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Iatrogenia e Polifarmácia

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–
 
Iatrogenia e Polifarmácia
Idosos são os principais consumidores de 
medicamentos em uma população. Em países em 
desenvolvimento, a proporção de idosos que 
utiliza no mínimo 1 medicamento por dia varia de 
85 a 90%, e 1/3 dessa população emprega 5 ou 
mais. 
A terapêutica medicamentosa em idosos é 
altamente influenciada pelas alterações 
farmacocinéticas e farmacodinâmicas próprias do 
envelhecimento, que alteram a sensibilidade e o 
efeito de vários fármacos; além disso, a elevada 
prevalência de multimorbidades nessa população 
aumenta a chance de eventos adversos, levando à 
necessidade por parte do geriatra do 
conhecimento de determinadas particularidades 
associadas ao uso de medicamentos. 
É importante considerar que medicamentos têm a 
propriedade de melhorar extremamente a 
qualidade de vida e de curar ou aliviar doenças, 
desde que seu emprego seja adequado, cuidadoso 
e seguro. 
Em idosos as prescrições medicamentosas devem 
ser receitadas com cautela, considerando as 
alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas 
próprias do envelhecimento, sob pena de 
provocar iatrogenias. 
➢ FARMACOCINÉTICA 
Define-se farmacocinética como o conjunto de 
processos sofridos pelos fármacos no corpo 
humano a partir de sua administração, ou seja, 
abrange absorção, distribuição, metabolismo e 
excreção dos medicamentos. 
- ABSORÇÃO 
Estudos farmacocinéticos sobre o efeito do 
processo de envelhecimento sobre a absorção de 
fármacos apresentam resultados conflitantes. 
Essas disparidades de dados relacionam-se à via e 
ao tipo de absorção – passiva ou ativa. 
Atentando-se inicialmente à via oral (VO), forma 
de administração usual de medicamentos, o 
envelhecimento influencia a absorção de 
medicamentos. Processo não uniforme – nem 
entre idosos, nem entre medicamentos – merece 
atenção do prescritor particularmente quando o 
resultado esperado não ocorrer e/ou o paciente 
apresentar outras peculiaridades passíveis de 
interferir na absorção do fármaco indicado. A 
biodisponibilidade medicamentosa pela via oral 
depende basicamente da absorção pelo trato 
gastrintestinal e da primeira passagem hepática 
do fármaco. 
A absorção oral de medicamentos sofre 
interferências quando ocorre aumento do pH 
gástrico, retardo no esvaziamento do estômago, 
redução na mobilidade e no fluxo sanguíneo do 
sistema digestório; alterações observadas em 
percentuais significativos de idosos. Essas 
alterações interferem mais em substâncias e 
fármacos que dependem de transporte ativo para 
absorção intestinal como glicose e vitamina B12. 
Felizmente, a maioria dos medicamentos é 
absorvida nessa via por difusão passiva que 
apresenta baixo grau de evidências quanto a 
alterações relacionadas com o envelhecimento. 
Em contrapartida, a primeira passagem hepática – 
importante em processos de biodisponibilidade 
farmacológica – encontra-se geralmente reduzida 
em idosos. Deve-se isto à redução do parênquima 
e do fluxo sanguíneo hepático durante o 
envelhecer. Biodisponibilidade de medicamentos 
que se submetem a extenso metabolismo de 
primeira passagem – como metoclopramida e 
opioides – pode aumentar de forma significante, 
recomendando-se iniciar sua administração em 
doses menores que as de adultos jovens. Opondo-
se a este fato, observa-se também a ativação mais 
lenta na primeira passagem hepática de vários 
profármacos como inibidores da enzima de 
conversão da angiotensina. O uso crônico desses 
fármacos reduz o impacto dessas alterações 
hepáticas, tornando-as clinicamente pouco 
relevantes. 
–
 
