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Resumo Teoria da Posse

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TEORIA DA POSSE
Conceito e Teorias
· Distinção entre posse e propriedade: considerar o sentido de “ter”, não há diferença no sentido vulgar. Pontos de contato semânticos. 
· Mesmo no campo jurídico, os dois conceitos dão um sentido de atribuição, apesar de bases, formas diferentes, assim como seus efeitos.
· Campos do direito em que se usa a terminologia da posse:
· Posse do Estado de Filho (art. 1597): método alternativo do reconhecimento de paternidade. Não havia exames médicos para dar segurança a esse processo. Havia um foco na relação biológica. Quem concebeu a criança? A regra era: presunção com base na data do casamento → 180 dias após celebração ou até 300 após o rompimento do casamento, presume-se que era filho do (ex-) marido. Necessidade de reconhecimento voluntário do pai, expresso e formal. Alternativa ao não reconhecimento expresso do pai ou em caso de vício, era possível um reconhecimento “tácito” por meio do instituto. Com a presença de 3 elementos seria possível determinar: filho apresentar-se socialmente com o sobrenome do pai (nomen), pai e filho deveria se tratar como tais (tractus) e os dois se apresentavam socialmente como pai e filho (fama).
· Posse do Estado de Casados (art. 1545): em princípio, o registro civil prova o casamento. O problema é a ausência ou defeito desse registro → danos ao cartório, imigrantes, por exemplo. Direito admitindo uma prova alternativa do casamento por elementos indiretos, isto é, comportamentos das partes, que socialmente demonstrava a relação de casamento. Contraposição entre título (formalidade) e a realidade (conduta). 
· Posse Administrativa: momento em que o funcionário público aceita o cargo, passando a exercer todas as prerrogativas e funções próprias ao cargo. Assume-se a figura.
· Posse é o exercício concreto de determinada condição, posição jurídica, status jurídico. 
Posse e propriedade
Vinculação conceitual entre posse e propriedade: contraposição entre ambos.
Título x exercício
Propriedade: título que dá direito de usar, fruir, dispor e reivindicar da coisa
Posse: situação fática de exercício desses direitos
· O próprio conceito de posse é apresentado por essa contraposição, parte-se da conceituação de propriedade para definir a posse. (Art. 1228 e art. 1196). Conceitualmente a posse está ligada ao conceito de propriedade. Posse como exercício de fato de poderes de propriedade.
· Distinção relevante? Posse em si merece proteção independentemente da propriedade. O mero exercício do direito também deve ser protegido, não só o título. Se há o exercício de alguns direitos de propriedade, não é possível uma retirada sem justificativa. O problema é que, via de regra, ambos se concentram nas mãos da mesma pessoa, mas não ocorre sempre necessariamente, pode haver uma não vinculação. Exemplos: contratos de locação, invasão/ocupação, roubo. Por isso, há situações de conflitos, a partir de interesses contrapostos. Há um tipo de bem específico em que há essa contraposição normalmente: terras (bens imóveis rurais ou até mesmo urbanos)
Posse e propriedade de bens imóveis
· Razões do acirramento da contraposição:
· Jurídica: é mais fácil haver uma contraposição técnica, porque, em princípio, os imóveis têm registro. Basta conferi-lo. Em regra, não é o que acontece para os móveis, em que a posse configura a presunção de propriedade, assim, caminham juntos. Nos imóveis, por isso, há um distanciamento entre ambos → a transferência de propriedade só pode ser feita com o registro, a posse não determina, em princípio, a propriedade.
· Econômica: a transferência de imóveis envolve muitos custos em relação aos registros da propriedade. Por isso, há muitos casos em que não se transfere o registro por conta dos altos valores, opta-se pela transferência de posse e usucapião após um tempo.
· Social: desigualdade social refletida nas relações fundiárias. Trabalhos em terras em que não são possuidoras. Há uma contraposição porque há uma grande concentração de terras e a economia depende dessas terras, ocupadas por pessoas que não são possuidoras. No próprio ambiente urbano ainda há esse problema: concentração de imóveis nas mãos de poucos. Reflete-se em invasões e ocupações.
Teoria Subjetiva de Savigny
· Releitura das fontes romanas e construção de um conceito jurídico de posse
· Primeira tentativa de conceituar e racionalizar a posse
· Proteção possessória resulta de dois elementos:
1. Corpus: 
i. Elemento material ou objetivo
ii. Poder físico do possuir sobre a coisa
iii. Possibilidade real e imediata de dispor sobre a coisa, exercer um poder: relação de fato.
2. Animus domini
i. Elemento psicológico ou subjetivo: não basta a posse, só há proteção se houver controle da coisa com intenção de ser dono.
ii. Vontade do possuidor de ter a coisa como se fosse sua (proprietário).
iii. Não se confunde com a crença de ser dono. É dono ou gostaria de sê-lo. Apenas a vontade de ser dono é necessária.
· Críticas à teoria:
1. Implica numa perspectiva extremamente psicológica. A função da posse é proteger o utilizador. Um elemento subjetivo acaba prejudicando a proteção, difícil aferir a vontade de ser possuidor. Remeter a prova a intenções não traz possibilidade de averiguação. Pressupõe-se pelo comportamento, não diretamente do pensamento. 
2. Exclusão de uma série indivíduos que merecem proteção possessória: o locatário, usufrutuário, comodatário, depositário. Em tese, não possuem essa vontade ou é indiferente. Assim, não teriam a proteção necessária, haveria uma privação. Jeitinho de Savigny: animo de representação → agiriam como representantes do proprietário, que teria a vontade de ser dono.
Teoria Objetiva de Jhering
· Posse = exteriorização do direito de propriedade → contornar o elemento do ânimo de Savigny.
· Possuidor é aquele que se comporta socialmente como se proprietário fosse: conduz-se como um proprietário normalmente se conduziria.
· 2 elementos da teoria:
1. Utilização da coisa conforme sua destinação econômica: empregar como normalmente seria empregada. Destinação ordinária.
2. Visibilidade social: a utilização deve ser expressa aos demais membros da sociedade. Em face de todos. Comportar como se proprietário fosse demonstrando à sociedade, assim, tem-se a proteção possessória.
· Nesse sentido, há uma refinação maior. Não há dependência de um contato direto. Parte-se de elementos culturais, históricos e da própria coisa para determinar o possuidor. Portanto, há variação de acordo com o caso. Depende de elementos situacionais. 
· Importante guardar:
a) A posse não depende da vontade de ser proprietário
b) A posse não depende do contato físico com a coisa: utilização, não contato.
c) A posse depende da destinação econômica da coisa, aliada à visibilidade social.
· Papel do animus na teoria objetiva: incorreto falar que ele não considera algum ânimo.
· Affectio tenendi = vontade de se comportar como proprietário (diferente da vontade de ser proprietário de Savigny).
· Inutilidade: aufere-se a partir do comportamento (‘absorvida’ pelo corpus) → basta a conduta para considerar.
· Vontade está para posse, assim como pensamento está para palavra. Só se sabe o que se pensa através da expressão, do comportamento. O exercício concreto da função de proprietário determina a posse.
Teoria adotada pelo Código Civil Brasileiro
· Que teoria mais aproxima da adotada? Objetiva. Não há elemento de vontade (volitivo). Há o exercício de fato de alguns poderes de propriedade. Exteriorização do direito de propriedade. Ligação entre propriedade e posse.
· Um dos poucos momentos em que o Código dá definição jurídica, o que normalmente abstém-se.
· Apesar do conceito ser o mesmo, a utilização desse conceito foi alterada substancialmente desde a teoria de Jhering. A estrutura permanece, mas o propósito foi alterado. O conceito de Jhering hoje é empregado em outra função.
Fundamentos da proteção possessória
Razão da proteção possessória? Função.
· Savigny: evitar a violência privada (garantir a paz pública). Ainda que o sujeito seja proprietário, não se pode fazer justiçacom a própria mão. Ainda que sejam interesses legítimos. Deve-se recorrer ao Judiciário e seus instrumentos adequados. Todo aquele que praticar violência para tomar, a vítima será protegida por ações possessórias. 
