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Ana Carolina Thomaz Mendes Fisiopatologia da dor A dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada ou descrita em termos de lesão tecidual. É um sinal característico dos mecanismos normais de proteção do organismo contra o dano tecidual. A dor é subjetiva. Cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências. Bases anatômicas das vias de dor A anatomia da via da dor é constituída basicamente por fibras aferentes do tipo Aδ e C, pouco mielinizadas. Contudo, em uma escala decrescente das fibras tipo A consideradas espessas por abundância de axoplasma, esta é considerada a de calibre menor e, portanto, com velocidade mais rápida na condução do estímulo nervoso da dor, classificada como aguda. Outra fibra aferente classificada como condutora do estímulo da dor, agora, crônica, é a do tipo C, amielínica, com axoplasma quase inexistente, apresentando-se com estímulo nervoso doloroso de velocidade mais lenta. Ambas apresentam, em suas extremidades periféricas, receptores tipo terminações nervosas livres, que captam da pele e das vísceras os estímulos nocivos térmicos, químicos e mecânicos, em uma tentativa de informar ao córtex sensitivo (área 3, 2, 1 de Brodman) a agressão acometida, para que se obtenha uma resposta compatível ao fato. Ao serem estimuladas, percorrem um trajeto com início nas terminações nervosas livres. Passam pelos gânglios espinais, adentram a medula espinal, ascendem ao tronco encefálico, à formação reticular, ao tálamo, às áreas límbicas e, finalmente, ao córtex sensitivo do cérebro. Na realidade, os estímulos dolorosos transitam por duas vias distintas específicas para cada tipo de dor. A dor aguda utiliza a via espinotalâmica lateral e a crônica, a via espinorreticulotalâmica. Cada uma obedece a um trajeto, a localização no SNC e o número de fibras envolvidas, o que determina o tipo de dor. Trato espinotalâmico lateral Embriologicamente, é a mais recente via neoespinotalâmica. Iniciada por estímulos mecânicos ou térmicos, utiliza-se de axônios com velocidade de condução mais rápida, as fibras Aδ (12 a 30 m/s). É a via que produz a sensação da dor aguda, em pontada, lacerante e bem localizada. Seu impulso é transmitido da periferia do SNC ao córtex cerebral, através de três neurônios. Neurônio I Do tipo pseudounipolar, cordonal, seu prolongamento periférico segue das terminações nervosas livres aos nervos espinais, em suas raízes dorsais, chegando aos gânglios espinhais. Seu prolongamento central ganha a medula pela divisão lateral da raiz dorsal no sulco lateral posterior. Ganha a coluna posterior da medula, onde faz sinapse com neurônio II. Neurônio II Na coluna posterior da medula, ocupa a lâmina I de Rexed. Seu axônio cruza o plano mediano na comissura branca da medula, ganhando o funículo lateral oposto. Uma vez no funículo lateral, ascende como trato espinotalâmico lateral. Ao nível da ponte, esse trato une-se ao trato espinotalâmico anterior Ana Carolina Thomaz Mendes (pressão) e passa a ser denominado lemnisco espinal. Ascende ao tálamo no NVPL, onde fará sinapse com o neurônio III. Neurônio III No tálamo, no núcleo posterolateral, essa dor torna- se consciente; forma as radiações talâmicas, ganha a cápsula interna e a coroa radiada. Chega ao córtex sensitivo do cérebro, no giro pós-central, área 3, 2, 1 de Brodman. A partir desse giro, aparecem as representações somatotópicas, representações em diferentes partes do corpo, capazes de identificar a área cortical comprometida. Trato espinorreticulotalâmico Embriologicamente, é a mais antiga via paleoespinotalâmica. Inicia-se por fatores químicos e utiliza axônios de diâmetro reduzido e velocidade de condução lenta (0,5 a 2 m/s) as fibras C. Esta via produz dor crônica, mal localizada, difusa, contínua em queimação. Conduz o estímulo da periferia do SNC até o córtex cerebral, através de vários neurônios (no mínimo 4, podendo chegar