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A adolescência é marcada por intensas modificações físicas, psíquicas, comportamentais e sociais. Após o nascimento, é o único momento em que o ser humano apresenta aceleração na velocidade de crescimento estatural e no ganho de peso, nos demais casos, mesmo com crescimento intenso, há desaceleração dessa velocidade. OMS adolescência – intervalo entre os 10 aos 19 anos. Comparando-se os sexos, as meninas iniciam o desenvolvimento púbere dois anos antes dos meninos. A fase de pico de crescimento é dependente da fase de maturação sexual. Entre as alterações biológicas, destaca-se o estirão de crescimento, maturação sexual e modificações na composição corporal. Os adolescentes ganham cerca de 20% da altura e 50% do peso corpóreo e massa óssea de um indivíduo, no início de sua vida adulta. AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E MATURAÇÃO SEXUAL Os estágios de maturação sexual serão verificados através da aplicação das tábuas de maturação de Tanner. Tabela 1: Maturação sexual segundo Tanner - meninos. Tabela 1 (continuação): Maturação sexual segundo Tanner - meninas. Durante a puberdade, o crescimento estatural médio anual dos meninos é de 9 a 10 cm e o ganho ponderal é de 8kg. O crescimento estatural médio anual das meninas é de 8cm/ano e o ganho ponderal é de 6 a 8kg. AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO - ESTIMATIVA DA ESTATURA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM LIMITAÇÕES FÍSICAS Existe a estimativa de altura de crianças e adolescentes com limitações físicas uso das medidas de membros superiores (CSB), do membro inferior a partir do joelho (CJ) e do comprimento tibial (CT). MEDIDA DO SEGMENTO ESTATURA ESTIMADA (cm) DP (cm) CSB E = (4,35 X CSB) + 21,8 +1,7 CT E = (3,26 X CT) + 30,8 +1,4 CJ E = (2,69 X CJ) + 24,2 +1,1 Tabela 2: Estimativa de altura em crianças e adolescentes com limitações físicas ÍNDICE DE MASSA CORPORAL PARA A IDADE (IMC/I) Para avaliar o estado nutricional do adolescente, a OMS preconiza o uso do IMC, o qual deve ser avaliado de acordo com a idade e sexo (o IMC aumenta com o passar da idade). Os pontos de corte foram definidos por meio de estudo de validação, considerando a morbimortalidade por doenças associadas ao baixo peso e ao sobrepeso. NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br Segundo CHEMIN & MURA, é um indicador para triagem e não para diagnóstico de alterações nutricionais. No caso de adolescentes, a justificativa para preconização do IMC/I baseia-se em: - inadequação do uso do P/I, isolado na avaliação de adolescentes (a fase de intenso crescimento necessita de avaliação de altura); - possibilidade do ajuste do IMC pela idade (levando em consideração as modificações ao longo do tempo); - utilização do mesmo critério de avaliação desde os dois anos de idade até a fase adulta/idosa; - estudos mostram que crianças e adolescentes com alto IMC/I tendem a manter essa condição na vida adulta. Desvantagem: não diferencia os componentes do peso corporal. Pontos de corte para classificação do estado nutricional pelo IMC/IDADE (OMS 2007 – CHEMIN & MURA 2011): Baixo peso / Magreza <p3; Normalidade p3 |– p85 ; Sobrepeso p85 |- p97 Obesidade ≥p97. Adolescentes com baixo IMC tendem a apresentar padrão mais lento de ganho ponderal, de aproximadamente 0,5 unidades por ano, ao passo que adolescentes com IMC alto apresentam tendência de ganho mais rápido, com incremento que pode ser superior a 1 unidade por ano, levando este adolescente ao risco de sobrepeso ou ao sobrepeso/obesidade. CHEMIN & MURA (2011) apresentam os critérios do CDC (2000) de valores de IMC em percentis, onde: Baixo peso / Magreza <p5; Normalidade p5 |– p85 ; Risco de Sobrepeso p85 |- p95 Sobrepeso ≥p95. Pacientes com risco de sobrepeso e sobrepeso devem ser avaliados frente ao risco cardiovascular e demais comorbidades, definindo, deste modo, as seguintes diretrizes de acompanhamento: Risco de sobrepeso sem complicação acompanhamento de peso; Risco de sobrepeso com complicação perda de peso; Sobrepeso perda de peso. No Brasil, o Ministério da Saúde preconiza os padrões da OMS 2007! ESTATURA