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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 9 EMERGÊNCIAS ASSOCIADAS AO USO DE ÁLCOOL DROGAS: Entidades químicas que alteram a função biológica do SNC, e, possivelmente sua estrutura. A pessoa que bebe muito, no dia que bebe fica mais animada, sonolenta ou eufórica, mas a longo prazo, o álcool pode alterar a estrutura cerebral. Na dependência alcoólica, ocorre uma diminuída no cérebro do indivíduo. Isso também é válido para outras drogas. O uso de SPAs nos faz liberar mais dopamina do que prazeres comuns, como comida e sexo. ¼ do mundo ingere álcool, o que inclui o uso patológico e ‘’fisiológico’’. Mas, notem como é um uso prevalente no mundo. TIPOS DE USO DAS DROGAS EM GERAL EXPERIMENTAL Uso inicial, normalmente esporádico; É quando a pessoa está começando a usar, experimentando. É um uso voluntário, ela usa, pois, quer inserir-se em um grupo, para reduzir a timidez, por achar ser bonito, legal, ou qualquer outro motivo. RECREATIVO Uso com alguma frequência, normalmente associado a situações sociais (Ex. usa quando encontra os primos, com o namorado, quando vai para festa); É de vez em quando, a pessoa já experimentou, já viu se gosta ou não, e começa a usar com certa frequência. REGULAR Existe uma frequência determinada (Ex. semanal, mensal), pode ou não trazer prejuízo. Se a pessoa começa a beber diariamente por exemplo, isso já é uma regularidade e, claro, irá trazer prejuízos. Logo, nota-se que quanto mais regular, mais frequente, maior a chance de trazer prejuízos para o paciente. ABUSIVO Altas doses, tem repercussões agudas (inclusive repercussões clínicas). Tem-se duas formas de uso abusivo: • Por forma recreativa → usa de vez em quando, mas quando usa, usa muito! Em doses muito altas, tendo assim repercussões agudas (ex. A pessoa que quando bebe sobe na mesa, quebra uma taça, trai o namorado, briga com a galera, ‘’toca terror’’). Ou a pessoa que quando usa cocaína pesa a dose e sai da realidade, tem delírio persecutório de que a polícia está atrás, e então sai correndo, ou quando ela sobe na mesa, cai e bate a cabeça. DEPENDÊNCIA Uso continuado, a pessoa não consegue mais se desvincular. Ela depende disso, é como se ela começasse a orbitar em torno da droga, traz prejuízos, mais tempo para obtenção da droga. Um indivíduo normal ele tem sua profissão, tem hobbies, gosta de praia, piscina e gostar de beber também, então tem-se o centro da sua vida que é o indivíduo e o álcool faz parte da vida dele. Na dependência isso se inverte, a vida do indivíduo começa a orbitar em torno da droga. O indivíduo começa a gastar mais tempo para obter a droga, usando a droga, tendo prejuízos por conta dela (falta trabalho, tira nota baixa, prejuízo em relações interpessoais). Esse é um quadro mais grave que requer intervenção terapêutica. TIPOS DE PREJUÍZO • TRANSTORNOS ORGÂNICOS: Cardiovasculares, hepáticos (sobretudo associado ao álcool, mas outras drogas também) e renais. Rabdomiólise também pode ocorrer. • SOFRIMENTO PSÍQUICO: Tanto para si quanto para família e cônjuge, por exemplo. • TCEs: Com o uso de drogas, tem o risco de cair e fazer um TCE. • ENVOLVIMENTO EM BRIGAS, HOMICÍDIO E SUICÍDIO: A taxa de envolvimento de pessoas alcoolizadas ou em uso de outras drogas em relação a suicídio e homicídio é maior. • USO DE OUTRAS SPAs:’’ uma droga puxa outra’’ Substâncias Psicoativas 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 9 • EXPOSIÇÃO/CONSTRANGIMENTO SOCIAL: A pessoa liga pro ex namorado, fala besteira, posta coisa ‘’nada a ver’’ na internet, faz uma besteira e alguém filma, exemplo os vídeos de Fabio Assunção. • DESINIBIÇÃO SEXUAL/ PERDA DE FILTROS (DSTs): Por conta das drogas, o indivíduo pode ficar mais suscetível a DSTs. ALCOOLISMO NA EMERGÊNCIA O álcool pode levar o paciente a emergência por duas situações: Bebeu demais ou parou de vez - reduziu abruptamente a bebida. A essas situações dar-se o nome de: • INTOXICAÇÃO AGUDA: Paciente embriagado, coma, agressividade (hálito etílico). Paciente apresenta marcha trôpega, falando besteira, agressiva, discurso