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Auditorias e Sistemas de Certificações Leandro Cardoso da Silva 2 SUMÁRIO 1 QUALIDADE E AUDITORIA .................................................................... 3 2 AUDITORIA DA QUALIDADE ............................................................... 15 3 OPERAÇÃO DE AUDITORIA ................................................................ 28 4 PROCESSO DE AUDITORIA ................................................................. 43 5 DILIGENCIAMENTO DE AUDITORIA .................................................... 76 6 CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE .......................................................... 95 3 1. QUALIDADE E AUDITORIA Apresentação Qualidade e auditoria são conceitos intimamente relacionados. Se considerarmos os significados que tradicionalmente são atribuídos e esses termos no contexto corporativo, poderemos dizer que qualidade é atender às necessidades do cliente e que auditoria é um tipo de averiguação. Desta forma, pode-se afirmar que a auditoria age como um representante do cliente dentro da organização, pois garante que todos os cuidados a ele voltados estarão devidamente ancorados em normas de qualidade, sendo estas devidamente asseguradas por certificação. Estes assuntos serão abordados de maneira mais aprofundada no decorrer deste bloco. 1.1 Entendendo a Qualidade O domínio do fator qualidade por parte dos auditores das empresas tornou-se, no transcorrer dos tempos, uma importante necessidade no cenário mundial. Ainda que as possibilidades de capacitação e o campo de experiência destes auditores quanto às normas de qualidade (como as Normas ISO, por exemplo) estejam cada vez maiores, o que se tem visto no cenário dos negócios é uma deficiência na aplicabilidade destes conhecimentos normativos no dia a dia empresarial. O entendimento do negócio, em si, se faz necessário, principalmente, ao refletirmos sobre o papel do gestor de qualidade que está mudando sua posição para deixar de ser um mero inspetor para se tornar um representante do cliente dentro da empresa. Nesse sentido, o mercado, representado pelos clientes, vem exigindo dos auditores o domínio de importantes ferramentas de qualidade como o benchmarking (processo de conhecimento da concorrência) e o controle estatístico de processos que, junto às normas de qualidade, garantirão que os requisitos estabelecidos e exigidos pelos clientes serão acompanhados e cumpridos no oferecimento de bens ou serviços. O conceito de qualidade está sempre evoluindo e, com o passar do tempo, passa por mudança de perspectiva em diversos aspectos: 4 No passado, a qualidade era vista como sendo de responsabilidade do pessoal de fábrica que documentava as lições aprendidas com os erros. Hoje, acredita- se que esse tema deve ser uma preocupação de toda a empresa. Antigamente, o aumento da qualidade era traduzido como aumento dos custos. Atualmente, esse mesmo conceito significa a diminuição dos gastos e, por tabela, o aumento no fluxo dos negócios. Antes, a qualidade era focada no ambiente interno da empresa. Hoje, o conceito de qualidade está voltado ao cliente. No passado, para se obter qualidade era necessária certa rigidez dos supervisores. Atualmente, os próprios colaboradores desejam produzir com cada vez mais qualidade. Antes, a qualidade era pensada no momento do projeto. Hoje existe a consciência de que a preocupação com a qualidade deve se dar antes mesmo do projeto e continuar até garantir a satisfação total do cliente. A qualidade precisa ter uma gestão própria para si, com um planejamento apropriado ao negócio e um controle que zele para que essa estratégia seja cumprida. Esta preocupação é provocada por uma visão preventiva e proativa, envolvendo autoridade e responsabilidade para evitar possíveis anomalias que possam interferir na qualidade. Isso se dá por meio de diversas ações, dentre elas: Treinamentos contínuos; Planejamentos de processos atualizados; Seleção de fornecedores que compartilhem a mesma consciência de qualidade; Documentações de controle adequadas ao processo; Perfeita rastreabilidade dos produtos ou serviços. 5 1.2 Sistema da Qualidade Existe, cada vez mais, uma preocupação do mundo corporativo em atender às exigências do mercado consumidor. Nesse sentido, conforme ilustrado na Figura 1.1, a qualidade é usada pelas organizações como “cartão de visitas” junto aos clientes, aumentando sua competitividade frente ao cenário nacional e também atendendo às exigências da globalização, no mercado internacional. Fonte: Elaborada pelo autor Figura 1.1 – Cenário atual da qualidade Para alcançar os padrões exigidos pelo mercado, as organizações precisam aderir ao Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). Podemos afirmar que o SGQ é uma ferramenta que conecta diversos elementos que estão totalmente em sinergia com a estrutura organizacional para cumprir as estratégias de qualidade e foco. Pode-se dizer, também, que o SGQ representa os interesses dos clientes dentro da empresa, visando a busca de melhorias nos serviços e processos. Uma das ferramentas que iremos abordar mais adiante é a própria norma ISO (International Organization for Standardization) que criou e utiliza, dentre outras séries, a ISO 9001. QUALIDADE 6 O SGQ irá possibilitar à empresa expandir seus negócios no mercado perante os stakeholders, isto é, o público envolvido no processo empresarial, compreendendo clientes, fornecedores, colaboradores, gestão pública e demais partes interessadas no projeto ou empreendimento. Para que a empresa obtenha sucesso na Gestão de Qualidade, ela deve colocar em prática os sete princípios propostos pelo SGQ, conforme a figura a seguir: Fonte: Elaborado pelo autor Figura 1.2 – Os sete princípios da qualidade, conforme a SGQ Detalhando estes princípios de qualidade, temos: Foco no Cliente – A satisfação das necessidades do cliente com o objetivo de fidelizá-lo. Este deve ser o principal objetivo da empresa. Liderança – A busca e consequente desenvolvimento de liderança entre as equipes de trabalho é essencial, pois abastecer os comandados de informações e recursos traduz a liderança participativa e servidora. Engajamento das Pessoas – Os problemas da organização devem ser considerados do interesse de todos os colaboradores. 7 Abordagem por Processos – As análises de entradas e saídas da empresa traduzem a abordagem de processo, podendo oferecer uma perspectiva dos lucros e custos. Melhoria Contínua – A busca constante da melhoria é o principal alvo do SGQ. Tomada de Decisões baseada em Fatos – Para melhorar continuamente seus produtos e serviços, as organizações devem tomar decisões amparadas por ferramentas precisas como auditorias, análises e indicadores. Gestão de Relacionamentos – É imprescindível manter o relacionamento com fornecedores engajados, estabelecendo uma parceria em qualidade (Comakership) assegurada com benefícios trocados, além de uma política comercial com melhores preços, prazos e condições de pagamento. Para ser implantado dentro das empresas o SGQ, deve passar por um processo de certificação. Esse tópico será abordado mais profundamente em momento oportuno. 1.3 Auditoria da Qualidade 1.3.1 Aspectos gerais da Auditoria da Qualidade Para que a qualidade seja atingida, são necessárias ferramentas gerenciais que possam melhorar o processo de avaliação, confirmação ou verificação das atividades da empresa. Uma destas técnicas é a auditoria da qualidade. Toda empresa apresenta problemas que surgem, normalmente, devido à ineficiência nos processos. Eles podem ser provocados pela incompetência de colaboradores ou por falhas no próprio sistema de gestão da empresa. Neste momento, faz-se necessáriaa auditoria da qualidade que é constituída por processos que agregam colaboradores, fornecedores e clientes, tornando-se uma ferramenta positiva e construtiva. Um dos seus maiores benefícios é não estabelecer uma “política de perseguições”, punições ou “jogos de culpa”. Uma definição oficial de Auditoria da Qualidade vem da norma internacional ISO 8402- 1986. Trata-se de um exame sistemático e independente para determinar se as atividades da qualidade e respectivos resultados cumprem as providências planejadas e se estas medidas são implementadas de maneira eficaz e adequada para atingir os objetivos da organização (MILLS, 1994). 8 A auditoria da qualidade está diretamente envolvida no gerenciamento do Sistema de Gestão da Qualidade de qualquer empresa. Isso ocorre devido à disponibilização de dados para avaliar e melhorar, por meio de um aperfeiçoamento da a eficácia e da eficiência do sistema. É importante ressaltar que a Auditoria de Qualidade não pode ser: Uma alternância em qualquer operação de inspeção – A Auditoria da Qualidade não deve assumir um papel, apenas, operacional, pois é, acima de tudo, um processo gerencial. Um álibi para um possível programa de qualidade ou inspeção errôneo – A Auditoria da Qualidade não pode se limitar às ações automáticas que servem de desculpas para quando algo dá errado. Em outras palavras, os procedimentos não devem ser “feitos por fazer”. Utilizada na execução de qualquer ação de verificação que efetive a rejeição dos produtos ou serviços – A realização de auditorias que tem, somente, função corretiva não é o caminho correto para tratar rejeições. Devem ser realizados procedimentos mais abrangentes, isto é, preventivos e preditivos. Podemos dizer que os motivos ou objetivos da realização de auditorias da qualidade são: Verificar se os procedimentos de qualidade da empresa estão em conformidade com as normas do cliente; Verificar a aderência entre a qualidade e o processo de tomada de decisão; Verificar a conformidade entre as especificações do cliente e as especificações de qualidade do produto ou serviço; Indicar qual a medida de eficácia da qualidade e efetuar possíveis melhorias; Apontar quais os problemas de qualidade com relação aos produtos e serviços; Efetuar uma visão estratégica de qualidade dentro da empresa. 