PARA A IDADE (E/I) CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA (CC) O emprego da CC tem sido recomendado de forma associada ao IMC, entretanto, não existem até o momento valores de referência para diagnóstico de obesidade abdominal para esta faixa de idade. NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS Energia Para estimativa das necessidades de energia (EER ou VCT) deve-se levar em consideração o gasto energético total e a energia de deposição. Estima-se que 9% da ingestão calórica total em adolescentes do sexo masculino e 8% do consumo de adolescentes do sexo feminino, sejam atribuídos ao consumo de refrigerantes. O cálculo energético pode ser realizado das seguintes formas: Tabela 3: Cálculo da estimativa das necessidades de energia para adolescentes (CHEMIN & MURA 2011). O IOM preconiza que, para adolescentes com risco de sobrepeso ou sobrepeso (IMC/I ≥p85 e 95, respectivamente), não se deve incluir a energia de deposição no cálculo da EER. A não inclusão da energia de deposição leva em consideração que haveria a utilização do tecido adiposo excedente para promover o crescimento. Contudo, essa recomendação deve ser avaliada individualmente, considerando o período de crescimento, maturação sexual, histórico familiar e estilo de vida de cada adolescente. Tabela 4: Cálculo da estimativa das necessidades de energia para adolescentes com sobrepeso (CHEMIN & MURA). Proteínas Corresponderia de 12 a 14% do VCT. A OMS (2007), na CHEMIN & MURA (2011) <p3 ou <- 2EscZ.= Baixa estatura para idade. A normalidade é dada àqueles com E/I >p3. Fibras A ingestão adequada (AI) de fibras possui variação com a faixa etária e sexo. Segundo CHEMIN & MURA, estabeleceu-se uma AI de 14g/1000kcal. Tab. 5: Recomendação de fibras para adolescentes (CHEMIN & MURA). Faixa etária (anos) Meninas (g/dia) Meninos (g/dia) 9 – 13 26 31 14 – 18 26 38 19 – 50 25 38 CHO - Recomenda-se cerca de 130g/dia. Lipídios - Recomenda-se cerca de 30 – 35% do VET, com não mais de 10% das calorias de ácidos graxos saturados. Tab. 6: Recomendações de lipídeos. Idade W3 W6 9 – 13 Meninos Meninas 1,2 1,0 12 10 14 – 18 Meninos Meninas 1,6 1,1 16 11 Minerais e vitaminas A EAR deve ser utilizada na avaliação dietética de adolescentes, bem como no cálculo de dietas para grupos de adolescentes. Nesse último caso, é preciso conhecer o desvio-padrão de ingestão no grupo. O limite superior tolerável (UL) não é uma recomendação, pois níveis de ingestão superiores causam efeitos deletérios à saúde. No entanto, é um guia importante para limitar o apetite de adolescentes, especialmente aqueles que, em culto ao melhor desempenho físico, fazem uso indiscriminado de suplementos nutricionais. ESPECIFICIDADES DOS MICRONUTRIENTES 1. Ferro Todos os adolescentes têm alta necessidade de ferro, decorrente da síntese muscular, aumento de volume sangüíneo nos meninos e menarca nas meninas. Anemia fisiológica do crescimento reservas adequadas de ferro, mas, em vista do rápido crescimento e aumento de massa magra, tem-se diminuição do ferro circulante. Tab. 7: Recomendações de ferro. Faixa etária (anos) Meninos (mg) Meninas (mg) 9 – 13 8 8 14 – 18 11 15 19 – 50 8 18 2. Cálcio recomenda-se 1300mg diários para ambos os sexos, a partir dos 9 anos até os 19 anos. Em função dos desenvolvimentos muscular, esquelético e endócrino acelerados, as necessidades de cálcio são maiores durante a puberdade e adolescência, que na infância ou fase adulta. IOM maiores níveis de ingestão para indivíduos de 9 a 18 anos que adultos, uma vez que, em meninas, há construção de 92% da massa óssea ao redor dos 18 anos de idade. 