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Ana Carolina Thomaz Mendes Otites e colesteatomas Doenças da orelha externa Corpos estranhos no meato acústico externo; Tampão de cerume do meato acústico externo; Pericondrite; Otites externas. Corpos estranhos: é mais comum acontecer com crianças, o quaro clínico e tratamento varia de acordo com o objeto inserido, se é pontiagudo ou não, se tem movimento (insetos), etc. Anamnese + otoscopia Inseto: imobilizá-lo por meio de soluções oleosas; lavar com soro morno ou retirar com micropinça; C.E. Duros: lavar com soro morno e evitar o uso de pinças. C.E. Líquidos: lavar ou fazer microaspirações. Tampão de cerume: pode causar hipoacusia súbita, prurido auricular, zumbidos e vertigem. O tratamento inclui o uso de substâncias cerolíticas por 3 a 5 dias, lavagem com soro morno e secar com algodão. Pericondrite: é um processo infeccioso do pericôndrio que reveste a cartilagem do pavilhão auricular. Pode ser causada por uso de piercing, acupuntura, traumas decorrentes de luta, acidentes, etc. É causado por bactérias G-, principalmente Pseudômonas aeruginosas. No quadro clínico temos hiperemia, edema, dor intensa em todo o pavilhão, exceto lóbulo. O tratamento é feito com antibióticos e corticoides; em caso de abscessos deve ser realizada uma drenagem cirúrgica, desbridamento da cartilagem necrótica e retirada do tecido de granulação e depois realizar um curativo compressivo. Otites externas Otite externa difusa aguda: processo inflamatório infeccioso, de origem bacteriana, sendo causada por lesões a barreira epitelial (corpos estranhos, uso de cotonete, retenção de água – ambiente quente e úmido). Quadro clínico é de otalgia intensa à digitopressão do trágus e mastigação, edema, otorreia e diminuição da audição. Tratamento é comporto de limpeza meticulosa e frequente, uso de antibióticos e anti-inflamatórios tópicos. Caso haja muito edema, utilizar um tampão embebido com antibiótico e anti- inflamatório. Principal causador: pseudômonas aeruginosas e o tratamento ATB de escolha é a ceprofloxacina. Otite externa circunscrita: infecção estafilocócica do órgão pilossebáceo localizado no terço externo do meato. Principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. Paciente sente dor à compressão do trágus. O tratamento é composto por antibiótico tópico, analgésico e corticoide. Caso tenha abscesso presente, drenar. Otite média Eczematosa: dermatite causada por alergia, podendo vir acompanhada por dermatites de outras regiões do corpo. O tratamento consiste em aplicação de cremes à base de corticoide. Otite externa hemorrágica/miringite bolhosa: paciente queixa-se de dor intensa e otorreia com conteúdo sanguinolento. Aparece bolhas de conteúdo hemorrágico, diferente de oto-hematoma. Pode ser de origem viral ou bacteriana, com principal agente etiológico a clamídia. O tratamento consiste em uso de antibióticos e analgésicos. Otite externa fúngica: representa 20% dos casos, é comum em regiões tropicais. Apresenta sintomas similares das otites bacterianas, com prurido e otorreia em destaque. Os principais agentes etiológicos são aspergillus e cândida. O tratamento consiste em limpar o conduto auditivo e utilizar gotas de antifúngicos tópicos. Ciclopiroxamida. Otite externa maligna: crônica, comum em imunocomprometidos. Temos a presença de osteomelite dos ossos da base do crânio. O agente causador é o P. aeruginosas. Paciente relata otalgia lancinante e otorreia fétida. O tratamento é composto por antibiótico endovenoso e limpeza estrita do canal auditivo externo. Pode realizar o exame de cintilografia para acompanhar o comprometimento. Ana Carolina Thomaz Mendes Doenças da orelha média (parte petrosa do osso temporal) Os espaços pneumatizados do osso temporal são contíguos, havendo inflamação na orelha média, ela pode se estender para o mastoide, ápice petroso e células perilabirínticas. Todas as otites médias são uma osteomastoidite em potencial. Otite média aguda: é um processo inflamatório da mucosa da orelha média, com a presença de secreção, de início agudo, acompanhado de sinais e sintomas de inflamação. Crianças <5 anos são mais atingidas. 