9 1.3.2 Envolvidos na Auditoria da Qualidade Existem três participantes que integram, funcionalmente, a Auditoria da Qualidade: O Auditor – Uma ou mais pessoas capacitadas e qualificadas para planejarem e conduzirem a operação de auditoria conforme os requisitos da norma, podendo ser internos ou externos. O Cliente – Organização que solicita a uma empresa auditora que realize a inspeção. O cliente deverá definir a finalidade e o nível de desempenho das informações proferidas pelo auditor para que o mesmo tenha uma fonte comparativa. A Auditada – Empresa que irá sofrer a auditoria. Pode ser uma organização de grande porte, uma divisão, um serviço, um processo, ou um centro de custo particular (Exemplo de Centro de Custo: Estoques de Produto Acabado e/ou de Matéria-Prima). Os participantes de um processo de Auditoria da Qualidade poderão entrar em cena em um acontecimento específico ou em ações repetitivas, de acordo com a política estabelecida pelo cliente, seja no sistema de qualidade, no serviço, no produto ou no processo auditado. 1.4 Tipos de Auditoria da Qualidade Nas empresas, as Auditorias da Qualidade podem ser divididas da seguinte maneira: 1.4.1 Auditoria da Qualidade por Finalidade (Por quê) Pode ser subdividida em: Auditoria da adequação da qualidade – Focada na validação da documentação. Auditoria da conformidade da qualidade – Focada na validação das atividades do sistema da qualidade. 10 1.4.2 Auditoria da Qualidade por Objeto (O quê) Pode ser subdividida em: Auditoria do programa de qualidade - Focada em adequar os documentos que constituem as políticas e procedimentos necessários para se atingir um determinado nível de qualidade. Auditoria do sistema de qualidade – Focada em analisar e avaliar a aplicabilidade do sistema de qualidade, seja em toda a empresa ou em um produto, processo ou serviço específico. Auditoria da gestão da qualidade – Focada em revisar e avaliar as várias responsabilidades e ações da gerência e da equipe de qualidade, com o objetivo de avaliar o quanto as atividades desses grupos contribuem para os resultados da organização. Auditoria da qualidade do produto – Focada em analisar todos os componentes do processo e do sistema de qualidade de um produto em específico. Auditoria da qualidade do processo – Focada em analisar todos os componentes e o sistema de qualidade de um processo em específico. Auditoria da qualidade de serviço – Focada em analisar todos os componentes do processo e do sistema de qualidade de um serviço em específico. 1.4.3 Auditoria da Qualidade por Natureza (Quem) Esse tipo de auditoria tem como foco a relação entre o auditor e o auditado. Pode ser subdividida em: Auditorias internas da qualidade - Realizadas por auditores que fazem parte do quadro de colaboradores da empresa auditada. Auditorias externas da qualidade – Realizadas por auditores que não pertencem ao quadro de colaboradores da empresa auditada. 11 1.4.4 Auditoria da Qualidade por Método (Como) Pode ser subdividida em: Auditoria da qualidade com foco no local – Centraliza-se nos fatores do programa da qualidade que possuem influência sobre uma determinada localidade ou operação dentro de uma empresa. Auditoria da qualidade com foco na função – Centraliza-se em determinada função ou elemento do programa da qualidade. 1.5 Aplicabilidade da Auditoria da Qualidade As aplicações da auditoria podem variar de acordo com o serviço abordado ou com a atividade industrial em questão. Elas se fazem presentes nas auditorias externas e internas, conforme o descrito a seguir: 1.5.1 Auditoria externa da Qualidade Aplicam-se às seguintes situações: Certificação ou homologação do sistema da qualidade – Várias agências nacionais possuem programas que auditam o sistema de gestão de qualidade de uma empresa, usando como referência à norma nacional ou internacional e fornecem, então, a homologação para os programas aprovados. Avaliação do fornecedor – Efetua-se uma análise do potencial do fornecedor a partir de sua estabilidade financeira, capacidade de desenvolvimento de projetos, capacidade de manufatura e se possui ou não um sistema de gestão de qualidade. Lista de fornecedores qualificados pela corporação – Os fornecedores aprovados na avaliação de uma organização servirão como ponto futuro para acordos comerciais e corporativos de compras. Seguro de responsabilidade legal do produto – Um sistema eficaz e eficiente de gestão da qualidade reduz a probabilidade de ações indenizatórias. Uma assessoria jurídica será utilizada para a prevenção de casos e para o acompanhamento de casos efetivos. 12 Prêmios de seguro de responsabilidade do produto - São previstos com base nos negócios feitos, nos riscos de ocorrências de ações de responsabilidade legal e no custo do litígio de uma eventual ocorrência. Controles normativos: As agências auditam as empresas para determinar a observância de regulamentos e do sistema de gestão da qualidade. Certificação do produto: A homologação ou a certificação do produto é realizada pela agência homologadora após inspeções e testes com os itens manufaturados. Certificação do processo: A homologação ou a certificação do processo é idêntica à do produto, porém o objeto de avaliação passa a ser o processo ou instalações. Auditorias para avaliação e melhoria do sistema de qualidade – É geralmente realizada por especialistasexternos de sistemas de gestão de qualidade contratados. 1.5.2 Auditoria interna da Qualidade Aplicam-se às seguintes situações: Auditoria do sistema de gestão da qualidade – Realizada para determinar o índice de conformidade das atividades de uma empresa ao seu programa de qualidade, além disso, também avalia a eficácia do programa. Revisão pela gerência – A gerência da empresa, por meio desta revisão, demonstra seu total interesse no aperfeiçoamento da operação. Revisão do desempenho – Comparam as análises das auditorias aos objetivos das empresas. Auditoria de Qualidade do produto – Focada nos fatores do sistema relacionados a um determinado produto. Auditoria da qualidade do processo – Focada nos fatores do sistema relacionados a um determinado processo. Auditoria da qualidade do serviço –Focada nos fatores do sistema relacionados a um determinado serviço. 13 Decisão por amostragem – Valida a capacidade das pessoas em tomar decisões da qualidade no dia a dia. Auditoria de processamento de dados – Avalia se os programadores estão seguindo o programa de qualidade do software aprovado. Auditoria da qualidade de serviço a cliente: Avalia se o atendimento ao cliente está sendo feito de acordo com o documento do programa de qualidade validado. Conclusão A qualidade, tanto no setor de serviços, quanto no de produtos, prima pela satisfação do cliente. Com o advento de seguros que fornecem garantias e ações tanto preventivas, quanto corretivas, as organizações passaram a se escorar em ferramentas que lhes resguardassem essa segurança. Por volta dos anos 1960, teve início um processo mais intenso de utilização das auditorias como ferramenta para examinar e apontar fraquezas ou setores problemas dentro das empresas. As Auditorias da Qualidade se enquadram, então, neste processo de apontamentos, correções e propostas de melhoria contínua de falhas, alertando os gestores das empresas e orientando-os sobre como medir e aprimorar os seus processos de qualidade, até mesmo sem normas ou regulamentos. A análise dos processos poderá identificar e sinalizar aos gestores se os processos estão aderentes aos requisitos especificados pelo cliente e, caso ocorram não conformidades, quais ações deverão ser efetuadas para correção e continuidade de um fornecimento eficaz. Neste sentido, a auditoria se insere em um contexto muito maior do que avaliar a qualidade de um produto ou serviço específico. Ela evidencia uma visão sistêmica sobre o processo e possíveis melhorias para a obtenção de resultados mais satisfatórios. 14 Este bloco mostrou um entendimento da qualidade e do sistema de gestão da qualidade dentro das empresas e sua necessidade de atender aos requisitos dos clientes dentro de um padrão de satisfação de bens ou serviços. Referências O’HANLON, T. Auditoria da qualidade com base na ISO 9001:2000: conformidade agregando valor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. MILLS, C. A. A auditoria da qualidade: uma ferramenta para avaliação constante e sistemática da manutenção da qualidade. São Paulo: Makron Books. 1994. 15 2. AUDITORIA DA QUALIDADE Apresentação A auditoria, por si só, consiste na prestação formal de contas por meio de comprovantes, relatórios e pessoas que testemunhem. O processo deve ser extremamente formal e contar com a participação efetiva de pessoas e com a análise de evidências e informações muito objetivas. É somente dessa forma que se adquire maior confiabilidade frente à alta direção da empresa. Por esta razão, neste bloco, veremos o gerenciamento, as documentações, a iniciação, o planejamento e os recursos necessários para a aplicação de uma Auditoria de Qualidade. 