3. Zinco O zinco é essencial para o crescimento e maturação sexual. A retenção de zinco aumenta significativamente durante o estirão de crescimento. A ingestão limitada de zinco pode afetar o crescimento físico, assim como o desenvolvimento de características sexuais secundárias.Tab. 8: Recomendações de zinco. Faixa etária (anos) Meninos (mg) Meninas (mg) 9 – 13 8 8 14 – 18 11 9 19 – 50 11 8 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA A primeira etapa do atendimento nutricional de um adulto consiste na avaliação do estado nutricional. A prescrição da dieta deve atender ao objetivo dietoterápico, caso exista alguma enfermidade associada, considerando ainda o uso de medicamentos e suplementos. Para avaliação nutricional de adultos, são utilizados como parâmetros essenciais o peso e a altura, os perímetros da cintura e do quadril e as dobras cutâneas do tríceps, bicipital, subescapular e supra-ilíaca. PESO O peso corporal é constituído por massa óssea, tecido adiposo, tecido muscular e água. Variações no curto espaço de tempo estão mais relacionadas a perda ou retenção hídrica do que modificações no tecido adiposo ou muscular. O peso sofre variação normal de 1,0 a 1,5kg entre o período da manhã e o período da noite, sem significar que é aumento de gordura. IMC Por recomendação da OMS tem-se utilizado para avaliação do peso corporal de adultos o IMC. Desnutrição Grave = IMC< 16; Desnutrição Moderada = IMC entre 16|– 16,99; Desnutrição Leve = IMC entre 17|– 18,49. Adequado (Eutrofia) = IMC entre 18,5 |– 24,99; Sobrepeso (Pré-obesidade) = IMC entre 25,0 |– 29,99; Obesidade leve = IMC entre 30,0 |– 34,99; Obesidade moderada = IMC entre 35,0 |– 39,99; Obesidade grave = IMC ≥40,0. As principais limitações do IMC apontadas por alguns autores referem-se ao fato do IMC estabelecer correlação, com a altura, embora baixa, com a massa magra, principalmente nos homens, e com proporcionalidade corporal (relação do tamanho das pernas / tronco), o que compromete sua utilização como indicador de gordura corporal. Para auxiliar na avaliação dos componentes do IMC, Vanitallie et al. propuseram a separação do IMC com base no peso de gordura corporal e de massa livre de gordura, onde: CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA (CC) e RELAÇÃO CINTURA-QUADRIL (RCQ) Tem como objetivo avaliar a adiposidade abdominal em função de sua associação com doenças crônicas. O perímetro de cintura é o melhor indicador da gordura visceral, mais relacionado às doenças cardiovasculares ateroscleróticas. A OMS recomendou o uso do ponto médio entre o último rebordo costal e a crista ilíaca. A RCQ está mais relacionada à resistência à insulina. Tabela 1: Pontos de corte de RCQ segundo sexo. Sexo RCQ Risco Aumentado de DCV ♂ >1,00 ♀ >0,85 Tabela 2: Pontos de corte de perímetro de cintura segundo sexo. Sexo Perímetro de cintura (cm) Risco Aumentado de DCV Risco Muito aumentado de DCV ♂ ≥94 ≥102 ♀ ≥80 ≥88 DIÂMETRO ABDOMINAL SAGITAL Tem se mostrado bom indicador do risco cardiovascular, especialmente porque prediz risco de resistência insulínica, aumento de ApoB, hiperinsulinemia, hipertrigliceridemia e elevação de proteína C reativa. Limitação de uso: ausência de pontos de corte para risco, internacionalmente recomendados. COMPOSIÇÃO CORPORAL A avaliação da composição corporal pode ser definida como a mensuração e a interpretação dos valores obtidos acerca dos compartimentos corporais, sendo os mais avaliados: gordura corporal, massa livre de gordura, água corporal e conteúdo mineral ósseo total. Obesidade excesso de gordura corporal total e não de peso corporal. As medidas de dobras cutâneas predizem a quantidade de gordura corporal localizada ou total, por meio da avaliação subcutânea. Seu emprego na avaliação da gordura total se deve ao fato de apresentar boa correlação (r) com métodos mais precisos de avaliação de composição corporal (r entre 0,6 a 0,9, estando em alguns estudos em torno de 0,85). Em relação à composição corporal, avaliam-se os compartimentos corporais e, em especial, sua associação com o risco de adoecer (tanto por distúrbios associados à desnutrição, quantos aqueles associados à obesidade). Na área de Nutrição, tem-se utilizado o protocolo de soma das quatro dobras (tríceps, bíceps, supra-ilíaca e subescapular) e densidade corporal proposto por Durnin e Rahaman. Em geral considera-se como aceitável, para adultos, um percentual de gordura corporal de até 25% para homens e 30% para mulheres. IMCG (índice de massa corporal de gordura) = peso de gordura (kg) / altura em m2 IMCLG (índice de massa corporal livre de gordura) = peso de massa magra (kg) / altura em m2 NUTRIÇÃO NA VIDA ADULTA Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br