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Sua característica mais marcante é a destruição das fibras colágenas, que acarreta o afrouxamento dos feixes transeptais e circulares e a redução do tono da gengiva, favorecendo a formação da bolsa periodontal. As reabsorções ósseas e do cemento acarretam a perda de inserção das fibras colágenas, resultando no aumento gradativo da mobilidade dos dentes afetados, situação decisivamente complicada pela redução da biossíntese de colágeno e conseqüente impedimento da reparação tecidual. Utiliza-se o termo gengivite para inflamações reversíveis agudas ou crônicas restritas aos tecidos gengivais e o termo “periodontite” para configurar todas as inflamações destrutivas que afetam as estruturas profundas como o ligamento periodontal e o osso alveolar. As fases iniciais da doença parecem estar associadas com a atividade de metabólitos tóxicos (enzimas e toxinas) da placa bacteriana sobre as células e a substância intercelular do epitélio do sulco gengival, que não é queratinizado. O aumento da população de espécies patogênicas resulta em maior elaboração de produtos tóxicos que induzem ao incremento das respostas inflamatória (inespecífica) e imunológica (específica), que geram vários fatores (mediadores pró-inflamatórios) que contribuem decisivamente para a destruição progressiva e dramática que ocorre nos estágios avançados da doença. “Hipótese da placa inespecífica” Segundo ela, essas doenças resultam do acúmulo de placa bacteriana sobre os dentes, ao longo do tempo; considerava-se, então, que qualquer placa produziria cárie ou doença periodontal, dependendo de sua quantidade e localização. No entanto, com relação à periodontopatia, a observação clínica foi demonstrando que: Muitos indivíduos, apesar de apresentarem gengivite severa e quantidades apreciáveis de placa e de cálculo salivar, não desenvolvem periodontite; Apesar de ocorrer grande acúmulo de placa na região lingual de molares inferiores, a doença raramente se instala nesses sítios; Muitas vezes, bolsas periodontais profundas se desenvolvem em sítios com menor quantidade de placa do que em sítios com grande acúmulo de placa. O “conceito de placas específicas” veio a demonstrar que apenas algumas bactérias da placa são patogênicas e que o aparecimento das diferentes doenças (cárie dental, gengivite, periodontite crônica ou do adulto, periodontite agressiva ou juvenil etc.) depende basicamente do aumento do número de microrganismos específicos para cada situação. Associações entre microrganismos e doença periodontal: Associação muito forte: Actinobacillus actinomycetemcomitans e Porphyromonas gingivalis (considerados exógenos por alguns autores); Doenças Periodontais Forte: Bacteroides forsythus, Prevotella intermedia, Eubacterium nodatum, Treponema denticola e, na GUN, outros espiroquetas; Moderada: Streptococcus intermedius, Prevotella nigrescens, Fusobacterium nucleatum, Peptostreptococcus micros e Campylobacter rectus. Características básicas do ecossistema periodontal O microambiente subgengival é decisivamente influenciado pela quantidade de fluido gengival. O fluido gengival é um exsudato do soro sangüíneo, portanto, primariamente, tem importante desempenho na defesa local. No entanto, o aumento de sua exsudação conduz para o ambiente periodontal um aumento considerável de nutrientes essen As bactérias periodontais são favorecidas pela presença de proteínas, hemina (fator X), menadiona (vitamina K3) e hormônios, cujos teores aumentam expressivamente nos tecidos periodontais em função do aumento da quantidade de fluido gengival. Trata-se, pois, de bactérias caracterizadas por metabolismo predominantemente proteolítico, em sua maioria Gram- negativas e anaeróbias obrigatórias para o desenvolvimento de vários patógenos. O periodonto sadio é caracterizado por: Epitélio gengival estratificado descamativo (intensamente regenerável), queratinizado na porção exposta ao meio bucal e desprovido de queratina na porção sulcular. Sulco gengival com profundidade de 1 a 3 mm; epitélio sulcular aderido à superfície dental por hemidesmossomas. Tecido conjuntivo gengival fibroso denso, com grande quantidade de fibras colágenas que mantêm a gengiva aderida à superfície do dente. Presença de mínimo infiltrado de células inflamatórias (neutrófilos, linfócitos T e B, poucos plasmócitos), portanto pequena quantidade de exsudato gengival. Na gengivite induzida por placa, as características principais são determinadas pela presença de inflamação: Edema e flacidez gengival, com aumento virtual da profundidade do sulco para 4 a 5 mm. Hiperemia e consequente sangramento. Perda considerável de fibras colágenas, com redução do tono gengival. Aumento considerável da quantidade de exsudato gengival e maior infiltração de células inflamatórias (resultado da agressão das bactérias), que migram em grande número para o epitélio do sulco gengival através do epitélio juncional. O aumento do número de bactérias faz aumentar a resposta inflamatória defensiva, resultando em maior fluxo de fluido gengival, que favorece o desenvolvimento de várias espécies, com ênfase para as patogênicas