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1 Vanessa Telles- Internato em Clínica Médica Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Definição: Acidente Vascular Cerebral (AVC) está associado a um grupo de doenças cerebrovasculares. Classicamente é definido como um déficit neurológico e geralmente focal de instalação súbita ou de rápida evolução com duração maior que 24 horas e de causa vascular. Ou seja, há uma perda de função cerebral focal predominante associada a causas vasculares, o que inclui aspectos estruturais (relacionados ao vaso) e funcionais (relacionados ao sistema de coagulação ou às propriedades do fluxo sanguíneo). Alguns casos podem durar menos que 24 horas, mas estarão necessariamente associados a morte. Os eventos de AVC podem ser classificados de acordo com seus aspectos patológicos em isquêmico (AVCi) e hemorrágico (AVCh), os quais serão detalhados abaixo. Em todo caso, trata-se de quadros que devem ser atendidos como emergência a fim de diminuir o risco de sequelas para o paciente. Outra definição importante é o Ataque Isquêmico Transitório (AIT), que compreende episódio agudo de disfunção neurológica com duração menor que 24 horas e sem evidência radiológica de infarto encefálico. Porém, numa definição mais atualizada, o AIT seria o déficit neurológico focal agudo com ausência de infarto cerebral nos exames de imagem e duração <1 hora. Em termo grosseiros e simples, seria um “AVC leve” e sem danos cerebrais e sem sintomas/ déficits, mas não deve ser ignorado, pois pode evoluir para o AVC real. Quanto a epidemiologia, o AVC é a quinta maior causa de mortalidade nos EUA e a terceira causa associada a redução dos anos de vida perdidos. O AVCi é o mais prevalente e corresponde a 87% dos casos. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi) é aquele causado por uma agressão isquêmica que gera alterações estruturais e funcionais nos componentes encefálicos. Está associado ao Infarto Agudo do SNC, que corresponde a uma disfunção focal e aguda de encéfalo ou retina ou medula espinhal que dura > 25 hrs e com evidência de isquemia focal. FATORES DE RISCO: HAS, dislipidemia, aterosclerose de carótida, fibrilação atrial, tabagismo, alcoolismo, DM, obesidade, doença renal crônica, história familiar. ETIOLOGIAS do AVCi e do AIT: trombose de grandes vasos por doença aterosclerótica; trombose de pequenas artérias; cardioembolismo por miocardiopatias, valvopatias ou arritmias; trombofilias; arterites; etc. Fisiopatologia do AVCi: A presença das etiologias ou sua instalação crônica induz agressão isquêmica encefálica, gerado uma área de infarto cerebral (região com dano estrutural e funcional irreversível próxima ao foco da isquemia) e uma área de penumbra (região periférica em que há comprometimento funcional temporário e certa viabilidade celular por ainda receber fluxo sanguíneo reduzido). A área de infarto não pode ser recuperada, mas a área de penumbra pode se recuperar com a reperfusão tecidual, o que deve acontecer o quanto antes para que evitar o crescimento da área de infarto. A formação dessas áreas é determinada por: circulação colateral, oxigenação, variações de fluxo sanguíneo, temperatura corporal, equilíbrio hidroeletrolítico e metabólico. Manifestações: Variam conforme a região arterial acometida. Os componentes da circulação encefálica e os sintomas gerados por alterações locais são: ✓ Circulação arterial encefálica anterior (carotídea; carótida interna que se divide em cerebral media e anterior): • A. cerebral média direita- hemiparesia esquerda; paralisia facial esquerda; hipoestesia esquerda; hemineglicência esquerda. Isso porque há acometimentos dos giros pré e pós central. • A. cerebral média esquerda- hemiparesia direita; paralisia facial direita; hipoestesia direita; afasia (porque irriga áreas de Broca e Wernick, induzindo afasia sensitiva e motora). • A. cerebral anterior- paresia ou hipoestesia de MI contralateral; rebaixamento do nível de consciência; incontinência urinaria. ✓ Circulação arterial encefálica posterior (vertebrobasilar; astérias vertebrais que originam a. cerebelar e se unem para formar a. basilar e depois ainda se bifurcam nas a.a. cerebrais posteriores): 2 Vanessa Telles- Internato em Clínica Médica • A. cerebral posterior- hipoestesia contralateral; hemianopsia homônima contralateral. • A.a. do sistema vertebrobasilar (vertebrais e tronco encefálico) - vertigem; paralisia