exerce sua 
soberania, ou seja, espaço em cujos 
limites ocorre o exercício do poder 
estatal. Nele, o Estado soberano exerce 
uma jurisdição geral e exclusiva. 
A generalidade da jurisdição significa 
que o Estado exerce no seu domínio 
territorial todas as competências de 
ordem legislativa, administrativa e 
jurisdicional. A exclusividade significa 
que, no exercício de tais competências, 
o Estado local não enfrenta 
concorrência de qualquer outra 
soberania. Só ele pode, assim, tomar 
medidas restritivas contra pessoas, 
detentor que é do monopólio do uso 
legítimo da força pública. 
III- GOVERNO E A CAPACIDADE 
DE MANTER RELAÇÕES 
COM OS DEMAIS ESTADOS 
Esses requisitos se referem à 
capacidade do Estado de tomar 
decisões sobre a sua gestão interna e 
suas relações internacionais de forma 
livre de interferências. Para ser 
reconhecido como tal, o Governo não 
pode sofrer interferências dos demais 
estados, seja no âmbito interno (gestão 
interna do país), seja nas suas relações 
com outros atores do direito 
internacional, ou seja, o Governo deve 
ter soberania. 
A soberania significa independência 
sem qualquer tipo de subordinação de 
suas decisões a qualquer tipo de 
autoridade ou ordem externa. Sem a 
sua presença, não podemos identificar 
um governo e, em decorrência, um 
Estado que possa manter relações em 
igualdade com os demais. 
 
 
 
 
 
 
 
Para manter relações com outros 
sujeitos de direito internacional, é 
necessário que um Estado seja 
reconhecido como tal por esses 
sujeitos. 
 
 
O reconhecimento de um Estado é uma 
manifestação de direito internacional 
diretamente relacionada à sua 
soberania. 
É a manifestação unilateral e 
discricionária de outros Estados ou 
Organizações Internacionais no sentido 
de aceitar a criação de um novo sujeito 
de direito internacional, portanto, com 
direitos e obrigações. 
Sendo assim, formado um Estado, surge 
a necessidade do seu reconhecimento 
internacional. Trata-se de ato 
discricionário, unilateral, irrevogável e 
incondicional, por meio do qual o 
surgimento de um novo sujeito de 
direito internacional é atestado pelos 
demais estados. Esse reconhecimento 
pode ser expresso ou tácito. 
Nacionalidade é um vínculo político entre o 
Estado soberano e o indivíduo, que faz 
deste um membro da comunidade 
constitutiva da dimensão pessoal do Estado. 
Identificamos o Estado quando seu governo 
[...] não se subordina a qualquer autoridade 
que lhe seja superior, não reconhece, em 
última análise, nenhum poder maior que 
dependa a definição e o exercício de suas 
competências. 
 
 
O reconhecimento expresso ocorre, por 
exemplo, em declarações conjuntas de 
reconhecimento e na confecção de 
tratados bilaterais. 
Já no reconhecimento implícito, não há 
atos formais, mas apenas o tratamento 
de questões comuns que demonstram 
esse reconhecimento mútuo. É o que 
ocorre, por exemplo, quando um Chefe 
de Estado em visita oficial é recebido 
por outro e esses passam a discutir 
questões internacionais comuns ou que 
se refiram ao relacionamento de seus 
estados. 
Para que haja o reconhecimento, é 
preciso que o governo seja 
independente e tenha o controle de 
forma efetiva de seu território, bem 
como cumpra as obrigações 
internacionais. Duas observações se 
fazem necessárias: 
 Não cabe à Organização das 
Nações Unidas decidir sobre a 
existência e o reconhecimento 
de um determinado Estado. 
Cada Estado, no uso da sua 
soberania e de acordo com seus 
interesses e conveniências, 
deve decidir se realiza esse 
reconhecimento de outro 
Estado; 
 Quando o Estado participa da 
elaboração ou adere a um 
tratado multilateral, ele não 
está reconhecendo outros 
estados que também se 
comprometeram nesse 
instrumento. 
 