2.1 Gerenciamento da Auditoria da Qualidade Quando falamos de gerenciamento da auditoria da qualidade, estamos nos referindo a um conjunto de procedimentos voltados para o planejamento, acompanhamento e conclusões do processo de Auditoria que envolve três partes principais: empresa auditora, organização auditada e cliente. A responsabilidade de cada um no processo de auditoria independe do relacionamento existente entre os mesmos. Este gerenciamento da auditoria da qualidade pode se dividir em duas vertentes: gerenciamento administrativo e gerenciamento tecnológico. É o que veremos em detalhes a seguir: 2.1.1 Gerenciamento Administrativo No contexto de uma auditoria da qualidade, a cooperação da gestão é fundamental para a obtenção dos dados que subsidiarão todo o processo. Entretanto, quando ocorre uma participação deficitária ou tendenciosa por parte do corpo gerencial, torna-se extremamente difícil ou quase impossível para a auditoria da qualidade obter informações necessárias e precisas. 16 A empresa auditora (considerando-se seu corpo de auditores, auditores líderes, coordenadores de auditoria etc.) deve seguir a mesma performance gerencial da direção estratégica da empresa contratante. 2.1.2 Gerenciamento Tecnológico A vertente tecnológica da gerência pode ser utilizada no processo de auditoria da qualidade. Estas atividades gerenciais participam da auditoria com implicações e responsabilidades específicas, envolvendo processos, equipamentos ou matérias primas. Em algumas situações, os aspectos tecnológicos ou específicos são utilizados para resolver situações de conflito dentro do processo de auditoria da qualidade. Podemos citar, como exemplo, uma inspeção em uma empresa química na qual a auditora somente possua conhecimento de auditoria e não tenha domínio dos aspectos técnicos que a permitiriam entender os procedimentos e minimizar os conflitos. Neste caso, a auditoria em tempo e qualidade só seria viável se a gerência da empresa química prestasse o devido suporte à auditora, fornecendo os conhecimentos técnicos necessários. Em uma situação de auditoria para coletar evidências que pesem a favor de uma parte que reclama em uma investigação de litigio ou de responsabilidade civil, o auditor deve manter uma postura construtiva, apesar da situação conflitante, afinal, o clima e a experiência devem ser positivos para cada uma das partes participante do processo. A Figura 2.1 mostra o ciclo tradicional do gerenciamento, onde os aspectos tecnológicos do gerenciamento da auditoria da qualidade são destacados em espiral dentro de um processo de melhoria contínua: 17 Fonte: Elaborado pelo autor Figura 2.1 – Ciclo Tradicional do Gerenciamento O ciclo tradicional do gerenciamento pode ser aplicado, tanto na parte interna, quanto na externa da auditoria da qualidade. Apesar de a auditoria da qualidade ocorrer de forma isolada dentro da empresa, ela se comporta como outras funções operacionais, dependendo de colaboradores ou departamentos para que o trabalho flua corretamente e no momento programado. Se caracterizando como uma função ou departamento isolado, a auditoria da qualidade pode ser analisada por meio da “arvore funcional” que é usada para analisar e examinar as principais funções de uma empresa. Ela começa, em primeiro nível, com uma função principal (função A, na Figura 2.2) e passa por subdivisões de segundo nível que estão ligadas à função principal (funções AA, AB e AC, na Figura 2.2). A árvore poderá ter vários outros níveis, dependendo de sua estrutura organizacional. Os relacionamentos entre os níveis ficarão mais evidentes durante o uso de um sistema de numeração, como ilustrado na figura a seguir: 18 Fonte: MILLS (1994) Figura 2.2 – Níveis da árvore funcional O gerenciamento da auditoria da qualidade pode se subdividir nas funções de segundo nível, conforme mostra a Figura 2.3, combinando funções básicas de auditoria. Estas funções da auditoria da qualidade de primeiro e segundo nível são identificadas na Figura 2.3, sendo mostradas como os dois primeiros níveis da árvorefuncional. 19 Fonte: MILLS (1994) Figura 2.3 – Árvore funcional para gerenciar a auditoria da qualidade 2.2 Documentação da Auditoria da Qualidade 2.2.1 Documentação Geral No processo de auditoria da qualidade, as responsabilidades de cada um devem ser documentadas de modo a garantir um melhor controle das atividades. Em uma empresa organizada e segura, um conjunto de procedimentos envolvendo cliente, empresa auditada e empresa auditora, garantirá uma auditoria da qualidade mais estável. Esta documentação será traduzida em procedimentos na forma escrita, por meio de instruções operacionais. Este processo é necessário para a composição de um sistema da qualidade. 20 2.2.2 Documentação do Cliente Os procedimentos de responsabilidade devem contar com a participação dos clientes, da empresa auditada e dos auditores. Para os clientes, essa responsabilidade se manifesta por meio de uma declaração da finalidade da auditoria e a identificação da norma a ser utilizada pela empresa auditora. Os procedimentos do sistema de qualidade definido pelo cliente devem nortear a Auditoria de Qualidade nesta situação específica. Dentro das normas de referência, os procedimentos têm a missão de assegurar a continuidade das pesquisas sobre normas mais modernas e adequadas à atividade de negócio da empresa auditada. A seleção de normas industriais, sejam nacionais ou internacionais devem ser orientadas pelos documentos que dão base para as auditorias da qualidade, o controle estatístico, o sistema, os produtos, os serviços, os regulamentos etc. A falta de documentação ocasiona situações perigosas, pois pode levar a uma escolha errada de uma norma de referência. 2.2.3 Documentação da Auditada No caso da empresa auditada, a documentação deve narrar: Suas atividades quando for notificada de que uma Auditoria de Qualidade será realizada; Suas atividades durante a Auditoria de Qualidade; Suas atividades após os resultados da auditoria da qualidade. 2.2.4 Documentação da Empresa Auditora A documentação de responsabilidade da empresa auditora deve dar cobertura aos seguintes pontos: Requisitos de observação de ética da auditoria da qualidade; Documentos de trabalho como listas de verificação, lembretes, instruções etc; 21 Orientação quanto a melhor maneira de questionar as pessoas da empresa auditada; Métodos a serem utilizados para registro das observações sobre o sistema da qualidade a ser auditada; Orientações na preparação dos relatórios da auditoria da qualidade; Orientações em relação a quais atividades requerem ações corretivas; Padronização de folhas a serem desenvolvidas para cada tipo de norma do sistema da qualidade. A documentação da empresa de auditoria deve ser direcionada a cada auditor como referência. Essas instruções também podem ser uteis para a Auditoria da Qualidade. 2.3 Iniciação da Auditoria da Qualidade 2.3.1 Reunião Inicial da Auditoria da Qualidade Uma vez que o cliente decidiu realizar uma auditoria da qualidade, o próximo passo é reunir as partes envolvidas, isto é, o cliente, a empresa auditada e a empresa auditora, visando uma sinergia e, consequentemente, o entendimento mútuo no início da inspeção. Nesta reunião, deve-se ter um acordo com relação aos seguintes pontos: Propósito da Auditoria de Qualidade; Norma de referência em comparação à documentação; Atividades a serem avaliadas; Escalação dos auditores; Sequência e programas dos principais eventos ligados à auditoria. Para isto, será utilizada a árvore funcional das atividades relacionadas ao início da auditoria (Figura 2.4). 22 2.3.2 Participantes da Reunião Inicial: Auditoria Externa Irão participar desta reunião: O cliente, como solicitante da auditoria, representado por um membro com graduação. O representante da empresa auditada, isto é, o gerente responsável por esta empresa. A empresa auditora deve mandar um representante, mesmo sendo um membro da empresa do cliente ou um auditor independente. Fonte: MILLS (1994) Figura 2.4 – Árvore funcional para iniciar a auditoria da qualidade 23 2.3.3 Participantes da Reunião Inicial: Auditoria Interna Os indivíduos que participarão da reunião inicial serão: O cliente – CEO ou responsável pelo setor que deseja a auditoria da qualidade. A empresa Auditada – Gerentes das funções que serão auditadas. A empresa auditora – Gerente que foi designado para a execução da auditoria. É importante que a atividade desse gestor seja independente da função auditada. 2.4 Planejamento da Auditoria da Qualidade 2.4.1 Planejamento Geral A empresa auditora realiza as atividades de planejamento de auditoria da qualidade, explorando um leque de funções envolvendo as ações e reações do cliente, da empresa auditada e da empresa auditora. Estas atividades estão representadas nas Figuras 2.5 e 2.6. 24 Fonte: MILLS (1994) Figura 2.5 – Árvore funcional para o planejamento da auditoria da qualidade 25 Fonte: MILLS (1994) Figura 2.6 –Árvore funcional para o planejamento da auditoria da qualidade – atividades pós-auditoria 2.5 Recursos para uma Auditoria da Qualidade O detalhamento dos recursos necessários dependerá do tipo de auditoria e da relação entre a auditada e auditor, isto é, se a inspeção será interna ou externa. Os recursos principais se concentram em: Pessoais – Compostos pelo auditor da qualidade com suas habilidades específicas, tecnológicas e conhecimento, além da equipe auditada. Recursos de escritório – Uma área de escritório deverá ser alocada tanto para auditoria externas, quanto para as auditorias internas. No caso das externas, a área será em caráter temporário; nas internas, será permanente. 