Tabela 3: Pontos de corte de adiposidade e risco (CHEMIN & MURA) NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS a)Energia (EER) considerando peso e altura de referência, a EER para indivíduos ativos de 19 anos é calculada em 3.067kcal/dia para homens e 2.403kcal/dia para mulheres. Tabela 4: Estimativa de necessidades de energia para indivíduos com idade igual ou superior a 19 anos (CHEMIN & MURA). b) Proteínas 0,8g/kg/dia para ambos os sexos. O que corresponde a 56g/dia para homens e 46g/dia para mulheres, levando-se em conta o peso corporal de referência. Assumiu-se um coeficiente de variação de 12% para o cálculo da RDA, levando-se em consideração características como digestibilidade. Destaca-se que a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva recomenda para indivíduos ativos de 1,2 – 1,4g/kg/dia. Para hipertrofia muscular recomenda-se até 1,8g/kg/dia. c) Carboidratos EAR = 100g/dia e a RDA = 130g/dia. d) Fibras Os valores de ingestão diária de referência para fibras totais são dados segundo sexo e idade. Tabela 5: Recomendação de fibras para adultos (CHEMIN & MURA). Faixa etária (anos) Mulheres (g/dia) Homens (g/dia) 19 – 50 25 38 ≥ 51 21 30 e) Lipídeos Com base na população americana, o Institute of Medicine (2002) estabeleceu a ingestão adequada para ácido linoléico (ômega 6) e alfa-linolênico (ômega 3) segundo idade e sexo. Para o ácido linoléico (ômega 6), a AI foi estabelecida como segue: Tabela 6: Recomendação de lipídeos para adultos segundo o IOM. Idade W3 W6 19– 50 Homens Mulheres 1,6 1,1 17 12 ≥ 51 Homens Mulheres 1,6 1,1 14 11 FAIXA DE DISTRIBUIÇÃO ACEITÁVEL DE MACRONUTRIENTES Segundo CHEMIN & MURA são aceitáveis os seguintes valores de ingestão diária de referência de macronutrientes: Proteínas 10 – 35%; Lipídeos 20 – 35%, sendo: o Ácido linoléico 5 – 10%; o Ácido alfa-linolênico 0,6 – 1,2%; EPA ou DHA até 10% da faixa de distribuição aceitável de macronutrientes; Carboidratos 45 – 65%. O processo de envelhecimento humano é considerado um processo irreversível, natural, progressivo e dinâmico, promovendo alterações morfológicas, bioquímicas, fisiológicas, comportamentais e psicossociais. ALTERAÇÕES ORGÂNICAS, FISIOLÓGICAS E METABÓLICAS DECORRENTES DO ENVELHECIMENTO 1. Alteração da composição corporal Com o envelhecimento ocorre aumento progressivo da massa gordurosa e diminuição da massa magra (água, tecido ósseo e muscular). Há concentração de gordura no tronco, com aumento de gordura abdominal e diminuição da gordura periférica. Fatores que podem explicar a diminuição da massa magra em idosos: diminuição da atividade física, alimentação inadequada, diminuição da ACT e perda generalizada da massa celular. Há redução da água corporal total em cerca de 15 a 20% e redução de massa muscular em 11kg nos homens e 4kg nas mulheres, deste modo, tais alterações influenciam no desenvolvimento de atividades físicas e na necessidade calórica desses pacientes, que tende a diminuir. 2. Diminuição do Metabolismo Basal Ocorre diminuição do metabolismo basal (de 10 a 20% com o decorrer da idade, entre 30 e 75 anos). 3. Diminuição da acuidade dos órgãos dos sentidos A redução da sensibilidade por gostos primários (doce, amargo, ácido e salgado) é considerada um dos fatores mais relevantes na redução da ingestão alimentar de idosos. A perda da sensação de paladar pode estar relacionada a redução do número de papilas gustativas, logo, o idoso necessita concentrar mais sabor das preparações para ajustar ao paladar alterado. Quanto à sensibilidade olfativa, exerce importante função nasensibilidade aos sabores, e também apresenta diminuição, porém, parece estar mais relacionada à utilização de medicamentos e ao hábito de fumar, à falta de higiene de cavidade oral, ao estado nutricional inadequado e a desequilíbrio de SNC. Quanto à acuidade visual, os problemas oftalmológicos mais frequentes são: progressiva redução do campo visual, dificuldade para reconhecer alimentos e falta de habilidade de alimentar-se. 4. Alterações na cavidade oral A ausência total ou parcial de dentes e/ou o uso inadequado de próteses (parciais ou totais), a presença de cáries e doenças periodontais ou a presença de xerostomia acarretam prejuízos no processo de mastigação. Isso faz com que esses indivíduos reduzam a ingestão de alguns alimentos, como carnes, frutas, verduras e legumes crus. Com o envelhecimento há atrofia e perda de elasticidade de todos os tecidos da cavidade oral, diminuição quantitativa e qualitativa de saliva, redução da secreção de mucina e ptialina. Alterações de cavidade oral podem explicar a preferência alimentar por alimentos macios, de fácil mastigação e muitas vezes pobres em nutrientes (fibras, vitaminas e minerais). 