a 16). Neurônio I Inicia-se da mesma forma que o neurônio I da via espinotalâmica lateral. Seu prolongamento periférico segue das terminações nervosas livres até o corpo celular nos gânglios espinais, onde ganha o prolongamento central, que adentra a medula espinal em sua coluna posterior. ganha a coluna posterior da medula, onde faz sinapse com o neurônio II. Neurônio II Ocupa a lâmina V de Rexed e cruza o lado oposto pela comissura branca ou não cruza. Seus axônios dirigem- se ao funículo lateral do mesmo lado ou do lado oposto e ascendem para constituir o trato espinorreticular. Na medula, junta-se ao trato espinotalâmico lateral. Vai à formação reticular de todo o tronco encefálico, onde faz sinapse com os neurônios III, IV e V em vários níveis da formação reticular. Neurônios III, IV, V, VI... Na formação reticular, dão origem às fibras reticulotalâmicas, as quais terminam nos núcleos intralaminares do tâlamo (lâmina medular interna do tálamo), neurônio VI, com grande campo receptivo. Os neurônios fazem sinapse a partir dessa área do tálamo, com neurônios que se dirigem para áreas límbicas e núcleos da base, neurônios VII, VIII, etc. Neste nível, o estímulo doloroso ganha respostas automáticas e emocionais a estímulos nocivos, por entrar em contato com estruturas que fazem parte do sistema límbico (circuito de Papez). Projetam-se a amplas áreas do córtex cerebral sensorial, neurônio IX, podendo chegar até XII. Dor aguda e dor crônica A dor aguda relaciona-se diretamente a um dano tecidual efetivo ou, pelo menos, a um risco eminente de dano. A dor crônica, porém, além de um dano tecidual contínuo, pode ser deflagrada por sensibilização de neurônios das vias nociceptivas, disfunção dos sistemas endógenos de controle da dor ou por fatores ambientais. A dor crônica nociceptiva é resultado da estimulação dos nociceptores por longo período, como ocorre nos casos de tumores que comprimem os receptores sensoriais. A recepção e a transmissão central da informação nociceptiva ocorre de forma adequada - a dor é prolongada porque o estímulo é contínuo. A dor crônica neuropática decorre de atividade neural patológica em diferentes níveis do sistema nervoso: SNP, SNC ou SNA. Uma lesão em nervo periférico pode modificar a excitabilidade da membrana, gerando potenciais de ação espontâneos, pós- descarga prolongada ou despolarização em resposta a estímulos mecânicos não nociceptivos. Dano à bainha de mielina pode prejudicar o isolamento entre os neurônios e a excitação de um neurônio qualquer pode induzir a despolarização de um neurônio nociceptivo (excitação cruzada). No SNC, a neuroplasticidade pode desencadear uma relação desproporcional entre a estimulação sensorial periférica (nociceptiva ou não) e a sensação dolorosa (sensibilização central). Uma amputação, por exemplo, obriga uma reorganização das estações de processamento sensorial, inclusive na representação cortical do membro. Assim, se um polegar for amputado, o crescimento da arborização dendrítica dos neurônios que carreiam informação Ana Carolina Thomaz Mendes proprioceptiva do indicador pode alcançar áreas de representação cortical nociceptiva desse membro, gerando dor constante no dedo fantasma. Essas alterações plásticas ocorrem não apenas no córtex cerebral, mas em todos os níveis de processamento sensorial. É interessante notar que uma dor intensa e persistente por mais de 24 horas pode levar a alterações plásticas no sistema nervoso que se assemelham à sensibilização central. O substrato neuroquímico dessas modificações está relacionado ao aumento do fluxo de cálcio decorrente da estimulação glutamatérgica em receptores ionotrópicos do tipo AMPA e NMDA, assim como sistemas de segundos mensageiros liberados por receptores metabotrópicos glutamatérgicose de neuropeptídeos (substância P). Após uma cascata neuroquímica que culmina na ativação de genes, o resultado final pode ser a geração de novos receptores, canais