26 Recursos de equipamentos – A grande maioria das normas de sistemas de qualidade indicam que a empresa auditada disponibilize aos auditores certos equipamentos e instalações industriais para verificação de dados. Conclusão O tempo necessário para completar a auditoria dependerá da complexidade do sistema da qualidade que será auditado e do bom senso do auditor que determinará as durações mínima e máxima da inspeção. O sucesso da operação de auditoria dependerá da cooperação mútua envolvendo o auditor e o auditado. A programação da auditoria interna de qualidade envolve atividades com repetições e com um intervalo de tempo predeterminado. A periodicidade é estabelecida em função do número de auditorias internas realizadas por unidade de tempo, podendo variar de acordo com a área de trabalho. Outro fator que poderá influenciar no tempo são os colaboradores e o desempenho das áreas envolvidas no processo. Algumas normas de sistema de qualidade, no entanto, podem estabelecer um tempo máximo pelo qual uma auditoria pode se estender. A sequência das atividades da auditoria da qualidade depende dos requisitos da auditoria e do sistema operacional auditado. A auditoria da conformidade da qualidade solicita uma avaliação apurada do sistema operacional auditado, liberando a documentação aplicável a ser especificada para cada função. Neste bloco vimos como se gerencia o processo de auditoria da qualidade, destacando a importância das documentações para oficializar os procedimentos. O processo de auditoria se inicia com reuniões, determinando as devidas funções de cada uma das partes, isto é, o cliente, o auditado e a empresa de auditoria. O planejamento será de suma importância para se ter um sequenciamento das atividades. 27 Os recursos necessários para se ter uma auditoria da qualidade incluem diversos elementos de áreas, instalações e equipamentos. Os prazos para a inspeção, seja externa ou interna, precisam ser determinados. Referências O’HANLON, T. Auditoria da qualidadecom base na ISO 9001:2000: conformidade agregando valor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. MILLS, C. A. A auditoria da qualidade: uma ferramenta para avaliação constante e sistemática da manutenção da qualidade. São Paulo: Makron Books, 1994. 28 3. OPERAÇÃO DE AUDITORIA Apresentação Na parte operacional da auditoria da qualidade, é consenso que, uma vez que as empresas continuam a ter suas reengenharias e os recursos se tornam cada vez mais escassos, é necessário ampliar o escopo das auditorias. Isso pode incluir, por exemplo, usar o mesmo pessoal para executar auditorias da qualidade, meio ambiente, segurança e saúde ocupacional. Para isso, o sistema de auditoria deve contar com recursos humanos, análise documental e a definição daquilo que será auditado, sempre levando em consideração a questão ética. Aprenderemos mais a respeito desse tópico ao longo deste bloco. 3.1 O Papel do Auditor de Qualidade A capacidade de trabalhar com profissionalismo é uma marca dos auditores de qualidade, afinal, esses profissionais se deparam, em sua rotina, com diversas situações e com requisitos conflitantes, como mostra o exemplo a seguir: Situação: O sistema da qualidade deve ser planejado e documentado para assegurar um controle adequado. Contudo... O sistema de qualidade não deve inibir a criatividade na gestão, no projeto e nos métodos de análise. As características profissionais e morais são pontos importantes a serem considerados durante a seleção de auditores, afinal eles influenciarão seu desenvolvimento rumo à prosperidade profissional. Auditores competentes deixam as pessoas à vontade, fazendo perguntas como: “Há quanto tempo o senhor trabalha aqui?”, e preservam um tom de voz não intimidante. Um auditor agressivo, normalmente, utiliza um processo defensivo para mascarar sua incompetência. 29 Em uma abordagem moderna, a tendência é se concentrar mais em “por que” as coisas são feitas e menos em “como” são feitas. Por esta razão, os auditores usam perguntas hipotéticas, do tipo “E se...?” para explorar a parte bruta do processo. Bons auditores não são abalados por respostas evasivas, pois se sentem confortáveis repetindo as perguntas e persistem para resolver as questões. Uma habilidade subutilizada da moderna abordagem é a pergunta silenciosa, pois o auditor não diz nada e apenas espera. Incomodado com o silêncio, o auditado responde a pergunta que nunca foi feita e o auditor prossegue com uma pergunta adicional. Essa abordagem é, muitas vezes, altamente esclarecedora. 3.1.1 Aptidões Gerais do Auditor Auditores competentes apresentam, além de vasto conhecimento relativo à qualidade, traços específicos de personalidade que contribuem para sua qualificação como profissional. As Figuras 3.1 e 3.2 sintetizam essas aptidões. Fonte: MILLS, (1994) Figura 3.1 – Aptidões profissionais necessárias ao auditor da qualidade 30 Fonte: MILLS (1994) Figura 3.2 – Características e atributos técnicos para um auditor de qualidade Como vimos, as aptidões do auditor podem ser subdivididas em aptidões profissionais, técnicas e pessoais. Vejamos as duas primeiras em maior detalhe. 31 A) Aptidões Profissionais Trata-se de uma mescla entre conhecimentos técnicos e traços de personalidade que permitam efetuar suas atividades de auditoria da qualidade de forma competente e ética. B) Aptidões Técnicas: Formação acadêmica superior ou técnica apropriada à atividade, produto ou serviço associado ao sistema de gestão. Registros profissionais e/ou outros requisitos exigidos pela organização ou entidade auditora (por exemplo, CREA, CRA etc.). Formação específica em técnicas e mecanismos de auditoria e/ou certificação como auditor por entidade específica ou conforme a necessidade. Conhecimento de estilos, tipos e fundamentos de gerenciamento utilizados. Conhecimento e aplicação de um código de ética ou outras diretrizes específicas. Conhecimento de disciplinas contábeis e sistemas de custeio. Conhecimento de técnicas de planejamento, investigação e resolução de problemas. Experiência em todas as etapas do processo de auditoria. Conhecimento de técnicas estatísticas de uma maneira geral, particularizada para cada sistema de gestão. Conhecimento da cultura da organização. Isso abrange as suas estratégias de negócios, hábitos, comportamentos, atitudes e crenças, particularmente o tratamento dado ao conflito entre o compromisso com a melhoria contínua e o real interesse, necessidade e/ou a viabilidade da melhoria. Conhecimento da teoria da crise gerencial e de sua inter-relação com o intercruzamento de fatores como custos, comprometimento, estrutura e disciplina organizacional, contingências, paradigmas, poder, status, comunicação, tempo e recursos. Conhecimento e capacidade de discernimento para verificar a consistência entre a política, os objetivos, as metas e o conteúdo do programa documental que constitui os sistemas. 32 3.2 Ferramentas de Análise do Sistema Do ponto de vista da Auditoria da Qualidade, a análise do sistema pode se dividir em duas situações: Análise das documentações ou normas de referência. Análise do próprio sistema da empresa auditada no nível a ser avaliado. A análise é utilizada para identificar cada elemento da função envolvida para que sejam inspecionados na auditoria subsequente. Quando a auditoria da qualidade pretender avaliar a eficácia de um sistema de qualidade, a análise precisa cobrir todas as funções da empresa inspecionada que possam influenciar o sistema de qualidade. Esta análise pode se apresentar na figura de dois resultados: Instruções, lembretes e listas de verificação de auditoria, isto é, documentos de trabalho. Planejamento da auditoria, na qual se relacionam todos os documentos de trabalho aplicáveis. Algumas técnicas ou ferramentas para a análise de sistemas são utilizadas em diversos campos de atividade durante o desenvolvimento de auditorias da qualidade. Estas técnicas abrangem: Árvore funcional; Fluxograma de decisão; Rede de caminho crítico (PERT); Matriz de responsabilidade; Tabelas de função; Diagrama de Ishikawa. Vejamos, na sequência, cada um dos itens de forma detalhada. A) Árvore Funcional Busca garantir que a função de uma empresa auditada seja dividida em seus elementos mais importantes (Figura 3.3). 33 Fonte: MILLS (1994) Figura 3.3 – Árvore funcional de um modelo de sistema de qualidade para garantia da qualidade em projeto/desenvolvimento, produção, instalação e serviços, baseado na norma ISO9001-1987 B) Fluxograma de Decisão Mostra a sequência de etapas ou eventos que ocorrem durante um processo específico que está passando por avaliação ou auditoria (Figura 3.4). 34 Fonte: MILLS (1994) Figura 3.4 – Fluxograma de decisão simplificado C) Rede Caminho Crítico Também chamado de Rede PERT (Project Evaluation and Review Technique), é uma ferramenta de Gestão de Projetos muito utilizada no planejamento de atividades e, consequentemente, na geração de um cronograma de atividade versus o tempo para controle do próprio projeto ou da produção, por meio do Gráfico de Gantt. 35 Fonte: MILLS (1994) Figura 3.5 – Rede de caminho crítico D) Matriz de Responsabilidade É o documento que incorpora o conjunto de atividades a serem realizadas e os seus respectivos responsáveis. Fonte: Elaborado pelo autor Figura 3.6 – Exemplo de Matriz de Responsabilidade 36 Legenda do exemplo: GP = Gerente de projeto (Profissional especializado nos tópicos relacionados ao projeto); GF = Gerente funcional (Tem a função de executar, geralmente preenchida por um profissional de menos formação, mas com experiência na especialidade do projeto); AA =Alta Administração (patrocinador do projeto); X = Os profissionais responsáveis pela tomada de decisão na atividade do projeto; O = Os profissionais responsáveis pela execução; # = São os que serão consultados na execução das tarefas do projeto; E) Tabela de Função É a versão tabulada das árvores funcionais (Figura 3.7). 