Mesmo com as alterações descritas antes, a 
absorção medicamentosa em idosos 
normalmente não apresenta prejuízo de monta, 
desde que se mantenha a integridade da mucosa 
gástrica. Há, porém, doenças e/ou circunstâncias 
comuns nessa faixa etária com potencial de 
interferir na absorção, como moléstia diverticular, 
gastrectomia prévia, estenose pilórica, 
pancreatite e síndromes de má absorção. 
- DISTRIBUIÇÃO 
Significativas alterações da composição corporal 
ocorrem durante o envelhecimento. Isto interfere 
na distribuição de determinados medicamentos. 
Atenção especial deve ser dedicada quanto ao 
aumento do tecido adiposo entre 20 e 40% e à 
redução da água corporal total em até 15%. Assim, 
fármacos hidrofílicos como gentamicina, lítio e 
digoxina tendem a apresentar menor volume de 
distribuição em idosos, com consequente 
aumento da concentração plasmática. A redução 
do volume de distribuição de medicamentos 
hidrossolúveis é contrabalanceada pela 
significativa perda do clearance renal durante o 
envelhecimento, redundando em baixo efeito 
sobre a meia-vida de eliminação desses fármacos. 
Observa-se situação oposta em fármacos 
lipofílicos, como benzodiazepínicos, morfina e 
amiodarona, cujo volume de distribuição eleva-se 
progressivamente com a idade. Obviamente, se o 
volume de distribuição aumenta, a meia-vida de 
eliminação medicamentosa também se prolonga. 
Essa associação entre volume de distribuição e 
meia-vida de eliminação maiores em fármacos 
lipossolúveis provoca em idosos maior tempo de 
ação medicamentosa e risco de efeitos colaterais 
mesmo após o encerramento da tomada de 
fármacos como diazepam e tiopental. 
 
Mesmo não havendo alterações de concentração 
sérica das duas proteínas relacionadas com o 
envelhecimento normal, a albumina sofre 
reduções significativas em idosos portadores de 
quadros de desnutrição e de fragilidade, enquanto 
a alfa-1 glicoproteína ácida – marcador de doenças 
inflamatórias – aumenta principalmente em 
quadros agudos comumente observados nessa 
faixa etária. 
 
O principal fator que determina o(s) efeito(s) 
medicamentoso(s) é a concentração livre do 
fármaco. Esta concentração relaciona-se com a 
capacidade de ligação entre o medicamento e a 
proteína carreadora dele (albumina ou alfa-1 
glicoproteína ácida) e modula as interações 
medicamentosas e os efeitos fisiológicos dos 
fármacos. Sendo sua relevância clínica limitada em 
muitos medicamentos, deve-se, contudo, atentar 
a exemplos como o da fenitoína que apresenta 
seus efeitos farmacológicos e colaterais 
maximizados em pacientes com baixas 
concentrações de albumina sérica. 
 
- METABOLISMO 
A depuração hepática dos fármacos depende da 
capacidade do fígado em metabolizar o(s) 
medicamento(s) e do fluxo sanguíneo hepático. 
 
Classificam-se os fármacos quanto ao seu grau de 
depuração hepática (DH) em três grupos: (1) alto 
(DH > 0,7) como propranolol, meperidina e 
lidocaína; (2) intermediário (DH entre 0,3 e 0,70) 
como ácido acetilsalicílico, codeína, morfina e 
triazolam; e (3) baixo (DH < 0,3) como 
carbamazepina, diazepam, fenitoína e varfarina. 
Quando o grau de DH é alto, sua capacidade de 
depuração torna-se limitada pelo fluxo sanguíneo 
existente no fígado. Quando o grau de DH é baixo, 
mudanças no fluxo sanguíneo hepático provocam 
pequenas alterações na depuração. Assim sendo, 
a progressiva redução do fluxo sanguíneo do 
fígado durante o envelhecimento afeta 
principalmente medicamentos com alto grau de 
DH. 
 
Outro fato relevante relaciona-se com a redução 
progressiva do volume hepático em até 30% 
durante o processo de envelhecimento. Isto 
resulta em queda de sua depuração em magnitude 
similar à anteriormente relatada. 
 
Cabe como mais uma observação de que no fígado 
ocorre a conversão de medicamentos em 
metabólitos, em processo conhecido como 
biotransformação. Esta, por sua vez, tem duas 
fases: a fase I, que converte medicamentos em 
metabólitos ativos ou inativos (oxidação e 
redução, por exemplo), e a fase II, que estabelece 
graus de polaridade e hidrossolubilidade para 
facilitar a excreção dessas substâncias pelas fezes 
e urina. Com o avançar da idade há 
comprometimento da fase I, levando ao aumento 
–
 
da concentração sérica de fármacos como 
benzodiazepínicos, bloqueadores de canais de 
cálcio e levodopa. Estima-se que após os 70 anos 
de idade, o volume e a atividade do complexo 
enzimático citocromo P-450 encontra-se reduzido 
emcerca de 30%. 
 