5. Alterações esofágicas Idosos apresentam fraqueza na musculatura faríngea e relaxamento anormal do músculo cricofaríngeo, deficiência do relaxamento do EES e na peristalse primária, prejudicando a deglutição. A disfagia, comum em idosos, pode ser definida como desordem na deglutição e/ou potencial desabilidade em deglutir, com prejuízos na segurança, na eficiência e na qualidade de comer e beber. A presença de disfagia implica em risco de aspiração. Outras afecções comuns em idosos incluem hérnia de hiato e ulcerações de esôfago. 6. Alterações gástricas Ocorre declínio da secreção ácida gástrica, que se relaciona com o grau de atrofia de mucosa gástrica. A diminuição do suco gástrico implica diretamente na redução da secreção de fator intrínseco, responsável pela absorção da vitamina B12 pelo TGI, o que pode acarretar em anemia megaloblástica. Outro ponto é que a gastrite atrófica e acloridria são causas de anemia em idosos (diminuição da eficiência de absorção de ferro). Além disso, o esvaziamento gástrico lentificado pode prejudicar a digestão, retardar a biodisponibilidade de algumas drogas, além de aumentar a saciedade precoce, podendo contribuir para a anorexia do idoso. 7. Alterações intestinais Com o envelhecimento tem-se diminuição da capacidade absortiva de micronutrientes e há aumento da incidência de obstipação intestinal. 8. Alterações metabólicas Com o envelhecimento ocorrem alterações orgânicas funcionais no pâncreas, fígado e rins. As alterações pancreáticas podem ocasionar diminuição da secreção de enzimas, prejudicando a absorção de nutrientes e hormônios (como a insulina). No fígado pode ocorrer diminuição de fluxo sanguíneo, do tamanho dos hepatócitos e da produção de ácidos biliares, prejudicando a absorção de gorduras. Nos rins, pode-se ter capacidade diminuída para eliminação de metabólitos e toxinas. 9. Alterações na atividade física A prática de atividade física está diminuída (decorrente de doença neurológica, alterações orgânicas ou por alterações fisiológicas). FATORES PATOLÓGICOS As doenças crônicas como osteoporose, DM, DCV, dislipidemias e câncer são freqüentes no paciente geriátrico. GERIATRIA Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br FATORES PSICOLÓGICOS Algumas situações como perda do cônjuge; morar sozinho ou em instituições; sensação de abandono; perda de autonomia; perdas do papel social diante da sociedade e depressão podem causar desinteresse na alimentação. FATORES ECONÔMICOS O baixo poder aquisitivo aliado ao aumento do gasto com medicações dificulta o acesso dos idosos à alimentação segura, tanto em quantidade quanto em qualidade. FATORES CULTURAIS A presença de mitos, tabus, crenças, receitas e medicações caseiras podem prejudicar o tratamento de saúde, controle de doenças e oferta de alimentos. As variáveis fisiológicas que se deprimem no idoso estão apresentadas na tabela 1. Tab. 1: Variáveis fisiológicas que se deprimem no idoso segundo DAN WAITZBERG. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Preconiza-se, dentre outros o uso de métodos objetivos (antropometria, composição corporal e exames bioquímicos) e subjetivos. a) Antropometria Medidas: ESTATURA (que pode ser estimada pela altura do joelho ou pela hemienvergadura do braço): O valor de estatura pode diminuir com o avanço da idade, em razão do achatamento dos discos intervertebrais e do arco plantar dos pés e do enfraquecimento de musculatura da perna. Há declínio (embora sem consenso) de 1,2 – 4,2cm a cada 20 anos, a partir dos 30 anos. Chumlea propõe equações para estimativa de altura. Tab. 2: Fórmula para estimar a altura a partir da altura do joelho Homem Mulher 64,19 - (0,04 x idade) + (2,02 x altura do joelho) 84,88 - (0,24 x idade) + (1,83 x altura do joelho) O valor estimado da altura pode ser usado para cálculo do IMC e das necessidades energéticas. PESO, que pode ser estimado segundo a fórmula de Chumlea, com a combinação das medidas de panturrilha, joelho e braço, onde: HOMEM = (0,98 x perímetro de panturrilha) + (1,16 x altura do joelho) + (1,73 x circunferência do braço) + (0,37 x dobra cutânea subescapular) – 81,69 MULHER = (1,27 x perímetro de panturrilha) + (0,87 x altura do joelho) + (0,98 x circunferência do braço) + (0,4 x dobra cutânea subescapular) – 62,35 Quando não há possibilidade de mensuração ou estimativa do peso, pode-se utilizar o peso habitual. PERÍMETRO DO BRAÇO No caso de idosos impossibilitados de permanecerem em pé, a mensuração é feita com individuo sentado ou deitado. Em acamados, a medida é realizada em decúbito lateral. DOBRA CUTÂNEA TRICIPITAL No caso de idosos impossibilitados de permanecerem em pé, a mensuração é feita com individuo sentado ou deitado. Em acamados, a medida é realizada em decúbito lateral. DOBRA CUTÂNEA SUBESCAPULAR No caso de idosos impossibilitados de permanecerem em pé, a mensuração é feita com individuo sentado ou deitado. Em acamados, a medida é realizada em decúbito lateral. PERÍMETRO DA CINTURA No caso de idosos impossibilitados de permanecerem em pé, esta medida não se aplica. Os valores descritos em literatura para classificar os indivíduos com ou sem risco cardiovascular foram validados para adultos (20 – 59 anos) e não para idosos! PERÍMETRO DO QUADRIL No caso de idosos impossibilitados de permanecerem em pé, esta medida não se aplica. O valor isolado não deve ser utilizado! PERÍMETRO DA PANTURRILHA Em idosos é a medida mais sensível de massa muscular. Indica mudanças de massa magra que ocorrem com o envelhecimento e diminuição da atividade. Atenção, recomenda-se o uso do ponto de corte CP≥31cm como adequação nutricional! IMC – 22 a 27kg/m2 (CHEMIN&MURA 2011) Foi realizado estudo multicêntrico, epidemiológico, de base populacional, em 2000, onde foi adotado pela SABE uma classificação diferente de IMC para idosos, onde: Baixo peso para estatura: IMC <23kg/m2; Peso adequado para estatura: IMC ≥23kg/m2 e <28kg/m2; Risco para obesidade: IMC ≥ 28kg/m2 e <30kg/m2; Obesidade: IMC ≥ 30kg/m2. CIRCUNFERÊNCIA MUSCULAR DO BRAÇO ÁREA MUSCULAR DO BRAÇO ÁREA MUSCULAR DO BRAÇO CORRIGIDA com ajuste da área óssea à equação de Gurney e Jellife de área muscular do braço. As medidas de perimetria e circunferência serão comparadas junto às tabelas do FRISANCHO (1990). Foi estabelecido um índice de Desnutrição do Idoso (IDI) levando-se em consideração pelo menos duas variáveis: antropometria (DCT, DCSE, AMB abaixo do p5) e/ou valores bioquímicos reduzidos, albumina <2,8g/100ml e CTLP<900céls/mm3. Tab. 3: IDI segundo DAN WAITZBERG. A história dietética deve levar em consideração as alterações do paladar e de cavidade oral, já descritas anteriormente. As variáveis antropométricas devem ser avaliadas cuidadosamente, uma vez que tem-se alterações nos depósitos musculares e gordurosos. NUTRITIONAL SCREENING INITIATIVE -DETERMINE A iniciativa de Avaliação Nutricional feito pela American Academy of Family Physicians (AAP), American Dietetic Association e o National Council on Aging desenvolveu um Checklist Nutricional baseado em sinais do idoso. Esta nova ferramenta está disponível em www.aafp.org/nsi/palm.html, o chamado formulário DETERMINE. Nome: ______________________________________________________________________ Idade: _______ Data: ___/___/_____ QUESTÒES RESPOSTAS AFIRMATIVAS (pontos) Você tem alguma doença que o fez mudar o tipo/quantidade de alimentos que consome? 2 Você consome menos que duas refeições por dia? 3 Você bebe três ou mais doses de cerveja, licor ou vinho quase todos os dias? 2 Você consome poucas frutas, legumes, verduras ou produtos lácteos? 2 Você tem problemas bucais que dificultam sua alimentação? 2 Você nem sempre tem dinheiro suficiente para comprar os alimentos que necessita? 4 Você come sozinho nas maiorias das vezes? 