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Distúrbios Motores do Esôfago ● Caso clínico: - Paciente, masculino, 40 anos, procura atendimento médico por estar apresentando, nos últimos 6 meses, dificuldade para deglutir os alimentos (disfagia), com sensação de entalo (esofágica), em todas as refeições, pior para os alimentos sólidos e que melhora com o uso de líquidos. Nega perda ponderal. - Refere que de longa data é portador de doença do refluxo e que nunca conseguiu ficar 100% assintomático apresentando diariamente regurgitação noturna. Nega pirose e refere que tem várias endoscopias realizadas e que todas foram normais. - Nega outras comorbidades, cirurgias, hábitos ou vícios ou medicações em uso. - Apresenta exames endoscópicos, laboratoriais (incluindo marcadores inflamatórios e sorologia para Chagas negativa) - Perguntas: • Qual é o principal diagnóstico sindrômico do caso ? Síndrome disfágica • Como caracterizar a disfagia? Disfagia de condução/esofágica/baixa • Como investigar? Esofagograma baritado e Manometria Esofágica • Qual o provável diagnóstico? • Como tratar? ● Anatomia do Esôfago: - O esôfago é um órgão tubular (conecta a boca ao estômago) de aproximadamente 20- 22cm que atravessa 3 compartimentos: • Cervical – Esfíncter Esofageano Superior (EES) • Torácico - corpo esofágico • Abdominal – Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) - Apresenta 2 tipos histológicos distintos: • 1/3 superior → Fibras musculares esqueléticas estriadas • 2/3 inferiores → fibras musculares lisas - Sua inervação: > Musculatura estriada do 1/3 superior: inervada pelo Glossofaríngeo (IX) e Vago (X) → mecanismo mais central do SN > Musculatura lisa dos 2/3 inferiores: inervação vago (X) via plexo mioentérico • Principal neurotransmissor excitatório: acetilcolina • Principal neurotransmissor inibitório: óxido nítrico ● Fisiologia da deglutição: - Deglutição: é a passagem do bolo alimentar desde a boca até o estômago: - Divide-se em 2 fases: > Orofaríngea/transferência: • É a fase da passagem do bolo alimentar vindo da boca até o EES. • Orientada por musculatura estriada • Parte consciente (o engolir) ↳ nós mastigamos o alimento em movimentos circulares → com ajuda da língua vai misturar o alimento com a saliva → facilitando a deglutição • Termina após passagem do bolo alimentar no EES • Elementos que participam desta fase: língua, palato duro e mole, faringe, epiglote e EEI > Esofágica/condução: • ocorre nos 2/3 inferiores esôfago • Inervação feita pelo Plexo de Auerbach – Rede de interneurônios que se comunicam determinando os movimentos peristálticos de modo que: * Adiante do bolo alimentar → Relaxa (liberação de NO) → * A montante do bolo alimentar → Contrai (neurônios excitatórios colinérgicos) - Para deglutição 3 componentes precisam funcionar: > EES: ● Função: Manter o esôfago proximal fechado. Abrir nas deglutições e eructações ● Abertura depende: da cessação do estímulo colinérgico, elevação e anteriorização da laringe e pulsão do bolo > Corpo esofágico: ● Função: : Conduzir o alimento da faringe para o estômago LIA DE OLIVEIRA JEREISSATI ● Peristalse Primária: Onda de contração peristáltica reflexa desencadeada pela deglutição. ● Peristalse Secundária: Onda de contração peristáltica reflexa desencadeada pela distensão esofágica (presença do alimento) > EEI: ● Zona de alta pressão que se estende por 2-5cm no esôfago distal ● Tônus basal: miogênico, quando é colinérgico é excitatório e quando nitrérgico é inibitório ● Relaxamento: reflexo à deglutição. ● Relaxamento transitório: eructação, vômito e RGE. (refluxo gastroesofágico) - Ou seja, quando o alimento passa pela boca → existe liberação do NO → o que está adiante precisa relaxar → Tem uma cessação do estímulo colinérgico → Anatomicamente existe uma elevação e anteriorização da laringe para pulsão do bolo ● Disfagia: - É a dificuldade que o bolo alimentar tem para passar do bolo alimentar até o estômago - Pode ser classificada em: > Orofaríngea: causada por doenças neuromusculares • Disfagia orofaríngea/alta/transmissão: causada por doenças que alteram a motilidade da musculatura estriada (1/3 superior do esôfago). • Referida pelo paciente como "engasgo" → quando o paciente se engasga ele está tendo algum problema na parte superior. • Causas principais: * Lesões neurológicas acima do tronco cerebral * Alterações do sistema extrapiramidal * Lesões do tronco cerebral * Lesões dos neurônios motores periféricos * Miopatias e doenças da junção neuromuscular * Complicações de cirurgia de cabeça e pescoço; RTP; tireoidopatias e lesões da coluna cervical > Esofágica: causada por doenças estruturais e distúrbios motores • Disfagia esofágica/baixa/condução: doenças que alteram a motilidade da musculatura lisa (2/3 distais do esôfago). • Referido pelo paciente como “Entalo” no pescoço ou no tórax • Causas principais: * Alteração da inervação inibitória (PME) * Alteração da inervação