Estados de fragilidade, desnutrição, 
multimorbidades e tabagismo também 
influenciam o metabolismo hepático. No entanto, 
não há provas de função hepática adequadas na 
prática clínica para apontar as alterações descritas 
no paciente idoso. 
 
- EXCREÇÃO 
A redução da taxa de filtração glomerular 
provocada pelo envelhecimento afeta a 
depuração de vários medicamentos como, por 
exemplo, anti-inflamatórios não 
hormonais, anticoagulantes orais (rivaroxabana e 
dabigatrana), diuréticos, digoxina, 
betabloqueadores hidrossolúveis (atenolol e 
nadolol), antibióticos hidrossolúveis 
(cefalosporinas e aminoglicosídios) e lítio. 
 
A importância clínica dessa redução relaciona-se 
ao risco potencial de toxicidade do fármaco. 
Medicamentos com doses terapêuticas estreitas 
como lítio, aminoglicosídios e digoxina tornam-se 
altamente suscetíveis a efeitos colaterais graves, 
mesmo em concentrações séricas minimamente 
superiores ao ideal em idosos. 
 
Recomenda-se o cálculo do clearance de 
creatinina sérica em todo paciente nessa faixa 
etária. 
 
 
 
 
–
 
➢ FARMADINÂMICA 
Define-se farmacodinâmica como o(s) efeito(s) do 
fármaco no organismo, que, no paciente idoso, 
depende de alterações em mecanismos 
homeostáticos e de modificações em receptores e 
sítios de ação. 
- ALTERAÇÕES EM MECANISMOS 
HOMEOSTÁTICOS 
A maior sensibilidade observada em idosos a 
várias classes de medicamentos decorre do 
declínio de certas funções orgânicas. Desse modo, 
a redução do fluxo sanguíneo cerebral secundária 
à doença ateromatosa interfere na sensibilidade a 
fármacos de ação central, como antidepressivos e 
benzodiazepínicos. 
 
Observam-se assim quadros de confusão mental 
e/ou disfunção cognitiva em usuários desses 
fármacos, particularmente quando tomados por 
longos períodos. Outro exemplo, comum na 
prática clínica, é a hipotensão ortostática 
desencadeada por anti-hipertensivos. 
 
Isto decorre da menor reatividade do reflexo 
barorreceptor associada ao envelhecimento. 
Igualmente, a associação das alterações da 
termorregulação em idosos com medicamentos 
como psicofármacos apresenta potencial de gerar 
quadros de hipotermia nessa faixa etária. 
- MODIFICAÇÕES EM RECEPTORES E SÍTIOS DE 
AÇÃO 
O envelhecimento influencia a interação de 
medicamentos e receptores, alterando 
consequentemente o padrão de resposta orgânica 
aos fármacos. Poucos dados são relatados sobre 
diferenças farmacodinâmicas em idades acima de 
80 anos. Mas o que já se encontra estabelecido é 
que há alterações no número e na afinidade de 
receptores aos fármacos como também 
modulações alteradas nas respostas celulares aos 
medicamentos. 
 
➢ INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS 
Interações medicamentosas correspondem à 
capacidade de um medicamento modificar a ação 
de outro administrado sucessivamente ou 
simultaneamente. 
 
Em situações em que há aumento da eficácia dos 
agentes terapêuticos empregados, as interações 
são até desejáveis, como, por exemplo, é 
observado quando se empregam antibióticos ou 
anti-hipertensivos; por outro lado, interações 
podem levar a resultados deletérios, como 
aumento do risco de eventos adversos ou redução 
da efetividade do tratamento. 
 
As interações podem ser farmacocinéticas, 
quando um medicamento afeta a absorção, 
distribuição, metabolismo ou excreção de outro, 
ou farmacodinâmicas, que ocorrem nos órgãos-
alvo quando a ação de um fármaco no seu sítio é 
modificada por outro fármaco, quer porque 
fármacos agem nos mesmos receptores, quer 
porque atuam nos mesmos sistemas fisiológicos 
por meio de receptores diferentes. 
 
A prevalência de interações medicamentosas na 
população idosa é considerável, qualquer que seja 
a situação estudada, podendo ocorrer em 54 a 
80% de todos os idosos da comunidade, e levando 
a até 4,8% das admissões hospitalares. Até 28% de 
–
 
todos os pacientes idosos internados apresentam 
interações medicamentosas, com consequente 
aumento da duração da internação e de custos. 
 