37 Fonte: MILLS (1994) Figura 3.7 – Tabela de função F) Diagrama de Ishikawa Também conhecido como Diagrama de Causa e Efeito ou Diagrama Espinha de Peixe, foi desenvolvido pelo professor japonês Ishikawa. Nesta representação, o problema, a anomalia ou o processo é identificado na “cabeça do peixe” e os “braços principais” são identificados como possíveis causas do problema principal, normalmente, essas causas se categorizam em classes como, por exemplo, máquina, mão de obra (pessoal), método, meio ambiente (ambiente), material e medição. Esta classificação não é fixa, podendo ser adicionadas outras que se façam necessárias. (Figura 3.8). 38 Fonte: Elaborado pelo autor Figura 3.8 – Diagrama de Ishikawa 3.3 Instruções e Procedimentos para a Auditoria As instruções e os procedimentos do sistema de qualidade são documentos utilizados para gerar instruções operacionais para os auditores. Incluem métodos para cada uma das áreas em pauta, normalmente com um procedimento para cada técnica, formulário etc. As técnicas descritas pelos procedimentos são: Seleção e utilização de documentos de planejamento; Preparação dos documentos de trabalho da auditoria da qualidade; Utilização de planos de amostragem; Implementação dos diversos tipos de auditoria; Registro das observações; Reações em face de observações de anomalias e não conformidades. Estas instruções podem ser preparadas pelos auditores da qualidade ou por seus coordenadores/supervisores, desde que tenham total aprovação por parte da gerência ou do responsável pela empresa de auditoria. 39 3.4 Documentos de Trabalho O termo “documentos de trabalho”, normalmente, é utilizado para definir uma variedade de formulários que, durante o processo de auditoria, podem ser usados como lembretes ou alerts para o auditor da qualidade e para o registro dos resultados do exame de cada parte auditada. Às vezes, pode ser empregado o termo “lista de verificação” ou checklists para definir esses documentos (Figura 3.9). Fonte: MILLS (1994) Figura 3.9 – Layout Típico de documentos de trabalho para auditoria da qualidade A área administrativa também fornece os títulos dos dados utilizados para identificar a Auditoria de Qualidade (Figura 3.10). Fonte: MILLS (1994) Figura 3.10 – Layout típico da área administrativa em documentos de trabalho 40 Os documentos de trabalho possuem uma abrangência na área de medição, uma vez que as auditorias de qualidade devem ter cabeçalhos de natureza quantitativa, como no caso dos itens c e f da Figura 3.11. Fonte: MILLS (1994). Figura 3.11 – Cabeçalhos típicos para área de medição de um documento de trabalho (a) para uma lista de verificação; (b) para uma medição graduada do desempenho; (c) para um nível de desempenho aceitável; (d) para um índice de erros aceitável; (e) para uma porcentagem limite de defeitos no lote (LTPD); (f) para um nível da qualidade limite (NQL). 41 Para uma situação em que cada função dentro de uma empresa envolve tanto uma ação produtiva, quanto uma ação de verificação, pode-se desenvolver um formulário como o da Figura 3.12. Fonte: MILLS (1994) Figura 3.12 – Aplicação dos documentos de trabalho às normas ISO9001 para uma empresa industrial 3.5 Questões da Ética O caráter moral de um auditor não pode, em nenhum momento, ser questionado. As equipes de auditoria devem ter um comportamento extremamente profissional. Os clientes exigem uma postura muito clara neste ponto. O auditor que não entender a necessidade da ética durante a operação de auditoria da qualidade poderá cometer uma série de “equívocos”. Os auditores precisam agir honradamente e consultar os códigos de conduta do International Register of Certificated Auditors — IRCA e do International Auditor and Training Certification Association — IATCA. 42 É do interesse de todos os auditores, no desempenho do processo de inspeção, conduzir o processo de maneira profissional e transparente. Os auditores devem tomar cuidado para não caírem em armadilhas ou tentações de seus próprios preconceitos ou prejulgamentos. Os bons auditores trabalham com a mente aberta e baseiam suas conclusões em evidências objetivas. Conclusão Neste bloco abordamos algumas qualificações importantes que o auditor de qualidade deve possuir para conduzir um processo de inspeção em ótimas condições. Para isso, o processo de auditoria necessita de uma análise do sistema para que os procedimentos sejam designados e registrados por meio de documentos específicos para cada funcionalidade da auditoria, tudo isto regado de um comportamento ético advindo de todas as partes. Referências O’HANLON, T. Auditoria da qualidade com base na ISO 9001:2000: conformidade agregando valor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. MILLS, C. A. A auditoria da qualidade: uma ferramenta para avaliação constante e sistemática da manutenção da qualidade. São Paulo: Makron Books, 1994. 43 4. PROCESSO DE AUDITORIA Apresentação Neste bloco será abordado o processo de auditoria. Veremos que todos os planos de amostragem usados durante a auditoria da qualidade precisam de um sólido embasamento estatístico. Além disto, veremos as tratativas para estabelecer a política de não conformidades, usando procedimentos nos formatos de relatórios e análises corretivas e preventivas. Para isto, precisaremos conhecer a disciplina de auditoria e quais são os fundamentos que promovem e sustentam as possibilidades de melhor adequação e medição de um processo durante as operações entre a auditada, o auditor e o cliente. 4.1 Planejamento de Amostragens Neste tópico, trataremos das auditorias da qualidade voltadas a determinar se a operação está agindo em conformidade com a documentação do programa da qualidade, isto é, com procedimentos, instruções etc. Não abordaremos as auditorias da qualidade realizadas para determinar a adequação desta documentação em relação a alguma norma de referência, pois esse tipo de inspeção exige uma comparação ponto a ponto entre a norma de referência e a documentação que forma o programa de qualidade a ser auditado. As auditorias de conformidade da qualidade são realizadas para determinar se as práticas de trabalho reais estão de acordo com os procedimentos e instruções que definem o sistema de qualidade. Em, praticamente, todas as situações possíveis, o número de ações e decisões será muito grande para avaliar individualmente. Assim, o auditor sempre terá que tomar decisões baseadas em uma amostra da população envolvida com o processo auditado. 44 Basicamente, um auditor está avaliando uma situação onde a atividade pode ser satisfatória ou não satisfatória. Assim, estamos lidando com uma amostragem de atributos, e não de variáveis. Os possíveis erros de decisões ou falhas de conformidade aos procedimentos desejados serão expressos em números inteiros. Tratam-se, portanto, de distribuições discretas de probabilidade. As mais comuns, usadas em planos de amostragem, são as distribuições hipergeométricas, binomiais e de Poisson. Um plano de amostragem, normalmente, será baseado em uma distribuição onde a população é grande, mas desconhecida e a probabilidade de aceitação depende, apenas, do tamanho da amostra. As distribuições binominais e de Poisson satisfazem a este requisito sem hipótese adicional. A distribuição hipergeométrica envolve uma população finita que se torna um fator nos cálculosde probabilidade. O impacto do tamanho dessa população (N) torna-se desprezível quando se torna muito maior que a amostra obtida (n), isto é, quando N≥ 10 n. Qualquer detecção de erro ou não conformidade na amostra indica a necessidade de uma ação corretiva. Desta forma, estamos procurando um desempenho isento de erros, portanto, o nível de aceitação é zero e os planos de amostragem devem refletir esse fato. Os planos de amostragem tradicionais para aceitação-zero não são suficientemente discriminativos entre lotes aceitáveis e inaceitáveis. Isso ocorre, em grande parte pelo fato de eles terem sido desenvolvidos para uso com níveis de qualidade aceitável (NQA). Os planos de amostragem com nível de qualidade limite (NQL), por outro lado, contam com valores selecionados para o NQL e probabilidades de aceitação relacionadas ao desempenho esperado e os riscos envolvidos na amostragem da Auditoria de Qualidade. Por essa razão, fornecem o grau de discriminação necessário para definir a aceitabilidade de um lote. O nível de qualidade limite é definido na norma NA-SI/ASQC A2-1987 como a porcentagem ou proporção de unidades variantes em um lote que o consumidor deseja que a probabilidade de aceitação seja restrita a um valor baixo específico. 45 O NQL já foi, e ainda é, conhecido por vários outros nomes como, por exemplo, nível de qualidade rejeitável (NQR), nível de qualidade inaceitável (NQI), qualidade limitante (QL) e, quando a porcentagem de unidades não-conformes é usada como medida, porcentagem de tolerância do lote com defeito (LTPD, lot tolerance percent defective). Certas normas baseadas no NQL e no LTPD podem ser de grande ajuda nos casos em que a população tem um tamanho finito. Na maioria dos casos, contudo, estas normas terão margens de erro e probabilidade de aceitação muito altas para uma boa prática de auditoria. 