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MICROBIOLOGIA DAS DOENÇAS PERIODONTAIS ➢ Doença periodontal é multifatorial: o Paciente; o Fatores comportamentais; o Fatores sistêmicos; o Fatores genéticos; o Fatores locais; o Biofilme. INTERAÇÃO HOSPEDEIRO X MICROBIOTA ➢ Durante a vida, todas as superfícies de interface do corpo são expostas à colonização por uma grande variedade de microrganismos; ➢ A renovação constante das superfícies por descamação impede o acúmulo de grandes quantidades de microrganismos; ➢ Mas, na cavidade bucal se tem uma superfície dura não-descamativa: o O acúmulo e o metabolismo das bactérias sobre as superfícies duras da cavidade bucal são considerados os principais motivos para a presença de cárie, gengivites, doenças periodontais e infecções peri-implantares. GENGIVITE EXPERIMENTAL EM HUMANOS – LOE, 1965: ➢ Mostrou a etiologia microbiana da gengivite, através da presença do biofilme: o Estudante de odontologia suspenderam medidas de higiene oral. ➢ Grandes depósitos bacterianos são regularmente associados a formas localizadas de doenças nos tecidos duros e moles adjacentes; ➢ As comunidades bacterianas presentes na cavidade bucal são extremamente complexas, porque elas vivem juntas e são capazes de formar uma estrutura resistente às intempéries que podem ocorrer na cavidade bucal, estimando-se o envolvimento de cerca de 700 espécies; ➢ Em 1m de placa de placa dental =108 bactérias TIPOS DE DEPÓSITOS DENTÁRIOS: ➢ Matéria alba: o Acúmulo branco tipo queijo; o Acúmulo suave de proteínas salivares, células descamadas, restos alimentares; o Falta de estrutura; o Facilmente removido com spray de água; ➢ Biofilme: o Substância resiliente clara à amarelo- acinzentado; o Composto por bactérias em uma matriz de glicoproteínas salivares e polissacarídeos extracelulares; o Estruturado; o Impossível remover com enxague ou spray. ➢ Cálculo: o Depósito duro que se forma por meio de mineralização do biofilme; o Geralmente coberto por uma camada de biofilme não-mineralizado. PERIODONTITE EXPERIMENTAL EM BEAGLES – LINDHE, 1973: ➢ Mostrou a etiologia microbiana da DP, através da presença do biofilme: o Induziram gengivites que evoluíram para periodontite simplesmente por permitir o acúmulo de biofilme no dente; o Os dentes higienizados adequadamente não apresentaram sinais de inflamação gengival ou periodontite. o Logo, mostrou-se que o biofilme tem papel relevante na progressão da DP. TEORIAS TEORIA DA PLACA INESPECÍFICA: ➢ A hipótese da placa não específica sustenta que as doenças periodontais resultam da elaboração de produtos nocivos por toda a microbiota da placa; ➢ Essa teoria foi confirmada por estudos epidemiológicos que correlacionaram a idade e a quantidade de placa com os sinais da periodontite; ➢ Alguns indivíduos com um considerável acúmulo de placa e cálculo, bem como gengivite, nunca desenvolvem doença periodontal destrutiva; ➢ Além disso, indivíduos com periodontites demonstraram uma especificidade local considerável no padrão da doença; ➢ O reconhecimento das diferenças da placa em sítios com um estado clínico diferente (por exemplo: doença versus saúde) levou a uma busca renovada por patógenos específicos nas doenças periodontais e a uma transição da hipótese da placa não especifica para a hipótese da placa especifica. TEORIA DA PLACA ESPECÍFICA: ➢ Afirma que apenas certa placa é patogênica, e que sua patogenicidade depende da presença ou aumento de microrganismos específicos; ➢ Esse conceito preconiza que a placa que abriga patógenos bacterianos específicos resulta na DP, porque esses microrganismos produzem substâncias que medeiam a destruição dos tecidos do hospedeiro; ➢ A aceitação da hipótese da placa específica foi estimulada pelo reconhecimento do Aggregatibacter actinomycetemcomitans como patógeno na periodontite agressiva localizada; ➢ A associação do complexo bacteriano vermelho de Socranksy, P. gengivalis, T. forsythia e T. denticola com a DP baseou-se na