Prejuízo da funcionalidade, piora da qualidade de 
vida e até eventos adversos potencialmente fatais 
são outras complicações das interações 
medicamentosas. Por outro lado, cabe esclarecer 
que nem todas as interações cursam 
obrigatoriamente com tais complicações; de fato, 
a maioria das interações corresponde a interações 
medicamentosas potenciais. 
 
Uma interação potencial é definida como uma 
ocorrência na qual são prescritos 
concomitantemente dois medicamentos que 
sabidamente podem interagir e ocasionar 
consequências indesejáveis. 
 
Vários estudos têm descrito a polifarmácia como 
o principal fator de risco para interações 
medicamentosas. O risco da ocorrência de 
eventos adversos é de 13% com o uso de dois 
medicamentos, aumentando para 58% com o uso 
de cinco medicamentos, e 82% quando são 
prescritos 7 ou mais medicamentos. Além de 
aumentar com o número de medicamentos 
prescritos, a prevalência de interações 
medicamentosas também se eleva linearmente 
com o aumento da idade; esses dois fatores de 
risco estão relacionados, pois o efeito da idade na 
prevalência de IM potenciais aumenta à medida 
que progride o número de medicamentos. 
 
O número de interações, o alto índice de 
comorbidades e o tempo de exposição à interação 
são considerados fatores de risco para a 
mortalidade associada a interações 
medicamentosas. 
 
Os medicamentos implicados com mais frequência 
em interações potenciais são justamente aqueles 
usados de rotina por idosos portadores de 
doenças crônicas, como os de ação no sistema 
cardiovascular e no sistema nervoso central; é 
importante acrescentar que tais medicamentos 
costumam estar implicados com interações 
medicamentosas graves, ou seja, aquelas que 
podem levar a eventos adversos sérios, inclusive 
risco de morte. 
 
A adoção de hábitos, como a escolha de 
medicamentos com perfil seguro, o conhecimento 
das principais interações indesejáveis, o 
monitoramento do nível sérico de medicamentos 
com índice terapêutico estreito (associados a 
maior probabilidade de interações) e o cuidado 
quanto à orientação do paciente para o risco da 
automedicação podem minimizar a chance de 
complicações associadas às interações 
medicamentosas. 
 
➢ ADERÊNCIA MEDICAMENTOSA 
A Organização Mundial da Saúde define aderência 
como adequação do indivíduo, como fazer dieta, 
exercícios e usar medicamentos, à recomendação 
médica. 
 
Já a aderência a medicamentos é entendida como 
a utilização dos medicamentos prescritos em pelo 
menos 80% do seu total, observando horários, 
doses e tempo de tratamento. Pacientes com uso 
inferior a 80% apresentam risco quatro vezes 
maior de complicações, como eventos 
cardiovasculares agudos. 
 
Existe também relação entre a má aderência e a 
mortalidade, como, por exemplo, no caso de 
pacientes ao longo do primeiro ano após infarto 
do miocárdio, nos quais houve um risco de óbito 
seis vezes maior dos não aderentes. 
 
Taxas de má aderência são mais altas entre idosos, 
especialmente em pacientes com múltiplas 
doenças crônicas, nos quais a prevalência pode 
chegar a 50%, ou seja, metade dos medicamentos 
prescritos na prática médica não são utilizados, ou 
são utilizados de maneira inadequada. 
 
A aderência medicamentosa em idosos é assunto 
complexo e multifacetado, que sofre influência de 
ampla gama de fatores, como polifarmácia, 
declínio cognitivo e funcional, dificuldade de 
acesso aos serviços de saúde, sintomas 
depressivos, falta de suporte social e dificuldades 
financeiras; até mesmo certas doenças têm sido 
especialmente associadas à má aderência, 
constituindo o exemplo clássico a hipertensão 
arterial, devido à sua natureza em geral 
assintomática. 
 
A aderência deve sempre ser considerada uma via 
de mão dupla, e, desse modo, tanto o médico 
–
 
quanto o paciente exercem papel fundamental. 
Cabe ao médico acolher, orientar, informar, 
explicar sobre os possíveis eventos adversos, 
ensinar a montar tabelas com horários de 
administração e de doses, e encaminhar opaciente a programas públicos e privados de 
disponibilização de medicamentos, quando for o 
caso. Já aqueles pacientes e seus familiares que 
procuram esclarecimentos adequados e se 
conscientizam sobre o perfil de suas doenças e as 
possíveis complicações de um tratamento 
inadequado têm mostrado maior aderência, e, 
portanto, melhor evolução. 
 