 
 
 
 
 
O reconhecimento de governo não se 
confunde com o reconhecimento do 
Estado. 
O reconhecimento de um novo governo 
dá-se quando a comunidade 
internacional vislumbra, em um Estado 
anteriormente já reconhecido, a 
alteração de sua direção. Em geral, 
quando não há uma ruptura da linha 
política interna, esse reconhecimento se 
dá sem maiores problemas. 
Tanto é assim que, normalmente, os 
países que mantêm relações 
diplomáticas com aquele Estado enviam 
representantes para a posse do novo 
mandatário. Contudo, a instalação de 
um novo governo em um Estado a partir 
da desconsideraçãodo ordenamento 
jurídico vigente, tal como em casos de 
golpes de Estado e revoluções, acarreta 
a necessidade de que essa nova direção 
do Estado tenha que passar por um 
claro reconhecimento que, muitas 
vezes, chega a ser expresso. 
 
 
O desaparecimento de qualquer dos 
elementos constitutivos do Estado 
ocasiona a sua extinção total ou parcial. 
Será total, quando decorrente da fusão, 
anexação total ou desaparecimento do 
território, e parcial, quando estiver 
caracterizada, de qualquer forma, a 
restrição de sua soberania. 
A Convenção de Viena sobre Sucessão 
de Estados em Matéria de Tratados 
(1978) dispõe que a “sucessão de 
estados significa a substituição de um 
Estado por outro na responsabilidade 
das relações internacionais de um 
território”, ou seja, há uma 
transferência de direitos e obrigações 
do Estado extinto para outro Estado – 
Deve ficar claro que o reconhecimento mútuo da 
personalidade internacional só configura pressuposto 
necessário da celebração de tratados bilaterais. No 
plano da multilateralidade, a situação sempre foi 
diversa. Ninguém discute a certeza deste princípio 
costumeiro: o fato de certo Estado negociar em 
conferência, assinar ou ratificar um tratado coletivo, 
ou de a ele aderir, não implica, por sua parte, o 
reconhecimento de todos os demais pactuantes. 
 
 
anteriormente existente ou formado 
nesse ato. 
As principais modalidades de sucessão 
de estados são: 
 Emancipação: é a aquisição da 
independência de uma colônia 
em relação ao estado 
controlador; 
 Fusão: é a união de dois ou 
mais Estados para formar um 
terceiro, com nova 
personalidade jurídica 
internacional; 
 Anexação total: ocorre quando 
um Estado é absorvido 
(anexado) plenamente por 
outro, extinguindo-se a 
personalidade internacional do 
primeiro; 
 Anexação parcial: ocorre 
quando um Estado perde 
parcela de seu território em 
favor de outro. 
 
 
As primeiras organizações 
internacionais surgiram com a 
finalidade de criar condições para a 
cooperação e solução de problemas 
bastante específicos, tais como garantir 
a liberdade de navegação em 
determinados rios. Na verdade, o 
escopo da organização é conjugar 
forças, recursos e interesses em torno 
de objetivos transnacionais comuns. 
A primeira grande experiência de 
organização internacional de âmbito 
mundial foi a Liga das Nações. As 
organizações internacionais (ou 
intergovernamentais) são pessoas 
jurídicas de direito internacional que se 
caracterizam por possuir ordens 
jurídicas próprias que não se 
confundem com as dos estados que as 
integram. 
Como elas resultam da manifestação de 
vontade de sujeitos de direito 
internacional público, ou seja, de 
Estados ou de outras organizações 
internacionais, não são aceitos, em suas 
composições, sujeitos de direito 
interno, tais como indivíduos, empresas 
e organizações não governamentais. 
Podemos dizer que uma organização 
internacional é a associação voluntária 
de sujeitos de direito internacional 
(estados e outras organizações 
internacionais) constituída mediante 
ato internacional (um tratado), de 
caráter relativamente permanente, 
dotada de regulamento e de órgãos de 
direção próprios, cuja finalidade é a de 
atingir os objetivos comuns 
determinados por seus membros 
constituintes. 
A Convenção de Viena sobre o Direito 
dos Tratados de 1986 buscou disciplinar 
as normas de direito internacional 
aplicáveis ao poder convencional das 
organizações internacionais. Essas 
organizações intergovernamentais, uma 
vez constituídas, adquirem 
personalidade internacional 
independente da de seus membros 
constituintes, podendo, portanto, 
adquirir direitos e contrair obrigações 
em seu nome próprio – inclusive por 
intermédio da celebração de tratados 
com outras organizações internacionais 
e com estados, nos termos do seu ato 
constitutivo. 
 