excitatória (PME) * Doenças da musculatura lisa • Essas doenças vão causar: * Relaxamento inadequado do EEI * Defeitos na contração peristáltica ● Diagnóstico - É preciso uma boa anamnese + exame físico - Depois topografar o problema → a partir disso observar se é uma disfagia de condução ou transferência - Exames complementares: * manometria esofágica: avalia contratilidade do órgão * Endoscopia Digestiva Alta → Identificar lesões obstrutivas ou processos inflamatórios do esôfago. * Esofagograma Baritado → Exame contrastado do esôfago → Avaliação estrutural do esôfago e Estudo do esvaziamento esofágico * Manometria esofágica → Exibição dos dados via mapa topográfico de pressão – representado através de imagens dinâmicas coloridas espaço x tempo. → Avalia pressão de repouso e relaxamento dos esfíncteres durante a deglutição; e Força e velocidade da contração do corpo durante a deglutição. LIA DE OLIVEIRA JEREISSATI ● Distúrbios motores do esôfago: - Podem acontecer por: > Relaxamento inadequado do Esfíncter Esofagiano Inferior > Defeitos na contração peristáltica ● Acalásia: - É o relaxamento incompleto ou ausente do Esfíncter Esofagiano Inferior + Aperistalse do corpo esofágico distal - Não é uma doença tão comum - não tem predominância por sexo - Pode ocorrer em qualquer idade : • 1º pico: 20-10 anos • 2º pico: 6ª década - Classificação: > Primária - idiopática (sem causa definida) + comum • Ocorre um fenômeno auto-imune desencadeada pela infecção pelo vírus → leva a inflamação nos gânglios do plexo de Auerbach → terá uma reação autoimune com destruição progressiva das células nervosas > Secundária - secundária doença • Doença de Chagas mais comum • Sd paraneoplásica > Pseudoacalásia – Quando tem Infiltração da Junção esofagogástrica por neoplasia ou amiloidose e acaba deixando o esfíncter mais tônico por infiltração - Fisiopatologia da Acalásia: > Na deglutição normal: • Existe uma onda peristáltica de relaxamento → causada pelos neurônios inibitórios que secretam NO que exerce efeito relaxante → levando ao relaxamento do EEI, facilitando a passagem do alimento para o estômago > Na Acalásia: • Degeneração do plexo de Auerbach (plexo mioentérico): acomete interneurônios inibitórios e os excitatórios (são acometidos de forma variável) - Fisiopatologia das 2 principais causas de acalásia: > Idiopática → lesão do neurônio inibitório > Chagas → lesão do neurônio inibitório/excitatório - Quadro clínico: > Disfagia progressiva – 40% não se queixam pois se adaptam ao sintoma → começam uma disfagia com alimentos sólidos, e ingerem líquido para deglutir > Regurgitação → já que o esfíncter não relaxa > Dor torácica → Esôfago cheio de alimento > Pirose > Perda de peso > Halitose > Broncoaspiração > Tosse noturna - Quadro clínico - Escore de Eckardt: * Utilizado principalmente após o tratamento, para vê se o tratamento está funcionando * Avalia: Perda de peso, disfagia, dor torácica e regurgitação • < ou = 3 pontos: Remissão • 4 ou + : Falha Terapêutica - Diagnóstico: • EDA – pode ser normal em 50% dos casos • Esofagograma Baritado (“bico de pássaro”) LIA DE OLIVEIRA JEREISSATI• Manometria esofagiana (padrão ouro) > Manometria de alta resolução tem uma Classificação de Chicago: - Tratamento da acalásia: > Não tem cura, só controle > Principais objetivos: ● Reduzir Sintomas ● Restaurar Peristalse (não é possível de alcançar) ● Diminuir a pressão no EEI > Opções: ● Farmacológico oral ● Endoscópicos: * Farmacológico Botox * Dilatação pneumática * Miotomia Endoscópica Perioral (POEM) ● Cirúrgico * Miotomia Laparoscopica a Heller + Fundoplicatura parcial * Esofagectomia Subtotal > Dilatação pneumática: ● Complicação: pode perfurar o esôfago ● Espasmo Esofagiano Difuso: - É conhecido por “Esôfago em saca-rolha “/ “Esôfago em contas de rosário” - Ocorrem Contrações não peristálticas, múltiplas e simultâneas ao longo do corpo esofágico - Comum em mulheres jovens, algumas vezes com distúrbio psiquiátrico associados LIA DE OLIVEIRA JEREISSATI - Fisiopatologia: • Desequilíbrio entre a inervação inibitória (óxido nítrico) e colinérgica no plexo mioentérico. • Alteração na síntese e degradação do óxido nítrico - Quadro clínico: • Cólica esofágica – dor retroesternal em aperto/ irradiação para pescoço, mandíbula • Disfagia intermitente tanto para sólidos como para líquidos • Distúrbio psicossomáticos (ansiedade/depressão) • Outros: Regurgitação, pirose, náuseas, vômitos, perda ponderal - Diagnóstico: • Esofagograma Baritado → só dá pra ver quando a mulher estiver com dor, bem na hora • Manometria prolongada (sens 90%; espec 100%) • Contrações simultâneas, prolongadas (>2,5s) e/ou amplitude > 120 mmHg (peristalse normal) - Tratamento: • Relaxamento da Musculatura Lisa: Nitrato, Anticolinérgicos e Bloqueadores dos canais de cálcio • Ansiolíticos • Antidepressivos Tricíclicos • Tratamento de DRGE geralmente associada • Miotomia cirúrgica longitudinal LIA DE OLIVEIRA JEREISSATI