1 Você usa três ou mais medicamentos diferentes prescritos ou por conta própria ao dia? 1 Você ganhou ou perdeu cerca de 4,5kg nos últimos 6 meses, involuntariamente? 2 Você nem sempre tem condições físicas para fazer compras, cozinhar e/ou alimentar-se sozinho? 2 PONTUAÇÀO 0 – 2 – BOM! - Revisar em 6 meses. 3 – 5 – RISCO NUTRICIONAL MODERADO! – Verifique o que você pode fazer para melhorar seus hábitos alimentares e seu estilo de vida. 6 ou mais - RISCO NUTRICIONAL ALTO! – Procure ajude de um médico ou nutricionista. MINIAVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) O rastreamento da DEP em idosos pode ser feita com a MAN, em pacientes ambulatoriais, hospitalizados ou em clínicas geriátricas. A triagem é feita na primeira parte da MAN, onde serão considerados de risco aqueles que pontuam com 11 pontos ou menos, devendo continuar a avaliação. O melhor instrumento validado para a avaliação é a segunda parte da MAN. Valores entre 24 e 30 indicam ausência de risco nutricional, de 17 a 23,5 indicam risco e abaixo de 17 indicam alto risco de desnutrição ou desnutrição já estabelecida. Os dados de NHANES sugerem que os adultos mais velhos estão em risco de desnutrição pela presença de doenças, incapacidade física, polifármacos, saúde dental e oral prejudicadas, isolamento social, limitações financeiras ou saúde mental prejudicada. Uma boa ferramenta para diagnóstico nutricional é a Mini Avaliação Nutricional que consiste de questões e medidas antropométricas para determinar um escore indicador de desnutrição. Fig. 1: Miniavaliação Nutricional AVALIAÇÃO DO RISCO DE DESNUTRIÇÃO (WAITZBERG, 2009) Presença de pelo menos dois sinais: - perda de 2kg no ultimo mês ou 4kg nos últimos 6 meses; - perda de 15-20% do peso adulto normal; - duas refeições por dia; - dieta especial ou para perda de peso; - baixa ingestão oral; - problema oral ou dentário; - perda da autonomia física ou psicológica; - constipação (obstipação) intestinal grave; - dificuldade de deglutição; - morar sozinho ou depressão; - mais que cinco medicações por dia; - doença aguda ou crônica. RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS NO ENVELHECIMENTO As DRIs atuais, estabelecidas para otimizar a saúde de indivíduos e grupos, fornecem uma diretriz para avaliar a conhecimentos sobre as necessidades nutricionais. Energia As necessidades diminuem com a idade em função das alterações de composição corporal e diminuição na taxa metabólica basal e redução de atividade física. Um IMC desejável pode ser estimado com relação à idade da pessoa para determinar uma estimativa mais apropriada da necessidade de energia. As necessidades energéticas totais diárias normalmente são estimadas de acordo com a taxa de metabolismo basal (TMB), que contribui com cerca de 60 a 75% do VCT. Em geral, utiliza-se a equação de Harris & Benedict. A partir da TMB, multiplicam-se os fatores atividade, lesão e térmico, onde: HOMENS: TMB = 66 + (13,7 X P) + (5 X A) – (6,8 X I) MULHERES: TMB = 655 + (9,6 X P) + (1,7 X A) – (4,7 X I) VCT = TMB x FA x FL x FT Tabela 4: Fatores atividade, lesão e térmicos a serem utilizados nas equações de Harris & Benedict (CHEMIN & MURA). Segundo CHEMIN & MURA equação de Harris & Benedict são mais indicadas, uma vez que a equação da FAO/OMS não diferencia idade (considerando como de mesma TMB indivíduos de 60 e 90 anos, por exemplo), entretanto, as equações da FAO podem ser utilizadas, onde: Tab. 5: Fórmulas de predição de TMB pela FAO/OMS 1985. Homens Mulheres TMB = 13,5 x P + 487 TMB = 10,5 x P + 596 A partir da TMB, para cálculo do valor calórico total, multiplica-se o fator atividade, onde: VCT = TMB x FA Tabela 6: Fatores atividade a serem utilizados na equação da FAO/OMS (CHEMIN & MURA). DISTRIBUIÇÃO DOS MACRONUTRIENTES (CHEMIN & MURA) - LIPÍDIOS: IOM: 20 – 35% VCT; - PTN: 0,8g/kg/dia (DRI). Acredita-se que a ingestão de 1,0g/kg é necessária para manter um equilíbrio positivo de nitrogênio no idoso. - CHO: mínimo de 130g/dia. DISTRIBUIÇÃO ACEITÁVEL DE MACRONUTRIENTES (CHEMIN & MURA) Os valores de distribuição de macronutrientes: Proteínas 10 – 35% ou 0,8g/kg/dia; Lipídeos 20 – 35%, sendo: o Ácido