2/3 terão um episódio no 1º ano, 90% terá até os 7 anos. Antes dos 2 anos, os episódios costumam ser bilaterais, depois disso, unilaterais. A prevalência é de meninos sobre meninas. As imunoglobulinas transmitidas pelo leite materno funcionam como um fator protetor, assim como a sucção permite melhor desenvolvimento tubário. Manifestações clínicas: IVAS, principalmente na rinofaringe. A contaminação é por ascensão das bactérias ou vírus até a tuba auditiva, provocando a infecção. A inflamação leva a secreção de transudato pela mucosa da orelha, com seu aumento causa otalgia e abaulamento da membrana timpânica. Ocorre também ingurgitação dos vasos submucosos da membrana, permitindo sua visualização através da otoscopia. Causas: rinite alérgica, refluxo gastroesofágico, tabagismo passivo. Agentes bacterianos: Streptococcus pneumoniae (tem diminuído a infecção por esse agente graças a vacina Pneumococo), Haemophilos influenzae e Moraxella catarrhalis. Agentes virais: rinovírus, adenovírus, influenza (diminuiu graças à vacina), parainfluenza e VSR. <6 semanas: Staphylococcus aureus e bacilos G-. Quadro clássico: otalgia aguda após quadro de IVAS, com piora da dor ao deglutir e assuar o nariz, comumente associada a hipoacusia e sensação de plenitude auricular. Pode ocorrer ruídos inespecíficos e o sinal de Scheibe (pulsações auriculares sincrônicas com o coração). Em lactentes é difícil perceber a otalgia, então temos irritabilidade, recusa alimentar, choro e manipulação da orelha, sintomas gastrointestinais inespecíficos, obstrução e secreção nasal como sugestão de OMA. A pressão do transudato pode levar a ruptura espontânea da membrana, aliviando a dor. A fase da convalescência pode durar de 1 semana a 3 meses, se caracteriza pela diminuição gradativa do edema, reabsorção da secreção e ingurgitamento vascular. Crianças com episódios recorrentes (3 ou mais em 6 meses ou 4 ou mais em 12 meses) podem evoluir com perda auditiva condutiva, que apesar de transitória, pode levar a atraso na aquisição de linguagem e, consequentemente, má desempenho escolar com déficits da aprendizagem. Mais raramente, a OMA pode ter complicações fatais, como a meningite bacteriana e abscesso cerebral. Exames complementares: timpanometria, impedanciometria e timpanocentese com cultura. Os achados da otoscopia são: abaulamento, opacidade, hiperemia, edema e hipervascularização da membrana timpânica, presença de líquido ou efusão na orelha média (serosa, mucóide, purulenta). Tratamento: analgésicos (dipirona, paracetamol), antibiótico terapia (amoxilina + clavulanato 50mg/Kg/dia, 2/3x no dia por 10 dias), desobstrução nasal (predinisona), vacinação em dia. Conduta expectante: tratar sintomas, reavaliar após 48/72h. RN: amoxilina + gentamicina; pacientes com alergia a penicilina usar cefalosporinas ou eritromicina. Otite média crônica: processo inflamatório que acomete a membrana timpânica e as cavidades anexas à tuba auditiva, com duração superior a 3 meses, associada a secreção, que pode ou não levar a perfuração da membrana. Pode estar associada com uma OMA prévia tratada inadequadamente, disfunção tubária, otite média serosa e traumas. A principal causa de OMC é disfunção tubária, seguida de infecções. Ana Carolina Thomaz Mendes Agentes etiológicos: costuma ocorrer concomitância entre patógenos (microbioma misto); pseudômonas aeruginosas, staphylococcus aureus, proteus mirabilis, E.coli, corynebacterium, klebsiella pneumoniae, bacteroides spp., peptococcus spp., peptostreptococcus spp., prevotella spp., porphyromas spp.,fusobacterium spp. e propionibacterium acnes. Manifestações clínicas: pode ser uma otite silenciosa, assintomática, ou pode apresentar sintomas, como otorreia intermitente (fluída ou mucóide), hipoacusia de grau variável (condutiva), perda de audição, secreção fétida, paralisia facial, vertigem e focos infecciosos intracranianos, retração na membrana. Exames complementares: audiometria (verificar grau de hipoacusia e se há lesão neurossensorial), TC (avaliar acometimento do osso temporal); é possível observar efusão na orelha média, mastoide; erosão óssea, grau de pneumatização mastoidea, cadeia ossicular e trajeto do nervo facial. Otoscopia: membrana timpânica com perfuração, otorreia, erosão de ossículos com presença de bridas. O conduto auditivo externo pode ser normal, apresentar secreção, edema, hiperemia ou granulações. Tratamento: tratamento local, antibiótico tópico em gotas (ciprofloxacino). Em casos refratários é recomendado usar antimicrobianos