 
É comum imaginar que somente no 
século XX os estados passaram a se 
preocupar em criar organizações 
internacionais mais estruturadas para a 
solução de problemas comuns, que 
necessitavam de uma coordenação de 
esforços para que fossem solucionados; 
contudo, não é essa a realidade. No 
século XIX, surgiram algumas iniciativas 
desse tipo, as quais redundaram na 
criação das mais antigas organizações 
internacionais, as quais ainda estão em 
plena atividade: 
 A União Internacional de 
Telecomunicações 
(International 
Telecommunication Union – 
ITU2) foi fundada em 1865 em 
Paris, tendo o nome inicial de 
International Telegraph Union; 
 A União Postal Universal 
(Universal Postal Union – UPU3) 
foi fundada em 1874. 
Também deve ser destacada a 
Conferência de Paz em Haia de 1899 
(Países Baixos), que estabeleceu 
mecanismos para a criação de tribunais 
arbitrais para resolver conflitos e 
disputas que envolvessem estados. 
Fazia parte desses mecanismos a 
criação de um escritório permanente 
localizado em Haia para registro judicial 
e secretariado dos tribunais quando 
fossem criados. Esse escritório acabou 
sendo denominado de Corte 
Permanente de Arbitragem (The 
Permanent Court of Arbitration), sendo 
estabelecido em 1900 e iniciado seus 
trabalhos em 1902. 
Essa corte é a predecessora da Corte 
Internacional de Justiça4 da ONU. Outro 
ponto histórico marcante é a criação da 
Liga das Nações (ou Sociedade das 
Nações), que foi instituída em 28 de 
junho de 1919, pelo Tratado de 
Versailles, durante a conferência 
organizada em razão do final da 
Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 
Antes mesmo do final da guerra, o 
presidente dos Estados Unidos, 
Woodrow Wilson, já havia apresentado 
uma proposta de criação dessa 
organização. 
Contudo, apesar desse entusiasmo, o 
Senado de seu país não ratificou o 
tratado, razão pela qual não houve a 
adesão daquele país àquela Liga. 
O grande propósito da Liga das Nações 
era o de estabelecer mecanismos para a 
manutenção da paz, evitando a 
ocorrência de um grande, conflito como 
a Primeira Guerra Mundial. 
Em razão do disposto no artigo 14 do 
Tratado de Versailles5, a Liga das 
Nações realizou a criação de um 
Tribunal a ela vinculado que tinha a 
função de resolver conflitos e de emitir 
pareceres consultivos em disputas que 
envolvessem estados que faziam parte 
da Liga. 
Esse tribunal, denominado Corte 
Permanente de Justiça Internacional 
(The Permanent Court of International 
Justice), foi instalado em Haia em 1922, 
dividindo o mesmo edifício da Corte 
Permanente de Arbitragem – o Palácio 
da Paz. 
Também decorrente do Tratado de 
Versailles se deu a criação da 
Organização Internacional do Trabalho 
(International Labour Organization – 
ILO), que também se vinculava à Liga 
das Nações. Apesar dos avanços, a Liga 
das Nações acabou sendo extinta em 
1946. Entre outros fatores, isso se deu 
em razão de sua incapacidade de evitar 
a ocorrência de grandes conflitos, como 
a Segunda Guerra Mundial. Em 
consequência, foi realizada a criação da 
Organização das Nações Unidas – ONU. 
 CRIAÇÃO 
A Organização das Nações Unidas foi 
fundada oficialmente em 24 de outubro 
de 1945, em São Francisco, Estados 
Unidos, por 51 países, logo após o fim 
da Segunda Guerra Mundial, sendo que 
a sua primeira Assembleia Geral foi 
realizada em 10 de janeiro de 1946 no 
Westminster Central Hall, localizado em 
Londres. 
Em 1952, foi inaugurada a sua atual 
sede, na cidade de Nova York, devendo 
ser destacado que entre as pessoas 
envolvidas na elaboração do projeto de 
suas instalações estava o brasileiro 
Oscar Niemayer. 
Seu principal documento de regência é 
a Carta das Nações Unidas que, dentre 
outros vários assuntos, indica seus 
propósitos. 
Em razão de suas características, a 