desorganizado. • ABSTINÊNCIA: Irritabilidade, agressividade, pode ter tremores, insônia, desorganização do pensamento (pensamento desconexo). Paciente que parou de beber ou que reduziu de forma significativa e abrupta a quantidade. INTOXICAÇÃO AGUDA POR ÁLCOOL Não fazer benzodiazepínico (BZD)! O BZD é depressor do SNC, ele é estimulador do GABA (gaBAIXO), e não deve ser feito no paciente intoxicado por álcool, pois o álcool também derruba. No início ele dá uma animada, euforia, mas depois vem o sono e coma. Logo, é perigoso fazer BZD. Se agitação: haldol (VO ou IM), risperidona, quetiapina, EM DOSE BAIXA! Soro fisiológico: apenas se desidratação. Não existe isso de que todo bêbado tem que ofertar soro e glicose. Faz soro se desidratado, faz glicose se hipoglicêmico. Quanto a glicose, antes de oferta-la é preciso avaliar duas coisas: • Essa pessoa que chegou alcoolizada ela bebe sempre? É um etilista crônico e não se alimenta bem? Ou é um jovem que bebeu demais e está assim agora? • Tem algum sinal da encefalopatia de Wernicke? Se houver sinais da encefalopatia de Wernicke ou paciente etilista crônico, fazer tiamina primeiro, antes da glicose. Quando a pessoa já bebe demais, é possível notar na inspeção: indivíduo emagrecido, desnutrido (a pessoa quando bebe demais ela para de comer), com barrigão, isso sugere que a albumina está baixa, iniciando assim a ascite. O indivíduo fica magrinho, com braço fino e barrigão. E essas pessoas tendem a ter deficiência de Tiamina (vitamina B1), o que pode levar a encefalopatia de Wernicke. ENCEFALOPATIA DE WERNICKE Deficiência de Tiamina (B1). Tríade clássica: • Distúrbios oculomotores (nistagmo). • Confusão mental. • Ataxia (marcha cerebelar - Equilíbrio ou coordenação motora prejudicados). Confusão mental e ataxia podem acontecer em paciente alcoolizados, não sendo um referencial tão bom. Assim, na Encefalopatia de Wernicke o melhor referencial ao exame físico é o nistagmo. Voltando... se você quer fazer a glicose para o paciente alcoolizado com hipoglicemia e com sinal de encefalopatia de Wernicke ou etilista crônico, deve-se fazer: Tiamina 500mg, EV, diluido em 100mL de SF 0,9%/30minutos, 3x/dia, por 2-3 dias. Depois suplementação diária de tiamina, normalmente, 300mg, VO. O tempo da suplementação depende, se ele continuar a beber, continua a suplementação, senão, faz por 06 meses. O complexo b tem uma quantidade muito pequena de tiamina, logo, não será suficiente para evitar um Wernicke. Precisa fazer a tiamina!!! Pode ser feito o complexo b, mas não irá resolver só com ele, o gestor tem que providenciar tiamina. WERNICKE – KORSAKOFF É a complicação do Wernicke. Sendo um transtorno bem grave. No Wernicke-Korsakoff ocorre: • Amnésia anterógrada: Incapacidade de criar ‘’novas memórias’’ (prejuízo na transformação de 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 9 memórias recentes em memória de evocação). A memória já se perde nas memórias recentes, ou seja, ele preserva o que já tem, mas não terá nada novo de memória. • Confabulação: O indivíduo tem um prejuízo em sua memória e então cria em sua imaginação memórias falsas e fica lá como se fossem memórias reais. Deu exemplo de um desenho (South Park), no qual em um episódio determinado personagem toda vez que vai contar determinada história vai lá e acrescenta algo. Isso é confabulação. • Estupor/morte: a evolução pode chegar nesse nível. • Tratamento igual a Wernicke. SÍNDROME DA ABSTNÊNCIA ALCOÓLICA Se inicia algumas horas após cessação ou diminuição abrupta do uso. Pico em 48h, pode durar 4-5 dias, podendo durar maisque isso, mas aí a intensidade vai diminuindo. Lembrar que a abstinência depende da quantidade (de uso ou de tempo). Conduta diagnóstica: BZD em dose alta (Ex. Diazepam 10mg, 01cp 8/8h). Lembrar que o lorazepam é o único BZD que pode ser feito em hepatopatas (cirróticos, ictéricos...), devido a sua meia vida curta, deve ser feito de 6/6h ou 4/4h, a depender da resposta do paciente. Sinais de alarme para gravidade: convulsões, alucinações, delirium. DELIRIUM TREMENS Quadro mais grave, deve ser internado em