sistêmicos (amoxilina, clavulanato, cloranfenicol), corticoide (para diminuir a inflamação e o tecido de granulação) e timpanoplastia. Otite média secretora: otite média crônica com efusão: inflamação com presença de líquido e membrana timpânica sem indícios de OMA. Até os 4 anos, 90% das crianças apresentam ela, sendo uma importante causa de deficiência auditiva. Aguda: <3 semanas; Subaguda: de 3 semanas a 3 meses; Crônica: >3 meses. Fisiopatologia: reação inflamatória inicial como OMA, levando a produção de líquido na tuba auditiva. A cavidade sofre um desequilíbrio de pressão e, o bombeamento muscular piora o quadro, aumentando a pressão negativa dentro da tuba, resultando na permanência do líquido dentro da tuba auditiva. A secreção é causada por uma reação inflamatória (mucóide ou serosa). Manifestações clínicas: pacientes assintomáticos, quando se encontra sintomas temos perda auditiva, a efusão provoca redução da mobilidade da membrana timpânica; OMA, respiração bucal, obstrução nasal e roncos. Diagnóstico: episódios prévios de OMA, IVAS, perda da acuidade auditiva. Na otoscopia tempos membrana timpânica de coloração amarelada ou azulada, com diminuição da transparência, retração ou abaulamento e nível hidroaéreo retrotimpânico. Martelo mais esbranquiçado e horizontalizado. Exames complementares: avaliação audiológica, audiometria (perda auditiva por condução). Nos casos que há perda auditiva de elevado grau (>55dB) ou com componente neurossensorial, é aconselhado realizar um BERA para confirmação diagnóstica. A impedanciometria avalia o grau de resistência da membrana timpânica e tipo de alteração presente. Tratamento: cura espontânea; quando o acometimento foi bilateral, dar intervalo de três meses, se for unilateral, seis meses. Avaliar periodicamente a otoscopia e ficar atento ao desenvolvimento da criança. Audiometria de 20dB é normal; de 21-39dB a abordagem precisa ser individualizada; acima de 40dB recomenda-se cirurgia (timpanotomia). Pacientes que apresentam recidiva, realizar procedimento novamente, associado a adinoidectomia, caso tenha vertigem, desequilíbrio, retardo na fala ou linguagem. O corticoide afina o catarro e pode ser uma opção. Otite média crônica colesteatomatosa Acúmulo de queratina esfoliada dentro da orelha média ou de qualquer área do osso temporal, originada de epitélio escamoso queratinizado. Tem aspecto de cisto perolado, com odor de “ninho de rato” com agressividade local importante, podendo Ana Carolina Thomaz Mendes levar à destruição de componentes da cadeia ossicular ou de partes do osso temporal. Os colesteatomas adquiridos são classificados em primários ou secundários. Os primários desenvolvem- se a partir da retração da membrana timpânica, geralmente da porção flácida, sem antecedentes de otite média. Os secundários estão associados a alterações relacionadas às otites médias crônicas, como perfuração marginal da membrana timpânica, migração epitelial ou metaplasia epitelial. Ambas são iguais na otoscopia. Primários: ponto crucial na sua formação é a pressão negativa na cavidade timpânica, com retração secundária e invaginação epitelial, principalmente da parte flácida da membrana timpânica, em direção ao epitímpano. Na persistência do quadro, essa retração assume o aspecto de bolsa, cuja abertura está voltada para o meato acústico externo. O mecanismo de autolimpeza das descamações epiteliais da membrana timpânica na bolsa fica perturbado, acarretando acúmulo de epitélio escamoso e eventuais processos inflamatórios e infecciosos. Com isso ocorre proliferação de células da camada basal da membrana timpânica na região da bolsa e aumento da formação de queratina, fatores fundamentais na gênese do colesteatoma primário. Secundários: se formam a partir da migração de tecido epitelial do meato acústico externo para a orelha média, por meio de perfuração marginal da membrana timpânica, por proliferação da camada basal do revestimento externo da membrana timpânica ou por metaplasia do epitélio respiratório da orelha média. Para isso, temos processo inflamatório crônico como fator indutor. O epitélio escamoso dentro da orelha sofre processo de marsupialização e encistamento, o que pode favorecer a formação do colesteatoma. Os colesteatomas se comportam como pseudotumores, apresentam crescimento e causam reabsorção de