➢ SOLUBILIZAÇÃO DE 
MEDICAMENTOS/OMISSÃO 
TERAPÊUTICA 
Muita atenção tem sido direcionada à 
polifarmácia e à prescrição de medicamentos 
potencialmente inapropriados para idosos; no 
entanto, a omissão terapêutica é problema de 
igual magnitude e bem menos estudado. 
 
Omissão terapêutica ou subutilização de 
medicamentos é definida como a não prescrição 
de um medicamento indicado para tratamento ou 
prevenção de uma determinada doença ou 
condição, indicação esta subsidiada por diretrizes 
ou consensos, quando não há contraindicações 
conhecidas. 
 
Receio de polifarmácia, de interações 
medicamentosas, de má aderência e até mesmo 
etarismo têm sido descritos como fatores 
associados à omissão terapêutica; no entanto, tal 
omissão pode levar a consequências sérias, como 
dobrar o risco de institucionalização, dificultar o 
controle de doenças crônicas e elevar taxas de 
mortalidade. 
 
A prevalência da subutilização de medicamentos 
tem sido considerada equivalente à da 
polifarmácia, acometendo 44 a 57% dos pacientes 
hospitalizados. 
 
Fatores como idade avançada, índice de Charlson 
elevado e comprometimento cognitivo e funcional 
têm sido frequentemente associados à omissão 
terapêutica, sugerindo relutância na introdução 
de esquemas terapêuticos complexos em idosos 
frágeis. 
 
Omissões mais prevalentes são descritas no 
tratamento da insuficiência cardíaca com 
inibidores da enzima conversora, na antiagregação 
plaquetária nos pacientes portadores de doença 
arterial coronária, na anticoagulação da fibrilação 
atrial crônica e, principalmente, no tratamento 
adequado da osteoporose. 
 
Evitar a omissão terapêutica nem sempre é 
simples, pois depende diretamente do diagnóstico 
de uma determinada doença e do conhecimento 
das recomendações mais recentes da literatura e 
do medicamento indicado. 
 
 
 
 
 
 
 
–
 
 
Medicamentos em apresentações adequadas a 
idosos com distúrbios de deglutição tornam-se 
normalmente desafios na prática clínica. 
 
A via parenteral – subcutânea, intramuscular ou 
intravenosa – garante bom grau de absorção, 
embora em idosos frágeis e/ou altamente 
dependentes, quadros de sarcopenia e alterações 
no tecido subcutâneo interfiram no tempo e 
dosagem de absorção medicamentosa. Merece 
observação que essa via propicia o risco de 
complicações, desconforto e alto custo, sendo 
pouco frequente seu uso a longo prazo. 
 
Outras vias – tópica, sublingual, retal, bucal ou 
transdérmica – embora opções em algumas 
circunstâncias, tornam-se limitadas pelo número 
de fármacos em disponibilidade comercialmente. 
Observa-se, porém, que, mesmo com 
possibilidades terapêuticas restritas, essas vias 
contêm potencial de interações medicamentosas 
e de sobredoses, visto que – com exceção da 
transdérmica e da tópica parcialmente – o 
processo de absorção farmacológica nelas 
encontra-se vinculado a mucosas. 
 
Torna-se assim cada vez mais comum – em idosos 
incapacitados de utilizarem a via oral – a indicação 
de sondas de alimentação como alternativa para o 
aporte de nutrientes e administração de 
medicamentos. 
 
Particularmente no idoso, em função das 
alterações nos processos de farmacocinética (que 
incluem absorção, distribuição, metabolismo e 
excreção dos fármacos) e farmacodinâmica (efeito 
dos fármacos nos órgãos e tecidos), deve-se 
sempre ter especial atenção na prescrição de 
medicamentos, podendo ser necessário o ajuste 
de doses ou a avaliação da adequação desse 
medicamento frente às mudanças nos padrões 
farmacológicos com o envelhecimento. 
As consequências do amplo uso de medicamentos 
têm impacto no âmbito clínico e econômico, 
repercutindo na segurança do paciente. E, a 
despeito dos efeitos dramáticos que as mudanças 
orgânicas decorrentes do envelhecimento 
ocasionam na resposta aos medicamentos, a 
intervenção farmacológica é, ainda, a mais 
utilizada para o cuidado à pessoa idosa. De fato, o 
uso de medicamentos constitui hoje uma 
epidemia entre idosos, cuja ocorrência tem como 
cenário o aumento exponencial da prevalência de 
doenças crônicas e das sequelas que acompanham 
o avançar da idade, o poder da indústria 
farmacêutica e do marketing dos medicamentos e 
a medicalização presente na formação de parte 
expressiva dos profissionais da saúde. 
 