Organização das Nações Unidas tem 
como línguas oficiais as seguintes: 
chinês, francês, russo, inglês e espanhol. 
 MEMBROS 
Atualmente a ONU é compostapor 193 
estados-membros, que participaram de 
sua criação ou que, posteriormente, 
solicitaram a sua filiação nos termos do 
artigo 4 da Carta: 
1- A admissão como Membro das 
Nações Unidas fica aberta a 
todos os Estados amantes da 
paz que aceitarem as 
obrigações contidas na presente 
Carta e que, a juízo da 
Organização, estiverem aptos e 
dispostos a cumprir tais 
obrigações. 
2- A admissão de qualquer desses 
Estados como Membros das 
Nações Unidas será efetuada 
por decisão da Assembleia 
Geral, mediante recomendação 
do Conselho de Segurança. 
 ESTRUTURA 
Os principais órgãos da estrutura da 
ONU são: 
 Assembleia Geral: 
É o mais importante órgão deliberativo 
da ONU, sendo constituído por todos os 
membros dessa organização que se 
reúnem em sessões anuais (iniciadas 
em setembro de cada ano). Nela, cada 
membro tem um voto e não existe, tal 
como ocorre no Conselho de Segurança, 
o direito a veto. 
Em cada sessão, é eleito um presidente 
desse órgão. Além das sessões anuais 
regulares, podem ocorrer sessões 
especiais, as quais podem ser 
convocadas, nos termos do artigo 20 da 
Carta da ONU, a pedido: 
 Do Secretário Geral; 
 Do Conselho de Segurança; 
 Da maioria dos Membros 
das Nações Unidas. 
Há duas formas de os assuntos serem 
decididos: 
Nas chamadas questões importantes, a 
decisão se dá pela maioria de dois 
terços dos membros presentes e 
votantes. As questões importantes são 
as seguintes: recomendações relativas à 
manutenção da paz e da segurança 
internacionais; eleição dos Membros 
não permanentes do Conselho de 
Segurança; eleição dos membros do 
Conselho Econômico e Social; eleição 
dos Membros do Conselho de Tutela; 
admissão de novos Membros das 
Nações Unidas; suspensão dos direitos 
e privilégios de Membros; expulsão dos 
Membros; questões referentes ao 
funcionamento do sistema de tutela e 
questões orçamentárias; 
Nas demais questões apreciadas pela 
Assembleia Geral, a decisão se dá por 
maioria de votos dos países presentes e 
votantes. 
No que concerne às suas funções, a 
Assembleia deve discutir e fazer 
recomendações sobre temas 
relacionados às competências da ONU; 
discutir e fazer recomendações relativas 
sobre desarmamento e 
regulamentação de armamentos; 
considerar os princípios gerais de 
cooperação na manutenção da paz e da 
segurança internacionais e fazer 
recomendações relativas a tais 
princípios (artigo 11); fazer estudos e 
recomendações sobre cooperação 
internacional, nos diferentes domínios 
econômicos, culturais e sociais, 
codificação e desenvolvimento do 
Direito Internacional e fazer 
recomendações para a solução pacífica 
de qualquer situação internacional. 
 Conselho de Segurança: 
O Conselho de Segurança (CS) é órgão 
permanente da ONU, vale dizer, e 
permanece em funcionamento ao longo 
do ano. Não obstante, embora se reuna 
ordinariamente na sede da ONU, em 
Nova Iorque, nada impede que o 
Conselho realize encontros em outras 
localidades. 
É formado por quinze membros, sendo: 
➢ Cinco Membros Permanentes: 
✓ China; 
✓ Estados Unidos; 
✓ Rússia; 
✓ França; 
✓ Reino Unido. 
➢ Dez Membros Não 
Permanentes: que são 
escolhidos pela Assembleia 
Geral (AG) para um mandato de 
dois anos. 
Os Cinco Membros Permanentes ou 
Cinco Grandes são os cinco Grandes 
Vitoriosos da Segunda Guerra Mundial 
que, nessa qualidade de protagonistas, 
angariaram privilégios e poderes 
diferenciados dos demais estados. Vale 
ressaltar que os membros permanentes 
possuem o poder de veto. 
Na eleição dos Dez Membros Não 
Permanentes, devem ser considerados 
os seguintes elementos descritos no 
artigo 23.1 da Carta da ONU: 
 A contribuição dos Membros 
das Nações Unidas para a 