· Jhering: proteção avançada da propriedade. Meio pelo qual o Direito protege a propriedade. Instrumento de proteção. Problemas inerentes às ações judiciais: tempo (demora) e prova (por mais que se tenha razão). A proteção possessória seria uma forma de contornar esses dois óbices. Os interditos possessórios foram um dos primeiros a aceitar as decisões liminares. Era necessário aguardar o trânsito em julgado. A posse permitia e permite essas concessões em seu rito especial. Principal interesse: o juiz poderia proferir uma decisão liminar determinando imediatamente uma reintegração de posse ou que se pare de turbar a posse do outro → resolução do problema do tempo e o ônus do autor sobre essas consequências: a liminar inverte, sendo que o réu passa a suportar o ônus do tempo. Ações petitórias (proteção de propriedade) necessitam de prova de propriedade, sendo difícil em casos de bens móveis, por exemplo. Há o sistema de registro que muitas vezes falha por alguns motivos. Assim, a ação possessória dispensa a necessidade de demonstrar a propriedade, apenas mostrar que se estava em posse do objeto. Portanto, era uma proteção avançada. Permite uma tutela imediata do interesse e uma proteção mesmo que não se prove de imediato a propriedade. É um reforço ao sistema de proteção da propriedade, rapidez e não necessidade de prova de propriedade. Instrumento processual defensivo.
· Crítica:
i. Posse e propriedade são distintas, mesmo que via de regra estejam nas mãos da mesma pessoa, mas há possibilidade de não estar. A teoria de Jhering protegeria quem não é proprietário, mas quem estaria em posse. Considera quando ambos estão nas mãos da mesma pessoa. Até mesmo em detrimento do proprietário, subvertendo a tutela possessória contra o próprio. Algumas vezes a posse se volta contra a propriedade. Jhering: a) mal necessário → maioria das vezes o possuidor é proprietário, as outras situações são menos comuns. Para dar força à proteção à maioria, alguns podem ser prejudicados. Política judicial. b) a vitória da posse é provisória, nunca definitiva. Num segundo momento, o proprietário poderá ajuizar uma ação petitória. No final das contas, o interesse dele é que vai prevalecer. A vitória do possuidor é efêmera, o provimento definitivo é feito através da petitória. A decisão possessória traz paz ao litígio entre as partes, mas a decisão final é feita através da petitória. Seriam dois momentos, etapas. Se houver certeza de que a parte contrária é proprietária, não se deve conceder proteção possessória de quem sabe-se desde logo que não é proprietário. A posse é instrumento de proteção da propriedade, não se deve proteger quem evidentemente não o é. Art. 1210, CC/02. Não há mais vinculação no Código.
· Para Jhering, a posse não é protegida em si, mas é protegida na medida em que protege a propriedade. Não é em razão das próprias virtudes. A posse é um dos instrumentos de proteção da propriedade. Centralização valorativa em torno da propriedade. Hoje, a posse foi valorada como carecedora de tutela, então, há a proteção do possuidor porque ele dá função social à propriedade. Dá-se o valor social ao bem. Posse concretiza a função social, portanto, deve ser protegido. Não por conta da sua propriedade. Merece proteção por si mesma, independentemente do título de propriedade. Não há mais vinculação entre possessória e petitória → ideia de etapas processuais. Separação valorativa. Trouxe também uma separação processual. Não se discute propriedade em ações possessórias.
· Enunciados de Jornada: ambos dizem respeito à separação.
1. Enunciado 492;
2. Enunciado 79.
· Posse está mais ligada à função social atualmente. Não à propriedade. Posse protegida por constituir meio de concretização da função social da propriedade.
Objeto da Posse
· O que pode ser objeto da posse e digno de proteção possessória. Tudo o que pode ser apropriado, pode ser possuído. O que pode ser elemento do patrimônio, pertencendo a alguém, poderia ser, em tese, objeto de posse. Exclui-se as pessoas.
· As coisas é que podem ser apropriadas. Classificações de elementos do patrimônio são importantes. Pode-se ter Coisas (corpóreas e incorpóreas) e Direitos (reais e pessoais). Falha: classificação universal não pode deixar algo de fora ou ter elementos que pertençam a dois grupos. Há possibilidade de coisas corpóreas que sejam direitos reais, por exemplo. Mas a classificação continua sendo útil.
Coisas corpóreas
1. Móveis 
2. Imóveis
· Art. 1.209
· Há possibilidade de possuir essas coisas. Exteriorizações do direito de propriedade: utilização conforme destinação econômica com visibilidade social.
· Existe ainda uma primazia dos imóveis sobre os móveis (vide última aula). Refletindo na posse. Quem possui determinado imóvel tem para si a presunção de propriedade de todos os móveis que nela se encontram.
Coisas incorpóreas
· Propriedade intelectual: patente, marcas, direitos autorais → sujeitos à registro.
· É possível pensar em posse de propriedade intelectual? Utilização, externalização da propriedade, mesmo sem o registro. Durante muito tempo, admitiu-se o sistema possessória para marcas e patentes. Atualmente, o sistema de propriedade intelectual goza de um regime especial de proteção, fora do Código Civil, não havendo ligação com a proteção dos direitos reais. Assim, não se recorre atualmente. Tira-se o aspecto de proteção da posse.
· Ligação entre posse e tangibilidade. 
Direitos Reais
· Propriedade: é possível ter posse. A própria posse é a externalização da propriedade. Exercício concreto.
· Pacífico: direitos reais sobre coisa alheia (limitados) são objeto de posse. O usufrutuário tem direito à posse, superficiários, por exemplo.
· Quem pode o mais, pode menos: se pode se possuir o todo, pode-se possuir as parcelas, frações, versões limitadas do direito de propriedade. Elementos: servidões, superfície, usufruto.
· Conceito de posse: o próprio Código diz que para se ter posse, não é preciso o exercício pleno dos poderes da propriedade. Pode ser um exercício parcial. Isto é, direitos reais sobre coisa alheia são objeto. Art. 1.196.
· Expressa determinação legal: Art. 1.213 → servidão é um encargo gravado sobre o imóvel (serviente) em benefício de outro imóvel, chamado dominante. Confere-se ao titular do dominante uma determinada utilidade. Ônus gravado sobre o imóvel, por exemplo, permissão de retirada de águas de mina ou de passagem. É um direito real que permanece cravado nos imóveis, relação entre bens, não pessoas. Dá para ter posse de servidão? Pode-se ajuizar ação possessória? Depende, existem as aparentes e não aparentes. Sinais físicos ou não. São objeto de posse as aparentes. Posse depende da visibilidade social da utilização (Jhering).
· Jurisprudência: Súmula 415, STF.
Direitos Pessoais
· Patrimoniais: obrigações
· Extrapatrimoniais: deveres entre pais e filhos (direito de família)
3 teses
1. Nenhum direito pessoal pode ser objeto de posse
2. Somente os direitos pessoais patrimoniais podem ser objeto de posse
3. Todos os direitos pessoais podem ser objeto de posse, sejam eles patrimoniais ou extrapatrimoniais
Tese intermediária: posse de direitos pessoais patrimoniais
· Orlando Gomes: direitos de crédito (obrigações) poderiam ser objeto de posse. Podendo o dono se valer de ações possessórias.
· Súmula 193, STJ (25.06.1997): o direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião. Compra sem registro, comunicação ao longo do tempo poderia usucapir, dependendo, assim, da posse prolongada. Admissão de posse de direitos pessoais.
Tese extrema: posse de direitos pessoais e extrapatrimoniais
· Todo e qualquer exercício de direito pode ser protegido pela posse. Regime universal de proteção de direitos.
· CC – uso do termo “posse”: utiliza-se do termo posse para tratar de direitos pessoais extrapatrimoniais. Ex.: posse de estadode filho e de casamento.
· Direito eclesiástico: evolução da posse permitia essa conclusão. Igreja se utilizando da posse. Uso da proteção possessória para proteger prerrogativas do sacerdote e seus poderes políticos/temporais. Poderes inerentes aos cargos e sua proteção.