Com o aumento da expectativa de vida da 
população, aumenta o contingente de portadores 
de doenças crônicas não transmissíveis, que 
demandam assistência contínua e na qual os 
medicamentos têm um papel importante. O uso 
de vários medicamentos pode causar problemas 
tais como o aumento do risco do uso de 
medicamentos inadequados (incluindo interações 
medicamentosas e duplicação de terapia), a não 
adesão ao tratamento e a ocorrência de efeitos 
adversos. 
Apesar de “polifarmácia” ser um termo 
constantemente utilizado na prática clínica, seu 
conceito ainda não é consensual, envolvendo 
várias definições diferentes. Polifarmácia pode ser 
definida como: “uso de 5 ou mais medicamentos”, 
“uso de pelo menos um medicamento 
potencialmente inapropriado” ou ainda “mais 
medicamentos usados do que clinicamente 
indicados”. Na maioria dos estudos, o primeiro 
conceito de “vários medicamentos (5 ou mais) 
sendo usados de forma concomitante” é o mais 
utilizado. 
–
 
Sendo assim, o uso simultâneo de vários 
medicamentos deve ser sempre avaliado com 
cautela na população idosa, pois ao mesmo tempo 
que podem contribuir para a manutenção da 
capacidade funcional e da qualidade de vida, se 
utilizados de forma incorreta, podem 
comprometê-las. Assim, ao prescrever 
medicamentos a idosos, deve-se estar atento a 
essa relação risco-benefício. 
 
As afecções iatrogênicas são aquelas que decor-
rem da intervenção do médico e/ ou de sua equipe 
– seja ela certa ou errada, justificada ou não – mas 
da qual resultam consequências prejudiciais para 
a saúde do paciente. A iatrogenia muitas vezes é 
inesperada, mas em situações em que a uma in-
tervenção específica se faz muito necessária, 
pode-se até esperar o dano iatrogênico dela 
consequente, após devida ponderação. 
A iatrogenia não acarreta a responsabilidade civil 
do profissional da saúde, uma vez que ela decorre 
de um agir tecnicamente correto. Nesse caso, 
além da intenção benéfica do profissional para 
uma tentativa de cura do paciente, há um 
proceder preciso e correto, de acordo com as 
normas e princípios ditados pela ciência de sua 
área profissional. 
➢ TIPOS DE IATROGENIAS 
Uma iatrogenia pode ocorrer em consequência a 
uma ação, medida ativa, do profissional ou a uma 
situação de omissão. Além disso, há casos em que 
a iatrogenia decorre de questões ligadas à 
comunicação. Dentro dessas categorias – ação, 
omissão ou comunicação –, podemos classificar o 
tipo de iatrogenia de acordo com o momento do 
processo médico em que ela acontece. 
Quando é devida a uma ação, a iatrogenia pode 
ocorrer durante o processo diagnóstico, no 
tratamento ou na prevenção de uma doença. Por 
exemplo, quando um paciente tem indicação de 
realização de uma tomografia computadorizada 
com contraste para a realização do diagnóstico de 
alguma doença, caso esse paciente desenvolva 
reação alérgica ao contraste iodado, esse prejuízo 
– a reação alérgica – seria categorizado como uma 
iatrogenia decorrente de uma ação diagnóstica. 
Da mesma forma, o efeito adverso a algum medi-
camento utilizado para o tratamento é 
considerado uma iatrogenia decorrente do 
tratamento. Como exemplo de uma iatrogenia 
devido a medidas preventivas, podemos pensar 
em um paciente que sofre perfuração intestinal na 
realização de uma colonoscopia preventiva. É 
importante ressaltar que, quando o dano ocorre 
poruma ação de imperícia ou imprudência, é 
configurado um erro médico. 
As IATROGENIAS POR OMISSÃO também podem 
ocorrer no momento do diagnóstico, do 
tratamento ou da prevenção, destacando 
novamente que, em situações em que há 
negligência, fala-se de erro médico. Utilizando o 
mesmo exemplo da tomografia computadorizada 
com contraste iodado, caso o médico opte por não 
a realizar pelo risco de choque anafilático e o 
paciente sofre as consequências da falta do 
diagnóstico que seria feito, temos uma situação de 
iatrogenia por omissão diagnóstica. Quando há 
demora na prescrição de algum medicamento e o 
quadro clínico do paciente piora em consequência 
disso, tem-se uma iatrogenia por omissão de 
tratamento. Por fim, há iatrogenia por omissão de 
medidas preventivas quando o paciente 
desenvolve uma doença por falha na sua 
prevenção, por exemplo. 
 