4.1.1 Definições de planos de amostragem Existem quatro termos-chave na auditoria da qualidade por amostragem: Nível de Desempenho Aceitável (NDA) – É o nível mais baixo de desempenho que pode ser considerado aceitável para a função auditada. Como a performance desejada deve ser totalmente isenta de erros, o NDA não serve como meta de desempenho. Ele é usado, apenas, para determinar os tamanhos das amostras. Trata-se do valor do NQL para o processo, isto é, NQL = NDA. Índice de Erro Aceitável (IEA) – É o índice máximo de erros que pode ser considerado aceitável para a função auditada. Ele não representa uma meta para a taxa de erro. O objetivo para todos os processos e atividades de tomadas de decisão deve ser um desempenho isento de erros, isto é, zero-defeitos. O IEA é usado, apenas, para determinar o tamanho da amostra relevante. Ele constitui o NQL expresso como um índice de erro para o processo, isto é, NQL = IEA. Observação: O NDA e o IEA são complemento um do outro, isto é, NDA + IEA = 1. Nível de Confiança (C): O nível de confiança exprime o grau de certeza de que a amostra selecionada contém, pelo menos, um exemplo de quaisquer erros que estejam presentes. Risco (R): O risco exprime o grau de incerteza de que a amostra selecionada contém, pelo menos, um exemplo de quaisquer erros que estejam presentes. Observação: C e R são complemento um do outro, isto é, C + R = 1. 46 4.1.2 Expansão binomial Como foi declarado anteriormente, um auditor da qualidade trabalha de maneira binária, isto é, a decisão é selecionada a partir de duas alternativas, aceitável ou inaceitável. Os planos de amostragem binomiais são baseados na expansão binomial: (q + p)n = (p + q)n = (IEA + NDA)n = 1 Onde: q = nível de qualidade da população p = nível de não conformidade na população n = tamanho da amostra IEA = índice de erro aceitável = p NDA = nível de desempenho aceitável = q Desenvolvendo a equação, temos: qn + ... + pn = 1 P0 + P1 + ... + P (n – 1) + Pn = 1 Onde: P0 = probabilidade de achar zero não conformidades em uma amostra de n elementos e com nível de qualidade q. Pn = probabilidade de achar n não conformidade em uma amostra de n elementos e com um nível de qualidade de q ou 1 – p. P1, P2..., Pn-2, Pn-1 = probabilidades de achar 1, 2, ..., n-2 e n-1 não conformidades em uma amostra com n elementos e com nível de qualidade q. 47 4.1.3 Aplicação Uma vez que a população considerada é a coleção das decisões tomadas por uma ou mais pessoas, o tamanho da amostra pode cobrir as decisões típicas dentro de um grupo específico. Ela também pode cobrir um período de tempo, desde que seleção da amostra continue sendo feita de forma aleatória. Exemplo: Considere cinco tópicos a serem avaliados com relação aos desenhos e cinco com relação às especificações. A avaliação está sendo realizada em um único local. Apesar disso, vamos considerar que existem diferenças nos ciclos de controle dos desenhos e das especificações. Foi determinado que o NDA para os desenhos é 0,95 e 0,97 para as especificações. O nível de confiança de 0,95 é exigido em cada um dos casos. Obtém-se o tamanho de amostra de 58 para os desenhos e de 98 para as especificações. Para os desenhos: n = 58 Número de atividades a serem avaliadas = 5 n = 58 = 11,6 Número de atividades 5 Como é impossível selecionar 0,6 atividade, o número de avaliações por atividade será 12. Desta forma, a avaliação das decisões nos desenhos será baseada em uma amostra de tamanho total igual a 60. Para especificações: n = 98 Número de atividades a serem avaliadas = 5 n = 98 = 19,6 Número de atividades 5 48 Como é impossível selecionar 0,6 atividade, o número de avaliações por atividade será 20. Desta forma, a avaliação das decisões nos desenhos será baseada em uma amostra de tamanho total igual a 100. Se não for encontrada nenhuma não conformidade em qualquer um dos casos, pode- se declarar com 95% de confiança que o nível de desempenho dos controles dos desenhos é, pelo menos, 0,95 e dos controles de especificação é, pelo menos, 0,97. 4.1.4 Planos de amostragem por nível de qualidade limite (NQL) Os NQL são planos de amostragem de atributos. A maior parte dos NQL publicados são baseados no uso de lotes ou populações de tamanho finito, tendo, assim, aplicações limitadas na auditoria da qualidade. Uma exceção é a norma MIL-S-19500 que inclui um plano de amostragem LTPD onde os tamanhos das amostras estão relacionados ao número de aceitação. Usualmente, a norma mais conhecida de amostragem por atributo contendo informações sobre o NQL é a MIL-STD-105, atualmente, atualizada e republicada como ANSI/ASQC-Z1.4-1981, Sampling Procedures and Tables for Inspection by Atributes (Procedimentos de Amostragem para Inspeção por Atributos). Estas normas fornecem valores de NQL e porcentagem de não conformidades de Pa = 0,10 e 0,05, respectivamente. Estes valores são dados para os planos de amostragem do nível normal de aceitação. Assim, para aceitação zero, os tamanhos dos lotes são relativamente pequenos. Isto resulta em uma curva característica de operação (CCO) que não fornece uma discriminação adequada. De forma semelhante, as curvas características de operação são muito atravancadas nas áreas de interesse para terem algum valor. 4.2 Implementação da Auditoria Existem muitas semelhanças entre a implementação de uma auditoria externa e uma auditoria interna da qualidade. Isto fica evidente ao observarmos as Figuras 4.1 e 4.2. 49 Contudo, existem diferenças suficientes nas abordagens e técnicas que justificam o exame de cada uma isoladamente. Os autores das normas ASQC e CSA sobre auditorias da qualidade reconheceram as semelhanças e as diferenças e, por meio de uma cuidadosa seleção de palavras e frases, tornaram estas normas aplicáveis aos dois tipos de auditoria. Inicialmente,consideraremos a implementação de uma auditoria externa da qualidade, isto é, os postos-chave no terceiro nível de tais auditorias, como é mostrado na Figura 4.1. Depois, analisaremos a implementação de uma auditoria interna da qualidade, considerando, novamente, cada um dos postos-chave no terceiro nível de tais auditorias, como mostrado na Figura 4.2. 50 Fonte: MILLS (1994) Figura 4.1 – Árvore funcional para a implantação de uma auditoria externa da qualidade 51 Fonte: MILLS, 1994 Figura 4.2 – Árvore funcional para a implantação de uma auditoria interna da qualidade 4.2.1 Auditorias externas da qualidade A) A reunião gerencial de abertura deve contar com a presença de: Funcionários executivos da organização auditada ou, se for uma instalação ou subunidade de uma corporação maior, os níveis mais altos da gerência da unidade. Entre estes deve estar o responsável pela solução dos problemas da qualidade e pela coordenação da auditoria em nome da auditada. Esta pessoa pode ter uma infinidade de títulos. 52 Os membros da equipe de auditoria, incluindo, quando possível, o supervisor dos auditores. A chegada dos auditores da qualidade deve coincidir com o momento exato do início da reunião, de forma que eles não tenham contato direto com a fábrica antes de completa-la. O cliente ou um representante de alto nível da organização do cliente. B) O cliente precisa assegurar que existe um entendimento mutuamente aceito quanto aos seguintes pontos: O propósito ou a finalidade da auditoria. A norma da qualidade que deve constituir a referência ou benchmark pelo qual o desempenho é avaliado durante a auditoria. C) A organização de auditoria precisa, por meio do supervisor ou do auditor-líder, assegurar que existe um consenso acerca: Da aceitação dos membros da equipe de auditoria. Do método de conduzir a auditoria. Dos pontos de contato em caso de problemas. Do grau de detalhe a ser fornecido na revisão final pela gerência ou na reunião de encerramento. Do programa de operações de auditoria. Do apoio ou da assistência exigidos pelos auditores por parte da auditoria. Da disponibilidade de documentação do programa da qualidade e de um local onde a auditoria da adequação deva ser conduzida. 53 Do grau de comprometimento da gerência da auditada com o programa da qualidade. Das implicações e necessidades que o programa de qualidade tem para o controle do sistema da qualidade, na medida em que ele está integrado ao sistema geral de operação da organização. D) A empresa auditada precisa ajudar a atingir um consenso quanto aos seguintes pontos: Quem será a pessoa que representará a empresa auditada em todos os assuntos durante a auditoria. Qual será o acesso do auditor às várias áreas e atividades a serem auditadas. Quais serão as instalações a serem fornecidas para uso dos auditores nas instalações da corporação auditada. Quem e quantos serão o pessoal de apoio que será colocado à disposição dos auditores durante a auditoria, como, por exemplo, guias, especialistas, pessoal de linha etc. Como os controles e regulamentos de segurança serão cumpridos durante a auditoria. Como os direitos de propriedade da organização serão protegidos no decorrer da auditoria. Quando a análise no final de uma auditoria tiver sido completada e o relatório preliminar tiver sido preparado, deve-se realizar uma revisão com o coordenador da qualidade da auditada. Desta maneira, o coordenador estará ciente de quaisquer deficiências antes da reunião final com a gerência e não estará sujeito a surpresas desagradáveis. Se o relatório apresenta elogios, pode ser desejável fazer esta reunião com a gerência, para aumentar seus impactos. 