anaeróbias proteolíticas, a maioria Gram- negativa. O amplo predomínio de bactérias Gram-negativas anaeróbias estritas e proteolíticas pode ser explicado por dois motivos principais: O espessamento inicial da placa bacteriana acontece graças ao aumento do número dos colonizadores iniciais (bactérias pioneiras), que são anaeróbios facultativos. Essas bactérias vão consumindo o pequeno teor de oxigênio presente no ambiente subgengival, reduzindo a tensão desse gás e favorecendo o estabelecimento de maiores proporções de anaeróbios estritos. Por outro lado, o aumento do número de bactérias da placa (maturação) acarreta maior elaboração de produtos necessários para o metabolismo de espécies patogênicas (cadeia alimentar). O aumento do número de bactérias da placa faz aumentar consideravelmente a atividade metabólica desta; com isto, aumenta expressivamente a quantidade de metabólitos bacterianos tóxicos para os tecidos periodontais. A consequência lógica é o aumento da intensidade da resposta inflamatória, da qual resulta maior afluência de fluido gengival e maior suprimento de nutrientes que favorecem o desenvolvimento de bactérias proteolíticas, muitas delas Gram-negativas e patogênicas. Portanto, a “chave” das alterações ecológicas na doença periodontal é esta: quanto maior a formação de placa bacteriana, maior será a produção de metabólitos tóxicos na região do epitélio desqueratinizado do sulco gengival. Como consequência, aumenta a intensidade da inflamação e o aumento da permeabilidade capilar acarreta maior afluência de exsudato gengival, favorecendo o desenvolvimento de patógenos periodontais. Assim, a base do controle e do tratamento das doenças periodontais deve ser um efetivo controle da placa bacteriana e da inflamação dela resultante. Caracterização dos patógenos periodontais Os complexos amarelo, azul, verde e violeta são constituídos por grupamentos (clusters) de bactérias que têm a capacidade de aderir à superfície dental, constituindo a base da pirâmide do biofilme: são os colonizadores iniciais da superfície dental e não se relacionam com a doença, sendo muitos deles considerados até como benéficos; espécies de Streptococcus constituem 47 a 82% dos colonizadores pioneiros. Para ser reconhecido como periodontopatogênico, o microrganismo deve apresentar os seguintes requisitos: • Associação com sítios de destruição ativa: o microrganismo deve ocorrer nos sítios ativos de doença, mais freqüentemente e em número muito maior do que nos sítios sadios ou nos inativos. • Eliminação: a erradicação do(s) patógeno (s) por medidas terapêuticasdeve ser acompanhada de cura ou remissão da doença (relação causa × efeito). • Resposta imunitária correspondente: o hospedeiro produz resposta específica contra o agente e seus produtos; assim, deve-se prever aumento do título de anticorpos séricos específicos para patógenos periodontais. • Elaboração de fatores de virulência: os microrganismos periodontopatogênicos devem exibir fatores demonstráveis de virulência que possibilitem sua colonização do hospedeiro, a resistência às defesas locais do hospedeiro e a destruição tecidual de maneira direta ou indireta. Fatores de virulência das bactérias periodontopatogênicas Fatores de virulência são propriedades que permitem que uma espécie microbiana colonize um tecido-alvo, sobrepuje as defesas do hospedeiro e cause dano para esse tecido. Fatores de colonização: O Ecossistema Bucal, para exercer seu efeito deletério no hospedeiro, a bactéria deve inicialmente nele encontrar um nicho ecológico adequado e colonizá-lo. A colonização num sítio apropriado é essencial para a sobrevivência da bactéria e para sua máxima atividade biológica. A aderência aos tecidos do hospedeiro e/ou a outros microrganismos residentes é o primeiro passo para a colonização e consequente patogenicidade. No caso do ambiente periodontal, se a bactéria não ficar firmemente ligada à superfície do dente ou do epitélio, ela será removida principalmente pelo fluxo de fluido gengival. A colonização dos tecidos do hospedeiro é função de uma variedade de fatores de virulência que incluem fímbrias, ácido lipoteicóico, lipopolissacarídios, exopolissacarídios, proteínas da membrana externa e vesículas de membrana externa. Locomoção e/ou invasão tecidual: Embora a grande maioria das bactérias considera das periodontopatogênicas. A capacidade de se mover em ambientes com alta viscosidade permite que essas bactérias migrem pelo fluido gengival e penetrem a barreira epitelial, atingindo o tecido conjuntivo gengival. Produção de moléculas com ação antibacteriana: São substâncias que vão dar, ao patógeno, vantagens competitivas em relação aos microrganismos comensais. Estas moléculas incluem bacteriocinas e produtos finais do metabolismo como ácidos orgânicos, álcoois, bases inorgânicas, compostos sulfurados, amônia etc. Produção de enzimas histolíticas Proteases: Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola são extremamente proteolíticos; além de degradar proteínas dos tecidos infectados ou do sistema de defesa, ainda induzem à produção de fatores citótoxicos.
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