manutenção da paz e da 
segurança internacionais e para 
os outros propósitos da 
Organização; 
 A distribuição geográfica 
equitativa. 
Os membros do Conselho de Segurança 
(permanentes e não permanentes) se 
alternam na presidência desse órgão, 
sendo que a troca ocorre mensalmente, 
considerando para tanto a ordem 
alfabética (em inglês) do nome dos 
estados que fazem parte dele. 
Ao fazer suas recomendações, o 
Conselho de Segurança deve levar em 
consideração que as controvérsias de 
caráter jurídico devem, em regra geral, 
serem submetidas pelas partes à Corte 
Internacional de Justiça. Ao lado disso, o 
Conselho de Segurança ostenta 
atribuições outras, como a participação 
na escolha dos membros da Corte 
Internacional de Justiça. 
Pautando-se pelos princípios 
orientadores da ONU, o Conselho de 
Segurança deve buscar, precipuamente, 
uma solução pacífica para conflitos. Em 
casos extremos, ele pode impor as 
seguintes sanções: 
 A interrupção completa ou 
parcial das relações 
econômicas, dos meios de 
comunicação ferroviários, 
marítimos, aéreos, postais, 
telegráficos, radiofônicos, ou 
de qualquer outra espécie e o 
rompimento das relações 
diplomáticas; 
 Se infrutíferas as sanções do 
art. 41, poderá levar a efeito, 
por meio de forças aéreas, 
navais ou terrestres, a ação que 
julgar necessária para manter 
ou restabelecer a paz e a 
segurança internacionais. Tal 
ação poderá compreender 
demonstrações, bloqueios e 
outras operações por parte das 
forças aéreas, navais ou 
terrestres dos Membros das 
Nações Unidas. 
A imposição das sanções pelo Conselho 
de Segurança ou outro órgão da ONU 
representa uma forma de trazer o 
Estado em litígio para negociação, 
buscando prevenir a eclosão de 
conflitos armados ou a sua interrupção. 
FORÇA DE PAZ 
Embora o processo de manutenção da 
paz não seja especificamente 
mencionado na Carta das Nações 
Unidas, essa norma confere ao 
Conselho de Segurança 
responsabilidade primária pela 
manutenção da paz e da segurança 
internacionais. 
Para desempenhar essa sua missão, o 
Conselho, em muitos casos, cria missões 
de manutenção da paz. Isso é feito por 
meio da estipulação de um mandato – 
uma descrição das tarefas e dos 
objetivos que devem ser perseguidos 
pela Missão de Paz. Além disso, os 
países membros da ONU e que não 
tenham ligação com o conflito são 
convidados a participar da formação 
dessa missão, sendo que eles devem 
disponibilizar pessoal e equipamentos 
para a sua realização. 
A Força de Paz apresenta 
periodicamente ao Conselho de 
Segurança relatórios sobre as 
dificuldades e as tarefas 
desempenhadas, para que esse 
acompanhe essas medidas e, se for o 
caso, realize outras deliberações para 
que os objetivos que motivaram a sua 
criação sejam atingidos. Muito embora 
deva haver a aceitação do Estado onde 
a Força de Paz atuará, ela não se 
subordina ou se reporta a autoridades 
locais, sendo que somente há 
vinculação de suas ações ao Conselho 
de Segurança. 
PROCESSO DECISÓRIO DO CONSELHO 
DE SEGURANÇA 
Para que uma matéria seja aprovada 
pelo Conselho de Segurança, deve haver 
a concordância de, pelo menos, nove de 
seus quinze membros. Nesse particular, 
os votos dos Membros Permanentes e 
dos Membros Não Permanentes se 
equivalem. 
Contudo, para a aprovação, também é 
necessário que nenhum dos Membros 
Permanentes se utilize do poder de 
veto. Se algum ou alguns deles 
apresentar veto para a questão, não se 
considera aprovada a deliberação, 
muito embora tenham sido colhidos 
nove ou mais votos dos demais 
membros. 
Também é possível que um Membro 
Permanente se abstenha de participar 
da deliberação, situação em que não 
haverá qualquer prejuízo para a 
aprovação da questão em votação, 
sendo somente necessário que se atinja 
o quórum mínimo de deliberação – 
nove votos 
 