iônicos ou enzimas intra-celulares que funcionalmente facilitam o processo de despolarização em alguns pontos do processamento da informação nociceptiva. Assim, está instituída a sensibilização central. Semiologia da dor Tanto o SNC quanto o SNP estão envolvidos na sensação de dor. A dor é um sinal de aviso para evitar lesão. Com frequência, a resposta à dor é reflexiva. O SNC promove a mediação de outras respostas. Células nervosas especializadas, chamadas nociceptores, são receptores sensoriais localizados na pele, nos músculos, nas vísceras e no tecido conjuntivo. Essas células respondem ao estímulo provocado por lesão térmica, mecânica ou química. A resposta consiste na liberação de mediadores químicos, como prostaglandinas, que fazem com que os nociceptores sejam estimulados, transportando o impulso doloroso até a medula espinal. Esses impulsos deslocam-se ao longo de fibras nervosas aferentes - fibras A mielinizadas ou fibras C desmielinizadas. A informação sensitiva proveniente de diversas áreas no interior do corpo pode convergir nos neurônios espinais. Essa convergência é responsável pela sensação de dor referida, a dor que é percebida em uma parte do corpo diferente daquela em que teve origem a lesão ou o estímulo. No entanto, uma estrutura nervosa complexa nos cornos dorsais da medula espinal pode inibir a transmissão da sensação dolorosa até o cérebro. Esses portões operam por meio de vários neurotransmissores (substância P e somatostatina). A não transmissão até o cérebro impede o reconhecimento da sensação de dor. A lesão é respondida reflexivamente e a origem do estímulo desagradável é eliminada. O estímulo apenas se transformará em dor se for percebido no cérebro. Dor nociceptiva Esse �po de dor envolve es�mulos ascendentes transmi�dos atráves de nervos normais, ao longo de neurônios sensoriais, e que sobem pelas vias espinotalâmicas da medula espinhal. Compreende as dores somá�cas e viscerais. Dor somática A dor somática ou estrutural é localizada mais facilmente pelo paciente e com frequência está associada a traumatismo ou atividade física. A dor somática pode originar-se em músculos, articulações, ligamentos ósseos, tendões ou fáscia. A descrição do cliente pode variar desde uma dor aguda e intensa até imprecisa e dolorida. Pode ser constante ou intermitente e frequentemente relacionada a alguma atividade física ou à postura. Tecidos estruturais podem estimular fibras nervosas aferentes em decorrência de lesões traumáticas, como lacerações ou esmagamento. Fibras aferentes também podem ser estimuladas pela pressão, como resultado de invasão de tumor, edema, congestão venosa ou inflamação nas articulações. Dor visceral A dor que se origina a partir da estimulação de nociceptores mais profundos pode ser visceral. A dor visceral pode ter origem nas cavidades torácica, abdominal, pélvica ou craniana. Trata-se de uma manifestação difusa, de localização imprecisa e frequentemente de difícil identificação com o diagnóstico. Os sintomas mais comumente associados à dor visceral indicam atividade do SNA. Podem ser caracterizados por palidez, sudorese, cólicas abdominais e diarreia. Com frequência, ocorre aumento significativo na pressão arterial. A dor visceral é descrita como profunda, dolorida, em cólica ou de pressão intensa. Esse tipo de dor é frequentemente “referido” a outras áreas do corpo. Ana Carolina Thomaz Mendes ● O que é dor referida? Sente dor em um lugar, mas ela tá acontecendo em outro local → Isso ocorre quando 2 1º Neurônios de regiões distintas convergem para uma mesma localidade/ponto no corno dorsal da medula pode ser que o córtex interprete que a dor está em outro lugar ● O que é dor irradiada? Sentida a distância de sua origem, porém ocorre obrigatoriamente em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela dor. Dor inflamatória A dor inflamatória é transmi�da através de vias e nervos normais, tal como a dor nocicep�va. Entretanto, o