· Rui Barbosa: ação possessória na proteção de direitos de professores contra atuação do Poder Público em caso de exoneração. Direito pessoal: rendimentos e poderes inerentes ao cargo de professor. Uso desse tipo de ação pelo rito abreviado → liminar. Não havia a figura do mandado de segurança. Alargamento dos direitos materiais para benefícios processuais. Com a não admissão da possessória, ele tenta universalizar o habeas corpus para combater ilegalidades cometidas pelo poder público. Até que na Constituição de 34 cria-se o mandado de segurança.
· Havia uma tendência de alargamento do regime possessório no início, mas, atualmente, há uma redução para que a posse apenas protegesse direitos reais. Não é preciso recorrer à posse porque novos instrumentos passam a ser mais eficazes por serem mais específicos. Desaparece a necessidade de universalização. O CC/02 sedimenta que os direitos pessoais não podem ser objetos de posse → supressão de “posse de direitos”. Restrição do objeto da posse. Liminares universalizadas, astreintes e melhor eficiência no processo.
· POSSE DE BENS PÚBLICOS: PESQUISA DE JURISPRUDÊNCIA → ARTIGOS RELEVANTES: CF – ART. 183, §3º; ART. 191, PARÁGRAFO ÚNICO E CC/02 – ART. 102.
Sujeitos da Posse
· Quem pode possuir, ser possuidor? Pessoa natural e pessoa jurídica.
· Possuidor em nome próprio → natural.
· Possuidor por representação? Possuir em nome de outrem. Jhering e CC dizem que sim → art. 1.205. Caseiro que recebe encomenda em nome do patrão, por conta e a mando desse.
· Pessoa jurídica: sim.
· Entidade despersonalizadas: condomínio, massa falida e espólio. Tendência da doutrina: sim → enunciado 236, III Jornada. Importante a posse para o condomínio. Enunciado 90, I Jornada → personalidade jurídica ao condomínio a atividades de peculiar interesse. Erro: ou se é pessoa ou não, não dá para ter personalidade em alguns casos: corrigido pelo enunciado 246 da III Jornada.
· Incapaz? Problemático por muito tempo. Teorias de Savigny: vontade de ser dono e Jhering: vontade de se comportar como proprietário, mesmo que seja uma parte secundária. Em tese, o incapaz não pode declarar sua vontade validamente. O Código de 16 pressupunha uma capacidade do agente da posse para declarar sua vontade claramente. Privação e não proteção. Separar a nulidade de contrato celebrado e a posse durante o controle do incapaz sobre a coisa, mesmo que nulo, não se deve privar da posse. Vontade do incapaz deve ser desconsiderada apenas em sua proteção, se for de relevância para o caso deve ser considerada → não é desqualificação, mas proteção, se há prejuízo não pode ser desconsiderada. Necessidade de proteção da posse. Revisão do regime das incapacidades.
· É possível que a posse seja exercida por mais de uma pessoa, ao mesmo tempo? Sim. Dois tipos de situação: a) fenômeno da composse: posse de mesmo imóvel ao mesmo tempo e o fazem sob o mesmo título. Casal que mora em uma casa, por exemplo. Para ação petitória, necessidade de anuência de ambos os donos. Possessória: cada um deles pode ajuizar sozinho, praticar todos os atos frente a terceiros. Litígio entre os possuidores: devolver ao status quo ante em caso de separação entre cônjuges etc. → esbulho: vítima retorne, mas não pode privar o outro da sua posse. Relação fica complicada por conta de brigas, não haveria ambiente para uma volta normalmente. b) posses paralelas: possuem o mesmo imóvel, mas a títulos distintos. Um não é possuidor igualmente ao outro.
· Quanto ao objeto da posse é uma tendência reducionista (bens corpóreos), mas quanto às pessoas (sujeitos) é expansivo, por conta da utilidade do instrumento contra a violência social. Função de contenção de tomada de bens.
Classificações da Posse
i. Classificações abandonadas
· Posse velha x posse nova
· Ius possidendis x ius possessionis
ii. Classificações vigentes
· Posse direta x posse indireta x detenção
· Posse ad usucapionem x posse ad interdicta
· Posse justa x posse injusta
· Posse de boa-fé x posse de má-fé
Posse velha e posse nova
· Prazo cabalístico para proteção possessória: ano e dia. Bastante importante para o regime possessório. Ciclo de uma colheita.
· Direito Romano tardio: ações possessórias deveriam ser intentadas nesse prazo. Apenas petitórias após o prazo.
· Ainda é válido?
a) Vertente processual: sim → CPC/15
b) Vertente material: não
Vertente processual: ação com força de velha e de nova
· Ações possessórias com ritos processuais diferentes. Se ajuizada dentro de um dia da data do esbulho ou turbação, aplica-se o rito especial: voltado à concessão de decisão liminar. Caso seja fora, continua a ser possessória, mas fica com rito ordinário, comum, perde-se o interesse. Um dos poucos processos que havia possibilidade de liminar. 
· Perspectiva da vítima do esbulho/autor da ação possessória: tempo para ajuizamento de ação.
a) Ação com força de nova: ajuizada dentro de um ano e um dia da turbação ou esbulho. Rito especial, com possibilidade de liminar.
b) Ação com força de velha: ajuizada depois de um ano e dia da turbação ou esbulho. Rito ordinário, sem possibilidade de liminar, mas que nem por isso perde caráter possessório.
· Ainda existe hoje na perspectiva processual.
Vertente material: posse velha e posse nova
· Antes havia um conceito de melhor posse. Proteção contra aqueles com posse pior. Caso esteja mais de um ano e dia da posse, não é possível ser atacado por liminar, mantém-se na posse. Só em decisões transitadas em julgado é que resolverão definitivamente o caso tratado pela ação possessória.
· Perspectiva da responsável pelo esbulho/réu da ação possessória: há quanto tempo se estava no imóvel.
a) Posse nova: que durou menos de uma ano e dia. Pode ser atacada por liminar. Ação com força de nova → tipo de ação ajuizada: rito especial.
b) Posse velha: que durou mais de um ano e dia. Não pode ser atacada por liminar. Possuidor ficará na posse, até decisão definitiva. Ação com força de velha: rito ordinário (casamento com a vertente processual).
Reforma processual
· Quebrou o sistema e permitiu a ruína desse casamento entre ambos
· Reforma de 1994: universalização da tutela antecipada. Qualquer ação. Mesmo uma ação possessória com força de velha.
· Mesmo passado um ano e dia, consegue-se a decisão liminar, caso preencha os requisitos.
· Não havia mais sentido a divisão material: o não ataque de decisão liminar em caso de posse velha.
Situação atual
· Não existe mais distinção entre posse velha e posse nova. Todas podem ser atacadas por liminar.
· Ainda existe a distinção entre ação com força de nova e ação com força de velha. Diferença processual quanto aos ritos e aos requisitos de liminar.
· Enunciado 238, III Jornada.
· Na prática, não é concedido. Opera-se, normalmente, na lógica antiga. Principalmente juízes antigos.
Ius Possidendis e Ius Possessionis
· Nomenclatura tradicional romana. Não era propriamente uma classificação da posse.
a) Possessionis: direito do possuidor à proteção possessória – “direito de posse”. Sistema de proteção que garante a posse de um determinado indivíduo.
b) Possidendi: direito do proprietário de reivindicar a coisa que está na posse de outrem – “direito à posse”. Privar o possuidor da posse, tomando-a para si mesmo, para se tornar agora possuidor. Todo proprietário tem direito à posse, mesmo que não possuidor.
· Faculdades, uma inerente à posse e outra à propriedade.
· Acabou sendo distorcida, virou classificação da posse. Existiria uma classificação da posse em que o critério seria a existência de um título (direito real):
a) Possessionis ou posse sem causa: posse sem correspondência com o direito real. Ocupação por invasão, bem de locação. Posse, não propriedade. Não há direito real que resguarda.
b) Possidendi ou posse causal: posse decorrente de um direito real.Corresponde ao direito real. Possuidor e proprietário.