análise de 40 tipos bacterianos diferentes em mais de 13.000 amostras de placas bacterianas. TEORIA DA PLACA ECOLÓGICA: ➢ Tanto a quantidade total de placa dental quanto a composição microbiológica específica podem contribuir para a transição de saúde e doença. BIOFILME: ➢ Comunidade microbiana relativamente indefinida associada à superfície do dente ou a qualquer outro material duro não descamativo. MECANISMOS DE FORMAÇÃO DO BIOFILME: ➢ Fase 1: o Formação da película adquirida com adsorção das glicoproteínas salivares (mucinas), anticorpos → altera a carga e energia superficial, aumentando a adesão bacteriana (microrganismos colonizadores); ➢ Fase 2: o Adesão (0-4hr): bactérias aderem de forma variável nas superfícies com película → produção de polímeros extracelulares e fímbrias para rápida adesão. ➢ Fase 3: o Crescimento e multiplicação (4-24hrs) → crescimento celular ativo de bactérias, com disponibilidade de suprimento de nutrientes (retroalimentação) e síntese de novos componentes da matriz extracelular; ➢ Fase 4: o Manutenção → adesão de novas bactérias e síntese de polímeros extracelulares, com aumento da espessura do biofilme surge um gradiente de oxigênio, ou seja, o biofilme fornece um arcabouço de sobrevivência para as bactérias que estão ali unidas. E também ocorre a multiplicação de bactérias anaeróbicas. BIOFILME: ➢ Colonização primária: o Cocos gram-positivos e anaeróbios facultativos; o Bastonetes gram-positivos, como o S. sanguis e Actinomyces ssp permitem a aderência de microrganismos gram negativos, no qual surgem a Fusobacterium nucleatum e Prevotella intermedia, conectam-se através de receptores, a fim de permitir uma complexidade do biofilme; o Com o passar do processo mais bactérias surgem, no qual se tem menos estreptocos e Actinomyces e mais bactérias gram- negativas, como as Porphyromonas e Aggregatibacter: ▪ Aumenta a heterogeneidade à medida que a placa envelhece e se torna madura; ▪ Ocorrem mudanças ecológicas com colonização secundária por bactérias gram-negativas anaeróbias estritas, contribuindo para o aumento da patogenicidade do biofilme. ➢ Explicação da imagem: o Ilustra o biofilme, onde embaixo se tem a película adquirida que vai alterar a carga da superfície dentária para que permita a adesão das colonizadoras primárias, como Estreptocos; o Depois permitem a adesão de bacilos; o Com o passar da maturação do biofilme, onde adquire estrutura, forma-se as bactérias gram-negativas, que são periodontopatógenos clássicos que vão estimular a resposta do hospedeiro de forma mais acentuada. ➢ Imagem → Sucessão microbiana: o Processo de alteração no padrão de bactérias gram-positivas para as bactérias gram-negativas, no qual sempre ocorre desde que não haja a desorganização do biofilme; o Sempre alimentado pela saliva ou pelo exsudato inflamatório do fundo da bolsa → gerando uma resposta inflamatória no hospedeiro. VANTAGENS DO BIOFILME: ➢ Proteção contra mecanismo de defesa (inato e específico) e antimicrobianos; ➢ Facilitação para aquisição de nutrientes pelas outras bactérias do conjunto; ➢ Remoção de produtos metabólicos tóxicos, ou seja, quando se tem uma camada estruturada cria gradientes que elimina produtos tóxicos, fornecendo um ambiente mais saudável para as bactérias, facilitando a sobrevivência; ➢ Alimentação cruzada; ➢ As bactérias residentes são mais resistentes aos antimicrobianos que as mesmas espécies livres: o Os biofilmes protegem efetivamente as bactérias dos agentes antimicrobianos → o uso de antibiótico deve ser sempre associado à desorganização do biofilme. ➢ RESUMO: A placa dental/biofilme como um depósito microbianode ocorrência natural apresenta um biofilme verdadeiro que consiste em bactérias em uma matriz composta principalmente de polímeros extracelulares de origem bacteriana e produtos do exsudato do sulco gengival e/ou saliva. ESTRUTURA DA PLACA DENTAL: ➢ Supragengival: o Estrutura não mineralizada; o Colonizadores primários; o Superfície colonizada → próximo da JCE; o Disponibilidade de produtos do sangue; o Com matriz intermicrobiana (proteção); o Acima ou na margem gengival; o Aderente/aderida na superfície através da película adquirida; o Sacarolíticas ou fermentativas; o Cocos e bastonetes gram-positivos na maioria; o Imóveis; o Bactérias se nutrem pela dieta do hospedeiro, através da saliva; o Microscopia: formação das bactérias espiroquetas como espiga de milho e os cocos. ➢ Subgengival: o Alteração nos tipos de bactérias → gram- negativas; o Superfície colonizada → raiz ou pode ter ainda um pouco de esmalte ou cemento; o Disponibilidade de produtos do sangue → se tem produtos oriundos do sangue e do plasma sanguíneo; o Semelhante à placa supragengival; o Abaixo da margem gengival; o Continuação apical da placa supragengival - pode ou não; o Aderência inicial na cutícula/epitélio; o Assacarolíticas ou proteolítica; o Anaeróbias; o Nutrição via exsudato inflamatório; o Associada a superfície radicular: ▪ Com bolsa periodontal (>3mm) e superfície pode ser esmalte ou cemento: ▪ Áreas de reabsorção do cemento e invasão dos túbulos dentinários; ▪ Predomínio de filamentos, cocos e bacilos gram-negativos; ▪ Porção mais apical: espiroquetas (sem orientação); o Associado ao epitélio da bolsa: ▪ Adesão frouxa ao epitélio; ▪ Não há matriz intermicrobiana; ▪ Cocos e bacilos gram-negativos; ▪ Espiroquetas e bactérias flageladas de forma desorganizada. Placa aderida ao dente (equivalente à supragengival) Um meio liquido do exsudato gengival Placa aderida às células epiteliais (bolsa periodontal) ➢ Supragengival e Subgengival: o Diferenças na composição: ▪ Superfície colonizada; ▪ Disponibilidade de produtos do sangue; ▪ Profundidade da bolsa. CÁLCULO DENTAL: ➢ Em animais livres de germes, também ocorre a formação de cálculo como resultado da calcificação das proteínas salivares; ➢ Mas, usualmente, representa a placa bacteriana mineralizada; SUPRAGENGIVAL: ➢ Coloração branco-amarelada ao amarelo- acastanhada; ➢ Próximo à saída dos ductos excretores das glândulas salivares maiores; ➢ Composição heterogênea: parte inorgânica → 16-51% (cristais de hidroxiapatita). SUBGENGIVAL: ➢ Cor marrom ou preta, superfície rugosa; ➢ Detectado pela sensibilidade tátil durante o procedimento de sondagem; ➢ Pode ser visto em radiografias dentais; ➢ Tecido calcificado a partir do exsudato inflamatório → por isso a cor escurecida, porque utiliza os componentes do sangue para ser formado na região; ➢ Composição homogênea: parte inorgânica 32- 78% (cristais de fosfato de cálcio). IMPORTANTE!!! ➢ O cálculo representa um produto secundário da infecção e não a causa principal da periodontite; ➢ Deve-se compreender que o cálculo está sempre coberto por uma camada viável (biofilme) de placa bacteriana não- mineralizada; ➢ Deve-se considerar que um meticuloso controle da placa supragengival garantirá a redução do reservatório bacteriano supragengival para recolonização subgengival. COMPLEXOS MICROBIANOS ➢ Socransky et al., 1998: o 13.000 amostras de placa subgengival de 185 indivíduos adultos; o Reconheceu 6 grupos de espécies bacterianas: ▪ Azul; ▪ Roxo/violeta; ▪ Verde; ▪ Amarelo; ▪ Laranja; ▪ Vermelho. ➢ Distribuição das espécies dos complexos no ambiente gengival: PATÓGENOS PERIODONTAIS: ➢ Patogenicidade: o Habilidade de colonização subgengival; o Capacidade de invasão, principalmente as do complexo vermelho que se escondem na célula epitelial para se esconder da resposta inflamatória do hospedeiro (macrófagos); o Liberação de proteases (degradam proteínas ou hialuronidases → destroem colágeno) e toxinas (como LPS → compostos que geram uma resposta imune grave); o Capacidade de modular respostas imunológicas destrutivas. ➢ Características: o Microrganismos gram-negativos; o Anaeróbios ou microaerófilos; o Proteolítico; o Capacidade de migração; o Produção de toxinas que vão gerar uma resposta no hospedeiro. FATORES QUE AFETAM A COMPOSIÇÃO DA PLACA SUBGENGIVAL: ➢ Estado da DP