grau de lesão �ssular leva à a�vação de mediadores inflamatórios agudos e crônicos que potencializam a dor, diminuem os limiares de condução e sensibilizam o SNC para o es�mulo que chega. Os exemplos incluem condições inflamatórias crônicas, tais como artropa�as e artrites, vasculopa�as isquêmicas, feridas pós-operatórias tardias e queimaduras. Dor neuropática A dor neuropática resulta de dano ao SNC ou SNP. Não é necessária a estimulação dos nervos para que o paciente informe que sente dor. A dor pode ser leve ou muito intensa, sendo descrita, muitas vezes, como uma sensação de queimação ou cauterização. Tem localização pouco definida e não responde às intervenções convencionais. Comumente, a dor neuropática é contínua, e não intermitente. Pode ser acompanhada por parestesias, sensações de calor ou frio, formigamento, dormência ou paralisia. Como o resultado da lesão dos nervos, é comum a dor neuropática se transformar em um sintoma crônico que pode ser gravemente debilitante. ● Tipos de dor neuropática: Mononeuropatia - quando somente um trajeto nervoso está comprometido pela doença, a dor é bem localizada, podendo afetar um lado do corpo ou da região (por exemplo, um lado da perna, do tórax, da face). Às vezes, mais de um nervo pode estar envolvido, causando dores em mais de um segmento do corpo (mononeuropatia múltipla). Polineuropatia - quando vários nervos estão alterados ou danificados, a dor aparece de forma generalizada, podendo, por exemplo, surgir no tronco, braços e pernas ao mesmo tempo. Dor psicogênica A dor psicogênica, por sua vez, está relacionada à prevalência de fatores psicológicos na gênese da sensação dolorosa. Esse tipo de dor pode ser observado em distúrbios psicológicos, como na depressão e na ansiedade generalizada. A depressão e a ansiedade interagem na percepção da dor via mecanismos inibitórios e facilitatórios. As vias noradrenérgicas e serotoninérgicas estão envolvidas no mecanismo da ansiedade e da depressão, bem como no controle central da dor. A interação entre as unidades excitatórias e inibitórias, a condição emocional, os traços constitucionais, as experiências pregressas e presentes, a ocorrência de anormalidades orgânicas ou funcionais e as condições ambientais podem interferir na transmissão da informação nociceptiva para centros nervosos, os quais participam da percepção ou das reações reflexas diante da dor. O estresse psicológico, por exemplo, torna a dor mais intensa ou menos tolerável. Dor disfuncional Não se identificam anormalidades no organismo que o justifiquem. Decorre provavelmente da desorganização funcional das unidades do sistema nervoso que sinalizam e suprimem dor. Classificação da dor quanto ao padrão: Contínua. Episódica (breakthrough): episódios intermitentes de dor moderada a intensa, de início súbito e de curta duração em doentes com dor crônica já controlada. É muito frequente em pacientes com câncer, e pode ser somática, visceral, neuropática ou mista. Há três tipos de dor episódica: Dor incidental: está relacionada com atividades específicas, como tossir, levantar ou caminhar. É a mais comum e pode ser previsível ou imprevisível (doentes com metástases ósseas em que o ato de se movimentar precipita a dor); Ana Carolina Thomaz Mendes Dor espontânea: ocorre de maneira imprevisível e não está temporalmente associada com qualquer atividade ou evento (espasmos ou contraturas musculares); Dor episódica associada ao horário de intervalo da medicação: surge quase no final do intervalo da dose usual de um esquema analgésicoregular, pouco antes da tomada da medicação. Pode ser indicativo de que a dosagem do analgésico ou o intervalo entre as doses é insuficiente. Mecanismos de modulação da dor Nossa percepção da dor está sujeita à modulação em vários níveis do sistema nervoso. Ela pode ser exacerbada por experiências passadas ou suprimida em situações de emergência, nas quais a sobrevivência depende de se ignorar a