· Distinção fundada em 3 conceitos previstos no CC/16 e no CPC/73:
1. Ação de posse fundada na propriedade
2. Exceção de propriedade
3. Melhor posse
Ação de posse fundada na propriedade
· Se houver um processo de disputa de posse, não se pode intentar ação petitória. A ideia era separar: apaziguar a questão da posse antes de lidar com o conflito sobre o pertencimento do bem. Mesmo que o proprietário tenha razão, discute-se em outro tipo de ação após resolução do conflito material. 1ª parte.
· Apesar de separar as duas partes, ao não permitir discutir ambas ao mesmo tempo. Mas permite-se alegar propriedade dentro de uma ação possessória, é possível numa ação de manutenção ou reintegração alegar o domínio. Há, de certa forma, uma contradição frente à primeira parte. Se alguma das partes alegar propriedade, a posse será julgada em favor desse. Permite o ius possidendis. A posse será concedida a quem houver a propriedade.
· Ideia de “todo proprietário é possuidor”. Sustentável sobre a égide desse artigo. Porém, atualmente, não há esse tipo de pensamento. Deve-se externalizar o exercício dos direitos de propriedade, dando visibilidade social.
Exceção de propriedade
· Ocorria quando o autor de uma ação possessória, ou seja, o que é esbulhado do exercício da posse, alegava como exceção material a propriedade. Defesa material por conta de ser proprietário. Logo, a outra parte não teria proteção possessória.
Crítica:
· Na prática, há uma confusão entre os dois conceitos. Discutir propriedade em ação possessória. Promiscuidade no plano processual. As coisas se misturam. Conceitos trabalhados em conjuntos. A propriedade acabava invadindo o juízo possessório. 
· Posse como instrumento de proteção da propriedade. Visão instrumentalista. Dá sentido à discussão dentro dessa perspectiva. Toda vez que se tinha um título de propriedade, este deveria prevalecer.
Melhor posse
· Não existe mais no CC/02, mas doutrina e jurisprudência ainda o trabalham.
· Se a minha posse é nova, é menos protegida que as outras. Só se é mantido ou reintegrado se a outra pessoa tiver a posse pior que sua. Proteção possessória contra os com posse pior.
· A melhor posse, no final das contas, é do proprietário. Só em último caso protege-se a posse atual. Remete-se sempre ao proprietário. Melhor título.
· Classificação emblemática, mas que sua confusão foi, progressivamente, separada. Busca-se a confusão entre juízos possessório e petitório:
Interpretação restritiva da jurisprudência
· STF: Limita o papel do ius possidendis, ou seja, a possibilidade de alegar propriedade dentro de ação possessória. Não é em qualquer ação que seria possível. Só se aplica se as partes estiverem discutindo posse com fundamento na propriedade, isto é, apenas quando a ação é ajuizada com base em propriedade. Não acaba a confusão, mas restringe.
Reforma no CPC de 1980
· No processo, não havia mais aplicação da ação possessória fundada em propriedade. Não existe mais fundamento de possibilidade de se alegar propriedade em ação de posse. Ainda havia a aplicação por parte dos tribunais, pois ainda havia respaldo no Código Civil. Manutenção no CPC/15.
Código Civil de 2002
· Manteve-se a regra, retirando a exceção. Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade ou outros direitos reais. Direitos reais irrelevantes para o destino de uma ação possessória.
· I Jornada, enunciado 78: pouco importa quem é proprietário ou titular de outro direito real.
· I Jornada, enunciado 79: absoluta separação entre os juízos possessório e petitório.
· Fim do conceito de melhor posse. Se há dúvida de quem é possuidor, o direito real não pode ser critério subsidiário para definir quem era possuidor. Não se deve recorrer ao título.
· Em suma,
Ius possidendi não existe mais
· Entendido como posse decorrente da propriedade, não existe mais. Posse titulada.
· Título ou direito real não é relevante para o resultado de uma ação possessória.
· Separação total dos juízos petitório e possessório. Reivindica-se na petitória.
Título produz efeitos em outras esferas
· Manejo de ação petitória.
· Determinação da posse de boa-fé: presume-se que a posse dele é de boa-fé.
· Diminuir o prazo de usucapião: justo título e boa-fé.
Posse direta x posse indireta x detenção
Nomenclatura
· Repartição vertical da posse: situações em que mais de uma pessoa é considerada possuidora, mas não num pé de igualdade. Possuidora por títulos diferentes.
· Posses paralelas
· Desdobramento da posse
Teoria de Savigny
· Detenção = corpus sem animus domini (poder material + vontade de ser dono)
· Locatário, usufrutuário, comodatário: não externalizam essa vontade, não sendo, em tese, possuidor com proteção da ação possessória. 
· A detenção é a situação que representa a impossibilidade de recorrer aos interditos possessórios. É o sujeito que possui o poder material, mas não tem vontade de ser dono.
Teoria de Jhering
· Detentor não é possuidor, não possui proteção possessória, apesar da relação fática. Poder material sem proteção.
· Coexistência de posses: estender ao locatário, usufrutuário e comodatário → também possuidores. Permite o entendimento de dois possuidores, ambos exercem poderes sobre a coisa:
a) Possuidor direito e imediato: exerce poder físico sobre a coisa, em razão de direito pessoal ou real. Locatário ou usufrutuário, respectivamente, por exemplo.
b) Possuidor indireto ou mediato: exerce outros poderes sobre a coisa, sem contato físico. Não exerce poder direito.
· Art. 1.197: indício de que se adota a teoria de Jhering. Posses paralelas como fenômeno típico da sua teoria.
· Não significa que qualquer proprietário é possuidor. Vê-se nitidamente que o locatário exerce socialmente as funções de propriedade. Posse indireta com menor visibilidade, mais sutis, mais tênue. O problema é que com essa visibilidade menor, é muito comum na prática, que muitas vezes se alegue posse indireta por aqueles que abandonaram a coisa, não exercendo nenhum poder concreto. Deve-se exercer poderes sobre a coisa, mesmo que de forma sutil para se considerar como posse indireta → não significa que todo proprietário é possuidor indireto, deve haver exercício de poder material sobre a coisa.
· Proteção possessória dos possuidores direto e indireto:
i. Proteção possessória contra terceiros? Qual dos dois pode-se valer e ajuizar ação? Ambos podem, de forma autônoma. Não há dependência entre os dois. Não é necessária autorização para ajuizar ação. Todos podem protege-la.
ii. Proteção possessória um contra o outro? Sim. Em ambas as possibilidades. O próprio código traz a proteção do direto contra o indireto, mas a doutrina afirma a igual possibilidade do contrário (I Jornada, enunciado 76).
· Jhering e Savigny colocam a falta da proteção possessória, mesmo com o poder fático. Porém, Savigny centra sua análise na falta da vontade de ser dono. Jhering estabelece a detenção como exteriorização da propriedade somada ao impedimento legal → “posse degradada” legalmente. Cabe à lei definir quem são os detentores (3 hipóteses no CC e 1 na jurisprudência):
a) Posse por representação: sujeito que possui o direito material da coisa, mas está sob essa situação por conta de uma função exercida em nome de outro. Caseiro. Não há a proteção possessório. Fâmulo da posse: possui em função de uma relação de representação. Conserva a posse em nome de outra pessoa. Art. 1.198.
b) Mera permissão ou tolerância: sujeito de maneira passageira com a mera tolerância do possuidor. Atos breves de contato material, não há relações duradouras. Livro na biblioteca. Art. 1.208.
c) Atos violentos, ou clandestinos, enquanto durar a violência ou clandestinidade: respectivamente, pelo uso da força ou por meios obscuros (não revela que teve o contato). Em ambos os casos, pode-se valer da própria força para retirá-los no decorrer da violência ou clandestinidade, caso cessem esses atos, o detentor passa a ser possuidor. Art. 1.208.
d) Posse de bem público: posse como proteção da propriedade, evidenciandouma contradição. Justiça social para bens privadas (função social), mas o discurso muda quando o bem é do Estado. Imóveis públicos não precisam cumprir a função social (supremacia do interesse público e o “bem da coletividade” → muitas vezes o uso é para evitar pagamentos/indenização em casos de retirada de moradias). Algumas situações fazem sentido: função de moralização (evitar que pessoas em funções públicas se apropriem de bens da administração pública por conta de sua posição privilegiada) e também em casos de destinação desses bens para destinações sociais posteriormente. Por isso, não é possível posse de bem público. O fundamento jurídico é: art. 183, CF e art. 191, § único, CF e 102, CC/02 → imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião: em tese, contraditoriamente, não é proibida a posse, mas a contrario sensu seria até possível, pois veda-se apenas a usucapião, não todos os efeitos da posse. Se a Constituição vedou a usucapião, admite-se a posse e os outros efeitos (frutos, benfeitorias etc.)