do hospedeiro; ➢ Profundidade de bolsa; ➢ Influenciado por: o Quantidade de fluido gengival → proteínas, hormônios, vitamina K: ▪ Que muda para exsudato inflamatório. o Profundidade do sulco/bolsa → teor de oxigênio. ➢ Explicação da imagem acima: o Azul: pacientes saudáveis; o Amarelo: bolsas periodontais < 4mm; o Laranja: bolsas periodontais entre 4 e 6mm; o Vermelho: bolsas periodontais > 6mm. o Dividido de acordo com os complexos microbianos, no qual quanto maior a profundidade da bolsa periodontal - linhas vermelhas - mais bactérias do complexo vermelho serão encontradas no paciente. GENGIVA CLINICAMENTE SAUDÁVEL: ➢ 75% facultativos: o Cocos gram +: Streptococos; o Bacilos gram +: Actinomyces. ➢ 25% anaeróbios estritos: o Gram -: Fusobacterium, Veilonella e Prevotella. GENGIVITE: ➢ 45% gram -: anaeróbios e espiralados: o Anaeróbios: 25% → 50%; o Treponemas: 2% → 20%. ➢ Destaque: Prevotella intermedia. GENGIVITE ULCERATIVA NECROSANTE – GUN: ➢ Necrose da papila interdental e odor fétido; ➢ Treponema (bactéria espiralada) e Prevotella intermedia (bacilo gram -). PERIODONTITE CRÔNICA: ➢ Gram -: 75%; ➢ Anaeróbios estritos: 90%; ➢ Treponemas: 30% PERIODONTITE AGRESSIVA: ➢ Predominância: destruição mais acentuada. RELAÇÃO MICROBIOTA – HOSPEDEIRO: ➢ Bactérias patogênicas: o Habilidade do hospedeiro de manter a desorganização satisfatória do biofilme e também os componentes relacionados as bactérias, como fatores de virulência e capacidade de resistir do hospedeiro. ➢ Virulência das bactérias patogênicas: o Número suficiente de microrganismos (relações intermicrobiana); o Capacidade de colonização da área subgengival; o Capacidade de superar os mecanismos de defesa; o Capacidade de gerar lesão. ➢ Fuga da fagocitose: o Provocar a morte do fagócito: liberação de leucotoxinas (morte do leucócito): A. actinomycetecomitans; o Impedir a ingestão: ▪ Cápsulas: P. intermedia, P. gengivalis e A. acitnomycetecomitans. ➢ Fatores de virulência: o Invasão: capacidade da bactéria de invadir (penetrar) na célula epitelial: ▪ Proteção bacteriana contra as defesas do organismo → espalham-se para células adjacentes; ▪ A. actinomycetemocomitans, P. gengivalis e Tanerella forsythia. ➢ Capacidade de gerar lesão: o Produzem substancias que agridem os tecidos: H2S, HN3; o Substâncias que induzem as células do hospedeiro a liberarem substancias biologicamente ativas: LPS (lipopolissacarídeos); o Substâncias que afetam a matriz intercelular: colagenases → destruição dos tecidos. o Fatores de virulência: ▪ Enzimas hidrolíticas; ▪ Degradação dos componentes da matriz extracelular; ▪ Penetração nos tecidos do hospedeiro; ▪ Geração de nutrientes; ▪ Produção de proteases, colagenases, hialuronidases, enzimas com ação semelhante a tripsina e a fosfolipase. ➢ Endotoxinas: lipopolissacarídeos – LPS: o Bactérias gram -; o LPS: componente da membrana externa → liberada quando há a morte da bactéria. o Efeitos: ▪ Febre; ▪ Indiretamente: reabsorção óssea. ➢ Efeito bacterianos indiretos sobre o periodonto mediado pelo hospedeiro: o Fatores bacterianos: LPS, ácido lipotetóico, peptideoglicanos o Agemem macrófagos liberando IL-1, TNF, IL-6, PGE2 o Mediadores inflamatórios do hospedeiro bloqueiam a formação óssea, inibem a síntese de colágeno (inibição dos osteoblastos) e aumenta o número de osteoclasto. CONSIDERAÇÕES FINAIS: ➢ O biofilme é o fator etiológico da DP e vai estimular a resposta inflamatória do paciente, no qual essa resposta em grande escala vai levar a uma destruição tecidual significativa, no qual vai destruir as fibras colágenas, destruição do ligamento periodontal, reabsorção óssea → migração apical do epitélio juncional (recessão gengival) → aprofundamento da bolsa e assim com maior acúmulo de biofilme, maior a resposta inflamatória; ➢ Sem interrupção do ciclo → perda dentária. ➢ O cálculo representa um produto secundário da infecção e não é a causa principal da periodontite.
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