 Conselho Econômico e Social: 
O Conselho Econômico e Social 
(ECOSOC) é composto por cinquenta e 
quatro Membros das Nações Unidas 
eleitos pela Assembleia Geral, sendo 
que anualmente há uma renovação de 
um terço deles (18 Membros) em novas 
eleições. 
✓ Suas atribuiçõesestão descritas 
nos artigos de 62 a 66 da Carta 
da ONU, podendo ser 
destacadas as seguintes: 
Realizar estudos e relatórios a 
respeito de assuntos 
internacionais de caráter 
econômico, social, cultural, 
educacional, sanitário e 
conexos, podendo fazer 
recomendações a respeito deles 
para a Assembleia Geral, para 
os Membros das Nações Unidas 
e para as entidades 
especializadas interessadas; 
✓ Fazer recomendações 
destinadas a promover o 
respeito e a observância dos 
direitos humanos e das 
liberdades fundamentais para 
todos; 
✓ Preparar projetos de 
convenções a serem 
submetidos à Assembleia Geral 
sobre assuntos de sua 
competência; 
✓ Poderá convocar, de acordo 
com as regras estipuladas pelas 
Nações Unidas, conferências 
internacionais sobre assuntos 
de sua competência; 
✓ Estabelecer acordos com 
qualquer organização 
internacional, a fim de 
determinar as condições em 
que ela poderá se vincular à 
ONU, devendo esses atos serem 
submetidos à aprovação da 
Assembleia Geral; 
✓ Coordenar as atividades das 
entidades especializadas; 
✓ Pode fornecer informações ao 
Conselho de Segurança e, a 
pedido desse, prestar a ele 
assistência. 
Por meio do Conselho Econômico e 
Social há a integração de diversas 
organizações internacionais à 
Organização das Nações Unidas, sendo 
que essas formam as chamadas 
agências especializadas. Elas também 
são chamadas de integrantes da família 
das Nações Unidas. 
Apesar de laços formais com as Nações 
Unidas, as organizações especializadas 
não podem ser consideradas como 
sendo seus órgãos, tanto especiais 
quanto subsidiários. Elas conservam 
uma independência jurídica e de 
conteúdo. Assim, por exemplo, países 
que não fazem parte das Nações Unidas 
podem integrar os organismos 
especializados. 
 Secretariado: 
É um órgão permanente composto pelo 
Secretário Geral e pelo pessoal 
necessário à gestão administrativa da 
Organização. Nos termos do artigo 97 
da Carta da ONU, o Secretário Geral é o 
principal funcionário administrativo da 
Organização, sendo que nessa 
qualidade atuará em todas as reuniões 
da Assembleia Geral, do Conselho de 
Segurança e do Conselho Econômico e 
Social. 
O Secretário Geral, no desempenho de 
suas funções, poderá chamar a atenção 
do Conselho de Segurança para 
qualquer assunto que, em sua opinião, 
possa ameaçar a manutenção da paz e 
da segurança internacionais. Além 
disso, fazem parte de suas atribuições: 
 Exercer tarefas conferidas pela 
Assembleia Geral, Conselho de 
Segurança, de Tutela, 
Econômico e Social; 
 Fazer relatórios à Assembleia 
Geral sobre os trabalhos da 
Organização; 
 Nomear os demais integrantes 
do Secretariado, seguindo o 
regramento estabelecido pela 
Assembleia Geral; 
 Atuar na fase inicial de ameaças 
à paz. 
O Secretário Geral é eleito pela 
Assembleia Geral após prévia aprovação 
pelo Conselho de Segurança para um 
mandato de cinco anos, podendo ser 
reeleito. 
O Secretário Geral também é Presidente 
do Conselho de Coordenação dos 
Chefes Executivos do Sistema das 
Nações Unidas (CEB), que reúne os 
Chefes Executivos de todos os fundos, 
programas e agências especializadas 
das Nações Unidas duas vezes por ano a 
fim de promover a coordenação e a 
cooperação de todos eles em questões 
de maior relevância e para a gestão de 
desafios enfrentados pelo Sistema das 
Nações Unidas. 
Também é no secretariado que os 
tratados internacionais são registrados 
e depositados após a ratificação pelos 
estados que participaram de sua 
formação ou após a adesão de outros 
que, mesmo não participando de sua 
formação, concordaram expressamente 
com suas disposições. 
 Conselho de Tutela: 
Ao final da Segunda Guerra Mundial 
ainda existiam no mundo onze 