· Consequência da detenção → ausência de proteção possessória, porém, a doutrina vem estabelecendo a possibilidade de um tipo de proteção: direito à autodefesa → legítima defesa da posse: proporcional e imediato. É um dos efeitos da posse. Autotutela, mas que só se aplica em casos de que se é detentor por meio de representação.
Posse ad interdicta e posse ad usucapionem
a) Ad interdicta: gera direito à proteção por meio de interditos: todas as posses. Núcleo fundamental da proteção possessória.
b) Ad usucapionem: gera direito à usucapião do bem possuído: gerarão direito a usucapião. Só algumas posses dão esse direito.
· Não é uma classificação, a relação é grupos concentra. Todas as posses são ad interdicta, mas algumas serão ad interdicta e ad usucapionem. Não há divisão entre dois grupos diferentes.
Posse justa e posse injusta: vício objetivo, não há relação com o conhecimento do agente
· Também denominada vícios objetivos da posse.
· Juízo de valor sobre a origem da posse – forma como posse foi obtida em face do antigo possuidor. De acordo ou não ao ordenamento.
a) Posse justa: adquirida de forma lícita (sem máculas).
· Fatos jurídicos: exemplo: morte → herança e a transmissão de posse. 
· Negócios jurídicos translativos de propriedade: celebração de contrato e passa-se a ter posse daquele bem. Ex.: compra de carro (Não apenas se torna possuidor, mas também proprietário) ou aluguel (podem ser não translativos de propriedade, como nesse caso). 
b) Posse injusta: adquirida de forma ilícita (toda forma proscrita pelo ordenamento, censurada pelo direito) → direito penal: furto, roubo, estelionato, apropriação indébita. 
· Nosso Código não diz o que é licita ou ilícita, apenas elenca as formas de posse injusta, tudo o que não está presente é lícito: art. 1200 → é justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
i. Posse violenta: obtida do possuidor por meio da força. Tanto violência física, quanto moral (ameaça, coação moral).
ii. Posse clandestina: obtida por possuidor por meio de processo de ocultamento. Por meio de artifícios destinados a impedir que o antigo possuidor saiba que tinha sua posse violada. O esbulhador age às escuras em relação à violação possessória.
iii. Posse precária: obtida por meio de desvio de posse provisória ou detenção (abuso de confiança). Nesse caso, o esbulhador recebeu a posse num primeiro momento com anuência do antigo possuidor, a obtenção inicial era lícita. Porém, num segundo momento, esse possuidor ou detentor, desvia a finalidade da posse e passa a possuir a coisa como se fosse sua, passa a ignorar que recebeu a posse com algum motivo. Recusa de devolução ou desvio de finalidade → abuso de confiança. É a posse do ex-depositário, ex-locatário.
· Pouco importa a razão que transforma a posse em injusta. Mesmo quando proprietário, não se pode usar da própria força, pois, ela se torna injusta, já que diz respeito a origem da posse. Mesmo com o direito a reivindicar, deve-se fazer por meio da justiça.
· Rol taxativo ou exemplificativo?
i. Marcos Rios Gonçalves – exemplificativo: invasão à luz do dia, sem emprego de violência. Não se enquadra em nenhuma das descrições, mas não torna a posse justa.
ii. Intenção dos redatores – taxativo: se alguém tomou a posse, isso foi feito com a concordância do antigo possuidor ou foi feito contra a vontade deste. Contraria-se por ser mais forte, por não se mostrar ou através do abuso da confiança. A violência tinha uma conotação maior do que Gonçalves dá, basta que tenha o antigo possuidor tenha se sentido sem condições de reagir, mesmo que seja uma ameaça velada. Compreende todas as situações em que não há concordância.
 Visão estrita de violência x visão ampla de violência: é o que está por trás da diferença entre as duas concepções.
· Características da posse injusta:
a) Relativa: diz respeito a única e exclusivamente a uma pessoa. Uma posse nunca é justa ou injusta em si, mas em relação ao antigo possuidor que perdeu aquela posse. Deve-se avaliar com relação a quem a posse é justa ou injusta. A posse é justa perante à sociedade, mas injusta perante a quem perdeu.
b) Objetiva: não tem relação com o estado de consciência do atual possuidor, refere-se à origem da posse. Mesmo que o atual possuidor não tenha consciência, a sua posse ainda é reputada como injusta. 
· Ex.: esbulhador vende para terceiro que não sabia do caráter injusto. Mesmo assim sua posse é injusta frente ao antigo possuidor, mas ainda é justa perante àquele que vendeu e toda a sociedade.
· “Convalidação” da posse violenta e clandestina e “Impossibilidade de convalidação” da posse precária
i. Art. 1.208: muitos autores consideram que o dispositivo considera possibilidade de convalidação de posses injustas, o que é problemático. Ainda há a leitura de que apenas não se convalida a posse precária.
a) 1ª corrente: 
· Pressupostos → evitar que locatário, comodatário, usufrutuário e outros possuidores diretos usucapissem o bem possuído; e repúdio à ideia de que a posse injusta possa levar à usucapião.
· Interpretação:
i. Posse clandestina e violenta são injustas e não geram usucapião. Mas depois de cessadas a violência e clandestinidade considera-se que a posse é justa e, assim, daria acesso à usucapião.
ii. Posse precária não está prevista no art. 1.208, portanto, jamais se convalidaria.
iii. A convalidação de posse clandestina ou violenta se dá em um ano e um dia (posse velha) – Silvio Rodrigues
· Falhas:
i. Defender que a posse injusta não gera usucapião
ii. Defender que o locatário tem posse precária (é possuidor justo enquanto está nessa condição)
iii. Confundir classificação da posse velha x posse nova com cessão de violência ou clandestinidade
· O dispositivo não trata de convalidação da posse, mas sobre formas de aquisição da posse.
b) 2ª corrente:
· Pressupostos → relaciona o artigo com a questão da detenção e apossamento por violência e clandestinidade ocorreria em 2 momentos
i. Posse clandestina:
1º momento: ocupação oculta – detenção do esbulhador: não há posse enquanto prevalece o estado de ocultamento (clandestinidade).
2º momento: revelação – posse injusta do esbulhador (início da proteção possessória e do prazo para usucapião): no momento em que cessa a clandestinidade (momento de ocultação), passa a haver a posse injusta na modalidade de clandestinidade, porque diz respeito à origem.
ii. Posse violenta:
1º momento: violência entre as partes – detenção do esbulhador: pode o proprietário se defender, usando de própria força.
2º momento: êxito do esbulhador – posse injusta do esbulhador (início da proteção possessória e do prazo para a usucapião): no momento em que cessa a violência, começa a posse injusta na modalidade de violência.
· Méritos: 
i. Na posse violenta, justifica a faculdade do possuidor de defender a posse, inclusive por meio da força
ii. Na posse clandestina, explica porque o prazo de usucapião e de ajuizamento da possessória não começa a correr até que o esbulho seja revelado.
· “A posse precária não se convalida” → nãoexiste uma etapa intermediária de detenção, o período anterior à precariedade é lícito, por isso não é mencionada no art. 1.208. Porém, posse direta e justa do locatário pode sim se converter em posse autônoma, injusta (precária) e ad usucapionem → enquanto locatário não produzia efeitos de usucapião, a partir do momento em que passa ser possuidor autônomo do bem através da posse injusta é que se tem o direito. Mudança da natureza da posse → justa para injusta e precária.