UTI. Normalmente se inicia 3-4 dias após cessação ou diminuição abrupta do uso; normalmente dura 10- 12 dias. Se for um paciente com múltiplas comorbidades clínicas, idosos ou pós cirúrgico, a chance desse dilirium durar mais de 12 dias é grande. Ex.: paciente idoso etilista crônico que bebeu muito, caiu, quebrou a bacia, internou para fazer a cirurgia, parou de beber, ele vai ter uma abstinência acentuada, alto risco de delirium tremens, sendo indicado encaminhá-lo para UTI no pós cirúrgico, devendo ser considerado também o a chance desse dilirium durar tempo >12 dias. Manifestações do deilirum tremens: • Agitação psicomotora. • Convulsões. • Delírios e alucinações (táteis). • Rebaixamento do nível de consciência. • Prejuízo da atenção, memória e orientação. Sintomas clínicos: • Hipertermia. • Taquicardia. • Hipertensão Arterial. • Taquipneia. Paciente com sintomas clínicos + história de etilismo crônico e exame físico (inspeção: paciente emagrecido e com ascite) ou USG com cirrose, ascite → Paciente com Delirium Tremens! Conduta: O tratamento do Delirium Tremens deve ser realizado em hospital clínico (NÃO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO), preferencialmente em UTI. Medidas para prevenção de delirium. Medicamentos no Delirium Tremens: • Benzodiazepínico (BZD) - tomar cuidado em idosos, nesses casos, tentar um BZD de meia vida curta ou um haldol. • Tiamina se Wernicke ou Wernicke-Korsakoff ou etilismo crônico. Aí seria como se fosse uma tiamina profilática. QUAL A CONDUTA PARA O PACIENTE DIABÉTICO EM INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA? Pacientes diabéticos tem uma tendência a desenvolver hipoglicemia quando bebem, pois o fígado está “ocupado” tentando metabolizar o álcool, e para de produzir glicose (e as reservas de glicogênio se extinguem rapidamente). Então a conduta é: tiamina 500 mg EV, e glicose se hipoglicemia (que provavelmente ele terá). Muitos desenvolvem cetoacidose alcoólica, e aí precisa repor magnésio e outros minerais e vitaminas também (mas aí é outro quadro, com náuseas e vômitos também). USO ABUSIVO DE DROGAS EM GERAL INTOXICAÇÃO AGUDA: Alteração do nível de consciência, memória, cognição, afeto, 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 9 sensopercepção, senso de julgamento (perde o ‘’filtro’’). ABSTINÊNCIA: Irritabilidade, agressividade, tremores, insônia, desorganização do pensamento. USO ABUSIVO – CRACK/COCAÍNA Lembrar que o crack é o resto da cocaína, é a pior parte, com conservantes e tudo mais. É o lixão! • Complicações cardiovasculares, respiratórias, dor precordial, hipertermia, rabdomiólise. • A nível psíquico pode causar euforia, taquipsiquismo, mania, agitação psicomotora (APM), ou seja, sintomas psíquicos relacionados a aceleração, podendo inclusive levar a quadros ansiosos, pânico e também a delírios persecutórios, psicose. • Taquicardia, sudorese, elevação da TA, bruxismo (a mandíbula fica travada). São sintomas muito comuns no uso abusivo de outras drogas também. • Pode evoluir para depressão do SNC. É que nem o álcool: quando usa um pouco causa euforia, ao usar mais um pouco causa depressão. • Doses altas podem levar a falência de múltiplos órgãos, infarto, convulsões e morte. Muito grave! USO ABUSIVO – ECSTASY/ANFETAMINAS (¨BALA¨) • A cocaína é transportada em pinos como na imagem acima e o crack tem os aspectos parecidos com rapadura e cocada. • Abuso: Idiossincrático, ou seja, não depende da dose. A pessoa pode usar uma e ter sintomas, e outra pode usar dez e não ter nada. • Complicações cardiovasculares, hipertermia (tardia), hiponatremia, rabdomiólise (lesão muscular que afeta o rim – trava o rim – quadro bastante grave), hepatites tóxicas (o risco aumenta quando se usa junto com bebida alcoólica), arritmias. • Ideação paranoide, agressividade. • Taquicardia, sudorese, elevação da TA, bruxismo. USO ABUSIVO – MACONHA • Alteração da percepção de cores, texturas, espaço. • Euforia, ansiedade, sintomas psicóticos (paranoides), “bad trips”, pode ser ansiolítico também. • Xerostomia (boca seca), HIPEREMIA CONJUNTIVAL (olhos