54 4.2.2 Auditoria interna da qualidade A) Filosofia da auditoria Interna da qualidade Uma abordagem mínima, geralmente especifica, afirma que todo sistema da qualidade precisa ser revisado uma ou duas vezes a cada período de doze meses. As normas especificam um período de, no máximo, um ano entre revisões. Tal como nas auditorias externas da qualidade, uma inspeção interna pode ser realizada de forma a cobrir o sistema completo de uma organização em um determinado ponto no tempo. O valor desta abordagem mínima pode ser aumentado, contudo, distribuindo a auditoria da qualidade por todo o período permitido, isto é, seis ou doze meses. O período envolvido deve ser dividido pelo número de funções ou elementos a serem auditados, para estabelecer o tempo médio entre as auditorias. B) Auditoria interna da qualidade e a participação do departamento da garantia da qualidade Existe um reconhecimento crescente de que um sistema da qualidade não é uma atividade adicional exigida para “controlar a qualidade”. Ele deve ser tido como parte integrante do sistema de gerenciamento em uma organização que fornece produtos ou serviços, com base na constatação de que um produto de qualidade é o resultado da seguinte sequência de atividades: 1. Conhecer as necessidades do cliente ou do mercado. 2. Determinar como satisfazer a estas necessidades, isto é, como projetar um produto ou serviço adequado. 3. Determinar recursos, instalações e pessoal necessários para fornecer o produto ou serviço final. 4. Obter recursos necessários, instalações, pessoal etc. 5. Suprir o produto ou serviço desejado. 55 6. Determinar os problemas associados ao fornecimento do produto ou serviço. 7. Determinar a aceitação do produto ou serviço do ponto de vista do usuário, incluindo desejos relativos ao produto ou serviço que não foram atendidos. 8. Aperfeiçoar o projeto ou os métodos de fornecer do produto ou serviço para aumentar sua aceitação. 9. Repetir os passos 6, 7 e 8 de forma contínua para aperfeiçoar a eficiência e a aceitação do produto ou serviço. C) Revisões pelo auditor da qualidade Os auditores internos da qualidade, normalmente, trabalham sozinhos. Contudo, em instalações grandes, pode haver vários auditores trabalhando em áreas diferentes ao mesmo tempo, o que pode resultar em auditorias semelhantes sendo realizadas simultaneamente em locais diferentes. Pela comparação das informações oriundas de tais auditorias, muitas vezes, podem-se detectar determinados padrões muito mais rapidamente do que se os resultados de cada local forem estudados separadamente. Uma avaliação da eficácia geral do sistema da qualidade deve fazer parte destas revisões. Este passo é incluído, não por ser exigido por diversas normas da qualidade, mas por ser uma boa prática gerencial revisar todos os programas ou sistemas periodicamente. Isto também ajuda a demonstrar o comprometimento permanente da gerência com o sistema da qualidade. 4.2.3 Auditoria de conformidade da qualidade com prestadoras de serviços Uma auditoria de conformidade da qualidade de uma organização prestadora de serviços, em relação a sua eficácia e conformidade operacional quanto aos procedimentos e demais especificações documentadas, segue os mesmos passos delineados anteriormente para uma organização de manufatura. Além dos documentos de trabalho, a decisão por amostragem constitui uma importante técnica de controle. 56 O envolvimento de auditores externos ou internos depende do tamanho da empresa, da complexidade do estabelecimento e de seus relacionamentos com outras organizações. Exemplo: Muitos estabelecimentos grandes como hospitais, cadeias de hotéis e empresa aéreas, muito provavelmente, dispõem de auditores internos para realizar inspeções da qualidade de maneira contínua. Estabelecimentos menores, como pontos de venda de fast-food, pequenos hotéis que pertencem a uma cadeia ou rede de franquias, geralmente são auditados pelo pessoal que trabalha nos escritórios centrais da organização distribuidoraou em um escritório distrital. Em qualquer um dos casos, o auditor avalia as várias atividades e decisões da qualidade para determinar a eficácia do sistema da qualidade e sua conformidade às especificações documentadas. No caso de franquias, os documentos de trabalho são baseados na documentação fornecida pelo escritório central da organização que as filiais ou franqueadas devem seguir. 4.3 Classificação de Não Conformidades Antes de obter o consenso da equipe auditora com uma não conformidade, o auditor líder deve considerar as seguintes questões: Este é um fato isolado? Acontece frequentemente? Essas observações são consistentes com o escopo e os objetivos? Há evidências objetivas? Temos a concordância do auditado? Essa é uma quebra de sistema ou um lapso menor? Uma não conformidade é uma instância em que alguns requisitos específicos não foram atendidos. Elas podem ser categorizadas das seguintes formas: 57 Categoria maior: A organização não atende aos requisitos da norma e do contrato; A organização não faz o que diz fazer; Existe uma lacuna significativa no sistema; Categoria menor: Lapsos insignificantes e ocasionais são verificados; A organização está fazendo mais do que é requerido fazer; (Isso acontece sempre?) A não conformidade não tem impacto no produto. A abordagem mais simplista sugere que, se algo é um requisito obrigatório e a organização não o atende, então isso constitui uma não conformidade maior. Assim, por exemplo, se um registro não puder ser recuperado, teremos uma não conformidade maior. Em algumas indústrias como, por exemplo, a nuclear, isso pode ser justificável, mas na maioria dos casos tal categorização pareceria severa. Uma não conformidade menor é registrada quando se descobre que uma atividade de valor agregado não consta nos documentos de processo ou procedimentos. Uma falha dessa natureza pode fazer com que novas práticas nunca sejam incorporadas nos documentos e com que os novos funcionários utilizem os métodos prescritos, ignorando, assim, os procedimentos aperfeiçoados. As consequências da categorização de não conformidade são as seguintes: Maior – Impede a recomendação para certificação; Menor – Normalmente não impede a recomendação para certificação; Observação/comentários – Não impede a recomendação para certificação. 58 Sendo esse o caso, uma abordagem mais consistente é requerida para classificar qualquer não conformidade. Para embasar essa tão difícil decisão, é proposto um fluxograma. Veja a figura a seguir: Fonte: EUROSPAM DEVELOPMENT (2000). Usado mediante autorização. Figura 4.3 - Classificando a não conformidade Na Figura 4.3, a principal preocupação é o impacto no produto. O propósito de qualquer sistema é assegurar que produtos e serviços estejam conforme os requisitos especificados. Se uma não conformidade compromete esse atendimento, trata-se de um problema maior. É necessária mais de uma evidência para podermos classificar uma não conformidade de requisito obrigatório como maior. Caso o contrário, se essa não conformidade realmente existir, deve ser classificada como menor. Todas as partes devem entender o processo de abertura de uma não conformidade, como apresentado na Figura 4.4. 59 Fonte: EUROSPAM DEVELOPMENT (2000). Usado mediante autorização. Figura 4.4 - O processo de abertura de uma não conformidade Para abrir uma não conformidade, o auditor líder e os membros da equipe auditora devem assegurar que os seguintes critérios sejam atendidos: Definição clara do problema; Evidência objetiva clara e inequívoca; Capacidade de esclarecer a não conformidade e seu impacto no negócio e no contexto do processo de auditoria; Planos de contingência que abordem desafios e questões potenciais; 60 Informação de suporte clara (local; nome do auditado e/ou do guia; documentos de referência; registros, produtos; equipamentos e/ou materiais); Indicação clara de quais requisitos da norma, contrato e/ou sistema documentados foram violados. Os erros típicos cometidos nos relatórios de auditoria são: Múltiplas não conformidades relacionadas aos diferentes requisitos da norma no mesmo relatório; Repetição do mesmo tipo de problema sendo registrado em diferentes relatórios de não conformidade, em vez da abertura de um relatório com múltiplas evidências objetivas. Para evitar desentendimentos potenciais, o auditor deve redigir as não conformidades como problemas e não soluções. Todas as não conformidades devem ser acordadas e assinadas ou quando são encontradas ou na reunião de fechamento. A última é a opção preferida, uma vez que diferentes equipes auditoras podem ter encontrado problemas similares e, somente quando analisam criticamente as observações em conjunto podem classifica-las. Relatórios de não conformidade devem ser tratados confidencialmente e ser retidos por um período definido. Equipes subsequentes de auditoria devem ter acesso a esses registros para desenvolver um histórico do desempenho do auditado. Um exemplo de relatório de auditoria está mostrado na Figura 4.5, enquanto um exemplo de relatório de não conformidade pode ser visto na Figura 4.6. 61 Fonte: O’HANLON (2009). Figura 4.5 - Exemplo de relatório de auditoria 62 Fonte: O’HANLON (2009) Figura 4.6 - Exemplo de relatório de Não conformidade 4.4 Relatando as não conformidades Ao transformar uma não conformidade em palavras, é importante aproximar-se do texto da norma. As seções que se seguem consistem em exemplos de tal aproximação apresentados segundo o respectivo requisito da norma. 