· Modificação da posse direta para posse injusta e autônoma:
· Não basta mudança de “animus”: ninguém pode mudar por si mesmo a causa da posse. É preciso de uma alteração visível da conduta do sujeito, que demonstra o rompimento do laço de confiança. Para de se comportar como locatário, por exemplo. Ato exterior e inequívoco.
· Modificação da detenção: mesmo detentor, em determinadas situações, pode se tornar posse. Por exemplo, caseiro rompendo lações de subordinação, que passa a ter posse. Se o detentor pode, porque o possuidor não poderia?
Posse de boa-fé x posse de má-fé: vícios subjetivos
· Diz respeito ao conhecimento do autor sobre o tipo de posse que possui. Ou seja, se sabe se a posse é injusta ou não.
· É uma subclassificação das posses injustas: se sim, é posse injusta de má-fé, se não, é de boa-fé.
· Boa-fé subjetiva ou boa-fé objetiva? Subjetiva, porque diz respeito ao estado anímico do agente. Ignora um vício que acomete a situação. Se contrapõe à má-fé.
· Desconhecimento culposo ou intencional? Ainda são reputados como de boa-fé, porque, em tese, é desconhecido. Porém, atualmente, ainda que não saiba, deveria saber por conta das evidências que se mostram pode ser reputada como de má-fé (doutrina).
· Impossibilidade de ajuizamento de ação possessória contra terceiro de boa-fé: não pode ser réu de ação possessória. Art. 1.212 → apenas pode-se contra o esbulhador ou aquele que adquire sabendo da origem. Possível ajuizar ação petitória, não possessória.
· Demais efeitos da boa-fé possessória:
i. Redução dos prazos de usucapião
ii. Direito à indenização e retenção de benfeitorias
iii. Responsabilidade pela deterioração da coisa
iv. Direito aos frutos
· Presunção de boa-fé em razão de “justo título”: art. 1.201, p. único → o sujeito que tem justo título, presume-se que está de boa-fé. O justo título, nesse sentido, é justamente o fato ou documento que, em princípio, tornaria aquela posse justa. Aparência de legitimidade. Faria se considerar a posse legítima. Via de regra, um título negocial (contrato). Também pode ser um formal de partilha. 
· Problema do contrato de promessa de compra e venda feito por instrumento particular:
a) Corrente tradicional: restritiva – apenas contrato registrado (instrumento público). Não considerava justo título. Não se obedeceu às formalidades. Problema: incompatível com a realidade social → há a compra do imóvel, mesmo assim é considerado possuidor de má-fé, sendo igualado a um esbulhador. É um tipo de entendimento que provocava um problema. Certa ojeriza contra o contrato de compra e venda por parte de tribunais e doutrina. Nem mesmo em embargos de terceiro, em que um terceiro entra no processo para evitar que um direito seu estivesse em questão no processo de outra pessoa, mesmo assim considerado possuidor de má-fé e sem justo título.
b) Corrente contemporânea: abrangente – contrato de “gaveta” (promessa de compra e venda não levada a registro). Há valor jurídico. Problema: possibilidade de fraudes. Instrumento particular falso. Forjar que houvesse feito contratos de promessa em datas anteriores para evitar que seus bens sejam penhorados. A data no documento não basta, deve-se trazer outros indícios para fazer prova do tempo.
· Súmula 83, STJ (1993): admissibilidade de embargo de terceiro fundado em posse advinda de compromisso de compra e venda de imóvel, mesmo que desprovido do registro. Alteração da perspectiva dos tribunais frente a promessa de compra e venda, começa-se a dar valor jurídico para tal tipo de contrato. Acaba se alastrando para outros campos.
· IV Jornada, enunciados 302 e 303: também reconhece o valor jurídico da promessa, gerando presunção de boa-fé.
· Presunção relativa ou absoluta de boa-fé? “Salvo prova em contrário” → relativa, pois admite-se que a outra parte alegar que a posse era injusta. Inverte-se ônus da prova.
· Há boa-fé sem justo título? Em princípio, é possível. Porém, o Código incide em questões probatórias, há a necessidade de fatos que demonstrem. A falta de documento físico não obsta, há a possibilidade de apresentar outras provas para alegar boa-fé (testemunhais, por exemplo).
· Extinção da boa-fé – modificação do caráter da posse: alteração do caráter subjetivo, depois de possuir imóvel, descobre-se vício subjetivo que macula a posse. Arts. 1.202 e 1.203. Quando se toma consciência, a posse de boa-fé, torna-se de má-fé. É possível o contrário? Muito difícil pensar na possibilidade.
· Momento da conversão da boa-fé em má-fé:
a) Corrente tradicional: citação processual (rigidez). A partir da citação, passa a incidir regras que punem possuidor de má-fé.
b) Corrente contemporânea: citação é forte indício (relativização → tendência)
i. Pode haver consciência do caráter injusto antes da citação. Ex.: notificação extrajudicial. Normalmente, há a tentativa amigável de resolução do conflito. 
ii. Citação não induz a má-fé se alegações não forem manifestamente procedentes. A citação não presume a razão da outra parte.
· A questão é: a partir do momento da citação em que se considera o réu de má-fé, pode-se ajuizar ação possessória, mesmo se de boa-fé. Perde o sentido.
Efeitos da Posse
1. Proteção por meio dos interditos (heterotutela)
2. Proteção pelo desforço incontinente (autotela)
3. Responsabilidade por perda ou deterioração
4. Restituição das benfeitorias
5. Direito de retenção
6. Aquisição de frutos
7. Usucapião 
Origem
· Teoria da unicidade: a posse teria apenas o efeito de presunção da propriedade (Orlando Gomes) x teoria da pluralidade: proteções autônomas que decorrem da proteção possessória. Pouco importa qual prevalece, na prática os efeitos são os mesmos.
Proteção por meio dos interditos possessórios
· Principal efeito da proteção possessória. Acesso aos interditos de proteção. Função por excelência da posse.
· Origem histórica: interditos do Direito Romano. Procedimentos concedidos em favor do possuidor de posse molestada injustamente. Proteção realmente veloz, brevidade sempre foi elemento distintivo dos interditos possessórios. 
· Rito especial – liminar. Rito abreviado, dando proteção desde o início da discussão do litígio, não sendo necessário trânsito em julgado.
a) Arts. 920 a 933 CPC/73
b) Arts. 554 a 568 CPC/15
Três modalidades de interditos
· Art. 1.210, CC: mantido na posse em caso de turbação, restituído no esbulho e segurado de violência iminente. Código elenca três violações, tendo cada uma proteção específica. Ação de reintegração de posse, manutenção de posse e interditos proibitórios. 
1. Esbulho: perda da posse, seja total ou parcial. Poderes correspondente à posse do antigo possuidor perdidos. Mais extremo e mais comum. Completamente aleijado do seu poder sobre a coisa. Perda da coisa. Ação de reintegração de posse: tem direito de ser reintegrado em sua posse. Mesmo quando esbulhado de forma parcial, em bens divisíveis. Perde-se os poderes em determinada área ou parcela do bem.
2. Turbação: moléstia ao exercício normal da posse, que não leve à sua perda. Perturbação da posse, atrapalha o uso normal da coisa. Não há perda de todos os poderes, mas o exercício não é pleno, por conta da perturbação. Normalmente ligado a atos cíclicos, repetitivos. Ex.: condomínio, problemas com garagens, animais de gado e pastagens. Casos menos extremos, não há perda da posse. Ação de manutenção da posse.
3. Ameaça: risco iminente de esbulho ou turbação. Iminência de esbulhar ou turbar a posse, há elementos concretos de que a violação irá ocorrer em breve, apesar de ainda não ter ocorrido. É uma proteção preventiva, ação possessória antecipandoa moléstia da posse. Tutela eficaz. É preciso o mínimo de evidência da iminência: ameaça verbal ou decorrentes de atos concretos. Pré constituição do esbulho ou turbação. Interdito proibitório.
· São 3 ações com 3 remédios diferentes, mas há a possibilidade fungibilidade das ações possessórias. Uma pode ser trocada por outra. Art. 554, CPC/15: tanto faz a ação que foi ajuizada, se o juiz perceber que a proteção necessária é outra, pode conceder a tutela conforme esta. O problema é a evolução do litígio possessório, em que uma violação aumente. Processo não é fim em si, podendo ser alterado para a proteção do direito em questão.