avermelhados). • Não há relatos de morte por ABUSO de maconha. Mas, por exemplo, se a pessoa usa maconha, fica psicótico, acha que a polícia está seguindo-a, sai correndo pela rua e é atropelado, o uso da maconha foi motivado, mas não é porque usou maconha que vai morrer. USO ABUSIVO – OPIOIDES • Morfina e codeína (naturais), heroína (semi- sintética), metadona, fentanil, tramadol (sintéticas). São medicamentos que tem efeito analgésico e sedativo. • Sedação excessiva (hipotensão, bradicardia), depressão respiratória, MIOSE. Dica: Miose → palavra pequena → pupila pequena (contração); Midríase → palavra grande → pupila grande (dilatada). • Hipotensão, bradicardia, coma (em quantidades maiores). O problema dessas substâncias é que muito médico é viciado, por isso deve ter muito cuidado. Principalmente anestesistas, cirurgiões e psiquiatras. USO ABUSIVO – LSD (¨DOCE¨) • São tipo papeizinhos que coloca na língua. • MIDRÍASE, xerostomia, taquicardia, hipertermia, íleo paralítico (perigoso), retenção urinária, delirium, convulsões. • Quadros psicóticos agudos e prolongados (alucinações visuais e delírios persecutórios), quadros depressivos – normalmente se inicia dias 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 9 após o uso, pode ser um quadro prévio, autolimitado ou crônico. CONDUTA • Fazer anamnese do paciente (questionar sobre história de uso de SPAs, frequência, “condições de uso”, ou seja, quando usa, com quem usa). • Se agitado, fazer anamnese de forma mais breve (focar em SPAs, medicações em uso, doenças clínicas e alergias, isso para ver o que não pode fazer no caso de cada paciente). • Se possível, solicitar exame toxicológico (THC, benzodiazepínicos, anfetaminas e cocaína), via sangue, respiração, urina ou via bulbo capilar (é a mais precisa – detecta de 90 a 120 dias do uso). • Solicitar exames laboratoriais + ECG. • Com permissão do paciente, contato com pessoa que possa fornecer outras informações (esse tópico está no livro de emergências, mas o prof. não concorda). • Reduzir estímulos externos. • Antes de medicar: exame físico (no mínimo faz inspeção, observa o rosto, o nariz para ver se tem resíduos do pó, os dentes estragados que sugere uso de crack) /neurológico /psíquico. • Antes de medicar: saber se é intoxicação, abstinência ou intoxicação com dependência (mais grave). • Remover a substância do organismo do paciente (via lavagem gástrica ou aumentando a excreção – soro, vai depender da droga). • Usar antagonistas. CONDUTA – ABUSO DE CRACK/COCAÍNA • Obter dados vitais/ glicemia. • ECG. • Exames laboratoriais de urgência. • CK-MB, se necessário (crack e cocaína levam a alterações cardíacas). • TC de crânio, se necessário (bateu a cabeça). • Se psicose: haloperidol 5mg 01-02 ampolas IM, repetindo 1 ampola a cada 30 min. • Midazolam 15 mg 01 ampola IM, se necessário. Age mais rápido. CONDUTA – ABUSO DE ANFETAMINAS • Sintomáticos e medidas de suporte (monitorizar, soro, vonau/dramin). Evitar plasil em casos de deliruim tremens. • Visa evitar complicações (hepáticas, cardíacas e renais). • Tratamento medicamentoso,se necessário (antipsicóticos, benzodiazepínicos) Ex: Haldol, quetiapina, risperidona, Olanzapina. CONDUTA – ABUSO DE MACONHA Tratar sintomas psiquiátricos do abuso (Ex.: Psicose → antipsicótico; ansioso → ansiolítico). Não existe nenhuma restrição no caso da maconha, portanto, usa-se qualquer antipsicótico e ansiolítico. → Antipsicóticos (Ex.: risperidona 2 mg 01 cp VO, haldol 5 mg 01 cp/ampola VO/IM...) → Ansiolíticos (ex.: Diazepam 10 mg 01 cp VO, Clonazepam 0,5 mg 02 cp VO...) • Usar medicação via IM se APM ou recusa. • Contenção mecânica, se necessário. CONDUTA – ABUSO DE OPIOIDES • Intoxicação leve: medidas de suporte. • Intoxicação grave: Administração imediata de Naloxone (0,4 a 2 mg EV). Melhora deve ocorrer em minutos. • Fentanil (mais potente) e Metadona (meia-vida mais longa) podem requerer doses maiores. CONDUTA – ABUSO DE LSD • Antipsicóticos (Haldol 5mg VO/IM se APM ou recusa). • Ansiolíticos (Diazepam 10mg 01 cp VO, mas pode fazer outras opções também). • Contenção mecânica se agitação.