linoléico 5 – 10% (14g/dia para homens e 11g/dia para mulheres); o Ácido alfa-linolênico 0,6 – 1,2% (1,6g/dia para homens e 1,1g/dia para mulheres); EPA ou DHA até 10% da faixa de distribuição aceitável de macronutrientes; Carboidratos 45 – 65% (RDA de 130g/dia). Tab. 7: Fator de correção de necessidades energéticas. NECESSIDADES HÍDRICAS As sensações de sede diminuídas, a ingestão reduzida, o acesso limitado ao fluido, a função renal diminuída e a incontinência urinária aumentam o risco de infecção. WAITZBERG (2009) 1ml/kcal ou 30ml/kg. CHEMIN & MURA recomenda no mínimo 1500mL/dia ou 1,0 a 1,5mL/kcal. Isso se traduz por 30 a 35mL/kg. NECESSIDADES DE MICRONUTRIENTES Minerais CÁLCIO A manutenção dos níveis adequados de cálcio não está limitada apenas à ingestão do mineral, pois outros fatores afetam sua retenção: - estado hormonal menopausa; - sexo incidência de osteoporose é maior nas mulheres; - etnia; - genética; - componentes dietéticos baixa ingestão de alimentos ricos em cálcio, alimentação rica em proteínas; ingestão hiperfíbrica que diminui a absorção de cálcio e alimentação deficiente em vitamina D; - medicamentos diuréticos e antiácidos à base de alumínio; - redução da lactase; - alterações no metabolismo hipocloridria; e - inatividade física. O aumento da recomendação de cálcio para idosos foi estabelecido em razão das intercorrências que ocorrem neste estágio de vida. Recomenda-se 1200mg /dia para prevenir ou reduzir a doença óssea do idoso. WAITZBERG (2009) 1.200 a 1.500mg. A UL de cálcio é 2500mg/dia. ZINCO Um baixo consumo está associado com prejuízo imune, anorexia, diminuição do paladar, demora de cura de feridas e desenvolvimento de úlceras de pressão. Recomenda-se: Idade Homens (mg) Mulheres (mg) 51– 70 anos 11 8 >70 anos 8 8 Vitaminas È importante ressaltar a relação entre saúde e nutrição, particularmente em relação às necessidades de vitaminas antioxidantes como tocoferóis, carotenóides e vitamina C. Os antioxidantes atuam como um tampão contra o dano celular que pode ocorrer durante o funcionamento celular normal. As ingestões subótimas de vitaminas-chave podem colocar uma pessoa em risco de enfermidade crônica, especialmente nos idosos. VITAMINA C Envolvida na síntese de colágeno e carnitina. Os adultos mais velhos com freqüência possuem menores níveis séricos de vitamina C. O estresse, o fumo e medicações podem aumentar as necessidades deste micronutriente. Encorajar o consumo de alimentos ricos em vitamina C pode ser eficaz. A ingestão de 150 – 250mg de vitamina C pode ser protetora para catarata. O fumo aumenta o estresse oxidativo, então para fumantes, recomenda-se o aumento de 35mg além da DRI. VITAMINA D A necessidade de vitamina D é dependente da concentração de cálcio e fósforo da dieta e a idade da pessoa, sexo, grau de exposição à luz solar e a quantidade de pigmentação da pele. A capacidade de sintetizar vitamina D a partirda luz solar é aproximadamente 60% menor nos adultos mais velhos. A influência da idade na absorção da vitamina D pelo TGI não é clara. A vitamina D pode ajudar a cicatrizar as lesões de pele, especialmente aquelas causadas por psoríase. A suplementação dietética de cálcio e vitamina D melhora a densidade óssea e pode prevenir fraturas nos adultos mais velhos saudáveis. Os menores níveis de vitamina D foram observados em idosos institucionalizados e confinados, com exposição irregular e deficiente à luz solar ou indivíduo com diminuída massa renal. O metabolismo da vitamina D pode estar afetado pelo uso de esteróides, que podem induzir perda óssea. Doses em excesso podem induzir hipercalcemia e aumentam o risco de calcificação metastática de tecidos moles. Não é conhecido se a absorção fisiológica está diminuída em razão da idade. WAITZBERG (2009) mínimo de 5mcg/dia. Recomenda-se 10mcg/dia para idosos de 51 a 70 anos e 15mcg para aqueles com idade superior a 70 anos. VITAMINA E Pode ser benéfico intensificar o consumo de vitamina E em adultos mais velhos, por sua atividade antioxidante e um papel importante na prevenção de catarata.Recomenda-se 15mg ao dia para pacientes idosos.
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