Características das ações possessórias:
a) Possibilidade de cumulação de pedidos: além da cessação da violação possessória, pode-se fazer outros pedidos não diretamente ligados. CPC/15: condenação de perdas e danos e indenização dos frutos, além de medidas necessárias para evitar nova turbação ou esbulho e cumprir-se a tutela provisória ou final. Mudança em relação ao de 73: possibilidade de destruição da construção ou colheita excluída.
b) Caráter dúplice ou possibilidade de o réu formular pedido contraposto no bojo da contestação: defesa e contra-ataque ao pedir proteção possessória alegando violação. Ação possessória em favor do réu, sem que haja propositura de nova ação. Permite que ele formule pedido contraposto, não há proteção possessória automática quando se nega a proteção ao autor.
c) Procedimento especial: sobreviveu à mudança do CPC em 2015.
i. Possibilidade de concessão de liminar inaudita altera parte: o juiz pode conceder decisão de proteção da posse mesmo sem ouvir a parte contrária. Determina-se a proteção antes da citação. Oficial cita o réu e ordena a saída da casa, por exemplo.
ii. Audiência de justificação, caso o juiz não esteja completamente convencido dessas alegações: sem indícios suficientes para a concessão da tutela liminar para o autor, assim, o juiz determina a sua realização para que o autor traga outros elementos de prova. Art. 562, CPC/15. Realizada no exclusivo interesse do autor, não tem caráter de contraditório.
iii. Porém, o STJ determina que o juiz não é obrigado a realizar a audiência de justificação, caso ache conveniente. 
d) Caução e idoneidade financeira do autor: art. 559, CPC/15. Se o sujeito for pobre deve prestar caução, salvo se ele for pobre. Na prática, o artigo se torna inútil.
Desforço incontinenti
· Hipótese de autotutela – “legítima defesa da posse”: o possuidor caso tenha sua posse violada, pode recorrer ao judiciário ou pela sua própria iniciativa se proteger. Adiantamento à prestação jurisdicional, mesmo que em possibilidades restritas. Há um monopólio da força nas mãos do Estado, em regra. Possibilidades de autotutela são exceções, pois é complicado o sujeito ser juiz da própria causa, achando que sempre tem razão.
· Em geral, o uso da violência é reprimido, mas em algumas situações não o é. No ponto de vista civil, está-se acobertado pela legítima defesa. 
· Art. 1.210, §1º: manter-se ou restituir-se → proporcionalidade entre ameaça e desprendimento do uso da força. Em tese, é possível que mais pessoas possam ser chamadas para os atos de defesa desde que proporcionalmente. Caráter imediato: durante o ato de violação (evitar que a violação se perpetue) e depois da violação? Sim, não é necessariamente imediato, mas deve ser logo. Mesmo depois de já concretizada a violação é possível, desde que seja em prazo curto. O limite temporal é de acordo com o caso concreto, não há delimitação fixa.
· Sanções ao abuso da defesa da posse:
a) Responsabilidade civil: responder por danos que provocar.
b) Responsabilidade penal: lesão corporal, homicídio.
c) Perda de posse: se defendeu recorrendo fora dos limites, pode perder sua posse.
Demais efeitos da posse
Aplicação em caso de perda da posse: atual possuidor deve entregar a posse do bem. Sujeito obrigado a restituir a posse judicialmente. Sempre há um atual possuidor e outra parte reivindicadora. A coisa possuída pode ter sofrido com várias coisas. Portanto, esses efeitos regulam a relação entre os direitos e deveres do antigo possuidor perante aquele que reivindica. 
a) Responsabilidade por perda ou deterioração
b) Restituição das benfeitorias
c) Direito de retenção
d) Aquisição dos frutos
Posse e deterioração da coisa
· Art. 1.217: possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa que não deu causa.
· Art. 1.218: o possuidor de má-fé responde, mesmo que acidentalmente, salvo se provar que aconteceria também na mão do reivindicante.
· Critério? Culpa? O de boa-fé só responde pelos danos causados com culpa → responsabilidade subjetiva. Já o de má-fé, em regra, a responsabilidade objetiva e reforçada, em que responde em casos de força maior ou caso fortuito. Só não o fará caso prove que nas mãos do reivindicante o fim seria o mesmo. 
Posse e benfeitorias
· Definição: bens acessórios introduzidos pelo proprietário, possuidor, ou detentor, em um bem principal, móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade. Modificação no bem principal que provoca a melhora, aprimoramento.
· Art. 96: voluptuárias: mero deleite ou recreio, que não aumentem o uso habitual do bem. Úteis: aumentam ou facilitam o uso do bem, concedem uma utilidade a mais. Necessária: manutenção do status quo da coisa, isto é, conserva o bem.
· Acessões: acréscimos, construções ou plantações feitas em um terreno. Podem ser naturais ou artificiais. Tudo o que é trazido por acessão é acrescida ao patrimônio existente, como a aluvião. Regra de diferenciação entre benfeitorias e acessões artificiais → bens já existentes, benfeitorias. Acessão é para acréscimos de construções novas.
· Art. 1.219:
1. Possuidor de boa-fé
a) Benfeitorias úteis e necessárias: direito à indenização.
b) Benfeitorias voluptuárias: reivindicante optar por ficar com ela: direito à indenização. Reivindicante não optar por ficar: sem direito à indenização. Pode levantar, se não causar dano à coisa principal.
2. Possuidor de má-fé
a) Benfeitorias voluptuárias e úteis: sem direito à indenização. Não pode levantar.
b) Benfeitorias necessárias: direito à indenização. Conservação da coisa. Seria um gasto que mesmo o reivindicante teria tido.
· STJ: aplicação das regras das benfeitorias às acessões.
· Lei de Locação:
1. Benfeitorias necessárias: direito à indenização, em princípio.
2. Benfeitorias úteis:
a) Autorizadas: direito à indenização
b) Não autorizadas: sem direito à indenização
3. Benfeitorias voluptuárias: sem direito à indenização. Pode levantar, se não causar dano à coisa principal.
· Problema é que a regra é dispositiva, assim, o contrato pode dizer o contrário. Assim, normalmente dispõe-se que o locatário não tem direito a nenhuma indenização. O dever principal do locador é oferecer o imóvel em condições de uso. Portanto, com a égide do art. 424, a cláusula que exclui a possibilidade de indenização por benfeitorias necessárias é nula, pois é da natureza do negócio.
Compensação e valor da indenização
· Na benfeitoria, o reivindicante é quem tem que pagar. Enquanto a perda ou deterioração deve ser paga pelo possuidor. Caso ambas as obrigações estejam vencidas com os mesmos polos, há o fenômeno da compensação.
· Art. 1.222: avaliação do valor da benfeitoria → pode-se avaliar pelos gastos ou pela valorização com o erguimento das benfeitorias, sendo o acréscimo maior que o valor gasto. Se o possuidor estivesse de má-fé: opta-se pelo custo ou valor atual, sendo o de menor valor. Caso estivesse de boa-fé: indeniza-se pelo valor atual, isto é, a valorização.
Direito de Retenção
· É o direito do possuidor de se manter na posse do bem, até que seja indenizado pelas benfeitorias e acessões que realizou. Pode recusar devolver a coisa ao reivindicante.
· É hipótese de posse justa ou injusta? Justa. Agora passa a ter um fundamento jurídico, legitimidade, a partir daquele momento o possuidor pode ficar com a coisa até que seja pago. Conversão da natureza da posse. Possuidor tem direito de ficar com a coisa sem quehaja indenização, aluguel de sua parte.
· Direito de retenção é uma maneira coercitiva do possuidor obter ressarcimento. Forçar o reivindicante a indeniza-lo. Uma forma de autotutela → coação.
· Não só na posse há o direito de retenção, há contratos que se utilizam do mesmo instituto. Contrato de locação (CC), depósito, mandato, comissão e transporte de pessoas (CC).