As IATROGENIAS DE COMUNICAÇÃO podem 
resultar de deficiências comunicativas por parte 
do paciente e do profissional, do conteúdo e da 
forma de se comunicar más notícias e até mesmo 
da grafia do profissional. Os problemas de 
comunicação ocorrem especialmente com os 
pacientes que possuem deficiências de compre-
Iatrogenia X Erro médico 
É de suma importância diferenciarmos dois 
conceitos: iatrogenia e erro médico. Muitas vezes 
esses termos são usados como sinônimos, porém 
dizem respeito a situações distintas. A 
diferenciação se faz clara ao pensarmos que, 
apesar de na maioria das vezes os erros médicos 
levarem à iatrogenia, em algumas situações um 
erro médico pode não gerar prejuízo algum ao 
paciente, não ocasionando, nesse caso, 
iatrogenias. Da mesma forma, é importante notar 
que nem todas as iatrogenias são decorrentes de 
erros médicos, na verdade, a maioria das 
iatrogenias decorre de situações indicadas, e não 
por erro médico. 
–
 
ensão, como baixa escolaridade ou deficiência 
auditiva por exemplo, contudo, pode ocorrer 
também quando o profissional não consegue 
explicar o conteúdo desejado da forma mais 
apropriada. Isso é visto principalmente nos 
momentos de comunicação de más notícias, em 
que o profissional passa uma impressão de que o 
problema é menor ou maior do que é de fato. Por 
fim, iatrogenias também acontecem, com certa 
frequência, por questões de grafia não 
compreensível. Quando a caligrafia do médico em 
uma prescrição, por exemplo, não é 
compreendida pelo farmacêutico ou mesmo pelo 
próprio paciente, pode ocorrer trocas de 
medicamentos e/ou erro de dosagem e 
frequência. 
 
 
Consideram-se como afecções iatrogênicas 
aquelas decorrentes da intervenção do médico 
e/ou de seus auxiliares, seja ela certa ou errada, 
justificada ou não, mas da qual resultam 
consequências prejudiciais para a saúde do 
paciente. 
No Brasil, o processo conhecido como cascata 
iatrogênica é utilizado para descrever a situação 
em que o efeito adverso de um fármaco é 
interpretado incorretamente como nova condição 
médica que exige nova prescrição, sendo o 
paciente exposto ao risco de desenvolver efeitos 
prejudiciais adicionais relacionados ao tratamento 
potencialmente desnecessário. 
A tomada de medicamentos envolve sequência de 
etapas – prescrição, comunicação, dispensação, 
administração e acompanhamento clínico – o que 
a torna um ato complexo e vulnerável às 
iatrogenias, particularmente em idosos. Este 
processo pode ser prevenido já na etapa inicial da 
prescrição. 
 
O número de medicamentos é o principal fator de 
risco para iatrogenia e reações adversas, havendo 
relação exponencial entre a polifarmácia e a 
probabilidade de reação adversa, interações 
medicamentosas e medicamentos inapropriados 
para idosos. 
 
Os pacientes idosos estão especialmente sujeitos 
à ocorrência de eventos iatrogênicos. Muitas 
vezes são tratados como qualquer outro paciente 
adulto, sem que se leve em consideração a 
singularidade do processo de senescência e 
senilidade. Desta forma, a prevalência dos eventos 
iatrogênicos na população idosa pode ser elevada, 
posto que estas pessoas não estão recebendo um 
tratamento caracterizado para sua idade e assim 
ficam mais suscetíveis aos erros dos profissionais 
da saúde. 
 
Diante do exposto, é possível constatar que a 
ocorrência de eventos iatrogênicos adquire maior 
importância nos idosos, uma vez que tanto a 
incidência quanto a intensidade das 
manifestações e complicações provocadas são 
maiores nessa população. 
 