territórios aos quais a Carta das Nações 
Unidas se referia como: territórios cujos 
povos não tenham atingido a plena 
capacidade de se governarem a si 
mesmos (artigo 73). Eles eram 
constituídos, em geral, de ex-colônias 
de estados europeus. 
Para resolver a essa situação, a ONU 
estabeleceu o sistema de tutela, com o 
objetivo de dar aos povos desses 
territórios condições estruturais para 
que pudessem criar novos estados. 
Para tanto, foram designados sete 
estados-membros para que, nos termos 
do Capítulo XII da Carta da ONU, 
realizassem juntamente com o 
Conselho de Tutela essa transição. 
Todos esses territórios adquiriram a sua 
independência ou se juntaram a outros 
estados já constituídos, sendo que o 
último deles foi República de Palau (na 
Oceania), em 1994. 
Atingido o seu objetivo, o Conselho de 
Tutela suspendeu suas atividades em 
novembro de 1994, mas poderá se 
reunir quando necessário: 
✓ Por decisão de seu Presidente; 
✓ A pedido da maioria de seus 
membros; 
✓ Por decisão da Assembleia 
Geral ou do Conselho de 
Segurança. 
Parte de suas competências, contudo, 
foi destinada ao Quarto Comitê da 
Assembleia Geral, que foi encarregado 
de tratar da política de descolonização 
das Nações Unidas. 
 Corte Internacional de Justiça: 
Como parte dos esforços pela paz que 
resultaram na criação da Organização 
das Nações Unidas, também houve a 
criação da Corte Internacional de Justiça 
(CIJ). 
Trata-se de um órgão permanente da 
ONU, dotado de dupla função 
jurisdicional: 
 Consultiva; 
 Contenciosa – em matéria não 
penal. 
Esse órgão jurisdicional, cuja sede está 
instalada no Palácio da Paz, em Haia, foi 
criado na mesma Convenção de São 
Francisco que finalizou as tratativas 
para a criação da Organização das 
Nações Unidas, razão pela qual seu 
Estatuto (seu principal instrumento 
normativo) encontra-se anexado à Carta 
das Nações Unidas. 
O Estatuto da CIJ só admite a jurisdição 
de estados, dessa forma, indivíduos e 
organizações internacionais não têm 
legitimidade para apresentar seus 
litígios junto a esse órgão. 
Todos os membros da ONU podem 
apresentar questões a serem 
submetidas à CIJ, contudo, 
excepcionalmente, esse órgão também 
estará aberto a questões que envolvam 
estados que não fazem parte das 
Nações Unidas. 
Uma característica dos litígios 
apresentados na CIJ é que os estados-
parte não precisam firmar qualquer 
compromisso prévio de 
reconhecimento da jurisdição desse 
órgão. 
Também deve ser destacado que a 
apresentação do litígio por um Estado 
não precisa contar com a prévia 
concordância do outro Estado litigante. 
Os juízes têm mandatos de nove anos, 
sendo franqueada a recondução. 
O processo de escolha dos juízes da CIJ 
envolve três etapas: 
✓ Escolha realizada pela Corte 
Permanente de Arbitragem; 
✓ Eleição pelo Conselho de 
Segurança da ONU; 
✓ Eleição pela Assembleia Geral 
da ONU. 
Há toda uma preocupação para que não 
haja qualquer alegação que a 
nacionalidade dos juízes possa 
influenciar na decisão da CIJ; dessa 
forma, seu estatuto estabelece uma 
forma de equilibrar essa situação. 
Como dispõe o dispositivo acima, 
podem ser convocados juízes ad hoc 
(não permanentes) para atuarem em 
um determinado litígio. 
Por exemplo, em 2013, a CIJ iniciou o 
processamento de um litígio que 
envolvia a Bolívia e o Chile. Alegava a 
Bolívia que o Chile deveria restituir-lhe 
um território que anteriormente lhe 
pertencia e que lhe garantiria acesso ao 
Oceano Pacífico. Nesse processo, 
aturam dois juízes ad hoc, um indicado 
por cada Estado-Parte, nos termos do 
artigo 31.3 do Estatuto. 
Dentro da competência da CIJ firmada 
no artigo 36 de seu Estatuto, devem ser 
destacadas as seguintes matérias: 
 Qualquer ponto de direito 
internacional; 
 A existência de qualquer fato 
que, se verificado, constituiria 
violação de um compromisso 
internacional; 
 A natureza ou extensão da 
reparação devida pela ruptura 
de um compromisso 
internacional. 
 