· Quando cabe o direito de retenção? Em favor do possuidor de boa-fé, mesmo assim, apenas pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Não cabe nem mesmo pelas voluptuárias indenizáveis.
· Há uma tendência do STJ de unificar, portanto, acessões também estão sob o regime do direito de retenção. As acessões por construção e plantação (artificiais) → enunciado 81, I Jornada.
Posse e direito aos frutos
· Conceito de frutos: são bens acessórios, que surgem periodicamente da coisa principal e podem dela ser separados sem causar diminuição de valor ou utilidade. Produção cíclica, de modo a permitir a retirada sem que haja prejuízo à coisa principal.
· Classificação dos frutos: 
a) Naturais: surgem sem participação do homem.
b) Industriais: dependem da atividade humana para surgirem.
c) Civis: rendimentos e alugueis. 
· Frutos pendentes (o que ainda não foi retirado da coisa principal) x frutos percebidos (já retirados de coisa principal).
· Possuidor de má-fé:
a) Indenizar o reivindicante os frutos que colheu e que deixou de colher. A partir do momento em que se constituiu má-fé. Propósito indenizatório → responsabilidade pelos prejuízos causados, colocar o reivindicante na posição em que estaria.
b) Possui direito à indenização das despesas de produção e custeio: porque o reivindicante teria que gastar o mesmo valor. Seria dar mais a ele do que receberia se estivesse na posse da coisa.
· Possuidor de boa-fé
a) Pendentes: pertencem ao reivindicante. Além dos gastos de produção e custeio.
b) Percebidos: pertencem ao possuidor de boa-fé.
Exceção: frutos colhidos com antecipação. Normalmente, frutos civis ou antecipação de recebíveis. Aluguel antecipado ou antecipação de recebimentos, por exemplo.
· Regra especial → frutos civis: juros e alugueis. Art. 1.215. Reputam-se percebidos dia a dia. A contagem é feita até que se cesse a boa-fé. A indenização é recebida no mês até que se perceba.
· Produtos: 
· São bens acessórios que podem ser extraídos do principal, porém, não são gerados periodicamente, por isso, sua extração leva à diminuição da utilidade ou do valor do bem principal, pois o danifica. Ex.: mina de ouro e outros recursos minerais, exceto água mineral.
· Os grandes períodos que determinam certos ciclos trazem uma questão limítrofe entre produtos e frutos. Ex.: petróleo, determinadas árvores.
· Quais regras são aplicadas aos produtos?
a) Gomes, Tartuce: não se aplica regra dos frutos. Tanto possuidor de boa-fé como o de má-fé devem restituir.
b) Rosenvald e Chaves: aplica-se a regra dos frutos.
c) Carnacchioni: depende das particularidades do caso concreto.
· Crítica: o elemento distintivo do produto é a deterioração da coisa, que é prevista no código, portanto, aplica-se nas regras dos arts. 1.217 e 1.218.
Aquisição e perda da posse
Aquisição
· Intimamente ligada ao conceito de posse. Aquisição é o momento em que se passa a externalizar, exercer alguns poderes inerentes à propriedade. Art. 1.204.
· Momento da mudança de perspectiva dos códigos: 16 → analítica: diferentes situações em que o poder de propriedade pode ser exercido. 02 → sintática: abstração que seja capaz de abarcar um conjunto de todos os elementos. Na prática, é a mesma coisa.
· Aquisição originária x aquisição derivada: forma de classificação da forma de obtenção da posse.
a) Posse derivada: recebida pelo possuidor em razão da vontade do possuidor anterior ou de outro fato jurídico de transmissão reconhecido pelo ordenamento. Entrega voluntária da posse ou morte, por exemplo. Principal característica: provém de uma posse anterior, portanto, há uma cadeia de posse. Formas de aquisição derivada da posse: tradição e herança.
· Tradição: 
· Ordinária: entrega voluntária do bem, com intenção de transmitir os poderes sobre ele. Depende da forma especial: cessão material, mas que deve estar ligada a uma vontade de entregar poderes.
· Ficta: cessão de objeto simbólico e vontade de entregar poderes. Substitui o objeto possuído por outro que o represente, com a vontade de transmitir os poderes de posse.
· Consensual: não há entrega de coisa, a mera vontade já basta para transmissão da posse. 
i. Traditio brevi mano: indivíduo detinha a coisa e nome alheio ou possuía de forma derivada (possuidor direto) e passa a possuí-la em nome próprio. Já havia o poder material sobre o bem, o mero contrato de compra e venda já determina a transmissão.
ii. Constituto possessório ou cláusula constituti: indivíduo era possuidor único e passa a ser detentor ou possuidor direto (cessão de parte dos poderes).
· Vontade passa a ser entendida como elemento central e essencial da tradição, não necessariamente a entrega material da coisa. 
Aquisição derivada – mortis causa
· Sucessão hereditária e princípio da “saisine”
· Sucessão causas mortis:
a) Universal – herança: nesse caso, o sucessor sucede o sucedido em todo o patrimônio ou uma fração do seu patrimônio. Recebe-se abstratamente e universalidade dos bens. Não há sucessão a bens específicos. Enquanto não houver divisão, todos são coproprietários. 
b) Singular – legado: o sucedido deixa um bem ou alguns bens específicos para o sucessor. Não há uma sucessão de todos os bens, mas há uma especificidade.
· Princípio da “saisine” → morto agarra o vivo: o sucessor torna-se proprietário da coisa que lhe foi deixada no exato instante do falecimento do sucedido. Caso não haja aceitação, há uma retroatividade. Evitar que a coisa fique sem dono. Aplica-se tanto para herança quanto para legado.
· Em relação a posse, os herdeiros (sucessores universais) recebem a posse, no momento da morte, automaticamente. Já no legado, não é automático.
· Se a posse é o exercício concreto de poderes de propriedade, há uma incompatibilidade com a transmissão automática da posse pelos herdeiros. A forma de compatibilizar é em determinado tempo, se não houver a externalização, a posse é perdida.
· Características:
Consequências:
a) Manutenção dos caracteres objetivos da posse anterior. Cria-se uma cadeia de posses. Principalmente vícios objetivos, posse justa e injusta, por exemplo, mesmo que não se saiba.
b) Contagem conjunta do tempo – acessão da posse. Relativo à usucapião. O sucessor universal continua a posse do antecessor, já ao sucessor singular é facultado unir sua posse a do sucessor para efeitos de contagem de posse. Sucessão é um efeito mais amplo que a questão da morte, ocorrendo sempre quando há a substituição. Mesmo quando o singular opta por não continuar, não há a modificação no caráter objetivo da posse (justa ou injusta), portanto, não há convalidação. V Jornada, E. 494. 
Aquisição originária
· Não tem relação nenhuma com a posse anterior. 
· Pode ocorrer quando:
a) Coisa nunca teve possuidor, coisa nova: fabricação de coisa nova. Posse de coisa nova. Não existe uma posse anterior.
b) Quando determinada coisa já foi possuída por outra pessoa anteriormente. Ex.: posse injusta: violência, clandestinidade. Rompe a cadeia de posse, pois, não é autorizada. Há a quebra, podendo haver alteração da posse, que passa de justa para injusta. 
· Não há possibilidade de somar a posse com a do proprietário anterior. Geralmente, posse injusta.
Perda 
· Art. 1.223, CC/02: quando cessa, embora contra a vontade, o poder sobre o bem. Há, também, uma ligação com o conceito de posse e sua perda.
· Código de 16: visão analítica das possibilidades de perda da posse. Há utilidade dessa perspectiva nos dias atuais.
· Perda da posse para quem não presenciou o esbulho: art. 1.224 → ligação do artigo ao tema da posse clandestina. Enquanto não se toma conhecimento, não há a perda, em tese, da posse. Postergação da perda posse em caso de posse clandestina. Tempo hábil para reação, defesa.Adia, também, o prazo para que se intente ação possessória com força de nova. Problema: pode ser utilizado em favor das pessoas que abandonam o imóvel. Não só no tempo do conhecimento, mas também quando se há a possibilidade conhecer o esbulho. Portanto, se não o fez por abandonar a coisa, considera-se o esbulho possessório.

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