63 4.4.1 Requisitos gerais A organização não estabeleceu, documentou, implementou e/ou manteve um sistema de gestão da qualidade. Ela não melhorou continuamente sua eficácia de acordo com os requisitos dessa norma e não: Identificou os processos necessários para o sistema de gestão da qualidade e/ou sua aplicação por toda a organização. Determinou a sequência e a interação desses processos. Determinou os critérios e métodos necessários para assegurar que a operação e o controle desses processos sejam eficazes. Assegurou a disponibilidade de recursos e informações necessários para apoiar a operação e o monitoramento desses processos. Monitorou, mediu e analisou esses processos. Implementou ações necessárias para atingir os resultados planejados e a melhoria continua desses processos. Desta forma, A organização não gerenciou os processos de acordo com os requisitos dessa norma internacional. Se ela optou por adquirir externamente algum processo que afete a conformidade do produto em relação aos requisitos, ela não assegurou o seu controle. O controle de processos adquiridos externamente não é identificado no sistema de gestão da qualidade. 4.4.2 Requisitos de documentação A) Geral A documentação do sistema de gestão da qualidade não abrange: Declarações documentadas da política da qualidade e dos objetivos da qualidade. Um manual da qualidade. Procedimentos documentados requeridos por essa norma. 64 Documentos necessários à organização para assegurar o planejamento, a operação e o controle eficaz de seus processos. Registros requeridos por essa norma. B) Manual da qualidade A organização não estabeleceu e/ou manteve um manual da qualidade que inclui: O escopo do sistema de gestão da qualidade, incluindo detalhes das justificativas para quaisquer exclusões. Os procedimentos documentados estabelecidos para o sistema de gestão da qualidade, ou referência deles. A descrição da interação entre os processos do sistema de gestão da qualidade. C) Controle de documentos Um procedimento documentado não foi estabelecido para definir os controlesnecessários para: Aprovar documentos quanto a sua adequação antes do uso. Analisar criticamente; atualizar quando necessário; e reprovar documentos. Assegurar que alterações e a situação da revisão atual dos documentos sejam identificadas. Fazer com que as revisões pertinentes dos documentos aplicáveis estejam disponíveis nos locais de uso. Garantir que os documentos permaneçam legíveis e prontamente identificáveis. Assegurar que documentos de origem externa sejam identificados e que sua distribuição seja controlada. Prevenir o uso não intencional de documentos obsoletos e aplicar identificação adequada nos casos em que forem retidos por qualquer propósito. 65 4.5 Verificação e Análise da Auditoria O termo análise pode ser definido como a conversão de dados brutos em informações úteis que podem ajudar no gerenciamento e no aperfeiçoamento do desempenho do sistema da qualidade sob auditoria, quer ela esteja relacionada com a organização geral; quer com um produto, processo ou serviço específico. As auditorias da qualidade são realizadas para determinar uma ou mais das seguintes características: A adequação do sistema da qualidade de uma organização, isto é, a conformidade do programa da qualidade aos requisitos da norma da qualidade de referência. A conformidade dos atos ou decisões do pessoal de uma organização aos requisitos do programa da qualidade, tais como definidos na política da qualidade; no manual da qualidade; nos procedimentos ou instruções; e documentação do produto (desenhos, especificações, normas etc.) procedimentos e instruções de processo, e assim por diante. A eficácia das diversas atividades que constituem o sistema da qualidade de uma organização. 4.5.1 Análises de causa e efeito A análise de causa e efeito é usada para separar o elemento do sistema da qualidade que necessitam de correção (Identificado pela análise dos dados) dos sintomas ou resultados visíveis dessa deficiência (Indicado pela Auditoria de Qualidade). 4.5.2 Análise de padrão A análise de padrão envolve a organização dos dados de maneira que, rapidamente, revele qualquer tipo de agrupamento que ocorra. Esta técnica é de grande importância nas auditorias internas da qualidade, uma vez que é muito eficaz na utilização dos dados de auditoria repetitivas. Assim, ela pode ser sensível à localização e ao tempo. 66 A análise de padrão tem valor limitado em auditorias externas da qualidade devido ao seu caráter pouco repetitivo. As análises de padrão podem ser expostas por meio das seguintes apresentações: A) Apresentação matricial Um método de análise de padrões é desenhar uma matriz dos elementos da qualidade em diferentes locais da fábrica. A imagem deve mostrar a situação ou resultado da auditoria em quatro graduações (satisfatório, inadequado, adequado e insatisfatório). Talvez seja necessário mostrar os locais que não estão sendo auditados. É suficiente, neste ponto, discutir a Tabela 4.1, um extrato de uma folha de resumo relacionada com controle de documentação, onde os resultados são mostrados como satisfatórios (OK) e não satisfatórios (NOK). Tabela 4.1 - Estrato de Folha de Resumo de uma Auditoria da Qualidade – Controle de Documentos Fonte: Elaborado pelo autor B) Padrões gerados por computador Numa auditoria interna da qualidade, cada observação de uma deficiência dá origem a uma solicitação de ação corretiva. Vale a pena realçar, neste ponto, que as peças-chave de informação na solicitação são: A causa do problema. O supervisor ou a localização responsável por tomar as ações corretivas necessárias. 7 8 9 10 11 12 Oficina A OK OK OK NOK OK OK Oficina B OK OK OK NOK OK OK Oficina C NOK NOK NOK NOK OK OK Oficina D OK OK OK NOK OK OK Oficina E OK OK OK NOK OK OK Elemento e localização Semana número 67 Os números dos desenhos ou das peças envolvidas no problema. A data ou número de série dos equipamentos pelos quais as correções podem ser feitas e verificadas. C) Apresentação em gráficos de barras Na fase inicial, dois tipos de gráficos de barra devem ser preparados para a apresentação dos dados da auditoria. O eixo horizontal de um deles deve ser dividido em termos de funções operacionais ou locais sendo auditados, e o eixo horizontal do outro deve ser dividido em termos dos elementos do sistema da qualidade sendo monitorados. Os eixos verticais dos dois gráficos devem ser divididos numericamente para registrar o número de deficiências observadas em cada local ou para cada elemento. 4.5.3 Análise sobre o desempenho A obtenção de dados quantificados é essencial para que a medição do desempenho tenha significado. Sem um referencial numérico, é impossível determinar se os “processos ou sistemas aperfeiçoados” realmente apresentam um desempenho melhor. 4.5.4 Análise binomial Um cálculo binomial pode ser usado para determinar a probabilidade do número de ocorrências, conforme a equação a seguir (Equação 1): Pc = 𝒏! 𝒄!(𝒏−𝒄)! 𝒑𝒄𝒒𝒏−𝒄 Pc = probabilidade de ocorrer exatamente c ocorrências n = número de amostras tomadas durante a auditoria c = número de observações de deficiências feitas p = taxa média de erros para a população = c / 𝑨𝒏 , onde A é o número de auditorias q = nível de desempenho médio para a população = 1 – p 68 O desenvolvimento binomial permite que os níveis de desempenho sejam quantificados com precisão quando são observadas deficiência. Os fatores conhecidos são o tamanho da amostra n e o número de ocorrências ou observações c. Para uma primeira aproximação, o nível de desempenho pode ser calculado da seguinte maneira: Taxa média de erro = c / n = p ou Nível médio de desempenho = 1 – p = q Estes dois valores têm uma probabilidade de 50% de ocorrer, em outras palavras, essa porcentagem corresponde ao nível de confiança do número calculado. Este, normalmente, não é um nível de confiança aceitável para medir o desempenho. A taxa média de erro p pode ser calculada para valores conhecidos de n e c; e valores específicos de nível de confiança Pc, usando a Equação 1. Contudo, determinar p para um valor dado de Pc é mais complexo. No entanto, um programa iterativo de computador pode efetuar os cálculos necessários com um grau desejado de precisão e fornecer as tabelas com as quais pode-se fazer o seguinte tipo de declaração: Com um nível de confiança de Pc, a auditoria da qualidade mostra que o nível de desempenho real não é inferior a x por cento. x é o valor de p determinado pelo cálculo anterior. O programa iterativo usa a seguinte lógica: Para saber o nível de confiança desejado p com zero observações de não conformidades, calcula-se a taxa de erro correspondente p para o tamanho da amostra de dados n, usando a expressão P0 = pn ou transpondo p = (P0)1/n. Usando os valores p e n, calcula-se Pc usando a Equação 1. Repete-se a operação 2 aumentando ou diminuindo incrementalmente o valor de p, até que o resultado desejado de Pc seja obtido. O valor final de p é o nível de desempenho correspondente àqueles mostrados na Tabela 4.2. 69 Nota: Na prática, é necessário estabelecer uma tolerância para o valor aceitável de Pc, para diminuir o tempo de processamento do computador. Tabela 4.2 - Tabela de Níveis de Desempenho para Diferentes Tamanhos de Amostras, Número de observações e Níveis de Confiança Fonte: MILLS (1994) Exemplo: Para uma amostra de auditoria de 50, foram feitas duas observações de deficiências. Com base nestes dados, podem-se fazer as seguintes declarações: Com nível de confiança de 50%, a taxa média de erros na área envolvida não é maior de 4%. Com um nível de confiança de 90%, a taxa média de erros na área envolvida não é maior que 9,233%. Com nível de confiança de 95%, a taxa média de erros na área envolvida não é maior
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