lesão. Nessas condições de emergência, vias descendentes que trafegam pelo tálamo inibem neurônios nociceptores na medula espinal. A estimulação destas vias inibidoras é uma das técnicas mais modernas que vêm sendo utilizadas para controlar a dor crônica. São clássicos os exemplos de soldados ou atletas que, sob o estresse momentâneo, não percebem que estão gravemente feridos. De maneira inversa, medo, ansiedade e depressão podem exacerbar a dor, evidenciando o papel da atividade cortical na sua modulação. A percepção da dor decorre da interação entre mecanismos pró-nociceptivos e antinociceptivos. Esses mecanismos parecem estar presentes em todas as estações de processamento da informação dolorosa, da periferia ao córtex. Estímulos nocivos, fenômenos inflamatórios ou compressões neurais atuam como mecanismos pró-nociceptivos. Na medula, os neurônios nociceptivos de segunda ordem, além de receberem projeções dos neurônios nociceptivos provenientes da periferia, também recebem projeções de interneurônios inibitórios, que, por sua vez, são ativados por fibras aferentes Aβ que conduzem estímulos táteis. Assim, uma estimulação sensorial pode inibir, ao menos parcialmente, a informação nociceptiva. Esse mecanismo ficou conhecido como Teoria da comporta. Acredita-se que este seja um dos mecanismos de atuação dos aparelhos de estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS). Na teoria do portão para a modulação da dor, as fibras Aβ que levam informação sensorial de estímulos mecânicos ajudam a bloquear a transmissão da dor. As fibras Aβ fazem sinapse com interneurônios inibidores e aumentam a atividade inibidora dos interneurônios. Se estímulos simultâneos de fibras C e Aβ chegam ao neurônio inibidor, a resposta integrada é a inibição parcial da via ascendente da dor, de modo que a dor percebida pelo cérebro é menor. A teoria do portão para o controle da dor explica por que esfregar um cotovelo ou uma canela esfolada diminui a dor: o estímulo tátil de esfregar ativa fibras Aβ e ajuda a diminuir a sensação de dor. Uma das projeções descendentes tem origem nos neurônios do locus ceruleus, cujos axônios alcançam o corno posterior da medula e ali liberam norepinefrina. A norepinefrina inibe a liberação de substância P pelos neurônios aferentes primários antes de eles fazerem sinapse com os neurônios de segunda ordem (inibição pré-sináptica). A dor também pode ser suprimida no corno dorsal da medula espinal, antes que os estímulos cheguem aos tratos espinhais ascendentes. Os interneurônios inibidores tonicamente ativos da medula espinhal geralmente inibem as vias ascendentes da dor. As fibras C nociceptivas fazem sinapses nesses interneurônios inibidores. Quando ativadas por um estímulo doloroso, as fibras C simultaneamente excitam a via ascendente e bloqueiam a inibição tônica. Essa ação permite que o sinal de dor da fibra C siga para o encéfalo sem impedimento. Outra projeção descendente tem origem na substância cinzenta periaquedutal (PAG). A estimulação elétrica dessa região produz inibição seletiva da dor, sem prejuízo das demais modalidades sensoriais. Entretanto, poucos neurônios da PAG projetam-se diretamente à medula. De fato, a PAG faz conexões excitatórias com o núcleo magno da rafe, do qual partem projeções serotoninérgicas que inibem, diretamente ou por meio de interneurônios, secretores de opioides, os neurônios de segunda ordem das lâminas I, II e V. O alívio farmacológico da dor é de considerável interesse para os profissionais da área da saúde. Os Ana Carolina Thomaz Mendes fármacos analgésicos variam desde o ácido acetilsalicílico a potentes opioides, como a morfina. O ácido acetilsalicílico inibe prostaglandinas, diminui a inflamação, e, presumivelmente, diminui a transmissão dos sinais de dor gerados no local da lesão. Os fármacos opióides atuam diretamente nos receptores opióides do SNC, os quais são parte de um sistema analgésico que responde a moléculas