O Mercosul foi concebido com o 
objetivo de consolidar a integração 
política, econômicae social entre os 
países que o integram com vistas a criar 
um mercado comum. 
Seus membros originários são: Brasil, 
Argentina, Paraguai e Uruguai. Seu 
principal marco regulatório é o Tratado 
de Assunção, concluído na cidade de 
Assunção, no Paraguai, em 26 de março 
de 1991. 
A bandeira do Mercosul é formada pelo 
Cruzeiro do Sul e o horizonte do qual 
emerge. O Cruzeiro do Sul foi escolhido 
porque representa o principal elemento 
de orientação do Hemisfério Sul e, para 
o Mercosul, simboliza o rumo otimista 
de integração regional que se pretende 
dar aos países membros. Os idiomas 
oficiais são o português e o espanhol. 
O Mercosul tem personalidade jurídica 
internacional e funciona como uma 
união aduaneira. Ainda como 
propósitos do Mercosul, podemos 
apontar: a adoção de uma política 
comercial comum em relação a 
terceiros estados; a coordenação de 
políticas setoriais e macroeconômicas e 
a harmonização legislativa. 
Outra função atribuída ao Mercosul 
cinge-se à mediação de conflitos entre 
seus membros, razão pela qual essa 
organização internacional possui 
instrumentos para dirimir controvérsias 
afetas às suas competências. Em 2012, 
a Venezuela passou a integrar o 
Mercosul como membro efetivo. 
Desde de 2012, a Bolívia está em 
processo de adesão. Os demais estados 
da América do Sul (Chile, Peru, 
Colômbia, Equador, Guiana e Suriname) 
são Estados Associados ao Mercosul.

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