estruturas ósseas adjacentes por compressão ou por atividade inflamatória da sua cápsula ou perimatriz. Quadro clínico: os sintomas mais comuns são perda auditiva condutiva (90%), otorreia de coloração amarelada e odor fétido típico, podendo conter raias de sangue (80%), otalgia, vertigem e zumbido. Os colesteatomas infectados merecem cuidado pela possibilidade de complicações que colocam em risco a vida do paciente. Complicações extracranianas: mastoidite, paralisia facial periférica e labirintite. Complicações intracranianas: meningite, abscesso extradural, abscesso cerebral e cerebelar, tromboflebite do seio lateral e hidrocefalia otogênica. Diagnóstico: otoscopia (após limpeza de cerume e aspiração de secreções), acumetria (para ter ideia da perda auditiva), pneumotoscopia (avaliar mobilidade da membrana timpânica), audiometria (para ver se não existem sinais patognomônico). Perdas neurossensoriais indicam envolvimento coclear, seja pela labirintite serosa ou pela fístula labiríntica. TC (revela mais detalhes do comprometimento pela doença, útil no planejamento cirúrgico), RM (casos de complicações intracranianas). Tratamento: cirúrgico; a intenção é erradicar todo o colesteatoma e tecido inflamatório, para se obter uma orelha seca e segura. A cirurgia clássica é a mastoidectomia, que pode ser feita pela técnica fechada, quando se preserva a parede posterior do conduto auditivo externo, ou pela técnica aberta, quando a parede posterior é removida. Colesteatomas congênitos São definidos como uma massa queratinizada localizada dentro da fenda da orelha média na presença de uma membrana timpânica íntegra e normal, sem retrações ou bolsas. Não pode haver antecedentes de otorreia, perfuração timpânica ou procedimentos otológicos. Os casos de otite média sem perfuração, otorreia ou procedimentos cirúrgicos prévios também são inclusos. Inicialmente, os CC foram identificados na fenda auditiva, na cavidade timpânica ou mastoide, no ápice petroso, no ângulo ponto cerebelar e no forame Ana Carolina Thomaz Mendes jugular. Posteriormente foram identificados também no conduto auditivo externo e intratimpânicos. Quadro clínico: crianças de +/- 5 anos, prevalência de meninos, com história variável de O.M., membrana timpânica íntegra e com uma lesão esbranquiçada, circunscrita, retrotimpânica, geralmente na porção anterossuperior da cavidade timpânica, geralmentesão unilaterais. Quadrante anterossuperior da cavidade timpânica assintomático até interferir no sistema tímpano-ossicular (perda auditiva condutiva), se for anterior – otite média com efusão ou OMA de repetição. Quadrante posterossuperior é mais agressivo, infiltrativo, envolve a cadeia ossicular, não é encapsulado e proporciona maior grau de disacusia. Quando não diagnosticado pode crescer, semelhando- se aos adquiridos, com ruptura da membrana timpânica, disacusia e otorreia comprime nervos cranianos (dor, parestesia facial, paralisia facial, espasmos faciais, vertigem, HIC, otalgia e cervicalgia são frequentes. Causas – teorias: Teoria da implantação; Teoria da metaplasia; Teoria da invaginação ou migração; Teoria de resto de células embrionárias; Formação epidermoide; Migração epitelial por falta de efeito inibitório do anel timpânico. Diagnóstico: história clínica + faixa etária + antecedentes patológicos + otoscopia (tumor esbranquiçado ou amarelado); exames audiométricos (mesmo sem disacusia), TC ou RM (lesão expansiva, homogenia, hipodensa ou isodensa em relação ao tecido cerebral, pode ter erosão ossicular ou de estruturas ósseas adjacentes com margens bem definidas e são iso ou levemente hipertensos em T1 em relação ao líquor e tem impregnação periférica pelo contraste, em T2 sinal hiperintenso, restrição à difusão. Diagnóstico diferencial: colesteatomas adquiridos, granulomas de colesterol, otite média com efusão, meningiomas, aneurismas, cistos aracnoides, neurinomas, lipomas, cistos dermóides de ângulo pontocerebelar, condrossarcoma, cordoma, etc. Classificação: estágios I, II, III e IV. Tratamento: ressecção cirúrgica (timpanomastoidectomia fechada, timpanotomia posterior, ou aberta). Complicações: Intratemporais: mastoidite, paralisia facial, abscessos, necrose, petroisite, labirintite, fístula do labirinto; Intracranianas: meningite, abscesso cerebral, tromboflebite do seio sigmoide, pares cranianos, etc.