de nervos cranianos exceto I e II; hemiparesia ou hipoestesia contralateral; ataxia cereberal; paralisia facial central contralateral. Isso porque afeta cerebelo. ✓ Outros componentes da circulação encefálica que unem a circulação anterior e posterior: polígono de Willis com a. comunicante anterior e posterior. Diagnósticos diferenciais: síncope; hipoglicemia; crise epiléptica; tumor cerebral; encefalopatia de Wernick. Manejo: Em emergências diante de paciente com déficit focal súbito: monitorização + estabilização clínica + acesso venoso + coleta de exames + glicemia capilar + exame neurológico rápido e cálculo do National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS). ✓ Anamnese e exame físico ✓ Cálculo NIHSS (final do resumo): Pontuação varia de 0 (sem evidência de déficit neurológico) a 42 (paciente em coma e irresponsivo); ✓ Avaliação da linguagem ✓ Avaliação da articulação da fala ✓ Estabilização clínica: suporte de O2 para manter SatO2 > 94%; manter glicemia 140-180 mg/dl; manter PAS < 185 e PAD < 110 para candidatos a trombólise e PAS < 220 e PAD < 110 para demais. ✓ Controle da pressão: Labetolol 10-20 mg EV por 1-2 min ou Nicardipina 5mg/h aumentando 2,5 mg/h a cada 5-15 min até máximo de 15 mg/h. Na prática: Nitroglicerina ou esmolol. ✓ Exames gerais: troponina, ECG, HMG, ureia e creatinina, eletrólitos, RX tórax, TC ou RM encefálica. ✓ Antes da trombólise devem ser feitos: glicemia capilar; exames de imagem; Tempo de protrombina (TP), Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) e Tempo de Trombina e atividade do fator Xa ou coagulograma simples para usuários de anticoagulantes nas ultimas 48H. ATENÇÃO: Classificação de Alberta Stroke Pragramme Early CT Score (ASPECTS) à TC: quantifica as alterações isquêmicas pela definição de 10 regiões na área de irrigação da a. cerebral media. Quanto menor a pontuação, pior o prognostico. ✓ Revascularização arterial: • Trombólise Endovenosa: ▪ Indicações: > 18 anos e sintomas há < 3 hs OU sintomático há 3-4,5 hrs OU sintomas há 4,5h + sinais de déficit anteriormente + hipersinal em sequência DWI na RM com extensão menor em território onde há hipersinal da DWI + ausência de alteração de sinal visível em sequência FLAIR da RM. ▪ Contraindicação absoluta se: NIHSS <5 com déficit não incapacitante; hemorragia intracraniana na TC/RM; AVCi ou cirurgia intracraninana ou TCE < 3 meses; suspeita de hemorragia subaracnóidea; plaquetas < 100.000; uso de abciximab ou aspirina ou heparina; neoplasia/ sangramento em TGI; suspeita de endocardite infecciosa; PA > 185/110. ▪ Contraindicação relativa: gestação, trauma, aneurisma integro. ▪ Procedimento: Alteplase 0,9 mg/kg com máximo de 90mg, sendo 10% em bolus de 1 min e o restante por 60 min + controle da PA < 180/105 + monitoramento e UTI ▪ Complicações: hemorragia intraparenquimatosa (proceder com interrupção da Alteplase e introdução de crioprecipitado e ácido tranexânio), angioedema orolingual (proceder com interrupção da Alteplase e introdução de metilprednisolona, difeniframina e ranitidina) • Trombectomia Mecância: ▪ Indicações: sintomas há < 6 horas + > 18 anos + NIHSS > 6 + ASPECTS >6 + oclusão de a. carótida interna OU sintomas entre 6-16h com critérios de DAWN ou DEFUSE3 OU sintomas há 16-24hrs com critérios de DAWN. ▪ Procedimento: uso de stent ✓ Indicações de revascularização:• < 4,5h de sintomas: trombólise endovenosa e considerar estudo arterial 3 Vanessa Telles- Internato em Clínica Médica • 4,5-24h de sintomas: estudo arterial e considerar trombectomia mecânica • > 24h de sintomas: tratamento conservador + suporte. Acima de 24hrs não se faz revascularização! ✓ Terapia antitrombótica: AAS 160-325 mg em até 48h OU Clopidogrel 75mg/d; Estatina em alta dose (Atorvastatina 80mg). ✓ Cuidados gerais: proteção de vias aéreas; manter SatO2> 94%; controle de temperatura/ glicemia; profilaxia para TVP; prevenção de úlceras por estresse. ✓ Complicações do AVCi: • Edema cerebral: pico 3-4 dias após evento; proceder com monitorização, decúbito com elevação de 30º, terapia osmótica, hiperventilação breve, neuroproteção com sedação e hemicraniectomia descompressiva. Essa cirurgia deve ser indicada se déficits neurológicos e rebaixamento de consciência precoce. Em caso de AIT: internação + escore ABCD + investigação de causa com exames (RM, angioTC, USG doppler transcraniana) + exames de gerais.
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