Polifarmácia em alguns estudos brasileiros 
conduzidos em diferentes regiões: 
–
 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define 
“reação adversa a medicamento” (RAM) como 
“qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se 
manifeste após a administração do medicamento, 
em doses normalmente utilizadas no homem para 
profilaxia, diagnóstico ou tratamento de uma 
enfermidade”. 
As RAM em pessoas idosas são um grave problema 
de saúde pública, uma vez que os idosos são mais 
propensos a RAM por causa de mudanças 
fisiológicas próprias do envelhecimento que 
alteram a farmacocinética e a farmacodinâmica 
dos fármacos. Em função disso, há uma 
preocupação na literatura em relação a 
medicamentos considerados inadequados para os 
idosos, eventos adversos, polifarmácia, 
redundância terapêutica e potenciais interações 
–
 
medicamentosas. Esses fatores, quando 
combinados com a automedicação e prescrição 
inadequada, contribuem para o fracasso 
terapêutico e geram custos desnecessários. 
Os eventos adversos relacionados ao 
medicamento podem ser considerados como um 
dos principais fatores associados à morbidade e à 
mortalidade nos serviços de saúde. Nesse 
contexto, ressalta-se a possibilidade de se 
experimentarem problemas com medicamentos 
mesmo quando estes são corretamente utilizados. 
De modo geral, as RAM são associadas a desfechos 
negativos da terapia. Elas podem influenciar a 
relação médico-paciente, uma vez que a confiança 
no profissional pode ser abalada; retardar o 
tratamento, pois muitas podem assemelhar-se a 
manifestações clínicas típicas de doenças, 
demorando para serem identificadas; limitar a 
autonomia do idoso e afetar a qualidade de vida. 
Em muitos casos o tratamento da RAM abrange a 
inclusão de novos medicamentos na terapêutica, 
elevando o risco da cascata iatrogênica. O ideal, 
quando possível, é realizar a suspensão ou 
redução da dose do medicamento. 
➢ CONSEQUÊNCIAS DA IATROGENIA 
As consequências das iatrogenias costumam ser 
sérias em idosos. Elas levam a complicações 
clínicas e podem até mesmo gerar incapacidades e 
lesões permanentes. Em geral, as iatrogenias 
aumentam o tempo de internação, além de 
aumentarem a necessidade de medidas 
diagnósticas e terapêuticas. Isso faz com que, em 
adição aos efeitos negativos causados ao paciente, 
a iatrogenia aumente os custos médicos, gerando 
impacto também no gerenciamento dos recursos 
de saúde. 
➢ FATORES DE RISCO DA IATROGENIA 
Como já foi muito discutido, ser idoso por si só já 
é um fator de risco para iatrogenias, tanto em 
função das alterações farmacocinéticas e far-
macodinâmicas fisiológicas, quanto pelo 
despreparo de muitos profissionais na assistência 
a esses pacientes. Contudo, mesmo dentre a 
população idosa, alguns indivíduos possuem maior 
risco de serem vítimas de iatrogenias do que 
outros. 
Idosos com múltiplas comorbidades estão no 
grupo de maior risco, dado que seus órgãos e 
sistemas já possuem algum grau de comprome-
timento de suas funções. Idosos que passam por 
múltiplos médicos e que são acompanhados por 
diversos profissionais de saúde também estão 
mais expostos ao risco da iatrogenia, uma vez que 
se submetem a muitas avaliações diagnósticas, 
recebem múltiplos tratamentos e fazem uso de 
polifarmácia. Em contrapartida, aqueles pacientes 
que possuem pouco acesso aos recursos de saúde 
também estão mais sujeitos a iatrogenias, 
principalmente àquelas por omissão. 
Também dentro do grupo de maior risco estão os 
pacientes hospitalizados e os pacientes que serão 
submetidos a procedimentos médicos e/ou 
cirúrgicos.Os pacientes que apresentam sintomas 
atípicos de alguma doença também estão mais 
expostos ao risco, dado que nessas situações faz-
se uso de mais medidas diagnósticas, além do fato 
de que o diagnóstico costuma ser mais demorado. 
Por fim, os pacientes que possuem dificuldades de 
comunicação também possuem mais risco de 
sofrerem iatrogenias. Isso ocorre porque o pa-
ciente, muitas vezes, não consegue expressar 
corretamente o que sente, não compreende 
corretamente as orientações médicas e pode não 
entender a prescrição. Geralmente, essa situação 
está associada a um baixo nível socioeconômico 
desses pacientes. 
 
 
REFERÊNCIAS: TRATADO DE GERIATRIA

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