opióides endógenas. A ativação de receptores opióides bloqueia a percepção da dor pela diminuição da liberação do neurotransmissor dos neurônios sensoriais primários e pela inibição pós-sináptica dos neurônios sensoriais secundários. Opioides, como morfina e codeína, são analgésicos eficientes e de relevância clínica. A microinjeção de derivados do ópio na PAG produz analgesia intensa. Esse efeito analgésico desaparece quando é realizada a transecção bilateral do funículo lateral dorsal, local por onde passam as projeções antinociceptivas previamente citadas. Assim, parece que parte do efeito analgésico dos opioides se dá a partir da ativação das vias descendentes inibitórias do tronco encefálico. Receptores específicos para opioides estão localizados em muitas regiões do SNC e sistema nervoso periférico, não apenas ligadas diretamente ao controle da dor, mas também em outras funções fisiológicas e comportamentais. Alta concentração desses receptores é encontrada na PAG, no núcleo magno da rafe e no corno dorsal da medula. As três principais classes de opioides endógenos são: encefalinas, dinorfinas e betaendorfinas. Esses opioides são sintetizados a partir de três genes diferentes: o da pró-encefalina, o da pró-dinorfina e o da pró-opiomelanocortina. Encefalinas e dinorfinas são encontradas principalmente na PAG, na rafe e nas lâminas I e II do corno posterior da medula. O pró- opiomelanocortina (POMC) é um polipeptídeo precursor expresso especialmente na hipófise, o qual dá origem à betaendorfina e ao ACTH, ambos liberados na corrente sanguínea em situações de estresse. O corno dorsal da medula possui alta concentração de neurônios secretores de opioides endógenos, e a administração de morfina, por exemplo, mimetiza esse efeito. Receptores opioides podem ser encontrados nos terminais axonais dos neurônios de primeira ordem, onde, via proteína G, inativam canais de cálcio, diminuindo a liberação dos neurotransmissores (glutamato/substância P - inibição pré-sináptica). Nos dendritos dos neurônios de segunda ordem, receptores opioides, via proteína G, abrem canais de potássio, com consequente hiperpolarização (inibição pós-sináptica). Dessa forma, fica inibida a transmissão da informação nociceptiva entre os neurônios de primeira e segunda ordens. No processo avaliativo existem elementos chave aos quais é preciso dar extrema importância, tais como: localização, descrição, intensidade, duração, fatores de alívio e agravamento. No primeiro contato com o paciente, é fundamental uma avaliação mais abrangente, por forma a se conseguir obter o máximo conhecimento sobre a situação. Para pessoas com dor crônica grave, possíveis tratamentos incluem a estimulação elétrica inibidora das vias da dor para o encéfalo ou, em casos extremos, a secção cirúrgica dos nervos sensoriais na raiz dorsal. A acupuntura também pode ser eficaz, embora a razão fisiológica para a sua eficácia ainda não esteja clara. A teoria mais aceita de como a acupuntura funciona propõe que as agulhas da acupuntura, quando colocadas adequadamente, induzem a liberação de endorfinas no encéfalo. Neurotransmissores excitatórios: Glutamato, Substância P, serotonina Neurotransmissores inibitórios: norepinefrina, Opióides, GABA, glicina e dopamina. Psicológicos Influência dos pensamentos e das emoções sobre as respostas fisiológicas, como tônus muscular, fluxosanguíneo, níveis de substâncias na corrente sanguínea e cérebro (Influência da valorização da dor na qualidade emocional do evento doloroso; referência de como a dor é manifestada em diferentes culturas; subjetividade na percepção do limiar de dor; inter-relação dos neurotransmissores nos processos dolorosos; possibilidade de diferentes estados emocionais, como ansiedade, depressão, raiva e outros, provocarem alterações viscerais, autonômicas e mioesqueléticas). Hormônios sexuais: O estradiol potencializa a ligação do glutamato ao receptor N-metil-D-aspartato (NMDA).